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Geoprocessamento aplicado ao estudo da vegetação e do ... - UFMG

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ANDRÉ COUTINHO BARBOSAGEOPROCESSAMENTO APLICADO AO ESTUDO DA VEGETAÇÃO E DO USO EOCUPAÇÃO DO USO DO SOLO DA REGIÃO DA SERRA DO CARAÇA NO PERÍODODO 1980-2002Monografia apresenta<strong>da</strong> como requisito parcial à obtenção <strong>do</strong> graude especialista em <strong>Geoprocessamento</strong>, Curso de Especialização em<strong>Geoprocessamento</strong>, Departamento de Cartografia, Instituto deGeociências, Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais.Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Maria Márcia M. Macha<strong>do</strong>BELO HORIZONTE20052


Barbosa, André CoutinhoGEOPROCESSAMENTO APLICADO AO ESTUDO DA VEGETAÇÃO EDO USO E OCUPAÇÃO DO USO DO SOLO DA REGIÃO DASERRA DO CARAÇA NO PERÍODO DO 1980-2002Gomes–Belo Horizonte, 2005.vi, 48f. il.Monografia (Especialização) – Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais.Instituto de Geociências. Departamento de Cartografia, Programa deEspecialização em <strong>Geoprocessamento</strong> 2005.Orienta<strong>do</strong>r: Maria Márcia Magela Machadp1. SIG, Uso <strong>do</strong> Solo, Serra <strong>do</strong> Caraça3


1. IntroduçãoDistante aproxima<strong>da</strong>mente 120 kilômetros Belo Horizonte, a região <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça fazparte <strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Quadrilátero Ferrífero e abriga uma <strong>da</strong>s maiores montanhas de to<strong>do</strong>o esta<strong>do</strong> mineiro. Estas montanhas podem atingir altitudes superiores <strong>ao</strong>s 2000 metroscomo é o caso <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Sol, 2070 metros e Pico <strong>do</strong> Inficciona<strong>do</strong>, 2063 metros. É umambiente bem rico em biodiversi<strong>da</strong>de guar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> resquícios de uma floresta de transiçãoentre a Mata Atlântica e o <strong>do</strong>mínio de cerra<strong>do</strong>. Em altitudes superiores <strong>ao</strong>s 1400 metros esobre o solo pedregoso podemos encontrar campos rupestres quartizíticos, um <strong>do</strong>mínio devegetação <strong>do</strong>s mais ricos <strong>do</strong> Brasil, ten<strong>do</strong> maior diversi<strong>da</strong>de botânica por metro quadra<strong>do</strong><strong>do</strong> que a floresta tropical. Além de to<strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s vários biomas encontra<strong>do</strong>s naSerra <strong>do</strong> Caraça, a região é um grande manancial de água, sen<strong>do</strong> seus riachos abun<strong>da</strong>ntesem suas encostas íngrimes, onde são tributários <strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> rio Doce.A região <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça tem uma pequena Reserva Particular <strong>do</strong> Patrimônio Natural(RPPN) administra<strong>da</strong>s pelos padres Lazaristas e onde encontramos o antigo colégio <strong>do</strong>Caraça, com sua capela em estilo gótico. Mas esta reserva pode ser considera<strong>da</strong> ínfimaperto <strong>da</strong> área de abrangência de to<strong>do</strong> o maciço montanhoso <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça. A região <strong>do</strong>entorno <strong>da</strong> serra, que abrange as ci<strong>da</strong>des de Barão de Cocais, Catas Altas e Mariana,sobrevive, basicamente, de ativi<strong>da</strong>des de minera<strong>do</strong>ras, sofren<strong>do</strong> <strong>ao</strong> longo de déca<strong>da</strong>s comos impactos <strong>da</strong> ocupação antrópica.Nos primórdios <strong>da</strong> ocupação humana na região existem relatos, além <strong>da</strong> presença <strong>da</strong>sfeições de cerra<strong>do</strong> e suas sub-classificações, <strong>da</strong> presença de uma mata exuberante, mataesta que foi intensamente explora<strong>da</strong> pelo homem à procura de madeira de lei <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>sanos. Trabalhos mais recentes sobre a classificação <strong>da</strong> vegetação como é o caso <strong>do</strong> Manual<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Minas Geais (Fun<strong>da</strong>ção Biodiversitas, IEF, 2005) e aclassificação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1976)classificaram a região como sen<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minantemente de <strong>do</strong>mínio de cerra<strong>do</strong> com algumasde suas sub-divisões, tais como: Campos rupestres, campos de altitude, cerra<strong>do</strong> de camposujo e cerra<strong>do</strong> de campo limpo. Feições de mata de transição entre cerra<strong>do</strong> e Mata Atlânticatambém foram evidencia<strong>do</strong>s em algumas regiões isola<strong>da</strong>s, mais precisamente na parte1


aixa <strong>da</strong> serra em altitudes que vão <strong>do</strong>s 650 <strong>ao</strong>s 850 metros. Matas ciliares e matas degaleria foram evidencia<strong>da</strong>s <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>s rios mais cau<strong>da</strong>losos como, por exemplo, oribeirão Caraça nas proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Colégio <strong>do</strong> Caraça.Para estu<strong>da</strong>rmos o desenvolvimento <strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo de uma determina<strong>da</strong> regiãotemos, primeiramente, que a<strong>do</strong>tar parâmetros de análise, ou melhor, o que se esper<strong>ao</strong>bservar durante o <strong>estu<strong>do</strong></strong> proposto. No caso <strong>do</strong> presente trabalho procuraremos observar aevolução <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo no entorno <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça, utilizan<strong>do</strong> ferramentas degeoprocessamento.As técnicas de geoprocessamento têm se torna<strong>do</strong>, ultimamente, ferramentas essenciais par<strong>ao</strong> reconhecimento e acompanhamento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>s anos, sobressain<strong>do</strong>-secomo uma ferramenta eficaz no que diz respeito à análise espacial. Uma vantagem é afacili<strong>da</strong>de de cruzar informações e a visualizar fenômenos que ocorrem na superfícieterrestre. Por isso as técnicas de geoprocessamento tem si<strong>do</strong> usa<strong>da</strong>s para identificardesmatamentos, queima<strong>da</strong>s, cobertura vegetal, hidrografia, distribuição populacional equalquer fenômeno que seja espacializa<strong>do</strong>.2


