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Dificuldades e possibilidades no ensino da geometria na ... - UTFPR

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Centro Federal de Educação Tec<strong>no</strong>lógica de São Paulo<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong><strong>na</strong> EJAElisabete Teresinha GueratoSão PauloMarço de 2008


Centro Federal de Educação Tec<strong>no</strong>lógica de São Paulo<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong><strong>na</strong> EJAElisabete Teresinha GueratoOrientador: Profª Ms Wania TedeschiMo<strong>no</strong>grafia apresenta<strong>da</strong> ao Curso deEspecialização em Educação Profissio<strong>na</strong>lTécnica de Nível Médio <strong>na</strong> Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJAdo Centro Federal de Educação Tec<strong>no</strong>lógicade São Paulo (CEFET/SP) como parte dosrequisitos para obtenção do título deespecialista.São PauloMarço de 2008


Dedico este trabalho aos meus pais que me deram avi<strong>da</strong> e aos meus filhos que são a razão <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>ii


AgradecimentosCom especial carinho, à Professora Ms. Wania Tedeschi, pela atenção, carinho,dedicação e por ter confiado <strong>na</strong> minha capaci<strong>da</strong>de ao aceitar ser minha orientadora.Aos professores do curso que, com seu profissio<strong>na</strong>lismo e suas aulas <strong>no</strong>sprepararam para esta jor<strong>na</strong><strong>da</strong>.Em especial, à professora Dra. Fátima Beatriz Delphi<strong>no</strong> pela amizade e pelaaju<strong>da</strong> <strong>na</strong>s correções gramaticais.À amiga Maria Angélica Kopko pelo companheirismo e incentivo junto àsdiscipli<strong>na</strong>s do curso.Aos meus pais que me deram a oportuni<strong>da</strong>de e o incentivo para que eu tivesseamor pelos estudos.Aos meus filhos, Rodrigo e Rogério pelo apoio e pela confiança em mim comomãe e profissio<strong>na</strong>l.Aos meus alu<strong>no</strong>s que, ao longo destes muitos a<strong>no</strong>s de profissão não sóaprenderam comigo, mas também muito me ensi<strong>na</strong>ram.A todos os meus amigos que, de uma forma ou de outra contribuíram para aminha formação.iii


SumárioApresentaçãoIntroduçãoAndragogia: a educação de adultosPor que e para que aprender matemática?Geometria e o seu ensi<strong>no</strong>O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática <strong>na</strong> EJAA legislação Oficial e o Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> MatemáticaCompetências do pensamento geométricoPiaget e as estruturas cognitivasLetramento e desenvolvimento cognitivoLinguagem matemática: símbolo e significadoPrincípios filosóficos que <strong>no</strong>rtearam o trabalhoMetodologiaA seqüência didática - Ofici<strong>na</strong>sDescrição e análise <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des utiliza<strong>da</strong>s <strong>na</strong> pesquisa<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e Possibili<strong>da</strong>des para o Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> GeometriaPerspectivas futurasReferências bibliográficas128111315183035404348495360727677iv


ResumoEsta mo<strong>no</strong>grafia teve como objetivo geral a<strong>na</strong>lisar o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, emparticular <strong>da</strong> Geometria <strong>na</strong> Educação de Jovens e Adultos (EJA) a partir <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>legislação vigente e dos estudos de Jean Piaget, do casal Van Hiele e de estudo existentesobre símbolos e significados <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática. Foram observa<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des dealu<strong>no</strong>s do Módulo III do Centro Integrado de Jovens e Adultos (CIEJA), projeto <strong>da</strong>Prefeitura <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo e ao fi<strong>na</strong>l foram relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>desdetecta<strong>da</strong>s e foram sugeri<strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Geometria <strong>na</strong> EJA.Palavras chaves: EJA, matemática, ensi<strong>no</strong>, <strong>geometria</strong>, <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong>AbstractThis mo<strong>no</strong>graph’s overall objective is to a<strong>na</strong>lyze mathemathics teaching, inparticular, the geometry teaching in teens and adults education from the a<strong>na</strong>lyzis of thepresent legislation and the studies of Jean Piaget, the married couple Van Hiele and thestudy of simbols and meanings in the mathematics teaching. We have observed the thirdmodule’s students activities from the Teens and Adults Educatio<strong>na</strong>l Center (CIEJA)which is a São Paulo’s City Hall project.Key words: Mathematics, teaching, geometry, possibilities.v


“A escola que se deve buscar éaquela que forme pessoasautô<strong>no</strong>mas, livres e capazes decompreender o mundo onde estãoinseri<strong>da</strong>s.”(2o Fórum Mundial de Educação, PortoAlegre, de 19 a 22 de janeiro de 2003)vi


ApresentaçãoO trabalho com o ensi<strong>no</strong> de matemática <strong>na</strong> Educação de Jovens e Adultos (EJA)vem sendo desenvolvido desde o térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> graduação e, <strong>no</strong> decorrer desses a<strong>no</strong>s, apercepção <strong>da</strong> profun<strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de dos alu<strong>no</strong>s desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de em aprendermatemática, em particular a <strong>geometria</strong>, fez com que a pesquisadora se interessasse poresse campo de investigação.Esta pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong> com o propósito de investigar o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>matemática, em particular <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, <strong>na</strong> EJA e levou em consideração a dificul<strong>da</strong>deque o alu<strong>no</strong> adulto tem para sistematizar a matemática que usa <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> sala deaula e <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s pelos professores.A <strong>geometria</strong>, em geral é deixa<strong>da</strong> para segundo pla<strong>no</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemáticadevido ao mito de que é a parte mais complica<strong>da</strong>, mas a experiência com as aulas paraalu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA <strong>no</strong>s mostra que é a parte <strong>da</strong> Matemática que melhor sea<strong>da</strong>pta ao conhecimento de mundo do alu<strong>no</strong> adulto. Desta forma, escolhemos o ensi<strong>no</strong><strong>da</strong> Geometria para a pesquisa de modo a selecio<strong>na</strong>r e elaborar <strong>no</strong>vos materiais concretospara facilitar o ensi<strong>no</strong> para alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA.Pais (2006) descreve os resultados de uma pesquisa cujo objetivo eracaracterizar tendências atuais si<strong>na</strong>liza<strong>da</strong>s pelos livros didáticos de matemática, quantoàs metodologias de ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>. Esses resultados evidenciam a existência deum núcleo de conceitos preservados em quase todos os livros. A partir dessaidentificação, foi constata<strong>da</strong> uma tendência crescente de diversificação dos recursospe<strong>da</strong>gógicos sugeridos entre os livros. Desta forma, pudemos perceber que apreocupação com o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Geometria não é ape<strong>na</strong>s dos professores de Matemática,mas também dos autores de livros didáticos. Inclusive, segundo a pesquisa, os livrospublicados mais recentemente propõem estratégias de ensi<strong>no</strong> diferencia<strong>da</strong>s o queimplica <strong>na</strong> indicação de diferentes recursos didáticos.1


IntroduçãoNesta pesquisa procuramos verificar <strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> para se ensi<strong>na</strong>r<strong>geometria</strong> ao alu<strong>no</strong> <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de (EJA), de modo que esta tenha significado e sirva deinstrumento para este alu<strong>no</strong> entender aspectos do mundo que depen<strong>da</strong>m doconhecimento de <strong>geometria</strong>, quais as suas dificul<strong>da</strong>des e <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong>.Alguns aspectos <strong>no</strong>s levaram à escolha deste tema. Entre eles podemosmencio<strong>na</strong>r os de maior relevância.Sob o ponto de vista do alu<strong>no</strong> é freqüente os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> EJA atribuírem o fracassoescolar <strong>na</strong> infância e adolescência à discipli<strong>na</strong> de Matemática, referindo-se ao rigoraplicado pelos educadores desta discipli<strong>na</strong> e à cobrança <strong>da</strong> memorização dos conceitos e<strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des, bem como as ativi<strong>da</strong>des de caráter mecânico, cobra<strong>da</strong>s de maneiraexagera<strong>da</strong> e sem contextualização.Sob o ponto de vista institucio<strong>na</strong>l, o Censo Escolar 2004, do Instituto Nacio<strong>na</strong>lde Estudos e Pesquisas Educacio<strong>na</strong>is Anísio Teixeira (INEP/MEC) mostra que oscursos específicos para jovens e adultos beneficiam atualmente cerca de 4,6 milhões dealu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Brasil.De acordo com o Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura (MEC), cerca de 65 milhõesde brasileiros não completaram o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental (1ª a 8ª série). Deste total, 15milhões têm me<strong>no</strong>s de um a<strong>no</strong> de estudo, o que só comprova que a desistência é um dosprincipais desafios do sistema educacio<strong>na</strong>l brasileiro. (Anexo I)Segundo Had<strong>da</strong>d (1994), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) <strong>no</strong> Brasil épouco conheci<strong>da</strong> <strong>na</strong> sua essência. Além disso, quando conheci<strong>da</strong>, sabe-se mais sobresuas mazelas do que sobre suas virtudes.A Educação de Adultos <strong>no</strong> Brasil se origi<strong>no</strong>u muito mais como produto paracombate <strong>da</strong> miséria social do que como desenvolvimento. É conseqüência dos males dosistema público regular de ensi<strong>no</strong> e <strong>da</strong>s precárias condições de vi<strong>da</strong> de grande parte <strong>da</strong>população brasileira, que acabam por interferir <strong>no</strong> aproveitamento <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de <strong>na</strong>época apropria<strong>da</strong>. (Had<strong>da</strong>d, 1994)Do ponto de vista sociológico, observamos que a miséria social é um marcocondicio<strong>na</strong>nte que acaba por definir as diversas maneiras de pensar e realizar aEducação de Jovens e Adultos. É uma educação para pobres, para jovens e adultos <strong>da</strong>s2


cama<strong>da</strong>s populares, para aqueles que são maioria <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des do Terceiro Mundo,para os excluídos do desenvolvimento e dos sistemas educacio<strong>na</strong>is de ensi<strong>no</strong>. Mesmoconstatando-se que não são todos os excluídos do sistema escolar <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>,que conseguem ter acesso aos programas de Educação de Jovens e Adultos, não seinvali<strong>da</strong> a constatação de que esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong> é especialmente direcio<strong>na</strong><strong>da</strong>aos excluídos. (Had<strong>da</strong>d, 1994)Segundo Fonseca (2005), a Educação de Jovens e Adultos é uma ação educativadirigi<strong>da</strong> a um indivíduo de escolarização básica incompleta ou nem ao me<strong>no</strong>s inicia<strong>da</strong> eque procura os bancos escolares <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adulta ou <strong>na</strong> juventude. A interrupção ouimpedimento de sua trajetória escolar não é um fato isolado de não acesso a um direitocomo ci<strong>da</strong>dão e previsto <strong>na</strong> constituição, mas dá-se num contexto mais amplo deexclusão social e cultural, e que, em grande medi<strong>da</strong>, condicio<strong>na</strong>rá também as<strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> de re-inclusão que se farão nessa <strong>no</strong>va (ou primeira) oportuni<strong>da</strong>de deescolarização.A marca <strong>da</strong> exclusão estabelecerá um jogo de tensões bastante mais conflituosodo que aquele estabelecido pelas propostas, realizações e avaliações realiza<strong>da</strong>s <strong>na</strong>Educação Básica para crianças e adolescentes. Este jogo de interesses pode ser atribuídoà falta de consenso entre os envolvidos com esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong> <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção<strong>da</strong>s decisões e práticas pe<strong>da</strong>gógicas <strong>na</strong> EJA, principalmente quando os jovens e adultossão trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos e excluídos. (Fonseca,2005)Segundo Ferrari (2002), a maior deman<strong>da</strong> de jovens pelos cursos de EJA traz,como conseqüência, a dificul<strong>da</strong>de de o professor atender num mesmo espaço e tempodiferentes níveis de conhecimento e ritmos de aprendizagens. Em geral, as falas dosprofessores apontam para aceitação do alu<strong>no</strong> adulto, reconhecendo e valorizando oesforço diário para permanecer <strong>no</strong> curso, o esforço para aprender, para responder àstarefas e à manutenção <strong>da</strong> relação hierárquica professor X alu<strong>no</strong>, <strong>no</strong> respeito com que oadulto trata o mestre. Quando se trata de adolescentes, entretanto, as inquietações sãomuitas: evidencia-se a dificul<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r com a discipli<strong>na</strong> com a falta de motivação ede envolvimento do alu<strong>no</strong> <strong>na</strong>s tarefas escolares.Ain<strong>da</strong> em Ferrari (2002) encontramos que a Educação de Jovens e Adultosapresenta hoje uma identi<strong>da</strong>de que a diferencia <strong>da</strong> escolarização regular e essadiferenciação não <strong>no</strong>s remete ape<strong>na</strong>s a uma questão de especifici<strong>da</strong>de etária, mas,3


primordialmente, a uma questão de especifici<strong>da</strong>de sócio-histórico-cultural. Os <strong>no</strong>vosrumos <strong>da</strong> Educação Brasileira enfatizam a difusão dos valores de justiça social e dospressupostos <strong>da</strong> democracia, do respeito à plurali<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>dos à crença <strong>na</strong> capaci<strong>da</strong>dede ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão ler e interpretar a reali<strong>da</strong>de, conforme sua própria experiência, o queexige reorientar o olhar para propostas educativas que incluam o desenvolvimento doser huma<strong>no</strong> de forma integra<strong>da</strong> e completa, <strong>no</strong> atendimento de suas necessi<strong>da</strong>descognitivas, afetivas, motoras e sociais.De acordo com Oliveira (1999a), desta maneira a Educação de Jovens e Adultosnão deve ser caracteriza<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s pela i<strong>da</strong>de dos alu<strong>no</strong>s que dela se beneficiam, masprincipalmente, pela caracterização sociocultural de seu público. Sob esta perspectiva, éprimordial que a educação para estes jovens e adultos se conduza principalmente <strong>no</strong>sentido <strong>da</strong> reinserção social destes indivíduos.Essa mesma autora diz que o tema “educação de pessoas jovens e adultas” não<strong>no</strong>s reporta ape<strong>na</strong>s a uma questão etária, mas principalmente a uma questão deespecifici<strong>da</strong>de cultural. Assim, apesar <strong>da</strong> classificação por i<strong>da</strong>de (jovens e adultos são,basicamente, “não crianças”), esse ramo <strong>da</strong> educação não diz respeito a açõeseducativas dirigi<strong>da</strong>s a qualquer jovem ou adulto, mas a um determi<strong>na</strong>do grupo depessoas relativamente homogêneo <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de grupos culturais <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de contemporânea.O adulto, <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> educação de jovens e adultos, não é o estu<strong>da</strong>nteuniversitário, o profissio<strong>na</strong>l qualificado que freqüenta cursos de formação continua<strong>da</strong> oude especialização, ou a pessoa adulta interessa<strong>da</strong> em aperfeiçoar seus conhecimentos.Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles proveniente de áreasrurais empobreci<strong>da</strong>s, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível deinstrução escolar (muito freqüentemente a<strong>na</strong>lfabetos), ele próprio com uma passagemcurta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urba<strong>na</strong>s nãoqualifica<strong>da</strong>s, após experiência <strong>no</strong> trabalho rural <strong>na</strong> infância e <strong>na</strong> adolescência, que buscaa escola extemporaneamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensi<strong>no</strong>supletivo.Para Oliveira (1999a) o jovem que freqüenta este território <strong>da</strong> antiga educaçãode adultos há pouco tempo, não é aquele com uma história de escolari<strong>da</strong>de regular, ovestibulando ou o alu<strong>no</strong> de cursos extracurriculares em busca de enriquecimentopessoal. Não é também o adolescente com as características psicológicas que consta <strong>no</strong>s4


compêndios de psicologia do desenvolvimento. Ele é também um excluído <strong>da</strong> escola,porém geralmente incorporado aos cursos supletivos em fases mais adianta<strong>da</strong>s <strong>da</strong>escolari<strong>da</strong>de, com maiores chances, portanto, de concluir o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental oumesmo o ensi<strong>no</strong> médio. Além disso, é bem mais integrado ao mundo urba<strong>no</strong>, envolvidoem ativi<strong>da</strong>des de trabalho e lazer mais relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com a socie<strong>da</strong>de letra<strong>da</strong>,escolariza<strong>da</strong> e urba<strong>na</strong>. Refletir sobre como esses jovens e adultos pensam e aprendemenvolve, portanto, trilhar pelo me<strong>no</strong>s por três situações que contribuem para a definiçãode seu lugar social: a condição de “não-crianças”, a condição de excluídos <strong>da</strong> escola e acondição de membros de determi<strong>na</strong>dos grupos culturais.Ain<strong>da</strong> de acordo com esta autora, com relação à condição de “não-crianças”, aliteratura a respeito é esparsa, uma vez que os compêndios a este respeito versam emgeral sobre as características psicológicas de crianças e adolescentes e consideram avi<strong>da</strong> adulta como um período onde já existe estabili<strong>da</strong>de e a ausência de mu<strong>da</strong>nças nãoexplorando sobre o modo como o adulto adquire conhecimento, ou seja, como eleaprende.Com relação ao funcio<strong>na</strong>mento intelectual do adulto, Palácios (1995) afirma-<strong>no</strong>sque, segundo a literatura, as pessoas, de forma geral, mantêm um bom nível decompetência cognitiva até uma i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>. Os psicólogos evolutivos estão, poroutro lado, ca<strong>da</strong> vez mais convencidos de que o que determi<strong>na</strong> o nível de competênciacognitiva <strong>da</strong>s pessoas mais velhas não é tanto a i<strong>da</strong>de em si mesma, mas uma série defatores de <strong>na</strong>tureza diversa, tais como, o nível de saúde, o nível educativo e cultural, aexperiência profissio<strong>na</strong>l e o tônus vital <strong>da</strong> pessoa. É esse conjunto de fatores e não ai<strong>da</strong>de cro<strong>no</strong>lógica em si o que determi<strong>na</strong> as probabili<strong>da</strong>des de êxito que as pessoasapresentam, ao enfrentar as diversas deman<strong>da</strong>s de <strong>na</strong>tureza cognitiva.Quanto aos fatores psicológicos, Oliveira (1999a) <strong>no</strong>s diz que embora não existauma extensa literatura que trate <strong>da</strong> psicologia do adulto e a construção de tal psicologiaesteja, necessariamente, liga<strong>da</strong> a fatores culturais, podemos relacio<strong>na</strong>r algumascaracterísticas dessa etapa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que distinguiriam, de maneira geral, o adulto <strong>da</strong>criança e do adolescente. O adulto está incluído <strong>no</strong> mundo do trabalho e <strong>da</strong>s relaçõesinterpessoais de um modo diferente <strong>da</strong>quele <strong>da</strong> criança e do adolescente. Traz consigouma longa história de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre omundo exter<strong>no</strong>. Em relação à participação em situações de aprendizagem, o adulto trazconsigo diferentes habili<strong>da</strong>des e dificul<strong>da</strong>des, diferentemente <strong>da</strong> criança e,5


provavelmente, maior capaci<strong>da</strong>de de reflexão sobre o conhecimento e sobre seuspróprios processos de aprendizagem.No entanto, devemos cui<strong>da</strong>r para não tratar o adulto de uma forma estereotipa<strong>da</strong>,muito provavelmente correspondente ao homem ocidental, urba<strong>no</strong>, branco, pertencentea cama<strong>da</strong>s médias <strong>da</strong> população, com um nível instrucio<strong>na</strong>l relativamente elevado ecom uma inserção <strong>no</strong> mundo do trabalho em uma ocupação razoavelmente qualifica<strong>da</strong>.O adulto que procura pela Educação de Jovens e Adultos foge muito deste estereótipodo adulto escolarizado.Com efeito, segundo Oliveira (1999a), a pesquisa em Educação de Jovens eAdultos não é ape<strong>na</strong>s deficitária em relação à diversi<strong>da</strong>de e à relevância de suasquestões, como também são raros os estudos que poderiam subsidiar, em particular <strong>no</strong>campo <strong>da</strong> psicologia, de onde se poderia esperar contribuições, por exemplo, para acaracterização dos processos cognitivos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> adulta.Levando em consideração estes aspectos, elegemos o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Geometria paraalu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA para pesquisar e tentar contribuir de alguma forma com osprofessores de matemática que trabalham com esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong>.Na parte de revisão teórica procuramos a<strong>na</strong>lisar um pouco a educação deadultos, verificar porque é importante que se apren<strong>da</strong> matemática e quais acompetências necessárias para que um alu<strong>no</strong> apren<strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, a seguir, verificamos oque diz a literatura oficial sobre o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, iniciando pela análise dosParâmetros Curriculares Nacio<strong>na</strong>is para o Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental (PCNs), o relatório doEncontro Nacio<strong>na</strong>l de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) ede um documento emitido pela Secretaria Municipal de Educação.Por último, fizemos um estudo sobre o que dizem Piaget, Gómez-Granell e ocasal Van Hiele (1994) sobre a aprendizagem <strong>da</strong> matemática, como o alu<strong>no</strong> transformaos símbolos geométricos em elementos significantes e ain<strong>da</strong> quais níveis deaprendizagem ele adquire à medi<strong>da</strong> que adquirem significado (ou fazem sentido) para asua aprendizagem.Segundo uma metodologia de caráter qualitativo, a pesquisa desenvolveu-sedentro dos princípios <strong>da</strong> fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>logia de caráter et<strong>no</strong>gráfico.Os <strong>da</strong>dos foram coletados <strong>no</strong> contexto de uma instituição de ensi<strong>no</strong> municipalchama<strong>da</strong> CIEJA, os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa foram a professora de matemática de umaturma de alu<strong>no</strong>s do Módulo III e a própria turma e os instrumentos utilizados foram as6


ofici<strong>na</strong>s de <strong>geometria</strong> que faziam parte de uma seqüência didática e duas ativi<strong>da</strong>desaplica<strong>da</strong>s a três alu<strong>na</strong>s desta turma de alu<strong>no</strong>s, escolhi<strong>da</strong>s aleatoriamente.Por fim, as conclusões têm um caráter provisório, <strong>da</strong>do a <strong>na</strong>tureza introdutóriade um trabalho de especialização, mas procuramos evidenciar vários elementosrelevantes <strong>da</strong> EJA que foram identificados e podem ser objetos de <strong>no</strong>vas investigações.7


Andragogia: a educação de adultosSegundo Oliveira (2007) a Educação de Adultos é uma prática tão antiga quantoa história <strong>da</strong> raça huma<strong>na</strong>, ain<strong>da</strong> que só recentemente ela tenha sido objeto de pesquisacientífica. A <strong>no</strong>ssa herança ju<strong>da</strong>ico-cristã ocidental, por exemplo, com cerca de dois mila<strong>no</strong>s, apresenta <strong>na</strong> Bíblia Sagra<strong>da</strong>, fartos exemplos de relacio<strong>na</strong>mento educacio<strong>na</strong>ladulto.Temos outros exemplos, <strong>na</strong> antigui<strong>da</strong>de, de perso<strong>na</strong>gens que foram educadoresde adultos. Podemos citar, entre outros, Confúcio e Lao Tse <strong>na</strong> Chi<strong>na</strong>; Aristóteles,Sócrates e Platão <strong>na</strong> Grécia antiga e Cícero, Evelid e Quintillian <strong>na</strong> antiga Roma. Estespensadores usavam do processo <strong>da</strong> in<strong>da</strong>gação que levava os alu<strong>no</strong>s a pensar e refletirsobre os fatos aprendidos ao invés de usar do recurso <strong>da</strong> transmissão simples e pura deconhecimentos, ou seja, suas técnicas para o ensi<strong>no</strong> levavam os indivíduos à in<strong>da</strong>gaçãopara a resolução dos desafios propostos por seus mestres.A partir do século VII, surgem <strong>na</strong> Europa as escolas para o ensi<strong>no</strong> de criançasque tinha como objetivo preparar jovens para o serviço religioso. Nestas escolas osprofessores ensi<strong>na</strong>vam às crianças a doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> igreja.Com a falta de estudos aprofun<strong>da</strong>dos que trouxessem subsídios para a educaçãoem outras faixas etárias, to<strong>da</strong> a educação não só escolar como empresarial também, foiorganiza<strong>da</strong> basea<strong>da</strong> nestas idéias do século VII.Muito influenciado por John Dewey, em 1926, Eduard C. Lindeman publicouum trabalho chamado "The Meaning of Adult Education" que foi uma <strong>da</strong>s maiorescontribuições para a educação de adultos.Segundo Lindman a educação de adultos devia ser organiza<strong>da</strong> através desituações e não de discipli<strong>na</strong>s, sendo que estas deveriam ser introduzi<strong>da</strong>s ape<strong>na</strong>s quandonecessário. Os textos e os professores tinham um papel secundário neste tipo deeducação, a importância maior deveria ser <strong>da</strong><strong>da</strong> ao aprendiz.Lindman ressaltava que um aspecto importante <strong>no</strong> professor de adultos era ahumil<strong>da</strong>de. Dizia que o conhecimento trazido pelo professor e a experiência trazi<strong>da</strong> peloadulto deveriam, uni<strong>da</strong>s propiciar, aprendizagem tanto para o professor como para oalu<strong>no</strong> adulto.8


Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem inversa:assuntos e professores são os pontos de parti<strong>da</strong>, e os alu<strong>no</strong>s sãosecundários. (...) O alu<strong>no</strong> é solicitado a se ajustar a um currículopré-estabelecido. (...) Grande parte do aprendizado consiste <strong>na</strong>transferência passiva para o estu<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> experiência econhecimentos de outrem (...) nós aprendemos aquilo que nósfazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz.(Linderman, 1926, p.01)Após Lindman, outros estudiosos se destacaram ao estu<strong>da</strong>r como o adultoaprende e contribuíram para o que hoje temos <strong>na</strong> EJA. Entre eles, destacamos: AbrahamH. Maslow e o psicoterapeuta Carl R. Rogers. Estes e outros pesquisadores deramsuporte para o desenvolvimento <strong>da</strong> Andragogia como ciência <strong>da</strong> educação do adulto.Segundo Goecks (2003), andragogia significa “ensi<strong>no</strong> para adultos”. Um ramo<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia que busca compreender o adulto como um ser psicológico, biológico esocial. Ela tem em vista promover o aprendizado através <strong>da</strong> experiência, fazendo comque a vivência estimule e transforme o conteúdo em busca <strong>da</strong> assimilação. É o famoso“aprender fazendo”.A andragogia dá muita importância à experiência <strong>no</strong> aprendizado. Segundo ela, aeducação deve transformar o que já sabemos e não transmitir o que é sabido. Naessência, é um estilo de vi<strong>da</strong> sustentado a partir de concepções de comunicação, respeitoe ética, através de um alto nível de consciência e compromisso social.Considerando o mundo em que vivemos hoje, em ple<strong>no</strong> século XXI, um mundoonde as mu<strong>da</strong>nças são rápi<strong>da</strong>s, o estudo <strong>da</strong> andragogia tor<strong>na</strong>-se ca<strong>da</strong> vez maisnecessário não só <strong>na</strong> educação escolar, mas também <strong>na</strong> educação empresarial onde aformação e a atualização de conhecimentos tor<strong>na</strong>-se ca<strong>da</strong> vez mais necessária.Concluiremos este tópico com duas frases de Paulo Freire: em “Pe<strong>da</strong>gogia doOprimido” ele diz: Ninguém educa ninguém, nem ninguém aprende sozinho, nós sereshuma<strong>no</strong>s aprendemos através do mundo. Em “Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Auto<strong>no</strong>mia” ele diz:Ensi<strong>na</strong>r não é transferir conhecimento, mas criar as <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> para a sua produçãoou a sua construção.No caso <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa pesquisa, temos o foco <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> adulto que traz consigo umabagagem de conhecimento adquiri<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> e que não pode ser descarta<strong>da</strong>9


pelo professor. A <strong>no</strong>ssa proposta é buscar as dificul<strong>da</strong>des de ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> a estealu<strong>no</strong> e propor <strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> pe<strong>da</strong>gógicas, <strong>no</strong> formato de ativi<strong>da</strong>des para que estealu<strong>no</strong> tenha a possibili<strong>da</strong>de de voltar a estu<strong>da</strong>r com sucesso e que as aulas de <strong>geometria</strong>auxiliam a formação deste alu<strong>no</strong> como ci<strong>da</strong>dão.10


Por que e para que aprender matemática?"A Matemática é o alfabeto com o qual Deusescreveu o Universo”. (Galileu Galilei)De acordo com Neves e Carvalho (2007), a Matemática é um veículo para aconstrução de <strong>no</strong>vas perspectivas e convicções e que colabora para que se conheça areali<strong>da</strong>de, a cultura e a socie<strong>da</strong>de. Ela aju<strong>da</strong> as pessoas a serem mais conscientes ecríticas, pois estas, <strong>na</strong> sua aprendizagem, descobrem mais sobre si mesmas, sobre a suareali<strong>da</strong>de e sobre o mundo. Tor<strong>na</strong>m-se capazes de fazer melhores julgamentos e detomar decisões. Aprendem a duvi<strong>da</strong>r e a perguntar, a ouvir opiniões, compará-las erespeitar o direito de escolha de ca<strong>da</strong> pessoa.Vamos abor<strong>da</strong>r alguns pontos que indicam a importância de se aprendermatemática.• Ela contribui para o desenvolvimento de atitudes solidárias, de coresponsabili<strong>da</strong>dee de tolerância.• Possibilita o desenvolvimento de pensamento e sua aplicação <strong>na</strong> soluçãode problemas do dia-a-dia.• Favorece a realização de ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s ao mundo do trabalho.• Permite o acesso a diferentes áreas do conhecimento.Segundo Almei<strong>da</strong> e outros, a Matemática é uma discipli<strong>na</strong> com característicasmuito próprias. Para estu<strong>da</strong>r Matemática é necessária uma atitude especial, assim comopara o ensi<strong>no</strong> não basta conhecer, é necessário criar. A Matemática é utiliza<strong>da</strong>praticamente em to<strong>da</strong>s as áreas: <strong>na</strong> Eco<strong>no</strong>mia, <strong>na</strong> Informática, <strong>na</strong> Mecânica, <strong>na</strong> AnáliseFi<strong>na</strong>nceira, entre tantas outras. Na <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de as ciências e as técnicas evoluem demaneira muito rápi<strong>da</strong>, e a Matemática é um instrumento muito valioso para seacompanhar a crescente complexi<strong>da</strong>de dos conceitos teóricos que se tor<strong>na</strong>m necessáriospara acompanhar o progresso <strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias. Desta maneira surge a necessi<strong>da</strong>de deuma Matemática ca<strong>da</strong> vez mais forte donde vem que a ciência Matemática é ensi<strong>na</strong><strong>da</strong><strong>no</strong>s <strong>no</strong>ssos dias em quase todo o mundo civilizado.A Matemática é, sem dúvi<strong>da</strong>, o ramo <strong>da</strong> ciência que melhor permite a<strong>na</strong>lisar otrabalho <strong>da</strong> mente e desenvolver um raciocínio que se aplica ao estudo de qualquer11


assunto ou temática. Contudo, pela criação de hábitos mentais de que dificilmente <strong>no</strong>sconseguimos libertar, muitas são as dificul<strong>da</strong>des que os jovens encontram <strong>no</strong> seuestudo.Da mesma forma, to<strong>da</strong>s estas <strong>no</strong>ções aparecem como se sempre tivessemexistido <strong>no</strong> pensamento huma<strong>no</strong>, origi<strong>na</strong>ndo-se não se sabe como, sem que todos seapercebam de que ela foi, e continua a ser uma constante e i<strong>na</strong>caba<strong>da</strong> criação do serhuma<strong>no</strong>.São muitos os problemas do mundo antigo que ain<strong>da</strong> hoje não têm solução e, porisso, constituem fontes incessantes de <strong>no</strong>vos conceitos. Apesar de sempre evoluir, é<strong>no</strong>tório o desenvolvimento <strong>da</strong> Matemática <strong>no</strong> século XX.Almei<strong>da</strong> (1993) acrescenta que ensi<strong>na</strong>r Matemática sem explicitar a origem e asfi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des dos conceitos é contribuir para o insucesso escolar. Sendo um dos objetivosfun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> educação criar <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> competências, hábitos e automatismos úteis,bem como desenvolver capaci<strong>da</strong>des, ele diz ain<strong>da</strong> é urgente implementar uma moder<strong>na</strong>educação Matemática, a qual estará relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com programas e métodos de ensi<strong>no</strong> - oprofessor deve saber o que ensi<strong>na</strong>r, o modo como o fazer e o porquê do que ensi<strong>na</strong>.Hoje, o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática <strong>na</strong> Educação Fun<strong>da</strong>mental é organizado em quatrograndes blocos temáticos: números e operações, espaço e forma, grandezas e medi<strong>da</strong>s etratamento <strong>da</strong> informação. Dado o caráter de um trabalho de especialização optamos,nesta pesquisa a <strong>no</strong>s restringir em espaço e forma, ou seja, <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>.12


Geometria e o seu Ensi<strong>no</strong>No início dos a<strong>no</strong>s 2000, as secretarias <strong>da</strong> educação do Município e do Estado deSão Paulo preocupados com a formação dos professores <strong>da</strong> primeira etapa do Ensi<strong>no</strong>Fun<strong>da</strong>mental que ain<strong>da</strong> não tinham graduação universitária, organizaram em conjuntocom a Universi<strong>da</strong>de de São Paulo (USP), com a Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista(UNESP) e com a Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo (PUC) organizaramum programa intitulado PEC – Formação Universitária que formou estes professoresmelhorando a quali<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>s escolas públicas desta ci<strong>da</strong>de e deste estado.De acordo com a apostila de matemática utiliza<strong>da</strong> por esse curso vamosrelacio<strong>na</strong>r, a seguir, aspectos sobre o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.Observando a <strong>na</strong>tureza e os diversos objetos criados pelo homem, <strong>no</strong>tamos que a<strong>geometria</strong> está em todos os lugares.Desde a antigui<strong>da</strong>de, a humani<strong>da</strong>de construiu conhecimentos de Geometria,como mostram, por exemplo, suas construções. As pirâmides do Egito revelam o altograu de conhecimento que os egípcios tinham <strong>da</strong> Geometria.A palavra Geometria é deriva<strong>da</strong> do grego geo que significa terra e metria, quesignifica medi<strong>da</strong>. Assim, traduzindo ao pé <strong>da</strong> letra, temos que <strong>geometria</strong> deveriasignificar medi<strong>da</strong> de terra. Esta palavra surgiu devido à primeira utilização <strong>da</strong><strong>geometria</strong> de que se tem conhecimento: a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s terras próximas ao rio Nilo, <strong>no</strong>Egito Antigo, para que os homens <strong>da</strong>quela época pudessem desenvolver a agriculturanestes locais.Como a <strong>geometria</strong> pode ser representa<strong>da</strong> através de figuras, seus conceitospodem ser facilmente entendidos pelos alu<strong>no</strong>s quando o professor usa de situaçõesproblemase de elementos concretos para o ensi<strong>no</strong> desta discipli<strong>na</strong>. Os ParâmetrosCurriculares Nacio<strong>na</strong>is (PCNs) sugerem que o enfoque dos conceitos geométricos estejaarticulado ao enfoque dos conceitos de números e medi<strong>da</strong>s e a melhor maneira de secumprir esta sugestão é através de problemas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real do estu<strong>da</strong>nte, seja ele criança,jovem ou adulto.Porém, a<strong>na</strong>lisando os livros didáticos tradicio<strong>na</strong>is, a <strong>geometria</strong> é deixa<strong>da</strong> semprepara a parte fi<strong>na</strong>l destes, o que facilita com que o professor deixe este conteúdo para ofi<strong>na</strong>l do período letivo e acabe, <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes deixando-o de lado, além de que13


dificilmente faz esta inter-relação entre a <strong>geometria</strong> e as outras áreas <strong>da</strong> matemática nãousando desta ferramenta que tanto facilitaria a seu trabalho.Outro aspecto positivo do estudo <strong>da</strong> Geometria é que este pode aju<strong>da</strong>r <strong>no</strong>desenvolvimento <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que o professor estimula seus alu<strong>no</strong>s abuscar <strong>no</strong>vos caminhos para a solução de problemas e cria condições para que os alu<strong>no</strong>scomuniquem suas idéias. De acordo com os PCNs é importante permitir ao alu<strong>no</strong> “queas definições e as proprie<strong>da</strong>des surjam de suas observações, mesmo que inicialmenteimperfeitas, para, depois, por reformulações sucessivas, obter a forma fi<strong>na</strong>l, formal econcisa”Montar e desmontar, compor e decompor figuras, recortar, dobrar, pintar, etc.são ativi<strong>da</strong>des que favorecem o desenvolvimento <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de dos alu<strong>no</strong>s, bem comoa compreensão de conceitos e princípios geométricos.Desde o início <strong>da</strong> alfabetização podemos <strong>no</strong>s apropriar dos conhecimentosanteriores dos estu<strong>da</strong>ntes quanto a figuras pla<strong>na</strong>s e figuras espaciais liga<strong>da</strong>s ao seucotidia<strong>no</strong> levando-os ao desenvolvimento <strong>da</strong> percepção e à discrimi<strong>na</strong>ção de formas.Explorando estes objetos tridimensio<strong>na</strong>is, o estu<strong>da</strong>nte pode distinguir figuras pla<strong>na</strong>s enão-pla<strong>na</strong>s, bem como estu<strong>da</strong>r os atributos definidores de figuras geométricas e suasproprie<strong>da</strong>des.No processo de ensi<strong>no</strong> e de aprendizagem é muito importante a presença deexemplos para serem fornecidos aos alu<strong>no</strong>s e que também que sejam obtidos deles, paraevitar erros de generalização. O professor deve evitar <strong>da</strong>r exemplos com modelos únicospara que o alu<strong>no</strong> não pense que ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong>quela situação vale a definição. Por exemplo,ao apresentarmos o conceito de triângulo deve-se exemplificar com vários triângulos,diferentes entre si quanto ao tamanho dos lados e quanto ao tamanho dos seus ângulos.14


O Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>na</strong> EJAA Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Educação, a Ciência e a Cultura(UNESCO) é um ramo <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU), fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 16 deNovembro de 1945, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança <strong>no</strong> mundomediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.Em 1990, a UNESCO começou o Movimento Educação Para Todos 1 que é umcompromisso mundial para promover uma educação básica de quali<strong>da</strong>de a to<strong>da</strong>s ascrianças e a todos os jovens e adultos. Esse movimento se iniciou durante a ConferênciaMundial sobre a Educação para Todos que ocorreu nesse a<strong>no</strong> em Jomtien <strong>na</strong> Tailandia.Nesta conferência, delegados de 155 países além de representantes deOrganizações Não-gover<strong>na</strong>mentais destes países tiraram metas para a educação mundialpara os dez a<strong>no</strong>s seguintes que tinham como principal objetivo tor<strong>na</strong>r a educaçãoprimária acessível a to<strong>da</strong>s as crianças do mundo.Para que esse objetivo fosse alcançado foram traça<strong>da</strong>s algumas estratégias aserem segui<strong>da</strong>s, principalmente pelos países em desenvolvimento. Inspirado nestasestratégias a Secretaria Municipal de Educação <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo lançou as trêsprimeiras proposições a seguir e acrescentou a quarta.Estas proposições foram sugeri<strong>da</strong>s por um documento lançado pela Divisão deOrientação Técnica <strong>da</strong> Educação de Jovens e Adultos (DOT-EJA) <strong>da</strong> SecretariaMunicipal de Educação, intitula<strong>da</strong>: Coleção Círculos de Formação, <strong>na</strong> qual o livro 3trataespecificamente de Matemática e é intitulado Mergulhados em Números: AMatemática <strong>na</strong> EJA em São Paulo (2004).Primeira proposição: Aprender é um processoA educação tem início <strong>no</strong> momento em que <strong>na</strong>scemos e se estende por to<strong>da</strong> avi<strong>da</strong>. Isso quer dizer que as pessoas, inclusive os educadores e os educandos, estãosempre aprendendo. E aprendendo <strong>na</strong>s mais varia<strong>da</strong>s situações. Isso implica considerarque: além de conhecimentos e representações sobre situações vivi<strong>da</strong>s ou observa<strong>da</strong>s,jovens e adultos pouco ou não escolarizados possuem valores, atitudes e crenças1 Em 2000, A UNESCO, percebendo que o objetivo traçado para 10 a<strong>no</strong>s não seria atingido por muitos países,promoveu uma <strong>no</strong>va reunião em Dacar (Senegal) e reiterou seu compromisso de promover educação para todos até2015.15


construí<strong>da</strong>s em seus percursos, pessoais; a educação e o processo de aprendizagemocorrem em diferentes momentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas, <strong>na</strong> interação com os outros.Segun<strong>da</strong> proposição: Aprender deve ter significado para osenvolvidos <strong>no</strong> processoO processo educativo deve estar conectado às necessi<strong>da</strong>des básicas <strong>da</strong>spopulações, portanto, os conteúdos ensi<strong>na</strong>dos e as aprendizagens espera<strong>da</strong>s devem levarem conta o que os jovens e os adultos precisam saber para viver de maneira ple<strong>na</strong>; asescolhas sobre o que ensi<strong>na</strong>r devem buscar soluções para os problemas do contexto emque vivem os educandos; as necessi<strong>da</strong>des de aprendizagem <strong>da</strong>s pessoas devem serinvestiga<strong>da</strong>s pelos educadores a partir do conhecimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de seus educandos e <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de dos locais em que vivem, tal investigação também deve ser feita pelospróprios educandos a partir <strong>da</strong> identificação dos problemas que os afetam e <strong>da</strong> busca desoluções para eles.Terceira proposição: aprender é o foco do processo educativoA aprendizagem deve ter lugar central <strong>no</strong> processo educativo. Desta maneira, oeducador deve criar varia<strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de aprendizagem, em vez de cumprir listasde conteúdos e de reproduzir práticas de ensi<strong>no</strong> tradicio<strong>na</strong>is; valorizar os saberesprévios que os jovens e adultos possuem e que são adquiridos em suas trajetórias devi<strong>da</strong> e considerar que se aprende muito mais do que aquilo que se deseja ensi<strong>na</strong>r.Quarta proposição: o papel do educador é fun<strong>da</strong>mental comomediador do processo, assim deve possuir competênciasespecíficas desta profissãoÉ necessário conhecer Matemática para poder conectá-la ao que os educandosconsideram necessário aprender e, com isso, informar, formando. Isso quer dizer que,para fazer escolhas sobre quais aprendizagens são úteis e necessárias à vi<strong>da</strong> e sobrecomo a Matemática pode colaborar para o desenvolvimento ple<strong>no</strong> <strong>da</strong>s pessoas, é precisoque o educador conheça os objetos de que se ocupa a Matemática e possa a<strong>da</strong>ptá-lospara alcançar a aprendizagem; que se estabeleçam conexões entre os conteúdos <strong>da</strong>Matemática e o cotidia<strong>no</strong>, os saberes e as necessi<strong>da</strong>des de aprendizagem dos educandos;16


que se redefi<strong>na</strong> o papel do educador, visto não mais como aquele que expõe e transmiteconhecimentos, mas como organizador <strong>da</strong>s aprendizagens. Para desempenhar este papel,ele precisa conhecer as condições de vi<strong>da</strong> de seus educandos, o contexto em que vivem,seus saberes prévios, suas expectativas e necessi<strong>da</strong>des de aprendizagem. Assim, poderáescolher conteúdos e ativi<strong>da</strong>des que possibilitem o alcance dos objetivos deaprendizagem traçados. O educador também é animador do processo de aprendizagem.Ele estimula a comunicação, a sistematização e a formulação de propostas por parte doseducandos e a cooperação entre todos; e fi<strong>na</strong>lmente que se redefi<strong>na</strong> o papel doeducando, para que ele seja capaz de fazer escolhas sobre o que quer aprender, a partirde seus saberes prévios e de suas reais necessi<strong>da</strong>des. Ele deixa de ser aquele que <strong>na</strong><strong>da</strong>sabe, capaz somente de receber informações produzi<strong>da</strong>s, para ocupar um lugar central<strong>na</strong>s escolhas sobre o que e como estu<strong>da</strong>r, compartilhando este lugar com os educadores.Considerando estas quatro proposições como eixos orientadores para elaboraçãode programas pode-se sugerir que o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática para Jovens e Adultos sejaelaborado levando-as em consideração e é a partir delas que a<strong>na</strong>lisaremos a seguir o que<strong>no</strong>s diz a literatura oficial a respeito do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, em particular <strong>da</strong><strong>geometria</strong> e logo após, estu<strong>da</strong>remos algumas teorias e propostas que a<strong>na</strong>lisam como oalu<strong>no</strong> aprende Matemática e o papel do professor neste aprendizado.Ao fi<strong>na</strong>l do trabalho usaremos esta literatura estu<strong>da</strong><strong>da</strong> para a<strong>na</strong>lisar a prática deuma professora de EJA e o desempenho dos seus alu<strong>no</strong>s com o intuito de melhorar aprática <strong>da</strong> professora e a aprendizagem destes alu<strong>no</strong>s.17


A Legislação Oficial e o Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> MatemáticaCom o intuito de situar o que se espera que o alu<strong>no</strong> apren<strong>da</strong> <strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> dematemática, particularmente em <strong>geometria</strong>, desenvolvemos um breve pa<strong>no</strong>rama dosdocumentos oficiais que regem o currículo.O primeiro documento a ser a<strong>na</strong>lisado são os Parâmetros Curriculares Nacio<strong>na</strong>ispara o Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental (PCNs), em segui<strong>da</strong> a<strong>na</strong>lisaremos um dos documentos queresultaram do Encontro Nacio<strong>na</strong>l de Certificação de Competências de Jovens e Adultos(ENCCEJA) e por último a<strong>na</strong>lisaremos um documento que a Secretaria Municipal deEducação <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo enviou às escolas municipais dessa ci<strong>da</strong>de <strong>no</strong> iníciode 2007 e que diz o que essa secretaria espera que os professores dessas escolasensinem <strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> de Matemática para os alu<strong>no</strong>s do Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.Faremos estas análises sempre com o foco <strong>no</strong>s conteúdos de <strong>geometria</strong>.A Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental Segundo os PCNs“Não se pode ensi<strong>na</strong>r alguma coisa a alguém, pode-seape<strong>na</strong>s auxiliar a descobrir por si mesmo”. (GalileuGalilei)Faremos a seguir um breve relato sobre o que dizem os Parâmetros CurricularesNacio<strong>na</strong>is (PCNs) sobre o Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.Após muitas discussões ocorri<strong>da</strong>s tanto dentro como fora do Brasil a respeito docrescente uso <strong>da</strong> matemática, <strong>no</strong>s diversos ramos de ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moder<strong>na</strong>,chegou-se à conclusão de que seria necessária sua adequação à <strong>no</strong>va socie<strong>da</strong>de que vemse formando. Estas discussões geraram análises e revisões <strong>no</strong> Currículo <strong>da</strong> Matemática<strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.Para entender melhor estas <strong>no</strong>vas propostas é necessário conhecer a trajetória<strong>da</strong>s reformas curriculares ocorri<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s e também a<strong>na</strong>lisar brevemente oquadro atual de ensi<strong>no</strong> de Matemática <strong>no</strong> Brasil.18


