13.07.2015 Views

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

C ristina B. M. F. Gu r g e l , Ch r i s t i a n e Va n e s s a Ma g d a l e n a , La r i s s a Fa b b r i Pr i o l ipreservação <strong>de</strong> remanescentes biológicos em áreas tropicais e subtropicais é umfator que reduz as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisas paleopatológicas, pois as mumificaçõesnaturais ou artificiais são relativamente raras. No sítio arqueológico da serra daCapivara (Piauí), consi<strong>de</strong>rado um dos mais antigos das Américas, apesar <strong>de</strong> suasdatações terem <strong>de</strong>spertado polêmica, encontraram-se vestígios da presença <strong>de</strong>animais reservatórios e vetores em áreas ocupadas pelos primitivos habit<strong>antes</strong>.Ao longo do rio Peruaçu, norte <strong>de</strong> Minas Gerais, a presença do Trypanosoma foiconfirmado nos <strong>de</strong>spojos <strong>de</strong> uma mulher falecida entre 1200 e 600 anos atrás,através da técnica da PCR __ reação em ca<strong>de</strong>ia da polimerase __ que permiteampliação in vitro <strong>de</strong> regiões específicas <strong>de</strong> DNA (Reinhard et al., 2003; Gonçalveset al., 2002; Araújo et al., 2005; Souza et al., 1994). Na mesma região, a técnicatornou possível o achado do DNA parasitário em uma quantida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong>indivíduos, cujos remanescentes estão estimados com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7000 a 600anos <strong>antes</strong> do presente __ prova <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> que o parasitismo existiu entre osindígenas no Brasil no período pré-colombiano (Fernan<strong>de</strong>s, 2007).A Do e n ç a d e Ch a g a s e o s brasilíndiosDurante milênios o território brasileiro foi morada <strong>de</strong> diferentes grupamentosindígenas, mas não existem dados concretos sobre a real pressão ecológica exercidapor esses povos. É possível que parte das florestas encontradas por Cabral e os queo suce<strong>de</strong>ram fosse secundária, resultado da agricultura <strong>de</strong> coivara (queima da matae posterior plantio), cujas áreas eram reaproveitadas ciclicamente após um períodovariável <strong>de</strong> <strong>de</strong>socupação humana. Seminôma<strong>de</strong>s, os indígenas retornavam a sítiosantigos para facilitar a caça e o manuseio da terra, pois a floresta ali encontradanão mais seria tão <strong>de</strong>nsa (Scha<strong>de</strong>n, 1960; Moonen, 1983; Dean, 1996).Este hábito permitiu que gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> mata nativa ficassem virtualmenteintocadas. Os vetores da tripanossomíase, nestas condições, não estariam ameaçadosem seu habitat e em sua fonte alimentar: o sangue <strong>de</strong> animais silvestres. Casohouvesse a transmissão, esta seria meramente aci<strong>de</strong>ntal, por invasão domiciliarvetorial, secundária ao esgotamento <strong>de</strong> animais por algum fenômeno natural oupela caça. Contudo, a ingestão <strong>de</strong> carne crua ou semicrua <strong>de</strong> animais contaminados– hábito arraigado entre nativos que usavam calor e fumaça como técnica <strong>de</strong>conservação alimentar (Câmara Cascudo, 2004) – po<strong>de</strong> ter sido a forma inicial<strong>de</strong> infecção do Trypanosoma entre os brasilíndios, tal qual supostamente ocorrerano Peru e no Chile (Gurgel et al., 2007).A alimentação não foi a única maneira possível <strong>de</strong> contaminação indígena.As habitações, feitas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira interligada a cipós e barro e cobertas com folhas<strong>de</strong> palmeiras, reuniam condições para abrigar os agentes transmissores. Várias830 – C a d . Sa ú d e Co l e t ., Rio d e Ja n e i r o , 17 (4): 827 - 839, 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!