2. Objetivo GeralUtilizar imagens de satélite <strong>da</strong>s <strong>da</strong>tas de 1980 e 2002 e fazer um <strong>estu<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> vegetação e <strong>do</strong>uso e ocupação <strong>do</strong> solo no entorno <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça, envolven<strong>do</strong> os municípios de Barãode Cocais, Catas Altas e Mariana, visan<strong>do</strong> identificar mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s, oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>influência antrópica, durante este perío<strong>do</strong> de vinte e <strong>do</strong>is anos.2.1. Objetivos EspecíficosConfecção de um modelo 3D <strong>do</strong> maciço <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça para melhor visualização <strong>da</strong>scaracterísticas físicas <strong>da</strong> região.Construir mapas temáticos de uso <strong>do</strong> solo conten<strong>do</strong> as classes: matas, vegetação decerra<strong>do</strong>, rocha aflora<strong>da</strong>, mancha urbana e solo exposto.Construir um mapa resulta<strong>do</strong> com as áreas de alterações <strong>da</strong> vegetação com as seguintesanálises:Vegetação que permaneceu intacta, áreas de vegetação que foi desmata<strong>da</strong>, área onde avegetação foi recupera<strong>da</strong>, bem como acompanhar a evolução <strong>da</strong>s manchas urbanas e áreasde solo exposto.3


3. A Serra <strong>do</strong> Caraça3.1– Localização e Características GeraisFoi o barão de Eschwege, nos primórdios <strong>do</strong> século XIX, quem primeiramente realizou<strong>estu<strong>do</strong></strong>s na região que hoje conhecemos como Espinhaço; nome <strong>da</strong><strong>do</strong> à cordilheira demontanhas que atravessa o centro <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Minas Gerais, na direção de sul a norte até ointerior <strong>da</strong> Bahia. Segun<strong>do</strong> o pesquisa<strong>do</strong>r, elas se assemelhavam a uma coluna vertebral, ouespinha <strong>do</strong>rsal, e deu-lhes o nome com aumentativo “aço” para frizar bem a sua magnitude.Em uma <strong>da</strong>s porções <strong>do</strong> maciço <strong>do</strong> Espinhaço temos a Serra <strong>do</strong> Caraça localiza<strong>da</strong>, maisprecisamente, na parte nordeste <strong>do</strong> Quadrilátero Ferrífero, na porção centro sul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>Mineiro, na altura <strong>do</strong> paralelo 20 e 40 30’ de longitude oeste, ten<strong>do</strong> a área <strong>do</strong> ParqueNatural <strong>do</strong> Caraça onze mil hectares. A área <strong>do</strong> parque está inseri<strong>da</strong> na carta de CatasAltas, 1:50.000, <strong>do</strong> IBGE (Fig. 1).Figura 1: Localização <strong>da</strong> carta de Catas Altas, 1: 50.000, onde está inseri<strong>da</strong> a Serra <strong>do</strong>Caraça. IBGE – 1975.4


O acesso de Belo Horizonte até o Caraça se dá pela BR-262 até o trevo de Barão deCocais, depois à direita na BR-365 até depois de Barão de Cocais onde, novamente àdireita, tem-se direção <strong>ao</strong> Colégio <strong>do</strong> Caraça, portaria <strong>do</strong> Parque Natural <strong>do</strong> Caraça(RPPN). Ao to<strong>do</strong>, o percurso de Belo Horizonte até a serra <strong>do</strong> Caraça é deaproxima<strong>da</strong>mente 120 km de distância.O Parque Natural <strong>do</strong> Caraça é uma região bastante deforma<strong>da</strong> geologicamente. Compostaprincipalmente por quartzitos, que por sua vez possuem coloração que vai desde o cinza,laranja, amarelo, ou róseo; estas rochas evidenciam uma deposição marinha que <strong>da</strong>ta <strong>do</strong>sprimórdios <strong>da</strong> evolução. Possui também um ambiente que apresenta uma riquezaextr<strong>ao</strong>rdinária, abrigan<strong>do</strong> <strong>do</strong>bras e falhas <strong>da</strong>s mais diversas varie<strong>da</strong>des e amplitudes,classifica<strong>do</strong> como o Sistema de Falhas <strong>do</strong> Caraça (Chamale Jr. Et al. 1992.). Apresentan<strong>do</strong>um relevo acidenta<strong>do</strong>, que formam montanhas e picos como o Pico <strong>do</strong> Sol- 2070m e o Pico<strong>do</strong> Inficciona<strong>do</strong>- 2064m de altitude ambos apresentan<strong>do</strong> abruptas variações de altitude ecom condições climáticas bem peculiares.A região possui uma temperatura média entre 15°C e 20°C, onde as máximas poucas vezesultrapassam 30ºC; mas as mínimas, esporadicamente, alcançam valores negativos de até -2ºC (EMATER-MG). O clima suave e ameno, devi<strong>do</strong> à altitude eleva<strong>da</strong>, favorecen<strong>do</strong> assima saturação <strong>do</strong> ar, pode ser bastante úmi<strong>do</strong>, pareci<strong>do</strong> com o <strong>da</strong>s terras altas <strong>da</strong> Mantiqueira,Caparaó e Itacolomí. Daí a origem <strong>do</strong>s nevoeiros que cobrem constantemente os cumes <strong>da</strong>ssuas montanhas. O Caraça inclui-se numa <strong>da</strong>s zonas Mineiras com maior freqüência dechuvas. Ouro Preto, que tem um <strong>do</strong>s índices pluviométricos mais altos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, ficarelativamente perto. Talvez por apresentar este clima ameno, além de outros fatores, oCaraça abriga uma grande varie<strong>da</strong>de de espécies florísticas. Abaixo uma imagemLANDSAT de 2002 <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça, em destaque to<strong>do</strong> o maciço rochoso quecompõe a região.5


