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Polimorfismos dos genes do sistema renina- angiotensina ...

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237<strong>Polimorfismos</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>genes</strong> <strong>do</strong> <strong>sistema</strong> <strong>renina</strong><strong>angiotensina</strong>-al<strong><strong>do</strong>s</strong>teronae as moléstiascardiovascularesAgostinho TavaresResumoAs <strong>do</strong>enças cardiovasculares são responsáveis pelamaior parte das taxas de morbidade e mortalidade namaioria <strong><strong>do</strong>s</strong> países. Entre os diversos fatores de risco,incluin<strong>do</strong> idade, sexo, hipertensão, tabagismo, eleva<strong>do</strong>colesterol LDL, baixo colesterol HDL, diabetes melito,sedentarismo, obesidade e história familiar de <strong>do</strong>ençacardíaca prematura, fatores genéticos parecem tambémestar envolvi<strong><strong>do</strong>s</strong>. Os polimorfismos <strong>do</strong> gene humano <strong>do</strong>angiotensinogênio têm mostra<strong>do</strong> forte associação coma hipertensão arterial essencial. Já o polimorfismo (inserção/deleção)<strong>do</strong> gene da enzima conversora da<strong>angiotensina</strong> I tem se mostra<strong>do</strong> em associação com altorisco para eventos coronários agu<strong><strong>do</strong>s</strong>, morte súbitacardíaca e cardiomiopatia hipertrófica. Um intensoesforço científico deve ser feito no senti<strong>do</strong> de se determinarmarca<strong>do</strong>res genéticos e para o desenvolvimentode novas drogas para o tratamento das <strong>do</strong>enças cardiovasculares.Palavras-chave: Sistema <strong>renina</strong>-<strong>angiotensina</strong>-al<strong><strong>do</strong>s</strong>terona; <strong>Polimorfismos</strong>; Doenças cardiovasculares.Recebi<strong>do</strong>: 20/4/00 – Aceito: 12/6/00 Rev Bras Hipertens 3: 237-42, 2000IntroduçãoHipertensão arterial, idade, sexo,tabagismo, níveis eleva<strong><strong>do</strong>s</strong> de colesterolLDL, níveis diminuí<strong><strong>do</strong>s</strong> de HDL,diabetes melito, sedentarismo, obesidadee história familiar prematura para<strong>do</strong>enças cardíacas são os principaisfatores de risco para as <strong>do</strong>enças cardiovasculares,descritos nas últimasdécadas. Por um outro la<strong>do</strong>, da<strong><strong>do</strong>s</strong>epidemiológicos, como os de Framingham1 , mostram que a probabilidadede um indivíduo de 50 anos, semfatores de risco conheci<strong><strong>do</strong>s</strong>, desenvolverum evento coronariano, é de6%, em 10 anos. Já um indivíduo de 60anos passa a ter a probabilidade de9% de desenvolver o mesmo evento.Isso sugere que outros fatores estejamimplica<strong><strong>do</strong>s</strong>, de alguma maneira, nasuceptibilidade de um indivíduo desenvolvero evento cardiovascular. Entreesses fatores, existe a possibilidade dealgum fator genético estar envolvi<strong>do</strong>no desenvolvimento das <strong>do</strong>enças cardiovasculares.Tal possibilidade estábaseada, principalmente, no fato deque indivíduos que têm história familiarde <strong>do</strong>ença cardiovascular correm umCorrespondência:Agostinho TavaresEscola Paulista de Medicina – UnifespRua Botucatu, 740 – São Paulo, SP – 04023-900, – Disciplina de NefrologiaTel.: (0XX11) 574-6300 – Fax: (0XX11) 573-9652 – E-mail: atavares@nefro.epm.brTavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000