O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática <strong>no</strong> Brasil sempre teve um caráter elitista 2 e mesmo asreformas curriculares que aconteceram a partir dos a<strong>no</strong>s 1920 não tiveram forçasuficiente para mu<strong>da</strong>r este quadro. A prática dos professores de matemática continuousendo elitista e com um alto índice de retenção, apesar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças propostas a ca<strong>da</strong>reforma que ocorria. Ain<strong>da</strong> hoje a prática docente nessa área é marca<strong>da</strong> pelaformalização precoce de conceitos, pela excessiva preocupação com o trei<strong>no</strong> dehabili<strong>da</strong>des e mecanização de processos sem compreensão.A partir dos a<strong>no</strong>s de 1960/1970, surge o movimento <strong>da</strong> Matemática Moder<strong>na</strong>que influencia o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática não só <strong>no</strong> Brasil como em outros países também.A Matemática Moder<strong>na</strong> surgiu atrela<strong>da</strong> a uma política de modernização econômica emque, juntamente com o ensi<strong>no</strong> de Ciências, ela constituía uma via de acesso para opensamento científico e tec<strong>no</strong>lógico. Desta maneira, para atingir estes objetivosprocurou-se aproximar a matemática desenvolvi<strong>da</strong> <strong>na</strong> escola à matemática vista peloângulo de estudiosos e pesquisadores.Com esta proposta, a matemática passa a fun<strong>da</strong>mentar-se em grandes estruturasque organizam o conhecimento matemático contemporâneo com ênfase <strong>na</strong> teoria dosconjuntos, <strong>na</strong>s estruturas algébricas, <strong>na</strong> topologia, etc. A partir deste movimento muitasdiscussões e reformas curriculares surgiram não só <strong>no</strong> Brasil como em muitos outrospaíses do mundo.Apesar de to<strong>da</strong> esta discussão e de to<strong>da</strong>s estas propostas de reformas, deixou-sede considerar o principal: este currículo estava fora do alcance dos alu<strong>no</strong>s, em geral,principalmente dos alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s séries iniciais do Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental e o excesso deformalização necessário para este tipo de ensi<strong>no</strong> fez com que a Matemática sedistanciasse ca<strong>da</strong> vez mais <strong>da</strong>s questões práticas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A linguagem <strong>da</strong> teoria dosconjuntos, por exemplo, dá ênfase ao uso de símbolos e a sua termi<strong>no</strong>logia complexacompromete o aprendizado do cálculo aritmético, <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s e de outrostópicos relacio<strong>na</strong>dos com estes.No Brasil, o movimento Matemática Moder<strong>na</strong>, que era levado para osprofessores e alu<strong>no</strong>s principalmente pelos livros didáticos, teve grande influência,durante longo período, só gerando discussões a respeito depois de algum tempo a partir2 Entendemos por educação de caráter elitista aquela educação que é para poucos, que tem características quelevam os alu<strong>no</strong>s a desistir de estu<strong>da</strong>r seja abando<strong>na</strong>ndo a escola, seja ape<strong>na</strong>s freqüentando-a sem aprender somentea espera do diploma que a progressão continua<strong>da</strong> uma dia lhe <strong>da</strong>rá.19


<strong>da</strong> constatação de i<strong>na</strong>dequação de alguns de seus princípios básicos e <strong>da</strong>s distorções edos exageros ocorridos.Em 1980, o Natio<strong>na</strong>l Council of Teachers of Mathematics (NCTM) dos EstadosUnidos apresentou recomen<strong>da</strong>ções para o ensi<strong>no</strong> de Matemática <strong>no</strong> documento “Agen<strong>da</strong>para Ação 2”. Nele, o foco do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática volta-se para a resolução deproblemas para os a<strong>no</strong>s 80. Este documento trazia também uma tendência àcompreensão <strong>da</strong> relevância de aspectos sociais, antropológicos, lingüísticos, além doscognitivos, <strong>na</strong> aprendizagem <strong>da</strong> Matemática e imprimiu <strong>no</strong>vos rumos às discussõescurriculares nesta área de conhecimento.Essas idéias influenciaram as reformas que ocorreram em todo o mundo, a partirde então. As propostas elabora<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período 1980/1995, em diferentes países,apresentaram pontos em comum, como:• O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática passa a ser visto como o caminho para a aquisição decompetências básicas necessárias à formação de ci<strong>da</strong>dãos e não ape<strong>na</strong>s volta<strong>da</strong>spara a preparação de estudos posteriores;• O papel do alu<strong>no</strong> passa a ser de suma importância <strong>na</strong> construção do seuconhecimento;• Enfatiza-se muito a resolução de problemas, <strong>na</strong> exploração <strong>da</strong> Matemática apartir dos problemas vividos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> e encontrados <strong>na</strong>s várias discipli<strong>na</strong>s;• Passa a ser importante o trabalho com uma quanti<strong>da</strong>de maior de conteúdos,incluindo já <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, por exemplo, elementos de estatística,probabili<strong>da</strong>de e combi<strong>na</strong>tória para atender à deman<strong>da</strong> social que indica anecessi<strong>da</strong>de de abor<strong>da</strong>r esses assuntos;• Considera-se a necessi<strong>da</strong>de de levar os alu<strong>no</strong>s a compreender a importância douso <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia e a acompanhar sua permanente re<strong>no</strong>vação.No Brasil, essas idéias vêm sendo discuti<strong>da</strong>s e algumas aparecem <strong>na</strong>s propostascurriculares de Secretarias de Estado e Secretarias Municipais de Educação, sendo quetemos exemplos de experiências bem sucedi<strong>da</strong>s nesse sentido. No entanto, é importantesalientar que ain<strong>da</strong> hoje <strong>no</strong>ta-se, por exemplo, a insistência <strong>no</strong> trabalho com alinguagem <strong>da</strong> teoria dos conjuntos <strong>na</strong>s séries iniciais, a formalização precoce deconceitos, o predomínio absoluto <strong>da</strong> Álgebra <strong>na</strong>s séries fi<strong>na</strong>is e as poucas aplicaçõespráticas <strong>da</strong> Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.20


A análise <strong>da</strong>s propostas curriculares oficiais, realiza<strong>da</strong> em 1995 pela Fun<strong>da</strong>çãoCarlos Chagas, mostra-<strong>no</strong>s que algumas propostas curriculares estaduais e municipaiselabora<strong>da</strong>s recentemente ain<strong>da</strong> sofrem a influência desta proposta tecnicista. Nelas, aFun<strong>da</strong>ção concluiu que os currículos se dividem em duas grandes famílias: os que sãobaseados totalmente <strong>na</strong> Teoria dos Conjuntos e os que reduziram seu uso ao mínimo.No entanto, estas propostas curriculares mais recentes ain<strong>da</strong> são desconheci<strong>da</strong>s<strong>da</strong> maioria dos professores que também não têm conhecimento claro sobre quais fatoresmotivaram as reformas. O que se vê, em geral, são ótimas e i<strong>no</strong>vadoras idéias ficarem<strong>no</strong> papel, não serem incorpora<strong>da</strong>s ou ain<strong>da</strong> serem incorpora<strong>da</strong>s de maneira superficial ei<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong> pelos professores, fazendo com que as mu<strong>da</strong>nças deseja<strong>da</strong>s não ocorram ouocorram ape<strong>na</strong>s parcialmente.Quadro Atual do Ensi<strong>no</strong> de Matemática <strong>no</strong> BrasilMuitos são os obstáculos que o Brasil tem enfrentado em relação ao ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>Matemática, entre eles estão: falta de uma formação profissio<strong>na</strong>l qualifica<strong>da</strong>, restriçõesliga<strong>da</strong>s às condições de trabalho, ausência de políticas educacio<strong>na</strong>is efetivas einterpretações equivoca<strong>da</strong>s de concepções pe<strong>da</strong>gógicas.Porém, muito tem sido feito para melhorar esta situação, muita coisa inclusivecom sucesso. Algumas escolas têm elaborado projetos educativos que atendem osinteresses e necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Existem também professores que cominiciativas individuais ou em peque<strong>no</strong>s grupos vão à busca de conhecimentos que levamà reflexão e ao desenvolvimento de práticas pe<strong>da</strong>gógicas mais eficientes para ensi<strong>na</strong>rMatemática.Em paralelo a isso, algumas universi<strong>da</strong>des, secretarias <strong>da</strong> educação e outrasinstituições têm se preocupado em elaborar materiais de apoio para a prática doprofessor. Mas, essas iniciativas, embora de grande valor pe<strong>da</strong>gógico, não chegaramain<strong>da</strong> a alterar de modo favorável o quadro do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>no</strong> Brasil. Aformação inicial e a formação continua<strong>da</strong> do professor de matemática ain<strong>da</strong> éinsatisfatória, o que leva estes professores a se apoiar quase que exclusivamente <strong>no</strong>slivros didáticos que, em muitos casos, não possuem a quali<strong>da</strong>de necessária para servirde apoio para boas aulas.Outro aspecto que é responsável pela baixa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aulas de matemática éa interpretação equivoca<strong>da</strong> de concepções pe<strong>da</strong>gógicas i<strong>no</strong>vadoras que aparecem em21


muitas destas <strong>no</strong>vas propostas. Por exemplo, a resolução de problemas que é o eixo<strong>no</strong>rteador <strong>da</strong> maioria destas <strong>no</strong>vas propostas ain<strong>da</strong> é usa<strong>da</strong> de maneira i<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong> <strong>na</strong>forma de listas e<strong>no</strong>rmes que usam única e exclusivamente a aplicação de técnicas e amemorização de conceitos que são aplica<strong>da</strong>s paralelamente ao ensi<strong>no</strong> tradicio<strong>na</strong>l.Outro equívoco que se apresenta com freqüência é a concepção linear do ensi<strong>no</strong><strong>da</strong> matemática, que, por vezes traz dúvi<strong>da</strong>s quanto ao ponto de parti<strong>da</strong> para e ensi<strong>no</strong> dosconteúdos e que leva à opção pelos fun<strong>da</strong>mentos de ca<strong>da</strong> teoria e que, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong><strong>geometria</strong>, usa como referência inicial as <strong>no</strong>ções de ponto, reta e pla<strong>no</strong>, <strong>no</strong>ções estasque exigem demais <strong>da</strong> abstração do alu<strong>no</strong> além de dificilmente se ligarem aosconhecimentos anteriores ligados à vi<strong>da</strong> do alu<strong>no</strong>.Algumas recomen<strong>da</strong>ções são feitas aos professores <strong>no</strong> sentido de que osconteúdos sejam selecio<strong>na</strong>dos de modo a potencializar a aprendizagem <strong>da</strong>s idéiasfun<strong>da</strong>mentais para a instrumentação para a vi<strong>da</strong> ou ain<strong>da</strong> para desenvolver a forma depensar do alu<strong>no</strong>, mas nem sempre são observa<strong>da</strong>s pelos mesmos. Outra recomen<strong>da</strong>çãoque muitas vezes não é acata<strong>da</strong> é sobre a organização dos conteúdos que não deveriamser organizados de forma hierarquiza<strong>da</strong> e pela idéia de pré-requisitos, ou ain<strong>da</strong> de formaisola<strong>da</strong>, apresentados e esgotados em um único momento. O ideal seria que osconteúdos de matemática fossem desenvolvidos por etapas ao decorrer do curso,aprofun<strong>da</strong>ndo-se a ca<strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> sempre fun<strong>da</strong>mentado e atrelado às vivênciasanteriores do alu<strong>no</strong> e fazendo-se conexões com outros conhecimentos do dia-a-dia,construindo, desta forma significados.Outra questão a ser a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong> é a que diz respeito à contextualização dosconteúdos que não deve se limitar às ativi<strong>da</strong>des do dia-a-dia do alu<strong>no</strong>, ma também deveser realiza<strong>da</strong> em conexão com outros aspectos <strong>da</strong> própria matemática ou ain<strong>da</strong> de outrosramos <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong> história e do conhecimento em geral.O ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Matemática também é de vital importância paraproporcio<strong>na</strong>r o entendimento mais amplo dos conteúdos matemáticos e suas aplicações.Ela deveria se tor<strong>na</strong>r um assunto específico a ser tratado <strong>na</strong>s aulas de matemática, ouseja, um dos conteúdos a fazer parte do planejamento nesta discipli<strong>na</strong> tomando-se ocui<strong>da</strong>do de não limitá-la a ser ape<strong>na</strong>s a apresentação de fatos ou biografias dematemáticos famosos.O uso de recursos didáticos também deve ser melhor especificado <strong>na</strong>s propostascurriculares pois nem sempre são claras aos olhos dos professores gerando, muitas22


vezes expectativas indevi<strong>da</strong>s e resultados fi<strong>na</strong>is desastrosos quanto ao desempenho dosalu<strong>no</strong>s nesta discipli<strong>na</strong>.Levando-se em consideração as provas aplica<strong>da</strong>s pelo Sistema Nacio<strong>na</strong>l deAvaliação Escolar <strong>da</strong> Educação Básica (SAEB) <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1993 e 1995, o desempenho<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> de matemática diminui quando aumenta o número de a<strong>no</strong>s deescolarização destes alu<strong>no</strong>s o que <strong>no</strong>s leva a concluir que <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemáticaexistem problemas antigos e problemas <strong>no</strong>vos a serem resolvidos, ou seja, não basta quesejam feitas <strong>no</strong>vas propostas de ensi<strong>no</strong> se elas não forem aplica<strong>da</strong>s adequa<strong>da</strong>mente.O conhecimento matemáticoPara que possamos propor um currículo de Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mentalé necessário inicialmente discutir a <strong>na</strong>tureza desse conhecimento e refletir acerca desuas principais características e de seus métodos particulares, de modo a conhecer seupapel <strong>no</strong> currículo a fim de contribuir para a formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Principais característicasA matemática é uma ciência viva que deve ser usa<strong>da</strong> como forma decompreender e atuar <strong>no</strong> mundo.Existem duas maneira indissociáveis de se impulsio<strong>na</strong>r o trabalho emmatemática: uma delas é pelas aplicações às mais varia<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des huma<strong>na</strong>s, desde asmais simples <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> até as mais complexas <strong>na</strong> elaboração de outras ciências ea outra maneira de se impulsioná-la é a partir <strong>da</strong> especulação pura, ou seja, a busca derespostas para questões gera<strong>da</strong>s pela própria Matemática.Além disso, o aspecto estético merece atenção, como <strong>no</strong>s trabalhos com o ensi<strong>no</strong>inicial de <strong>geometria</strong> onde sistemas abstratos ideais organizam-se e se inter-relacio<strong>na</strong>mrevelando fenôme<strong>no</strong>s do espaço, do movimento, <strong>da</strong>s formas e dos números, associadosquase sempre a fenôme<strong>no</strong>s do mundo físico.Mu<strong>da</strong>nças de paradigmas também surgem com a evolução destas teorias, comoocorreu, por exemplo, quando se superou a visão de uma única <strong>geometria</strong>, a euclidia<strong>na</strong>,com o surgimento dos modelos geométricos não-euclidea<strong>no</strong>s que são logicamenteconsistentes e que podem modelar a reali<strong>da</strong>de do espaço físico.23


Vale a pe<strong>na</strong> lembrar que a matemática que conhecemos hoje surgiu <strong>no</strong> períodode 700 a.C. a 300 d.C. e que só atingiu a sua maturi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> fi<strong>na</strong>l do século XIX, com osurgimento <strong>da</strong> Teoria dos Conjuntos e o desenvolvimento <strong>da</strong> Lógica Matemática.Convém também ressaltar que existem inúmeras teorias matemáticas que porcaminhos diferentes relacio<strong>na</strong>m-se com o mundo físico, além de que o relacio<strong>na</strong>mentocom o acaso tor<strong>no</strong>u-se maior <strong>no</strong> mundo atual com o advento <strong>da</strong> era <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong>automação que tor<strong>na</strong>ram os cálculos numéricos e algébricos mais rápidos e precisos, oque aumentou as <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> de resolução de problemas que hoje podem serabor<strong>da</strong>dos e resolvidos usando-se o conhecimento matemático.Objetivos gerais para o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mentalSegundo os PCNs (1998), as fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática visando aconstrução <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia indicam como objetivos do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental levar o alu<strong>no</strong> a:• Identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender etransformar o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual,característico <strong>da</strong> Matemática, como aspecto que estimula o interesse, acuriosi<strong>da</strong>de, o espírito de investigação e o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de pararesolver problemas;• Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de, estabelecendo inter-relações entre eles, utilizando o conhecimentomatemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico,combi<strong>na</strong>tório, probabilístico);• Selecio<strong>na</strong>r, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las eavaliá-las criticamente;• Resolver situações-problema, sabendo vali<strong>da</strong>r estratégias e resultados,desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como intuição, indução,dedução, a<strong>na</strong>logia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentosmatemáticos, bem como instrumentos tec<strong>no</strong>lógicos disponíveis;• Comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentarresultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso <strong>da</strong>linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representaçõesmatemáticas;• Estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entreesses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares;• Sentir-se seguro <strong>da</strong> própria capaci<strong>da</strong>de de construir conhecimentosmatemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a perseverança <strong>na</strong> busca desoluções;• Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente <strong>na</strong>busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectosconsensuais ou não <strong>na</strong> discussão de um assunto, respeitando o modo de pensardos colegas e aprendendo com eles.24


Seleção de ConteúdosAtualmente, há consenso acerca dos currículos de Matemática para o Ensi<strong>no</strong>Fun<strong>da</strong>mental devam contemplar o estudo dos números e <strong>da</strong>s operações (<strong>no</strong> campo <strong>da</strong>Aritmética e <strong>da</strong> Álgebra), o estudo do espaço e <strong>da</strong>s formas (<strong>no</strong> campo <strong>da</strong> Geometria) e oestudo <strong>da</strong>s grandezas e <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s (que permite interligações entre os campos <strong>da</strong>Aritmética, <strong>da</strong> Álgebra, e <strong>da</strong> Geometria e de outros campos do conhecimento). Umolhar mais atento para <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de mostra a necessi<strong>da</strong>de de acrescentar a essesconteúdos aqueles que permitam ao ci<strong>da</strong>dão tratar as informações que recebecotidia<strong>na</strong>mente, aprendendo a li<strong>da</strong>r com <strong>da</strong>dos estatísticos, tabelas e gráficos e aracioci<strong>na</strong>r utilizando idéias relativas à probabili<strong>da</strong>de e à combi<strong>na</strong>tória.O estudo do espaço e <strong>da</strong> forma é necessário, devido às <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> deocupação do espaço, com a localização e deslocamento de objetos <strong>no</strong> espaço, vistos sobdiferentes ângulos, em virtude de que situações cotidia<strong>na</strong>s e também muitas profissõescomo a engenharia, a arquitetura, a decoração, a bioquímica, a mecânica, etc., quenecessitam de um pensamento geométrico e <strong>da</strong> observação do espaço tridimensio<strong>na</strong>l.No entanto, o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, <strong>na</strong> educação tradicio<strong>na</strong>l é deixado parasegundo pla<strong>no</strong> e muitas vezes confundido com o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s o que é ruim, hajavista a possibili<strong>da</strong>de que ela proporcio<strong>na</strong> de desenvolver um pensamento particular queaju<strong>da</strong> a compreender, organizar e descrever o mundo em que se vive. Além de ser umcampo fértil para o aprendizado a partir <strong>da</strong> resolução de situações-problemas devido aodesenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de argumentar e construir demonstrações.A aprendizagem <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> desenvolve as habili<strong>da</strong>des de percepção espacial,de elaboração de um sistema de proprie<strong>da</strong>des geométricas e também de uma linguagemque permita agir nesse modelo e a permita codificação e decodificação de desenhos.Para desenvolver estas habili<strong>da</strong>des, o documento sugere ativi<strong>da</strong>des tais comoelaboração de mapas geográficos fazendo a relação entre as coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s cartesia<strong>na</strong>s eas coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s geográficas, a confecção de maquetes tridimensio<strong>na</strong>is e ativi<strong>da</strong>des declassificação de figuras geométricas com base <strong>na</strong> observação de suas proprie<strong>da</strong>des eregulari<strong>da</strong>des, além de ativi<strong>da</strong>des de ladrilhamentos, tangrans e poliminós, ativi<strong>da</strong>desestas que num segundo momento servirão de trampolim para o estudo <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s. Ouso de softwares específicos também é recomen<strong>da</strong>do.25


O estudo de temas geométricos possibilita ain<strong>da</strong> a exploração de interessantesaspectos históricos uma vez que sabemos que a Geometria é um dos ramos mais antigos<strong>da</strong> Matemática e que se desenvolveu em função de necessi<strong>da</strong>des huma<strong>na</strong>s.Notamos que dentro dos PCNs não há um item específico que trate <strong>da</strong> seleção deconteúdos para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> <strong>na</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA. No entanto há o documentoque surgiu durante o Encontro Nacio<strong>na</strong>l de Certificação de Competências de Jovens eAdultos (ENCCEJA) que trata dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong> e será a<strong>na</strong>lisado <strong>na</strong>seqüência. Há também o documento expedido pela Secretaria <strong>da</strong> Educação <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de deSão Paulo e enviado para as escolas municipais desta ci<strong>da</strong>de <strong>no</strong> início de 2007. Nessedocumento essa Secretaria discute o que espera que seja ensi<strong>na</strong>do sobre matemáticanessas escolas. A partir destes três documentos procuraremos fazer uma a<strong>da</strong>ptação dosconteúdos e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des a serem utiliza<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s aulas de <strong>geometria</strong> <strong>na</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>deEJA, uma vez que não existe um documento específico que trate deste assunto.A Matemática segundo o ENCCEJAEm 2002, o Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC) e o Instituto Nacio<strong>na</strong>l de Estudos ePesquisas Educacio<strong>na</strong>is Anísio Teixeira (INEP) organizaram o Encontro Nacio<strong>na</strong>l deCertificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) que gerou uma série dedocumentos com referenciais para a Educação de Jovens e Adultos. Entre eles, temos oLivro Introdutório: Documento Básico de onde tiraremos algumas diretrizesrelacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s ao ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> EJA.Segundo esse documento, o aprender matemática é um direito básico dessesjovens e adultos e, portanto o papel desta área de conhecimento é atender suasnecessi<strong>da</strong>des individuais e sociais. A falta de domínio do pensamento matemáticadificulta o acesso às posições de trabalho, uma vez que a <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de depende ca<strong>da</strong>vez mais do conhecimento tec<strong>no</strong>lógico.Segundo o documento, quando se pensa a educação matemática e suaapropriação por jovens a adultos com pouca escolarização, temos que:• Jovens e adultos têm o direito de se apropriar de conhecimentos matemáticospara não serem discrimi<strong>na</strong>dos, inferiorizados;• Jovens e adultos têm o direito de se apropriar de conhecimentos matemáticos, deforma coerente e compatível com os saberes que construíram ao longo de suavivência.26


Desta forma, a Matemática ensi<strong>na</strong><strong>da</strong> deve ter por um lado, um caráter práticopara que este sujeito possa utilizá-la <strong>no</strong>s problemas do seu dia-a-dia, e por outro ladodeve contribuir para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico-matemático.Quanto maior a quanti<strong>da</strong>de de conhecimentos trabalhados com estes alu<strong>no</strong>s,maior será a contribuição <strong>no</strong> sentido de torná-los ci<strong>da</strong>dãos inseridos <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e <strong>no</strong>mundo <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia e do trabalho. Desta forma, não se deve restringir o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>Matemática ao ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> aritmética e a álgebra, mas também à <strong>geometria</strong>, ao estudo <strong>da</strong>smedi<strong>da</strong>s e também a ativi<strong>da</strong>des que envolvam o raciocínio combi<strong>na</strong>tório e probabilísticoe às análises estatísticas.Além disso, o alu<strong>no</strong> deve adquirir competências que o levem a estimarresultados e a usar a tec<strong>no</strong>logia disponível, como por exemplo, <strong>no</strong> uso <strong>da</strong>s calculadoraseletrônicas e do computador.Um aspecto importante é o que envolve a contribuição <strong>da</strong>s aulas de matemática<strong>na</strong> aprendizagem e domínio <strong>da</strong> língua mater<strong>na</strong>. Desta forma, sempre que possível, oprofessor de Matemática deve apresentar situações onde o alu<strong>no</strong> deve ler e interpretarproblemas com situações matemáticas por meio do raciocínio e também sugerir que oalu<strong>no</strong> elabore peque<strong>no</strong>s textos ou ain<strong>da</strong> relatórios, em que ele tenha que trei<strong>na</strong>r o ler e oescrever mesmo que esteja neste momento aprendendo Matemática.Ao resolver problemas matemáticos, os alu<strong>no</strong>s descobrem-se capazes deracioci<strong>na</strong>r e encontrar soluções diante de desafios não só matemáticos, mas do seucotidia<strong>no</strong> também, possibilitando o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia em sua plenitude.Concluindo, para dimensio<strong>na</strong>r o papel <strong>da</strong> matemática <strong>na</strong> formação de um jovemou de um adulto é importante que se discuta, de um lado, a <strong>na</strong>tureza desseconhecimento, suas características principais e seus métodos particulares; de outro, éfun<strong>da</strong>mental discutir suas articulações com outras áreas de conhecimento e suas efetivascontribuições para a formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e para a constituição de sujeitos <strong>da</strong>aprendizagem.Matrizes de MatemáticaA Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mentalNo início de 2007, a Secretaria de Educação <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo enviou paraas Escolas Municipais de Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental dessa ci<strong>da</strong>de um documento intitulado:27


