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A etnografia ao serviço do currículo - Universidade da Madeira

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currículo tem a responsabili<strong>da</strong>de de promover educacionalmente to<strong>do</strong>s os alunos,fornecen<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> um a ferramenta mental adequa<strong>da</strong> para crescer. Considero, por essemotivo, que a escolari<strong>da</strong>de obrigatória é um meio, por excelência, para <strong>do</strong>tar ca<strong>da</strong>ci<strong>da</strong>dão de competências para participação na vi<strong>da</strong> social e cultural <strong>do</strong>minante (nãoestou a pôr esta dimensão de parte), mas com o devi<strong>do</strong> respeito e consideração portantas outras culturas.Mas se entendemos o currículo como uma forma institucionaliza<strong>da</strong> de transmitir àsgerações futuras a cultura de uma socie<strong>da</strong>de, é legítimo que nos questionemos sobre quecultura… Existirá ela de forma unitária e homogénea? Constituirá ela um conjuntoestático de valores e conhecimentos?Em termos de uma teoria crítica <strong>do</strong> currículo, não existe uma única cultura de socie<strong>da</strong>deuniversalmente aceite e posta em prática e, por isso, digna de ser transmiti<strong>da</strong>. “A teoriacurricular não pode mais […] se preocupar apenas com a organização <strong>do</strong> conhecimentoescolar, nem pode encarar de mo<strong>do</strong> ingénuo e não-problemático o conhecimentorecebi<strong>do</strong>. O currículo existente, isto é, o conhecimento organiza<strong>do</strong> para ser transmiti<strong>do</strong>nas instituições educacionais, passa a ser visto não apenas como implica<strong>do</strong> na produçãode relações assimétricas de poder, no interior <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, mas tambémcomo histórica e socialmente contingente.” (A. Moreira e T. T. <strong>da</strong> Silva. 1995. p. 21).O currículo não pode, por isso, silenciar as vozes que lhe pareçam dissonantes <strong>do</strong>discurso culturalmente padroniza<strong>do</strong>, uma vez que não opera no vazio. Não vale a penapretender unificá-lo de maneira abstracta e formal, quan<strong>do</strong> ele se realiza num mun<strong>do</strong>profun<strong>da</strong>mente diverso. É por isso que penso que os que ensinam terão de terconsciência de que os que aprendem são, tal como eles próprios, seres sociaisporta<strong>do</strong>res de um mun<strong>do</strong> muito especial de crenças, significa<strong>do</strong>s, valores, atitudes ecomportamentos adquiri<strong>do</strong>s lá fora e que importa contemplar.43. Necessi<strong>da</strong>de de investigação etnográfica na educaçãoAssumi<strong>do</strong> o princípio <strong>do</strong> acolhimento e <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural pelaescola, o problema que se levanta é o de como aceder, então, <strong>ao</strong>s tais territóriosmarginais e margina<strong>do</strong>s de pertença e referência cultural <strong>do</strong>s alunos, <strong>ao</strong> tal micro-socialde ca<strong>da</strong> um, de mo<strong>do</strong> a se reflectirem no currículo. Pois <strong>ao</strong> núcleo duro que constitui ocurrículo formal e oficial, terá o professor de acrescentar um novo espaço dedesenvolvimento curricular onde se propicie o diálogo entre os diversos mun<strong>do</strong>s aípresentes. Ora como descobrir esses novos espaços de desenvolvimento curricular?Impõe-se, a meu ver, uma nova atitude de investigação em educação, uma outramentali<strong>da</strong>de por parte <strong>do</strong> professor que privilegie o estu<strong>do</strong> de reali<strong>da</strong>des particulares,concretas, circunscritas a um espaço e tempo determina<strong>do</strong>s, a um hic et nunc. A<strong>etnografia</strong> <strong>da</strong> educação poderá, em minha opinião, ter esse papel decisivo naaproximação e comunicação <strong>da</strong> escola, ou melhor dito, <strong>da</strong>s várias escolas, com as"mentes culturais" <strong>da</strong>s diversas comuni<strong>da</strong>des.Liga<strong>da</strong> à antropologia e à sociologia qualitativa, a <strong>etnografia</strong> surge como uma formadiferente de investigação educacional, em franca oposição <strong>ao</strong>s paradigmas positivistasprovenientes <strong>da</strong> psicologia experimental e <strong>da</strong> sociologia quantitativa. Ultrapassa<strong>da</strong> já adiscussão em re<strong>do</strong>r <strong>da</strong> questão de a <strong>etnografia</strong> ser uma teoria ou um méto<strong>do</strong>, ou de serantes uma “perspectiva”, no senti<strong>do</strong> de não esgotar os problemas nem duma nem

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