238maior risco de desenvolvê-las em relaçãoà população geral. Por causadisso, investimentos substanciais têmsi<strong>do</strong> aplica<strong><strong>do</strong>s</strong> no campo genéticomolecularnas duas últimas décadas.Vários estu<strong><strong>do</strong>s</strong> clínicos mostramque a inibição farmacológica da formaçãode <strong>angiotensina</strong> II (AII) melhoraos sintomas clínicos e diminui a morbidadee a mortalidade por insuficiênciacardíaca e ainda previne eventoscardíacos isquêmicos a longo prazo2,3 . Esses da<strong><strong>do</strong>s</strong>, com outros sugestivosde que os níveis plasmáticos de<strong>renina</strong> têm valor prognóstico na insuficiênciacardíaca, despertaram uminteresse especial em se estudar os<strong>genes</strong> que codificam as proteínas quecompõem o <strong>sistema</strong> <strong>renina</strong>-<strong>angiotensina</strong>-al<strong><strong>do</strong>s</strong>terona(SRAA).O SRAA e a hipertensãoarterialHilbert et al. foram os primeiros aestudar mecanismos genéticos <strong>do</strong>SRAA nas <strong>do</strong>enças cardiovasculares 4 .Esses autores demonstraram a associaçãoentre a hipertensão arterial e ogene da enzima conversora da <strong>angiotensina</strong>I (ECA), por meio de cruzamentosentre as cepas de ratos espontaneamentehipertensos e o seu controlenormotenso Wistar-Kyoto.Em humanos, por meio de estu<strong><strong>do</strong>s</strong>de linkage entre famílias de hipertensose seus controles normotensos,demonstram que o gene da ECA associa-sefracamente à hipertensãoarterial, sen<strong>do</strong> que a maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> estu<strong><strong>do</strong>s</strong>mostram uma associação negativa.O gene humano da ECA caracterizasepor apresentar 24 regiões intrônicas(seqüências de DNA que não participam<strong>do</strong> código genético) que intercalamas regiões exônicas (seqüênciasde DNA que determinam o códigogenético) (Figura 1). Na região intrônica16, alguns indivíduos possuemuma deleção de 287 pares de basesnuclêicas (genótipo D), enquantooutros possuem os 287 pares inseri<strong><strong>do</strong>s</strong>nessa mesma região intrônica (genótipoI). Assim, a combinação genética<strong><strong>do</strong>s</strong> alelos, em relação a essepolimorfismo, determina, na população,o aparecimento <strong><strong>do</strong>s</strong> homozigotos DDe II e <strong>do</strong> heterozigoto DI.Apesar <strong>do</strong> polimorfismo <strong>do</strong> gene daECA não estar fortemente associa<strong>do</strong> àhipertensão arterial em humanos, eledetermina a variação plasmática daECA 5 , sen<strong>do</strong> que o genótipo DD determinaos maiores valores, enquanto II osmenores, e o heterozigoto DI os valoresintermediários. Esse polimorfismo temimportância em outras moléstiascardiovasculares como veremos adiante.Como sabemos de estu<strong><strong>do</strong>s</strong> fisiológicos,o SRAA está diretamente relaciona<strong>do</strong>ao controle hidroeletrolítico epressórico <strong><strong>do</strong>s</strong> mamíferos, e sua importânciana hipertensão renovascularestá muito bem estabelecida. Dessamaneira, é de se supor que um ou maiselementos <strong>do</strong> SRAA esteja envolvi<strong>do</strong>na patogênese da hipertensão arterialprimária. Assim, todas as proteínasque compõem o SRAA tiveram seus<strong>genes</strong> codifica<strong>do</strong>res estuda<strong><strong>do</strong>s</strong>, sen<strong>do</strong>que o da <strong>renina</strong> foi o primeiro. Umacuida<strong><strong>do</strong>s</strong>a análise, em Utah, <strong>do</strong> polimorfismo<strong>do</strong> gene da <strong>renina</strong> em umagrande população de irmãos, com altaprevalência de hipertensão arterialprimária, foi incapaz de demonstraralguma associação da <strong>renina</strong> com ahipertensão 6 . Outros trabalhos, conduzi<strong><strong>do</strong>s</strong>em outros países, também encontraramuma ausência de associaçãoda <strong>renina</strong> com a hipertensão humana 7 .A segunda importante proteína <strong>do</strong>SRAA é o angiotensinogênio, que podeinfluenciar diretamente os níveis de<strong>angiotensina</strong> II (AII) e conseqüentementeda pressão arterial. De fato,Walker et al. 8 demonstraram, em 550indivíduos, que os níveis plasmáticosde angiotensinogênio estavam associa<strong><strong>do</strong>s</strong>aos níveis de pressão arterial.A partir daí, a procura de polimorfismos<strong>do</strong> gene <strong>do</strong> angiotensinogênio esuas associações com a hipertensãoarterial foi imediata. Em 