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Dossiê Debateidentitá rios resistentes, que a concebem e reiteram como o centro ancestral,como o lugar natural do acolhimento, do trânsito, <strong>da</strong> troca, <strong>da</strong> mistura. 3Por outro lado, a mesma Salvador é capaz de levar o cientista políticosenegalês Doudou Diène, relator <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, queesteve na ci<strong>da</strong>de para colher <strong>da</strong>dos sobre discriminação racial, a aproximaro número alarmante de óbitos de jovens negros a uma forma de “limpezaétnica”. Diéne reconhece que, em qualquer parte do mundo, “o racismoeconômico e social se traduz por uma violência do aparelho de Estado, <strong>da</strong>polícia, dos serviços <strong>da</strong> ordem, do perfilamento racial e <strong>da</strong> marginalização.Também há pessoas sendo assassina<strong>da</strong>s, mas o assassinato de jovenscomo vemos aqui [em Salvador] é muito preocupante.” E acrescenta: adiscriminação racial “sempre se traduz por uma violência física, mas não<strong>da</strong> mesma natureza em que encontramos aqui. O extermínio de jovensque são na maioria negros, pobres e que vivem nas favelas e periferias, eunão verifiquei em outros países”. 4A ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia continua interdita<strong>da</strong> aos negros e mestiços que constituema majoritária população de baixa ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. A contradição flagrantena Bahia – onde os “negromestiços ocupam todo o espaço e quase todoo tempo dos mass media (...) suas manifestações e seus produtos estéticosreinam de forma praticamente absoluta” – recebeu um diagnóstico lúcidodo poeta e antropólogo Antônio Risério quando disse “que, usandolivre mente os conceitos de Gramsci, podemos afirmar tranqüilamente que,na Bahia de hoje (a ci<strong>da</strong>de menos racista e mais racista do Brasil) a culturanegromestiça não é dominante, mas é, certamente, hegemônica” 5 .Mais eloqüente do que a avaliação do cientista social, mesmo quandoperpassa<strong>da</strong> pelos jogos de linguagem, é a imagem visiva e musica<strong>da</strong> quenos oferecem em parceria Caetano Veloso e Gilberto Gil em “Haiti”, construí<strong>da</strong>pela articulação áspera de Ritmo & Poesia e exemplar tanto <strong>da</strong> pulsão escópicaque, segundo Michel Certeau, possibilita a visa<strong>da</strong> panorâmica e uma apreensãosignificativa <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de 6 , quanto <strong>da</strong> mediação a que se refere Barbero:Quando você for convi<strong>da</strong>do pra subir no adroDa Fun<strong>da</strong>ção Casa de Jorge AmadoPra ver do alto a fila de sol<strong>da</strong>dos, quase todos pretosDando porra<strong>da</strong> na nuca de malandros pretosDe ladrões mulatosE outros quase brancosTratados como pretosSó pra mostrar aos outros quase pretos(E são quase todos pretos)E aos quase brancos, pobres como pretosComo é que pretos, pobres e mulatosE quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados 7A densi<strong>da</strong>de simbólica <strong>da</strong> cena e dos versos se constitui <strong>da</strong> combinaçãoentre síntese e redundância. A brevíssima referência espacial (ao adro <strong>da</strong>Fun<strong>da</strong>ção Casa de Jorge Amado, de onde se vê do alto) é plena de evocaçõesduradouras, tanto à construção discursiva <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e à centrali<strong>da</strong>de doespaço que o romancista ocupa, no imaginário e na geografia do seu centrohistórico, quanto à siginificação histórica e presente desse espaço, doLargo do Pelourinho, lugar de punição e sacrifício dos negros escravizadosaté pouco mais de cem anos, foco de concentração dos investimentosatuais na indústria do turismo e espaço simbólico <strong>da</strong> negritude baiana emnossos dias. Ao apresentá-los condensados, faz-se provocativo convite aoconfronto crítico dos elementos que foram justapostos.~ 6.2 | 2007~ 77

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