Matrizes de Matemática, a Matemática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental que, entre outras coisas,mostra o foco que o Ministério <strong>da</strong> Educação espera que se dê ao Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática<strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.Este documento diz que a Matemática como um corpo estático e acabado deconhecimentos produzidos por algumas cabeças geniais, foi reavalia<strong>da</strong> e que desdemeados do século passado considera-se a interdependência <strong>da</strong> matemática com as outrasáreas de conhecimento. Diz ain<strong>da</strong> que a Matemática deva ser considera<strong>da</strong> como aconstrução do conhecimento que trata <strong>da</strong>s relações qualitativas e quantitativas entreespaço e tempo e que esta é uma ativi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong> que trata de padrões, <strong>da</strong> resolução deproblemas, do raciocínio lógico, etc., <strong>na</strong> tentativa de compreender o mundo e fazer usodeste conhecimento.Segundo este documento, a grande maioria <strong>da</strong>s profissões e trabalhos técnicosexige conhecimentos de Matemática, ou seja, desenvolver competências matemáticas éparte fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> Educação <strong>da</strong>s crianças, pois as idéias e os conceitos matemáticossão ferramentas para atuar sobre a reali<strong>da</strong>de e o mundo que as cerca. O conceito decompetência dá ênfase ao que o alu<strong>no</strong> é capaz de fazer com os conhecimentos queadquiriu muito mais do que o domínio formal dos conceitos.A alfabetização Matemática deve fornecer competências para que o alu<strong>no</strong> sejacapaz de a<strong>na</strong>lisar, racioci<strong>na</strong>r e comunicar o enunciado, a formular e a resolverproblemas em contextos e situações as mais diversas. Desta forma, ao térmi<strong>no</strong> doEnsi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental, o alu<strong>no</strong> deverá ser capaz de utilizar o que aprendeu em situaçõesusuais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> e não se restringir ape<strong>na</strong>s a mostrar o conhecimento dosconteúdos desenvolvidos em suas aulas.Assim sendo, o documento sugere que se ensine a Matemática organiza<strong>da</strong> demodo a atender as grandes áreas temáticas: números e operações, espaço e forma,grandezas e medi<strong>da</strong>s e tratamento <strong>da</strong> informação.Como <strong>no</strong>sso foco é a <strong>geometria</strong>, vamos transcrever o que o documento diz arespeito do item “Espaço e Forma”.Em Espaço e Forma – em geral vinculados à Geometria, trabalham-secom fenôme<strong>no</strong>s e relações geométricas e espaciais, levando o alu<strong>no</strong> aobservar semelhanças e diferenças, a<strong>na</strong>lisar os componentes <strong>da</strong>s formas,reconhecê-las em suas diferentes representações e dimensões, entenderas proprie<strong>da</strong>des e as posições relativas dos objetos. As formas podem ser28


considera<strong>da</strong>s como “regulari<strong>da</strong>des” e, as regulari<strong>da</strong>des se encontramem to<strong>da</strong> parte – <strong>na</strong> fala, <strong>na</strong> escrita, <strong>no</strong> tráfego, <strong>na</strong>s construções, <strong>na</strong>música, <strong>na</strong>s folhas de árvores, <strong>no</strong>s edifícios, <strong>na</strong> arte, etc.O estudo <strong>da</strong>s formas, intimamente ligado ao conceito de “percepçãoespacial” implica em aprender a reconhecer, explorar e mover-se commaior conhecimento <strong>no</strong> espaço em que se vive; entender a representaçãoem duas dimensões dos objetos tridimensio<strong>na</strong>is; entender e interpretar assombras; compreender o que é perspectiva e como funcio<strong>na</strong>; entender arelação entre formas e imagens ou representações visuais, por exemplo,as relações entre um objeto e sua fotografia.A seguir a<strong>na</strong>lisaremos o que dizem alguns autores sobre o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemáticae <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> para <strong>no</strong> fi<strong>na</strong>l, a<strong>na</strong>lisar as ativi<strong>da</strong>des dos alu<strong>no</strong>s, verificar as dificul<strong>da</strong>dese sugerir as <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> <strong>na</strong> EJA.29


Competências do Pensamento GeométricoExiste uma complexi<strong>da</strong>de tocante às relações entre Geometria como campounicamente <strong>da</strong> Matemática e como análise do espaço que <strong>no</strong>s cerca.A <strong>geometria</strong>, li<strong>da</strong> com relações entre objetos reais, objetos teóricos e sua origem,está em trabalhos práticos reais e, ao mesmo tempo, em teorias abstratas.A idéia de simetria, por exemplo, podemos encontrá-la <strong>no</strong> artesa<strong>na</strong>to de diversasculturas, mas também <strong>na</strong> matemática ela é interpreta<strong>da</strong> como transformações de pontos<strong>no</strong> pla<strong>no</strong>.Muitos profissio<strong>na</strong>is, tais como vidraceiros e carpinteiros usam <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>empiricamente, apesar de seus conhecimentos poderem ser comprovados teoricamente.Existem algumas competências necessárias para se estabelecer o pensamentogeométrico, tais como: experimentar, conjecturar, representar, estabelecer relações,comunicar, argumentar e vali<strong>da</strong>r.A seguir detalharemos essas competências, segundo as considerações <strong>da</strong> apostilado PEC (2002) bem como o modelo Van Hiele (1994) para o pensamento geométrico.O Experimentar como CompetênciaExperimentar significa “pôr a prova”. Um professor pode oferecer materiaisconcretos ao alu<strong>no</strong> para que ele chegue, por meio de experiências como manipulação,contemplação e também de conjecturas para chegar aos conceitos geométricos e até ageneralizações váli<strong>da</strong>s.Um bom exemplo seria o de um professor oferecendo várias varetas detamanhos diversos para que os alu<strong>no</strong>s construam triângulos. A partir de tentativas osalu<strong>no</strong>s poderão chegar a conclusões importantes que relacio<strong>na</strong>m o tamanho dos lados ea possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> construção de triângulos a partir destes.Neste momento, é importante que o professor deixe claro que essas conjecturaslevam a generalizações e conceituações. Além disso, elas só podem ser aceitas quandodemonstra<strong>da</strong>s formalmente e que a ciência se desenvolveu com o passar do tempo destaforma. É importante considerar, ain<strong>da</strong> que inicialmente e intuitivamente, que ametodologia científica vali<strong>da</strong> os experimentos e conjecturas via demonstraçõesrigorosas.30


O Modelo Van Hiele de Desenvolvimento do PensamentoGeométricoSegundo Crowley (1994), o método desenvolvido pelo casal Di<strong>na</strong> van Hiele-Geldof e Pierre van Hiele 3 pode ser utilizado para medir o nível de maturi<strong>da</strong>degeométrica do alu<strong>no</strong>. Este método foi o resultado <strong>da</strong>s teses de doutoramento do casalfi<strong>na</strong>lizados simultaneamente <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Utrech.Esse modelo sugere que os alu<strong>no</strong>s progridem segundo uma seqüência de níveisde compreensão de conceitos. O progresso para o nível seguinte se dá pela vivência deativi<strong>da</strong>des adequa<strong>da</strong>s.Segundo Van Hiele, ca<strong>da</strong> nível de aprendizagem é caracterizado por relaçõesentre os objetos de estudo e linguagens próprias. Conseqüentemente, não pode havercompreensão quando as propostas de aprendizagem são apresenta<strong>da</strong>s num nível maiselevado do que aquele atingido pelo alu<strong>no</strong>.Com cinco níveis hierárquicos, Van Hiele estabeleceu que o alu<strong>no</strong> só atingedetermi<strong>na</strong>do nível de raciocínio após passar por todos os níveis inferiores. Esta pode seruma explicação para as dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s pelos alu<strong>no</strong>s quando engajados numcurso sistemático de Geometria (nível 3, vide tabela abaixo) sem a necessária vivênciaprévia <strong>da</strong>s experiências <strong>no</strong>s níveis anteriores.3 Pierre Marie Van Hiele e Di<strong>na</strong> Van Hiele Geldof foram professores de Geometria <strong>na</strong> Holan<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong>experiência docente, ambos elaboraram e apresentaram para doutoramento, em 1957, um modelo – que passou a serconhecido pelo sobre<strong>no</strong>me do casal – para explicar o desenvolvimento do raciocínio geométrico entre os alu<strong>no</strong>s doensi<strong>no</strong> secundário. Logo após completar, simultaneamente com o marido, o doutorado pela Universi<strong>da</strong>de de Utrecht,<strong>na</strong> Holan<strong>da</strong>, Di<strong>na</strong> morreu. Pierre, então, desenvolveu e divulgou a teoria do modelo Van Hiele, que tem influenciadodiferentes países <strong>na</strong> organização curricular de Geometria. A ex-União Soviética foi o primeiro país a incorporar omodelo.31


Tabela 1 – Retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> Apostila do PECNível de VanHieleBásico:ReconhecimentoNível 1: AnáliseNível 2: Síntese ouabstraçãoNível 3: DeduçãoNível 4: RigorCaracterísticas Exemplos deAtivi<strong>da</strong>desIdentificação, comparação e Classificação de quadriláteros<strong>no</strong>menclatura de figuras (recortes) em grupos degeométricas, com base em sua quadrados, retângulos,aparência global.paralelogramos, losangos etrapézios.Análise <strong>da</strong>s figuras em termos Descrição de um quadrado porde seus componentes, meio de suas proprie<strong>da</strong>des: 4reconhecimento de suas lados, 4 ângulos retos, ladosproprie<strong>da</strong>des e uso delas para iguais, lados opostos paralelos.resolver problemas.Percepção <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de deuma definição precisa, e de queuma proprie<strong>da</strong>de pode decorrer<strong>da</strong> outra, argumentação lógicainformal e orde<strong>na</strong>ção declasses de figuras geométricas.Domínio do processo dedutivoedemonstrações,reconhecimento de condiçõesnecessárias e suficientes.Estabelecimento de teoremasem diversos sistemas ecomparação dos mesmos.A Representação como Competência32Descrição do quadrado pelasproprie<strong>da</strong>des mínimas: 4 ladosiguais e 4 ângulos retos. Oretângulo é um paralelogramo,pois também possui os ladosopostos paralelos.Demonstração de proprie<strong>da</strong>desdos triângulos e quadriláterosusando a congruência detriângulos.Estabelecimentoedemonstração de teoremas emuma Geometria finita.Um aspecto peculiar do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Geometria está <strong>na</strong> ambigüi<strong>da</strong>de do papel <strong>da</strong>srepresentações gráficas: elas são ao mesmo tempo objetos reais e teóricos.Podemos estabelecer uma diferença entre “desenho” e “figura geométrica”. Odesenho é uma representação gráfica de um objeto matemático. A figura geométrica já éum objeto matemático ideal, isto é, uma criação mental do espírito.O espaço se apresenta para o alu<strong>no</strong> de forma essencialmente prática: ela constróisuas primeiras <strong>no</strong>ções espaciais por meio dos sentidos e dos movimentos. Esse espaçopercebido por ele, chamado espaço perceptivo, possibilitará a ele, mais adiante, aconstrução do espaço representativo.O espaço que percebemos é o que contém objetos perceptíveis por meio dossentidos, ou seja, um espaço sensível. O ponto, a reta e o quadrado não pertencem a esseespaço. Podem ser concebidos de maneira ideal, mas, rigorosamente, não fazem partedesse espaço sensível.


Pode-se, então, dizer que a Geometria parte do mundo sensível e o estrutura <strong>no</strong>mundo geométrico (dos volumes, <strong>da</strong>s superfícies, <strong>da</strong>s linhas e dos pontos).É multiplicando suas experiências sobre os objetos do espaço que o alu<strong>no</strong> vaiaprender e, desse modo, construir uma rede de conhecimentos relativos à localização e àorientação que vai lhe permitir penetrar <strong>no</strong> domínio <strong>da</strong> representação dos objetos e,assim, se distanciar do espaço sensorial ou físico.A compreensão <strong>da</strong>s relações geométricas pelos alu<strong>no</strong>s supõe sua ação sobreobjetos. No entanto, é bom ter cui<strong>da</strong>do para não confundir isso com falsas idéiassegundo as quais se imagi<strong>na</strong> que basta mostrar objetos geométricos aos alu<strong>no</strong>s para queestes os conheçam, ou que basta enunciar suas proprie<strong>da</strong>des para que os alu<strong>no</strong>s delas seapropriem. A questão que se pode levantar, então, é: como passar de um espaço a outro?Provavelmente, é o aspecto experimental que vai colocar em relação esses dois espaços;o sensível e o geométrico.De um lado, a experimentação permite agir, antecipar, ver e explicar o que sepassa <strong>no</strong> espaço sensível e, de outro, vai permitir o trabalho sobre as representações dosobjetos do espaço geométrico e, assim, desprender-se <strong>da</strong> manipulação dos objetos reaispara racioci<strong>na</strong>r sobre representações mentais, o que constitui, enfim, a própria açãoMatemática.Desta forma temos os aspectos heurísticos se articulando com os estéticos e asinferências. Nesta situação, a matemática e a heurística se articulam de modo a facilitara aprendizagem a se atingir a representação como competência.A Comunicação como CompetênciaDesde as séries iniciais, os alu<strong>no</strong>s podem ampliar ou reduzir figuras, trabalhandosobre malhas quadricula<strong>da</strong>s, em diversas situações. Trabalhando com malhas varia<strong>da</strong>s,eles poderão discutir em que casos há deformação <strong>da</strong> figura <strong>da</strong><strong>da</strong> e em que casos asfiguras são semelhantes.Se o professor propuser uma ativi<strong>da</strong>de geométrica para o seu alu<strong>no</strong> e depoisconvidá-lo a escrever um texto explicando quais os caminhos usados paradesenvolvimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, este estará usando também a comunicação comocompetência.33


Este tipo de ativi<strong>da</strong>de 4 , em que é preciso comunicar o que está sendo percebido,é tão importante quanto à descoberta em si. A comunicação precisa fazer parte <strong>da</strong>s aulasde matemática.Neste caso, aspectos heurísticos <strong>no</strong>vamente se articulam com aspectos estéticose inferências a exemplo do que já aconteceu <strong>na</strong> representação como competência.A Argumentação como competênciaApós a proposição de uma ativi<strong>da</strong>de geométrica, é preciso que o professor peçaque os alu<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>tem as regulari<strong>da</strong>des <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>s <strong>no</strong> decorrer <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e argumentequanto a proprie<strong>da</strong>des que poderão decorrer destas regulari<strong>da</strong>des. Estas argumentaçõessão importantes para a aprendizagem <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> uma vez que aju<strong>da</strong> a desenvolver opensamento geométrico e generalizações importantes.4 Ela é chama<strong>da</strong> em metodologia aplica<strong>da</strong> à comunicação e à psicologia de protocolo verbal.34


Piaget e o as Estruturas CognitivasSintetizamos algumas idéias de Jean Piaget para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemáticasegundo Smole (2005), que são pertinentes ao <strong>no</strong>sso estudo.Jean Piaget (1896 – 1980), biólogo suíço, por meio de seus estudos acerca dodesenvolvimento cognitivo e <strong>da</strong> construção do pensamento lógico-matemático, deu umagrande contribuição para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática <strong>no</strong> sentido de entender como o alu<strong>no</strong>aprende construindo conhecimentos.Piaget não foi o primeiro a estu<strong>da</strong>r como a aprendizagem se processa <strong>na</strong>educação matemática, antes dele outros trabalhos como os de Pestalozzi, Froebel, MariaMontessori, Decroly e Dewey contribuíram <strong>no</strong> sentido de entender como a criançaprocessa a aprendizagem <strong>da</strong> matemática, ca<strong>da</strong> um de seu modo e ao seu tempo.Piaget nunca foi nem pretendeu ser pe<strong>da</strong>gogo, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de ele era umepistemólogo que procurou in<strong>da</strong>gar como se produziam os <strong>no</strong>vos conhecimentosdurante o processo de desenvolvimento huma<strong>no</strong>, <strong>da</strong>ndo uma contribuição fun<strong>da</strong>mentalao ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática por meio do entendimento de como a aprendizagem destadiscipli<strong>na</strong> se processa.No seu livro A gênese do número <strong>na</strong> criança, lançado em 1941, Piaget emconjunto com Ali<strong>na</strong> Szeminska, discorre sobre como são construídos os conceitos denúmero, as <strong>no</strong>ções temporais, as representações de espaço, os conceitos de veloci<strong>da</strong>de, amedição, as primeiras <strong>no</strong>ções geométricas e as representações simbólicas <strong>na</strong>s crianças.Esse trabalho <strong>no</strong>s traz <strong>da</strong>dos inéditos sobre a construção do conhecimento matemático<strong>na</strong>s crianças. No entanto, iremos <strong>no</strong>s ater a outra contribuição de Piaget e seusseguidores que não trata <strong>da</strong> construção de <strong>no</strong>ções e conceitos propriamente ditos, masque faz a diferença de muito do que hoje se pensa, se escreve ou se diz sobre amatemática <strong>na</strong> escola, construindo diretrizes para uma didática <strong>da</strong> matemática.O conhecimento Lógico-matemáticoSegundo Becker (apud Smole, 2005), para Piaget, <strong>no</strong>s tor<strong>na</strong>mos matemáticosenquanto construímos as estruturas de pensamento que <strong>no</strong>s levam a pensarmatematicamente.35


Piaget apresenta três tipos de conhecimento que a criança usa para se relacio<strong>na</strong>rcom o mundo; o conhecimento físico, o conhecimento social e o lógico-matemático epara usar destes conhecimentos precisa de uma estrutura lógico-matemática paraconstruir conhecimentos sobre o mundo físico e social. No caso dos objetosmatemáticos, que não existem de forma acaba<strong>da</strong>, é necessário que a criança os crieinteriormente, não basta que alguém os apresente de fora para dentro para que elas osinteriorizem.As crianças elaboram seu conhecimento lógico-matemático à medi<strong>da</strong> queconstroem relações mais complexas sobre outras mais simples que elas mesmascriaram. Para ampliar seus conhecimentos matemáticos não basta que alguém transmitaestes conhecimentos à criança, é necessário que ocorra um processo inter<strong>no</strong> ao sujeito.Desta forma, antes <strong>da</strong>s pesquisas de Piaget, acreditava-se que a criança aprendiamatemática devido a ações do adulto e devido a repetições de fatos conhecidos pelosadultos até que as crianças se familiarizassem a eles. Após os estudos de Piaget houveuma mu<strong>da</strong>nça significativa <strong>na</strong> didática <strong>da</strong> matemática, uma vez que se refletiu sobre ofato <strong>da</strong> aprendizagem <strong>da</strong> matemática não ocorrer por transmissão social de um adultoque fala a uma criança que ouve passivamente, mas sim do professor que cria condiçõespara que o alu<strong>no</strong> apren<strong>da</strong>, <strong>da</strong>quele que desafia o mesmo a aprender, a pensar por si só, aa<strong>na</strong>lisar e a questio<strong>na</strong>r aquilo que a escola deseja que ele apren<strong>da</strong>. Desta forma o papeldo professor deixa de ser ape<strong>na</strong>s o de ensi<strong>na</strong>r, mas passa a ser o de mediador <strong>da</strong>aprendizagem e o alu<strong>no</strong> deixa de simplesmente aprender um conteúdo para atribuir umsignificado para aquilo que aprende.A partir desta idéia mu<strong>da</strong> o papel de professor que não é mais de transmitir, masde criar as condições para que o alu<strong>no</strong> apren<strong>da</strong>, de desafiá-lo a pensar por si mesmo, aa<strong>na</strong>lisar, a questio<strong>na</strong>r aquilo que a escola deseja que ele apren<strong>da</strong>.A visão de Piaget do ser huma<strong>no</strong> é a de um ser que além de modificar o meio emque vive, tem a capaci<strong>da</strong>de de modificar a si mesmo e é esta transformação que origi<strong>na</strong>o conhecimento.Desta forma, surge o construtivismo que é uma interação entre a condição que osseres huma<strong>no</strong>s dispõem ao <strong>na</strong>scer e sua ativi<strong>da</strong>de transformadora do meio. Nessesentido, o conhecimento não é algo que se produz sem razão, mas sim é o resultado deum processo a<strong>da</strong>ptativo decorrente de uma necessi<strong>da</strong>de. O sujeito encontra umanecessi<strong>da</strong>de e para enfrentá-la precisa modificar seus conhecimentos antigos,36


abando<strong>na</strong>ndo crenças anteriores para poder <strong>da</strong>r um passo adiante. Por isso oconhecimento é um processo de criação e não de repetição.Para Piaget, ao <strong>no</strong>s referirmos ao pensamento lógico-matemático, para que hajauma aproximação entre as estruturas de pensamento do professor e do alu<strong>no</strong> énecessário considerar que a compreensão real de uma teoria, por parte <strong>da</strong>quele que adesenvolve ou estu<strong>da</strong>, supõe sua reinvenção por esse sujeito. Isso não quer dizer que oprofessor já não seja necessário, seu papel não deve consistir em ministrar aulas, lições,mas em organizar situações que levem o alu<strong>no</strong> a investigar, utilizando dispositivosapropriados, o que <strong>no</strong>s leva a uma didática de matemática basea<strong>da</strong> <strong>na</strong> resolução deproblemas. O professor deve propor aos alu<strong>no</strong>s problemas que o desequilibrem <strong>na</strong>quiloque sabe, fazendo com que todo o conhecimento de que dispõe seja revistado,vasculhado, complementado, ampliado, <strong>da</strong>ndo lugar a <strong>no</strong>vas e mais complexas relações.Segundo Seymour Papert, “a função <strong>da</strong> matemática escolar é ensi<strong>na</strong>r os alu<strong>no</strong>s aserem matemáticos em vez de ensi<strong>na</strong>r matemática a eles”. Para entender estepensamento devemos procurar saber como Piaget via o ser matemático. Segundo elenão se define um matemático pelo conhecimento que ele tem de uma série memoriza<strong>da</strong>de fatos matemáticos, tampouco porque conhece o trabalho de muitos outrosmatemáticos. Ser matemático implica pensar e fazer, resolver problemas origi<strong>na</strong>is ou<strong>da</strong>r a eles uma <strong>no</strong>va interpretação, gerando conhecimentos <strong>no</strong>vos, mais do queconhecendo aqueles já existentes.A Criança e as Representações GeométricasSegundo Pulaski (1971), para Piaget as crianças apreendem primeiramente asfiguras topológicas, muito antes de assimilarem as figuras geométricas euclidia<strong>na</strong>s.Segundo esse autor, aos três a<strong>no</strong>s uma criança é capaz de distinguir figurasabertas e figuras fecha<strong>da</strong>s, mas ao se pedir que copie um quadrado ou um triângulo, eladesenhará um círculo fechado. Se lhe solicitarmos a cópia de figuras abertas, desenharásimplesmente curvas abertas. Já se pedirmos que copie um círculo dentro de outrocírculo, copiará adequa<strong>da</strong>mente. Ape<strong>na</strong>s depois dos cinco a<strong>no</strong>s, ela começará a desenharquadrados, e somente mais tarde conseguirá copiar adequa<strong>da</strong>mente, como exige a<strong>geometria</strong> euclidia<strong>na</strong>, um retângulo com seus ângulos e lados. Após os sete a<strong>no</strong>s, acriança passa a assimilar a relação projetiva.37