1992, Jeunemaitreet al. 9 , estudan<strong>do</strong> duas populaçõesdistintas, uma de Paris e outrade Salt Lake City, demonstraram umaforte associação de <strong>do</strong>is polimorfismos<strong>do</strong> gene <strong>do</strong> angiotensinogênio e ahipertensão arterial humana. Tanto opolimorfismo T174M quanto o M235T,ambos na região exônica 2 (Figura 2),associaram-se à hipertensão arterialnas duas populações, em separa<strong>do</strong> eem conjunto. Além dessa associaçãocom a hipertensão, o polimorfismoM235T determina os níveis plasmáticosde angiotensinogênio plasmático.Em camun<strong>do</strong>ngos transgênicos, osníveis plasmáticos de angiotensinogêniocorrelacionam-se com os níveispressóricos, semelhante aos acha<strong><strong>do</strong>s</strong>de Walker et al., em humanos. Muitosoutros trabalhos encontraram associaçãoentre o gene <strong>do</strong> angiotensinogênioe a hipertensão arterial primária,fazen<strong>do</strong> com que o angiotensinogênioseja hoje o mais promissor <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>genes</strong>2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 241 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23- 287 bpFigura 1 – Representação esquemática da organização <strong>do</strong> gene da ECA. Osretângulos representam as regiões exônicas e as linhas representam as regiõesintrônicas. No íntron 16 pode ocorrer a ausência de 287 pares de bases nucléicas,determinan<strong>do</strong> o genótipo D.Tavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000


239Ex 1 Ex 2 Ex 3 Ex 4 Ex 57 8 9 10 11 12 13 14 15T M (174) M T (235)Figura 2 – Representação esquemática da organização <strong>do</strong> gene <strong>do</strong> angiotensinogênio.Os retângulos representam as regiões exônicas e as linhas representam as intrônicas.Existem 15 polimorfismos conheci<strong><strong>do</strong>s</strong> para o gene <strong>do</strong> angiotensinogênio, o 7 troca umaminoáci<strong>do</strong> treonina (T) por um metionina (M) na posição 174 e o 9 faz a troca inversana posição 235.A partir desses estu<strong><strong>do</strong>s</strong> e de outros,parece que o SRAA tem participaçãocausal na HVE. Resta, no entanto,saber qual a influência <strong>do</strong> polimorfismoda ECA na geração de AII no miócitocardíaco e, talvez, estudar subpopulações,divididas de acor<strong>do</strong> com ogenótipo, para uma melhor análiseprospectiva da HVE.O SRAA e a <strong>do</strong>ençacardíaca isquêmica<strong>do</strong> SRAA envolvi<strong><strong>do</strong>s</strong> na gênese dahipertensão arterial.Outros polimorfismos de outroscomponentes <strong>do</strong> SRAA, incluin<strong>do</strong> aECA e o receptor <strong>do</strong> subtipo AT 1 da<strong>angiotensina</strong> II, foram estuda<strong><strong>do</strong>s</strong>, masnenhum deles, até o presente, mostrouse,como o angiotensinogênio, estarassocia<strong>do</strong> à hipertensão arterial.O SRAA e a hipertrofiaventricular esquerdaA hipertrofia ventricular esquerda(HVE) é um importante preditor damorbidade e mortalidade cardiovasculares,sen<strong>do</strong> que a hipertensão é oseu principal fator causal. Apesar disso,a associação linear entre os níveispressóricos e a magnitude da hipertrofiaé de difícil demonstração. Tal fatodeve-se à ocorrência de outros fatorescausais que agem concomitantementeaos fatores hemodinâmicos. Assim,além da hipertensão, temos a obesidade,a resistência à insulina e osfatores genéticos que contribuem paraa gênese da HVE.Com a demonstração de que a AIIestimulava diretamente o crescimentode células musculares lisas de aortaem cultura, tanto em animais de experimentação10 , como em humanos 11 ,tornou-se evidente a possibilidade <strong>do</strong>SRAA participar <strong>do</strong> crescimento celularcardiovascular, independentementede suas ações hemodinâmicas.Shunkert et al. 12 procuran<strong>do</strong>, então,demonstrar uma ligação genética <strong>do</strong>SRAA e a HVE, analisaram a presençade HVE eletrocardiograficamente