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Fragmentos urbanos: identi<strong>da</strong>de, moderni<strong>da</strong>de e cosmopolitismo nas metrópoles latino-americanasque um passado revisitado anarquicamente — para existir) para as culturaslatino-americanas. A maioria dos movimentos de vanguar<strong>da</strong> latino-americanosjá identifica desde os seus inícios a necessi<strong>da</strong>de de uma redefinição de papéisdo nacional, do popular e <strong>da</strong> conjunção destes como a emergência de umacultura cosmopolita que avançava de acordo com preceitos metropolitanos.A partir <strong>da</strong>s redefinições culturais específicas <strong>da</strong> região, o modernismoe as vanguar<strong>da</strong>s latino-americanas se inscrevem num projeto deredescobrimento <strong>da</strong> América (<strong>da</strong> sua América) e <strong>da</strong>s respectivas“argentini<strong>da</strong>des”, “brasili<strong>da</strong>des”, “mexicani<strong>da</strong>des” etc.. Vão entrar no jogo<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des nacionais modernas latino-americanas, então, o aprofun<strong>da</strong>mento<strong>da</strong>s discussões raciais (num plano que visa ultrapassar as interpretaçõesracistas e positivistas do século anterior), a idéia de fusão e síntese de váriasculturas em uma, a valorização <strong>da</strong>s tradições locais e o redimensionamento<strong>da</strong> noção de cópia e original. De certo modo, se os modernismos periféricospor um lado destroem as ultrapassa<strong>da</strong>s teorias <strong>da</strong> sua própria inferiori<strong>da</strong>deracial e cultural, por outro preenchem o vácuo ideológico dessa destruiçãocom igualmente míticas noções <strong>da</strong> superiori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mescla (tanto racial, comocultural); de uma (superficial) modernização tecnológica como sinônimo demoderni<strong>da</strong>de política e social (o que leva ao esquecimento <strong>da</strong>s enormesdesigual<strong>da</strong>des de classe e de raça nas socie<strong>da</strong>des latino-americanas); <strong>da</strong>cultura tradicional, em certos casos, como uma categoria estática na qualas mu<strong>da</strong>nças ou elementos externos seriam indesejáveis, em outros comoúnica redenção possível do nacional moderno, como fetiche do exótico,do característico, do original. Vê-se, portanto, a posição extremamentecomplexa dos modernistas e vanguar<strong>da</strong>s latino-americanos quando seimpõe, ao mesmo tempo, a retoma<strong>da</strong> de um passado (incluindo o passadopré-colonial), a opção por uma utopia futurista na qual raízes e identi<strong>da</strong>desnacionais são irrelevantes e uma visão de mundo que ca<strong>da</strong> vez maisclama por uma sensibili<strong>da</strong>de subjetiva e um individualismo anti-heróico.Esta tensão entre passado, presente e futuro, entre individualismo etradição coletiva, promove, por sua vez, uma prática dialética nas arteslatino-americanas modernas; esta tensão está na base do discurso <strong>da</strong> maioriados representantes <strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s <strong>da</strong> época (Jorge Luis Borges, Oswaldde Andrade, José Carlos Mariatégui, César Vallejo, Vicente Huidobro, entremuitos outros), cuja produção revela a inexorabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> experiêncialatino-americana: ser Outro e Mesmo, simultaneamente, não podendo serplenamente nenhum dos dois. É uma condição marca<strong>da</strong> por “impossibili<strong>da</strong>des”plenas de possibili<strong>da</strong>des. Sendo Outro, o espaço latino-americano vai sersublinhado como território do exótico, do curioso, do marginal, assim difícil deenquadrar-se num “Cânone universal”. Em sua posição de Outro, a cultura <strong>da</strong>América Latina será sobretudo o resultado de um passado, de uma tradição“nativa” pré-colonial e <strong>da</strong> “ultrapassa<strong>da</strong>” atitude civilizatória ibérica (umquase-Outro europeu). De acordo com a concepção hegeliana, portanto,fora <strong>da</strong> história, fora do Centro e <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de representados pelo Norte<strong>da</strong> Europa. Pois, de um lado, temos as culturas nativas (“primitivas”) e deoutro, a tradição “pobre” e “desimportante” dos países colonizadores,Espanha e Portugal. Entretanto, a América Latina também pode inscreversecomo Mesmo em outras visões, pois, como já foi dito antes, não escapaà moderni<strong>da</strong>de — mesmo que incorporando-a de maneira problemática—, nem à tradição ocidental, nem aos ideais do Iluminismo. Mas a AméricaLatina, sendo Mesmo, estará sempre sob o signo do atraso e <strong>da</strong> dependência,será sempre um arremedo pálido de um Mesmo muito mais poderoso que ela.Na encruzilha<strong>da</strong> entre duas impossibili<strong>da</strong>des (de ser Outro e de serMesmo), encruzilha<strong>da</strong> perfeitamente encarna<strong>da</strong> pelo ‘Tupy or not Tupy, thatis the question’ do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, a AméricaLatina está exatamente no ponto intermediário entre o auto-exotismo ecultura ocidental, entre o primitivo e o sofisticado, entre o rural e o urbano,entre provincianismo e cosmopolitismo, finalmente entre Outro e Mesmo.A arte <strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s e os modernismos latino-americanos captamjustamente esse espaço intermediário, esse cruzamento de “impossibili<strong>da</strong>des”que se torna paradoxalmente fértil em suas mãos e mentes. Nesse momento,em que o artista latino-americano reconhece o sentido crítico <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>dedentro do seu próprio contexto, as subseqüentes experiências formaisredefinem o projeto de autonomia cultural e política <strong>da</strong> região em termosmais abertos e sugestivos. Os manifestos que proliferam na América Latinadurante as primeiras déca<strong>da</strong>s do século XX são um exemplo disso, comodemonstra com humor Girondo no manifesto para a revista Martin Fierro:“MARTIN FIERRO” cree en la importancia del aporte intelectual de América, previotijeretazo a todo cordón umbilical. Acentuar y generalizar, a las demás manifestacionesintelectuales, el movimiento de independencia iniciado, en el idioma, por RubénDarío, no significa, empero, que habremos de renunciar, ni mucho menos finjamosdesconocer que to<strong>da</strong>s las mañanas nos servimos de un dentífrico sueco, de unastoallas de Francia y de un jabón inglés. (GIRONDO in IBIDEM, 262-263)62 ~ ~ 6.2 | 2007

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