Outro aspecto do desenvolvimento <strong>da</strong> criança abor<strong>da</strong>do por Pulaski (1971) é a<strong>no</strong>ção de egocentrismo 5 que Piaget trata muitas vezes ao longo de sua obra. Segundoesta autora, o egocentrismo é uma característica <strong>da</strong> criança que não reconhece objetosfamiliares quando vistos sob um ponto de vista diferente <strong>da</strong>quele que está acostuma<strong>da</strong> avisualizar. Por exemplo, ao se apresentar uma maquete que contenha montanhas edesenhos que mostram estas montanhas vistas sob pontos de vista diferentes, a acriançanão consegue identificar todos os desenhos como sendo <strong>da</strong> mesma montanha. Somenteapós os <strong>no</strong>ve ou dez a<strong>no</strong>s a criança consegue distinguir, com acui<strong>da</strong>de, as diferentesperspectivas possíveis e coordená-las.Piaget e o Alu<strong>no</strong> AdultoQuanto ao alu<strong>no</strong> adulto, que é o foco principal do <strong>no</strong>sso trabalho, vamos ver oque o grupo de pesquisa NEA-FEUSP (Núcleo de Educação de Jovens e Adultos eFormação Permanente de Professores <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deSão Paulo) <strong>no</strong>s tem a dizer.Para Piaget, o desenvolvimento intelectual do ser huma<strong>no</strong> se processa sob doisaspectos: o motor ou intelectual e o afetivo, de<strong>no</strong>mi<strong>na</strong>dos por Piaget de “estágios dedesenvolvimento” distribuídos de acordo com a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança: o primeiro é o estágiosensório-motor (do <strong>na</strong>scimento até os dois a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de); o segundo dividi-se em doissub-estágios, o de preparação para as operações lógico-concretas (2 a 7 a<strong>no</strong>s) e o deoperações lógico-concretas (7 a<strong>no</strong>s a adolescência). A partir <strong>da</strong>í até a i<strong>da</strong>de adulta,configura-se o estágio <strong>da</strong> lógica formal, ou seja, quando o pensamento lógico alcançaseu nível maior de equilíbrio.Convém lembrar que, para Piaget, a inteligência é uma a<strong>da</strong>ptação que ocorre àmedi<strong>da</strong> que o indivíduo vai enfrentando situações <strong>no</strong>vas e interagindo com o meio que ocircun<strong>da</strong>, ou seja, ele não ape<strong>na</strong>s responde ao mundo que o circun<strong>da</strong>, mas também atuasobre ele. Para isso, o indivíduo usa dois componentes: a assimilação (processocognitivo de colocar ou classificar <strong>no</strong>vos eventos em esquemas existentes) e aacomo<strong>da</strong>ção (processo de modificação de um esquema ou uma estrutura em função <strong>da</strong>sparticulari<strong>da</strong>des do objeto a ser assimilado). O equilíbrio entre a assimilação e aacomo<strong>da</strong>ção é chamado de a<strong>da</strong>ptação.5 Segundo Piaget, egocentrismo é o raciocínio primitivo que impede alguém de compreender que pode haver mais deum ponto de vista.38


Outra variável presente <strong>na</strong> teoria de Piaget é a motivação do estu<strong>da</strong>nte, onde oprofessor deve organizar o ambiente de modo a estimular o alu<strong>no</strong> a aprender <strong>no</strong> seupróprio ritmo, de modo que os seus interesses sirvam de guia livre para a aprendizagem.Interessante <strong>no</strong>tar que essa variável observa-se <strong>na</strong> EJA uma vez que o alu<strong>no</strong>adulto sai do seu trabalho, em geral estafante, e vai direto para a escola, encontrandonela um mundo <strong>no</strong>vo que lhe causa estranhamento ou até medo.De acordo com esse grupo (NEA) se a educação desse adulto for planeja<strong>da</strong> deacordo com os princípios de Piaget, de modo que ele manipule objetos do seu ambiente,possa transformá-los encontrando sentido para os mesmos, intervindo em seusdiferentes aspectos até adquirir condições de fazer inferências lógicas inter<strong>na</strong>mente,desenvolvendo <strong>no</strong>vos esquemas e <strong>no</strong>vas estruturas, o estu<strong>da</strong>nte chegará através de umaseqüência de desequilíbrios sucessivos, seguidos de a<strong>da</strong>ptações, ao conhecimento.Entretanto, existe uma diferença crucial entre o alu<strong>no</strong> adulto e o alu<strong>no</strong> criança. Adiferença é que quando o alu<strong>no</strong> adulto chega à escola, ele já percorreu todos os estágiosdo desenvolvimento o que cria um desafio para o educador que é recuperar a capaci<strong>da</strong>dedeste alu<strong>no</strong> de combi<strong>na</strong>ção e interação, principalmente quando se trata de idéiasabstratas.Aliado a isso, gostaríamos de observar que <strong>na</strong> pesquisa de Luria 6 (1990),existem comportamentos que são típicos de grupos “pouco letrados” e outros típicos degrupos de letrados, como veremos a seguir.6 Ver a partir <strong>da</strong> pági<strong>na</strong> 40 detalhes sobre a pesquisa de Luria segundo Oliveira (1999b).39


Letramento e Desenvolvimento CognitivoVamos verificar alguns aspectos que, segundo Oliveira (1999b), fazem com queo a falta de letramento interfira <strong>no</strong> desenvolvimento cognitivo do adulto.Grupos culturais “pouco letrados” integrados <strong>na</strong>s complexas socie<strong>da</strong>descontemporâneas, onde há grande influência do conhecimento científico e dos meios decomunicação em massa tendem a ser homogêneos do ponto de vista social.A de<strong>no</strong>mi<strong>na</strong>ção “pouco letrado” não diz respeito a nenhuma classificaçãotécnica do grau de alfabetização desses indivíduos, mas sim à condição decorrente <strong>da</strong>falta de oportuni<strong>da</strong>de de interação intensa e sistemática com determi<strong>na</strong>dos aspectosculturais fun<strong>da</strong>mentais nesse tipo de socie<strong>da</strong>de o que faz com que esse grupo sejamarcado pela exclusão , pois não possuem a competência <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita e deoutras prática letra<strong>da</strong>s necessárias para a interação com a socie<strong>da</strong>de em que vivem.Desta forma, esse grupo acaba criando características comuns entre os seusmembros que são conseqüências cognitivas de deferentes práticas culturais.Apontaremos a seguir essas características.Pensamento descontextualizadoA capaci<strong>da</strong>de de elaboração cognitiva descontextualiza<strong>da</strong> é uma <strong>da</strong>scaracterísticas melhor defini<strong>da</strong> em indivíduos letrados, sendo um comportamentoaparentemente ausente em grupos de “pouco letrados”.Na déca<strong>da</strong> de 30, A. R. Luria estudou grupos de camponeses soviéticos eencontrou diferenças cruciais entre os grupos dos letrados e dos “pouco letrados”.Nesses estudos foram observados que sujeitos mais escolarizados envolvidos <strong>no</strong>trabalho <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s coletivas mais moder<strong>na</strong>s, tendiam a trabalhar com categoriasabstratas independente <strong>da</strong> experiência vivi<strong>da</strong> e do contexto concreto. Luria chamou estecomportamento de “categorial”. Esses sujeitos agrupavam objetos segundo cores,formas geométricas ou categorias, ou ain<strong>da</strong>, usavam a dedução e a inferência parasolucio<strong>na</strong>r problemas matemáticos a partir de situações hipotéticas.Já os sujeitos me<strong>no</strong>s escolarizados envolvidos em ativi<strong>da</strong>des de agriculturatradicio<strong>na</strong>l, individualiza<strong>da</strong>, tendiam a operar influenciados por configuraçõesperceptuais, baseados pela experiência pessoas. Luria chamou esse tipo de40


comportamento de “gráfico-funcio<strong>na</strong>l”. Ao agrupar objetos, esses indivíduos tendiam acriar categorias que remetiam à sua relação com situações concretas.Experiências mais atuais retratam essa mesma contraposição entre indivíduosletrados e indivíduos “pouco letrados”.Controle <strong>da</strong> Produção CognitivaOutro aspecto em que também são <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>s diferenças quando se a<strong>na</strong>lisa alu<strong>no</strong>sletrados e alu<strong>no</strong>s “pouco letrados” é o controle que estes têm sobre sua própria produçãocognitiva.Oliveira (1999b) diz que uma experiência realiza<strong>da</strong> com alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> EJA <strong>na</strong>ci<strong>da</strong>de de São Paulo mostra a grande dificul<strong>da</strong>de que estes alu<strong>no</strong>s têm quando umprofessor propõe uma ativi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> qual eles devem seguir instruções explícitas. Adificul<strong>da</strong>de está <strong>no</strong> seguir instruções. Estes alu<strong>no</strong>s realizam a tarefa passo a passo,sempre se reportando ao professor para perguntar sobre o próximo a passo a seguir.Luria (1990) estabelece que esta capaci<strong>da</strong>de de seguir instruções estárelacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> auto-instrução e que quando o indivíduo vence esta etapaele passa a organizar o seu comportamento.O controle <strong>da</strong> produção cognitiva cria também condições para que o sujeitopossa auto-monitorar o desenvolvimento de suas tarefas.Procedimentos MetacognitivosOs procedimentos metacognitivos estão relacio<strong>na</strong>dos à questão do controle <strong>da</strong>produção cognitiva, isto é, às operações delibera<strong>da</strong>s do sujeito sobre suas próprias açõesintelectuais. Esses procedimentos fazem com que os indivíduos tenham consciência dospróprios processos de pensamento de modo a explicar esse processo a outras pessoas.Pesquisas mostram que indivíduos “pouco letrados” têm dificul<strong>da</strong>de de transitarpor esses procedimentos e uma conseqüência desta dificul<strong>da</strong>de <strong>no</strong>ta<strong>da</strong> também porOliveira (1999b), em sua pesquisa com os alu<strong>no</strong>s de EJA, é a tendência à adoção “nãorefleti<strong>da</strong>”de princípios como sendo universais, ou seja, quando o professor passa umaregra para ser usa<strong>da</strong> numa determi<strong>na</strong><strong>da</strong> situação, o alu<strong>no</strong> conclui erroneamente que estaregra vale para todos os casos que surgirem a seguir.41


Transformações Culturais <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Letra<strong>da</strong>Nesse item a<strong>na</strong>lisaremos como a escrita e o desenvolvimento <strong>da</strong> ciência formalpodem influenciar <strong>no</strong> desenvolvimento cognitivo do indivíduo.A escrita enquanto sistema simbólico é, por definição, um dos principaisfun<strong>da</strong>mentos do modo letrado de pensamento favorecendo o pensamentodescontextualizado e independente <strong>da</strong> experiência do sujeito. Ela favorece, também, aconsciência metalingüística, pois por meio dela o sujeito pode refletir e construirconhecimento explícito.A escrita fornece também ao seu usuário, instrumentos exter<strong>no</strong>s que facilitam autilização de procedimentos de controle cognitivo (listas, calendários, tabelas, etc.)O desenvolvimento <strong>da</strong> ciência formal é outro aspecto que pode ser relacio<strong>na</strong>docom as transformações do modo de pensamento do sujeito, embora isso não sejapossível sem o auxílio <strong>da</strong> escrita.Fazem parte do desenvolvimento científico ativi<strong>da</strong>des que pressupõem aconstrução de categorias formaliza<strong>da</strong>s de organização do real e processos deliberados degeneralização.A socie<strong>da</strong>de pauta<strong>da</strong> pelo desenvolvimento científico e tec<strong>no</strong>lógico é organiza<strong>da</strong>por objetivos de predição e controle, que necessitam de planejamento em longo prazo,organização institucio<strong>na</strong>l e toma<strong>da</strong>s de decisões com base em critérios que ultrapassamas necessi<strong>da</strong>des individuais e imediatas.Fi<strong>na</strong>lizando, a escola é a instituição tem por fim colocar os sujeitos em contatocom a escrita e o desenvolvimento científico, favorecendo, deste modo, odesenvolvimento cognitivo do sujeito.As práticas escolares favorecem, portanto, o desenvolvimento do pensamentodescontextualizado e a ação metacognitiva. Favorecem, também, o aprendizado deformas de controle <strong>da</strong> produção cognitiva que são partes importantes <strong>da</strong>s tarefasescolares.Desta forma, podemos concluir que os sujeitos excluídos de uma relaçãosistemática com a escrita, com a escola e com a ciência têm o seu desenvolvimentocognitivo comprometido.42


Linguagem Matemática: Símbolo e significadoNeste capítulo trataremos <strong>da</strong>s idéias de Gómez-Granell (1997) que faz umaanálise sobre a aquisição <strong>da</strong> linguagem matemática, sobre a diferença entre conhecer ossímbolos e saber os seus significados.No mundo atual, globalizado e movido a tec<strong>no</strong>logia, a matemática é ca<strong>da</strong> vezmais necessária. Os cálculos de estatísticas e probabili<strong>da</strong>des são essenciais para setomar decisões políticas, sociais ou econômicas. Desta forma, seria de se esperar que apopulação, em geral, incrementasse seus estudos nessa área. Mas, não é o que se vê <strong>na</strong>sescolas de Educação Básica. Hoje, 40 a 50% dos alu<strong>no</strong>s não alcançam o mínimo doconhecimento matemático necessário para fi<strong>na</strong>lizar a escolari<strong>da</strong>de obrigatória. Naver<strong>da</strong>de, a maioria <strong>da</strong>s pessoas não alcança o nível de “alfabetização funcio<strong>na</strong>l” mínimopara desenvolver-se numa socie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong>.Chegamos, desta maneira, a um paradoxo: a matemática, um dos conhecimentosmais necessários para se sobreviver <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des moder<strong>na</strong>s altamente toma<strong>da</strong>s pelatec<strong>no</strong>logia, é um empecilho ao acesso <strong>da</strong> grande maioria <strong>da</strong> população ao sistemaeducacio<strong>na</strong>l.Em 1982, Cockcroft afirmou em uma pesquisa <strong>na</strong> Inglaterra e <strong>no</strong> País de Galesque a Matemática é uma “matéria” difícil de ensi<strong>na</strong>r e de aprender. A Matemáticaaparece como algo denso e enigmático até mesmo para pessoas cultas e instruí<strong>da</strong>s.Uma explicação para estes fatos estaria basea<strong>da</strong> <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza do conhecimentomatemático que é diferente, em muitos aspectos dos outros tipos de conhecimentodevido ao seu alto grau de abstração, pois <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de se define por dedução e não porabstração como outros conhecimentos.Por outro lado, o conhecimento matemático depende de uma linguagemespecífica, de caráter formal que traduz a linguagem <strong>na</strong>tural para uma linguagemuniversal formaliza<strong>da</strong>, permitindo assim o e<strong>no</strong>rme rigor necessário para se entender oestrito significado dos seus termos.A formalização <strong>da</strong> linguagem matemática tem uma função primordial: converteros conceitos matemáticos em objetos mais facilmente manipuláveis e calculáveis,possibilitando assim determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s inferências que de outro modo seriam impossíveis.43


Levando em consideração os fatos acima citados, podemos formular algumasperguntas: Seria a matemática ape<strong>na</strong>s uma linguagem? A maioria <strong>da</strong>s pessoas carecemesmo <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de abstração necessária para domi<strong>na</strong>r linguagens formais? Ou oprocesso de ensi<strong>no</strong> adotado é i<strong>na</strong>dequado?A primeira pergunta formula<strong>da</strong> gera uma polêmica entre os que consideram aMatemática como sendo ape<strong>na</strong>s uma linguagem e os que pensam que sempre é possívelatribuir um significado aos símbolos que se manipula.Quando um alu<strong>no</strong> aprende matemática, geralmente aprende decorando regrasque devem ser aplica<strong>da</strong>s sempre, mas este mecanismo muitas vezes leva a errosgravíssimos além de que, <strong>na</strong> maior parte <strong>da</strong>s vezes, faz com que os alu<strong>no</strong>s apliquemregras sem entender o seu real significado, sem saber por que deve fazer desta e não deoutra maneira a operação Matemática.É comum o alu<strong>no</strong> aplicar erroneamente regras que não servem <strong>na</strong>quela situaçãoespecífica porque decorou a regra sem entender o porquê desta regra ser aplica<strong>da</strong> emuitas vezes ain<strong>da</strong> escuta do professor se não está vendo que <strong>na</strong>quela situação não hálógica em se aplicar a determi<strong>na</strong><strong>da</strong> regra.Quando um professor ensi<strong>na</strong> dessa maneira não está percebendo que em to<strong>da</strong>sentença matemática é necessário reconhecer um significado formal intrínseco, <strong>no</strong> qualuns símbolos fazem referência a outros dentro de um código específico, e umsignificado pragmático, que permite a tradução para sistemas de sig<strong>no</strong>s nãomatemáticos, e associar tais expressões ao seu significado referencial.Como alter<strong>na</strong>tiva à situação cita<strong>da</strong> acima existem algumas tendênciasmetodológicas para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática tais como o construtivismo 7 ou ain<strong>da</strong> oaprendizado através <strong>da</strong> resolução de problemas. Ambas podem ser trata<strong>da</strong>s de maneiraconjunta por se tratarem de teorias que priorizam o estudo dos aspectos conceituais <strong>da</strong>matemática. O importante é que os alu<strong>no</strong>s enten<strong>da</strong>m ou construam o significado dosconceitos matemáticos.Os alu<strong>no</strong>s, desde a mais tenra i<strong>da</strong>de, manifestam procedimentos próprios, nãoformais, que lhes permite ir construindo progressivamente os significados matemáticos.Assim sendo, cabe ao professor usar desta habili<strong>da</strong>de para aju<strong>da</strong>r ao alu<strong>no</strong> a construir osconceitos matemáticos de forma mais intuitiva e me<strong>no</strong>s formal.7 Definimos construtivismo anteriormente <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> 36.44


Uma dúvi<strong>da</strong> é se o fato do alu<strong>no</strong> entender o significado dos conceitos eprocedimentos matemáticos faz com que tenha facili<strong>da</strong>de para domi<strong>na</strong>r a linguagemformal. Assim sendo, sugere-se que o ensi<strong>no</strong> matemático não seja excessivamenteverbal, mas que a construção do conhecimento se baseie <strong>na</strong> manipulação 8 e <strong>na</strong> ação.Após a construção do significado, o passo seguinte seria o uso <strong>da</strong> linguagem simbólicaem situações de representação onde o alu<strong>no</strong> deve transmitir os conceitos aprendidos aoutras pessoas. Dependendo do nível de desenvolvimento, o alu<strong>no</strong> vai recorrer arepresentações próprias desses conceitos. É possível observar com freqüência que existeuma grande resistência do pensamento huma<strong>no</strong> em abando<strong>na</strong>r o conteúdo do objetoexpressado pela linguagem <strong>na</strong>tural e pelo desenho, para substituí-lo pelo símboloformal.Por outro lado, os alu<strong>no</strong>s costumam aprender a manipular símbolos segundouma série de regras que não entendem. Isso faz com que, para eles, seja muito difícilassociar tais símbolos ao seu significado referencial e, portanto usá-lo para resolverproblemas de forma significativa. O conhecimento conceitual não implicaabsolutamente em conhecimento de regras sintáticas e <strong>da</strong>s convenções de <strong>no</strong>taçãopróprias do simbolismo matemático.Como os alu<strong>no</strong>s podem resolver muitas operações e problemas usando processosintuitivos, corremos o risco de cometer dois grandes erros: acreditar que não énecessário se ensi<strong>na</strong>r os procedimentos formais ou ain<strong>da</strong> que se pode passar doprocedimento intuitivo para o formal de forma automática, situação que muitas vezesleva a um “salto mortal” entre o conceitual e o simbólico.Resta-<strong>no</strong>s, então, saber como fazer para que o alu<strong>no</strong> passe dos procedimentosnão-formais e intuitivos para as expressões simbólicas próprias <strong>da</strong> linguagem formal evice-versa.Levando em consideração que a Matemática também é uma linguagem, odomínio dela implica também um conhecimento de aspectos sintáticos e semânticosinerentes a esta linguagem. Mas, deveremos levar em consideração também que estalinguagem constitui uma forma de discurso específico que, embora guarde estreitarelação com a ativi<strong>da</strong>de conceitual, mantém a sua própria especifici<strong>da</strong>de como umdiscurso lingüístico. Desta forma, não se pode esquecer que aprender uma linguagem8 Como já vimos <strong>na</strong> teoria de Piaget, <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> 38.45


não é aprender uma série de regras e sim adquirir um grau de competênciacomunicativa 9 que permita usar tal linguagem adequa<strong>da</strong>mente.Levando em consideração os aspectos citados acima podemos considerar que:• Os conceitos e procedimentos matemáticos devem ser ensi<strong>na</strong>dos de formacontextualiza<strong>da</strong>: devemos acabar com a idéia de que a matemática é algoexcessivamente abstrato, difícil e i<strong>na</strong>cessível. Embora existam patologias quepodem dificultar o seu aprendizado, a maioria <strong>da</strong>s pessoas pode aprendê-la semnenhuma dificul<strong>da</strong>de. A maior parte <strong>da</strong>s pessoas que alegam dificul<strong>da</strong>de paraaprender matemática usa-<strong>na</strong> como ferramenta <strong>na</strong>s suas ativi<strong>da</strong>des cotidia<strong>na</strong>s poisdela necessitam. Portanto, se queremos ensi<strong>na</strong>r Matemática de uma formasignificativa devemos primeiro conhecer quais são os usos e as funções que oconhecimento matemático cumpre em <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de e situar a aprendizagemdos conceitos e procedimentos matemáticos <strong>no</strong> contexto de tais usos e funções.• A resolução de problemas pode ser um instrumento de contextualização: estetipo de ativi<strong>da</strong>de não pode acontecer ape<strong>na</strong>s para aplicar os conhecimentospreviamente adquiridos, mas também, para propor situações que requeiram umasolução matemática e que permitam o levantamento de questões, a pesquisa, adiscussão, a exploração e a especulação, além <strong>da</strong> contextualização <strong>da</strong>soperações.• Os procedimentos próprios, intuitivos ou não-formais são instrumentos paraexplorar o significado dos conceitos e procedimentos matemáticos: devemosestimular o uso de desenhos, figuras, jogos e outros processos intuitivos paraque o alu<strong>no</strong> tome contato inicial com os conceitos matemáticos antes deformalizá-los.• É necessário associar os símbolos matemáticos ao seu significado referencial:dificilmente encontraremos alguma regra algum princípio, que não tenhasignificado referencial.• Aplicar modelos concretos: decorrente do aspecto anterior. Para que os alu<strong>no</strong>sassociem os símbolos matemáticos ao seu significado referencial não bastaincentivar o uso de estratégias pessoais dos alu<strong>no</strong>s, é necessário que o professorproponha modelos que permitam entender a semântica <strong>da</strong> operação ou9 Como já vimos anteriormente <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> 30, quando descrevemos as competências que deverão ser desenvolvi<strong>da</strong>s apartir do estudo <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>.46


transformação. Esses modelos podem ser: manipulativos, verbais, gráficos ouaté de caráter simbólico.• Utilizar e relacio<strong>na</strong>r linguagens diferencia<strong>da</strong>s: para associar aspectos sintáticose semânticos é necessário que os alu<strong>no</strong>s usem diferentes linguagens paraexpressar as transformações matemáticas, que as relacionem entre si e quetenham consciência <strong>da</strong>s regras que fazem a passagem de uma linguagem à outra.• Trabalhar os mesmos conceitos e procedimentos em diferentes contextos: aconstrução dos conceitos e procedimentos matemáticos exige que sejamaplicados e atualizados por intermédio de problemas que respon<strong>da</strong>m a estruturassemânticas diferentes.• Estimular a abstração progressivamente: para isso é necessário não só variar oscontextos e as situações, mas também propiciar um processo de reflexãoconsciente e a explicitação <strong>da</strong>s relações entre as quanti<strong>da</strong>des.Para concluir, podemos comparar a aprendizagem <strong>da</strong> matemática com aaprendizagem de um idioma estrangeiro, pois quanto mais se domi<strong>na</strong> este idioma,me<strong>no</strong>s “estrangeiro” ele se parece. Ou ain<strong>da</strong>, que a Matemática constitui uma maneiradetermi<strong>na</strong><strong>da</strong> e específica de interpretar, de observar a reali<strong>da</strong>de. Que usa uma linguagemespecífica, diferente <strong>da</strong>s linguagens <strong>na</strong>turais e cuja aquisição não pressupõe a mera“tradução” para a linguagem <strong>na</strong>tural. E que, portanto, aprender matemática significaaprender a observar a reali<strong>da</strong>de matematicamente, entrar <strong>na</strong> lógica do pensamento e <strong>da</strong>linguagem matemática, usando as formas e os significados que lhe são próprios. Esseseria o ver<strong>da</strong>deiro sentido <strong>da</strong> alfabetização matemática que <strong>no</strong>s permitiria circular pelos“domínios <strong>da</strong> matemática” como se estivéssemos em <strong>no</strong>ssa própria casa e não num“país estrangeiro”.O objetivo e a fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matemática devem ser que os alu<strong>no</strong>s dominem eusem significativamente sua linguagem e os usos específicos <strong>da</strong> mesma. Mas, para queisso seja alcançado, as formas de ensi<strong>no</strong> e de aproximação tradicio<strong>na</strong>lmente aplica<strong>da</strong>s aessa linguagem devem ser radicalmente modifica<strong>da</strong>s.47