emrelação ao polimosfismo (inserção/deleção) <strong>do</strong> gene da ECA, em umapopulação de caucasianos. Em umaprimeira análise, os autores encontraramque somente os homens, e não asmulheres, com genótipo DD tinhammais HVE que os ID e II. Posteriormente,e mais importante, os autoresencontraram que as mais fortes associações<strong>do</strong> genótipo DD e a HVE sedavam quan<strong>do</strong> os níveis de pressãoarterial eram normais. Mais uma vez,não houve associação entre o polimorfismoda ECA e a hipertensãoarterial; e a falta de associação <strong>do</strong>genótipo DD e a HVE nas mulheresfoi surpreendente. O fato da HVE tersi<strong>do</strong> analisada pela eletrocardiografiatornou, de certa maneira, o estu<strong>do</strong>limita<strong>do</strong>. Em seguida, no entanto, Iwaiet al. 13 , estudan<strong>do</strong> uma população bastantesemelhante, e analisan<strong>do</strong> a HVEpela ecocardiografia, demonstraramuma forte associação entre o genótipoDD e a hipertrofia cardíaca, em ambosos sexos e, principalmente, naquelessintomáticos. Igualmente ao anterior,este estu<strong>do</strong> não encontrou qualquerassociação <strong>do</strong> polimorfismo da ECA e<strong><strong>do</strong>s</strong> níveis de pressão arterial.Tanto para a angina pectoriscomo para o infarto agu<strong>do</strong> <strong>do</strong> miorcárdio(IAM), existem da<strong><strong>do</strong>s</strong> da literaturaque suportam a idéia de que aAII contribui para o aparecimentodesses eventos. Da<strong><strong>do</strong>s</strong> obti<strong><strong>do</strong>s</strong> de estu<strong><strong>do</strong>s</strong>in vivo demonstram que a AIIestimula, localmente, a geração deen<strong>do</strong>telina e de norepinefrina 14 , conhecidamenteoutros <strong>do</strong>is potentes vasoconstritores.Pode-se, assim, provocar,teoricamente, pela intensa vasoconstriçãolocal, a fissura de placas deateroma e conseqüentemente iniciarseo processo de agregação plaquetáriae trombose. Há, para isso, evidênciasde que a AII promove a liberação <strong>do</strong>inibi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ativa<strong>do</strong>r de plasminogênio 15 ,impedin<strong>do</strong> a formação de uma dasvias fibrinolíticas.Como a geração de AII depende,em parte, <strong><strong>do</strong>s</strong> níveis de ECA, é razoávelpensar que aqueles indivíduos que apresentamníveis maiores de ECA plasmática(genótipo DD) possam correrum maior risco para as <strong>do</strong>enças isquêmicas.Em um estu<strong>do</strong> multicêntrico,desenha<strong>do</strong> para se identificar possíveisfatores genéticos para o infarto <strong>do</strong>miocárdio, Cambien et al. 16 encontraramque os indivíduos com o genótipoDD apresentavam, significantemente,mais infartos que os seus controles. Aassociação com o polimorfismo da ECAfoi significante, principalmente, em umgrupo considera<strong>do</strong> de baixo risco, istoé, sem hipertensão e dislipidemia. NesseTavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000


240grupo, o risco relativo foi de 35% paraaqueles com genótipo DD, significantementemaior que o risco de 8% parao grupo to<strong>do</strong>. Esses resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> foramlogo contesta<strong><strong>do</strong>s</strong> por outros <strong>do</strong>is estu<strong><strong>do</strong>s</strong>.No primeiro 17 , a falta de associaçãoentre o genótipo DD e o infarto <strong>do</strong>miocárdio poderia ser atribuída às diferençasdemográficas das populaçõesestudadas. Já no segun<strong>do</strong> 18 , Lindpaintneret al. estudaram uma população demédicos americanos, que teoricamenteformavam um grupo de baixo riscopara o infarto <strong>do</strong> miocárdio. As diferençasétnicas e demográficas entre aspopulações estudadas, mais uma vez,justificaram os resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> controversos.Com a perspectiva de que os indivíduosDD infarta<strong><strong>do</strong>s</strong> teriam herda<strong>do</strong>o risco