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A etnografia ao serviço do currículo - Universidade da Madeira

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Desenvolvimento Humano, elabora<strong>do</strong>s no âmbito <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, a diferença,enquanto desigual<strong>da</strong>de, é uma questão fun<strong>da</strong>mental para o desenvolvimento humano. Oúltimo Relatório, de 2005, alerta para o facto de “profun<strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des basea<strong>da</strong>s nariqueza, na região, no género e na etnici<strong>da</strong>de são más para o crescimento, más para ademocracia e más para a coesão social.” No capítulo 2, especialmente dedica<strong>do</strong> à“Desigual<strong>da</strong>de e Desenvolvimento Humano”, refere que “os grupos desfavoreci<strong>do</strong>s –pobres, mulheres, populações rurais, comuni<strong>da</strong>des indígenas – são desfavoreci<strong>do</strong>s emparte porque têm uma voz política fraca, e têm uma voz política fraca porque sãodesfavoreci<strong>do</strong>s” (p. 51).Mais de um quarto <strong>do</strong>s 4,5 biliões de pessoas <strong>do</strong>s países em desenvolvimento ain<strong>da</strong> nãotêm as condições básicas de vi<strong>da</strong> – sobrevivência para além <strong>do</strong>s 40 anos, acesso <strong>ao</strong>conhecimento e um mínimo de assistência priva<strong>da</strong> e pública. Quase 1,3 biliões depessoas não têm acesso a água potável. Uma em sete crianças em i<strong>da</strong>de de escolari<strong>da</strong>deprimária não tem escola. Cerca de 840 milhões são mal-nutri<strong>da</strong>s. Um número estima<strong>do</strong>em 1,3 biliões de pessoas vive de um rendimento abaixo de $1 por dia.“As diferenças basea<strong>da</strong>s na riqueza são o primeiro elo de um ciclo dedesigual<strong>da</strong>de que acompanha as pessoas <strong>ao</strong> longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. As mulheres de famíliaspobres têm menos probabili<strong>da</strong>de de receber cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s pré-natais e menos probabili<strong>da</strong>dede ser assisti<strong>da</strong>s no parto por um técnico de saúde qualifica<strong>do</strong>. Os seus filhos têm menosprobabili<strong>da</strong>de de sobreviver ou de completar a escola. As crianças que não completam aescola têm mais probabili<strong>da</strong>de de ter rendimentos mais baixos. Assim, o ciclo <strong>da</strong> privaçãotransmite-se de geração para geração.” (p. 58-59).Mas por outro la<strong>do</strong>, há a questão <strong>da</strong> diferença assumi<strong>da</strong> como um bem a preservar.As antigas divisões Bloco de Leste/Bloco Ocidental que serviam para li<strong>da</strong>r com areali<strong>da</strong>de política <strong>da</strong> Guerra Fria estão a <strong>da</strong>r lugar agora a um outro tipo de divisão bemmais complexa. A política mundial não se rege hoje em dia tanto por posturasideológicas como por questões culturais, étnicas e religiosas. Portanto, a par <strong>da</strong>dinâmica <strong>da</strong> homogeneização cultural, existe assim um outro movimento de raizcontrária a afirmar vigorosamente a diferença de espaços próprios marca<strong>do</strong>s pelapartilha de um mun<strong>do</strong> de vivências e experiências comuns, de histórias porta<strong>do</strong>ras dedetermina<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, que se pretende conservar.Podemos assim dizer que se as tais levas sucessivas de populações desloca<strong>da</strong>s, que atrásreferimos, contribuíram para a globalização, elas também foram carregan<strong>do</strong> as cores <strong>da</strong>sdiferenças no mosaico cultural <strong>do</strong> planeta. E as pessoas viajam muito mais agora. Deacor<strong>do</strong> com a Organização Mundial <strong>do</strong> Turismo, se em 1950, tínhamos 20 milhões deviajantes em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, em 2004, tivemos 760 milhões, esperan<strong>do</strong>-se que, em 2020,esse número ultrapasse os 1,6 biliões por ano. A mobili<strong>da</strong>de por razões de turismo,estu<strong>do</strong>, investigação ou busca por melhores condições de vi<strong>da</strong>, a mobili<strong>da</strong>de propicia<strong>da</strong>pela globalização, contribui, qual reverso <strong>da</strong> mesma me<strong>da</strong>lha, para o confronto com adiferença, no mesmo espaço anteriormente mais homogéneo.22. O desafio <strong>do</strong> CurrículoComo é que este tipo de reflexão pode interessar <strong>ao</strong> Currículo?To<strong>do</strong>s sabemos que o Currículo, enquanto núcleo central <strong>do</strong> ensino, não é de formaalguma politicamente descomprometi<strong>do</strong>. O Como ensinar e o O quê ensinar estãoestrategicamente liga<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> Ensinar para quê, isto é, às intenções políticas de

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