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Dossiê DebateO humor dos manifestos e declarações modernistas latino-americanasneutraliza e subverte a tendência anterior de considerar-se um fardo ouuma fatali<strong>da</strong>de o destino cultural <strong>da</strong>s “periferias”. Há, nessa época, umver<strong>da</strong>deiro entusiasmo e uma sincera alegria na produção artística e cultural<strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s latino-americanas, apesar de todos os horrores e desolaçãoemergidos no mundo moderno.A alegria é a prova dos nove. (ANDRADE in IBIDEM, 247)Lembra-nos mais de uma vez Oswald de Andrade. E esse otimismonão poderia ser mais integral se não estivesse aí no Novo Mundo, naAmérica Latina, com tantas promessas a serem cumpri<strong>da</strong>s, com tantaspotenciali<strong>da</strong>des a serem explora<strong>da</strong>s. O programa <strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s resideprecisamente em utilizar e propagar a energia fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> AméricaLatina, em estender as promessas inerentes <strong>da</strong> região como basecriadora.O foco e ponto de parti<strong>da</strong> dos projetos vanguardistas está nas ci<strong>da</strong>des,nas progressivas metrópoles latino-americanas. Nelas, a concentração deenergia e promessas do Novo Mundo são maiores. Nelas está a prova deuma adesão (desigual, atrasa<strong>da</strong>, ingênua, mas adesão assim mesmo) àmoderni<strong>da</strong>de. A movimentação intelectual latino-americana do início doséculo XX está volta<strong>da</strong> indubitavelmente para o âmbito urbano e para todoo imaginário ligado à ci<strong>da</strong>de moderna, que ganha um impulso considerávelcom os novos meios de transporte e comunicação. Ci<strong>da</strong>de e técnica são,pois, as fontes de metáforas mais poderosas, mais estimulantes, para osvanguardistas latino-americanos. Cosmopolitismo e tecnologia passam a ser,como no modernismo europeu, os pontos-chave nos esquemas modernistas:uma dimensão muito mais evidente de mistificação localista <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, quepor vezes poderia ser resultado de um sentimento nacionalista e de umreconhecimento <strong>da</strong> superiori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> diferença latino-americana. Ou seja,ao contrário do cosmopolitismo em geral expatriado europeu, a noção depátria, de estar em ci<strong>da</strong>des que pertencem a uma determina<strong>da</strong> cultura, émais forte mesmo nos mais cosmopolitas dos vanguardistas latino-americanos:sobretudo Borges e seu Fervor de Buenos Aires (1923), Mário de Andrade esua Paulicéia Desvaira<strong>da</strong> (1924). A ci<strong>da</strong>de, para além de sua condição decosmópolis tecnológica, é o centro <strong>da</strong> construção de uma cultura nacional,é o símbolo <strong>da</strong> própria identi<strong>da</strong>de nacional (e continental também) quesurge <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de metropolitana. Ser cosmopolita na periferia, portanto,implica no reconhecimento <strong>da</strong> diferença latino-americana e na inserçãodessa diferença no contexto mais amplo <strong>da</strong> metrópole moderna, <strong>da</strong> cosmópolisarquetípica <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de ocidental.As vanguar<strong>da</strong>s latino-americanas <strong>da</strong> primeira metade do século XXoperam nos domínios de uma síntese entre o progresso tecnológico eurbano e o universo natural e simbólico <strong>da</strong> América Latina, como receitapara estéticas modernistas autênticas e originais. Poder-se-ia dizer tambémque essas estéticas estão contamina<strong>da</strong>s por um sincretismo cultural no qualserão vão ser apropriados tanto os elementos primitivos e exóticos do passadonão-ocidental como também tudo o que há de mais ocidental, como as noçõesde progresso e decadência, a cultura tecnológica e seus princípios maquinistas,o individualismo... Cabe lembrar, contudo, que os modernistas metropolitanostambém li<strong>da</strong>ram como uma síntese pareci<strong>da</strong> ao incluir na sua estéticapasseios pelo primitivismo, pelo exotismo, por sinais de uma exuberâncianão-ocidental (Picasso, Stravinsky etc.) reforçando a idéia <strong>da</strong> anteriori<strong>da</strong>deeuropéia e <strong>da</strong> apropriação desse modelo pela periferia.Cosmopoliticémonos. Ya no es posible tenerse en capítulos convencionales dearte nacional. Las notícias se expanden por telégrafo, sobre los rasca-cielos, esosmaravillosos rasca-cielos tan vituperados por todo el mundo, hay nubes drome<strong>da</strong>rias,y entre sus tejidos musculares se conmueve el asensor eléctrico. (ARCE inIBIDEM, 247)Ironically, the ‘liberating’ possibilities of an international, oppositional, and‘revolutionary’ modernism for early-twentieth century ‘Third World’ writers an<strong>da</strong>rtists came into being at a time when modernism itself was recuperating thecultural products of non-western countries largely within an aesthetic of thefragment. (SANGARI in ASHCROFT, GRIFFITHS, TIFFIN, 1994, 145)As ci<strong>da</strong>des e o espírito urbano são invocados constantemente nasvanguar<strong>da</strong>s latino-americanas, assim como nas predecessoras européias.Porém, os latino-americanos acrescentam ao sentimento cosmopolitaOu seja, esses produtos culturais não seriam os pontos focais oufun<strong>da</strong>mentais que originariam essa estética. Seriam fragmentos-bônus deum mundo ca<strong>da</strong> vez mais sujeito à mercantilização <strong>da</strong> cultura. No caso~ 6.2 | 2007~ 63

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