esporteLucasper<strong>de</strong>u avisão em2006Elespo<strong>de</strong>mtudoOs JogosParaolímpicosmostraram quevonta<strong>de</strong> e potencialpara vencer, muitoalém do esporte, sãocoisas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Por Xandra StefanelPedro Rezen<strong>de</strong>/cpbAs Paraolimpía<strong>da</strong>s não haviamsequer começado e oBrasil já batia recor<strong>de</strong>s: forama Pequim 188 atletaspara disputar me<strong>da</strong>lhas em17 <strong>da</strong>s 20 mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em Atenas-2004foram 99 competidores em 13 categorias.Mais que dobrou a representação feminina,<strong>de</strong> 22 em 2004 para 55 neste ano. Foia quarta maior <strong>de</strong>legação dos Jogos, atrásapenas <strong>de</strong> China, EUA e Reino Unido. OComitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) comemoroua substancial melhora no <strong>de</strong>sempenho.Foram 16 me<strong>da</strong>lhas <strong>de</strong> ouro, 14 <strong>de</strong>prata e 17 <strong>de</strong> bronze, que <strong>de</strong>ixaram o país no9º lugar no ranking (14º em Atenas, com 14<strong>de</strong> ouro e 33 no total). O secretário-geral doCPB, Andrew Parsons, observa que o paísconquistou me<strong>da</strong>lhas inéditas em algumasmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s. “Foi a nossa maior participaçãonos Jogos”, resume.As praças esportivas foram as mesmas<strong>da</strong>s Olimpía<strong>da</strong>s, algumas semanas antes,a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s para os atletas ca<strong>de</strong>irantes, cegose com paralisia. O público lotou praticamenteto<strong>da</strong>s as provas. Pela distância e ocusto <strong>da</strong> viagem, a torci<strong>da</strong> ver<strong>de</strong>-e-amarelanão passava <strong>de</strong> alguns poucos gatos pingados,mas a simpatia e o <strong>de</strong>sempenho dosatletas conquistaram a energia e a vibraçãodos chineses. A maioria dos triunfos brasileirosveio <strong>da</strong>s pistas <strong>de</strong> atletismo do Ninhodo Pássaro e <strong>da</strong>s piscinas do Cubo D’água.O na<strong>da</strong>dor Daniel Dias, que nasceu commalformação congênita, subiu ao pódio oitovezes, cinco no topo. Daniel disse à Revistado Brasil que só se sentia nervoso quando,<strong>de</strong>baixo d’água, ouvia os chineses gritando.“Era sinal <strong>de</strong> que eles estavam na frente e36 REVISTA DO BRASIL outubro 2008
eu usava isso para <strong>da</strong>r o máximo e vencera prova. E eles aplaudiam muito quem ganhava,mesmo que não fosse chinês. Eramuito legal.” Nascido em Campinas (SP) ecrescido em Camanducaia (MG), Daniel,<strong>de</strong> 20 anos, começou a na<strong>da</strong>r há quatro. Nocolégio, adorava Educação Física, mas só<strong>de</strong>scobriu o esporte paraolímpico quandoviu os jogos <strong>de</strong> Atenas. “Eu não fui criadocomo <strong>de</strong>ficiente, cresci com meus colegas<strong>de</strong> escola, igual. O esporte me ajudou emauto-estima, autoconfiança e percebi queera muito capaz. Depois <strong>de</strong> dois anos na<strong>da</strong>ndoconsegui patrocínio. Antes tinha só‘paitrocínio’. Fico imaginando quantos paisnão po<strong>de</strong>m aju<strong>da</strong>r os filhos que, por isso,nunca vão conhecer o esporte”, lamenta.O velocista Lucas Prado, <strong>de</strong> 23 anos, nãoDaniel:recor<strong>de</strong> <strong>de</strong>me<strong>da</strong>lhasMauricio Pinheiro/cpbTerezinhae o guiaJorge LuizPedro Rezen<strong>de</strong>/cpbnasceu com <strong>de</strong>ficiência. Per<strong>de</strong>u a visão em2006, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> retinaque sofreu quando trabalhava em umbanco. Foi <strong>de</strong>le o primeiro ouro brasileiroem Pequim. Consi<strong>de</strong>rado o <strong>de</strong>ficiente visualmais rápido do mundo, fez balançaras arquibanca<strong>da</strong>s do Ninho <strong>de</strong> Pássaro portrês vezes, ao lado <strong>de</strong> seu guia Justino Barbosa.Quebrou os recor<strong>de</strong>s mundiais nos100 e nos 200 metros na categoria T11, paracorredores totalmente cegos. E nos 400 metrosfaturou seu 3º ouro. O impulso veio<strong>de</strong> Terezinha Guilhermina, que o apresentouao esporte e o encorajou. Ela tambémtem o título <strong>de</strong> cega mais veloz nos 100 enos 400 metros. Em Pequim, levou prata ebronze, respectivamente, além do ouro nos200 metros. Desta vez, a mineira teve companhiafamiliar. Terezinha tem 11 irmãos eoutros quatro são cegos. Dois <strong>de</strong>les estavamnas competições com ela, que já sonha comvôos ain<strong>da</strong> mais altos agora em família.Alto também voaram os <strong>da</strong>rdos <strong>de</strong> RoseaneFerreira dos Santos, a Rosinha. Apernambucana <strong>de</strong> 37 anos teve a pernaesquer<strong>da</strong> amputa<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um atropelamento,o que não diminuiu sua <strong>de</strong>terminação.Ao contrário. Trocou a profissão<strong>de</strong> doméstica pelas competições <strong>de</strong>lançamento <strong>de</strong> disco, <strong>da</strong>rdo e arremesso<strong>de</strong> peso. Em Sydney-2000, sua primeiraparaolimpía<strong>da</strong>, alcançou no arremesso <strong>de</strong>peso seu primeiro recor<strong>de</strong> mundial. EmAtenas-2004, repetiu o feito no lançamento<strong>de</strong> disco.Mais do que bons resultados, um dos objetivosdos jogos que reúnem pessoas com<strong>de</strong>ficiências é justamente aju<strong>da</strong>r a promovera inclusão. Os Jogos Paraolímpicos sãorealizados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a edição <strong>de</strong> Roma-1960<strong>da</strong>s Olimpía<strong>da</strong>s. Passaram um longo períodoà margem e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Seul-1988, estão<strong>de</strong>finitivamente incorporados ao calendárioesportivo mundial. “Essas pessoas têmmuito mais potencial do que se imagina,e se têm esse <strong>de</strong>sempenho fenomenal naprática esportiva, por que não po<strong>de</strong>m teruma vi<strong>da</strong> normal, casar, ter filhos e trabalhar?Os Jogos são uma forma também <strong>de</strong>conscientizar”, diz Parsons, do CPB. “A inclusãoé possível. Só falta as pessoas perceberemque, mesmo com limites, po<strong>de</strong>mosfazer tudo. Estar aqui entre os melhores domundo é uma gran<strong>de</strong> vitória”, <strong>de</strong>fine DanielDias.2008 outubro REVISTA DO BRASIL 37