Princípios Filosóficos que <strong>no</strong>rtearam o trabalhoEsta pesquisa foi <strong>no</strong>rtea<strong>da</strong> pelos princípios filosóficos <strong>da</strong> fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>logia, usandocomo metodologia de pesquisa o estudo de caso et<strong>no</strong>gráfico.Segundo Chizzotti (2006), o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa muitousa<strong>da</strong> <strong>na</strong> área educacio<strong>na</strong>l em que o pesquisador reúne informações sobre determi<strong>na</strong>dofato ou fenôme<strong>no</strong> contemporâneo social complexo inserido em seu contexto específico.Tem por objetivo reunir aspectos relevantes sobre o objeto de estudo e destaforma alcançar uma compreensão mais ampla desse objeto dissipando dúvi<strong>da</strong>,esclarecendo questões pertinentes e sugerindo ações posteriores.Este estudo de caso envolve a coleta sistemática de informações de um processosocial, <strong>no</strong> caso as aulas de <strong>geometria</strong> para os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA, para conhecermelhor as relações existentes entre os sujeitos envolvidos <strong>no</strong> processo, <strong>no</strong> casoprofessora e alu<strong>no</strong>s, a<strong>na</strong>lisar os resultados do processo e sugerir <strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> deensi<strong>no</strong> dessa discipli<strong>na</strong> nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong>.Quanto à et<strong>no</strong>grafia, segundo Fiorentini & Lorenzato (2006), um estudo de casoé et<strong>no</strong>gráfico quando:1. Está-se interessado numa instância em particular, isto é, numa determi<strong>na</strong><strong>da</strong>instituição, numa pessoa ou num específico programa de currículo;2. Deseja-se conhecer profun<strong>da</strong>mente essa instância particular em suacomplexi<strong>da</strong>de e em sua totali<strong>da</strong>de;3. Se estiver mais interessado <strong>na</strong>quilo que está ocorrendo e <strong>no</strong> como está ocorrendodo que <strong>no</strong>s seus resultados, ou ain<strong>da</strong>4. Quer-se retratar o di<strong>na</strong>mismo de uma situação numa forma muito próxima deseu acontecer <strong>na</strong>tural.Esta pesquisa foi classifica<strong>da</strong> como et<strong>no</strong>gráfica por estar interessa<strong>da</strong> em saberquais a dificul<strong>da</strong>des e <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> numa escola específica, oCIEJA. Desejamos, também aprofun<strong>da</strong>rmo-<strong>no</strong>s <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> e verificar se,com as ativi<strong>da</strong>des aplica<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s aulas, os alu<strong>no</strong>s aprendem de maneira satisfatória e casoisso não ocorra, temos ain<strong>da</strong> o propósito de sugerir <strong>no</strong>vas ativi<strong>da</strong>des e <strong>no</strong>vosprocedimentos de modo que esse objetivo inicial seja alcançado.48


MetodologiaOs Sujeitos <strong>da</strong> PesquisaA ProfessoraNessa pesquisa, a professora articula os papéis de professora e de pesquisadora,pois ao começar a especialização, resolveu pesquisar sobre a própria prática como ummodo de reflexão sobre ela.Licencia<strong>da</strong> em Matemática pela Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, vem atuando <strong>na</strong>Educação de Jovens e Adultos desde o térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> graduação. No início (déca<strong>da</strong> de1980) <strong>na</strong>s escolas particulares de Ensi<strong>no</strong> Supletivo, embora mantivesse umrelacio<strong>na</strong>mento diferenciado com estes alu<strong>no</strong>s, procedia em termos de programas ecurrículos semelhante aos procedimentos com alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> Educação regular.No início dos a<strong>no</strong>s 1990 participou do “projeto <strong>da</strong> interdiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de” <strong>da</strong>prefeitura de São Paulo quando começou a encarar alu<strong>no</strong> adulto de uma formadiferencia<strong>da</strong> e a perceber que o programa e o currículo usados com os adultos nãodevem ser os mesmos usados com as crianças. Começa então, a criar estratégias paraensi<strong>na</strong>r os adultos através de projetos que levam em consideração a “bagagem” anteriordestes alu<strong>no</strong>s.A partir de 2000 participa do projeto “CEMES” <strong>da</strong> prefeitura de São Paulotomando contato com o material elaborado pela UNESP para este projeto e que mostrauma educação diferencia<strong>da</strong> para os alu<strong>no</strong>s jovens e adultos trabalhadores. Com amu<strong>da</strong>nça do gover<strong>no</strong>, o projeto CEMES dá origem ao projeto CIEJA que tem um olhardiferenciado para o alu<strong>no</strong> adulto.A professora passa a fazer parte deste <strong>no</strong>vo projeto e percebendo, que apesar dosprojetos, a dificul<strong>da</strong>de <strong>no</strong> ensi<strong>na</strong>r matemática continua, resolve então, pesquisar sobre<strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> neste ensi<strong>no</strong>, visto as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong> decorrer destesa<strong>no</strong>s. Desta inquietação surge esta pesquisa que visa melhorar a prática <strong>da</strong> professora efornecer literatura de subsídio para outros professores que têm o mesmo tipo deinquietação.49


Observações sobre as opções metodológicas <strong>da</strong> professoraNo início de 2007, a Secretaria Municipal de Educação <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo(SME) implantou o projeto “Ler e escrever: priori<strong>da</strong>de <strong>na</strong> escola municipal” que diz quea responsabili<strong>da</strong>de do desenvolvimento <strong>da</strong> competência de leitura e escrita <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> éresponsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s diferentes áreas de conhecimento, respeitando as suasespecifici<strong>da</strong>des.De acordo com o Referencial de Expectativas (2006) o professor de matemáticatem que criar situações para que o alu<strong>no</strong> desenvolva a competência leitora e escritoraem suas aulas.A professora em questão considerou que para desenvolver <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> acompetência <strong>da</strong> leitura e a competência para resolução <strong>da</strong>s quatro operaçõesfun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> aritmética, o melhor caminho seria a partir <strong>da</strong> resolução de problemasde raciocínio matemático e para isso usou os outros conteúdos <strong>da</strong> matemática comoelementos para compor <strong>no</strong>vos problemas.Assim sendo as aulas de <strong>geometria</strong> tiveram um caráter mais lúdico, pois oobjetivo principal era que o alu<strong>no</strong> conhecesse as principais figuras geométricas parautilização posterior <strong>no</strong> entendimento dos enunciados dos problemas, principalmente osque tratavam de medi<strong>da</strong>s.Com o objetivo também de di<strong>na</strong>mizar a resolução de problemas e unir conceitosdiferentes, mas que operacio<strong>na</strong>lmente têm processos semelhantes, a professora optoupor ensi<strong>na</strong>r as medi<strong>da</strong>s de massa e de capaci<strong>da</strong>de logo após o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s decomprimento, deixando para a seqüência as medi<strong>da</strong>s de área e de volume e, por último,as medi<strong>da</strong>s de tempo, sempre de olho <strong>na</strong> competência <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita eprocurando resgatar os conhecimentos anteriores dos alu<strong>no</strong>s.O projeto CIEJAOs Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) foram criadospelo Decreto nº 43.052, de 4 de abril de 2003.Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos promovem cursos deensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, articulados com a educação profissio<strong>na</strong>l de nível básico, atendidosos interesses <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e as peculiari<strong>da</strong>des locais. Os cursos são organizados emdois ciclos, compostos por quatro módulos, e desenvolvidos em oito semestres.50


Os CIEJAs foram criados com o intuito de mu<strong>da</strong>r a reali<strong>da</strong>de do alu<strong>no</strong> <strong>da</strong> EJA edesta maneira está focado <strong>no</strong> Mundo <strong>da</strong> Cultura e <strong>no</strong> Mundo do Trabalho, promovendodesta forma educação elementar básica com resgate <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des culturais dos alu<strong>no</strong>se a implementação de Itinerários Formativos que visam promover a EducaçãoElementar Básica.Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos/CIEJA's oferecem osdois ciclos do Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental a adultos e jovens com mais de 14 a<strong>no</strong>s. Funcio<strong>na</strong>m<strong>da</strong>s 7h30min às 22h15min, desenvolvendo um processo educacio<strong>na</strong>l flexível edinâmico, que atende ao ritmo de aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s e às suas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> dehorário. A organização do currículo é modular, integrando educação geral e profissio<strong>na</strong>lbásica por meio de itinerários formativos.Os Alu<strong>no</strong>sOs alu<strong>no</strong>s pesquisados foram alu<strong>no</strong>s do módulo III do projeto CIEJA e que têmsuas aulas com a professora pesquisa<strong>da</strong>. O módulo III tem duração de um a<strong>no</strong> letivo eequivale à terceira e à quarta séries do segundo segmento do Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental.São alu<strong>no</strong>s trabalhadores e que estu<strong>da</strong>m <strong>no</strong> período <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. Na sua maioria, sãosujeitos excluídos do sistema de ensi<strong>no</strong> quando muito jovens e que retomaram seusestudos após muitos a<strong>no</strong>s ou até déca<strong>da</strong>s, longe dos bancos escolares.A maioria deles nunca tinha estu<strong>da</strong>do <strong>geometria</strong> antes desta retoma<strong>da</strong> dosestudos e tiveram as primeiras <strong>no</strong>ções deste conteúdo neste a<strong>no</strong> com a professorapesquisadora.A pesquisaCom o propósito de investigar o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, em particular <strong>da</strong><strong>geometria</strong>, <strong>na</strong> EJA foi problematizado por meio <strong>da</strong> observação dos procedimentos <strong>da</strong>professora e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s por uma turma de alu<strong>no</strong>s do Módulo III <strong>no</strong>CIEJA-FÓ/Brasilândia que trabalha aplicando o projeto <strong>da</strong> Prefeitura do Município deSão Paulo e análise de materiais didáticos elaborados especialmente para este fim.Etapas <strong>da</strong> pesquisa:• Escolha <strong>da</strong> turma, <strong>da</strong> qual foram observa<strong>da</strong>s as aulas e as ativi<strong>da</strong>des aplica<strong>da</strong>s;• Solicitação de autorização <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> escola para efetuar a pesquisa;• Relato explicativo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de aplica<strong>da</strong> pela professora de matemática <strong>da</strong> turma;51


• Análise do planejamento <strong>da</strong> seqüência didática utiliza<strong>da</strong> pela professora <strong>na</strong>saulas de <strong>geometria</strong> (ofici<strong>na</strong>s);• Análise geral do material coletado, a partir <strong>da</strong> comparação dos <strong>da</strong>dos coletadoscom a teoria estu<strong>da</strong><strong>da</strong>;• Elaboração do relatório fi<strong>na</strong>l.52


A seqüência didática - Ofici<strong>na</strong>sA pesquisa, a princípio, foi realiza<strong>da</strong> com base <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s por trêsalu<strong>na</strong>s do Módulo III do projeto CIEJA que prelimi<strong>na</strong>rmente receberam <strong>no</strong>ções de<strong>geometria</strong> em uma seqüência didática que era composta por ofici<strong>na</strong>s de dobraduras,tangram e pentaminó, que articularam conteúdos iniciais de <strong>geometria</strong> com ativi<strong>da</strong>desde formação de figuras como será ilustrado a seguir.Compreendemos Seqüência Didática como sendo um conjunto de aulasplaneja<strong>da</strong>s para ensi<strong>na</strong>r um determi<strong>na</strong>do conteúdo sem que necessariamente tenha umproduto fi<strong>na</strong>l. Sua duração pode variar de dias a sema<strong>na</strong>s e várias seqüências podem sertrabalha<strong>da</strong>s durante o a<strong>no</strong>, de acordo com o planejado ou com as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> turma.A seqüência didática apresenta desafios ca<strong>da</strong> vez maiores aos alu<strong>no</strong>s, buscandopromover a construção do conhecimento.Após a aplicação <strong>da</strong> seqüência didática essas alu<strong>na</strong>s foram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s aparticipar <strong>da</strong> pesquisa e realizaram a ativi<strong>da</strong>de 1 que foi trata<strong>da</strong> como uma ativi<strong>da</strong>deprelimi<strong>na</strong>r. Após alguns dias, a ativi<strong>da</strong>de 2 foi aplica<strong>da</strong> à turma em que estas alu<strong>na</strong>sestavam inseri<strong>da</strong>s num total de deze<strong>no</strong>ve alu<strong>no</strong>s (as 3 alu<strong>na</strong>s iniciais e mais 16 alu<strong>no</strong>s)como uma ativi<strong>da</strong>de de classe.Pretendíamos continuar a pesquisa a<strong>na</strong>lisando ape<strong>na</strong>s as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s trêsalu<strong>na</strong>s inicialmente elenca<strong>da</strong>s <strong>na</strong> pesquisa, mas a decodificação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des dessasalu<strong>na</strong>s foi custosa, pois as respostas ora apresentavam-se incompletas ora ininteligíveis,com problemas de construção <strong>da</strong>s frases e inclusive <strong>da</strong>s próprias palavras.Dessa forma, optamos por fazer além <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s três alu<strong>na</strong>sinicialmente elenca<strong>da</strong>s e a<strong>na</strong>lisar também as ativi<strong>da</strong>des dos outros dezesseis alu<strong>no</strong>s queparticiparam <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> sentido de aprofun<strong>da</strong>r <strong>no</strong>ssas análise.A seqüência didática foi planeja<strong>da</strong> para ser aplica<strong>da</strong> em quatro diasconsecutivos. Em ca<strong>da</strong> dia <strong>da</strong> seqüência houve um encontro de duas horas e quinzeminutos, equivalente a três horas/aulas.É importante observar que ao fi<strong>na</strong>l a seqüência didática anterior à que se segue, aprofessora solicitou aos alu<strong>no</strong>s que fizessem uma pesquisa como trabalho extra-classesobre <strong>geometria</strong>, sobre seus elementos e a presença <strong>da</strong> <strong>geometria</strong> <strong>no</strong> dia-a-dia.A seguir, temos o planejamento desta seqüência didática:53


Seqüência Didática Bloco 3 - Módulo III – MatemáticaProfessor: xxxxxxxxxDiscipli<strong>na</strong>: MatemáticaConteúdo: Introdução à GeometriaObjetivos Específicos:Apresentar aos alu<strong>no</strong>s as principais figuras geométricas através de ativi<strong>da</strong>des práticas.Problematização Inicial:Usando dobraduras apresentar as figuras geométricas pla<strong>na</strong>s e espaciais.Etapas do Processo:- Ofici<strong>na</strong> de dobraduras relacio<strong>na</strong>ndo as figuras, as suas proprie<strong>da</strong>des principais e osseus <strong>no</strong>mes;- Ofici<strong>na</strong> de tangram reapresentando as figuras geométricas e introduzindo as <strong>no</strong>çõesde semelhança, congruência e equivalência de figuras pla<strong>na</strong>s;- Ofici<strong>na</strong> de pentaminó trabalhando o raciocínio lógico <strong>na</strong> montagem <strong>da</strong>s figuras.- A<strong>no</strong>tações em cader<strong>no</strong> <strong>da</strong>s principais proprie<strong>da</strong>des abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s durante as ofici<strong>na</strong>s.Recursos Didático-Pe<strong>da</strong>gógicos:- papel sulfite, régua, tesoura e cola para as ofici<strong>na</strong>s;- figuras feitas em EVA;Avaliação:- Avaliação oral e de observação realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> decorrer do processo.Segundo a professora, esta avaliação foi feita ouvindo as observações ecomentários que os alu<strong>no</strong>s fizeram durante a execução <strong>da</strong>s ofici<strong>na</strong>s. Ela os observouconforme executavam as ativi<strong>da</strong>des de dobradura, montagem de figuras e, sempre quepossível solicitou que participassem indo ao quadro branco imantado e manipulando aspeças do tangram e do pentaminó (ver figuras 1 e 2 a seguir).54


Figura 1Figura 2A figura 1 mostra os quadrados que formarão as peças do pentaminó que umavez manipula<strong>da</strong>s e arranja<strong>da</strong>s de maneiras diferentes, origi<strong>na</strong>m as peças que encontramse<strong>na</strong> figura 2.A turma era peque<strong>na</strong>, com ape<strong>na</strong>s deze<strong>no</strong>ve alu<strong>no</strong>s, estes alu<strong>no</strong>s puderam serouvidos e observados individualmente com certa facili<strong>da</strong>de.As aulas, durante o desenrolar desta seqüência didática, foram compostas dealgumas ofici<strong>na</strong>s que direcio<strong>na</strong>ram o alu<strong>no</strong> a tomar contato com a <strong>geometria</strong> e os seuselementos.No primeiro dia a ofici<strong>na</strong> aplica<strong>da</strong> foi a de dobraduras que seguiu o modelosugerido pelo livro paradidático “A <strong>geometria</strong> <strong>da</strong>s dobraduras” do autor Luis CarlosImenes (1996).A ofici<strong>na</strong> de dobraduras teve como objetivo apresentar aos alu<strong>no</strong>s as principaisfiguras geométricas pla<strong>na</strong>s, introduzindo o vocabulário apropriado para que estesconhecessem não só as figuras com os seus <strong>no</strong>mes, mas as suas principaiscaracterísticas de uma forma lúdica e heurística além de introduzir a <strong>no</strong>ção de dimensãoespacial.Nessa ativi<strong>da</strong>de, a partir de dobraduras simples, os alu<strong>no</strong>s vão conhecendo asprincipais figuras geométricas pla<strong>na</strong>s e vão ampliando o seu vocabulário geométrico<strong>da</strong>ndo significado às figuras que vão surgindo.55


A reação dos alu<strong>no</strong>s durante esta ativi<strong>da</strong>de foi muito boa uma vez que era umaativi<strong>da</strong>de lúdica e heurística. Conforme o alu<strong>no</strong> vai descobrindo as figuras, ele vaicolando estas figuras <strong>no</strong> seu cader<strong>no</strong> com o <strong>no</strong>me e descrevendo as principaisproprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s mesmas.A última figura a ser forma<strong>da</strong> é uma figura espacial, um paralelepípedo retoretângulo (veja figuras 3 e 4, a seguir) e a professora aproveita este momento paraexplorar o conceito de dimensão espacial.A seguir temos uma ilustração que mostra a construção desta última figura,retira<strong>da</strong> do livro em questão.Figura 356


Figura 4A formalização <strong>da</strong> linguagem ficou restrita às a<strong>no</strong>tações <strong>no</strong> cader<strong>no</strong> quando <strong>da</strong>colagem <strong>da</strong>s figuras construí<strong>da</strong>s, além de alguns conceitos formalizados pela professora<strong>no</strong> último dia <strong>da</strong> seqüência didática.No segundo dia <strong>da</strong> seqüência didática, a professora aplicou à turma uma ofici<strong>na</strong>de tangram. O tangram (veja figura 5) é um jogo chinês mile<strong>na</strong>r e que tem sua origemexplica<strong>da</strong> por várias len<strong>da</strong>s diferentes. Ele é usado, em geral <strong>na</strong>s aulas de arte paraestimular a criativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças que o usam como um quebra-cabeça de sete peçascom as quais é possível se formar um número muito grande e diverso de figuras.Figura 5A ofici<strong>na</strong> de tangram teve por objetivo reforçar o conhecimento <strong>da</strong>s formas eproprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s principais figuras geométricas, desenvolver a criativi<strong>da</strong>de além de57


apresentar aos alu<strong>no</strong>s os conceitos de congruência, semelhança e equivalência de figurasgeométricas. Durante esta ofici<strong>na</strong> foram apresenta<strong>da</strong>s aos alu<strong>no</strong>s algumas figuras <strong>no</strong>vas,tais como o triângulo retângulo, o triângulo isósceles, o paralelogramo e o trapézio, quenão tinham aparecido <strong>na</strong> ofici<strong>na</strong> de dobraduras.Após a confecção do tangram dobrando-se e cortando-se uma folha de papel,observando-se os <strong>no</strong>mes e as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s figuras que iam se formando, aprofessora sugeriu que os alu<strong>no</strong>s formassem quadrados, retângulos, triângulos, trapéziose paralelogramos a partir <strong>da</strong> junção de duas ou mais peças do tangram, estimulandodesta forma a observação e a criativi<strong>da</strong>de. O registro desta ativi<strong>da</strong>de foi feito <strong>no</strong> cader<strong>no</strong>onde os alu<strong>no</strong>s desenharam as figuras que encontravam ao unir duas ou mais peças dotangram.No terceiro dia foi aplica<strong>da</strong> uma ofici<strong>na</strong> de pentaminó a estes alu<strong>no</strong>s. Opentaminó é um jogo que pertence à classe dos poliminós, assim como oconhecidíssimo dominó e o tetraminó que origi<strong>no</strong>u o jogo “tetris”. O dominó écomposto por dois quadrados congruentes unidos pelos seus lados, o tetraminós éformado pela união de quatro quadrados congruentes unidos pelos seus lados e que podeser construído de cinco formas diferentes, já o pentaminó é formado partir <strong>da</strong> uniãopelos lados de cinco quadrados diferentes. Existem doze figuras de pentaminó diferentese o objetivo de se trabalhar a <strong>geometria</strong> com este jogo é levar os alu<strong>no</strong>s a perceber aforma e montar as peças do pentaminó a partir dos quadrados soltos e a seguir juntar asdoze peças do pentaminó como se fossem peças de um quebra-cabeça e formarretângulos e quadrados maiores.A seguir, <strong>na</strong> figura 6, temos as doze figuras que formam um jogo de pentaminóacompanha<strong>da</strong> de seus <strong>no</strong>mes que se relacio<strong>na</strong>m com as letras do alfabeto as quais seaproximam do formato dessas peças.Figura 658


Temos inúmeras maneiras diferentes de se montar as peças do pentaminó comose fosse um jogo de quebra-cabeça. Ilustraremos, a seguir (figuras 7 e 8) com duasdestas maneiras de arranjar as peças do pentaminó como se fosse um quebra-cabeça.Figura 7Figura 8Convém ressaltar que, como a soma <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong>s peças do pentaminó equivale a60 quadradinhos e a figura 8 é um quadrado de área equivalente a 64 quadradinhos, estafigura tem quatro quadradinhos que não foram preenchidos pelas peças do pentaminó,que são os quadradinhos brancos dessa figura.Estas ativi<strong>da</strong>des tiveram por objetivo estimular a criativi<strong>da</strong>de e a observação dosalu<strong>no</strong>s, além de ser uma opção metodológica para <strong>na</strong> seqüência, abor<strong>da</strong>r <strong>no</strong>ções demedi<strong>da</strong>s de comprimento e medi<strong>da</strong>s de área.No quarto dia foram feitas as a<strong>no</strong>tações em cader<strong>no</strong> que formalizaram algunsdos conceitos tratados <strong>no</strong> decorrer <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.Durante a seqüência didática, a professora não falou formalmente sobre ponto,reta e pla<strong>no</strong>, ela ape<strong>na</strong>s foi usando os conceitos como vocabulário específico durante aaplicação <strong>da</strong>s ofici<strong>na</strong>s, bem como as palavras: lado, vértice, ângulo e paralelos queforam sendo apresenta<strong>da</strong>s durante as ofici<strong>na</strong>s sem a preocupação de uma formalizaçãodos conceitos ligados a estes termos. Segundo a professora, estes termos serãoformalizados numa etapa posterior quando os alu<strong>no</strong>s tiverem um contato mais formalcom a <strong>geometria</strong>.Após essas aulas, as três alu<strong>na</strong>s tiveram uma aula onde resolveram a ativi<strong>da</strong>de 1individualmente e depois a ativi<strong>da</strong>de 2, junto com os outros alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> sua turma. Essasativi<strong>da</strong>des serão a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s a seguir.59


