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O Uso da Fitoterapia como Recurso Efetivo e Econômico ... - SOBER

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1O <strong>Uso</strong> <strong>da</strong> <strong>Fitoterapia</strong> <strong>como</strong> <strong>Recurso</strong> <strong>Efetivo</strong> e Econômico para aMelhoria <strong>da</strong> Saúde e <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> dos Agricultores FamiliaresRESUMOREGIANE APARECIDA VALERA DOS SANTOSADRIANO PIRTOUSCHEGDAVID GEORGE FRANCISGABRIEL JOSÉ BARBOSAA medicina popular utilizando ervas medicinais não é um fenômeno isolado no país, muitopelo contrário, ela não é tão somente pratica<strong>da</strong> pela população rural, mas, <strong>como</strong> afirmaNascimento (1996), “... na maioria <strong>da</strong>s vezes constitui o único recurso disponível paracombater as enfermi<strong>da</strong>des que afligem a comuni<strong>da</strong>de”. Isto ocorre porque a maioria dospequenos proprietários rurais não dispõe de recursos financeiros necessários para utilizaroutra fonte de atendimento médico. Foi realiza<strong>da</strong>, neste trabalho, uma investigação detalha<strong>da</strong>procurando destacar vários aspectos que permitissem descrever a utilização <strong>da</strong>s plantasmedicinais <strong>como</strong> medicina alternativa entre os agricultores familiares de Uberlândia. Opresente estudo tem <strong>como</strong> objetivo geral diagnosticar as principais dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>spelos agricultores, proprietários e moradores <strong>da</strong> zona rural do município de Uberlândia,relaciona<strong>da</strong>s à saúde e ao possível uso de plantas medicinais para solucionar ou amenizardetermina<strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>des. Através <strong>da</strong> participação de eventos científicos, contato compesquisadores <strong>da</strong> área, reuniões com os produtores e <strong>da</strong> aplicação de roteiros de entrevista a60 agricultores, pode-se verificar que a implantação de alternativas terapêuticas, quesubstituem os tratamentos com medicamentos sintéticos, tem importância fun<strong>da</strong>mental,principalmente hoje em dia em que se busca a melhoria na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Pode-severificar que os conhecimentos a respeito <strong>da</strong> utilização e benefícios <strong>da</strong> fitoterapia não estãorealmente esclarecidos em algumas proprie<strong>da</strong>des e em certos locais a assistência médicaadequa<strong>da</strong> se torna onerosa visto que muitas proprie<strong>da</strong>des se localizam distantes dos centros desaúde do município. Os produtores se mostraram interessados em obter mais informações,fato este que reflete mais uma vez a preocupação atual <strong>da</strong> população em adquirir hábitos maissaudáveis e valores cotidianos mais ecológicos, procurando alternativas terapêuticas que alémde evitar gastos dispendiosos com atendimento primário à saúde <strong>da</strong> família, tambémproporciona melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> ao agricultor familiar.Palavras-chave: Plantas Medicinais; Agricultura familiar; Sustentabili<strong>da</strong>de Rural.