Figura 2: Maciço <strong>do</strong> Caraça e entorno. LANDSAT II / 2002.6


A rede de drenagem <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça é tributária <strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> rio Doce, sen<strong>do</strong> seu riomais volumoso o córrego Caraça, com suas águas escuras, pareci<strong>da</strong>s com a cor de um chá,devi<strong>do</strong> à matéria orgânica capta<strong>da</strong> <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong> seu percurso e minerais dissolvi<strong>do</strong>s pelaágua de suas rochas quartzíticas.É uma área conheci<strong>da</strong> também pelos seus depósitos de ferro, ouro e manganês, o que atraiua atenção de inúmeras minerações à medi<strong>da</strong> que iam sen<strong>do</strong> descobertas. Ain<strong>da</strong> hoje, estasminerações se fazem presentes nas margens <strong>do</strong> Parque Natural <strong>do</strong> Caraça. Outro lega<strong>do</strong>que remonta os tempos <strong>do</strong> Ciclo <strong>do</strong> Ouro na região, desde os séculos XVIII e XIX, é aexploração vegetal. Esta exploração resultou no intenso desmatamento de suas florestaspara extração de madeira de lei e implantação de pastagens para o ga<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> suprir asnecessi<strong>da</strong>des de alimento e vestuário <strong>do</strong>s antigos minera<strong>do</strong>res. Além disso, o uso dequeima<strong>da</strong>s para desnu<strong>da</strong>r o solo e acusar mais facilmente a presença de ouro, praticamentedizimaram to<strong>da</strong> a Mata Atlântica e as florestas primitivas ali existentes, estan<strong>do</strong> agora,restritas a pequenas manchas nas encostas mais íngremes e inacessíveis e nas margens <strong>do</strong>srios sob forma de mata ciliar.O que ain<strong>da</strong> se faz mais visível é a vegetação típica de cerra<strong>do</strong>, campos rupestres e camposde altitude onde abun<strong>da</strong>m os arbustos e as plantas medicinais tais como barbatimão,camomila, carqueja, congonha e pequenos frutos como caju, mangaba, gabiroba ejabuticaba. “Não se restringin<strong>do</strong> apenas a espécies tropicais, no cume <strong>da</strong>s montanhas,podemos evidenciar espécies alpinas que se assemelham a flora européia...” (LIMAJÚNIOR, 1948). Árvores frutíferas de clima tempera<strong>do</strong> demonstraram perfeita a<strong>da</strong>ptação<strong>ao</strong> clima e <strong>ao</strong> solo <strong>do</strong> Caraça, tais como pereiras, macieiras, ameixeiras, cerejeiras,oliveiras, carvalhos, vinhas, etc. To<strong>da</strong>s estas, foram introduzi<strong>da</strong>s no tempo <strong>da</strong> colonização,sen<strong>do</strong> cultiva<strong>da</strong>s até hoje, nas proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Colégio <strong>do</strong> Caraça.Apesar <strong>da</strong> fauna de regiões montanhosas não ser muito exuberante, na Serra <strong>do</strong> Caraça nãodeixa de estar bem representa<strong>da</strong>. Além de inúmeras varie<strong>da</strong>des de insetos, conta com avesde espécies varia<strong>da</strong>s, tais como gaviões, beija-flores e an<strong>do</strong>rinhões. Apresenta mamíferos,como onças, jaguatiricas, vea<strong>do</strong>s, pacas, macacos varia<strong>do</strong>s, antas e o seu mora<strong>do</strong>r maisilustre, o lobo-guará, outrora ameaça<strong>do</strong> de extinção. Como diria o padre Francisco <strong>da</strong> Silva7


no início <strong>do</strong> século XIX : “...com seus penhascos vertiginosos, parece mais um lugar feitopara o ninho <strong>da</strong>s feras, <strong>do</strong> que para a habitação humana...” (LIMA JÚNIOR, 1948).8


