A lógica O vice-lí<strong>de</strong>r do PMDB naCâmara, Ta<strong>de</strong>u Felipelli: “É muitoprovável que estejamos começando umacaminha<strong>da</strong> que una PT e PMDB em 2010”Fabio Pozzebom/ABrapoiaram Fernando Gabeira (PV) contra a<strong>de</strong>mocrata Solange Amaral.Saulo Queiroz, <strong>da</strong> direção nacional doDEM, diz que os confrontos não trazem riscoà uni<strong>da</strong><strong>de</strong> em 2010: “Existe um espectro<strong>de</strong> oposição (ao governo fe<strong>de</strong>ral) muito claro,com a coligação <strong>de</strong> PSDB, DEM e PPS.A probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não concretizá-la em2010 é muito pequena, porque é um jogo <strong>de</strong>sobrevivência política. Hoje, numa campanha<strong>de</strong> nível nacional, é indispensável estarjuntos para ganhar”.Queiroz aposta que o PT lançará possível“candi<strong>da</strong>to sem intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> eleitoral”,confiante na herança <strong>da</strong> populari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Lula. “Nós não po<strong>de</strong>mos ficar preocupadoscom isso. Vamos enfrentar a guerra <strong>in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte</strong>mentedo candi<strong>da</strong>to.” O presi<strong>de</strong>ntedo PSDB, senador Sérgio Guerra (CE),assinala as características “especiais” <strong>da</strong>seleições municipais: “As coligações maisflexíveis, com vários partidos, têm muitaimportância nesse cenário <strong>da</strong>s alianças locais.Precisamos respeitar as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>sregionais”.Suingue eleitoralMas as “peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais” <strong>de</strong>vemter limites, segundo o próprio presi<strong>de</strong>ntedo PSDB. Questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>aparentemente contraditória <strong>da</strong>s alianças<strong>de</strong> tucanos e petistas, Guerra fala sobre reformapolítica: “Vamos discutir ain<strong>da</strong> esseassunto. Não há uma posição do PSDB sobreisso. Eu sou a favor <strong>da</strong> radicalização <strong>da</strong>fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> partidária. Em algum momentoPaulo Fonseca/Folha imagemela tem <strong>de</strong> ser extrema”.Uma <strong>da</strong>s apostas presi<strong>de</strong>nciais para 2010,o governador mineiro Aécio Neves (PSDB)testa outro discurso. O <strong>de</strong> que, “acima <strong>da</strong>sdivergências políticas e partidárias está ointeresse do povo”, como anunciava texto<strong>de</strong> campanha do “candi<strong>da</strong>to <strong>da</strong> aliança”,Márcio Lacer<strong>da</strong> (PSB), em Belo Horizonte.Em sua página oficial na internet, Lacer<strong>da</strong>foi apresentado como homem <strong>de</strong> Lula,Aécio e do prefeito <strong>da</strong> capital, Fernando Pimentel(PT).Berzoini admite que a novi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> influirem 2010: “Influência tem, porque relaçõesse constroem nessas alianças e coligações,mas vamos observar a dinâmicaeleitoral, porque na<strong>da</strong> é mecânico e absoluto”.Fora dos gravadores, petistas mineiroscriticaram a idéia. “É a única ci<strong>da</strong><strong>de</strong> emque o partido tem a prefeitura, tem aprovaçãoe apóia um candi<strong>da</strong>to ligado a seuprincipal adversário nacional”, afirma ummineiro que trabalha no PT nacional. O petistavê ambições pessoais <strong>de</strong> Pimentel noacordo. “O mais provável é que Pimentel vápara o PSB disputar o governo com apoio<strong>de</strong> Aécio, contra Patrus Ananias”, afirma,referindo-se ao atual ministro do DesenvolvimentoSocial.O cientista político Carlos Machado <strong>de</strong>stacaque, apesar <strong>de</strong> coligações entre PT ePSDB já terem ocorrido, o caso <strong>de</strong> Belo Horizontefoi uma novi<strong>da</strong><strong>de</strong>. “Coligações entrePT e PSDB, em 2000, houve 454 e, em2004, 934. A maior se <strong>de</strong>u em ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s commenos <strong>de</strong> 10 mil eleitores. PT e PSDB nuncahaviam se coligado em ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s com maisdo que 500 mil eleitores.”PT e PMDBO PT aumentou o número <strong>de</strong> coligaçõescom o PMDB, partido com maior número12 REVISTA DO BRASIL outubro 2008