de seus pais, outros trabalhosconfirmaram a associação <strong>do</strong> genótipoDD e o infarto <strong>do</strong> miocárdio, hipotetizan<strong>do</strong>que os pais desses indivíduosteriam também que apresentar umrisco maior. Nessa linha, um interessantetrabalho 19 estu<strong>do</strong>u a freqüência<strong><strong>do</strong>s</strong> genótipos da ECA em mais de 400crianças e em seus avós, para determinaruma possível associação <strong>do</strong> genótipodas crianças e infarto <strong>do</strong> miocárdio,morte e revascularização miocárdicade seus avós. As crianças com genótipoDD tinham um ou mais avós comhistória de eventos coronarianos, sen<strong>do</strong>que a freqüência de eventos para ogenótipo DD foi muito superior quepara DI ou II. O projeto Belfast Monica20 , pela comprovação por autópsia,também concluiu que o genótipo DD éum fator de risco para <strong>do</strong>ença isquêmica<strong>do</strong> miocárdio. Coincidentemente,no entanto, nenhum indivíduo cominfarto comprova<strong>do</strong> pela autópsia apresentousinais de HVE.Embora haja certas controvérsiasem relação ao polimorfismo <strong>do</strong> geneda ECA e a <strong>do</strong>ença isquêmica cardíaca,a maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> trabalhos que analisaramessa possibilidade demonstraramuma associação positiva entreesses <strong>do</strong>is parâmetros.O SRAA, a aterosclerosee o acidente vascularcerebralSemelhante às outras <strong>do</strong>enças cardiovasculares,a aterosclerose e o acidentevascular cerebral (AVC) sãoentidades cujas causas são multifatoriais,sen<strong>do</strong> que a aterosclerose acomete,principalmente, os médios e osgrandes vasos. Embora haja evidênciasde que a AII e a ECA possamparticipar diretamente na formaçãoda placa de ateroma, pela ativação devários fatores e crescimento, da hidróliseda substância P e da bradicinina,de suas propriedades hipertróticas eoxidantes, etc., o mecanismo da ateroscleroseé complexo e heterogênio.Portanto, torna-se extremamente difícildeterminar um fator genético causalque tenha uma maior participação, ouque seja fundamental para o início <strong>do</strong>processo.É razoável pensarmos que a participação<strong>do</strong> SRAA, e, mais especificamente,da AII, no processo aterosclerótico,dependa mais <strong>do</strong> SRAA tecidualque <strong>do</strong> sistêmico. Imaginan<strong>do</strong>-se, noentanto, que o polimorfismo da ECApudesse influenciar a formação de AIIlocal, alguns trabalhos foram desenha<strong><strong>do</strong>s</strong>no senti<strong>do</strong> de verificar a associaçãoentre os genótipos DD, DI e II e aformação de placas de ateroma. Talvezo mais expressivo tenha si<strong>do</strong> de Ruiz etal. 21 que estudaram a associação <strong>do</strong>gene da ECA em pacientes diabéticos,tanto <strong>do</strong> tipo 1 como <strong>do</strong> tipo 2, e ateroscleróticos.Os autores encontraramuma forte associação <strong>do</strong> genótipo DD ea prevalência de placas de ateroma. Éinteressante observar que essa associaçãoocorreu em um grupo de pessoasque tinha muitos outros fatores de riscopara a aterosclerose, sugerin<strong>do</strong> que ofator genético tem papel relevante naformação da placa.Ao contrário, a associação <strong>do</strong> AVCe os <strong>genes</strong> que constituem o SRAAnão parece ocorrer. Catto et al. 22analisaram a freqüência <strong><strong>do</strong>s</strong> alelosDD, DI e II em 467 indivíduos quetinham AVC e não encontraramnenhuma associação com qualquergenótipo da ECA. E, inversamente aosuposto, os indivíduos que eramporta<strong>do</strong>res de AVC apresentarammenores níveis de ECA circulanteque os seus controles. Outro da<strong>do</strong>importante foi registra<strong>do</strong> na Finlândia 23 ,onde a incidência de AVC é muitoalta. Duzentos e trinta e quatro sobreviventesde AVC ou ataque isquêmicotransitório, com idade inferior a60 anos, foram investiga<strong><strong>do</strong>s</strong> quanto aogenótipo <strong>do</strong> gene da