Descrição e Análise <strong>da</strong>s Ativi<strong>da</strong>des Realiza<strong>da</strong>s <strong>na</strong>PesquisaAtivi<strong>da</strong>de 1A Ativi<strong>da</strong>de 1 consta de duas partes. Na primeira parte temos um questionáriocujas perguntas estão relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s a seguir:1. Você estudou até qual série quando criança?2. Quando você estudou, antes de vir para o CIEJA, você teve aulas de <strong>geometria</strong>?3. O que você se lembra destas aulas?4. Você acha que esta matéria influenciou <strong>na</strong> sua decisão de parar de estu<strong>da</strong>r?Estas perguntas tinham como objetivo conhecer um pouco estes alu<strong>no</strong>s e suasexperiências anteriores.A segun<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de tem duas questões numera<strong>da</strong>s com os números 5 e6 respectivamente, a primeira encontra-se a seguir com o número 5 e a segun<strong>da</strong> que temo número 6 será relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong> <strong>na</strong> seqüência.5. Quais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des abaixo usam a <strong>geometria</strong> como ferramenta?a) Desenhar a planta de uma casa.b) Calcular a área de uma sala a ser ladrilha<strong>da</strong>.c) Desenhar o mapa do bairro onde moro.d) Verificar a possibili<strong>da</strong>de de um candi<strong>da</strong>to a prefeito ganhar uma eleição.e) Verificar a massa de um pacote de arroz.f) Traçar as margens em uma folha de papel sulfite.g) Calcular o juro cobrado por uma loja para a compra de um automóvel.O objetivo destas perguntas era saber qual o conhecimento anterior dos alu<strong>no</strong>sem <strong>geometria</strong> e verificar se ele compreendeu e conseguiu identificar ativi<strong>da</strong>des que sãodiretamente relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s à <strong>geometria</strong>, isto é, se o conceito de <strong>geometria</strong> passou a tersignificado para este alu<strong>no</strong>. Na pergunta número 5 era esperado que eles identificassemcomo ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à <strong>geometria</strong> os itens a, c e f.A segun<strong>da</strong> questão <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de era composta por um quadro onde os alu<strong>no</strong>sdeveriam assi<strong>na</strong>lar em ca<strong>da</strong> item apresentado se este era relacio<strong>na</strong>do com a idéia deponto, de reta ou de pla<strong>no</strong>, conforme a tabela abaixo:60


6. Relacione, <strong>na</strong> tabela abaixo, os itens que dão a idéia de ponto, reta ou pla<strong>no</strong>,respectivamente.Item ponto reta pla<strong>no</strong>a) Um fio de alta tensão esticado.b) O gramado de um campo de futebol.c) O furo <strong>na</strong> orelha para colocar um brinco.d) Uma praia deserta.e) A qui<strong>na</strong> de um armário.f) A parede lateral de um prédio.g) Um fio de linha esticado.h) Uma formiga <strong>no</strong> chão, vista do alto.i) Um prego fincado <strong>na</strong> parede.j) O trilho do trem.O objetivo desta questão era verificar se eles adquiriram a competência deidentificar <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des do seu dia-a-dia estes conceitos <strong>da</strong> Geometria.Convém lembrar que estes alu<strong>no</strong>s ain<strong>da</strong> não tinham a formalização dos conceitosde ponto, reta e pla<strong>no</strong> então, para acertar o que foi pedido <strong>na</strong> questão número 6 ele teriaque extrapolar o que lhe foi ensi<strong>na</strong>do, ou seja, ele teria que ter prestado atenção <strong>no</strong>sconceitos que foram ape<strong>na</strong>s citados durante os encontros <strong>da</strong> seqüência didática(ofici<strong>na</strong>s).A seguir faremos a análise <strong>da</strong> resposta <strong>da</strong>s alu<strong>na</strong>s que participaram <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des.Análise <strong>da</strong> Ativi<strong>da</strong>de 1A primeira ativi<strong>da</strong>de foi aplica<strong>da</strong> a três alu<strong>na</strong>s do módulo III que haviamparticipado <strong>da</strong>s aulas de <strong>geometria</strong> junto com a sua turma. A ativi<strong>da</strong>de foi aplica<strong>da</strong> doismeses após estas alu<strong>na</strong>s terem participado <strong>da</strong>s ofici<strong>na</strong>s de <strong>geometria</strong> e também após elasterem feito a ativi<strong>da</strong>de extra-classe sugeri<strong>da</strong> pela professora.Alu<strong>na</strong> 1Esta alu<strong>na</strong> chegou ao CIEJA há três a<strong>no</strong>s a<strong>na</strong>lfabeta e foi alfabetiza<strong>da</strong> nestaescola sendo que o primeiro contato com a <strong>geometria</strong> ocorreu nesse a<strong>no</strong>.61


Na primeira parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, a alu<strong>na</strong> respondeu que as medi<strong>da</strong>s de massa (5e)eram uma ativi<strong>da</strong>de de <strong>geometria</strong>. Ela já estudou as medi<strong>da</strong>s de massa neste a<strong>no</strong> e,conforme observa Gómez-Granell (1997), deve ter acontecido com ela algo que é muitocomum acontecer, ela decorou as regras para trabalhar com as medi<strong>da</strong>s de massa, masain<strong>da</strong> não entendeu o significado destas medi<strong>da</strong>s e as circunstâncias em que devem serusa<strong>da</strong>s o que levou-a a confundir este conteúdo com <strong>geometria</strong>. Esta alu<strong>na</strong> marcou ain<strong>da</strong>a questão (5g) que era um exemplo de ativi<strong>da</strong>de de matemática fi<strong>na</strong>nceira como sendouma ativi<strong>da</strong>de de <strong>geometria</strong>, porém ela ain<strong>da</strong> não aprendeu matemática fi<strong>na</strong>nceira demaneira formal, conteúdo que ela conhecerá ape<strong>na</strong>s <strong>no</strong> próximo a<strong>no</strong>, o conhecimentoque tem deste conteúdo é ape<strong>na</strong>s <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> prática.Na ativi<strong>da</strong>de 6, a alu<strong>na</strong> apontou a parede (6f) e a formiga (6h) como retas.Novamente, Gómez-Granell (1997) assi<strong>na</strong>la que, para esta alu<strong>na</strong>, ain<strong>da</strong> não ficou claroqual o significado de reta, ela já conhece, mas ain<strong>da</strong> consegue relacio<strong>na</strong>r o <strong>no</strong>me com afigura.Alu<strong>na</strong> 2Esta alu<strong>na</strong> chegou alfabetiza<strong>da</strong> ao CIEJA, mas seu primeiro contato com a<strong>geometria</strong> foi neste a<strong>no</strong>.Ao resolver a questão 5b que se trata de uma ativi<strong>da</strong>de liga<strong>da</strong> a áreas, comosendo uma ativi<strong>da</strong>de de <strong>geometria</strong>, sendo que as questões desenhar o mapa do bairroonde moro (5c) e traçar as margens em uma folha de papel sulfite (5f), não foramconsiderados por esta alu<strong>na</strong> como sendo ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à <strong>geometria</strong>.Pela proposta de Van Hiele (1994) concluímos que esta alu<strong>na</strong> encontra-se ain<strong>da</strong><strong>no</strong> nível básico de sua alfabetização em <strong>geometria</strong>, ou seja, ain<strong>da</strong> não adquiriu ascompetências mínimas nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, já se observarmos o que diz Piaget, emboraela já esteja <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adulta ain<strong>da</strong> não está com as operações lógicas formais totalmentedesenvolvi<strong>da</strong>s.Na segun<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, a alu<strong>na</strong> considerou o item praia deserta (6d) e oitem parede lateral de um prédio (6f) como sendo retas e considerou também o itemformiga <strong>no</strong> chão, vista do alto (6h) e o item trilho do trem (6i) como sendo pla<strong>no</strong>s. Oque ape<strong>na</strong>s confirma a análise já feita <strong>no</strong> parágrafo anterior. Além disso, podemos ain<strong>da</strong>acrescentar que segundo Gómez-Granell (1997) ela ain<strong>da</strong> não estabelece uma relaçãoentre o símbolo e o significado dessas figuras geométricas.62


Alu<strong>na</strong> 3Esta alu<strong>na</strong> chegou ao CIEJA alfabetiza<strong>da</strong>, mas nunca tinha entrado em contatocom os conceitos de <strong>geometria</strong> até então. Seu primeiro contato com este conteúdo foineste a<strong>no</strong>.Ao resolver a ativi<strong>da</strong>de, esta alu<strong>na</strong> não identificou a questão traçar as margensem uma folha de papel (5f) como sendo uma ativi<strong>da</strong>de de <strong>geometria</strong> embora tenhaidentificado adequa<strong>da</strong>mente os outros itens <strong>da</strong> questão 5.Já <strong>na</strong> questão 6, ela considerou o furo <strong>da</strong> orelha como sendo uma reta (6c) e aqui<strong>na</strong> do armário (6e) como sendo um pla<strong>no</strong>.Como ela acertou a maioria dos itens <strong>da</strong>s questões desta ativi<strong>da</strong>de, podemos<strong>no</strong>tar que esta alu<strong>na</strong> encontra-se num nível melhor do que as alu<strong>na</strong>s anteriores, já estárelacio<strong>na</strong>ndo as figuras geométricas que conhece com os seus significados.Apesar destas alu<strong>na</strong>s nunca terem estu<strong>da</strong>do <strong>geometria</strong>, consideramos que, pelofato <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des terem sido apresenta<strong>da</strong>s de maneira lúdica e por ape<strong>na</strong>s uma sema<strong>na</strong>,elas obtiveram um bom desempenho, ain<strong>da</strong> que essa seja uma primeira aproximaçãocom as ativi<strong>da</strong>des geométricas.Ativi<strong>da</strong>de 21. Observe as figuras abaixo e identifique as figuras <strong>da</strong> seguinte forma:a) Pinte os quadrados de vermelho.b) Pinte os retângulos de azul.c) Pinte os paralelogramos de amarelo.d) Pinte os triângulos de verde.e) Pinte os círculos de laranja.63


2. Agora respon<strong>da</strong> às perguntas:a) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comoquadrado?b) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comoretângulo?c) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comoparalelogramo?d) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comotriângulo?e) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comocírculo?64


f) Quais os números <strong>da</strong>s figuras que ficaram sem pintar?g) O que deveria ser modificado em ca<strong>da</strong> uma destas figuras para que elaspudessem ser pinta<strong>da</strong>s? Quais as cores deveriam ser usa<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> figura?h) Que proprie<strong>da</strong>des ou características você encontrou <strong>na</strong>s figuras que não forampinta<strong>da</strong>s?Esta ativi<strong>da</strong>de não foi aplica<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s às três alu<strong>na</strong>s cita<strong>da</strong>s anteriormente, mas ato<strong>da</strong> a turma em que elas estão inseri<strong>da</strong>s, ou seja, deze<strong>no</strong>ve alu<strong>no</strong>s (as três maisdezesseis alu<strong>no</strong>s). A ativi<strong>da</strong>de acima também é composta de duas questões. Na questão1 os alu<strong>no</strong>s deviam identificar com cores diversas, figuras geométricas já conheci<strong>da</strong>snum painel onde havia as figuras pedi<strong>da</strong>s mistura<strong>da</strong>s com algumas que ele ain<strong>da</strong> nãoconhecia. O que se esperava ao fi<strong>na</strong>l era que as figuras enumera<strong>da</strong>s com os números 1(elipse) e 2 (trapézio) ficassem sem pintar e as demais receberiam cores de acordo comas suas classificações.Na questão 2 <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de foi pedido aos alu<strong>no</strong>s que relacio<strong>na</strong>ssem quaisproprie<strong>da</strong>des haviam <strong>no</strong>tado <strong>na</strong>s figuras <strong>da</strong> primeira parte que fizeram-<strong>no</strong>s decidir porpintar ou não as figuras. Nesta parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, o objetivo <strong>da</strong> professora foi verificarse os alu<strong>no</strong>s conheciam as figuras ape<strong>na</strong>s empiricamente pelos desenhos ou se sabiamdizer quais as proprie<strong>da</strong>des levam estas figuras a ter a classificação escolhi<strong>da</strong>.Perguntou-se também a respeito <strong>da</strong>s figuras que ficaram sem pintar se eles asconheciam o que deveria mu<strong>da</strong>r nestas figuras para que elas pudessem ser pinta<strong>da</strong>s comalguma <strong>da</strong>s cores.Conforme dissemos anteriormente, esta ativi<strong>da</strong>de será a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong> não só para astrês alu<strong>na</strong>s que participaram <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de 1, mas também para a turma em que estasestão inseri<strong>da</strong>s como um todo.Algumas observações foram feitas durante a ativi<strong>da</strong>de quando a professora, comolhar de pesquisadora, a<strong>no</strong>tou algumas reações dos alu<strong>no</strong>s e alguns comentários queestes fizeram entre si ou ain<strong>da</strong> com a professora. Consideramos que essas a<strong>no</strong>taçõesproporcio<strong>na</strong>ram evidências relevantes para a <strong>no</strong>ssa investigação.Relacio<strong>na</strong>remos as observações que a pesquisadora fez durante a aplicação <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de.A pesquisadora <strong>no</strong>tou que os alu<strong>no</strong>s tinham dúvi<strong>da</strong> se a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> posiçãogerava <strong>no</strong>vas figuras ou se, devido à manutenção <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des, as figuras65


continuavam sendo as que eles já conheciam, esta reação é típica de um estadoegocêntrico conforme evidenciado por Piaget. Embora ele tenha estu<strong>da</strong>do oegocentrismo em crianças peque<strong>na</strong>s, ele se a<strong>da</strong>pta bem para esses alu<strong>no</strong>s que, segundoOliveira (1999a) embora adultos, não têm as mesmas características do adulto letradoque freqüentou a educação básica <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>. Podemos a<strong>na</strong>lisar esse fatotambém relacio<strong>na</strong>ndo com Oliveira (1999b) observando que esse alu<strong>no</strong> “pouco letrado”ain<strong>da</strong> faz relações com a experiência cotidia<strong>na</strong> o que gera a impossibili<strong>da</strong>de de umpensamento abstrato.A maioria dos alu<strong>no</strong>s não se lembrou de quais eram as proprie<strong>da</strong>des de umparalelogramo, inclusive alguns optaram por “chutar” alguma(s) <strong>da</strong>(s) figura(s) para sera representação do paralelogramo. Como a figura e as proprie<strong>da</strong>des do paralelogramoforam estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s durante a ofici<strong>na</strong> do Tangram e relata<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cader<strong>no</strong> <strong>no</strong> quarto dia <strong>da</strong>seqüência didática. Dessa maneira podemos concluir que, de acordo com Gómez-Granell (1997), os alu<strong>no</strong>s não conseguiram ain<strong>da</strong> passar <strong>da</strong> <strong>no</strong>ção intuitiva e vincular os<strong>no</strong>mes e as proprie<strong>da</strong>des trabalha<strong>da</strong>s aos símbolos e imagens <strong>da</strong>s figuras geométricaspla<strong>na</strong>s. Isso <strong>no</strong>s leva a pensar que um fator importante é a necessi<strong>da</strong>de que esses estudossejam aprofun<strong>da</strong>dos e que as ativi<strong>da</strong>des sejam diversifica<strong>da</strong>s.Alguns alu<strong>no</strong>s pensaram que to<strong>da</strong>s as figuras deveriam ser pinta<strong>da</strong>s, ou seja, queto<strong>da</strong>s poderiam ser classifica<strong>da</strong>s de alguma forma e que não haveria nenhuma figura quetivesse alguma classificação diferente <strong>da</strong>s sugeri<strong>da</strong>s <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong>de. Alguns alu<strong>no</strong>scomunicaram-se entre si e chegaram à conclusão de que poderiam deixar de pintar umaou mais figuras e voltaram atrás marcando que algumas figuras pinta<strong>da</strong>s deveriam estarsem pintura. Outros só perceberam, ao responder a questão 2 que isso poderia acontecer.Neste caso podemos <strong>no</strong>s remeter à teoria quando ela diz do experimentar comocompetência do pensamento geométrico. Estes alu<strong>no</strong>s, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de, fizeram umasuposição e a experiência mostrou que eles deveriam voltar atrás <strong>na</strong>s suas decisões.Os alu<strong>no</strong>s tiveram dificul<strong>da</strong>de em preencher a questão 2 desta ativi<strong>da</strong>de, quandocomparado com a questão 1. Muitos conhecem os <strong>no</strong>mes <strong>da</strong>s figuras geométricas, mastêm dificul<strong>da</strong>de em relacio<strong>na</strong>r as proprie<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> figura com a respectiva imagemmostrando que eles não alcançaram a compreensão dos conceitos, pois não conseguemdescrever as figuras em termos de seus componentes ao estabelecendo uma relaçãoentre símbolos e os seus significados.66


Freqüentemente os alu<strong>no</strong>s pensaram que bastava a figura ser curva para sercírculo, então a maioria deles considerou a figura número 1 (elipse) como sendo umcírculo. Nesse caso, <strong>no</strong>s remetemos à teoria de Piaget quando ele estu<strong>da</strong> as crianças epercebe que estas representam to<strong>da</strong>s as figuras como círculos. Estes alu<strong>no</strong>s já estão <strong>na</strong>i<strong>da</strong>de adulta e já passaram dessa fase do desenvolvimento cognitivo, mas voltando aOliveira (1999a), são adultos diferentes do adulto letrado, nesse sentido os alu<strong>no</strong>spesquisados parecem preservar dificul<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s por essa autora quando cita asinvestigações de Luria que aponta a falta de possibili<strong>da</strong>de de classificação categorial desujeitos “pouco letrados”.O quadrado de número 10 está incli<strong>na</strong>do e os alu<strong>no</strong>s tiveram dificul<strong>da</strong>de emclassificá-lo como sendo um quadrado. Alguns alu<strong>no</strong>s não consideraram o triânguloretângulo, figura 9, como sendo um triângulo, para estes alu<strong>no</strong>s só será triângulo afigura que tem o formato <strong>da</strong> figura 11 e observando a questão 2 <strong>no</strong>tamos que os alu<strong>no</strong>snão reconhecem o triângulo como sendo uma figura de 3 lados, nesta situação podemos<strong>no</strong>vamente <strong>no</strong>s remeter à dificul<strong>da</strong>de que apresentam como sendo as mesmas figurasalgo que está numa posição diferente.Observando as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s mesmas alu<strong>na</strong>s que fizeram a ativi<strong>da</strong>de número 1,temos:Alu<strong>na</strong> 1Na questão 1, a alu<strong>na</strong> acertou a pintura dos quadrados, com exceção <strong>da</strong> figura 10que considerou um retângulo. Considerou o retângulo (8) como se fosse quadrado edeixou os outros dois sem pintar. Ela considerou o trapézio (2) como paralelogramo e aelipse (1) como círculo.Percebemos que ela ain<strong>da</strong> confunde quadrado e retângulo, o que segundo VanHiele (1994) é <strong>no</strong>rmal nesta fase de maturi<strong>da</strong>de geométrica e os outros problemas queocorreram <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong>de dessa alu<strong>na</strong> são semelhantes aos já a<strong>na</strong>lisados <strong>na</strong> totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>turma.Na questão 1, a alu<strong>na</strong> parece ter compreendido a proposta <strong>no</strong> entanto, ao realizara questão 2 mostrou que ain<strong>da</strong> tem muitos problemas de alfabetização com dificul<strong>da</strong>despara descrever as proprie<strong>da</strong>des ou mesmo escrever de uma maneira inteligível. A alu<strong>na</strong>está i<strong>na</strong>pta para o tipo de ativi<strong>da</strong>de proposta pela professora e ain<strong>da</strong> que pudéssemos67


esperar que a alu<strong>na</strong>, por estar <strong>no</strong> módulo III, já tivesse vencido a barreira do letramento,isso não se verificou.Podemos concluir, a partir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, que essa alu<strong>na</strong> atingiu o objetivo dereconhecer a maioria <strong>da</strong>s figuras geométricas que lhe foram apresenta<strong>da</strong>s mas que hánecessi<strong>da</strong>de de melhorar o seu nível de letramento para conseguir expressar melhor oque aprendeu.Alu<strong>na</strong> 2Todos os quadrados e retângulos foram pintados de vermelho que é a corsolicita<strong>da</strong> para os quadrados, com exceção do número 10 que ficou sem pintar, o que<strong>no</strong>s faz <strong>no</strong>tar que essa alu<strong>na</strong> ain<strong>da</strong> confunde as proprie<strong>da</strong>des dos quadrados e dosretângulos, embora não os tenha confundido com outras figuras. Segundo Gómez-Granell (1997), a alu<strong>na</strong> ain<strong>da</strong> confunde o significado dos símbolos que conhece.A alu<strong>na</strong> devia pintar de amarelo o paralelogramo, mas não pintou nenhumafigura com essa cor. Considerou o trapézio 2 como sendo um triângulo e a elipse 1como sendo um círculo.Na segun<strong>da</strong> parte, deu para <strong>no</strong>tar que ela sabe que o quadrado tem 4 lados, otriângulo tem 3 lados e o círculo é curvo, mas não usou um vocabulário de <strong>geometria</strong>(lados, ângulos, etc.), como ilustramos a seguir:Transcrição <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong> alu<strong>na</strong> 2:a) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comoquadrado?R: Eles têm quatro linhas retas.d) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comotriângulo?R: Eles têm três linhas.e) Quais as características que você observou <strong>na</strong>s figuras que identificou comocírculo?R: Tem uma linha redon<strong>da</strong>.Observando essa transcrição <strong>no</strong>tamos que a alu<strong>na</strong> ain<strong>da</strong> está <strong>no</strong> nível básico dematuri<strong>da</strong>de geométrica (Van Hiele, 1994). Notamos aqui também um problema <strong>na</strong>escrita.68


Alu<strong>na</strong> 3A alu<strong>na</strong>, a exemplo <strong>da</strong>s anteriores, confundiu os quadrados e os retângulos. Elapintou adequa<strong>da</strong>mente os quadrados, com exceção do número 10 (o que estavaincli<strong>na</strong>do) e pintou o retângulo 8 desta mesma cor, deixando os demais sem pintar. Oque se infere é que a alu<strong>na</strong> não percebeu que as dimensões do retângulo 8 não eram deum quadrado, <strong>da</strong>í não conseguir identificar um retângulo, provavelmente, nãorelacio<strong>no</strong>u a figura com o seu <strong>no</strong>me. (Goméz-Granell, 1997)Ela identificou adequa<strong>da</strong>mente os triângulos e o círculo, mas identificou a elipsecomo sendo círculo, a exemplo <strong>da</strong> maioria dos alu<strong>no</strong>s e chamou o trapézio deparalelogramo, deixando este sem pintar.É interessante observar que <strong>na</strong> questão 2, a alu<strong>na</strong> identificou o quadrado comosendo uma figura de quatro lados, sem colocar regras para esses lados, o que reforça oque foi a<strong>na</strong>lisado <strong>no</strong> primeiro parágrafo, mas descreveu os retângulos como tendo 3lados e o triângulo como tendo 5 lados, o que ficou incoerente quando se <strong>no</strong>ta quepintou os triângulos adequa<strong>da</strong>mente. Essa atitude <strong>no</strong>s leva a a<strong>na</strong>lisar que,provavelmente a alu<strong>na</strong> respondeu a questão 2 sem fazer correspondência com o querespondeu <strong>na</strong> questão 1, isso <strong>no</strong>s remete à possibili<strong>da</strong>de de que a alu<strong>na</strong> não conseguepensar em como se resolve um problema, quer dizer que ela não conseguiu apreender osprocessos mentais estão envolvidos <strong>na</strong> elaboração <strong>da</strong> solução <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.Já o círculo, a alu<strong>na</strong> identificou-o como sendo uma bola, o que mostra coerênciacom o que fez <strong>na</strong> questão 1.Segundo Oliveira (1999a), o ser huma<strong>no</strong> mantém um bom nível de competênciacognitiva até uma i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong> (acima dos 75 a<strong>no</strong>s) e que o que determi<strong>na</strong> o nível decompetência cognitiva destas pessoas são: o meio em que elas vivem e as interações quetêm com este meio. Desta forma, podemos concluir que, ain<strong>da</strong> de acordo com essaautora, essa alu<strong>na</strong> não está prepara<strong>da</strong> para ativi<strong>da</strong>des em que é necessário o controle <strong>da</strong>produção cognitiva e tão pouco para procedimentos metacognitivos sendo que a escola éum bom caminho para a melhoria dessa situação.A seguir faremos mais algumas considerações sobre esta ativi<strong>da</strong>de queconsideramos relevantes para o <strong>no</strong>sso trabalho a<strong>na</strong>lisando as respostas <strong>da</strong> turmacompleta, ou seja, os 19 alu<strong>no</strong>s aos quais foi aplica<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de.69


