Controle Social do Orçamento Público - Polis

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442 Cesar Maia foi prefeito,pela primeira vez, nagestão 1993-1996 peloPFL. Na gestão 1997-2000,foi sucedido por Luis PauloConde, na época tambémdo PFL e aliado de CesarMaia, que, desde 2001,exerce seu segundo mandato.Atualmente, ambossão adversários políticos eConde é o vice-governador,agora filiado ao PSB.baixos níveis de renda e educação, tenderiam a ter menor grau de associativismoe nestes, tenderia a predominar o tipo religioso.Não obstante essas diferenças, constata-se um rico e diversificado tecidoassociativo no Rio de Janeiro, composto por sindicatos, associações profissionais,associações de moradores, associações religiosas, associaçõesculturais e esportivas, organizações não-governamentais e instituições filantrópicas(Ribeiro e Santos Junior, 1996). Essas organizações sociais sãoresponsáveis pela publicização de demandas e reivindicações. Podemos citaros processos de articulação, envolvendo esse múltiplo tecido social, quetornaram os temas da Aids, da epidemia da dengue e da despoluição daBaía de Guanabara, preocupações comuns de uma diversidade de organizaçõesda sociedade civil, questões da agenda do poder público.Apesar do reconhecido perfil oposicionista, a cidade do Rio de Janeirovem sendo governada pelo Partido da Frente Liberal (PFL), há três gestõesconsecutivas, tendo à frente o prefeito Cesar Maia 2 . As últimas administraçõestêm se caracterizado por um perfil político conservador, com baixaparticipação política, apesar da implementação de diversos projetosurbanísticos de revitalização da cidade, dentre os quais destaca-se o RioCidade. Deve-se ressaltar, todavia, que essas administrações vêm desenvolvendoum importante projeto social, o Favela Bairro, que tem sido objetode grande reconhecimento social no País e fora dele. O perfil políticodo poder Legislativo reflete o do Executivo, composto majoritariamentepor partidos de centro-direita, apesar da expressiva bancada de oposição,sobretudo do Partido dos Trabalhadores (PT).A cultura política do Rio de Janeiro é resultado da sua história, marcadade um lado pela ausência de participação política e, de outro, por umaintensa participação comunitária em outras esferas da vida social, sobretudoligadas às dinâmicas das manifestações culturais populares. ParaJosé Murilo de Carvalho (1987:163), “foi o futebol, o samba e o carnavalque deram ao Rio de Janeiro uma comunidade de sentimentos, por cima ealém das grandes diferenças sociais que sobreviveram e ainda sobrevivem”.A conclusão do autor é que, na esteira desta história, forja-se umacultura que se expressa na dificuldade da cidade em “transformar suaparticipação comunitária em capacidade de participação cívica” (ibid. p.164), onde a dissociação entre “a cidade, a República e a cidadania” seexpressam em sentimento de rejeição à política oficial e em entraves àsua dinâmica democrática.É neste contexto que podemos ver na questão orçamentária um fortepotencial de expressão dos grandes contrastes e conflitos distributivosque marcam a cidade do Rio de Janeiro.A organização do Fórum Popular de Orçamento do Rio de Janeiro representaexatamente a possibilidade de dar mais transparência e politizar osconflitos distributivos nesta cidade. Ela que possui um dos maiores orça-

mentos do País com uma receita prevista para 2002 de R$ 6.216.685.559,00e investimentos de quase R$ 1 bilhão. A importância do Fórum pode serainda compreendida se levarmos em consideração a cultura política brasileira,na qual a relação entre Estado e mercado sempre foi marcada pelacorrupção e pelas chamadas “práticas clientelistas”. Como afirma Franciscode Oliveira, “não há remédios ‘econômicos’ contra a corrupção. Então, apublicização da corrupção, dos corrompidos e corruptores é o primeiro recurso,que deve ser usado amplificadamente para construir uma esferapública...” (Oliveira, 2002:104). Ao nosso ver, a constituição de um embriãode esfera pública em torno da questão orçamentária é um dos aspectosmais importantes da história do Fórum.O Fórum Popular de Orçamento: suahistória e seus objetivosEm 6 de dezembro de 1995, o seminário intituladoOrçamento do Rioem debate” dava origem a uma articulação de entidades e cidadãos, denominada“Fórum Popular de Orçamento do Rio de Janeiro”. A iniciativado Ibase, tendo à frente a figura proeminente do sociólogo Betinho, apontavapara a necessidade de que fossem trazidos para o âmbito local emunicipal, os trabalhos de acompanhamento do orçamento que o Ibasejá vinha desenvolvendo desde 1991 no âmbito federal.A idéia inicial era reunir as entidades do Rio de Janeiro em torno de umaproposta orçamentária para o ano de 1996 a ser apresentada ao então prefeitoCésar Maia. Tendo como interesse comum uma ampla participaçãosocial no processo orçamentário que criasse condições para intervir nasdefinições de prioridades do governo, “o Fórum foi criado pelo sentimentodas entidades de que deveriam fazer um controle mais efetivo sobre oorçamento municipal(...).Eram entre 18 a 24 entidades em seu início, hoje jásomam mais de 40”, como relata um dos coordenadores do Fórum.Na busca constante pela democratização do orçamento, e sendo instrumentolegítimo de acesso às informações governamentais, o Fórum pretendereunir pessoas e entidades cariocas, através da mobilização, disponibilizaçãode informações e capacitação, com o objetivo de promover a participação,a transparência e a inversão nas prioridades sociais do orçamento.De uma forma geral, pode-se dizer que a articulação do Fórum tem comoperspectiva a luta pelo orçamento participativo, acreditando-se que este émais democrático, transparente e capaz de incorporar as demandas e reivindicaçõespopulares e, portanto, combater as desigualdades sociais.Participação, transparência e inversão de prioridades sociais são trêsobjetivos/valores que fundam o Fórum. Se por um lado, cada um delesencerra em si um desafio e uma possibilidade, somados e integrados cons-45

