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Em casa, na rua, em toda a parte

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“EM CASA,NA RUA, EM TODA A PARTE”:ANARQUISTAS EM SÃO PAULO NOS ANOS 1890Claudia Feierabend Baeta Leal 1“(...) com a propaganda constante que faz<strong>em</strong>os, moralizamos os costumes,lançando as bases de uma sociedade que vai se estabelecendo desdejá... a revolução faz<strong>em</strong>o-la <strong>em</strong> <strong>casa</strong>, <strong>na</strong> <strong>rua</strong>, e <strong>em</strong> <strong>toda</strong> a <strong>parte</strong>. Porisso, onde quer que haja um a<strong>na</strong>rquista, logo se nota a sua presença.” 2A década de 1890 deu grande visibilidade aos a<strong>na</strong>rquistas<strong>na</strong> Europa – normalmente envolta <strong>na</strong>s fumaças das explosõespelas quais alguns deles foram responsáveis, <strong>na</strong> violência dosatentados e no medo da população que os test<strong>em</strong>unhava. A imprensapaulista<strong>na</strong> ocupou-se intensamente dos acontecimentos,conde<strong>na</strong>ndo, de forma evidente, a<strong>na</strong>rquistas e suas ini ciativas.Os jor<strong>na</strong>is procuraram mapear as movimentações dos a<strong>na</strong>rquistase as reações das polícias e governos de outros países,relatando as descobertas de conspirações, explosões,atentadoscontra figuras públicas <strong>em</strong> várias cidades européias 3 .Manifestação de trabalhadores <strong>na</strong> cidade de São Paulo no início doséculo XX. (Arquivo Edgard Leuenroth – IFCH, Unicamp, Campi<strong>na</strong>s)


Até nos países vizinhos ao Brasil, agitações a<strong>na</strong>rquistas foram detectadas pelaimprensa paulista 4 , e t<strong>em</strong>ia-se inclusive que “esta raça de gente perigosa, verdadeiroshomens-fera” migrass<strong>em</strong> para o Brasil 5 .<strong>Em</strong> relação ao Brasil, porém, os jor<strong>na</strong>is insistiram a princípio que taismanifestações, assim como as idéias a<strong>na</strong>rquistas de forma geral, eram umaquestão do Velho Mundo. A<strong>na</strong>rquismo e a<strong>na</strong>rquistas eram vistos, então, <strong>na</strong>scidades brasileiras e <strong>na</strong>s fazendas do interior do país, como um perigo distantee cuja presença <strong>em</strong> território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l poderia ser evitada através de umaeficaz vigilância nos portos de entrada.Nos primeiros anos da década de 1890, porém, havia comentários deque, nos países europeus, “onde só se [falava] de greves ou de manifestaçõesde operários e des<strong>em</strong>pregados, com as ameaças de di<strong>na</strong>mite e o espantalhodo 1 o de Maio” 6 , era uma estratégia geral conceder passaportes àqueles cujapresença não era desejada e que mostravam interesse <strong>em</strong> deixar o país. Haviainclusive suspeitas de que, mais do que facilitar o <strong>em</strong>barque dos a<strong>na</strong>rquistas,o governo italiano incentivava sua partida: já <strong>em</strong> 1893 chegaram às autoridadesbrasileiras denúncias de que aquele governo fazia <strong>em</strong>barcar, “com destinoao Brasil, agregados às famílias no caráter de primos, a indivíduos a qu<strong>em</strong> querexpulsar da Itália por ser<strong>em</strong> a<strong>na</strong>rquistas e socialistas conhecidos” 7 . O cônsulitaliano, conde Edoardo Compans de Brichanteau, <strong>em</strong> correspondência como Ministero degli Affari Esteri <strong>em</strong> 1894, chegou mesmo a afirmar que os indivíduosque compunham “o primeiro núcleo de a<strong>na</strong>rquistas (...) no Brasil”eram italianos e, aparent<strong>em</strong>ente, haviam sido enviados “pelo próprio GovernoRégio após os dolorosos fatos do 1 o de Maio <strong>em</strong> Roma” 8 .Indícios de que a<strong>na</strong>rquistas já haviam se instalado <strong>em</strong> território brasileiroe vinham realizando a propaganda de suas idéias tor<strong>na</strong>vam-se maisfreqüentes. O cônsul italiano Brichanteau r<strong>em</strong>eteu a 1891 a organização deum núcleo a<strong>na</strong>rquista no Brasil 9 ; no ano seguinte, foi detectada no Rio de Janeiromovimentação de “indivíduos estrangeiros, foragidos da França, queprocuravam estabelecer uma sociedade a<strong>na</strong>rquista entre a classe dos operários”10 ; mais a<strong>na</strong>rquistas, também estrangeiros, foram detidos <strong>em</strong> 1893 porfazer<strong>em</strong> “propaganda entre os operários de uma fábrica de tecidos” <strong>na</strong> entãoCapital Federal 11 . Simultaneamente, vinham à to<strong>na</strong> notícias da publicação deperiódicos altamente suspeitos <strong>em</strong> São Paulo: <strong>em</strong> um dos jor<strong>na</strong>is apreendidosaos a<strong>na</strong>rquistas presos no Rio de Janeiro <strong>em</strong> 1892, havia uma nota sobre o“aparecimento de um jor<strong>na</strong>l italiano no estado de São Paulo, denomi<strong>na</strong>do GliSchiavi Bianchi [Os Escravos Brancos], que obteve vivo sucesso entre a numerosacolônia italia<strong>na</strong> daquele estado” 12 . Outra grande apreensão de materialsubversivo, desta vez <strong>em</strong> Buenos Aires, também apontou para a atividade d<strong>em</strong>ilitantes a<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> São Paulo: <strong>em</strong> uma lista de jor<strong>na</strong>is e folhetos apre-Nº 2, Ano 2, 2008 125


endidos pela polícia argenti<strong>na</strong>, mencionou-se o periódico a<strong>na</strong>rquista L’AsinoUmano [O Asno Humano], publicado <strong>em</strong> São Paulo 13 .De fato, italianos tidos como a<strong>na</strong>rquistas publicavam periódicos desdeo começo dos anos 1890: a “folha incendiária” Gli Schiavi Bianchi foi fundadano primeiro s<strong>em</strong>estre de 1892 e era, s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>lmente, “de modo provocador”,enviada à Repartição Central de Polícia; <strong>em</strong> agosto de 1893, veio a lumeL’Asino Umano, periódico humorístico que tinha sede no Centro Socialista Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l14 . Batendo-se contra a proibição de L’Asino Umano durante o longoestado de sítio de 1893, La Bestia Uma<strong>na</strong> [A Besta Huma<strong>na</strong>] surgiu <strong>em</strong> 1894,mas foi suspenso s<strong>em</strong> seguida. L’Avvenire [O Porvir] buscou, no fim de 1894,“i<strong>na</strong>ugurar uma sociedade de livres e iguais, abatendo a autoridade e a propriedade”,<strong>em</strong> um momento <strong>em</strong> que a prisão de diversos italianos acusados dea<strong>na</strong>rquistas já se prolongava por vários meses 15 . <strong>Em</strong> fevereiro de 1896, foi fundadoo jor<strong>na</strong>l intitulado L’Operaio [O Operário], que teve uma curtíssima duração– dois números ape<strong>na</strong>s. <strong>Em</strong> 1897, vieram a lume La Birichi<strong>na</strong> [A meni<strong>na</strong>travessa] e, como resultado de esforços conjuntos de a<strong>na</strong>rquistas e socialistas,XX Sett<strong>em</strong>bre [20 de Set<strong>em</strong>bro] e Ribattiamo il chiodo [Rebatamos no prego] 16 .<strong>Em</strong> janeiro de 1898, surgia o jor<strong>na</strong>l a<strong>na</strong>rquista Il Risveglio [O Despertar], qu<strong>em</strong>anteve sua circulação até maio com uma periodicidade bastante regular– suas edições saíam “tutte le domeniche” [todos os domingos].Os periódicos a<strong>na</strong>rquistas têm sido as fontes mais importantes para osestudos sobre o movimento libertário <strong>em</strong> São Paulo 17 . Além de dar<strong>em</strong> contade várias das iniciativas desses militantes, também constituíram uma importantetribu<strong>na</strong> de discussão de suas idéias, assim como um espaço privilegiadopara acompanhar as idéias divulgadas <strong>em</strong> suas colu<strong>na</strong>s. No entanto, os a<strong>na</strong>rquistasatuantes <strong>na</strong> cidade de São Paulo procuravam coorde<strong>na</strong>r outras ações asuas iniciativas proselitistas mais conhecidas: para além de suas publicações,os a<strong>na</strong>rquistas lograram fazer <strong>parte</strong> do cotidiano de moradores de algumasfreguesias da cidade, a princípio não como el<strong>em</strong>entos perigosos, porém comotrabalhadores que organizavam reuniões, colavam cartazes, promoviam passeatas,discutiam acaloradamente, freqüentavam as <strong>casa</strong>s de seus vizinhos eprocuravam agir dentro da ord<strong>em</strong> e de maneira ex<strong>em</strong>plar.A notoriedade que por vezes alcançaram tinha, porém, seu preço. Seusjor<strong>na</strong>is eram denunciados, perseguidos e mesmo <strong>em</strong>pastelados por causa dosartigos que publicavam, das polêmicas que acendiam ou da determi<strong>na</strong>ção dealguma autoridade. As manifestações públicas foram muito freqüent<strong>em</strong>entereprimidas pela polícia, sendo também por vezes atacadas por cidadãos, pelaimprensa e pela opinião pública. Vizinhos a<strong>na</strong>rquistas, quando descobertospela polícia, transformavam-se <strong>em</strong> notórios “di<strong>na</strong>mitistas” nos test<strong>em</strong>unhosdaqueles que os haviam conhecido e com qu<strong>em</strong> travaram amizade ou então126


eram apontados como conhecidos distantes, diante de questio<strong>na</strong>mentos policiaissobre a presença e atuação daqueles indivíduos subversivos <strong>na</strong> freguesiaonde residiam.O a<strong>na</strong>rquismo e seus militantes, no entanto, pod<strong>em</strong> deixar de ser vistoscomo meros assuntos de polícia, de correspondências diplomáticas, de decretosde deportação, para assumir<strong>em</strong>-se – tanto <strong>na</strong>s fontes policiais quantopelas <strong>rua</strong>s da cidade, como quer mostrar este artigo – cada vez mais comoagentes participantes do cotidiano da capital paulista, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre sujeitos aações repressivas, ainda que normalmente vigiados. Buscavam ocupar, commaior ou menor sucesso, novos espaços, incentivar mais ações e construirformas variadas de participação <strong>na</strong> vida dos trabalhadores, procurando tantoa afirmação prática dos princípios que defendiam quanto maior amplitudepara a divulgação de suas idéias. Tencio<strong>na</strong>vam que sua presença fosse notada,por meio de seu engajamento, de sua retidão, enfim, de seu ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong>“<strong>toda</strong> a <strong>parte</strong>” – mesmo que, com isso, foss<strong>em</strong> reprimidos, presos, caluniados,até deportados. Este artigo procura discutir exatamente essa construção dosespaços de atuação política dos a<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong> cidade de São Paulo e sua interaçãocom os d<strong>em</strong>ais agentes que buscavam convencer ou de qu<strong>em</strong> tentavamescapar, focalizando num estudo de caso sobre o suposto rapto de uma menorpor a<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> 1899.A<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> <strong>casa</strong>A com<strong>em</strong>oração do aniversário da morte dos mártires de Chicago, <strong>em</strong>11 de nov<strong>em</strong>bro de 1899, constitui um caso interessante para a<strong>na</strong>lisar a construçãodo espaço de atuação dos militantes a<strong>na</strong>rquistas, seja <strong>na</strong> sua experiênciajunto às autoridades, seja <strong>na</strong> ampliação dos círculos de divulgação de suasidéias, seja ainda no que diz respeito à sua interação com cidadãos e com opróprio espaço físico da cidade, tanto numa esfera privada quanto <strong>na</strong> pública.Abre também espaço para pensar <strong>na</strong>s reações dos agentes com qu<strong>em</strong> os militantesinteragiam, as formas de repressão e os espaços conquistados nesseprocesso, de forma a entender os a<strong>na</strong>rquistas dentro do cotidiano <strong>em</strong> quevi viam, que construíam e compartilhavam com tantos outros sujeitos <strong>na</strong> SãoPaulo dos anos 1890.No começo de dez<strong>em</strong>bro de 1899, foi noticiado que diversos a<strong>na</strong>rquis tashaviam sido presos <strong>em</strong> São Paulo por colar cartazes no dia 11 de nov<strong>em</strong> brodaquele ano 18 . Naquela data, oito a<strong>na</strong>rquistas haviam sido detidos no postopolicial do Bom Retiro, acusados de promover desordens pelas <strong>rua</strong>s daquelafreguesia, de pregar cartazes sediciosos pelas paredes e de fazer “reuniões secretas<strong>em</strong> que se têm discutido e deliberado meios de destruir propriedadesNº 2, Ano 2, 2008 127