ECA e à presençade placas de ateroma, nas artériascervicais, por meio de angiogramas.Não houve associação genética nemcom a presença de AVC, nem com apresença de placa de ateroma.ConclusõesA relação entre a fisiologia <strong>do</strong>SRAA e as diversas moléstias cardiovascularesestá longe de ser inteiramentecompreendida. No entanto, aolongo <strong><strong>do</strong>s</strong> anos, têm surgi<strong>do</strong> evidênciasde que o SRAA está, de alguma maneira,envolvi<strong>do</strong> na fisiopatologia devárias <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> <strong>sistema</strong> cardiocirculatório.Isso está atualmente demonstra<strong>do</strong>pela indicação <strong>do</strong> bloqueiofarmacológico <strong>do</strong> SRAA em diversaspatologias cardiovasculares. Dessamaneira, é de extrema importânciaconhecermos mecanismos moleculares<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>genes</strong> que compõe o SRAA,no senti<strong>do</strong> de obtermos marca<strong>do</strong>resgenéti<strong><strong>do</strong>s</strong>, que possam identificargrupos de risco, e no desenvolvimentode novas drogas e da própria terapiagênica.É importante, no entanto, enfatizarque, ao contrário das <strong>do</strong>enças monogenéticas,as <strong>do</strong>enças cardiovascularesformam um grupo de <strong>do</strong>ençascuja etiologia é complexa, derivada daTavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000


241combinação de vários <strong>genes</strong> que seinter-relacionam e que, ao mesmo tempo,interagem com outros múltiplosfatores ambientais. Essa complexidadede fatores, de inter-relações einterações torna o entendimento <strong><strong>do</strong>s</strong>mecanismos fisiopatológicos difícil evagaroso. Assim, até o presente momento,em relação ao SRAA, temosque o polimorfismo <strong>do</strong> gene da ECA,que determina a variação <strong><strong>do</strong>s</strong> níveiscirculantes da enzima, está associa<strong>do</strong>ao IAM, à HVE e à aterosclerose,enquanto que o polimorfismo <strong>do</strong> gene<strong>do</strong> angiotensinogênio, que determinaos valores de angiotensionogênio circulantes,associa-se à hipertensão essencialhumana. A relação desses polimorfismoscom outras variações ecom os fatores ambientais ainda estápara ser determinada.AbstractPolymorphisms of the angiotensin-al<strong><strong>do</strong>s</strong>teronesystem and cardiovascular diseasesCardiovascular diseases are responsible for the majorityof morbility and mortality rates in most countries. Amongseveral risk factors, including age, sex, hypertension, smoking,increased LDL cholesterol, decreased high-density HDLcholesterol, diabetes mellitus, sedentary lifestyle, obesity,and family history of premature heart disease, geneticfactors are thoght to play a role as well. Genetic polymorphismsin the human gene for the angiotensinogen have been foundto have a strong association with essencial hypertension.The insertion/deletion polymorphism in the angiotensin I-converting enzyme has shown to be in associantion withhigher risk for acute coronary events, sudden cardiac death,and hypertrophic cardiomyopathy. A intensive researcheffort should be <strong>do</strong>ne in order to identify a genetic markerand to develop new drugs for the treatment of cardiovasculardiseases.Keywords: Renin-angiotensin-al<strong><strong>do</strong>s</strong>terone; Polymorphism; Cardiovascular.Rev Bras Hipertens 3: 237-42, 2000Referências1. Kannel WB. Bishop lecture. Contributionof the Framingham Study topreventive cardiology. J Am Coll Cardiol15: 206-11, 1990.2. Pfeffer MA, BrawnwaldE, Moye LA etal. Effect of captopril on mortality andmorbility in patients with left ventriculardysfunction after acute myocardialinfarction. Result of the survival andventricular enlargement trial. The SAVEInvestigators. N Engl J Med 327: 669-77,1992.3. The SOLVD investigators. Effect ofenalapril on mortality and the developmentof heart failure in asymptomatic patientswith reduced left ventricular