4. Histórico <strong>da</strong> RegiãoOs primeiros indícios <strong>da</strong> presença humana na região <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça remontam <strong>do</strong>início <strong>do</strong> século XVIII, mais precisamente em 1700, quan<strong>do</strong> o padre Felipe de Siqueira eTávora recebe em suas sesmarias, os minera<strong>do</strong>res Domingos Borges, Francisco e AntônioBueno e seus irmãos, que vêm catar ouro nas encostas <strong>da</strong> serra – “... onde encontrava-se emum dia e meio de trabalho, uma arroba e meia <strong>do</strong> precioso metal...” (CARRATO, 1963).Com a febre de fortuna rápi<strong>da</strong> causa<strong>da</strong> pelas minerações <strong>da</strong> época, atraí<strong>do</strong>s por ouro ediamantes, os minera<strong>do</strong>res haviam forma<strong>do</strong> na bacia interna <strong>do</strong> Caraça, em 1716, opequeno arraial, que foi registra<strong>do</strong> no Auto número 19.593 – Ações Civis <strong>do</strong> Cartório <strong>do</strong>segun<strong>do</strong> ofício de notas de Mariana – Arquivo <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional.Existem muitas versões para o nome Caraça, mas a mais difundi<strong>da</strong> é que quan<strong>do</strong> osprimeiros explora<strong>do</strong>res, os Bandeirantes, chegaram à região a procura de ouro, avistaramde longe um grupo de montanhas que se assemelha com o rosto de um gigante deita<strong>do</strong>,<strong>da</strong>n<strong>do</strong> assim o nome de Caraça, ou cara enorme. O arraial <strong>do</strong> Caraça, segun<strong>do</strong> algunshistoria<strong>do</strong>res, teria ti<strong>do</strong> uma existência efêmera, pois assim que começava a esgotar o ourode aluvião, os homens migravam para outros lugares à procura de lavras mais abun<strong>da</strong>ntes,restan<strong>do</strong> apenas barracas velhas e restos de acampamentos. Mas, apesar disto, sempreficavam alguns poucos garimpeiros, remanescentes solitários, faiscan<strong>do</strong> o pouco ouro dealuvião que restava, cultivan<strong>do</strong> pequenas lavouras e crian<strong>do</strong> animais para sua subsistência.Vamos desviar nossa atenção de Minas Gerais <strong>do</strong> século XVIII e nos remeter para Lisboa,onde mais ou menos quarenta anos depois <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> pequeno arraial <strong>do</strong> Caraça, maisprecisamente em 1758, ocorre um atenta<strong>do</strong> contra o rei de Portugal D. José I,acontecimento, que teve ligação direta com a futura fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> Colégio <strong>do</strong> Caraça. D.José foi alvo de uma embosca<strong>da</strong> enquanto fazia uma pequena viagem em sua carruagem,sen<strong>do</strong> alveja<strong>do</strong> com um tiro de bacamarte no ombro. O então ministro <strong>da</strong> Guerra e deEstrangeiros, o Marquês de Pombal, usan<strong>do</strong> de suas influências como ministro <strong>da</strong> corte,assumiu então a tarefa de responsável por caçar qualquer suspeito de envolvimento nocrime. O Marquês de Pombal era um homem ti<strong>do</strong> como temperamental, sem escrúpulos esem moral, “que levava seu governo movi<strong>do</strong> a ambição, dinheiro e desprezo pela autêntica9


nobreza <strong>do</strong> reino, que sempre o tratara com desprezo...“ (LIMA JÚNIOR, 1948). SebastiãoJosé de Carvalho, ou Marquês de Pombal, usou então o seu poder de ministro paraaniquilar to<strong>do</strong>s os seus desafetos na corte, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> confisco e apropriação de to<strong>do</strong>s ostítulos e bens <strong>da</strong>s famílias ti<strong>da</strong>s como envolvi<strong>da</strong>s ou culpa<strong>da</strong>s. O Marquês de Pombal tinhadesafetos com os padres Jesuítas e Franciscanos, entre eles José Policarpo, que seriaacusa<strong>do</strong> e procura<strong>do</strong> como responsável pelo tiro que atingiu D. José.José Policarpo de Azeve<strong>do</strong> tornou-se foragi<strong>do</strong> <strong>da</strong> justiça portuguesa, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> opseudônimo de Irmão Lourenço de Nossa Senhora, a fim de fugir <strong>da</strong> perseguição mortalque o Marquês de Pombal instalara em to<strong>da</strong> a Europa. Sabe-se que Irmão Lourenço cruzoua fronteira com a Espanha, onde teve uma secreta proteção <strong>do</strong>s padres jesuítas – fugin<strong>do</strong>pelas colônias espanholas. Não se sabe <strong>ao</strong> certo qual foi a sua rota durante a fuga dePortugal, mas alguns historia<strong>do</strong>res acham que José Policarpo sob o pseudônimo de IrmãoLourenço, tenha entra<strong>do</strong> no Brasil pelo Rio de Janeiro e que veio diretamente para MinasGerais, caminhan<strong>do</strong> pelo interior em busca de um lugar para se esconder. Acabouencontran<strong>do</strong> o padre frei Antônio de Santa Maria <strong>do</strong>s Mártires. E foi através deste padre,que o Irmão Lourenço teve permissão para usar no Brasil, o hábito de São Francisco(LIMA JÚNIOR, 1948). Irmão Lourenço então, fez a <strong>do</strong>ação de tu<strong>do</strong> o que tinha à ordemterceira de São Francisco <strong>do</strong> Tijuco, com a condição de o alimentarem enquanto vivesse.To<strong>do</strong>s os parentes e supostos amigos de José Policarpo de Azeve<strong>do</strong> foram presos esubmeti<strong>do</strong>s a torturas para que entregassem o paradeiro <strong>do</strong> condena<strong>do</strong>, mas nenhumainformação consistente foi obti<strong>da</strong>.“Desapareci<strong>do</strong> <strong>do</strong> arraial <strong>do</strong> Tijuco desde 1770, permaneceu escondi<strong>do</strong> até 1774. Nestaépoca, segun<strong>do</strong> os seus próprios relatos, começou a erguer uma ermi<strong>da</strong> em um local dedifícil acesso ... meti<strong>do</strong> no âmago de serranias alcantila<strong>da</strong>s, com caminhos disfarça<strong>do</strong>sentre precipícios, enfim, um esconderijo bem distante e seguro, que foi denomina<strong>do</strong>Caraça” (LIMA JÚNIOR, 1948). Assim, entre as montanhas <strong>do</strong> Caraça, o Irmão Lourençoencontrou abrigo e sossegou <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> de fugitivo mais procura<strong>do</strong> de Portugal. E com aaju<strong>da</strong> de esmolas, <strong>do</strong>nativos e, provavelmente, com o contraban<strong>do</strong> de ouro e diamantes <strong>da</strong>região de Catas Altas e Mariana, Irmão Lourenço começou a erguer a ermi<strong>da</strong> Nossa10