algum veto prévio ou punição posterior. Os cartazes, por ex<strong>em</strong>plo, estavamassi<strong>na</strong>dos, obedecendo, assim, ao parágrafo 12 do artigo 72 da Constituiçãobrasileira, o qual determi<strong>na</strong>va que a manifestação do pensamento era livre<strong>em</strong> qualquer assunto, mas o anonimato não era permitido. Também se develevar <strong>em</strong> consideração o fato de os manifestantes ter<strong>em</strong>-se dirigido ao postopolicial a fim de pedir permissão para colar os cartazes. Atendiam, assim,a uma determi<strong>na</strong>ção passada havia t<strong>em</strong>pos de que boletins distribuídos ouafixados, que não foss<strong>em</strong> simples reclame ou propaganda de produtos e serviços,deveriam ser apresentados à chefatura de polícia, “para que dela sejamlogo sabidos os intuitos de tais publicações” 21 .No entanto, o resultado alcançado por essa iniciativa foi o oposto do almejadopelos a<strong>na</strong>rquistas por causa da atitude ambígua da autoridade policialque os atendeu: ao afirmar que “não podia proibir n<strong>em</strong> consentir” a colag<strong>em</strong>dos cartazes, mesmo tendo-os sob os olhos e conhecendo “os intuitos de taispublicações”, o tenente comandante do posto do Bom Retiro de certa formaconsentiu que eles o fizess<strong>em</strong>, orde<strong>na</strong>ndo, <strong>em</strong> seguida, que um sargento daquel<strong>em</strong>esmo posto apreendesse os cartazes 22 . É possível que se tratasse deuma estratégia utilizada para detê-los: caso simplesmente se proibisse a distribuiçãodos cartazes, não haveria base para sua prisão; liberando-os parafazer<strong>em</strong> o que julgass<strong>em</strong> mais apropriado, s<strong>em</strong> o consentimento, mas tambéms<strong>em</strong> o veto, abriu-se a oportunidade para flagrá-los <strong>em</strong> uma atividadeconsiderada subversiva.Vale mencio<strong>na</strong>r ainda que os cartazes teriam servido de justificativanão ape<strong>na</strong>s para a prisão de Colombo, <strong>em</strong> flagrante, pelas <strong>rua</strong>s do Bom Retiro,mas para a detenção de seus companheiros: somente depois de o terceirodelegado e seu acompanhante ter<strong>em</strong> lido os cartazes é que determi<strong>na</strong>ram queos d<strong>em</strong>ais a<strong>na</strong>rquistas foss<strong>em</strong> recolhidos ao xadrez. Não foi possível recuperaro impresso, mas, a julgar pelos outros cartazes afixados e distribuídos nosúltimos anos e que não necessariamente resultaram <strong>na</strong> detenção daquelesque os compuseram e espalharam pela cidade, é provável que o conteúdo doimpresso não tivesse motivado a ação policial, servindo talvez, e ape<strong>na</strong>s, paraidentificar a filiação política dos suspeitos.Havia, no entanto, mais detalhes do caso, os quais viriam anexados aoinquérito aberto por ocasião da colag<strong>em</strong> de cartazes e que dariam um viéssensacio<strong>na</strong>lista ao ocorrido: a pedido do terceiro delegado, foi anexado o inquérito“sobre o rapto da menor Gabriela”, ocorrido <strong>em</strong> agosto daquele ano.Segundo os depoimentos da mãe e do irmão da menor, Gabriela Margarida deAndrada Mesquita, de 17 anos, filha de Gabriela Frederica de Andrada Diasde Mesquita e de Teófilo Dias de Mesquita, já falecido, fugira da <strong>casa</strong> de suamãe, localizada <strong>na</strong> <strong>rua</strong> Sólon, número 126, <strong>na</strong> freguesia do Bom Retiro, <strong>na</strong>Nº 2, Ano 2, 2008 129


manhã de 19 de agosto <strong>na</strong> companhia do italiano Armando Fermani, ex-<strong>em</strong>pregadoda Companhia Lidgerwood e vizinho da família Mesquita 23 . O casoseria ape<strong>na</strong>s mais um de tantos de menores seduzidas e conduzidas para longeda <strong>casa</strong> de seus pais, não foss<strong>em</strong> alguns el<strong>em</strong>entos que a imprensa da épocaexplorou ao máximo, os quais se pod<strong>em</strong> notar logo <strong>na</strong> manchete da notíciaque ocupou por diversos números a primeira pági<strong>na</strong> de O Commercio de SãoPaulo: “Caso Excepcio<strong>na</strong>l – A<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> S. Paulo – Conspirações Descobertas.Rapto de uma moça de família – Queixa ao dr. Chefe de Polícia – Busca eApreensão de máqui<strong>na</strong>s infer<strong>na</strong>is – Revelações” 24 .Neste momento, vale propor uma breve digressão para poder a<strong>na</strong>lisaresse “Caso excepcio<strong>na</strong>l” a partir do processo de construção dos espaços deatuação política dos a<strong>na</strong>rquistas, s<strong>em</strong> o viés sensacio<strong>na</strong>lista que a imprensapaulista<strong>na</strong> buscou imprimir nele e a fim de entender a presença dos militantesno cotidiano dos trabalhadores e da cidade de São Paulo, assim como avigilância a que foram então submetidos. Daí a necessidade de pensar, primeiramente,<strong>na</strong> presença pública dos a<strong>na</strong>rquistas pelas <strong>rua</strong>s e espaços públicosda cidade.A<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong>s <strong>rua</strong>sManifestações de trabalhadores organizados não eram novidade <strong>em</strong>São Paulo e <strong>em</strong> vários centros urbanos brasileiros. Pelo menos desde 1891,o 1 o de Maio era celebrado <strong>na</strong> Capital Federal e a capital paulista tambémtest<strong>em</strong>u nhou <strong>na</strong>quele ano os festejos promovidos pelo Centro do PartidoOperário de São Paulo 25 . <strong>Em</strong> 1892, a imprensa deu conta de com<strong>em</strong>oraçõesocorridas <strong>na</strong>quelas duas cidades e também <strong>em</strong> Porto Alegre, onde, <strong>na</strong> “completapaz”, ouviram-se discursos <strong>em</strong> al<strong>em</strong>ão, italiano e <strong>em</strong> português, atendendoas diversas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidades dos trabalhadores. No Rio de Janeiro, até opresidente marechal Floriano Peixoto comparecera às festas com<strong>em</strong>orativase, <strong>em</strong> São Paulo, os festejos novamente contaram com a organização daqueleCentro Operário 26 .O dia de 1 o de Maio de 1893, por sua vez, a “data escolhida pelos socialistaspara a celebração da festa do trabalho”, com cortejos por <strong>toda</strong> a capitalpaulista 27 , transcorreu “numa ord<strong>em</strong> e harmonia invejáveis” 28 . No entanto,durante a noite, explosões <strong>em</strong> dois pontos da cidade de São Paulo fizeram saltarnão ape<strong>na</strong>s <strong>parte</strong> dos edifícios, mas as autoridades e a opinião pública, noque a imprensa chamou de “a primeira manifestação material do a<strong>na</strong>rquismo<strong>em</strong> São Paulo” 29 . A polícia paulista<strong>na</strong>, porém, não conseguiu identificar intençõesou envolvimento de a<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong>s explosões, conforme foi indicado<strong>em</strong> inquérito aberto para apurar o incidente 30 .130


<strong>Em</strong> 1894, a data de 18 de março, aniversário da Comu<strong>na</strong> de Paris, foidevidamente com<strong>em</strong>orada pelo Centro Socialista Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, como relatouL’Asino Umano 31 . Pouco depois, <strong>em</strong> abril, vários italianos foram presos poragentes de segurança, também conhecidos como secretas, e foram fotografadoscomo a<strong>na</strong>rquistas uns, socialistas outros, alguns até como gatunos apósdeixar<strong>em</strong> uma reunião daquele centro 32 . A presença dos agentes <strong>na</strong> reuniãodevia-se ao fato de que chegara ao conhecimento do chefe de polícia que, <strong>na</strong>quelelocal, “celebravam-se s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>lmente conferências de indivíduos socialistasa<strong>na</strong>rquistas” e que se estavam preparando “graves acontecimentos parao dia 1 o de Maio” 33 . A presença de uma força de “oitocentos homens completamentearmados” e do próprio chefe de polícia pelas <strong>rua</strong>s da cidade de SãoPaulo parece ter sido mais determi<strong>na</strong>nte para evitar maiores incidentes no 1 ode Maio daquele ano do que a prisão dos italianos do Centro Socialista Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,o que não impediu sua detenção de durar por mais de dez meses 34 .As datas com<strong>em</strong>orativas pareciam ter uma importância especial paraa propaganda a<strong>na</strong>rquista, constituindo-se, por vezes, <strong>em</strong> momentos extraordináriosnos quais os militantes procuravam expor sua força e agrupar simpatizantes<strong>em</strong> torno de seu ideal, de sua bandeira. Florentino de Carvalho,pseudônimo do espanhol Primitivo Raymundo Soares, publicou <strong>em</strong> 1913, nojor<strong>na</strong>l libertário Germi<strong>na</strong>l, um artigo <strong>em</strong> que procurou dar conta do sentidoda manifestação pública para os a<strong>na</strong>rquistas. Para ele,A manifestação pública, que para muitos representa um ajuntamento de barulhentos,é antes do que o livro, o panfleto e o jor<strong>na</strong>l, o melhor meio de transformaçãoda opinião pública, porque traz ao mesmo t<strong>em</strong>po a divulgação daidéia e a afirmação prática, <strong>em</strong>bora relativa, do sentimento que a tor<strong>na</strong> vivaze respeitável. E nestas manifestações surg<strong>em</strong>, com freqüência, grandes movimentosde revolta que faz<strong>em</strong> tr<strong>em</strong>er os dirigentes do regime burguês. 35Para além da ocupação do espaço público por trabalhadores e principalmentepor a<strong>na</strong>rquistas, o sentido que Florentino de Carvalho atribuiu à manifestaçãopública estava relacio<strong>na</strong>do, por um lado, ao proselitismo característicodos militantes a<strong>na</strong>rquistas: a presença <strong>na</strong> <strong>rua</strong> de companheiros e simpatizantesde um mesmo ideal contribuía não ape<strong>na</strong>s para a “divulgação da idéia”, mastambém para afirmação de sua força e adesão. Por outro lado, era um momentoespecial para mostrar as características louváveis dos militantes libertários: oapreço à ord<strong>em</strong>, ao respeito aos outros, a solidariedade, a fraternidade entrehomens e mulheres, enfim, a “afirmação prática” das idéias e princípios a<strong>na</strong>rquistas.Como também publicara anos antes outro periódico a<strong>na</strong>rquista, eraimportante que se notasse a presença do a<strong>na</strong>rquismo, por sua postura ex<strong>em</strong>-Nº 2, Ano 2, 2008 131


