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A etnografia ao serviço do currículo - Universidade da Madeira

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que subjazem as interacções pessoais, para a partir <strong>da</strong>í se construírem novosconhecimentos curriculares.Em minha opinião, é este o desafio que se coloca actualmente <strong>ao</strong> currículo, encara<strong>do</strong>numa perspectiva crítica: o de já não poder se alhear <strong>da</strong>s diversas gramáticasidentitárias, a pretexto de uma formação de ci<strong>da</strong>dãos formalmente homogéneos face <strong>ao</strong>Esta<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> uma visão meramente técnica. Pelo contrário, esta perspectiva críticareconhece que o facto de se recusar e silenciar as identi<strong>da</strong>des sócio-culturaislocaliza<strong>da</strong>s, contribui, apenas, para a permanência <strong>da</strong>s clivagens sociais através deformas de discriminação e exclusão, e desigual<strong>da</strong>des sociais.Apenas o professor poderá, enquanto elemento que filtra em última análise to<strong>do</strong> osistema, estabelecer a ponte entre as diversas culturas presentes, pelo confronto positivoentre as mesmas, pela resolução auto-regula<strong>da</strong> <strong>do</strong>s conflitos cognitivos e culturais. Éeste papel de aproximação e comunicação <strong>do</strong> professor com a "mente cultural" <strong>da</strong>sdiversas comuni<strong>da</strong>des que preten<strong>do</strong> aqui sublinhar.A ele caberá fazer <strong>da</strong> escola um espaço de pluralismo cultural, de expressão e afirmaçãoprática de referências e identi<strong>da</strong>des, como ponto de parti<strong>da</strong> e núcleo estrutura<strong>do</strong>r <strong>do</strong>spercursos e processos de aprendizagem <strong>do</strong>s alunos. A ele caberá concretizar a promoçãoeducativa de ca<strong>da</strong> um, sem desvalorizar cosmovisões localiza<strong>da</strong>s e pessoaliza<strong>da</strong>s. A elecaberá, em suma, resolver no terreno, o conflito entre globalização e diferença,globalização e diversi<strong>da</strong>de, através <strong>do</strong> respeito pelas identi<strong>da</strong>des e especifici<strong>da</strong>desregionais, locais e pessoais que apenas consoli<strong>da</strong>rão a integração e a coesão social.64. Uma experiência no terrenoFoi assim que parti, ten<strong>do</strong> como pressupostos os referentes teóricos atrás abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s,para um Projecto de investigação-acção na escola de 2º e 3º ciclos <strong>da</strong> Torre, em Câmarade Lobos, na <strong>Madeira</strong>.A Escola <strong>da</strong> Torre havia procedi<strong>do</strong> a um trabalho atura<strong>do</strong> de levantamento de situaçõesproblemáticas no dia-a-dia escolar, durante um ano lectivo, através de inquéritosdirigi<strong>do</strong>s <strong>ao</strong>s directores de turma, <strong>ao</strong> pessoal não <strong>do</strong>cente, <strong>ao</strong>s próprios alunos e <strong>ao</strong>srespectivos encarrega<strong>do</strong>s de educação, tal como através de consulta de <strong>do</strong>ssiers dedirecção de turma de anos anteriores, de análise <strong>da</strong>s participações dirigi<strong>da</strong>s <strong>ao</strong>sdirectores de turma contra os alunos, etc… Diagnosticaram-se alguns problemas,comuns a outros estabelecimentos de ensino, é certo, mas que, pela sua dimensão,estavam a afectar o clima sócio-afectivo <strong>da</strong> própria Escola. Nessa primeira fase, não sedistinguiam ain<strong>da</strong> bem os problemas, <strong>da</strong>s razões <strong>do</strong>s problemas. “Eleva<strong>do</strong> insucessoescolar, grande desmotivação face à escola, eleva<strong>do</strong> número de alunos na maior parte<strong>da</strong>s turmas, falta de espaços próprios para o desenvolvimento de outras activi<strong>da</strong>des,dificul<strong>da</strong>des de concentração nas aulas, inúmeros problemas disciplinares, agressivi<strong>da</strong>defísica e verbal e falta de assidui<strong>da</strong>de” foram os “principais problemas diagnostica<strong>do</strong>s”.A Escola centrou-se então nos problemas disciplinares, dedican<strong>do</strong> a sua atenção <strong>ao</strong>número de participações e <strong>ao</strong> tipo de comportamento desajusta<strong>do</strong>, nelas relata<strong>do</strong>: <strong>da</strong>nosmateriais ou agressão física e/ou verbal, <strong>ao</strong>s professores, <strong>ao</strong>s funcionários e <strong>ao</strong>s colegasem espaços diferencia<strong>do</strong>s: na sala de aula, nos pátios, na cantina, no bar, na bibliotec<strong>ao</strong>u no pavilhão. Essa análise detalha<strong>da</strong> vinha confirmar o “clima” que se respirava. Erapreciso fazer alguma coisa, sob pena de esse tipo de comportamento pôr em risco to<strong>da</strong> a

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