2INTRODUÇÃODesde os tempos mais remotos, é conheci<strong>da</strong> a utilização de ervas na cura de diversostipos de doenças. O homem, pela própria necessi<strong>da</strong>de e a carência de outras fontes, semprebuscou na natureza a solução de seus males. “Que o teu alimento seja o teu remédio e que oteu remédio seja o teu alimento” – esta frase, atribuí<strong>da</strong> a Hipócrates, foi registra<strong>da</strong> há mais detrês mil anos, sendo uma <strong>da</strong>s provas mais antigas de que comi<strong>da</strong> e cura estão relaciona<strong>da</strong>sdesde os primórdios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de (HISTÓRIA, 2003).Desta forma, não se sabe a <strong>da</strong>ta precisa do início <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s plantas sob a formamedicinal, pois sua história se entrelaça diretamente à própria história do homem,acumulando um conhecimento de milhares de anos. De uma forma geral, os estudiososcostumam apresentar a história <strong>da</strong>s ervas medicinais a partir do Oriente, em um longocaminho que evoluiu, mais recentemente até a América (HISTÓRIA, 2003).Segundo Corrêa Junior, Ming e Scheffer (1994), “... o povo chinês sabe <strong>da</strong>importância <strong>da</strong>s plantas medicinais a mais de 5.000 anos, e até hoje são utiliza<strong>da</strong>s, comgrande eficácia, na cura <strong>da</strong>s principais doenças, juntamente com medicamentos <strong>da</strong> medicinamoderna”.Um dos primeiros documentos que se conhecem sobre a utilização <strong>da</strong>s plantas comfins medicinais remonta a 500 a.C. O célebre clássico <strong>da</strong> farmacopéia chinesa “Tzu-I PênTshao Ching” foi composto, pensa-se, um pouco depois <strong>da</strong> era de Confúcio. O originalcontinha 365 remédios à base de plantas ao qual, mais tarde, se juntaram outros 200. Contudoo uso medicinal de plantas era uma prática bem estabeleci<strong>da</strong> muito antes <strong>da</strong> criação destestextos (FITOTERAPIA, 2003a).O Brasil possui uma coleção imensa de plantas medicinais, espalha<strong>da</strong>s quer nasci<strong>da</strong>des, em cui<strong>da</strong>dos jardins, quer nos mais remotos recantos dos sertões. (MOREIRA;YARZA; ACHARAN, 1988).O país, com a maior diversi<strong>da</strong>de genética vegetal do mundo, conta com mais de 55 milespécies cataloga<strong>da</strong>s de um total estimado entre 350 mil e 500 mil – e a formação étnica <strong>da</strong>população fazem <strong>da</strong> <strong>Fitoterapia</strong> uma prática bastante antiga no país. No entanto, atualmentenão há no mercado produtos nacionais que tenham passado pelo processo de vali<strong>da</strong>ção –comprovação científica de sua eficácia. Estes estudos envolvem diversas etapas, <strong>como</strong> abotânica (identificação <strong>da</strong> planta para estudo), farmacêutica (produção e controle dequali<strong>da</strong>de) e de ensaios biológicos pré-clínicos, com animais. Só então o medicamento passa àfase de testes clínicos, realizados com pacientes, que dependem também de uma série deetapas. (NOGUEIRA; FARIAS apud FITOTERAPIA, 2003b).Como anteriormente destacado, o Brasil abriga 55 mil espécies de plantas,aproxima<strong>da</strong>mente um quarto de to<strong>da</strong>s as espécies conheci<strong>da</strong>s; destas, 10 mil podem sermedicinais, aromáticas e úteis. Como aponta estudo realizado por Lauro Barata e SérgioQueiroz, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas (Unicamp), denominado ContribuiçãoEfetiva ou Potencial do PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico eTecnológico) para o Aproveitamento Econômico Sustentável <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de(FITOTERAPIA, 2003a).Embora a medicina moderna esteja bem desenvolvi<strong>da</strong> na maior parte do mundo,grande parte <strong>da</strong> população dos países em desenvolvimento depende dos profissionaistradicionais, <strong>da</strong>s plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a sua atenção