plar, “<strong>em</strong> <strong>casa</strong>, <strong>na</strong> <strong>rua</strong>, e <strong>em</strong> <strong>toda</strong> a <strong>parte</strong>” 36 . Postos <strong>na</strong> <strong>rua</strong>, portanto aos olhosde um maior número de pessoas, idéias e princípios a<strong>na</strong>rquistas ganhavamnão só <strong>em</strong> visibilidade fora dos círculos libertários, como assumiam a granderesponsabilidade de servir como modelo a ser almejado e conquistado.<strong>Em</strong> 1895, novas manifestações para a com<strong>em</strong>oração da Comu<strong>na</strong> de Parisforam preparadas: um cartaz assi<strong>na</strong>do por “Os A<strong>na</strong>rquistas”, datado de 18de março e redigido <strong>em</strong> português foi impresso e afixado <strong>em</strong> paredes e portasnos bairros da avenida Paulista, da Ponte Grande e pelos subúrbios da capitalpaulista, entre os dias 16 e 17 daquele mês 37 . A edição de L’Avvenire, que vieraa luz exatamente <strong>na</strong>quele domingo, 17, reproduziu, <strong>em</strong> sua primeira pági <strong>na</strong> e<strong>em</strong> italiano, o manifesto que se tinha publicado <strong>em</strong> português <strong>na</strong>quele dia,a presentando a assi<strong>na</strong>tura “Gli a<strong>na</strong>rchici” [Os A<strong>na</strong>rquistas] 38 . Na noite dodia 17, “no Teatro S. José, ao termi<strong>na</strong>r o segundo ato do Rigoletto, foram lançadosdas galerias para a platéia vários boletins de caráter a<strong>na</strong>rquista” 39 .Ainda que as celebrações tenham se resumido a essa distribuição dosboletins, s<strong>em</strong> a manifestação de nenhum intento ou ato violento, os comentáriosda imprensa foram alarmantes, e a reação da polícia, rápida. O Estadode S. Paulo apressou-se <strong>em</strong> publicar uma nota com a informação de que, pelacapital, <strong>na</strong> noite do dia 16, haviam sido distribuídos boletins “onde se liamfrases exaltando os a<strong>na</strong>rquistas e convidando os mesmos a extermi<strong>na</strong>r<strong>em</strong> osburgueses e os ricos” 40 . Segundo este mesmo diário, Bento Bueno, então chefede polícia de São Paulo, tratou de tomar providências assim que soube do fato:enviou agentes de segurança aos bairros onde os boletins haviam sido distribuídose mandou ainda que se vigiass<strong>em</strong> “<strong>casa</strong>s suspeitas” 41 . Algumas prisõesforam realizadas ainda <strong>na</strong>quela noite – pelo menos dois foram detidos “nomomento <strong>em</strong> que afixavam <strong>na</strong>s paredes do hotel de S. Paulo os tais boletins” 42 .O jor<strong>na</strong>l paulistano informou que eles traziam consigo mais de c<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plaresdos impressos. Todos os presos foram entregues ao terceiro delegado depolícia, Galeano Martins, que procedeu ao interrogatório:Todos declararam ser a<strong>na</strong>rquistas convencidos, adeptos das teorias de Ravachole Caserio Santo [sic] – o assassino de Carnot.Disseram mais que não haviam ainda imitado os seus atos por falta de oportunidadee que, antes de distribuir os boletins, sabiam que seriam presos,mas que <strong>na</strong>da t<strong>em</strong>iam, porque não reconhec<strong>em</strong> as leis atuais, contra as quaistrabalham convencidamente.Entre eles houve um que, entusiasmado, declarou que não se importaria selhe cortass<strong>em</strong> a cabeça, porque isso serviria de ex<strong>em</strong>plo. 43A transcrição do interrogatório a que os presos foram submetidos não foi132


encontrada e ficou-se ape<strong>na</strong>s com os relatos dos jor<strong>na</strong>is que noticiaram a açãopolicial <strong>na</strong>quele momento e uma brevíssima menção do chefe de polícia <strong>em</strong>seu relatório ao Secretário dos Negócios da Justiça; segundo essa autoridade,haviam confessado ser<strong>em</strong> “propagandistas convencidos e ardentes do socialismoa<strong>na</strong>rquista, solidários com <strong>toda</strong>s as manifestações dessa crença” – daí ser<strong>em</strong>“el<strong>em</strong>entos perigosos à ord<strong>em</strong> pública” 44 . No que diz respeito à cobertura dessaimprensa, nota-se a coerência entre o tom alarmado das primeiras notas, quandose publicou que os boletins convidavam os a<strong>na</strong>rquistas a “extermi<strong>na</strong>r<strong>em</strong> osburgueses e os ricos”, e a alegada paráfrase das declarações dos presos, <strong>na</strong>s quaiseles se teriam declarado adeptos das idéias de ninguém menos que Ravachol,respon sável por diversos atentados a di<strong>na</strong>mite <strong>em</strong> Paris <strong>em</strong> 1892, e Sante Caserio,autor do atentado contra o presidente da França <strong>em</strong> junho de 1894. Excetuandoa afirmação publicada pelo periódico paulistano, não havia outros indíciosde que os presos ou companheiros simpatizantes do a<strong>na</strong>rquismo tinham a intençãode imitar os atos dos anteriormente citados, com ou s<strong>em</strong> oportunidade.A intenção dos militantes, expressa por meio da afixação de boletins<strong>na</strong>s paredes e portas das <strong>rua</strong>s de São Paulo, assim como da distribuição dosimpressos no Teatro São José, seria uma tentativa de atingir uma quantidadegrande de pessoas, de modo a afirmar e ampliar os espaços da propaganda,da mesma forma que mencio<strong>na</strong>do no boletim:<strong>Em</strong> vão a classe domi<strong>na</strong>nte, amedrontada, tenta parar, com a ferocidade darepressão, o propagar da Idéia inovadora que penetra todos os lugares, do campo àofici<strong>na</strong>, da escola à prisão, e conquista todo dia novos apóstolos, no campo da ciênciae da arte, assim como <strong>na</strong>quele do penoso trabalho manual. 45Nesse mesmo sentido, é possível entender as datas com<strong>em</strong>orativas comoum momento importante para a exposição dos princípios a<strong>na</strong>rquistas,do proselitismo tão acentuado entre os militantes a<strong>na</strong>rquistas. No caso específicoda com<strong>em</strong>oração da Comu<strong>na</strong> <strong>em</strong> 1895, mais do que a afirmação docompartilhamento dos ideais entre um grupo de indivíduos simpatizantesde causas s<strong>em</strong>elhantes – como se dera <strong>na</strong> celebração dessa data no ano anteriorno Centro Socialista Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l – buscavam-se “novos apóstolos”,procurou-se propagar a “Idéia inovadora” no maior número de lugares possível.Os militan tes a<strong>na</strong>rquistas buscavam encorajar determi<strong>na</strong>das iniciativas edetermi<strong>na</strong>r as melhores ações para a divulgação e afirmação do a<strong>na</strong>rquismo,procurando in clusive delinear a função dos a<strong>na</strong>rquistas, assim como situarsua atuação <strong>na</strong> sociedade.No entanto, foi exatamente do “espírito de proselitismo” que a políciapaulista se aproveitou para perseguir os imigrantes que distribuíam os folhe-Nº 2, Ano 2, 2008 133


tos <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração ao vigésimo quarto aniversário da Comu<strong>na</strong> de Paris.Ainda que haja sugestões de que os responsáveis por L’Avvenire eram mantidossob vigilância, foi no momento <strong>em</strong> que saíram às <strong>rua</strong>s de forma maisevidente – quando puderam ser presos <strong>em</strong> flagrante – que os agentes de segurançalançaram-se sobre eles 46 .A presença dos a<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong>s <strong>rua</strong>s – fosse fisicamente, fosse representadospor cartazes ou publicações variadas – incomodava a polícia e eraalvo de suas ações. No caso dos detidos <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro de 1899, é provável queaquela prisão significasse uma boa oportunidade para ter os a<strong>na</strong>rquistas doBom Retiro sob os olhos da polícia, ainda mais por causa de eventos ocorridosexatamente <strong>na</strong>quela freguesia havia alguns meses, implicando os ali residentese que envolviam as denúncias de apreensão de explosivos, rapto de umamenor e até mesmo roubo. As ações policiais contra eles nesses últimos anosdo século XIX voltavam-se exatamente para esse controle e vigilância, comvistas a livrar os cidadãos de sua presença e buscando também, concomitant<strong>em</strong>ente,obstar a divulgação de suas idéias.No ex<strong>em</strong>plar <strong>em</strong> que os redatores do jor<strong>na</strong>l L’Avvenire transcreveramo boletim <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração à Comu<strong>na</strong>, eles dirigiram-se aos leitores, comunicandoque a polícia havia declarado guerra ao jor<strong>na</strong>l e que t<strong>em</strong>iam ter desuspendê-lo 47 . No mesmo número, acusaram agentes dessa força de ter<strong>em</strong>arrancado ex<strong>em</strong>plares do jor<strong>na</strong>l de alguns meninos que o vendiam, prendidodois jovens que carregavam L’Avvenire e ainda de ter<strong>em</strong> detido um indivíduoque julgavam ser distribuidor do periódico, a fim de apreender os ex<strong>em</strong>plaresque ele porventura tivesse 48 .Incomodava à polícia o exercício da propaganda a<strong>na</strong>rquista – a qual,segundo um dos redatores de L’Avvenire, já havia alcançado grande sucesso,tendo sido levada aos “operários de todos os bairros da cidade (...) a vulgarizaçãoda A<strong>na</strong>rquia” 49 – e o incômodo era claramente explicitado, como sepode ler abaixo:<strong>Em</strong> abril de 1894 tendo tido o meu ilustre antecessor, dr. Teodoro de Carvalho,conhecimento de que nesta capital havia um grupo de estrangeiros a<strong>na</strong>rquistas,constituído <strong>em</strong> grêmio de propaganda subversiva e vendo o perigodessa propaganda, manifestado <strong>na</strong> l<strong>em</strong>brança de destruição, por bombas dedi<strong>na</strong>mite lançadas <strong>em</strong> dois palacetes desta cidade, <strong>em</strong> 1 o de maio daqueleano 50 , feito que alarmou profundamente a população e mereceu da imprensaa mais formal conde<strong>na</strong>ção; o dr. Teodoro fez prender a dez dos mais salientessectários daquela propaganda, os quais tendo tido ord<strong>em</strong> de deportaçãoforam r<strong>em</strong>etidos para a Capital Federal, onde permaneceram presos até 1 o dedez<strong>em</strong>bro do mesmo ano.134


Postos <strong>em</strong> liberdade <strong>em</strong> virtude do aviso do Ministério da Justiça daquelada ta, alguns deles voltaram a esse estado e, a despeito de ter<strong>em</strong> prometidovi ver vida ordeira, aqui se constituíram <strong>em</strong> novo grêmio de propagandistas,fundando jor<strong>na</strong>is e publicações perigosas para a ord<strong>em</strong> pública e realizandoreuniões secretas de intuitos francamente a<strong>na</strong>rquistas.Ao assumir esta chefia tive ciência desses fatos. Por isso determinei que sebus cass<strong>em</strong> as necessárias providências, seguindo-se todos os passos dos sectários,até que pudess<strong>em</strong> eles ser presos <strong>em</strong> flagrante, de modo a justificar<strong>em</strong>as medidas especiais que a respeito tivesse de tomar o poder público. 51Nota-se b<strong>em</strong> como os eventos dos anos anteriores estavam vivos <strong>na</strong>m<strong>em</strong>ó ria daquela autoridade, os quais continuavam servindo como justificativapara as ações repressivas tomadas pela chefatura de polícia. As preocupaçõestambém variaram pouco: Bento Bueno alegou ter recebido informaçõesde que se preparavam manifestações para o 1 o de Maio, s<strong>em</strong>elhant<strong>em</strong>enteàs de núncias do ano anterior, e a chefatura preparou medidas apropriadaspara aquela data.A correspondência entre a ação realizada pelos militantes a<strong>na</strong>rquistase a punição legal, no entanto, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi salientada ou detalhadamenteexplicitada. Raramente houve referência aos “manejos a<strong>na</strong>rquistas” ou ao flagrante<strong>em</strong> que os indivíduos estivess<strong>em</strong> envolvidos para ser<strong>em</strong> conduzidos àpresença de alguma autoridade policial e, <strong>em</strong> seguida, para a Cadeia Públicada capital. Não se trata, no momento, de discutir a jurisprudência ou as instânciaslegais acio<strong>na</strong>das, mas a simples explicitação das justificativas das prisões.Pesava contra tais indivíduos, é certo, a mera taxação de a<strong>na</strong>rquistas, explicitadaou não através da denúncia da realização da propaganda ou do envolvimentocom órgãos e indivíduos proselitistas. Daí a afirmação dos redatores deL’Avvenire que teria bastado à polícia, para jogar vários imigrantes “nos cárceresda Luz”, o fato de ter<strong>em</strong> “afixado manifestos <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração à Comu<strong>na</strong>” oude “pertencer<strong>em</strong> à redação de L’Avvenire” 52 . Daí também o recurso da prisão<strong>em</strong> flagrante anunciado pelo chefe de polícia, necessário principalmente paraque o poder público pudesse tomar “medidas especiais” contra os a<strong>na</strong>rquistas– leia-se: para que houvesse alguma base legal para sua expulsão.<strong>Em</strong> 1896, a presença de quatro “socialistas e a<strong>na</strong>rquistas” é destaque <strong>na</strong>“Estatística da Seção Fotográfica” daquele ano 53 . Ainda que não houvesse referênciaa que os suspeitos estivess<strong>em</strong> fazendo ao ser<strong>em</strong> presos, a data de suaprisão r<strong>em</strong>ete imediatamente às com<strong>em</strong>orações de mais um aniversário daComu<strong>na</strong> de Paris, mesmo s<strong>em</strong> menções a distribuições de folhetos e cartazes,reuniões ou festejos. Não havia então um jor<strong>na</strong>l que desse conta das atividadesdos a<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> São Paulo por causa da suspensão de L’Avvenire <strong>em</strong> agostoNº 2, Ano 2, 2008 135


