10desmatamento <strong>para</strong> exploração de madeira, pecuária e agricultu-ra, ou mesmo o turismo tradicional.Observadores da vida silvestre, pessoas <strong>em</strong> geral com bom nívelfinanceiro e de instrução, dispõ<strong>em</strong>-se a pagar pela proteçãodos lugares que visitam. Uma pesquisa feita <strong>em</strong> 1995 pela TravelIndustry Association of America constatou que 83% dos turistasnorte-americanos estavam dispostos a apoiar agências de viagensambientalmente responsáveis e a gastar, <strong>em</strong> media, 6,2% a maispelos seus serviços e produtos de viag<strong>em</strong> (Yourth 2003). Além disso,projetos da chamada “ciência cidadã”, <strong>em</strong> que dados ornitológicossão coletados por observadores amadores, contribu<strong>em</strong> anualmente<strong>para</strong> o aumento do conhecimento ornitológico.O incentivo ao turismo de observação de aves pode contribuir<strong>para</strong> a conservação de hábitats, visto que esta é a maneira mais eficientede garantir a continuidade das espécies de determinada re-gião. A criação de áreas de conservação que possibilit<strong>em</strong> a obser-vação de aves pode facilitar o crescimento de uma atividade degrande retorno econômico. No entanto, dev<strong>em</strong>-se observar rigorosamenteas recomendações <strong>para</strong> práticas de mínimo impactoambiental, e evitar ao máximo a perturbação das aves durante a atividadeturística. Além de reduzir as chances de observação, os efe-itos deletérios ao ambiente pod<strong>em</strong> trazer danos preocupantes <strong>para</strong>a biodiversidade local. Assim, recomenda-se que as orientaçõescontidas neste trabalho sirvam de base <strong>para</strong> o planejamento adequadodesta atividade <strong>em</strong> locais de relevância ambiental. A utili-zação de guias de turismo capacitados é fundamental <strong>para</strong> garantirmínimo impacto durante o roteiro de observação de aves, alémde propiciar uma experiência agradável ao visitante.Finalmente, a prática desta atividade de maneira responsável,contribuirá <strong>para</strong> a conservação ambiental, educação e melhoria econômicadas comunidades locais, ganho que também será repassadoaos visitantes e <strong>em</strong>presas que se beneficiam deste ambiente. Comoresultado, espera-se que a atividade de turismo de observaçãode aves contribua com a continuidade do equilíbrio natural local.sensíveis se estão protegidas visualmente dos observadores (Knight& T<strong>em</strong>ple 1995). Assim, os observadores dev<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre usar roupascom cores crípticas, esconder-se por entre a vegetação e usar es-conderijos (blinds) <strong>em</strong> áreas abertas. Selercioglu (2002) recomendao uso de lunetas s<strong>em</strong>pre que possível, visto que estes equipamentospossibilitam uma excelente visão com um mínimo de aproximação.Guias de turismo especializados também têm uma importantefunção ao <strong>minimizar</strong> os possíveis probl<strong>em</strong>as gerados pelos observadoresde aves (Antas 2004). Um rigoroso treinamento, certificaçãoe regulamentação destes profissionais torna-se essencial <strong>para</strong>educar turistas e <strong>minimizar</strong> os <strong>impactos</strong> gerados por esta ativi-dade (De Groot 1983; HaySmith & Hunt 1995).Segundo Selercioglu (2002), os meios de acomodação que receb<strong>em</strong>este público dev<strong>em</strong> priorizar ações de conservação, minimizando<strong>impactos</strong> ambientais decorrente da instalação, operação <strong>em</strong>anutenção de