Senhora Mãe <strong>do</strong>s Homens e de São Francisco de Chagas, na atual região <strong>do</strong> Colégio <strong>do</strong>Caraça.Deste mo<strong>do</strong>, escondi<strong>da</strong> entre as serras, surge a confraria Nossa Senhora Mãe <strong>do</strong>s Homens;que ora se expandia com muitos fiéis, ora ficava reduzi<strong>da</strong>. Paga<strong>do</strong>res de penitências,eremitas e noviços ficavam sob os olhos de Irmão Lourenço, o seu fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r e líderespiritual. Mas, o que nunca cessava, era a vontade <strong>do</strong>s que ali freqüentavam de criar umcentro de fervor religioso nas terras de Minas Gerais. Ali onde viveu Irmão Lourenço até osnoventa e cinco anos de i<strong>da</strong>de, vin<strong>do</strong> a falecer no dia 27 de outubro de 1819, sen<strong>do</strong>sepulta<strong>do</strong> em sua igreja, no atual Colégio <strong>do</strong> Caraça.Após a sua morte, o santuário <strong>do</strong> Caraça passou a pertencer à coroa portuguesa, que oentregou <strong>ao</strong>s padres Lazaristas para que ali abrissem uma instituição de ensino. Estainstituição foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1821 e funcionou até 1968, quan<strong>do</strong> um incêndio destruiu asantigas instalações <strong>do</strong> colégio, levan<strong>do</strong> <strong>ao</strong> seu fechamento.Durante o perío<strong>do</strong> de existência <strong>do</strong> Colégio <strong>do</strong> Caraça, vários nomes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> públicabrasileira tiveram formação básica e superior em suas instalações. Entre eles destacam-seos presidentes <strong>da</strong> república Arthur Bernardes e Afonso Pena, juntamente com governa<strong>do</strong>rMelo Viana. Hoje em dia, o colégio <strong>do</strong> Caraça é tomba<strong>do</strong> pelo patrimônio histórico culturalbrasileiro e faz <strong>do</strong> turismo a sua maior fonte de ren<strong>da</strong>. “Em 1982 foi cria<strong>do</strong> o ParqueNatural <strong>do</strong> Caraça, através <strong>do</strong> convênio entre a congregação <strong>da</strong> missão e o IBDF. Oconvênio foi desfeito em 1986 em função de discordâncias <strong>da</strong> forma de administrá-lo...”(Rodrigues, O Contexto Geológico Estrutural <strong>do</strong> Caraça, 1996, p.:6). Atualmente, os padresLazaristas continuam a administrar a área <strong>da</strong> reserva, lutan<strong>do</strong> para preservar e conseguir tero controle de acesso <strong>do</strong>s visitantes <strong>ao</strong>s seus limites.11


5. Procedimentos Meto<strong>do</strong>lógicosPara o <strong>estu<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> evolução <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo e disposição <strong>da</strong> cobertura vegetal <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong>Caraça, dividimos o trabalho em cinco etapas básicas sen<strong>do</strong>: Aquisição <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s,tratamento <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, montagem <strong>do</strong> modelo digital de elevação, produção de mapastemáticos, e, finalmente, a análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. A seguir nos concentraremos nosprocedimentos meto<strong>do</strong>lógicos que envolvem a aquisição, tratamento e representação <strong>do</strong>s<strong>da</strong><strong>do</strong>s de uso <strong>do</strong> solo e cobertura vegetal <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça, em um intervalo de tempo de22 anos: 1980 a 2002. Já a análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>da</strong> através <strong>do</strong>s mapas temáticos, éapresenta<strong>da</strong> no capítulo 6.5.1. Aquisição <strong>da</strong>s Imagens LANDSAT e Bases Topográficas DigitaisAs imagens LANDSAT-II 1980 e 1992 foram adquiri<strong>da</strong>s através <strong>do</strong> site <strong>do</strong> INPE(www.dgi.inpe.br), sen<strong>do</strong> compostas pelas ban<strong>da</strong>s 3, 4 e 5. A base GEOMINAS - 1997(www.geominas.mg.gov.br) de curvas de nível foi utiliza<strong>da</strong> para a elaboração <strong>do</strong> ModeloDigital de Terreno, resultante <strong>da</strong> digitalização de mapas <strong>do</strong> IBGE para o esta<strong>do</strong>.5.2. O Tratamento <strong>da</strong>s ImagensAs imagens LANDSAT-II foram trata<strong>da</strong>s, primeiramente, no software IMPIMA ondeforam ajusta<strong>da</strong>s as ban<strong>da</strong>s e os parâmetros de amostragem. Em segui<strong>da</strong>, os arquivos foramconverti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> tipo (tif), para o (grb), para serem trabalha<strong>do</strong>s no software SPRING 4.1.O passo seguinte foi associar as ban<strong>da</strong>s 3, 4 e 5 <strong>da</strong> imagem LANDSAT com as coresverde, vermelho e azul no software SPRING 4.1. A composição de cores visa a obtenção<strong>da</strong>s melhores respostas espectrais <strong>do</strong>s fenômenos a serem estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s na superfície <strong>do</strong>relevo. Com este processo de tratamento <strong>da</strong> imagem obtivemos uma transformação <strong>do</strong>arquivo original, mas apenas no que diz respeito à melhoria de quali<strong>da</strong>de de visualização <strong>da</strong>imagem.Após obter as imagens trata<strong>da</strong>s satisfatoriamente para o <strong>estu<strong>do</strong></strong>, é realiza<strong>do</strong> o processo degeorreferenciamento, pois as imagens vêem sem referência espacial. As imagens precisamser inseri<strong>da</strong>s em um grid de coordena<strong>da</strong>s para assim se obter parâmetros de análise12