do ano anterior e da curta duração de L’Operaio, com dois números <strong>em</strong> fevereiroape<strong>na</strong>s; tampouco os documentos policiais foram mais explícitos sobreas razões que motivaram as prisões daqueles indivíduos. É possível, porém,que se estivess<strong>em</strong> antecipando as iniciativas que já haviam se repetido nosanos anteriores, como a distribuição de panfletos ou a colag<strong>em</strong> de cartazes.Também poderia estar sendo acio<strong>na</strong>da a vigilância constante que havia <strong>na</strong>cidade de São Paulo, realizada por indivíduos que atuavam secretamente e àpaisa<strong>na</strong>, e cuja principal ocupação era a prevenção de delitos: os agentes desegurança ou secretas, a qu<strong>em</strong> cabiam medidas profiláticas no tratamentode indivíduos subversivos, medidas essas que, <strong>em</strong> certos momentos, seriamprivilegiadas pelas autoridades 54 .<strong>Em</strong> 1897, porém, as manifestações foram menos repreendidas: um cartazescrito <strong>em</strong> português e <strong>em</strong> italiano e datado de 15 de set<strong>em</strong>bro convidava“cidadãos” e “cittadini” a com<strong>em</strong>orar a data da unificação italia<strong>na</strong>, festejada<strong>em</strong> 20 de set<strong>em</strong>bro, como marca da “parcial derrota do papado” 55 . O comíciono Teatro Polytheama antecipava-se aos festejos oficiais promovidos pela colôniae autoridades italia<strong>na</strong>s, e contou com vários militantes e oradores queocuparam a tribu<strong>na</strong> do teatro 56 . Os assi<strong>na</strong>ntes de La Birichi<strong>na</strong> receberam, nodia seguinte, o número único do XX Sett<strong>em</strong>bre, <strong>em</strong> que se criticavam os festejospropostos pelas autoridades italia<strong>na</strong>s <strong>em</strong> São Paulo 57 .O resultado da atuação dos militantes não se fez sentir mais fort<strong>em</strong>ente,então, através da prisão de italianos, a<strong>na</strong>rquistas ou socialistas, mas por meioda reestruturação do grupo a<strong>na</strong>rquista, marcada pela publicação de um novojor<strong>na</strong>l logo <strong>em</strong> seguida, com o sugestivo título de Il Risveglio [O Despertar],ajudando <strong>em</strong> muito o movimento, que não contava com uma folha periódicaregular desde a suspensão de L’Avvenire. A publicação de Il Risveglio, no entanto,não limitou a atuação a<strong>na</strong>rquista à circulação de seus ex<strong>em</strong>plares; antes,os libertários procuraram cristalizar seu espaço <strong>na</strong>s <strong>rua</strong>s, pelo qual se vinhambatendo nos últimos anos.Desde o princípio de março de 1898, Il Risveglio já vinha antecipando osfestejos do 1 o de Maio 58 . Na própria data, os a<strong>na</strong>rquistas trouxeram a lume umsupl<strong>em</strong>ento a Il Risveglio, intitulado “Il Primo Maggio” [O Primeiro de Maio] 59 .A<strong>na</strong>rquistas e socialistas agindo <strong>em</strong> conjunto nos festejos tiveram grande audiênciae repercussão tanto no comício no Teatro Polytheama como <strong>na</strong> festade gala que se deu à noite, no Teatro Apollo 60 . Cerca de duas mil pessoasestiveram presentes ao comício, onde também foram distribuídos manifestosdo grupo Germi<strong>na</strong>l, de Ribeirão Preto, poesias e programas do Partido SocialistaInter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l 61 . Não houve, porém relatos de prisões ou intervençõespoliciais nos festejos ocorridos – talvez porque tivess<strong>em</strong> sido realizados <strong>em</strong>locais fechados.136


públicas se deram, ainda que sob a vigilância policial. Impedidos de realizaro sepultamento do companheiro, “socialistas e a<strong>na</strong>rquistas foram, entretanto,<strong>em</strong> romaria ao c<strong>em</strong>itério, levando flores, e, reclamando o cadáver, finda a autópsia,acompanharam o desditoso companheiro à sepultura, falando entãodiversos oradores” 66 . Foram, durante o percurso – desde o largo São Franciscoaté o c<strong>em</strong>itério do Araçá – acompanhados pela polícia, que também procurouimpedir que oradores se manifestass<strong>em</strong>. Os protestos dos presentes obstaramos trabalhos policiais, e as exéquias ao a<strong>na</strong>rquista morto prosseguiram 67 .O ano de 1899, por sua vez, iniciou com grande barulho por <strong>parte</strong> dea<strong>na</strong>rquistas e socialistas 68 . Logo no começo de janeiro, deu-se o “primeiro comício<strong>em</strong> praça pública de socialistas e a<strong>na</strong>rquistas”, que, apesar da chuva, doveto da polícia e da ação da cavalaria, teve um grande sucesso 69 . Cerca de milpessoas teriam ocuparam a praça da República e assistiram a ataques verbaisàs instituições policiais por aproximadamente uma hora e meia, quando foiinterrompido pela cavalaria. Segundo Il Risveglio, vários manifestantes teriamconseguido escapar <strong>em</strong> um bonde, do qual entoaram o “Inno dei Lavoratori”[Hino dos Trabalhadores], enquanto alguns indivíduos foram presos no localdo comício 70 .Por ocasião do 1 o de Maio de 1899, as manifestações dos a<strong>na</strong>rquistas aproveitarama data para reagir contra a violência que seu jor<strong>na</strong>l sofrera: Il Ris vegliofora <strong>em</strong>pastelado 71 . O fato teria exaltado os ânimos e os militantes assumiramuma postura se não mais combativa, ao menos mais barulhenta <strong>na</strong>s home<strong>na</strong> gensque se davam então ao <strong>em</strong>baixador da Itália, conde Antonelli, que chegara a SãoPaulo havia poucos dias 72 . Representantes de diversos grupos de trabalhadores,reunidos para com<strong>em</strong>orar o Dia do Trabalho no Largo da Luz 73 , encontraramsecom o cortejo de home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> ao <strong>em</strong>baixador. Os primeiros, então, expressaramseu protesto através de assobios, vaias, gritos de escárnio e até ameaçasde morte à autoridade diplomática, a que a polícia reagiu: dispersaram-se osmanifestantes, s<strong>em</strong> que nenhuma prisão fosse realizada, mas apreenderam abandeira a<strong>na</strong>rquista, <strong>na</strong>s cores vermelha e preta, <strong>em</strong>punhada por m<strong>em</strong>bros doCircolo Angiolillo, cujas reuniões eram anunciadas <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s de Il Risveglio 74 .Mesmo com o golpe dado contra aquele periódico, cuja circulação foisuspensa definitivamente, os a<strong>na</strong>rquistas procuraram manter suas atividades.A data da Unificação Italia<strong>na</strong>, com os festejos oficiais de costume 75 , contounovamente com a presença de a<strong>na</strong>rquistas e socialistas <strong>na</strong>s <strong>rua</strong>s, porém, destavez, imprimindo um sentido distinto ao dia: tor<strong>na</strong>ram-no uma home<strong>na</strong>g<strong>em</strong>a Polinice Mattei.Os socialistas e a<strong>na</strong>rquistas de S. Paulo hoje, às 2 horas da tarde, <strong>em</strong> númerosuperior a 500, reuniram-se no largo de S. Francisco e se dirigiram ao c<strong>em</strong>i-138


tério do Araçá, <strong>em</strong> romaria ao túmulo do a<strong>na</strong>rquista Polinice Mattei, ferido nodia 20 de set<strong>em</strong>bro de 1898 por um tiro partido da manifestação patriótica, efalecido no hospital de Misericórdia no mesmo mês.Os socialistas e a<strong>na</strong>rquistas levaram à frente do préstito uma coroa de lourose carvalho, com fitas vermelhas e pretas <strong>na</strong>s quais se lia – A Polinice Mattei – ISocialisti A<strong>na</strong>rchici.(...)Todos os oradores afirmando solen<strong>em</strong>ente as suas convicções e as reivindicaçõesque pretend<strong>em</strong>, <strong>em</strong> prol da humanidade, saudaram <strong>em</strong> Polinice Mattei oprimeiro mártir do Ideal no Brasil.Depois, <strong>na</strong> mais perfeita ord<strong>em</strong>, dissolveu-se o préstito, à entrada do C<strong>em</strong>itério,retirando-se todos para as suas respectivas residências. 76Mesmo com a vigilância intensa da polícia, com sua “ridícula ostentaçãode força”, “os galopes desenfreados dos cavalos”, “os delegados todos acavalo percorrendo a cidade”, não houve conflitos entre manifestantes e policiais77 . Procurou-se inclusive sublinhar a manutenção da ord<strong>em</strong> promovidapor a<strong>na</strong>rquistas e socialistas – ord<strong>em</strong> esta que as autoridades “não puderamperturbar” –, de forma a comparar as duas manifestações que se haviam dadosimultaneamente e frisar o caráter ameaçador daquela promovida pelos patriotasitalianos. O sucesso atribuído à manifestação de a<strong>na</strong>rquistas e socialistasserviu inclusive para a sugestão de que a data de 20 de set<strong>em</strong>bro assumiriaoutro sentido, s<strong>em</strong> o cunho patriótico e <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> a Polinice Mattei.É interessante pensar no tom que se procurou dar às manifestações dosa<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong>quela data, dado que elas se deram pouco menos de um mêsdepois da grande publicidade que aqueles militantes receberam por causa dosuposto rapto da menor Gabriela. A ord<strong>em</strong>, a convicção, a solidariedade entregrupos políticos diversos, a numerosa participação no préstito, tudo ia de encontroàs suspeitas terríveis que a imprensa paulista<strong>na</strong> e a polícia procuraramfazer recair sobre os a<strong>na</strong>rquistas. Tratava-se da campanha a que alguns militantesmais conhecidos se lançaram mesmo durante a repercussão do incidente,a fim de esclarecer o ocorrido e retirar qualquer má impressão que aindarestasse sobre a conduta dos a<strong>na</strong>rquistas.A<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> <strong>toda</strong> a <strong>parte</strong>Anteont<strong>em</strong>, pela hora 1 da tarde, apresentou-se no gabinete do dr. chefe depolícia, <strong>na</strong> Repartição Central, a sra. Gabriela de Andrada Mesquita, residenteà <strong>rua</strong> Sólon, n. 126, no Bom Retiro, e, possuída de visível excitação nervosa,comunicou ao dr. Almeida e Silva que sua filha, Gabriela, de 17 anos deNº 2, Ano 2, 2008 139