sua infra-estrutura, participando de programas deconservação, mantendo reservas privadas e contratando guias locaiscapacitados. Yourth (2003) recomenda ainda que se valori-z<strong>em</strong> operadoras comprometidas com práticas de mínimo impactoambiental, com a conservação dos ambientes e valorização das comunidadesque utiliza na operação turística.Em 2003 a American Bird Association elaborou um documentocom o Código de Ética do Observador de Aves (ABA 2003) traduzidopor Chagas (2003), que lista uma série de práticas <strong>para</strong> <strong>minimizar</strong>os probl<strong>em</strong>as causados por esta atividade. A Tabela 2 traz asprincipais recomendações <strong>para</strong> <strong>minimizar</strong> os <strong>impactos</strong> ambienta-is e incentivar o desenvolvimento local e regional.Tabela 2 - <strong>Recomendações</strong> <strong>para</strong> <strong>minimizar</strong><strong>impactos</strong> ambientais da observação de aves<strong>Recomendações</strong> <strong>para</strong> a observaçãode aves de forma responsávelPraticar e fomentar uma conduta ética na observação de avesEvitar movimentos bruscos e barulhoEvitar o máximo possível áreas com ninhos e filhotesUsar roupas de tons apagados, de preferência verdes ou cáquiMostrar cuidado especial com espécies raras e ameaçadasMinimizar gravações e tentar nunca ser visto pelas avesNão se aproximar, uma vez que a ave notou sua presençaManter-se nas trilhas, estradas e caminhos pré-estabelecidosUso de lunetas <strong>para</strong> observação e fotografiaEducação sobre as aves e seus benefícios financeiros <strong>para</strong> a comunidadeApoio a <strong>atividades</strong> e <strong>em</strong>presas locais de baixo impacto ambientalParticipação <strong>em</strong> ações de ONGs de conservação de avesFonte: Adaptado de SELERCIOGLU (2002)CONSIDERAÇÕES FINAISCom algumas exceções, o impacto do ecoturismo e a sua verdadeiracontribuição <strong>para</strong> a proteção de hábitats ou espécies <strong>em</strong> áre-as protegidas, t<strong>em</strong> sido negligenciado (Oliveira et al. 1999), masdevido a sua importância econômica <strong>em</strong> diversos ecossist<strong>em</strong>asameaçados, torna-se necessário determinar se a afluência turísti-ca pode ou não continuar s<strong>em</strong> prejuízo das espécies residentes(Romero & Wikeski 2002). Sist<strong>em</strong>as de monitoramento adequadosao ecoturismo dev<strong>em</strong> ser aplicados <strong>para</strong> avaliar os eventuais<strong>impactos</strong>, b<strong>em</strong> como a efetiva aplicação de medidas mitigadorasprecisam ser respeitadas pelos operadores, acima do interesse econômico,visando salvaguardar os recursos da biodiversidade e aprópria sustentabilidade da operação turística (e.g., Sabino &Andrade 2003). Ainda que os custos e benefícios reais do ecoturismosejam questionados (Sherman & Dixon 1991) e que esta atividadegere perturbações relevantes <strong>para</strong> a <strong>avifauna</strong>, seu ambientee <strong>para</strong> os moradores locais, o turismo de observação de aves aindaé preferível a outras <strong>atividades</strong> mais impactantes, como caça,AGRADECIMENTOSA Fernando Costa Straube, Augusto João Piratelli e Daniel DeGranville Manço pela revisão e críticas positivas do manuscrito.José Sabino agradece ao apoio financeiro da Fundação Manoel deBarros.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:ABA - AMERICAN BIRDING ASSOCIATION 2003. The AmericanBirding Association’s Code of Birding Ethics. 