espacial. As imagens foram georeferencia<strong>da</strong>s no SPRING 4.1, que possui ferramentassimples e eficientes para desempenhar tal tarefa. O sistema de projeção e coordena<strong>da</strong>sa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> foi projeção UTM, Datum SAD69, zona 23 S, faixa correspondente à regiãocentral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> que abrange a Serra <strong>do</strong> Caraça.5.3. Montagem <strong>do</strong> Modelo Digital de Elevação (MDT)Foi utiliza<strong>da</strong> a base digital GEOMINAS - 1997 (www.geominas.mg.gov.br) de curvas denível basea<strong>da</strong>s nas cartas de números 2573 e 2574, de escala 1:50.000.O primeiro passo foi transformar os arquivos digitais (tab) MAPINFO para a extensão <strong>do</strong>ArcView, shp ou shapefile. Uma vez no ArcView, foram uni<strong>da</strong>s as curvas de nível demesmas cotas altimétricas, objetivan<strong>do</strong> a junção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is mapas para possibilitar aelaboração <strong>do</strong> Modelo Digital de Terreno.Foi gera<strong>do</strong> o modelo digital de elevação em formato (tin) utilizan<strong>do</strong> a extenção 3D Analyst<strong>do</strong> ArcView. O formato (tin) é um arquivo de grade irregular de triângulos, que permiteobservar o efeito tridimensional <strong>do</strong> relevo. A partir deste arquivo foi gera<strong>do</strong> o mapaHipsométrico <strong>da</strong> área (Figura 3).5.4. Classificação <strong>da</strong>s Imagens e Produção de Mapas TemáticosPara o <strong>estu<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> cobertura vegetal e uso <strong>do</strong> solo <strong>da</strong> região <strong>do</strong> maciço <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraçadividimos as feições encontra<strong>da</strong>s em cinco temas, que foram classifica<strong>do</strong>s digitalmenteatravés <strong>do</strong> software SPRING 4.1. Os fenômenos ou temas analisa<strong>do</strong>s, tanto em 1980(Figura 4), como em 2002 (Figura 5), na área foram:- Mancha Urbana- Solo Exposto- Afloramento Rochoso- Mata- Cerra<strong>do</strong>13


Estes fenômenos foram classifica<strong>do</strong>s com supervisão através <strong>do</strong> software SPRING 4.1 porsemelhança e agrupamento <strong>do</strong>s pixels. O procedimento que se baseia na captura de pixelsna imagem e seleção de conjunto de pixels com tonali<strong>da</strong>des semelhantes (resoluçãoespectral). Esta seleção e agrupamento de pixels resultou em um mapa temático com adistribuição de uso <strong>do</strong> solo na área e a porcentagem de ocorrência de tais usos na imagemcomo um to<strong>do</strong>. Após fazer esta seleção por agrupamento de pixels é necessário corrigirmanualmente algum eventual erro de agrupamento cometi<strong>do</strong> pelo programa. Esta etapa decorreção manual é importante, pois torna o mapa mais preciso em sua representação,portanto mais fiel à reali<strong>da</strong>de observa<strong>da</strong> em campo.Por último foi produzi<strong>do</strong> um mapa temático também no SPRING, <strong>da</strong>s transformaçõesocorri<strong>da</strong>s com relação à cobertura vegetal entre 1980 e 2002 na área <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça(Figura 6).14


Figura 3: Mapa Hipsométrico <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça em Modelo Digital de Elevação.15


6. Resulta<strong>do</strong>s6.1. Mapas TemáticosAndré Coutinho Barbosa – <strong>UFMG</strong> – <strong>Geoprocessamento</strong> 2005 / Projeção: UTM / Z 23S / SAD 69Figura 4: Uso <strong>do</strong> solo na Serra <strong>do</strong> Caraça e entorno, 1980.LANDSAT II. ETM / Resolução: 70 metros.16


André Coutinho Barbosa – <strong>UFMG</strong> – <strong>Geoprocessamento</strong> 2005 / Projeção: UTM / Z 23S / SAD 69Figura 5: Uso <strong>do</strong> solo na Serra <strong>do</strong> Caraça e entorno 2002.LANDSAT II. ETM / Resolução: 15 metros.17


André Coutinho Barbosa – <strong>UFMG</strong> – <strong>Geoprocessamento</strong> 2005 / Projeção: UTM / Z 23S / SAD 69Figura 6: Alteração <strong>da</strong> cobertura vegetal na Serra <strong>do</strong> Caraça e entorno entre 1980 - 2002.Classificação MAXVER/ SPRING.18