<strong>de</strong> prefeitos no país e maior banca<strong>da</strong> na Câmarae no Senado. Mas o presi<strong>de</strong>nte do PTafirma que não há uma estratégia <strong>de</strong> aproximaçãovisando a 2010. “O PMDB é forteno país todo, e todos os partidos <strong>da</strong> basegovernista também fazem parte <strong>da</strong>s coligações”,afirma.“O alto número <strong>de</strong> coligações com oPMDB se <strong>de</strong>ve simplesmente ao tamanho<strong>de</strong>sse partido, que é aquele com maior número<strong>de</strong> participações em eleições paraprefeito no Brasil. De fato, todos os principaispartidos brasileiros têm no PMDBa legen<strong>da</strong> com a qual fazem o maior número<strong>de</strong> alianças <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> esfera municipal”,concor<strong>da</strong> o cientista político CarlosMachado.O vice-lí<strong>de</strong>r do PMDB na Câmara, Ta<strong>de</strong>uFelipelli (DF), vê uma lógica: “É muitoprovável que estejamos começando umacaminha<strong>da</strong> que una PT e PMDB em 2010”.Uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> no caminho <strong>da</strong> eleição presi<strong>de</strong>ncialO apoio do PT local e do PSDB para eleger Márcio Lacer<strong>da</strong>(PSB) em Belo Horizonte é tido como a prova dos nove paraa disputa <strong>de</strong> 2010. Para Berzoini, presi<strong>de</strong>nte do PT (dir.),“na<strong>da</strong> é mecânico e absoluto”. Sérgio Guerra, presi<strong>de</strong>ntedo PSDB, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> partidária, mas diz que épreciso respeitar as “peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais”Contra isso, não teme nem as coligaçõesque não <strong>de</strong>ram certo, como no Rio <strong>de</strong> Janeiro– on<strong>de</strong> o peeme<strong>de</strong>bista Eduardo Paese o petista Alessandro Molon não fizeramcoligação – e em São Paulo – on<strong>de</strong> o presi<strong>de</strong>nteestadual do PMDB, Orestes Quércia,apoiou Kassab contra Marta Suplicy no primeiroturno. “Lógico que haverá disputasestaduais. Mas elas não serão impermeáveisà aliança nacional. O embate principal <strong>de</strong>2010 é que vai estruturar to<strong>da</strong>s as outrasdisputas”, vislumbra Felipelli.A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma aliança com o PTé sinal <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> do partido,segundo ele: “Nós sempre fomos criticadospor ser um partido muito dividido.Mas todos os gran<strong>de</strong>s partidos têm suas divisões:PT, PSDB e DEM. Agora o PMDBtem mostrado que, apesar <strong>de</strong> ter suas divisões,po<strong>de</strong> votar <strong>de</strong> forma coerente e ser oprincipal elemento <strong>de</strong> sustentação do governo”.Para as eleições <strong>de</strong>ste ano, a principal estratégiaé clara, na visão <strong>de</strong> Felipelli “a lutaé continuar sendo o partido com o maiornúmero <strong>de</strong> prefeituras e vereadores do Brasil.Essa permeabili<strong>da</strong><strong>de</strong> garante ao PMDBo status <strong>de</strong> maior partido do país e se reproduzna eleição para <strong>de</strong>putados e senadoresno Congresso”. Apesar do objetivo <strong>de</strong>conquistar o maior número <strong>de</strong> prefeituras,a do Rio <strong>de</strong> Janeiro, segundo maior colégioeleitoral do país, foi prioritária. “E nãosó para o PMDB, não é? Por que será que oLula tem ido tanto para lá?”Para Mauro Paulino, do Datafolha, agran<strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong> para 2010 será sobre a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Lula <strong>de</strong> transferir votos. “O candi<strong>da</strong>to<strong>de</strong>le não será, certamente,alguém com omesmo carisma, o po<strong>de</strong>r<strong>de</strong> comunicação que eletem com os mais pobres,então, vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r tambémdo grau <strong>de</strong> envolvimentoque ele terá com acampanha <strong>de</strong>ssa pessoa”,diz o analista. “Manti<strong>da</strong>a aceitação atual <strong>de</strong> Lulafotos: José Cruz/ABrpelos pobres, que têmcom o governo <strong>de</strong>le aspolíticas sociais, e pelaselites, que têm a manutenção<strong>da</strong>s regras <strong>de</strong>mercado, o candi<strong>da</strong>to <strong>de</strong>Lula é, <strong>de</strong> cara, o favorito”,emen<strong>da</strong> a socióloga FátimaPacheco Jordão.Certeza mesmo, para o diretor do Datafolha,é que o país <strong>vive</strong> hoje outro momentoem relação às déca<strong>da</strong>s anteriores: “Peloquadro dos possíveis candi<strong>da</strong>tos para 2010já se vê que não há mais, hoje, espaço paraum Collor, por exemplo. O eleitor mudou,está mais exigente”, acredita. “O raciocíniotradicional <strong>da</strong> mídia, sobre apoios e transferências<strong>de</strong> voto, expressa uma visão muitoconceitual do eleitor. Ele é uma pessoa real,que tem problemas reais, quando an<strong>da</strong> narua, pega um ônibus, vai ao posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.E está ca<strong>da</strong> vez fazendo escolhas maisracionais”, completa Fátima.2008 outubro REVISTA DO BRASIL 13