No cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> influências do TeatroMágico cabe <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Secos & Molhados,Antonio Nóbrega, Zeca Baleiro,Beatles e Rolling Stones até Os Trapalhões,Chaves e Chapolin, e filmes como LaranjaMecânica, <strong>de</strong> Stanley Kubrick. “O quemais me atrai é a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>grupo</strong>, quemistura DJ, violino, som pesado <strong>de</strong> guitarracom bonecos, malabares, tecidos e trapézios”,opina Daniel Rocha, <strong>de</strong> São Paulo,que criou uma ban<strong>da</strong> inspira<strong>da</strong> no TeatroMágico, chama<strong>da</strong> Vô Maltine, e integra oprojeto social Doadores <strong>de</strong> Sorrisos.Porém, foi do trabalho como ator no <strong>grupo</strong><strong>de</strong> Oswaldo Montenegro, durante umano, que Anitelli herdou mais elementosaplicados em sua trupe. “O método <strong>de</strong> trabalho<strong>de</strong>le com o <strong>grupo</strong> era muito interessante,porque trazia à tona o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>um. Apesar <strong>de</strong> as pessoas não serem atorese artistas consagrados e com certo dom,Oswaldo Montenegro buscava o resultadopela união do <strong>grupo</strong>. Esse espírito tambémcolaborou para eu montar O Teatro Mágicocom pessoas <strong>de</strong> talentos distintos, que, uni<strong>da</strong>s,formam uma avalanche. Ele tambémfoi um dos primeiros artistas a optar pelocaminho <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência”, avalia.A comparação <strong>de</strong> O Teatro Mágico como <strong>grupo</strong> pernambucano Cor<strong>de</strong>l do FogoEncantado também é bastante freqüente.“As duas ban<strong>da</strong>s fazem críticas sociais,ca<strong>da</strong> uma a seu modo, mas com a mesmaintenção. Outra característica, não menosimportante, que as une é o resgate <strong>da</strong> culturabrasileira. Ambas trazem na sua raizelementos <strong>da</strong> cultura nor<strong>de</strong>stina, principalmente”,supõe Ana Caroline. Não foi à toaque percussionistas do Cor<strong>de</strong>l do Fogo Encantadoforam convi<strong>da</strong>dos a participar doprimeiro CD do Teatro Mágico.Para quem questiona se há um certo tommessiânico ou religioso nos espetáculos <strong>da</strong>trupe, Anitelli esclarece: “Eu vejo um tommuito mais político do que religioso. A idéiasempre foi brincar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma trilogia –religião, política e ética. A gente percebe <strong>de</strong>maneira muito clara que as pessoas gostamdo trabalho, mas, ao mesmo tempo, fazemesse comentário com relação a ser uma coisasagra<strong>da</strong>, um ritual”, explica o artista.“Dizem: ‘Ah, parece uma seita. Os únicoslugares on<strong>de</strong> eu vou e as pessoas cantame se abraçam é na igreja e no show doTeatro Mágico’. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, essa espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong>que existe no trabalho se <strong>de</strong>ve talvezao fato <strong>de</strong> ele ser tratado <strong>de</strong> maneira sagra<strong>da</strong>.O palco é sagrado para nós e aquelemomento, ali, não po<strong>de</strong> ser transformadoem algo aleatório e disperso, como muitosfazem.” Prova disso é que, no fechamento<strong>de</strong>sta reportagem, a trupe se preparava parao lançamento <strong>de</strong> seu primeiro DVD, comgravação programa<strong>da</strong> para este início <strong>de</strong>outubro, no Memorial <strong>da</strong> América Latina.A idéia é comemorar, com 6.000 pessoas naplatéia do Espaço <strong>da</strong>s Américas, o aniversário<strong>de</strong> 4 anos <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>.To<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong><strong>de</strong>sPedro, <strong>de</strong> 6 anos, teve oprivilégio <strong>de</strong> subir ao palcocom o <strong>grupo</strong>. O pai do meninogarante: “O show é surreal”rir é coisa sériaCaroline: “O palhaço,por si só, resgataa magia esqueci<strong>da</strong><strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um”Antonio costa58 REVISTA DO BRASIL outubro 2008
etratoCristiano EstrelaA causa <strong>de</strong> Edgar JotzEdgar Jotz nasceu há 78 anos em Alto Feliz (RS). Tornou-sepadre e agora completa meio século à frente <strong>da</strong> ParóquiaSanta Cecília, no bairro <strong>de</strong> mesmo nome na capital gaúcha.Ali ergueu e coor<strong>de</strong>nou uma creche para 30 criançaspobres na Vila <strong>da</strong>s Placas e apoiou outra na Ilha <strong>da</strong>s Flores,organizou passeatas ecológicas, cobrou fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> populaçãopara as pessoas com <strong>de</strong>ficiência, mobilizou a prefeitura para o plantio<strong>de</strong> árvores, ampliou as instalações do Colégio Santa Cecília, recebeuo título <strong>de</strong> Ci<strong>da</strong>dão <strong>de</strong> Porto Alegre, <strong>de</strong> Lí<strong>de</strong>r Comunitário <strong>da</strong> CâmaraMunicipal e a me<strong>da</strong>lha Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre. Durante a ditadura,Jotz abrigou estu<strong>da</strong>ntes paulistas procurados pelos militares.A ousadia custou-lhe seis dias <strong>de</strong> prisão no Dops. O episódio é <strong>de</strong>scritono livro Batismo <strong>de</strong> Sangue, do dominicano Frei Betto. Orientadoa mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> igreja, e <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o padre preferiu ficar, apoiadopelos que já conheciam seu trabalho e acreditavam nele. Apesar <strong>de</strong>estar com a saú<strong>de</strong> comprometi<strong>da</strong> pelas diversas cirurgias feitas nosúltimos anos – cor<strong>da</strong>s vocais, próstata, rim, coração, pulmão –, Edgarcaminha com passos precisos até o local on<strong>de</strong> armazena os alimentosdistribuídos para sete comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s carentes. Mensalmente,a igreja arreca<strong>da</strong> quase 4 tonela<strong>da</strong>s. As cor<strong>da</strong>s vocais <strong>de</strong>bilita<strong>da</strong>s já oafastaram dos sermões há um ano. Mesmo assim, o pároco saca <strong>da</strong>maleta preta o instrumento que apren<strong>de</strong>u a tocar ain<strong>da</strong> nos tempos<strong>de</strong> seminarista. Dedilha os teclados do órgão com uma <strong>da</strong>s mãos,com a outra segura as cifras, e solta a voz. Nesse momento, o brilhodos olhos azuis por <strong>de</strong>trás dos óculos sobressai, embalado pelo louvorà causa que escolheu para a vi<strong>da</strong>. Por Cristiano Estrela2008 outubro REVISTA DO BRASIL 59