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Dossiê Debatevimos um documentário como o Ônibus 174, de José Padillha, assumir aforma de uma tragédia clássica, construí<strong>da</strong> com uni<strong>da</strong>de de assunto, tempoe espaço. A arte híbri<strong>da</strong> e tão atual <strong>da</strong> performance incorporou-se à próprialinguagem na visuali<strong>da</strong>de, na linguagem, na relação com o público. Amanifestação de forte sentimento trágico que aparece na prosa pode se reunirao sentido de presente de que já falei, já que, nas narrativas fortementemarca<strong>da</strong>s por um pathos trágico, a força recai sobre o momento imediato,presente, em textos que tomam o lugar de formas narrativas que se tornarampouco freqüentes, como as narrativas históricas, as épicas ou as que sedesenvolvem em um tempo mítico/fantástico de temporali<strong>da</strong>de indefini<strong>da</strong>.Cabe lembrar que, de todos os gêneros <strong>da</strong> poética clássica, o que se realizasempre em um presente é o trágico.É evidente que são características do momento que a cultura vive hoje,em termos de organização do mundo, que fazem com que elementos comoo sentido de urgência, com predomínio do olhar sobre o presente, e afamiliarização com o trágico cotidiano atravessem múltiplas obras. O trágicoestabelece um efeito peculiar com o indivíduo, supera-o e traça uma relaçãodireta com o destino. Trágico e tragédia são termos que se incorporaram aoscomentários sobre nossa vi<strong>da</strong> cotidiana, especialmente quando falamos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>nas grandes ci<strong>da</strong>des. Vamos, então, perceber que é a inevitabili<strong>da</strong>de do trágicoque aparece em dois dos mais importantes autores <strong>da</strong> prosa contemporânea,Luiz Ruffato e Bernardo Carvalho. É também a inexorabili<strong>da</strong>de do trágico,invadindo dolorosamente as relações pessoais, tornando a vi<strong>da</strong> somentesuportável pelo consolo <strong>da</strong> arte, que dá uma força inédita aos contos de doisexcelentes livros de Sérgio Sant’Anna, O monstro e O vôo <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>. Otrágico retorna à ci<strong>da</strong>de na anomia angustiante, nas relações pessoais e navi<strong>da</strong> pública, pelos escritos em prosa de Luiz Ruffato. E vai mais longe ain<strong>da</strong>,transformando-se no trágico radical que se tornou matéria de Bernardo Carvalho.Nos dois, é o sentimento trágico <strong>da</strong> existência de que temos dificul<strong>da</strong>de emfalar e como tal sentimento conforma as identi<strong>da</strong>des que dominam a narrativa.Em Luiz Ruffato – e falo aqui de seu festejado romance Eles erammuitos cavalos, publicado em 2001 –, a narrativa ocupa-se <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que éa grande São Paulo, mas poderia ser qualquer ci<strong>da</strong>de – que o narradorpercebe fragmenta<strong>da</strong>, desconexa, incongruente, quase irreal, sem quefalte a esses escritos o impacto ou força dos escritores que optam pelorealismo mais direto <strong>da</strong> linguagem. É a tragici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na metrópolehostil que se entranha nos universos privados, circula <strong>da</strong> publici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sruas, cruza<strong>da</strong>s com rapidez, até o espaço sem privaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>doméstica, em que a violência urbana se multiplica ou redobra.Seja qual for o tom adotado na construção dos fragmentos, unidospelo fio constituído pela vi<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de global, o trágico os atravessa.Mesmo quando a prosa se organiza de forma próxima ao poético, o tomsempre é do destino trágico. Pode ser a listagem de livros numa estante,um cardápio, uma mensagem na internet ou o texto de um diploma deevangelização. E pode, também, assemelhar-se a um microconto, como oantológico “Noite” ou em “Aquela mulher”, dolorosamente fragmentário eabsolutamente trágico. No cenário, a ci<strong>da</strong>de, o paradoxo trágico, seconstrói entre a busca por alguma forma de esperança e a inexorabili<strong>da</strong>detrágica <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana que segue em convívio tão próximo com a morte.Mas cabe ressaltar que é o fragmentário <strong>da</strong> narrativa, acompanhadopor certo humor e ironias sutis, que impede que a obra se transformepuramente no relato do mundo cão. A narrativa entrecorta<strong>da</strong> evita acatarse como conseqüência, propondo em seu lugar a crítica, numaespécie de distanciamento brechtiano (lembra a ci<strong>da</strong>de construí<strong>da</strong> nofilme Dogville), que comove, mas não ilude.Em Nove noites e Mongólia, romances recentes de Bernardo Carvalho,o trágico radical é o elemento que inicia, impulsiona e conclui as narrativas.Como em to<strong>da</strong> a obra do autor, há enigmas e não há explicações senão opróprio reconhecimento <strong>da</strong> tragici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> condição humana, ambígua,inexplicável, incontrolável. Em Nove noites, de 2002, o narrador deixa seu~ 6.2 | 2007~ 111

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