ejectionfractions. N Engl J Med 327: 685-91, 1992.4. Hilbert P, Lindpainter K, Beckmann JSet al. Chromossomal mapping of two lociassociated with blood pressure regulationin hereditary hypertensive rats. Nature353: 521-9, 1991.5. Rigat B, Hubert C, Alhenc-Gelas F,Cambien F, Corvol P, Soubrier F. Aninsertion/deletion polymorphism in theangiotensin1-converting enzyme geneaccounting for half the variance of serumenzyme levels. J Clin Invest 86: 1343-6,1990.6. Soubrier F, Jeunemaitre X, Rigat B,Houat AM, Cambien F, Corvol P. Similarfrequencies of renin gene restrictionfragment lenght polymorphisms inhypertensive and normotensive subjects.Hypertension 16: 712-7, 1990.7. Naftilan AJ, Williams R, Burt D et al. Alack of genetic linkage of renin generestriction fragment lenght polymorphismswith human hypertension. Hypertension14: 614-8, 1989.8. Walker WG, Whelton PK, Saito H,Russell RP, Hermann J. Relation betweenblood pressure and renin, renin substrate,angiotensin II, al<strong><strong>do</strong>s</strong>terone and urinarysodium and potassium in 574 ambulatorysubjects. Hypertension 1: 287-91, 1979.9. Jeunemaitre X, Soubrier F, KotelevtsevYV et al. Molecular basis of humanhypertension: role of angiotensinogen.Cell 71: 169-80, 1992.10. Geisterfer AA, Peach MJ, Owens GK.Angiotensin II induces hypertrophy,not hyperplasia, of cultured rat aorticsmooth muscle cells. Circ Res 62: 749-56, 1988.11. Campbell-Boswell M, Robertson Jr ALEffects of angiotensin II and vassopressinon human smooth muscle cells in vitro.Exp Mol Pathol 35: 265-76, 1981.12. SchunKert H, Hence HW, Holmer SR etal. Association between a deletion polymorphismof the angiotensin-convertingenzyme gene and left ventricular hypertrophy.N Engl J Med 330: 1634-8, 1994.13. Iwai N, Ohmichi N, Nakamura Y,Kinoshita M. DD genotype of theangiotensin-converting enzyme gene is arisk factor for left ventricular hypertrophy.Circulation 90: 2622-8, 1994.14. Khairallah PA. Action of angiotensin onadrenergic nerve endings: inhibition ofnorepinephrine uptake. Fed Proc 31:1351-7, 1972.15. Ridker PM, Gaboury CI, Conlin PR,Seely EW, Williams GH, Vaughan DE.Stimulation of plasminogen activationinhibitor in vivo by infusion ofangiotensin II. Evidence of a potencialinteraction between the renin-angiotensinTavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000


242system and fibrinolytic function.Circulation 87: 1969-73, 1993.16. Cambien F, Poirier O, Lecerf L et al.Deletion polymorphism in the gene forangiotensin-converting enzyme is apotent risk factor for myocardialinfarction. Nature 359: 641-4, 1992.17. Bohn M, Berge KE, Bakken A, ErikssenJ, Berge K. Insertion/deletion [I/D]polymorphism at the locus for angiotensinI-converting enzyme and myocardialinfarction. Clin Genet 44: 292-7, 1993.18. Lindpaintner K, Pfeffer MA, Kreutz Ret al. A prospective evaluation of anangiotensin-converting enzyme genepolymorphism and the risk of ischemicheart disease. N Engl J Med 332: 706-11,1995.19. Badenhop RF, Wang XL, Wildken DE.Angiotensin-converting enzyme genotypein children and coronary events in theirgrandparents. Circulation 91: 1655-8, 1995.20. Evans AE, Poirier O, Kee F et al. Polymorphismsof the angiotensin-convertingenzyme gene in subjects who die fromcoronary heart disease. Q J Med 87: 211-4, 1994.21. Ruiz J, Blanche H, Cohen N et al. Insertion/delitionpolymorphism of the angiotensin-convertingenzyme gene is stron-gly associated with coronary heart diseasein non-insulin-dependent diabetesmellitus. Proc Natl Acad Sci USA 91:3662-5, 1994.22. Catto A, Carter AM, Barrett JH et al.Angiotensin-converting enzyme insertion/deletionpolymorphism and cerebrovasculardisease. Stroke 27: 435-40,1996.23. Aalto-Setala K, Palomaki H, MiettinemH et al. Genetic risk factors and ischaemiccerebrovascular disease: role of commonvariation of the <strong>genes</strong> encoding apolipoproteinsand angiotensin-convertingenzyme. Ann Med 30: 224-33, 1998.Tavares A Rev Bras Hipertens vol 7(3): julho/setembro de 2000

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