EducaçãoManifestaçãodos professoresna Av. Paulista,em junhopassadoCumpra-seProfessores se movimentam pelo respeitoà lei que <strong>de</strong>termina que o salário inicial emtodo o país não po<strong>de</strong> ser inferior a R$ 950Está na lei. Agora é fazer cumprir.Qualquer professor <strong>de</strong> educaçãobásica do país tem direito ao piso<strong>de</strong> R$ 950. A Lei 11.738/2008, <strong>de</strong>16 <strong>de</strong> julho, estabeleceu o mínimopara jorna<strong>da</strong> até 40 horas semanais. O valornão po<strong>de</strong> ser composto por gratificaçõese abonos. A <strong>CUT</strong> e a Confe<strong>de</strong>ração Nacionaldos Trabalhadores em Educação (CNTE),que consi<strong>de</strong>ram a medi<strong>da</strong> um passo em direçãoà melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, começaramcampanhas em todos os estados paragarantir a implantação imediata do direito. Amovimentação começouem 16 <strong>de</strong> setembro,com paralisaçãonacional, e segue comativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s programa<strong>da</strong>spara outubro, novembroe <strong>de</strong>zembro –sempre no dia 16.Após sofrer umveto específico, o pagamentodo novo salário<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter re-Bebel: são as máscondições queafetam a saú<strong>de</strong>troativi<strong>da</strong><strong>de</strong> obrigatória a janeiro <strong>de</strong> 2008.Com isso, estados e municípios que atualmentepagam menos que os R$ 950 <strong>de</strong>verãoarcar com dois terços <strong>da</strong> diferença a partir <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 2009. Somente em janeiro <strong>de</strong> 2010os governos cobrirão o valor integralmente.O presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> CNTE, Roberto Franklin<strong>de</strong> Leão, enviou carta a todos os prefeitosressaltando que, apesar do veto à retroativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,o ajuste po<strong>de</strong> ser imediato on<strong>de</strong> oorçamento permite, e sugeriu a negociaçãocom os sindicatos locais para sua implementação.A lei joga um facho <strong>de</strong> luz na quali<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> ensino: um terço <strong>da</strong> carga horária dosprofessores <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>stinado a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sextraclasse, como preparação <strong>de</strong> aulas, pesquisase atendimento dos alunos.Pós-greveTrês meses após realizar greve <strong>de</strong> 21 dias, osentimento dos professores estaduais <strong>de</strong> SãoPaulo é <strong>de</strong> que sua luta exala digni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Omovimento foi interrompido à força: umamulta <strong>de</strong> R$ 500 mil aplica<strong>da</strong> pelo MinistérioPúblico. A categoria reclama a valorizaçãoprofissional, a melhoria no processo <strong>de</strong> ensinoe mantém estado <strong>de</strong> greve contra o Decretonº 53.037/08, que trata <strong>da</strong> avaliação profissional.Para a presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dosProfessores do Ensino Oficial <strong>de</strong> São Paulo(Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha,a Bebel, o documento traz medi<strong>da</strong>s que ameaçamain<strong>da</strong> mais a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino, comoa lei <strong>da</strong>s faltas, que permite apenas seis ausênciasanuais motiva<strong>da</strong>s por problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.“Se as condições <strong>de</strong> trabalho fossem dignas,não haveria tanta gente adoecendo.”Os profissionais <strong>da</strong> educação se preparampara reagir ao que consi<strong>de</strong>ram mais um golpedo governo Serra: as regras que <strong>de</strong>finemremuneração por <strong>de</strong>sempenho, que aguar<strong>da</strong>votação na Assembléia Legislativa. “O projetoé simplesmente uma edição com novaroupagem <strong>da</strong> política <strong>de</strong> bônus e abonos. Avinculação, pura e simples, <strong>da</strong> remuneraçãocom metas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra osclamores dos professores”, diz Bebel.Des<strong>de</strong> sua <strong>da</strong>ta-base em 1º <strong>de</strong> março, osprofessores cobram reposição <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>ssalariais, incorporação <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as gratificações,fim <strong>da</strong> política <strong>de</strong> bônus e abonos,novo plano <strong>de</strong> cargos e salários que valorizea carreira, melhores condições <strong>de</strong> trabalho,fim <strong>da</strong> aprovação automática e <strong>da</strong> superlotação<strong>da</strong>s salas <strong>de</strong> aulas. Durante a greve, ogoverno liberou reajuste salarial <strong>de</strong> 5%.Jailton Garcia REVISTA DO BRASIL outubro 2008