7. AnáliseAtravés <strong>da</strong> observação <strong>da</strong>s imagens LANDSAT trata<strong>da</strong>s, o que chamou a atençãoprimeiramente foi perceber niti<strong>da</strong>mente a diferença entre as áreas recobertas por matas em1980 (Figura 4) e em 2002 (Figura 5). As áreas de florestas, que são uma transição <strong>da</strong> MataAtlântica para o Cerra<strong>do</strong>, diminuíram consideravelmente. O que evidencia o passa<strong>do</strong>extrativista de Madeira de Leis, descritos na história de ocupação <strong>da</strong> área. Estedesmatamento foi evidencia<strong>do</strong> nas últimas déca<strong>da</strong>s onde, praticamente, foram dizima<strong>da</strong>s asmatas de grande porte, encontra<strong>da</strong>s agora apenas em fun<strong>do</strong>s de vales, encostas de difícilacesso, em forma de matas de galeria e matas ciliares <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>s rios mais cau<strong>da</strong>losos,como é o caso <strong>do</strong> Ribeirão Caraça.O crescimento <strong>da</strong> mancha urbana de Catas Altas se torna mais visível, apesar de umapequena confusão ocorri<strong>da</strong> com a agregação de pixels semelhantes de mancha urbana esolo exposto. Isso de deve às diferenças de resolução espacial <strong>da</strong>s duas imagens, de 1980com 70 metros/ pixel, e a de 2002, com sensor ETM de 15 metros/ pixel. As mineraçõesconcentra<strong>da</strong>s na parte sul <strong>da</strong> serra aumentaram consideravelmente suas cavas de exploraçãode minério de ferro, onde nota-se também um aumento <strong>do</strong> desmatamento de cerra<strong>do</strong> e matanas re<strong>do</strong>ndezas <strong>da</strong>s cavas. Como as indústrias siderúrgicas ou de beneficiamento de minériode ferro ou ferro bruto sustentam boa parte <strong>da</strong> economia <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des vizinhas, está aí aexplicação para a intensa exploração mineral na região junto com o notável desmatamento,onde a produção de madeira para virar carvão para alimentar incessantemente os autosfornos <strong>da</strong>s siderúrgicas se torna algo imprescindível.Nos mapas temáticos produzi<strong>do</strong>s podemos observar, além <strong>do</strong> que já foi dito, alguns outrosfenômenos na região. Entre 1980 e 2002 houve aumento de áreas de cobertura de cerra<strong>do</strong>em decorrência <strong>do</strong> desaparecimento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios que outrora eram de matas. Ocrescimento de estra<strong>da</strong>s secundárias também foi detecta<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> ser mais evidencia<strong>do</strong>em campo devi<strong>do</strong> a confusão no agregamento de pixels e discordância de resoluçãoespacial <strong>da</strong>s imagens. Um motivo para o aparecimento destas estra<strong>da</strong>s, pode ser anecessi<strong>da</strong>de de escoamento de madeira ou extração mineral.19


Com a classificação MAXVER <strong>do</strong> SPRING, que resultou no mapa de análise de alteraçãode cobertura vegetal (Figura 6), observamos também regiões onde ain<strong>da</strong> permaneceram os<strong>do</strong>mínios de florestas e cerra<strong>do</strong>, sinal de pouca influência antrópica. Estas áreas coincidemcom lugares que são reservas, a RPPN <strong>do</strong> Caraça e outras <strong>da</strong>s próprias minera<strong>do</strong>ras. Asáreas de nascentes de mananciais de água que abastecem as ci<strong>da</strong>des vizinhas e não podemser explora<strong>da</strong>, também se mantiveram intactas. Nas áreas onde as minerações a<strong>do</strong>tarammedi<strong>da</strong>s compensatórias de impacto ambiental é possível observar a recuperação de matas ecerra<strong>do</strong>, antes destruí<strong>do</strong>s, o que aparece, precisamente, na porção sudeste e noroeste <strong>do</strong>mapa.As minerações atrás <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caraça, na porção sul, volta<strong>da</strong> para o município deMariana, aumentaram consideravelmente suas cavas de exploração nos últimos 20 anos.Apesar de ter ocorri<strong>do</strong> novamente uma confusão no agregamento de pixels, desta vezenvolven<strong>do</strong> área desmata<strong>da</strong> e rocha, pudemos constatar em campo que a área desmata<strong>da</strong>detecta<strong>da</strong> na classificação e apresenta<strong>da</strong> nos mapas é real. As minerações concentram-se,basicamente, <strong>ao</strong> longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro <strong>da</strong> Vale <strong>do</strong> Rio Doce que passa por Barão deCocais, Catas Altas, Morro <strong>da</strong> água Quente e Mariana. A estra<strong>da</strong> de ferro localiza-se atrás<strong>da</strong> serra, no la<strong>do</strong> oposto <strong>da</strong> RPPN- Parque Natural <strong>do</strong> Caraça, e transporta minério de ferrodia e noite para os auto fornos <strong>da</strong>s siderúrgicas nos arre<strong>do</strong>res. Constata-se que a região sul<strong>da</strong> serra é a região mais impacta<strong>da</strong> através <strong>do</strong> mapa gera<strong>do</strong>.20