idade, fora raptada sábado passado pelo italiano Armando de tal, a<strong>na</strong>rquistaperigoso e terrível, muito conhecido <strong>em</strong> S. Paulo, e <strong>em</strong> companhia dele fugiudesta capital.(...)Disse d. Gabriela que absolutamente não atribui o rapto de sua filha a causasamorosas, pois não acredita que ela, moça inteligente e de educação, se apaixo<strong>na</strong>ssepor Armando – um maltrapilho que tira seu sustento dos ganhos doserviço de lavar <strong>casa</strong>s e de outros s<strong>em</strong>elhantes.Atribui – declarou d. Gabriela – a planos concebidos pelo sr. Benjamim Mota,moço muito conhecido nesta capital e que, de combi<strong>na</strong>ção com outros a<strong>na</strong>rquistasde S. Paulo, pretende fazer de sua filha meio instrumento para a realizaçãode suas idéias.Continuando as suas revelações, disse d. Gabriela que se dão reuniões dea<strong>na</strong>r quistas <strong>na</strong> <strong>casa</strong> n. 114 da <strong>rua</strong> Sólon e <strong>na</strong> antiga venda do Re<strong>na</strong>to, no BomRetiro, e que essas reuniões são presididas pelo sr. Benjamim Mota.Disse ainda d. Gabriela que, convencida por esse moço, sua filha também freqüentavaas reuniões e recebia jor<strong>na</strong>is a<strong>na</strong>rquistas que o mesmo lhe mandavae ainda que, dentre os planos engendrados <strong>na</strong>quelas reuniões, sabe que existeo da destruição de cinco <strong>casa</strong>s desta capital, por meio de di<strong>na</strong>mite, isto paracom<strong>em</strong>orar o aniversário da morte do a<strong>na</strong>rquista Angiolillo. 78O jor<strong>na</strong>l paulistano deu grande importância e repercussão nos diasque se seguiram ao que chamou de “fato de excepcio<strong>na</strong>l gravidade” 79 . O viéssensacio<strong>na</strong>lista assumido pelo noticiário sobre o desaparecimento da garotaGabriela deveu-se largamente à acusação de envolvimento de a<strong>na</strong>rquistas,ao possível recrutamento de militantes para as fileiras libertárias juntos aosfilhos de famílias “respeitáveis” e às denúncias de planos de atentados comdi<strong>na</strong>mite <strong>na</strong> capital paulista.Além de Benjamim Mota e do próprio “Armando de tal” – cujo sobrenomeera Fermani –, do<strong>na</strong> Gabriela também acusou como a<strong>na</strong>rquistas e comoresponsáveis pelo desaparecimento de sua filha seu vizinho Giacomo Mancinie sua esposa, Basilda, moradores da <strong>rua</strong> Sólon, 114, com qu<strong>em</strong> residia o supostoraptor; Padalossi, Tesserini, Gigi Damiani, que aí também moravam; e JoséSarmento, dono da Chapelaria Libertária, <strong>na</strong> <strong>rua</strong> General Câmara, n. 101, <strong>em</strong>Santos 80 . No que diz respeito à acusação de a<strong>na</strong>rquistas, a vinculação destesúltimos ao movimento era conhecida: Tesserini e Damiani haviam tomado<strong>parte</strong> de inúmeras atividades a<strong>na</strong>rquistas, assim como José Sarmento 81 . Por outrolado, a participação de todos no desaparecimento da menor teria sido vitale, de acordo a mãe da desaparecida, de ord<strong>em</strong> prática: Damiani e Mancini, porex<strong>em</strong>plo, ao saber<strong>em</strong> do desaparecimento, teriam pedido que do<strong>na</strong> Gabriela140


esperasse até segunda-feira para dar <strong>parte</strong> à polícia, prometendo achar umaso lução “s<strong>em</strong> escândalos” para o caso. No entanto, <strong>na</strong> madrugada do dia seguinte,todos os moradores da <strong>casa</strong> de n. 114 – Giacomo, Basilda, seus filhos,Tesserini, Padalossi e Damiani – fugiram, o que levou do<strong>na</strong> Gabriela a suporque eram cúmplices do delito, tendo facilitado a fuga da menor.A responsabilidade dos acusados, no entanto, não se limitara ao ocultamentodo fato: a meni<strong>na</strong> Gabriela, Guesinha, como era chamada <strong>em</strong> família,teria sido seduzida não com promessas amorosas, mas com “assuntos sociais”,que teriam “grande influência sobre sua imagi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong>turalmente exaltadapelos sofrimentos devido à pobreza e orfandade” 82 . Além da fuga, do<strong>na</strong> Gabrielatinha como evidência do envolvimento da menor com os propósitos a<strong>na</strong>rquistasuma carta recebida <strong>na</strong> manhã da terça-feira, expedida no dia anteriordo Rio de Janeiro, <strong>em</strong> que Guesinha pedia-lhe perdão por ter partido de <strong>casa</strong>s<strong>em</strong> avisar, o que fizera “para o b<strong>em</strong> dela e da humanidade” 83 . Segundo a mãe,Armando Fermani teria convencido a menor a participar das reuniões promovidaspelos a<strong>na</strong>rquistas e ainda fornecera-lhe jor<strong>na</strong>is libertários. Gigi Damiani,por sua vez, também teria contribuído com tal doutri<strong>na</strong>ção: sendo “um hom<strong>em</strong>simpático e de muito talento e achando-se <strong>na</strong> vizinhança, tinha muitasvezes ocasião de conversar com a menor raptada sobre assuntos sociais” 84 .Contra Benjamim Mota, do<strong>na</strong> Gabriela afirmou que não podia fazernenhuma acusação de cunho material, mas o considerava “moralmente responsávelpela fuga de sua filha e dos prejuízos subseqüentes” 85 :A declarante responsabiliza por estes fatos como instrumento ao italiano ArmandoFermani e como responsáveis Gigi Damiani, Giacomo Mancini e suamulher, Padalossi e Tesserini, todos moradores à <strong>rua</strong> Sólon cento e quatorze,tendo a maior responsabilidade nestas infâmias o senhor Benjamim Mota, exredatordo jor<strong>na</strong>l A Noite, onde sustentava com sua assi<strong>na</strong>tura que a propriedadeé um roubo, a honra um crime e a virgindade não passa de uma m<strong>em</strong>bra<strong>na</strong>rota etc., e sendo considerado pelos a<strong>na</strong>rquistas como non-plus-ultra da ciência,o salvador da humanidade. 86Benjamim Mota já era, de fato, um a<strong>na</strong>rquista notório. Seu envolvimentocom idéias e manifestações a<strong>na</strong>rquistas não podia efetivamente ser negado,n<strong>em</strong> seu <strong>em</strong>penho <strong>na</strong> divulgação dos princípios libertários. Colaborara comdiversos jor<strong>na</strong>is a<strong>na</strong>rquistas e, <strong>em</strong> 1896, publicou “um dos primeiro livros deautor brasileiro sobre o pensamento a<strong>na</strong>rquista, Rebeldias” 87 .<strong>Em</strong> suas declarações, do<strong>na</strong> Gabriela fez referência direta a artigos publicadosno cotidiano A Noite e assi<strong>na</strong>dos por Benjamim Mota, <strong>em</strong> algunsdos quais fazia, inclusive, propaganda de princípios libertários. DissertandoNº 2, Ano 2, 2008 141


sobre assuntos diversos, de religião a arte, de militarismo a pecuária, quases<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> polêmica com outros colaboradores do jor<strong>na</strong>l, Mota abria espaço<strong>na</strong>quele periódico não particularmente simpático aos a<strong>na</strong>rquistas para a discussãoe divulgação de algumas de suas idéias 88 . A Noite publicou também oartigo assi<strong>na</strong>do por Mota intitulado “Drama do Adultério”, <strong>em</strong> que comentavao assassi<strong>na</strong>to de uma mulher adúltera e de seu amante pelo marido traído,ocorrido <strong>na</strong> Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro 89 . Fort<strong>em</strong>ente influenciadopela obra L’Amour libre [O amor livre], “do companheiro Charles Albert”, foieste o artigo que tão grande sensação causou <strong>em</strong> do<strong>na</strong> Gabriela, como se leu<strong>em</strong> seu depoimento, por causa da crítica de Mota ao que chamou de “a honraum crime” e descrição da virgindade como um fator s<strong>em</strong> importância – “umam<strong>em</strong>bra<strong>na</strong> inútil”, nos termos do autor.Diante das acusações que lhe foram dirigidas, Mota negou qualquerparticipação no rapto de Guesinha e afirmou não presidir as reuniões referidaspela mãe da menor fugitiva, afirmando ser “absolutamente estranho aelas” e até questio<strong>na</strong>ndo sua existência 90 . No que diz respeito a suas relaçõescom os a<strong>na</strong>rquistas acusados de cúmplices no rapto, declarou efetivamenteconhecer alguns e ter-se encontrado com eles algumas poucas vezes; procurousublinhar que muitos dos contatos que tivera com aqueles indivíduos forano mister de sua profissão de advogado, ora aconselhando-os e a seus amigos,ora fazendo-lhes favores. No entanto, por causa do “procedimento dessesque se diziam a<strong>na</strong>rquistas” envolvidos no rapto de Guesinha, afirmou que osconsiderava “delinqüentes vulgares” e não militantes que compartilhavam desuas idéias filosóficas.Por outro lado, lançou contra a própria do<strong>na</strong> Gabriela várias acusações:de acordo com Mota, havia <strong>na</strong> <strong>casa</strong> desta “<strong>toda</strong> sorte de livros, folhetos ejor<strong>na</strong>is a<strong>na</strong>rquistas, b<strong>em</strong> como retratos de a<strong>na</strong>rquistas célebres”, cuja propriedadepoderia ser comprovada “pela dedicatória que alguns têm” 91 . Observoutambém que a mãe da menor esperara de sábado até terça-feira para dar queixaà polícia sobre o desaparecimento de sua filha a fim de “não comprometerseus companheiros” a<strong>na</strong>rquistas 92 .Dessa maneira, voltando contra a acusadora as acusações feitas, BenjamimMota localizou <strong>na</strong> <strong>rua</strong> Sólon, n. 126, um centro de encontro de a<strong>na</strong>rquistasque não girava <strong>em</strong> torno dele, mas sim de do<strong>na</strong> Gabriela. A informaçãode Mota encontrou certo respaldo <strong>na</strong>s declarações do filho de do<strong>na</strong>Gabriela, Teófilo Dias de Andrada Mesquita, de 11 anos de idade, o qual, <strong>em</strong>seu depoimento, afirmou que “a <strong>casa</strong> de sua mãe estes últimos t<strong>em</strong>pos t<strong>em</strong>sido freqüentada por diversos indivíduos que conversavam sobre a<strong>na</strong>rquismoentre si, sendo estes Padalossi, Tesserini, Giacomo Mancini, Gigi Damiani,J. Sarmento e Benjamim Mota” 93 .142


No n. 114 ou 126, pelas <strong>rua</strong>s da freguesia ou <strong>na</strong> “antiga venda do Re<strong>na</strong>to”,importam aqui as reuniões que aconteciam entre a<strong>na</strong>rquistas no BomRetiro, o que, por um lado, era notado pela vizinhança; por outro, certamentedespertou o interesse da polícia, talvez menos pelo desaparecimento da menore mais pelo significado que atribuíam a tais reuniões, s<strong>em</strong>pre as vinculandoa complôs, planos de atentados e atos de violência. São certamente essasreuniões que, meses depois, serviriam como justificativa para a prisão dosa<strong>na</strong>rquistas que afixavam cartazes <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> aos mártires de Chicago.Vizinhos chamados a depor confirmaram que a <strong>casa</strong> de do<strong>na</strong> Gabrielaera freqüentada com familiaridade pelos moradores da <strong>casa</strong> de n. 114, identificadoscomo adeptos do a<strong>na</strong>rquismo 94 . Alguns até afirmaram o envolvimentodireto da menor Gabriela com as iniciativas dos a<strong>na</strong>rquistas, como <strong>na</strong> ocasião<strong>em</strong> que o fundidor Alfredo Perlli, morador da <strong>casa</strong> 128 da <strong>rua</strong> Sólon, encontrouGuesinha preparando, <strong>em</strong> sua própria residência, “grude para os italianosnessa noite pregar[<strong>em</strong>] <strong>na</strong>s paredes da cidade um manifesto a<strong>na</strong>rquista” 95 .Ainda que ressalte <strong>em</strong> tais depoimentos um esforço de distanciamento <strong>em</strong>relação a tais indivíduos, sua presença era notada e suas atividades, reconhecidascomo filiadas ao a<strong>na</strong>rquismo: as test<strong>em</strong>unhas, ao entrar <strong>na</strong> <strong>casa</strong> de GiacomoMancini depois de esta ter sido arrombada pelas autoridades policiais,puderam observar a presença de “jor<strong>na</strong>is que faziam a propaganda anárquica”e os retratos de a<strong>na</strong>rquistas célebres.No entanto, a sedução e rapto de uma menor não eram, de forma alguma,iniciativas que valorizass<strong>em</strong> as ações a<strong>na</strong>rquistas aos olhos de seus vizinhos,fosse com fins libidinosos ou com objetivos mais sinistros, como aqueledivulgado por O Commercio de São Paulo, de acordo com informações obtidasjunto à polícia: <strong>na</strong>s reuniões de a<strong>na</strong>rquistas <strong>na</strong> <strong>casa</strong> n. 114 da <strong>rua</strong> Sólon, ficaradecidido que uma mulher iria a Paris destruir a di<strong>na</strong>mite “os mais ricos pavilhõesda futura Exposição Universal”. Por sorteio, teria sido estipulado que àmenor Gabriela caberia “o encargo da perigosa e arriscada tarefa” 96 . Tambémnão enobrecia a causa libertária o fato relatado por dois declarantes moradoresda <strong>rua</strong> Sólon o fato de a polícia ter apreendido “um estopim próprio parafazer explodir di<strong>na</strong>mite”, o que foi imediatamente noticiado pelo periódicoque então se ocupava de alardear o complô a<strong>na</strong>rquista 97 .Daí os esforços de Benjamim Mota e de outro a<strong>na</strong>rquista ativo <strong>na</strong> capitalpaulista, Luigi Giusti, <strong>em</strong> não ape<strong>na</strong>s esclarecer os fatos, mas tambéminocentar os a<strong>na</strong>rquistas das acusações de roubo e rapto. Mota procurou, pormeio do mesmo O Commercio de São Paulo, precisar que, <strong>em</strong> suas declarações,chamara de “delinqüentes regulares” os raptores da menor Gabriela, e não“todos os a<strong>na</strong>rquistas de São Paulo”; antes reconhecia que havia “<strong>em</strong> S. Paulocente<strong>na</strong>s de homens que, professando as idéias a<strong>na</strong>rquistas, são incapazesNº 2, Ano 2, 2008 143


