13.07.2015 Views

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A Tr i p a n o s s o m í a s e Am e r i c a n a a n t e s d e Ca r l o s Ch a g a spermitiu que a <strong>Tripanossomíase</strong> Sul-<strong>Americana</strong> se tornasse epi<strong>de</strong>miologicamenteexpressiva. Neste contexto é preciso frisar que, apesar da inexistência do Triatomainfestans no Brasil <strong>antes</strong> do século XIX, inseto consi<strong>de</strong>rado nas regiões Sul eSu<strong>de</strong>ste como o principal transmissor, outros vetores po<strong>de</strong>riam ter assumido nestase nas <strong>de</strong>mais regiões brasileiras um papel relevante na propagação da moléstia(Rothhammer, 1985; Silveira et al., 1994). O Nor<strong>de</strong>ste, on<strong>de</strong> é observado umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> chagásicos, é um mo<strong>de</strong>lo notório: ali o Triatoma infestans jamaisfoi o principal vetor da doença (Lucena, 1970).Existem espécies reconhecidamente nativas <strong>de</strong> triatomíneos, tais como oPanstrongylos megistus e o Triatoma brasiliensis, cujas características comportamentaisprincipais incluem o hábito <strong>de</strong> invadir o domicílio mesmo quando não estão esgotadasas fontes alimentares no peridomicílio (Silveira et al., 1994). Assim, surtos da doença<strong>de</strong> <strong>Chagas</strong> po<strong>de</strong>m ter ocorrido em certas populações <strong>antes</strong> da infestação territorialdo Triatoma infestans por aci<strong>de</strong>ntes ambientais, naturais ou provocados. Maiorexemplo é o próprio episódio da <strong>de</strong>scoberta da doença: o triatomíneo que tantointrigou <strong>Carlos</strong> <strong>Chagas</strong> em Lassance foi o nativo Panstrongylos megistus. O Triatomainfestans foi <strong>de</strong>tectado em Minas Gerais apenas a partir <strong>de</strong> 1910, vindo do interior<strong>de</strong> São Paulo, que se infestara no século anterior, e apenas alcançou Lassanceapós 1950. Um intrigante achado corrobora uma gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptaçãodos triatomíneos e em especial, do P. Megistus: ele não mais foi capturado nestaregião após 1985, o que sugere que na época da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> <strong>Carlos</strong> <strong>Chagas</strong>, elechegara à região por transporte passivo <strong>de</strong> populações vindas do sul e apresentaraum comportamento exclusivamente domiciliar (Dias et al., 2002).As migrações humanas e suas consequências para o ambiente certamentecontribuíram para a invasão do Triatoma infestans, o que, pelo menos no su<strong>de</strong>stedo Brasil, levou a resultados <strong>de</strong>sastrosos. Esta população migrante, algoz paracom a natureza que encontrou, tornou-se ao mesmo tempo sua vítima por estarimunologicamente <strong>de</strong>spreparada para enfrentar um parasita que nela habitava.A extrema virulência da Doença <strong>de</strong> <strong>Chagas</strong> observada nas primeiras décadas doséculo XX sugere que a inserção significativa do parasita no Brasil, ao contráriodos países andinos, tenha sido recente.A importância da transmissão oral e vetorial (por insetos nativos) datripanossomíase no passado é um alerta para as gerações futuras. Por menor quefosse a significância epi<strong>de</strong>miológica, houve vítimas e elas estão, através <strong>de</strong> novastécnicas investigativas, nos contando suas histórias. Assim, para a erradicação damoléstia, o combate ao Triatoma infestans é <strong>de</strong> valor inquestionável, mas não po<strong>de</strong>ser a única frente <strong>de</strong> batalha contra a Doença <strong>de</strong> <strong>Chagas</strong>.C a d . Sa ú d e Co l e t ., Rio d e Ja n e i r o , 17 (4): 827 - 839, 2009 – 835

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!