primária (ZHANG, 2000 apud BRASIL, 2001). Além disso, durante as últimas déca<strong>da</strong>s, ointeresse do público nas terapias naturais tem aumentado enormemente nos paísesindustrializados, e acha-se em expansão o uso de plantas medicinais e medicamentosfitoterápicos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2000 apud BRASIL,2001).Torna-se inconcebível, portanto, que uma prática que se perpetuou na história <strong>da</strong>civilização não tivesse na atuali<strong>da</strong>de, o merecido reconhecimento <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong>queles que aexecutam (DI STASI, 1996). Ain<strong>da</strong>, segundo IBAMA..., (2003), a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sculturas tradicionais é tão grave quanto à <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. As populações, principalmente osmoradores <strong>da</strong> zona rural, guar<strong>da</strong>m heranças de conhecimentos e procedimentos relativos aouso de plantas, às vezes, oriundos de grupos indígenas há muito extintos, que foramincorporados à sua cultura graças às potenciali<strong>da</strong>des terapêuticas dessas ervas (DI STASI,1996). Segundo o mesmo autor, em socie<strong>da</strong>des tradicionais, a transmissão oral é o principalmodo pelo qual o conhecimento é perpetuado. O conhecimento é transmitido em situações, oque faz que a transmissão entre gerações requeira contato intenso e prolongado dos membrosmais velhos com os mais novos.A humani<strong>da</strong>de chegou até a déca<strong>da</strong> de 1950, utilizando intensivamente as plantasmedicinais com resultados comprovados, porém, com o advento <strong>da</strong> indústria farmacêutica, e asíntese de muitos princípios ativos em laboratório, o homem vem se distanciando <strong>da</strong>s suasorigens. Mas felizmente, por motivos diversos, <strong>como</strong> intoxicações por medicamentos, preçoalto e busca de uma vi<strong>da</strong> mais saudável e natural, o cultivo e o uso de plantas medicinais temcrescido nas últimas déca<strong>da</strong>s. (SARTÓRIO et al., 2000).O cerrado é um complexo vegetacional que detém grande diversi<strong>da</strong>de biológica(RODRIGUES; CARVALHO, 2001) e muitas dessas plantas apresentam compostos bioativosque podem ser aproveitados com fins terapêuticos. Segundo Vieira (2003), essaimpressionante diversi<strong>da</strong>de de espécies <strong>da</strong> flora medicinal é um forte indício de que ain<strong>da</strong> nãohouve um estudo detalhado de grande parte desse universo de plantas medicinais encontra<strong>da</strong>sem nosso território.No que se refere à utilização dessas plantas, pelos agricultores <strong>da</strong> região do TriânguloMineiro, faltam pesquisas, principalmente porque muitas delas são usa<strong>da</strong>sindiscrimina<strong>da</strong>mente e não têm eficácia terapêutica cientificamente comprova<strong>da</strong>.Segundo Di Stasi et al. (2002), há uma necessi<strong>da</strong>de urgente de coletar e documentar asplantas medicinais existentes no Brasil, pois diversos livros sobre etnobotânica estãodisponíveis, porém, o conhecimento sobre etnofarmacologia é insuficiente para suportarpesquisas interdisciplinares. Faz-se necessário o incentivo à pesquisa e à catalogação de taisvarie<strong>da</strong>des, no sentido de conhecer para otimizar o uso adequado e, sobretudo, proteger econservar esse patrimônio genético de nosso país (VIEIRA, 2003).Portanto, além <strong>da</strong> caracterização do uso <strong>da</strong>s plantas medicinais, é importante umaabor<strong>da</strong>gem que norteie um aproveitamento adequado dos recursos terapêuticos fornecidospelas ervas medicinais, possibilitando assim melhorias na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos agricultoresfamiliares. Para maiores informações, veja “Iniciativas de apoio à utilização de plantas”.3


