Neste trabalho, apresentamos o estu<strong>do</strong> de caso <strong>do</strong> Fórum Popular de<strong>Orçamento</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. O Fórum é organiza<strong>do</strong> como uma rede, constituí<strong>do</strong>por organizações sociais com diferentes perfis em termos de objetivose da participação de segmentos sociais organiza<strong>do</strong>s. O estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>foi resulta<strong>do</strong> de uma análise <strong>do</strong>cumental e entrevistas com integrantes <strong>do</strong>Fórum, com verea<strong>do</strong>res e membros <strong>do</strong> poder Executivo municipal.Cenário social e político da cidade <strong>do</strong>Rio de Janeiro42Segun<strong>do</strong> o Censo <strong>do</strong> IBGE, no ano de 2000 o município <strong>do</strong> Rio deJaneiro possuía 5.857.904 habitantes, sen<strong>do</strong> a 2.ª maior cidade brasileirae a 3.ª maior da América <strong>do</strong> Sul (após São Paulo e Buenos Aires). Emtermos gerais, a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro ostenta eleva<strong>do</strong>s índices sociais,principalmente comparan<strong>do</strong>-se com os indica<strong>do</strong>res brasileiros, <strong>do</strong> qual aeducação é um bom exemplo. Cerca de 95,8% da sua população é alfabetizadae existe uma boa rede escolar na cidade, com cerca de 1.696 estabelecimentosde ensino pré-escolar, 2.204 <strong>do</strong> ensino fundamental e 598<strong>do</strong> ensino médio. A cidade é conhecida como capital <strong>do</strong> turismo no Brasil,posição que vem progressivamente perden<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> em razão <strong>do</strong> agravamentoda violência urbana e da deterioração <strong>do</strong> seu meio ambiente.Neste ponto, é impossível não lembrar que a cidade possui alguns <strong>do</strong>scartões postais mais conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> País: o Pão de Açúcar, o Corcova<strong>do</strong> eo Maracanã, além da festa mais popular <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, o Carnaval. O município<strong>do</strong> Rio de Janeiro possui, ainda, um <strong>do</strong>s portos mais movimenta<strong>do</strong>s daAmérica Latina e o segun<strong>do</strong> maior movimento de aeronaves em seus <strong>do</strong>isaeroportos (Santos Dumont e Galeão - Antônio Carlos Jobim).Olhan<strong>do</strong> a Cidade Maravilhosa com mais profundidade, é possível concluirque não é tão maravilhosa assim, pelo menos para to<strong>do</strong>s que nela vivem.A imagem de uma cidade desigual talvez seja a imagem que melhor sintetizesua dinâmica social, política e econômica. Assim, embora o Rio de Janeiropossa ser considera<strong>do</strong> uma das cidades brasileiras com melhor qualidade devida, o fato é que essa qualidade de vida é desigual nas suas diferentes áreas,revelan<strong>do</strong> um alto grau de heterogeneidade no seu interior. A própria prefeiturada cidade, no relatório sobre Desenvolvimento humano e condições devida na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro e seus bairros, afirma que há fortes indíciospara crer que “em algumas áreas, as condições de vida sejam similares às dasgrandes cidades brasileiras com piores condições de vida como Belém, Recifee Salva<strong>do</strong>r” (prefeitura <strong>do</strong> Rio de Janeiro, março de 2001:14).Não obstante a desigualdade entre as áreas, encontramos também umagrande heterogeneidade e fortes desigualdades no interior de cada área.Essa heterogeneidade interna revela a existência de bairros com acesso
precário a saúde, educação, saneamento, equipamentos de cultura, lazere comunicação. São bairros com ruas sem pavimentação, esburacadas esem iluminação, que nada lembram a Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiroaparece com a imagem de uma cidade fragmentada, desigual, com fortesclivagens sociais.A outra face das desigualdades no interior da cidade é, sem dúvidaalguma, a favela carioca. Ainda segun<strong>do</strong> o Censo de 2000, 18,7% da populaçãocarioca reside em favelas 1 , o que corresponde a 1.092.783 pessoas.Diversos estu<strong>do</strong>s sobre o padrão de segregação na cidade têm mostra<strong>do</strong>que a favela permite aos seus mora<strong>do</strong>res “acessibilidade aos recursosurbanos concentra<strong>do</strong>s nas áreas superiores da cidade” ao mesmo tempoque, “essa proximidade física facilita o acesso a fontes de emprego e renda,o que também representa uma outra frente de sociabilidade entre o‘morro’ e o ‘asfalto’” (Prefeitura <strong>do</strong> Rio de Janeiro, maio de 2001).Muito associa<strong>do</strong> à problemática das favelas se encontra a questão daviolência. Mesmo não sen<strong>do</strong> um fenômeno restrito à cidade <strong>do</strong> Rio deJaneiro, mas liga<strong>do</strong> a todas as grandes metrópoles, tem se constituí<strong>do</strong> emuma das questões sociais de maior relevância desde o fim da década de80, quan<strong>do</strong> assistimos à associação <strong>do</strong> tráfico de drogas com o tráfico dearmas, transforman<strong>do</strong> as favelas em cenário de grande conflito arma<strong>do</strong>,violência e assassinatos. A gravidade desses conflitos tem leva<strong>do</strong> muitosanalistas, e sobretu<strong>do</strong> os meios de comunicação, ao extremo de comparara cena cotidiana da cidade a uma situação de guerra civil e as facçõescriminosas a um verdadeiro poder paralelo.A incidência <strong>do</strong>s diversos crimes sofre variação segun<strong>do</strong> os bairros eas regiões <strong>do</strong> município. Dividi<strong>do</strong> em grandes áreas, pode-se observar que“o Rio de Janeiro, em matéria de taxas de homicídio, é comparável à cidadede Miami num extremo e, no outro, à África <strong>do</strong> Sul. O índice verifica<strong>do</strong>na área mais rica (Zona Sul/Barra da Tijuca) não chega a ser propriamentebaixo (16,4 vítimas por 100 mil habitantes), mas é muito inferior ao registra<strong>do</strong>na Zona Oeste e nas regiões denominadas ‘Subúrbios I’ e ‘SubúrbiosII’” (Musumeci, 2001:10). Não restam dúvidas, a violência aumenta a distânciaentre classes, fragmentan<strong>do</strong> e dividin<strong>do</strong> a cidade nos espaços <strong>do</strong>sricos e <strong>do</strong>s pobres, cada vez mais encara<strong>do</strong>s como classes perigosas.Como alguns estu<strong>do</strong>s têm mostra<strong>do</strong>, os níveis de rendimento e educaçãotêm uma forte relação com o padrão de estruturação socioespacialda metrópole fluminense. Santos Junior (2001), analisan<strong>do</strong> o diagramada participação em organizações associativas na cidade, constata “queesse quadro se reproduz na constituição de um padrão espacial <strong>do</strong> associativismo,onde as áreas habitadas por segmentos de mais alta renda enível educacional tenderiam também a ser as áreas com maior grau deassociativismo, principalmente de tipo sindical, esportivo e cultural” (ibid.p.159). De forma inversa, as áreas habitadas pelos segmentos de mais1 Para o IBGE, aglomera<strong>do</strong>ssubnormais são gruposde mais de 50 unidadeshabitacionais dispostas demo<strong>do</strong> desordena<strong>do</strong> e denso,sobre terreno urbanoque pertence a terceiros, ecarente de serviços públicosessenciais. Os aglomera<strong>do</strong>ssubnormais, que noRio de Janeiro são identifica<strong>do</strong>sàs favelas, seopõem aos setores especiaisque constituiriam a cidadeformal.43
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