2003ABA M<strong>em</strong>ber Handbook, p. 24. Disponível <strong>em</strong>ANDRADE, M. A. 1992. Aves silvestres de Minas Gerais. BeloHorizonte, Conselho Internacional <strong>para</strong> a Preservação dasAves. 176p.ANTAS, P. T. Z. 2004. Pantanal: Guia de Aves. Espécies da ReservaParticular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal.Rio de Janeiro, Editora do SESC. 246 p.BOUTON S. N. & FREDERICK P. C. 2003. Stakeholders' perceptionsof a Wading Bird Colony as a community resourcein the Brazilian Pantanal. Conservation Biology17(1):297–306.BOYLE, S. A. & SAMSON, F. B. 1985. Effects of no consumpti-ve recreation on wildlife: a review. Wildlife Society Bulletin,13:110–116. In: SELERCIOGLU, C. H. 2002. Impacts ofbirdwatching on human and avian communities. Environ-mental Conservation 29(3):282–289.CBRO - COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROSORNITOLÓGICOS. 2005. Lista de Aves do Brasil. Versão01/02/2005. Disponível <strong>em</strong> Acesso <strong>em</strong> 05/02/2005.Atualidades Ornitológicas Nº 127 - Set<strong>em</strong>bro/Outubro 2005 - www.ao.com.br
CHAGAS, D. P. (trad) 2003. Código de Ética do Observador de OLIVEIRA, R.F., CANÁRIO A.V.M. & BSHARY, R. 1999. Hor-Aves. Centro de Estudos Ornitológicos. Disponível <strong>em</strong> mones, behaviour and conservation of littoral fishes: current.status and prospects for future research. Pp. 149-178. In:CORDELL, H. K & HERBERT, N. G. 2002. The popularity of ALMADA, V. C., OLIVEIRA, R. F. & GONÇALVES, E. J.,Birding is still growing. Birding 34(1):54-61.(eds). Behaviour and Conservation of Littoral Fishes. Lis-DE GROOT, R. S. 1983. Tourism and conservation in the Galapa- boa, ISPA.gos Islands. Biological Conservation 26:291–300. In: POUGH, F. H.; J. B. HEISER & W. N. McFARLAND, 1999. A Vi-SELERCIOGLU, C. H. 2002. Impacts of birdwatching on hu- da dos Vertebrados. São Paulo, Atheneu Editora. 798p.man and avian communities. Environmental Conservation MPE - PROGRAMA MELHORES PRÁTICAS PARA O29(3):282–289. ECOTURISMO. 2002. Pólo Ecoturístico de Aquidauana.DIAS, R. 2001. Observação de Fauna. Caderno de Subsídios Inventário. Rio de Janeiro, Funbio.Observação de Aves, Ibama, In: Manual Melhores Práticas REYNER, O. J., 2003. Observação de aves. Disponível <strong>em</strong><strong>para</strong> o Ecoturismo. Rio de Janeiro, Programa MPE Funbio 2001. Acesso <strong>em</strong> 27/05/2005.FERNÁNDEZ-JURICIC, E. 2000. Local and regional effects of ROMERO, L. M. & WIKELSKI, M. 2002. Exposure to tourismpedestrians on forest birds in a fragmented landscape. The reduces stress-induced corticosterone levels in GalápagosC o n d o r 1 0 2 : 2 4 7 – 2 5 5 . D i s p o n í v e l e m marine iguanas. Biological Conservation 108:371-374. SABINO, J. (NO PRELO). Estratégia Brasileira de Biodiversi-Acesso <strong>em</strong> 26/05/2005.dade: o mundo de olho no Brasil. Série Biodiversidade. Mi-FERNÁNDEZ-JURICIC, E., JIMENEZ, M. D. & LUCAS, E. nistério do Meio Ambiente, Brasília.2001. Alert distance as an alternative measure of bird toleran- SABINO, J. & ANDRADE, L. P., 2003. Uso e conservação da icticeto human. Environmental Conservation 28:263-269. Dis- ofauna na região de Bonito, Mato Grosso do Sul: o mito daponível <strong>em</strong> Acesso sustentabilidade ecológica no rio Baía Bonita (Aquário Natu<strong>em</strong>26/05/2005.ral de Bonito). Biota Neotropica 3(2). Disponível <strong>em</strong>FIGUEIREDO, L. F. 2003. A observação de aves. Centro de Estu- . Acesso <strong>em</strong> 07/09/2005. Acesso <strong>em</strong> 12/06/2004.SABINO, J. & PRADO, P. I. 2003. Avaliação do estado do co-FOWLER, G. S. 1999. Behavioral and hormonal responses of