de uma má ação” 98 . Também é muito provável ter sido ele o responsável pelorelato das manifestações a<strong>na</strong>rquistas de 20 de set<strong>em</strong>bro, transcrito anteriormentee publicado pelo jor<strong>na</strong>l A Noite, o qual contava com a colaboraçãoassídua de Mota.Luigi Giusti, cuja série de artigos foi publicado <strong>na</strong> “Seção Livre” de ANoite, procurou, a seu turno, retomar as acusações feitas por do<strong>na</strong> Gabriela erefutá-las <strong>toda</strong>s. Primeiramente, negou qualquer veracidade <strong>na</strong>s “iniciativasterroristas” que aquela havia atribuído aos a<strong>na</strong>rquistas, ironizando a denúnciade planos para “fazer saltar pelos ares cinco dos principais estabelecimentosde S. Paulo”, entre os quais justamente a caso do delegado encarregado dasinvestigações, Rangel de Freitas 99 . Também afirmou ser<strong>em</strong> falsas as alegaçõesde que houvesse uma conspiração para furtar suas jóias e móveis. Antes,relatou que seus pertences haviam sido transferidos para a <strong>casa</strong> de GiacomoMancini para evitar a penhora dos objetos e que a menor Gabriela havia r<strong>em</strong>ovidoos objetos de valor, já com a intenção – manifestada poucos dias antes– de ausentar-se da <strong>casa</strong> mater<strong>na</strong> 100 .Giusti não procurou, entretanto, de forma alguma, negar o envolvimentodos indivíduos mencio<strong>na</strong>dos no inquérito com o a<strong>na</strong>rquismo, antesatestando seu comportamento, elogiando seu comprometimento com oideal e sublinhando o caráter pacífico, ordeiro e louvável do movimentoa<strong>na</strong>rquista. Na descrição das manifestações para o aniversário da morte deAngiolillo, por ex<strong>em</strong>plo, data apontada por do<strong>na</strong> Gabriela como a previstapara a explosão dos cinco edifícios, Giusti afirmou que o dia havia passadocalmo, “havendo unicamente uma conferência, numa venda pública do BomRetiro, falando por essa ocasião o sig<strong>na</strong>tário destas linhas, sobre a organizaçãodo nosso partido e o companheiro prof. Bartolamazzi, com<strong>em</strong>orandoos mártires do nosso fulgido e filosófico ideal”. Também explicou a decisão– apoiada por Giusti – de não se procurar a polícia quando do desaparecimen<strong>toda</strong> menor Gabriela: não era coerente com as idéias a<strong>na</strong>rquistas“recorrer à polícia, s<strong>em</strong> fazer o papel vergonhoso de secreta” 101 . Na argumentaçãode Giusti, pesava a ênfase de que presença do a<strong>na</strong>rquista deveriaser notada como um modelo, não podendo ser corrompida com acusaçõesde rapto ou de delação. Daí a necessidade de desconstruir a imag<strong>em</strong> do militantea<strong>na</strong>rquista que tinha sido reforçada <strong>na</strong>s últimas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s por contadas acusações de do<strong>na</strong> Gabriela, do noticiário de O Commercio de São Pauloe das investigações policiais.Ainda que não seja possível identificar o impacto das declarações deGiusti sobre a opinião pública, sobre os vizinhos, colegas de trabalho e companheirosdos a<strong>na</strong>rquistas atuantes no Bom Retiro e <strong>em</strong> São Paulo, sabe-se, noentanto, que a campanha posta <strong>em</strong> prática por ele e por Mota no sentido de144


desvincular este último, os moradores da <strong>rua</strong> Sólon, e José Sarmento do desaparecimen<strong>toda</strong> menor Gabriela surtiu pouco efeito junto à polícia. Giustiacabou até mesmo sendo implicado no incidente e foi chamado a depor peranteo terceiro subdelegado de polícia de Santa Efigênia, Alfredo RamalhoBellegarde, que era a autoridade responsável pelo caso, por causa da primeira<strong>parte</strong> da série de artigos que escreveu para A Noite 102 . Já os moradoresda <strong>casa</strong> n. 114 da <strong>rua</strong> Sólon foram declarados a<strong>na</strong>rquistas e efetivamenteconsiderados responsáveis pelo desaparecimento da menor e pelo roubodos bens da queixosa. Também recaiu sobre Benjamim Mota e José Sarmentoa responsabilidade pela fuga de Guesinha 103 . Quanto aos militantespresos <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro, a polícia, talvez visando a sustar as movimentaçõesdos a<strong>na</strong>rquistas do Bom Retiro, não explorou muito a prisão <strong>em</strong> flagrantepor distribuir material subversivo, mas se manteve atenta às acusações derapto – possivelmente como forma de construir uma base legal, apoiada atémesmo <strong>em</strong> artigos do Código Pe<strong>na</strong>l, para perseguir e deter os suspeitos desubversão e a<strong>na</strong>rquismo.A presença a<strong>na</strong>rquista havia, s<strong>em</strong> dúvida, sido notada <strong>em</strong> <strong>toda</strong> <strong>parte</strong>;não só pela repercussão de suas idéias, que efetivamente conquistaram novosespaços e se afirmaram para além das redações dos jor<strong>na</strong>is libertários, dasreuniões dos círculos a<strong>na</strong>rquistas; mas também pela campanha da polícia,com sua vigilância atenta e campanhas repressivas, no que era acompanhadode perto pela grande imprensa. Tal presença, bastante amplificada <strong>na</strong>s primeirasdécadas do século que se avizinhava, parecia ser confundida com umpoder de convicção extraordinário por <strong>parte</strong> dos militantes, com a própriatransformação dos trabalhadores:Como se poderá verificar de seus escritos, os jor<strong>na</strong>is <strong>em</strong> questão propagamabertamente a doutri<strong>na</strong> a<strong>na</strong>rquista, <strong>em</strong> língua s<strong>em</strong>pre acessível aos trabalhadores,tor<strong>na</strong>ndo-os verdadeiros e sinceros adeptos do ideal anárquico. 104Ainda que a sugerida transformação dos trabalhadores <strong>em</strong> “verdadeirose sinceros adeptos do ideal anárquico” não tenha sido exatamente o resultadodos quarenta anos de propaganda a<strong>na</strong>rquista que separam a fundação dosprimeiros jor<strong>na</strong>is libertários no Brasil do envio desse ofício, a eficácia que odelegado de Ord<strong>em</strong> Social <strong>em</strong> 1933 atribuiu à imprensa a<strong>na</strong>rquista, de formaespecífica, e à sua propaganda, de forma mais geral, justificava o medo queessa propaganda despertou ao longo dos anos de atividade. Era precisamenteessa eficácia que perseguiam os militantes com a fundação de periódicosdesde a década de 1890 e com o esforço de marcar sua presença <strong>em</strong> <strong>casa</strong>, <strong>na</strong><strong>rua</strong>, <strong>em</strong> <strong>toda</strong> <strong>parte</strong>.Nº 2, Ano 2, 2008 145


RESUMOEste trabalho busca discutir, através de um estudo de caso referente ao supostorapto de uma menor por militantes a<strong>na</strong>rquistas, a presença pública destes militantes<strong>na</strong>s próprias <strong>rua</strong>s de São Paulo e bairros operários, por meio de passeatas,comícios, afixação de cartazes, reuniões, além da conhecida distribuiçãode jor<strong>na</strong>is, como forma de pensar as estratégias de construção dos espaços deatuação política desses militantes e de divulgação do ideário a<strong>na</strong>rquista entreos trabalhadores residentes <strong>na</strong> cidade de São Paulo nos anos 1890.PALAVRAS-CHAVESão Paulo; a<strong>na</strong>rquismo; trabalhadores.ABSTRACTThis article aims, by means of the case study of an alleged kid<strong>na</strong>pping of aminor by a<strong>na</strong>rchists, at highlighting the public presence of a<strong>na</strong>rchist militantson São Paulo streets and workers’ neighborhoods, where, besides printingnewspapers, they carried out walks and rallies, fastened posters, calledfor meetings, as strategies of establishing their political procedures and spreadingtheir ideas among workers who lived in São Paulo city in the 1890s.KEYWORDSNOTASSão Paulo city; a<strong>na</strong>rchism; workers.1Claudia Feierabend Baeta Leal é doutora <strong>em</strong> História Social do Trabalho pelo Institutode Filosofia e Ciências Huma<strong>na</strong>s (IFCH) da Universidade Estadual de Campi<strong>na</strong>s(Unicamp) e técnica da Coorde<strong>na</strong>ção-Geral de Pesquisa, Documentação e Referência(Copedoc) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio<strong>na</strong>l (Iphan).Contato da autora: claudiafbleal@terra.com.br.2O Amigo do Povo, n. 27, 30 maio 1903, apud TOLEDO, Edilene. O Amigo do Povo: gruposde afinidade e a propaganda a<strong>na</strong>rquista <strong>em</strong> São Paulo nos primeiros anos deste século.Dissertação de Mestrado. Campi<strong>na</strong>s: Unicamp, 1993, p. 117, grifos meus.3Ver, principalmente, as edições de abril a julho de 1894 dos jor<strong>na</strong>is O Commercio deSão Paulo, Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo.4“A<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> Buenos Aires”, Correio Paulistano, n. 11267, 27 maio 1894; sobreMontevidéu, ver “A<strong>na</strong>rquismo”, Correio Paulistano, n. 11297, 4 jul. 1894.5“A<strong>na</strong>rquistas”, Correio Paulistano, n. 11292, 27 jun. 1894.6BELLI, N. In Brasile. Florença: Tip. Bini-Santori, 1892, p. 110. Apud TRENTO, Ân-146


gelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italia<strong>na</strong> no Brasil. São Paulo:Nobel, 1989, p. 215.7Ofício do Inspetor Geral das Terras e Colonização ao presidente do estado de SãoPaulo, 13 jul. 1893, Acervo Permanente – Polícia, lata 2757, Arquivo do Estado deSão Paulo (Aesp), grifo no origi<strong>na</strong>l.8Relatório do cônsul italiano <strong>em</strong> São Paulo, Edoardo Compans de Brichanteau, aoMinistero degli Affari Esteri, São Paulo, 28 mar. 1894, Asmae, Série Polizia Inter<strong>na</strong>zio<strong>na</strong>le,b. 47, apud FELICI, Isabelle. Les italiens dans le mouv<strong>em</strong>ent a<strong>na</strong>rchiste au Brésil,1890-1920. Tese de Doutorado. Études Italiennes, Université de la Sorbonne nouvelle,Paris, 1994, p. 326. Disponível <strong>em</strong> .Acesso <strong>em</strong> 20 abr. 2005.9Relatório do cônsul italiano <strong>em</strong> São Paulo, Edoardo Compans de Brichanteau, aoMinistero degli Affari Esteri, São Paulo, 28 mar. 1894. Op. cit.10Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Relatório apresentado ao Vice-Presidenteda República dos Estados Unidos do Brasil pelo dr. Fer<strong>na</strong>ndo Lobo, MinistroInterino da Justiça e Negócios Interiores <strong>em</strong> abril de 1893. Rio de Janeiro: ImprensaNacio<strong>na</strong>l. Disponível <strong>em</strong> .Acesso <strong>em</strong> 15 jan. 2003.11Relatório apresentado ao Vice-Presidente da República dos Estados Unidos doBrasil pelo dr. Alexandre Cassiano do Nascimento, Ministro Interino da Justiça eNegócios Interiores, <strong>em</strong> março de 1894. Rio de Janeiro: Imprensa Nacio<strong>na</strong>l, 1894.Disponível <strong>em</strong> . Acesso <strong>em</strong> 15jan. 2004.12“Infamie” (transcrição do artigo “A<strong>na</strong>rchistas” publicado pela Gazeta de Notícias,Rio de Janeiro, <strong>em</strong> 20 nov. 1892) Gli Schiavi Bianchi, n. 10, 27 nov. 1892.13“Diarios e folletos secuestrados al a<strong>na</strong>rquista E. Peiré, redactor del periódico a<strong>na</strong>rquistaLa Ricossa”. Buenos Aires: Imprenta y Encuarde<strong>na</strong>cion de la Policia de la Capital,1894; anexado ao aviso reservado do Ministro da Justiça e Negócios Interiores,Cassiano do Nascimento, ao chefe de polícia da Capital Federal, 7 fev. 1894, ArquivoNacio<strong>na</strong>l GIFI 6C-5.14Ofício do Chefe de Polícia de São Paulo, Theodoro Dias de Carvalho Júnior, ao Secretárioda Justiça do Estado de São Paulo, n. 573, 5 dez. 1892, Acervo permanente– Polícia – lata 2742, Aesp; Requerimento de Giuseppe Zonghetti ao Chefe de Políciade São Paulo, 12 ago. 1893, Acervo permanente – Polícia – lata 2764, Aesp.15Relatório apresentado ao Secretário da Justiça do Estado de São Paulo pelo Chefede Polícia Theodoro Dias de Carvalho Júnior, 31 jan. 1895. São Paulo: Espindola,Siqueira & Comp., 1895.16Ambas as folhas foram publicadas <strong>em</strong> manifestações contrárias às com<strong>em</strong>oraçõesda data da Unificação Italia<strong>na</strong>, 20 de set<strong>em</strong>bro.Nº 2, Ano 2, 2008 147


17Ver, por ex<strong>em</strong>plo, HARDMAN, Francisco. N<strong>em</strong> Pátria n<strong>em</strong> patrão! M<strong>em</strong>ória operária,cultura e literatura no Brasil. São Paulo: Unesp, 2002; BIONDI, Luigi. La stampaa<strong>na</strong>rchica in Brasile: 1904-1915. Tese (Láurea), Universitá di Studi di Roma “La Sapienza”,1993-1994; TOLEDO, O Amigo do Povo: grupos de afinidade..., op. cit.18O Protesto, n. 4, 3 dez. 1899.19Portaria do terceiro delegado de polícia, Luiz Frederico Rangel de Freitas, 11 nov.1899, anexado ao Inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899, Acervopermanente – Polícia – C2906, Aesp.20Termo de declarações prestadas por Luigi Damiani, 18 nov. 1899, Inquérito policial,3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899. Doc. cit.21Portaria n. 304, do chefe de polícia Bento Bueno, 21 maio 1895, Acervo permanente– Polícia – C2796, Aesp.22O a<strong>na</strong>rquista <strong>Em</strong>ilio Bruschi declarou, <strong>na</strong> ocasião, que o tenente comandante doposto disse “que não podia proibir n<strong>em</strong> consentir” (Termo de declarações prestadaspor <strong>Em</strong>ilio Bruschi, 18 nov. 1899, Inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov.1899. Doc. cit.).23Declarações prestadas por do<strong>na</strong> Gabriela de Andrada Dias de Mesquita, 20[22]ago. 1899; declarações prestadas por Teófilo Dias de Andrada Mesquita, 22 ago.1899, no inquérito policial, 3 a Subdelegacia de Polícia de Santa Efigênia, 20 [22] ago.1898, (cópia) anexada ao inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899.Doc. cit.24“Caso excepcio<strong>na</strong>l”, O Commercio de São Paulo, n. 1947, 24 ago. 1899. “Máqui<strong>na</strong>sinfer<strong>na</strong>is” era a expressão usada para explosivos.25BATALHA, Cláudio. O movimento operário <strong>na</strong> Primeira República. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2000, p. 69; PETERSEN, Sílvia. “Proletários e subversivos”, Nossa História,ano I, n. 7, maio 2004, p. 61.26PETERSEN, S. “Proletários e subversivos”, op. cit., p. 61.27“1 o de Maio”, Correio Paulistano, 2 maio 1893.28PETERSEN, S. “Proletários e subversivos”, op. cit., p. 62.29“A<strong>na</strong>rquismo”, O Estado de S. Paulo, 3 maio 1893.30Inquérito policial, 3 maio 1893, Acervo Permanente – Processos policiais – C3223,Aesp.31“Comm<strong>em</strong>orazione delle Comune di Parigi”, L’Asino Umano, n. 28, 25 mar. 1894.32“Segurança Pública”, p. 5; “Fotografia Policial”, p. 248-252. Relatório apresentadoao Secretário dos Negócios da Justiça do Estado de São Paulo pelo Chefe de PolíciaTheodoro Dias de Carvalho Júnior, 31 jan. 1895. Op. cit.33Ibid<strong>em</strong>, p. 5.34“1 o de Maio”, Correio Paulistano, 1º maio 1894.148


35Florentino de Carvalho. “A imprensa a<strong>na</strong>rquista”, Germi<strong>na</strong>l, n. 15, 29 jun. 1913.36O Amigo do Povo, n. 27, 30 maio 1903, apud TOLEDO, O Amigo do Povo: grupos deafinidade..., op. cit., p. 117.37Os A<strong>na</strong>rquistas, “XXIV Comm<strong>em</strong>oração da Comu<strong>na</strong> de Paris” (pôster). São Paulo,18 mar. 1895, Fundo Max Nettlau, pasta 373, Instituto Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de História Social(IISG, Amsterdã); Portaria do chefe de polícia Bento Bueno, 17 mar. 1895, AcervoPermanente – Polícia – C2796, Aesp; “Boletins sediciosos”, O Estado de S. Paulo, n.5981, 17 mar. 1895; Relatório apresentado ao Secretário dos Negócios da Justiça doEstado de São Paulo pelo chefe de polícia Bento Pereira Bueno <strong>em</strong> 31 de janeiro de1896. São Paulo: Typ. Espindola, Siqueira & Comp., 1896, p. 10-11.38“Gli a<strong>na</strong>rchici, XXIV Anniversario della Comune di Parigi – XVIII Marzo 1871”,L’Avvenire, n. 10, 17 mar. 1895.39“Boletins sediciosos”, O Estado de S. Paulo, n. 5982, 18 mar. 1895.40“Boletins sediciosos”, O Estado de S. Paulo, n. 5981, 17 mar. 1895.41“Boletins sediciosos”, O Estado de S. Paulo, n. 5982, 18 mar. 1895.42Ibid<strong>em</strong>; “Registro das <strong>rua</strong>s”, O Estado de S. Paulo, n. 5982, 18 mar. 1895; portarian. 177 do chefe de polícia de São Paulo, 17 mar. 1895, Acervo Permanente – Polícia– C2796, Aesp.43“Boletins sediciosos”, O Estado de S. Paulo, n. 5982, 18 mar. 189544Relatório apresentado ao Secretário dos Negócios da Justiça do Estado de SãoPaulo pelo chefe de polícia Bento Pereira Bueno, 31 jan. 1896. Op. cit. No CorreioPaulistano, leu-se que os presos não se importavam com as medidas policiais, já quenegavam “a autoridade das leis” (Correio Paulistano, 18 mar. 1895).45Ibid<strong>em</strong>, grifos meus.46O recurso à prisão <strong>em</strong> flagrante foi apontado pelo chefe de polícia <strong>em</strong> seu relatórioao Secretário dos Negócios da Justiça como justificativa para as medidas legais a ser<strong>em</strong>tomadas contra os a<strong>na</strong>rquistas: “Por isso determinei que se buscass<strong>em</strong> as necessáriasprovidências, seguindo-se todos os passos dos sectários, até que pudess<strong>em</strong> elesser presos <strong>em</strong> flagrante, de modo a justificar<strong>em</strong> as medidas especiais que a respeito tivessede tomar o poder público” (relatório apresentado ao Secretário dos Negócios da Justiçado Estado de São Paulo pelo chefe de polícia Bento Pereira Bueno, 31 jan. 1896. Op.cit., grifos meus).47“Ai compagni”, L’Avvenire, n. 10, 17 mar. 1895.48“Al Capo de Polizia – Dichiarazione”, L’Avvenire, n. 10, 17 mar. 1895.49A. Do<strong>na</strong>ti. “Record<strong>em</strong>os, pois...”, O Amigo do Povo, n. 4, 24 maio 1902. Trata-se deum texto <strong>em</strong> que Do<strong>na</strong>ti recupera as agitações dos militantes a<strong>na</strong>rquistas <strong>em</strong> SãoPaulo nos primeiros anos da década de 1890.50Na verdade, no ano anterior, <strong>em</strong> 1893.Nº 2, Ano 2, 2008 149


51Relatório apresentado ao Secretário dos Negócios da Justiça do Estado de São Paulopelo chefe de polícia Bento Pereira Bueno, 31 jan. 1896. Op. cit.52Ibid<strong>em</strong>.53“Estatística da Seção Fotográfica de 1896”. Acervo permanente – Polícia –C2823, Aesp.54Vale notar as incumbências dos agentes de segurança, arroladas <strong>na</strong>s “Instruçõespoliciais” organizadas <strong>em</strong> 1898 pela Secretaria de Polícia de São Paulo a partir deextratos do Decreto n. 437, 20 mar. 1897, e do Decreto n. 494, de 30 out. 1897 (“Instruçõespoliciais”, Secretaria de Polícia do Estado de São Paulo, 26 abr. 1898, Acervopermanente – Polícia – C2884, Aesp).55“Comício Popular” (pôster), São Paulo, 15 set. 1897, fundo Max Nettlau, dossiêBrasil, n. 373, IISG.56“Di Vittoria in vittoria”, Ribattiamo il Chiodo, 26 set. 1897, apud FELICI, op. cit.,p. 102.57FELICI, op. cit., p. 102. Como a festa oficial foi transferida para o dia 27 porcausa da chuva, outro número único veio a lume no dia 26 – Ribattiamo il Chiodo[Rebatamos no prego]. O sentido dessa expressão “Ribattiamo il chiodo”, para alémda tradução literal apresentada acima, é de insistir sobre determi<strong>na</strong>da questão, <strong>em</strong>determi<strong>na</strong>da direção – no contexto específico, retomar as críticas feitas <strong>na</strong> s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>anterior, no XX Set<strong>em</strong>bre. Agradeço a Luigi Biondi pela tradução e explicação.58“Pel 1 o Maggio”, Il Risveglio, n. 9, 6 mar. 1898.59“Il Primo Maggio”. Suppl<strong>em</strong>ento do n. 16 de Il Risveglio, 1 o maio 1898, apud FELICI,op. cit., p. 10560“A zonzo pela città – Il 1 o Maggio”, Il Risveglio, n. 17, 11 maio 1898; FELICI, op.cit., p. 105.61“A zonzo pela città – Il 1 o Maggio”, Il Risveglio, n. 17, 11 maio 1898; “Cro<strong>na</strong>ca. Lacomm<strong>em</strong>orazione del Primo Maggio. Il Comizio al Politeama”. Fanfulla, n. 1277, 2maio 1898. Apud FELICI, op. cit., p. 105.62“Quadro d<strong>em</strong>onstrativo das diversas ocorrências havidas <strong>na</strong> Guarda Cívica daCapital desde o mês de julho até dez<strong>em</strong>bro de 1898”. Acervo permanente – Polícia– C2874, Aesp.63“A<strong>na</strong>rquistas – Diversas prisões” e “Atentado a tiro e a punhal”, A Noite, n. 217, 20set. 1898; Correio Paulistano, 21 set. 1898. Apud FONSECA, Guido. “O a<strong>na</strong>rquismoe as origens da polícia política <strong>em</strong> São Paulo”, Revista do Instituto Histórico e Geográficode São Paulo, São Paulo, v. XCIII, 1997, p. 15; Legação da Itália ao MAE, Rio deJaneiro, 22 set. 1898, Asmae, Serie Polizia Inter<strong>na</strong>zio<strong>na</strong>le, b. 28. fasc. Moti a<strong>na</strong>rchiciin San Paolo, 1898-1899. Apud FELICI, op. cit.64STANGA, Martino. “Il movimento sociale al Brasile – Rasseg<strong>na</strong> cronologica” ArquivoUgo Fedeli, pasta 101 – “Movimento sociale al Brasile”, IISG. Isabelle Felicisublinhou que “<strong>toda</strong>s as fontes indicam que os contramanifestantes eram b<strong>em</strong> pouco150