ponto <strong>de</strong> vistaUma nova guerra é possívelOs lí<strong>de</strong>res soviéticos que fizeram a abertura econômica eprivatizaram o Estado, com a esperança <strong>de</strong> que iriam compartilhardo condomínio dos países ricos, <strong>de</strong>scobremagora que foram ingênuos Por Mauro SantayanaQuando, no fim <strong>de</strong> agosto, crescia o temor<strong>de</strong> nova guerra mundial – com a invasão<strong>da</strong> Geórgia à Ossétia do Sul, e a respostarussa –, a imprensa internacionalapresentou os culpados como se fossemvítimas. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> começou a aparecer nos própriosjornais americanos, como o New York Times. O ataquefoi ato <strong>de</strong>liberado, parte do projeto norte-americano<strong>de</strong> cercar a Rússia pelo sul, já que avançavam seus entendimentoscom a República Tcheca e a Polônia, aonoroeste, para a instalação <strong>de</strong> mísseis <strong>de</strong> ataque, a quedão o nome <strong>de</strong> “escudo antimísseis”.A insuspeita revista alemã Der Spiegel cita relatóriosOs norteamericanosnão sesatisfizeramcom aredução <strong>de</strong>um terço <strong>da</strong>área que ossoviéticoscontrolavamnem como fim dosistemasocialistanos paísesdo LesteEuropeu<strong>de</strong> observadores <strong>da</strong> Organização para a Segurançae Cooperação na Europa (OSCE)que revelam terem os norte-americanosfornecido aos georgianos armas, tanques,carros blin<strong>da</strong>dos e instrutores. Durante ainvasão foram cometidos crimes <strong>de</strong> guerra,entre eles os <strong>de</strong> genocídio. Além disso,houve a circunstância eleitoral. Diante <strong>da</strong>provável <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> McCain, o presi<strong>de</strong>nte<strong>da</strong> Geórgia foi açulado a invadir o territóriovizinho a fim <strong>de</strong> criar o inci<strong>de</strong>nte e estimulara escolha do militarista republicano– como <strong>de</strong>nunciou o primeiro-ministrorusso Vladimir Putin.As guerras não são provoca<strong>da</strong>s pelas diferençasi<strong>de</strong>ológicas, mas sim pelos interessesnacionais. Os lí<strong>de</strong>res soviéticos que fizerama abertura econômica e privatizaram oEstado, iludidos <strong>de</strong> que iriam compartilhardo condomínio dos países ricos, <strong>de</strong>scobremagora que foram ingênuos. Os norte-americanosnão se satisfizeram com a redução <strong>de</strong> um terço<strong>da</strong> área que os soviéticos controlavam nem com o fimdo sistema socialista nos países do Leste Europeu. Eforam além <strong>da</strong> conveniência, ao humilhar os vencidosem vários episódios diplomáticos, como violar acordosfirmados sobre os mísseis intercontinentais e, semos consultar, instalar foguetes em suas fronteiras. Atémesmo o principal responsável pela adoção do neoliberalismoem seu país, Gorbatchev, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> hoje a reação<strong>de</strong> Moscou.Des<strong>de</strong> 1914, estamos virtualmente em guerra. A vitória<strong>de</strong> 1918 não eliminou a causa do conflito: a repartição<strong>da</strong>s riquezas do mundo entre os países colonizadoresem que alguns, como Alemanha e Itália, sentiram-seprejudicados. Os alemães escolheram Hitler para li<strong>de</strong>rara recuperação <strong>de</strong> suas colônias e a conquista <strong>da</strong> Europa,até os Urais – a ca<strong>de</strong>ia montanhosa que separa aEuropa <strong>da</strong> Ásia. Consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> essa conquista, partiriampara o domínio do resto do mundo.Quando, no Tribunal <strong>de</strong> Nuremberg, os inquisidoresperguntaram a Hermann Goering (braço direito <strong>de</strong> Hitler)se os nazistas não temiam a punição <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong>,pelo fato <strong>de</strong> terem violado to<strong>da</strong>s as regras <strong>de</strong> guerra,ele respon<strong>de</strong>u, orgulhoso, que estavam em um conflitototal, para impor nova or<strong>de</strong>m ao mundo,e não se sentiam obrigados a obe<strong>de</strong>cera normas anteriores. Vencendo, imporiamsuas próprias regras, e seriam senhores absolutos<strong>da</strong> História. Com o fim <strong>da</strong> guerra, aUnião Soviética, com o êxito <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>sem classes, levou os norte-americanosa reagir, a promover a recuperação <strong>da</strong>Europa com o Plano Marshall e a conduziro reerguimento industrial do Japão.Com o fim <strong>da</strong> União Soviética, os EstadosUnidos se tornaram potência hegemônica.Essa etapa histórica se encerra com o crescimentoespantoso <strong>da</strong> China e <strong>da</strong> Índia e o<strong>de</strong>scrédito político dos norte-americanos,em razão dos golpes militares e <strong>da</strong>s guerrasperiféricas que promoveram, como foramas do Vietnã e <strong>da</strong> África, e como são as doIraque e do Afeganistão.A posição <strong>da</strong> Rússia, entre Europa e Ásia, é<strong>de</strong>cisiva para o futuro do homem. Washingtontenta intimi<strong>da</strong>r os russos, a fim <strong>de</strong> conter sua naturalexpansão diplomática e a construção <strong>de</strong> alianças militarescom os países emergentes <strong>da</strong> Ásia Central. Essa região,que concentra 60% <strong>da</strong> população mundial, provavelmentemu<strong>da</strong>rá, em poucos anos, o eixo <strong>da</strong> História, ao quebraro predomínio americano no mundo, promovendo osurgimento <strong>de</strong> novos pólos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Os Estados Unidos,baseados na mentira, como os nazistas, violam princípioséticos, na ilusão <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m manter guerras “preemptivas”e sem fim, <strong>de</strong> acordo com a insani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus teóricose estrategistas. Assim, nova guerra é possível.MauroSantayanatrabalhou nosprincipais jornaisbrasileiros apartir <strong>de</strong> 1954.Foi colaborador<strong>de</strong> TancredoNeves e adidocultural do Brasilem Roma nosanos 19802008 outubro REVISTA DO BRASIL