4MATERIAL E MÉTODOSA partir de um planejamento criterioso, iniciou-se um estudo com a população-alvo <strong>da</strong>pesquisa. Esta fase envolveu primeiramente a observação <strong>da</strong> população-alvo do estudo, apartir <strong>da</strong> qual reuniu-se o máximo de informações que facilitaram o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> pesquisa eque permitiram ao pesquisador um fácil acesso aos indivíduos que foram pesquisados.De posse <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s foi feita uma pesquisa bibliográfica específica. Estarevisão examinou a literatura sobre a identificação e uso de plantas medicinais orienta<strong>da</strong> paraas condições específicas <strong>da</strong> região do estudo.A população-alvo incluiu agricultores familiares tradicionais, acampados e assentadosdo Município de Uberlândia - MG. O plano de trabalho executado fez parte <strong>da</strong> pesquisa“Alternativas Sustentáveis para Redução <strong>da</strong> Vulnerabili<strong>da</strong>de Social, Econômica e Ambiental<strong>da</strong> Agricultura Familiar nas Áreas do Cerrado do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”,coordena<strong>da</strong> pelo Prof. Dr. Shigeo Shiki, apoia<strong>da</strong> pelo CNPq. Assim sendo, teve umquestionário unificado composto de questões apresenta<strong>da</strong>s por todos os pesquisadores doprojeto. Ca<strong>da</strong> pesquisador teve acesso aos <strong>da</strong>dos necessários para elaborar sua análise.Esse questionário foi elaborado com questões fecha<strong>da</strong>s que possibilitaram respostasobjetivas e com questões abertas que possibilitaram uma abor<strong>da</strong>gem mais ampla dosresultados obtidos. Foi constituído de perguntas que permitiram esclarecer os principaisproblemas de saúde enfrentados pelas famílias, bem <strong>como</strong> as formas usa<strong>da</strong>s para resolverestes problemas. Pretendeu-se estabelecer um diagnóstico de saúde - doença dos moradores etambém avaliar o conhecimento sobre as práticas populares <strong>da</strong> fitoterapia e utilização desta.Os questionários foram aplicados a uma amostra de 60 agricultores <strong>da</strong> região, selecionadosaleatoriamente. Este número de questionários foi julgado adequado considerando a variaçãoentre os agricultores na área do estudo.Ao fim <strong>da</strong>s entrevistas foi criado um banco de <strong>da</strong>dos e a partir dele, os resultadosforam analisados e estu<strong>da</strong>dos para que fossem atingidos os objetivos propostos inicialmente.


5RESULTADOSNeste trabalho, foi realiza<strong>da</strong> uma investigação bastante detalha<strong>da</strong> procurando destacarvários aspectos que permitissem descrever a utilização <strong>da</strong>s plantas medicinais <strong>como</strong> fonte demedicina alternativa entre os agricultores familiares de Uberlândia.Como se pode observar na Tabela 1, a maioria dos entrevistados foi composta porhomens (56%), enquanto que 44% eram mulheres.Tabela 1. Sexo dos agricultores entrevistados.SEXO Nº DE ENTREVISTADOS %Masculino 34 56Feminino 26 44Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Quanto à i<strong>da</strong>de dos entrevistados, o que se verifica na Tabela 2 é que a maior parte dosentrevistados se encontra na faixa etária entre 50 e 60 anos (26%).Tabela 2. I<strong>da</strong>de dos agricultores entrevistados.IDADENº DEENTREVISTADOS%21-30 anos 5 0831-40 anos 14 2441-50 anos 11 1851-60 anos 16 2661-70 anos 11 1871-80 anos 3 6Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo,2003.Esta informação reforça a idéia de que o conhecimento à respeito <strong>da</strong>s ervas medicinaisestá concentrado principalmente entre os membros mais velhos <strong>da</strong> família que her<strong>da</strong>ram essasabedoria popular através <strong>da</strong>s gerações com seus antepassados.