8. ConclusõesA Serra <strong>do</strong> Caraça é uma região que abriga as mais varia<strong>da</strong>s espécies de flora e fauna,sen<strong>do</strong> uma faixa de transição <strong>da</strong> Mata Atlântica para o Cerra<strong>do</strong> e suas diversas sub divisõesflorísticas e de porte. A mata que outrora era abun<strong>da</strong>nte já foi intensamente explora<strong>da</strong> embusca de madeira de lei e agora se restringe a pequenas manchas isola<strong>da</strong>s em lugares dedifícil acesso ou poucas reservas protegi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> exploração. A exploração de madeira paraprodução de carvão para alimentar fornos de siderúrgicas também aju<strong>do</strong>u a disseminar afloresta que outrora existia.Podemos observar, com a aju<strong>da</strong> <strong>do</strong>s mapas temáticos de vegetação, que agora o <strong>do</strong>mínio decerra<strong>do</strong> encontra-se abun<strong>da</strong>nte na região. Este <strong>do</strong>mínio pode ser dividi<strong>do</strong> em vários sub<strong>do</strong>mínios,tais como campo de altitude, campos rupestres, cerra<strong>do</strong> ralo, cerra<strong>do</strong> denso, etc.Não tivemos como preocupação neste trabalho esta diferenciação de vários tipos decerra<strong>do</strong>, mas sim uma caracterização geral <strong>da</strong>s formações vegetais encontra<strong>da</strong>s no entorno<strong>da</strong> serra <strong>do</strong> Caraça, bem como as mu<strong>da</strong>nças na vegetação nas ci<strong>da</strong>des vizinhas à reserva noperío<strong>do</strong> de vinte e <strong>do</strong>is anos (1980-2002). É importante frisar a necessi<strong>da</strong>de de se preservaro que ain<strong>da</strong> resta de vegetação (original ou não) <strong>da</strong> serra <strong>do</strong> Caraça, principalmente áreas dematas e campos rupestres. As matas são poucas e cobrem menos extensões de terras, masos campos rupestres ain<strong>da</strong> são abun<strong>da</strong>ntes na região e guar<strong>da</strong>m grande varie<strong>da</strong>de deespécies vegetais frágeis, raras e muitas vezes únicas e endêmicas <strong>da</strong> serra.Como o software emprega<strong>do</strong> trabalha por agregação de pixels semelhantes, podemosevidenciar algumas falhas na representação. Confusões de agregamento de pixels de soloexposto com rocha, ou mancha urbana com solo exposto geraram alguns erros. Daí aimportância de um trabalho de campo para a conferência <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s e calibração <strong>da</strong>classificação.O crescimento <strong>da</strong> mancha urbana, áreas de solo exposto, estra<strong>da</strong>s secundárias e minerações,embora pouco visíveis na classificação feita através <strong>do</strong> software SPRING, foramevidencia<strong>do</strong>s no trabalho de campo. Estes crescimentos podem ser inter-relaciona<strong>do</strong>s, poisto<strong>do</strong>s são frutos diretos <strong>da</strong> ação antrópica. E com a aju<strong>da</strong> desta inter-relação podemosentender melhor tais fenômenos.21


Finalizan<strong>do</strong>, podemos concluir que a Serra <strong>do</strong> Caraça vem sofren<strong>do</strong> <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>s anos umainfluência antrópica considerável, que remonta <strong>do</strong> seu passa<strong>do</strong> extrativista mineral <strong>do</strong>século XVIII, e que até hoje pre<strong>do</strong>mina em seu entorno. Grandes áreas de florestas já foramdevasta<strong>da</strong>s para <strong>da</strong>rem origem <strong>ao</strong> carvão que alimenta os autos fornos <strong>da</strong>s siderúrgicas.Áreas de cerra<strong>do</strong> também foram devasta<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> a madeira <strong>da</strong>s florestas era abun<strong>da</strong>nte,mas já começou a acabar. Poucas áreas de florestas originais permaneceram, e menos ain<strong>da</strong>áreas que foram devasta<strong>da</strong>s recuperaram seu porte de mata. O que resta mais abun<strong>da</strong>nte naregião é o <strong>do</strong>mínio de cerra<strong>do</strong> e suas várias feições e classificações de porte e diversi<strong>da</strong>de.Os campos rupestres são abun<strong>da</strong>ntes ain<strong>da</strong> na faixa acima <strong>do</strong>s 1400 metros de altitude esobre as rochas quartizíticas, mas precisam de proteção e vigilância para que suabiodiversi<strong>da</strong>de seja perpetua<strong>da</strong> e sua fragili<strong>da</strong>de não seja exposta.Uma sugestão seria uma vigilância <strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>ras por parte <strong>do</strong>s órgãos públicos demonitoramento e controle <strong>do</strong> meio ambiente, para que estas minera<strong>do</strong>ras a<strong>do</strong>tem ecumpram medi<strong>da</strong>s compensatórias mais eficientes. A educação ambiental <strong>da</strong> população <strong>da</strong>sci<strong>da</strong>des vizinhas tem que acontecer desde a pré-escola e incentivar as pessoas a saberemmais a respeito <strong>da</strong> sua ci<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s leis ambientais. O incentivo <strong>ao</strong> turismo ecológicocontrola<strong>do</strong> pode ser um bom alia<strong>do</strong> também no que diz respeito a conscientização <strong>da</strong>população, geração de ren<strong>da</strong> e respeito pela sua ci<strong>da</strong>de e meio ambiente que o cerca.22


8. BibliografiaCARRATO, José Ferreira. As Minas Gerais e os Primórdios <strong>do</strong> Caraça. ED. Nacional /São Paulo, 1963.LIMA JÚNIOR, Augusto de. O Fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Caraça. ED. <strong>do</strong> autor. Rio de Janeiro,1948.RAPOSO, Frederico Ozanam. Formações ferríferas e Metas Sedimentos Químicos deÁreas Seleciona<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Quadrilátero Ferrífero.B.H, 1996.RODRIGUES, Luiz Cláudio. Contexto Geológico-Estrutural <strong>do</strong> Parque <strong>do</strong> Caraça eAdjacências, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. UNB, 1992.MALLARD, P. Mapeamento Fitogeográfico <strong>do</strong> Peruaçu Usan<strong>do</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sensor ETM deLANDSAT: Uma Abor<strong>da</strong>gem Multiespectral e Textural. Belo Horizonte, 2003VELOSO, HP. et.al. Classificação <strong>da</strong> Vegetação Brasileira A<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> a um SistemaUniversal. Et.al, Rio de Janeiro, FIBGE,1991.IEF. Instituto Estadual de Florestas. Mapa <strong>da</strong> Cobertura Vegetal e <strong>do</strong> Uso <strong>do</strong> Solo de MinasGerais. Belo Horizonte, IEF, 1994.IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapa Topográfico 1:50.000, Carta deCatas Altas. 1976.GEOMINAS, Base Digital de Mapas de Minas Gerais. Home Page:(www.geominas.mg.gov.br).INPE, Instututo Nacional de Pesquisas Espaciais. Imagens LANDSAT 2. Home Page:(www.dgi.inpe.br).Atlas <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de de Minas Gerais. Fun<strong>da</strong>ção Biodiversitas, IEF, Belo Horizonte,2005.23

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