13.07.2015 Views

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

d ownload pdf (4,43mb) - Blogs - Ministério da Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Dentro e fora <strong>da</strong> Nova Ordem Mundial: A Negritude de Salvadorreverencial a “To<strong>da</strong> a trama <strong>da</strong> trança / A transa do cabelo” ou “Todosos búzios”.Composições de Caetano Veloso como “Beleza pura” desenham comprecisão – ou a “bico de pena”, como quer Taís Viscardi 13 – um mapa <strong>da</strong>negritude baiana, enunciado os seus espaços e valores principais. Mas talvezas suas canções sejam o lugar adequado para flagrar apenas uma face <strong>da</strong>atuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população negro-mestiça baiana; expõem seus intercâmbiosculturais, suas estratégias de sobrevivência e a dimensão identitária queprevalece nas últimas duas déca<strong>da</strong>s, quando quase extinguiram-se asalternativas de trabalho regular ou de emprego e, ao mesmo tempo, expandiusea sua representação no cenário cultural brasileiro e internacional.Essas transformações, ocorri<strong>da</strong>s nas últimas déca<strong>da</strong>s, são sincrônicasao desenho <strong>da</strong> explosão <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> periferia globaliza<strong>da</strong> que trouxemosno início. Se não tem cabimento falar em empobrecimento dos que foramsempre pobres, <strong>da</strong> maioria de afrodescendentes que aparece nos indicadoresmais baixos em todos os âmbitos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social, sempre vale a pena lembrarque, de fato, a cena <strong>da</strong> violência policial apresenta<strong>da</strong> por Caetano Velosoem “Haiti” tem versões mais fulminantes quase cotidianamente reproduzi<strong>da</strong>snas telas <strong>da</strong>s televisões. Ou que os mesmos meios que possibilitam ocompartilhamento virtual do espaço urbano têm protagonismo ininterruptona produção de uma ordem social fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na desconfiança e no pavor“do Outro, qualquer outro (...) percebido imediatamente como ameaçanas ruas” – o que Barbero sinteticamente aponta como a “cumplici<strong>da</strong>de[essencial] entre os meios e o medo” 14 .É nesse contexto de pobreza, falta de perspectiva de ingresso no mercadode trabalho formal e reforço dos estigmas que os alijam, que os jovensnegros de Salvador elaboram tanto formas de identificação ou de pertencimentoquanto produtos culturais que são reconhecidos como afro-baianos e têmcirculação ampla, para além <strong>da</strong>s fronteiras nacionais. Para esses, a negritudecontinua se constituindo como afirmação <strong>da</strong> aparência física, <strong>da</strong> belezado corpo, <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de e de um modo de se vestir. Para esses que,diversos de Candolina, já não têm trabalho, resta apenas o carnaval, apercussão, o vagar pelos espaços de alta carga simbólica para a afrobaiani<strong>da</strong>de,como o Pelourinho. De alguma forma partilham ou podemser incluídos no sensível diagnóstico do antropólogo Hélio Silva, emborafruto <strong>da</strong> observação de outro contexto, sobre a produção, no Brasil, de“uma classe popular com luxos aristocráticos, carpe diem” 15 . Pois tambémnesta chave pode ser li<strong>da</strong> a “nobreza brau”, que aprendeu a cantar: “Eusou negão/ Eu sou negão/ E esta é a Liber<strong>da</strong>de” e não deve se preocuparcom o futuro, porque a ele, majoritariamente, não tem direito.São esses jovens negros e pobres que viajam para espaços centraisdo mundo globalizado, para levar os sons e as cores <strong>da</strong> afro-baiani<strong>da</strong>dereconstruídos pelos blocos-afro, completando um circuito cultural expressivo:o produto afro-baiano que se forma a partir <strong>da</strong> auscultação <strong>da</strong> negritudeinternacional, reelabora<strong>da</strong> pelo contato com a tradição <strong>da</strong> cultura afro-brasileira,transforma-se em expressão local, singular, para retornar à circulação comêxito e destaque nas vias globaliza<strong>da</strong>s, com a marca negro-baiana.Veiculados intensamente pelo rádio e pela televisão, as cançõespopulares – que há muito tempo no Brasil são o espaço privilegiado <strong>da</strong>construção do pertencimento e <strong>da</strong>s imagens identitárias – sobrepõem-seao insulamento e ao antagonismo dos segmentos sociais, fixam e distribuemuma negritude simbólica que funciona como uma espécie de agregaçãocompensatória <strong>da</strong>s distâncias. Produzi<strong>da</strong> na Bahia, esta comuni<strong>da</strong>devirtualmente experimenta<strong>da</strong> encontra recepção e mercado fartos no conjuntodo país e para além dele.O êxito dos bens simbólicos elaborados a partir <strong>da</strong> afro-descendênciae postos em circulação pela usina cultural baiana, vale reiterar, não atenuamo racismo que se traduz – na Bahia e no Brasil – em marginalização, violênciae até extermínio <strong>da</strong> população negro-mestiça e/ou pobre. Para compreendêlo,ou para compreender simultaneamente a denúncia de Doudou Diéne(sobre o racismo econômico e social) e o ambivalente diagnóstico de AntônioRisério (sobre a condição mais racista e menos racista <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Salvador)é preciso admitir que nem sempre ou não necessariamente, em nossosdias, o racismo se manifesta pelo desprezo ou pelo ódio à diferença étnica.Entre as funções reguladoras <strong>da</strong> população nos Estados modernos – naeconomia do biopoder, segundo Michel Foucault 16 –, o racismo intervém (ese mantém) como forma de assegurar a possibili<strong>da</strong>de de promover e legitimaro corte, a cesura, no interior do corpo social, separando aqueles que se pode“expor à morte” ou para os quais se pode multiplicar o risco <strong>da</strong> morte.NOTAS:1MARTÍN-BARBERO, Al sur de la modeni<strong>da</strong>d: comunicación, globalizaciónnmulticulturali<strong>da</strong>d. Pittisburgh, Instituto Internacional de LiteraturaIberoamericana/Univ. Pettisburgh, (s.d), p. 127.80 ~ ~ 6.2 | 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!