Isso é salientado por Di Stasi (1996), que relatou que as populações, principalmente osmoradores <strong>da</strong> zona rural, guar<strong>da</strong>m heranças de conhecimentos e procedimentos relativos aouso de plantas, às vezes, oriundos de grupos indígenas há muito extintos, que foramincorporados à sua cultura graças às potenciali<strong>da</strong>des terapêuticas dessas ervas. Essesconhecimentos são transmitidos entre gerações através do contato intenso e prolongado dosmembros mais velhos com os mais novos.Na Tabela 3. pode se verificar que 84% <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des estão localiza<strong>da</strong>s em local deestra<strong>da</strong> bati<strong>da</strong> e que apenas 16% tem asfalto perto <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de. Esse fato acabadificultando o atendimento médico devido às dificul<strong>da</strong>des no transporte dos doentes.6Tabela 3. Tipo de via de acesso às proprie<strong>da</strong>des.VIA Nº DE ENTREVISTADOS %Estra<strong>da</strong> 50 84Asfalto 10 16Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Na Tabela 4 abor<strong>da</strong>m-se aspectos <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de dos entrevistados e verifica-se que50% dos entrevistados cursaram apenas <strong>da</strong> 1ª a 4ª série do primeiro grau. Esse nível deescolari<strong>da</strong>de denota que o conhecimento sobre a cura pela utilização de ervas medicinais étransmitido através <strong>da</strong>s gerações numa linguagem popular, seja através dos raizeiros queantigamente se faziam bastante presentes entre as comuni<strong>da</strong>des, seja através <strong>da</strong> troca deconhecimento entre pais e filhos, sem requerer de recursos didáticos ou quaisquer outra formade ensinamento, senão através de troca de informações.Tabela 4. Nível de escolari<strong>da</strong>de dosagricultores entrevistados.NÍVEL DENºESCOLARIDADE%Analfabeto 16 261ª a 4ª série - 1º grau 30 505ª a 8ª série - 1º grau 7 122º grau incompleto 5 82º grau completo 2 4Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo,2003.Na Tabela 5, ao observar-se a escolari<strong>da</strong>de compara<strong>da</strong> ao sexo dos entrevistadosverifica-se que 16% <strong>da</strong>s mulheres são analfabetas e que 46% <strong>da</strong>s mulheres cursaram a faixa<strong>da</strong> 1ª a 4ª série do 1º grau. Entre os homens, 8% dos entrevistados são analfabetos e 54%cursaram a 1ª a 4ª série do 1º grau. Quando são comparados os sexos na 1ª à 4ª série, foi


detecta<strong>da</strong> diferença não significativa, sendo que a proporção de indivíduos do sexo feminino écomparativamente igual aos do sexo masculino.7Tabela 5. Escolari<strong>da</strong>de e sexo dos entrevistados.ESCOLARIDADESEXOMASCULINO FEMININONº % Nº %Analfabetos 03 08 04 161ª-4ª série do 1ºgrau 18 54 12 465ª-8ª série do 1ºgrau 10 30 06 241º-3º ano do 2ºgrau 03 08 04 14Total 34 100 26 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Com relação ao atendimento médico, muitas proprie<strong>da</strong>des ficam afasta<strong>da</strong>s dos centrosde saúde o que impossibilita ou onera o atendimento médico. Os custos dispendiosos comatendimento médico acarretam sérias dificul<strong>da</strong>des econômicas que só agravam a situaçãodesses agricultores.Como afirmou Di Stasi (1996), os agricultores rurais têm enfrentado sérios problemasrelacionados à saúde, visto que os hospitais e postos de atendimento público geralmente sãodistantes <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des e nem sempre existe um meio de transporte facilitado para atenderàs necessi<strong>da</strong>des dos moradores do meio rural, inclusive nos casos mais urgentes.Na Tabela 6. pode se observar a freqüência de busca por atendimento médico dosentrevistadosTabela 6. Freqüência de busca poratendimento médico.PROCURAMNº DEATENDIMENTO ENTREVISTADOS%Sim 40 66Não 20 34Total 60 100NOTA: Freqüência de pelo menos uma vez aomês.FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.