mentos <strong>do</strong> País com uma receita prevista para 2002 de R$ 6.216.685.559,00e investimentos de quase R$ 1 bilhão. A importância <strong>do</strong> Fórum pode serainda compreendida se levarmos em consideração a cultura política brasileira,na qual a relação entre Esta<strong>do</strong> e merca<strong>do</strong> sempre foi marcada pelacorrupção e pelas chamadas “práticas clientelistas”. Como afirma Franciscode Oliveira, “não há remédios ‘econômicos’ contra a corrupção. Então, apublicização da corrupção, <strong>do</strong>s corrompi<strong>do</strong>s e corruptores é o primeiro recurso,que deve ser usa<strong>do</strong> amplificadamente para construir uma esferapública...” (Oliveira, 2002:104). Ao nosso ver, a constituição de um embriãode esfera pública em torno da questão orçamentária é um <strong>do</strong>s aspectosmais importantes da história <strong>do</strong> Fórum.O Fórum Popular de <strong>Orçamento</strong>: suahistória e seus objetivosEm 6 de dezembro de 1995, o seminário intitula<strong>do</strong> “<strong>Orçamento</strong> <strong>do</strong> Rioem debate” dava origem a uma articulação de entidades e cidadãos, denominada“Fórum Popular de <strong>Orçamento</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro”. A iniciativa<strong>do</strong> Ibase, ten<strong>do</strong> à frente a figura proeminente <strong>do</strong> sociólogo Betinho, apontavapara a necessidade de que fossem trazi<strong>do</strong>s para o âmbito local emunicipal, os trabalhos de acompanhamento <strong>do</strong> orçamento que o Ibasejá vinha desenvolven<strong>do</strong> desde 1991 no âmbito federal.A idéia inicial era reunir as entidades <strong>do</strong> Rio de Janeiro em torno de umaproposta orçamentária para o ano de 1996 a ser apresentada ao então prefeitoCésar Maia. Ten<strong>do</strong> como interesse comum uma ampla participaçãosocial no processo orçamentário que criasse condições para intervir nasdefinições de prioridades <strong>do</strong> governo, “o Fórum foi cria<strong>do</strong> pelo sentimentodas entidades de que deveriam fazer um controle mais efetivo sobre oorçamento municipal(...).Eram entre 18 a 24 entidades em seu início, hoje jásomam mais de 40”, como relata um <strong>do</strong>s coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Fórum.Na busca constante pela democratização <strong>do</strong> orçamento, e sen<strong>do</strong> instrumentolegítimo de acesso às informações governamentais, o Fórum pretendereunir pessoas e entidades cariocas, através da mobilização, disponibilizaçãode informações e capacitação, com o objetivo de promover a participação,a transparência e a inversão nas prioridades sociais <strong>do</strong> orçamento.De uma forma geral, pode-se dizer que a articulação <strong>do</strong> Fórum tem comoperspectiva a luta pelo orçamento participativo, acreditan<strong>do</strong>-se que este émais democrático, transparente e capaz de incorporar as demandas e reivindicaçõespopulares e, portanto, combater as desigualdades sociais.Participação, transparência e inversão de prioridades sociais são trêsobjetivos/valores que fundam o Fórum. Se por um la<strong>do</strong>, cada um delesencerra em si um desafio e uma possibilidade, soma<strong>do</strong>s e integra<strong>do</strong>s cons-45

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