numerosos”, fosse <strong>em</strong> sua totalidade, fosse nos retardatários que acompanhavamMattei quando foi atacado pela multidão. FELICI, op. cit., p. 112.65Texto de Benjamim Mota lido por Nicanor Nascimento <strong>na</strong> Câmara dos Deputados,sessão de 22 maio 1919. ”Notas para a história – Violências policiais contra o proletariado– Ont<strong>em</strong> e hoje”, A Plebe, 31 maio 1919. Apud PINHEIRO, Paulo e HALL,Michael. A Classe Operária no Brasil. Documentos (1889-1930). São Paulo: Alfa-Ômega,1979, v. I – O Movimento Operário, p. 25; MASTR’ANTONIO [Alessandro Cerchiai],“Il primo a<strong>na</strong>rchico che ha pagato col proprio sangue il suo amore alla causanel Brasile”, Alma<strong>na</strong>co della rivoluzione. “Edito a cura del gruppo La Propaganda. S.Paolo (Brasile)”, 1909, p. 75. Apud FELICI, I. Op. cit., p. 113.66Texto de Benjamim Mota lido por Nicanor Nascimento <strong>na</strong> Câmara dos Deputados,sessão 22 maio 1919. ”Notas para a história – Violências policiais contra o proletariado– Ont<strong>em</strong> e hoje”, A Plebe, 31 maio 1919. Op. cit., p. 25.67Ibid<strong>em</strong>.68STANGA, Martino. “Il movimento sociale al Brasile – Rasseg<strong>na</strong> cronologica”.Doc. cit.69“A zonzo per la città – Il comizio di Domenica”, Il Risveglio, n. 40, 8 jan. 1899.70Ibid<strong>em</strong>.71“Avviso”, Il Risveglio, n. 46, 14 maio 1899.72FELICI, op.cit., p. 114.73Correio Paulistano, 2 maio 1899. Apud FONSECA, op. cit., p. 14.74Ibid<strong>em</strong>; FELICI, op. cit., p. 114. Vale l<strong>em</strong>brar que Angiolillo fora o a<strong>na</strong>rquista queatentou contra o primeiro-ministro espanhol Antonio Canovas del Castillo <strong>em</strong> agostode 1897, matando-o com três tiros.75Ver, por ex<strong>em</strong>plo, a descrição das com<strong>em</strong>orações publicadas por A Noite (“XX deSet<strong>em</strong>bro”, A Noite, n. 509, 20 set. 1899).76Ibid<strong>em</strong>.77MOTA, Benjamim. “Opiniões – A romaria de ont<strong>em</strong>”, A Noite, n. 510, 21 set. 1899.78Inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899. Op. cit.79Segundo o próprio O Commercio de São Paulo, o jor<strong>na</strong>l tivera “extraordinária procura”por ter sido o único a dar a notícia do desaparecimento da meni<strong>na</strong> Gabriela(“Caso excepcio<strong>na</strong>l”, O Commercio de São Paulo, n. 1948, 25 ago. 1899). Durante acobertura que deu ao ocorrido, essa folha lançou mão inclusive do recurso de anunciarimportantes revelações para a próxima edição: “A polícia já sabe qual era o fimda viag<strong>em</strong> da menor Gabriela ao Rio de Janeiro e dali à Europa./ Amanhã, sabê-lo-ãoos nossos leitores” (ibid<strong>em</strong>). Dava, assim, um tom folhetinesco ao noticiário.80Declarações prestadas por do<strong>na</strong> Gabriela de Andrada Dias de Mesquita, 20[22]ago. 1899, no inquérito policial, 3ª Subdelegacia de Polícia de Santa Efigênia, 20[22]Nº 2, Ano 2, 2008 151


ago. 1898, (cópia) anexada ao inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov.1899. Doc. cit.81Tesserini participou, ao lado de Damiani, da comissão que organizou uma manifestaçãocontra a morte de Mattei <strong>em</strong> 16 de nov<strong>em</strong>bro de 1898, junto com A. Canovie Gigi Damiani (“Per Polinice Mattei – Linciato Il XX Sett<strong>em</strong>bre dalla folla incosciente”,Il Risveglio, n. 33, 13 nov. 1898. José Sarmento Marques era colaborador do jor<strong>na</strong>lIl Risveglio, chegando mesmo a representá-lo <strong>em</strong> viagens pelo interior do estado deSão Paulo, onde recebia os valores das assi<strong>na</strong>turas e subscrições e, quando possível,organizava conferências (“Avviso”, Il Risveglio, n. 28, 9 out. 1898). Também fundouno Rio de Janeiro o jor<strong>na</strong>l libertário O Despertar, <strong>em</strong> 1898, que circularia de outubroa dez<strong>em</strong>bro desse mesmo ano. Mais tarde participaria da publicação de O Baluarte(Rio de Janeiro) e O Chapeleiro (São Paulo), órgão da liga a que pertencia. O próprionome da chapelaria que possuía <strong>em</strong> 1899 – Chapelaria Libertária – é indicativo desua simpatia ao a<strong>na</strong>rquismo.82Há ape<strong>na</strong>s uma referência ao envolvimento amoroso da menor Gabriela, sugeridopela vizinha da família Mesquita: Amalia Perlli afirmou que a meni<strong>na</strong> passava osdias <strong>na</strong> <strong>casa</strong> de Giacomo Mancini, “para onde ia de manhã, voltando quase s<strong>em</strong>preà noite”. Por causa desse procedimento da filha, do<strong>na</strong> Gabriela teria afirmadoa Amalia que “desconfiava já de sua seriedade”. (Declarações prestadas por AmáliaPerlli, 24 ago. 1899, inquérito policial, 3 a Subdelegacia de Polícia de Santa Efigênia,20[22] ago. 1898, (cópia) anexada ao inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11nov. 1899. Doc. cit.).83Declarações prestadas por Teófilo Dias de Andrada Mesquita, 22 ago. 1899; declaraçõesprestadas por <strong>Em</strong>ilio Colella, 24 ago. 1899, inquérito Policial, 3 a Subdelegaciade polícia de Santa Efigênia, 20[22] ago. 1898, (cópia) anexada ao inquérito policial,3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899. Doc. cit84Declarações prestadas por do<strong>na</strong> Gabriela de Andrada Dias de Mesquita, 20 [22]ago. 1899. Doc. cit.85Do<strong>na</strong> Gabriela acusou seus vizinhos de ter<strong>em</strong> se apropriado de um cofre e “outrostrastes” que haviam sido entregues para ser<strong>em</strong> transportados para a <strong>rua</strong> Veridia<strong>na</strong>,n. 8, para onde ela declarava estar se mudando. Também afirmou que esses haviamarrombado o cofre e um baú que encontrou <strong>na</strong> <strong>casa</strong> deles, onde “existiam jóias devalor <strong>na</strong> importância mais ou menos de cinco contos de réis, jóias estas que foramroubadas, assim com um faqueiro de prata no valor de um conto e quinhentos maisou menos, um tinteiro e uma salva de prata no valor de quinhentos mil réis”. Declaraçõesprestadas por do<strong>na</strong> Gabriela de Andrada Dias de Mesquita, 20[22] ago. 1899.Doc. cit.86Id<strong>em</strong>. Benjamim Mota não era “ex-redator do jor<strong>na</strong>l A Noite”: o advogado colaboravaentão com tal periódico, e continuou a publicar artigos <strong>em</strong> suas colu<strong>na</strong>s depoisdo incidente envolvendo a menor Gabriela.152


87“O movimento operário no fi<strong>na</strong>l do século XIX”. In PINHEIRO e HALL, op. cit.,p. 23.88Ver, por ex<strong>em</strong>plo, “Drama do adultério”, A Noite, n. 473, 7 ago. 1899; “O GeneralRoca – Carta a Rochard”, A Noite, n. 476, 10 ago. 1899; “Opiniões – Aos que pensam”,A Noite, n. 496, 7 set. 1899.89“Drama do adultério”, A Noite, n. 473, 7 ago. 1899.90Declarações prestas por Benjamim Mota, 24 ago. 1899, inquérito policial, 3 a Subdelegaciade Polícia de Santa Efigênia, 20[22] ago. 1898, (cópia) anexada ao inquéritopolicial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899. Doc. cit.91O vizinho de porta de do<strong>na</strong> Gabriela, Alfredo Perlli, também afirmou saber que “asautoridades que deram busca <strong>na</strong> <strong>casa</strong> n. 114 acharam muitos retratos de a<strong>na</strong>rquistas,vários papéis impressos sustentando a propaganda do a<strong>na</strong>rquismo, sendo quase todospertencentes a do<strong>na</strong> Gabriela e a sua filha” (declarações prestadas por Alfredo Perlli,24 ago. 1899, inquérito policial, 3 a Subdelegacia de Polícia de Santa Efigênia, 20[22]ago. 1898, (cópia) anexada ao inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov.1899. Doc. cit.)92Declarações prestadas por Benjamim Mota, 24 ago. 1899. Doc. cit.93Declarações prestadas por Teófilo Dias de Andrada Mesquita, 22 ago. 1899. Doc. cit.94Declarações prestadas por José Gentil, 24 ago. 1899; declarações prestadas por<strong>Em</strong>ilio Colella, 24 ago. 1899; declarações prestadas por Amália Perlli, 24 ago. 1899;declarações prestadas por Alfredo Perlli, 24 ago. 1899, inquérito policial, 3 a Subdelegaciade Polícia de Santa Efigênia, 20[22] ago. 1898, (cópia) anexada ao inquéritopolicial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899. Doc. cit.95Declarações prestadas por Alfredo Perlli, 24 ago. 1899. Doc. cit.96“Caso excepcio<strong>na</strong>l”, O Commercio de São Paulo, n. 1951, 28 ago. 1899.97Declarações prestadas por <strong>Em</strong>ilio Colella, 24 ago. 1899; declarações prestadas porAlfredo Perlli, 24 ago. 1899. Doc. cit.; “Caso excepcio<strong>na</strong>l”, O Commercio de São Paulo,n. 1947, 24 ago. 1899.98“Caso excepcio<strong>na</strong>l”, O Commercio de São Paulo, n. 1955, 1 o set. 1899. No mesmosentido deve ser entendido o artigo publicado por A Noite poucos dias depois, <strong>em</strong>que Mota defende o estudo do a<strong>na</strong>rquismo para evitar críticas equivocadas à filosofiae seus divulgadores (“Opiniões – Aos que pensam”, A Noite, n. 499, 7 set. 1899).99GIUSTI, Luigi. “A conspiração a<strong>na</strong>rquista”, A Noite, 1 o set. 1899.100GIUSTI, Luigi. “A questão a<strong>na</strong>rquista (Conclusão)”, A Noite, 9 set. 1899.101GIUSTI, Luigi. “A questão a<strong>na</strong>rquista II”, A Noite, 7 set. 1899.102Ofício do chefe de polícia de São Paulo, A. C. d’Almeida e Silva, ao terceiro subdelegadode Santa Efigênia, Alfredo Ramalho Bellegarde, 4 set. 1899, Acervo permanente– Polícia – C2904, Aesp.Nº 2, Ano 2, 2008 153


103Inquérito policial, 3 a Delegacia de Polícia, 11 nov. 1899, Acervo permanente – Polícia– C2906, Aesp.104Ofício de 9 mar. 1933, do Delegado de Ord<strong>em</strong> Social ao Chefe do Gabinete deInvestigação; Prontuário 2303 – A Plebe, Deops/SP – Aesp, grifos meus.154

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