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Espantalhos e afinsCarlos Eduardo Schmidt CapelaSi ya ha sucedido todo, na<strong>da</strong> vale la pena.Paolo Virno...el hombre es lo indestructible, y esto significa que no existe límite para ladestrucción del hombre.Maurice BlanchotEl recuerdo restituye al pasado la posibili<strong>da</strong>d, dejando irrealizado lo ocurrido yrealizado lo que no ha ocurrido. El recuerdo no es ni lo ocurrido ni lo no ocurrido,sino su potenciamiento, su volver a ser posible.Giorgio AgambenUn gran libro es siempre el reverso de otro libro que sólo se escribe en el alma,con silencio y con sangre.Gilles DeleuzeEscrevi este livro para o futuro.Euclides <strong>da</strong> CunhaEm dezembro de 1902, quando, após anos de árduo trabalho, finalmentepublica Os sertões, Euclides <strong>da</strong> Cunha sabia que não podia contar com o fator<strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de a favor de seu livro. O episódio de Canudos ocorrera, afinal, já hápouco mais de cinco anos, e uma série de autori<strong>da</strong>des, jornalistas, escritorese intelectuais havia discutido e debatido o conflito, que se tornara motivo dediversos estudos, memórias, ficções e poemas. 1 Canudos, vale lembrar, foi oprimeiro evento de vulto ocorrido no Brasil que teve sua cobertura jornalísticafacilita<strong>da</strong> pelo uso do telégrafo, o que proporcionou, junto a uma repercussãomais ampla, uma maior imediatici<strong>da</strong>de dos relatos com respeito a fatos e versões.O próprio Euclides <strong>da</strong> Cunha participara <strong>da</strong> empreita<strong>da</strong>, comocorrespondente de O Estado de São Paulo, jornal que, entre agosto eoutubro de 1897, transcreveu os telegramas por ele enviados desde a Bahia.Tais telegramas entretêm um fascinante diálogo intertextual com o Diárioque na mesma ocasião compôs o escritor, que por sua vez insinua-se, demaneira inconfundível e intermitente, ao longo de Os sertões. Trata-se deuma série bastante significativa, em que eventos e repercussões, estas inclusive<strong>da</strong> cunha de Euclides, perfazem um sugestivo processo de deslizamento.Assoma uma figura do tempo; o pensamento coleia-se — como o exército,quando em movimento harmônico, e como o jagunço, quando irrompedo na<strong>da</strong>: serpente frente à ci<strong>da</strong>dela, enigma de enigmas. 2Para a realização do livro, Euclides <strong>da</strong> Cunha trabalhou com afinco efervor. Recolheu documentos e depoimentos, armou-se teoricamente commuito do que havia de mais relevante no pensamento contemporâneo, nocampo <strong>da</strong>s humani<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s ciências naturais, ampliou o leque deinformações sobre a região e o homem sertanejos, reviu e reconsiderouposições, mesmo as suas. Ao que tudo indica, mais do que a denúncia doou o testemunho sobre o caráter de barbárie e insani<strong>da</strong>de de que o conflitose revestira, o absurdo e a violência <strong>da</strong> guerra, incomo<strong>da</strong>va-lhe o fato deesta não ter propiciado uma melhor compreensão de dilemas históricos,sociais e políticos nela condensados e atualizados. Dilemas que para elecomprometiam o futuro <strong>da</strong> nação. As denúncias conti<strong>da</strong>s nesse que foi oúnico “livro vingador” que logrou escrever eram contra a apatia e a indiferença,manancial que tornava fértil o já robusto plano <strong>da</strong> superstição e do simplismointelectuais. Estes, por sua vez, abriam campo para o recurso à violência,completando um ciclo vicioso no interior do qual lhe parecia estar imobiliza<strong>da</strong>,e se imobilizando, a socie<strong>da</strong>de brasileira.O empreendimento teve por norte um evidente viés esclarecido, iluminista,constituindo um chamado para que fossem toma<strong>da</strong>s providências parauma sorte de incorporação <strong>da</strong> população brasileira, ou de sua adequação,a um mesmo complexo de tempo e espaço. Euclides <strong>da</strong> Cunha subscreviaa tradicional equação que contrapunha ciência e saber, de um lado, e92 ~ ~ 6.2 | 2007

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