nhecimento da diversidade biológica do Brasil: Vertebra-Magellanic penguins (Spheniscus magellanicus) to tourism dos. Projeto Estratégia Nacional de Diversidade Biológica -and nest site visitation. Biological Conservation 90:143- Grupo de trabalho de Biodiversidade CNPq (BRA 97 G 31).149. Publicação eletrônica disponível no site do Ministério do Me-HAYSMITH, L. & HUNT, J. D. 1995. Nature tourism: impacts io Ambiente. Brasília, 131p. Disponível <strong>em</strong>and manag<strong>em</strong>ent. In: SELERCIOGLU, C. H. 2002. Impacts of birdwatching on human and avian communities. Environ- Acesso <strong>em</strong> 07/09/2005.mental Conservation 29(3):282–289.SELERCIOGLU, C. H. 2002. Impacts of birdwatching on humanEMBRATUR - INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO. and avian communities. Environmental Conservation1994. Diretrizes <strong>para</strong> uma Política Nacional de Ecoturismo. 29(3):282–289. Disponível <strong>em</strong> .48p. SHERMAN, P. B & DIXON, J. A. The Economics of Nature Tou-KNIGHT, R.L. & COLE, D. N. 1995. Factors that influence wild- rism: Determining if it Pays. Pp: 89-131 In: WHELAN, T.life responses to recreationists. In: SELERCIOGLU, C. H. (ed) 1991. Nature Tourism: Managing for the Environment.2002. Impacts of birdwatching on human and avian commu- Washington, Island Press. 223p.nities. Environmental Conservation 29(3):282–289.SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, NovaKNIGHT, R.L. & TEMPLE, S. A. 1995. Wildlife and recreatio- Fronteira, 862 p.nists: coexistence through manag<strong>em</strong>ent. In: WESTERN, D. 1995. Definindo Ecoturismo. Pp.13-22. In:SELERCIOGLU, C. H. 2002. Impacts of birdwatching on hu- LINDERBERG, K. & HAWKINS, D. E. Ecoturismo, um guiaman and avian communities. Environmental Conservation <strong>para</strong> planejamento e gestão. 1 ed. Editora SENAC: São Paulo.29(3):282–289. WHEATLEY, N. 1995. Where to watch birds in South America.LINDBERG, K. & HAWKINS, (eds.), 1995. Ecoturismo: um London, Princeton, 1994. 431p.guia <strong>para</strong> planejamento e gestão. São Paulo, Editora Senac WILSON, E. O. 1989. Biofilia. Fondo de Cultura Económica,São Paulo. 292p. S.A. México. Cidade do México. 283p.MAGALHÃES, G. W. 2001. Pólos de Ecoturismo: Pólos de eco- YOURTH, H. 2001. Observando x caçando. World Watch, WWIturismo:planejamento e gestão. INSTITUTO BRASILEIRO Worldwatch Institute / UMA-Universidade Livre da MataDE TURISMO. São Paulo, Terragraph 1(1). 167p.Atlântica. Disponível <strong>em</strong> .sídios Observação de Aves, In: Manual Melhores Práticas <strong>para</strong>o Ecoturismo. Rio de Janeiro, Programa MPE Funbio 1. Mestrado <strong>em</strong> Meio Ambiente e Desenvolvimento Regio-2001. nal, Universidade <strong>para</strong> o Desenvolvimento do Estado e da Re-NSRE - NATIONAL SURVEY ON RECREATION AND THE gião do Pantanal, Rua Ceará 333 - CEP 79003-010 CampoENVIRONMENT. 2000. National Survey of fishing, Hun- Grande, MSting, and Wildlife-associated Recreation. Pp.394-402. In: 2. Laboratório de Biodiversidade e Conservação de Ecos-SEKERCIOGLU, C. H. 2003. Conservation through com- sist<strong>em</strong>as Aquáticos, Docente do Programa de Mestrado <strong>em</strong>modification. Birding Economic. August. Disponível <strong>em</strong> Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Universidade Aces- <strong>para</strong> o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal,so <strong>em</strong> 21/05/2005.Rua Ceará 333 - CEP 79003-010 Campo Grande, MSAtualidades Ornitológicas Nº 127 - Set<strong>em</strong>bro/Outubro 2005 - www.ao.com.br 11