Análise geral dos alu<strong>no</strong>sTodos os alu<strong>no</strong>s souberam reconhecer o círculo, mas onze deles classificaram aelipse também como círculo, isto <strong>no</strong>s leva a verificar que para estes alu<strong>no</strong>s, to<strong>da</strong> figuracurva é círculo. Isto deve ter ocorrido pelo fato de a única figura curva que foiapresenta<strong>da</strong> a estes alu<strong>no</strong>s ter sido o círculo e que, portanto, eles concluíram, a partir doque conheciam, que to<strong>da</strong> figura curva é um círculo, ou seja, eles não tiveram umacontraposição, para poder diferenciar as figuras.Podemos considerar, também, que se foi dito para eles que todo polígo<strong>no</strong> de trêslados é um triângulo, eles concluíram que to<strong>da</strong> figura curva seria um círculo. Pelaexperiência <strong>da</strong> pesquisadora como professora de EJA, os alu<strong>no</strong>s desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de estãosempre solicitando regras que generalizem as ativi<strong>da</strong>des propostas pela professora.Cinco alu<strong>no</strong>s não conseguiram reconhecer os dois polígo<strong>no</strong>s de três lados comosendo triângulos. Ficou claro que, para estes, ao se mu<strong>da</strong>r a posição do triângulo, elepassa a ser uma figura diferente. Estes alu<strong>no</strong>s conhecem a figura do triângulo mas ain<strong>da</strong>não relacio<strong>na</strong>m com a definição de ser um polígo<strong>no</strong> de três lados, então para eles só étriângulo aquele que tem o formato que eles conhecem <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>, ou seja,para eles ter três lados não implica em ser triângulo.Dos dezesseis alu<strong>no</strong>s, treze souberam enunciar as características do quadrado,sendo que um deles deu como característica o formato de caixa e alguns trocaram apalavra “lado” por “linha” ou ain<strong>da</strong> por “parte”. Os outros três não souberam <strong>da</strong>rnenhuma característica que tivesse relação com as características de um quadrado. Osalu<strong>no</strong>s reconhecem os quadrados, mas para doze deles, o quadrado que não tem a base<strong>na</strong> horizontal não é quadrado, a exemplo disso temos o quadrado de número 10 quecomo todo quadrado é também um losango, nesse sentido, os alu<strong>no</strong>s podem não tê-locolorido em virtude de ter imagi<strong>na</strong>do de que tratava ape<strong>na</strong>s de um losango.Novamente, neste caso, o símbolo (quadrado incli<strong>na</strong>do) levou ao significado queeles conheciam <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> prática (losango) o que não é totalmente errado pelo fato <strong>da</strong>figura ser também um losango além de ser quadrado, mas esse conceito, de acordo comVan Hiele (1994) ain<strong>da</strong> não está ao alcance do desenvolvimento do pensamentogeométrico desses alu<strong>no</strong>s.Para ape<strong>na</strong>s um alu<strong>no</strong>, o retângulo também se chamava quadrado. Mas, nenhumdeles chamou algum quadrado de retângulo.70


Ape<strong>na</strong>s seis alu<strong>no</strong>s reconheceram o paralelogramo como tal, mas <strong>no</strong>ve alu<strong>no</strong>sreconheceram outras figuras como sendo paralelogramos e quatro alu<strong>no</strong>s nãoreconheceram nenhuma figura como sendo paralelogramo. O quadrado, o triângulo e oretângulo apareceram em quase to<strong>da</strong>s as ofici<strong>na</strong>s aplica<strong>da</strong>s a esses alu<strong>no</strong>s, mas otrapézio e o paralelogramo apareceram somente <strong>na</strong> ofici<strong>na</strong> do tangram e não deve tersido suficiente para que estes alu<strong>no</strong>s se familiarizassem com estas figuras. Eles devemter considerado tanto as figuras como os <strong>no</strong>mes como sendo figuras até entãodesconheci<strong>da</strong>s.Embora a maioria dos alu<strong>no</strong>s não saiba relacio<strong>na</strong>r quais as proprie<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong>figura, quatro deles usaram a expressão “lados dois a dois paralelos” para oparalelogramo, relacio<strong>na</strong>ndo com o que foi dito pela professora <strong>na</strong> ofici<strong>na</strong> do tangram,mostrando que estão <strong>no</strong> nível 1 <strong>da</strong> escala elabora<strong>da</strong> por Van Hiele (1994).Uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des destes alu<strong>no</strong>s foi enumerar as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s figuras.Alguns diziam que o quadrado tem quatro partes iguais, um outro alu<strong>no</strong> disse que oquadrado tem formato de caixa, o retângulo forma de tapete e o triângulo forma de umpinheiro, inclusive este alu<strong>no</strong> não considerou o triângulo retângulo como sendo umtriângulo e nem o quadrado incli<strong>na</strong>do como quadrado evidenciando uma dificul<strong>da</strong>de decriar categorias para as figuras.Podemos concluir que obtivemos um resultado dentro do esperado uma vez queestes alu<strong>no</strong>s estão estu<strong>da</strong>ndo <strong>geometria</strong> pela primeira vez e que ain<strong>da</strong> não houve tempopara que eles atinjam uma maturi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> assunto.Segundo Gómez-Granell (1997) é necessário algum tempo e algumafamiliari<strong>da</strong>de com o assunto estu<strong>da</strong>do para que a <strong>geometria</strong> passe a ser uma linguagemcorrente para esses alu<strong>no</strong>s.Se observarmos as tentativas desses alu<strong>no</strong>s em associar os conhecimentos quepossuem com as respostas que apresentaram, podemos perceber a grande proximi<strong>da</strong>deque ain<strong>da</strong> existe em categorizar as figuras segundo sua experiência cotidia<strong>na</strong>. Percebeseque, como adultos “pouco letrados”, suas respostas, diferentemente <strong>da</strong>s crianças emi<strong>da</strong>de escolar adequa<strong>da</strong>, têm vínculo com todo o desenvolvimento social e ambiental eque trazem esta experiência como parte de suas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong>.71


<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e Possibili<strong>da</strong>des para o Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong>GeometriaEsta pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong> com o propósito de investigar as dificul<strong>da</strong>desencontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, em particular <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, <strong>na</strong> EJA, e sugerir ea<strong>na</strong>lisar <strong>no</strong>vas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> para as aulas de Geometria nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensi<strong>no</strong>.Dessa forma relataremos a seguir, em linhas gerais, as principais dificul<strong>da</strong>desencontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong> decorrer <strong>da</strong> pesquisa e sugerir algumas <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> com uma breveanálise <strong>da</strong> relevância de ca<strong>da</strong> uma delas.<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong>As dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s alu<strong>no</strong>s são típicas <strong>da</strong> inserção do adulto “poucoletrado” <strong>no</strong> universo escolar. Observou-se problemas de classificação, sistematização econtrole <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de cognitiva. Estes alu<strong>no</strong>s até conhecem as figuras geométricas, mastêm muita dificul<strong>da</strong>de em relacio<strong>na</strong>r suas proprie<strong>da</strong>des bem como relacio<strong>na</strong>r as figurasentre si.Notou-se ain<strong>da</strong> que ao relacio<strong>na</strong>r uma caixa (três dimensões) e um quadrado(duas dimensões) como tendo o mesmo formato a dificul<strong>da</strong>de de representação <strong>da</strong>s trêsdimensões. Compreendemos que esta dificul<strong>da</strong>de está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com os processosmetacognitivos ain<strong>da</strong> em construção nesses sujeitos.Um fator importante a ser considerado é que estes alu<strong>no</strong>s que estão hoje <strong>na</strong> EJAiniciaram seus estudos <strong>na</strong> época em que estava em vigor a LDB de 1971 (lei 5692/71) eque orientava o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática para ser feito usando-se como base a teoria dosconjuntos e desta forma os livros didáticos que <strong>no</strong>rteavam os planejamentos dosprofessores desta época introduziam a <strong>geometria</strong> usando a teoria dos conjuntos e asdemonstrações formais, além de deixá-la para o fi<strong>na</strong>l dos livros didáticos. Desta forma amaioria desses alu<strong>no</strong>s chegou sem conhecer <strong>geometria</strong>.Possibili<strong>da</strong>desAlém <strong>da</strong>s <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> já cita<strong>da</strong>s <strong>no</strong> texto (dobraduras, tangram e poliminós),vamos sugerir outras ativi<strong>da</strong>des que podem facilitar o ensi<strong>no</strong> e a aprendizagem dosconceitos geométricos sempre a<strong>na</strong>lisando a sua conveniência e relevância. São elas:72


Trabalho com massa de modelarCom massa de modelar (ou argila), os alu<strong>no</strong>s podem reproduzir diversos objetosque lembram formas geométricas. Enquanto trabalham com este material cabe aoprofessor estimulá-los a observar características de ca<strong>da</strong> uma destas formas, asdiferenças e/ou pontos em comum, ou ain<strong>da</strong> verificar que alguns objetos vão <strong>no</strong>sremeter a figuras bidimensio<strong>na</strong>is e outros a figuras tridimensio<strong>na</strong>is.Esta ativi<strong>da</strong>de tem como principal propósito introduzir as figuras geométricas esuas características principais de uma forma lúdica e que remete ao cotidia<strong>no</strong> do alu<strong>no</strong>facilitando a introdução dos conceitos a serem feitos posteriormente.Jogos de classificaçãoNesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de o professor apresenta aos alu<strong>no</strong>s objetos tridimensio<strong>na</strong>isconfeccio<strong>na</strong>dos com cartoli<strong>na</strong> e algumas figuras geométricas pla<strong>na</strong>s tambémconfeccio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com este material e estimula-os a classificar estes objetos porproprie<strong>da</strong>des comuns ou não-comuns, levando-os a refletir sobre as características deca<strong>da</strong> uma destas figuras geométricas.Esta ativi<strong>da</strong>de tem como objetivo levar o alu<strong>no</strong> a perceber as características eproprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s figuras geométricas por meio <strong>da</strong> observação de figuras préconstruí<strong>da</strong>s.Além disso, pretende levá-lo a sistematizar estas características com aintrodução do vocabulário apropriado. Outro objetivo é levá-lo a identificar figuras deduas e de três dimensões.No sentido de formalizar os conceitos, uma ativi<strong>da</strong>de posterior, poderia ser umabusca em livros didáticos ou ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> internet sobre as características dessas figuras eseus <strong>no</strong>mes.Como assi<strong>na</strong>lamos anteriormente, com esta ativi<strong>da</strong>de, o alu<strong>no</strong> vai complementaros conceitos vistos <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des anteriores reforçando sua sistematização, e além dissohá a possibili<strong>da</strong>de de promover a auto<strong>no</strong>mia do alu<strong>no</strong> uma vez que ele poderá construirconceitos próprios a partir <strong>da</strong> pesquisa e depois participar de um debate entre os colegasque usaram fontes diferentes <strong>da</strong>s suas. De acordo com Luria (apud Oliveira, 1999b) otrabalho coletivo possibilitará o desenvolvimento do pensamento descontextualizado.73


Confeccio<strong>na</strong>ndo painéis e cartazesApós a participação de alguma ofici<strong>na</strong> aplica<strong>da</strong> pelo professor ou de ter feitouma pesquisa sobre o assunto, os alu<strong>no</strong>s deverão confeccio<strong>na</strong>r cartazes e/ou painéisusando as figuras que tomaram conhecimento explorando o uso destas figuras pararepresentar figuras liga<strong>da</strong>s ao seu cotidia<strong>no</strong> que remetem às figuras geométricas jáestu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.Uma ativi<strong>da</strong>de que de <strong>no</strong>ssa experiência tem sido bastante motivadora é aapresentação de filmes paradidáticos segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> proposta de elaboração de cartazes epainéis que façam referência a elementos geométricos presentes <strong>no</strong> filme assistido.O objetivo específico dessa ativi<strong>da</strong>de é levar os alu<strong>no</strong>s a identificar elementosgeométricos em figuras já conheci<strong>da</strong>s e usa<strong>da</strong>s por eles <strong>no</strong> seu dia-a-dia.Ampliando as <strong>possibili<strong>da</strong>des</strong> dessa ativi<strong>da</strong>de objetivamos também aumentar ouniverso cultural dos alu<strong>no</strong>s, lembrando que os principais objetivos do CIEJA são: ainserção <strong>no</strong> mundo a cultura e <strong>no</strong> mundo do trabalho.Confeccio<strong>na</strong>ndo figuras tridimensio<strong>na</strong>isNesta ativi<strong>da</strong>de o professor deve apresentar, numa primeira etapa, figurastridimensio<strong>na</strong>is confeccio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com cartoli<strong>na</strong> e estimulá-los a fazer a planificaçãodestas figuras sem desmontar as já existentes conservando medi<strong>da</strong>s e formatos.Numa segun<strong>da</strong> etapa, eles deverão montar estas figuras a partir <strong>da</strong>s planificaçõesjá feitas e verificar se realmente conseguiram chegar <strong>na</strong> planificação correta <strong>da</strong>s figuras,sempre com o estímulo do professor <strong>no</strong> sentido de classificá-las pelos <strong>no</strong>mes e pelasproprie<strong>da</strong>des.O objetivo desta ativi<strong>da</strong>de é estimular a observação e levar o alu<strong>no</strong> a passar dobidimensio<strong>na</strong>l para o tridimensio<strong>na</strong>l e vice-versa.Ativi<strong>da</strong>des <strong>no</strong> computador com softwares de <strong>geometria</strong>Existem hoje <strong>no</strong> mercado vários softwares que aju<strong>da</strong>m o alu<strong>no</strong> a aprender<strong>geometria</strong>, entre eles o Cabri-Geometry, Sketchpad, Cinderella, Dr Geo, Geoplan,Geospace, Euklid, Wingeom, S-logo, Poly, Shapari, Geometria Descritiva, Régua eCompasso e outros. Alguns destes softwares são importados e devem ter seus direitosde uso comprados pela escola, mas alguns deles são em português, elaborados pelasuniversi<strong>da</strong>des brasileiras e de uso livre. Entre eles destacamos o WinGeon que foi feito74


pelos professores do Instituto de Matemática e Estatística <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Pauloe que é de uso livre.O objetivo desta ativi<strong>da</strong>de, mais sofistica<strong>da</strong> que as anteriores é colocar atec<strong>no</strong>logia a serviço <strong>da</strong> aprendizagem e é indica<strong>da</strong> para alu<strong>no</strong>s que já dominem umpouco a informática e o idioma inglês, já que a maioria dos softwares não são emportuguês, apesar de que o S-logo pode ser usado até com alu<strong>no</strong>s em fase dealfabetização uma vez que seu uso é muito simples e aju<strong>da</strong> muito a localização espacialdos entes geométricos.Ativi<strong>da</strong>des usando o Geopla<strong>no</strong>O geopla<strong>no</strong> é um objeto que pode ser facilmente construído, até pelos própriosalu<strong>no</strong>s com uma madeira e pregos e que, com o auxílio de elásticos pode aju<strong>da</strong>r osalu<strong>no</strong>s a conhecer as figuras geométricas e suas proprie<strong>da</strong>des.Esta ativi<strong>da</strong>de é especialmente indica<strong>da</strong> por ser de fácil confecção e manuseio eaju<strong>da</strong> muito <strong>na</strong> construção do conhecimento geométrico.75


Perspectivas FuturasConsiderando o caráter et<strong>no</strong>gráfico dessa pesquisa, os resultados obtidos e o fatode a <strong>geometria</strong> ser deixa<strong>da</strong> para segundo pla<strong>no</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental e, em particular<strong>na</strong> EJA e sendo este um trabalho inicial, consideramos que seria interessante acontinui<strong>da</strong>de dessa pesquisa.76


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Anexo IDados do Instituto Nacio<strong>na</strong>l de Estudos e PesquisasEducacio<strong>na</strong>is (INEP) Sobre A<strong>na</strong>lfabetismoOs níveis de alfabetismo do INAF 2001 – Indicador Nacio<strong>na</strong>l de Alfabetismo Funcio<strong>na</strong>l– mostram que as habili<strong>da</strong>des básicas de leitura e escrita (em boa parte desenvolvi<strong>da</strong> <strong>no</strong>sprocessos de escolarização) estão desigualmente distribuí<strong>da</strong>s entre a populaçãobrasileira e que essa desigual<strong>da</strong>de está associa<strong>da</strong> a outras formas de desigual<strong>da</strong>de eexclusão social.Assim:- A<strong>na</strong>lfabeto absoluto - 9% <strong>da</strong> população de 15 a 64 a<strong>no</strong>s, a maioria não completounenhuma série escolar, pertencem às classes D e E (91%), moram em municípios dointerior <strong>no</strong> <strong>no</strong>rdeste e sudeste, faixa etária predomi<strong>na</strong>nte 35 a 49 a<strong>no</strong>s (38%).- Nível 1 de alfabetismo: capaci<strong>da</strong>de de localizar informações em textos muito curtos,ex localizar títulos ou <strong>da</strong>tas: 31 % têm me<strong>no</strong>s de quatro a<strong>no</strong>s de escolari<strong>da</strong>de, pertencemàs classes E e D (70%) e C (26 %). A maioria vive <strong>no</strong> sudeste, 19 % têm de 14 a 24a<strong>no</strong>s (concentração de jovens).Não têm deman<strong>da</strong> de leitura <strong>no</strong> ambiente de trabalho, 4% utilizam computador.- Nível 2 de alfabetismo: capaci<strong>da</strong>de de localizar informações em textos curtos e deextensão média. 44% têm o Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental completo e ape<strong>na</strong>s 7% têm me<strong>no</strong>s de 3a<strong>no</strong>s de estudo.Pertencem às classes E, D (47 %) e C (37%). Nesse grupo predomi<strong>na</strong>m os jovens 37%têm entre 15 e 24 a<strong>no</strong>s. No ambiente de trabalho lêem mais de um tipo de documento,15 % utilizam computador.- Nível 3 de alfabetismo: lê textos longos, orienta-se por subtítulos, compara textos, fazinferências e sínteses. 43% têm Ensi<strong>no</strong> Médio e 23% o Ensi<strong>no</strong> Superior, pertencem àsclasses E e D (27%), classe C 39% e classes A e B (34%), 44% são jovens de 15 a 24a<strong>no</strong>s. No ambiente de trabalho lêem mais de um tipo de documento, 41% utilizamcomputador.


Estatísticas impactantes – Mapa do A<strong>na</strong>lfabetismo – INEP/2003• Taxa de a<strong>na</strong>lfabetismo <strong>da</strong> população brasileira de 15 a<strong>no</strong>s ou mais 13,6 % (73ª posição<strong>no</strong> ranking inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, inferior à <strong>da</strong> Argenti<strong>na</strong>, Chile, Colômbia, México, CostaRica).• Taxa de a<strong>na</strong>lfabetos funcio<strong>na</strong>is (quatro a<strong>no</strong>s de escolarização) 27,8%.• A<strong>na</strong>lfabetos absolutos e a<strong>na</strong>lfabetos funcio<strong>na</strong>is – 50 milhões de brasileiros.Embora as taxas do a<strong>na</strong>lfabetismo tenham caído progressivamente <strong>no</strong> último século, osnúmeros absolutos aumentaram. Em 2000 havia um número maior de a<strong>na</strong>lfabetos doque <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 60 e quase duas vezes e meia o que havia <strong>no</strong> início do século 20. Doponto de vista <strong>da</strong> mobilização de recursos o que interessa é o número absoluto dea<strong>na</strong>lfabetos e isto <strong>no</strong>s impõe uma grande tarefa.Políticas educacio<strong>na</strong>is frágeis <strong>no</strong> combate ao a<strong>na</strong>lfabetismo• Ações marca<strong>da</strong>s pela descontinui<strong>da</strong>de. Tentativas para erradicar o a<strong>na</strong>lfabetismoacontecem desde 1947 – Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos - gover<strong>no</strong>Gaspar Dutra. Entre campanhas, movimentos e programas foram mais de dez tentativas,pouco eficientes de combater o a<strong>na</strong>lfabetismo, como comprovam as estatísticas.• Propostas salvacionistas e improvisa<strong>da</strong>s. A ca<strong>da</strong> gover<strong>no</strong> um <strong>no</strong>vo batismo deprogramas de alfabetização.Se a<strong>na</strong>lisarmos a expansão do sistema constata-se que a ampliação doatendimento escolar teve forte impacto <strong>no</strong> processo de desaceleração do a<strong>na</strong>lfabetismo,sobretudo <strong>na</strong>s faixas etárias mais jovens. Por outro lado, o ganho <strong>na</strong> escolari<strong>da</strong>de média<strong>da</strong> população, foi insuficiente para garantir-lhes o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental completo. Nafaixa de 10 a 19 a<strong>no</strong>s 7,4% são a<strong>na</strong>lfabetos e 35% dos a<strong>na</strong>lfabetos já freqüentaram aescola (fracasso do sistema escolar brasileiro).


Anexo IITermo de Consentimento Livre e EsclarecidoServiço Público FederalCentro Federal de Educação Tec<strong>no</strong>lógica de São PauloTermo de Consentimento Livre e EsclarecidoPrezado(a) Sr.(a)O projeto intitulado “<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e Possibili<strong>da</strong>des <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática<strong>na</strong> EJA”, é uma pesquisa aprova<strong>da</strong> pelo CEP (Comitê de Ética de Pesquisa) do CEFET-SP, orientado pela Profª .Ms Wania Tedeschi e conduzido pela alu<strong>na</strong> ElisabeteTeresinha Guerato, que tem como objetivo geral investigar o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> matemática, emparticular <strong>da</strong> <strong>geometria</strong>, <strong>na</strong> EJA e leva em consideração a dificul<strong>da</strong>de que o alu<strong>no</strong> adultotem para sistematizar a matemática que usa <strong>no</strong> seu dia-a-dia <strong>na</strong>s aulas e <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>dessugeri<strong>da</strong>s pelos professores.Durante a ativi<strong>da</strong>de será entregue um questionário, <strong>no</strong> qual o entrevistado terá livrearbítrio para escolher se quer ou não responder. A ativi<strong>da</strong>de que será realiza<strong>da</strong> éconsidera<strong>da</strong> sem risco. Porém, se este procedimento gerar desconforto, constrangimentoou outra situação negativa qualquer, a participação poderá ser interrompi<strong>da</strong> semqualquer prejuízo.O entrevistado ficará livre para interromper a qualquer momento sua participação <strong>na</strong>ativi<strong>da</strong>de de campo. Essa participação <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong>de de campo é voluntária, sendo quenão haverá qualquer forma de remuneração.Os <strong>da</strong>dos pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de de campo serão utilizados ape<strong>na</strong>s para alcançar os objetivos do trabalho,expostos acima, incluí<strong>da</strong> sua participação em sala de aula ou congressos.


O entrevistado poderá entrar em contato com o responsável pela ativi<strong>da</strong>de de campo,Profª .Ms Wania Tedeschi sempre que julgar necessário através do telefone: (11) 2763-7546 e/ou Elisabete Teresinha Guerato pelo telefone (11) 2763-7546, ou com o Comitêde Ética e Pesquisa do Cefet-SP pelo telefone: (11) 2763-7546.Este Termo de Consentimento é feito em 2 (duas) vias, de maneira que umapermanecerá em meu poder e a outra com a alu<strong>na</strong> responsável e obtive to<strong>da</strong>s asinformações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação<strong>na</strong> referi<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de campo.Eu___________________________________________________ ,_______a<strong>no</strong>sRG__________________, residente a __________________________________,telefone ( )________________, abaixo assi<strong>na</strong>do, dou meu consentimento livre eesclarecido para participar como voluntário(a) <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de campo supracita<strong>da</strong>, sobresponsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> alu<strong>na</strong> Elisabete Teresinha Guerato, estu<strong>da</strong>nte do Centro Federal deEducação Tec<strong>no</strong>lógica de São Paulo, e <strong>da</strong> Profª .Ms Wania Tedeschi, professora docurso de Pós-Graduação.São Paulo, ______ de ____________________ de 2007.__________________________________________Nome e/ou assi<strong>na</strong>tura do voluntário_____________________Profª .Ms Wania Tedeschi________________________Elisabete Teresinha GueratoEnd.: Rua Pedro Vicente, 625 RG.: 10.103.871e-mail: wania.tedeschi@ig.com.bre-mail:eguerato@globo.comTel.: (11) 2763-7576 Tel.: 2763-7576


Anexo IIICarta de encaminhamentoAo Prof. ___________________Presidente do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Huma<strong>no</strong>s do CEFET -SP.Venho por meio desta encaminhar o projeto de pesquisa intitulado:“<strong>Dificul<strong>da</strong>des</strong> e Possibili<strong>da</strong>des <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>na</strong> EJA” para apreciação destedouto Comitê de Ética.São Paulo, ___ de __________ de _____._________________________Professor Ms. Wania Tedeschi

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