8Na Tabela 7. pode se verificar que 64% dos entrevistados relatam não encontrardificul<strong>da</strong>des na busca por atendimento médico.Porém quando analisamos outros aspectos <strong>como</strong> a proprie<strong>da</strong>de de automóvel (Tabela8.) verificamos que apenas 40% dos entrevistados tem meio de transporte próprio.Tabela 7. Encontram dificul<strong>da</strong>des na buscapor atendimento médico.DIFICULDADENº DEENTREVISTADOS%Sim 22 36Não 38 64Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Tabela 8. Possui meio de transporte.TRANSPORTENº DEENTREVISTADOS%Sim 24 40Não 36 60Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.A respeito de convênios de assistência médica, <strong>como</strong> mostra a Tabela 9., apenas 8%dos entrevistados têm convênio, enquanto 92% dos entrevistados não possuem convêniomédico e dependem do sistema público de saúde, seja nos postos de atendimento dos bairrosou na Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Uberlândia.Tabela 9. Possui convênio médico.CONVÊNIONº DEENTREVISTADOS%Sim 05 08Não 55 92Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.A respeito <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s Plantas Medicinais, <strong>como</strong> mostra a Tabela 10, 90% dosentrevistados demonstraram algum conhecimento sobre utilização dessa forma de medicinaalternativa.


9Essa informação reforça a afirmação de Zhang (2000 apud BRASIL, 2001), que relataque embora a medicina moderna esteja bem desenvolvi<strong>da</strong> na maior parte do mundo, grandeparte <strong>da</strong> população dos países em desenvolvimento depende dos profissionais tradicionais, <strong>da</strong>splantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a sua atenção primária. Segundo aOrganização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% <strong>da</strong> população mundial depende <strong>da</strong>medicina tradicional nos cui<strong>da</strong>dos primários de saúde (GUIDELINES..., 1993 apudPROJETO..., 2001).Tabela 10. Agricultores que utilizam plantasmedicinais.UTILIZAM Nº DE ENTREVISTADOS %Sim 54 90Não 06 10Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Na Tabela 11 pode se notar que 26% dos entrevistados já tomaram conhecimento depelo menos um caso de intoxicação por plantas medicinais. Segundo foi relatado durante asentrevistas, a maior parte dos casos de intoxicação pelas plantas advém do uso indiscriminadodessas plantas e não de plantas tóxicas específicas. Esse fator é muito importante porqueressalta mais uma vez a preocupação em acrescentar mais informações sobre os perigos douso inadequado e irresponsável <strong>da</strong>s ervas medicinais.Foram levanta<strong>da</strong>s dúvi<strong>da</strong>s principalmente relaciona<strong>da</strong>s à dosagem adequa<strong>da</strong> dofitoterápico que pode ser utiliza<strong>da</strong>. Muitos agricultores revelam que sabem as indicações e atédispõem de exemplares <strong>da</strong>s espécies na própria proprie<strong>da</strong>de, mas não as utilizam porque temreceio quanto à forma correta de uso e as dosagens a serem administra<strong>da</strong>s.Segundo Calixto (2000), “... existem <strong>da</strong>dos insuficientes para que a maioria <strong>da</strong>splantas garanta sua quali<strong>da</strong>de, eficácia e segurança. A idéia que as ervas medicinais estãoseguras e livres dos efeitos colaterais é falsa. As plantas contêm centenas de constituintes ealguns deles são muito tóxicos”.A utilização inadequa<strong>da</strong> dos fitoterápicos, <strong>como</strong> a automedicação, pode trazer umasérie de efeitos colaterais. Entre os principais problemas causado por seu uso indiscriminado eprolongado estão as reações alérgicas, os efeitos tóxicos graves em vários órgãos e mesmo odesenvolvimento de certos tipos de câncer. É importante educar a população,conscientizando-a sobre o uso adequado <strong>da</strong>s plantas e medicamentos ditos naturais(FITOTERAPIA, 2003a).


10Tabela 11. Conhecimento sobre intoxicaçãopor plantas medicinais.TEM CONHECIMENTO Nº %Não 44 74Sim 16 26Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa decampo, 2003.Pode-se verificar, durante as entrevistas, uma gama muito grande de plantasmedicinais nativas do cerrado que estão sendo utiliza<strong>da</strong>s pela população. Dentre as plantascita<strong>da</strong>s muitas não têm nome científico correspondente na literatura pesquisa<strong>da</strong>. Isso denotauma importância muito grande de uma abor<strong>da</strong>gem a respeito <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong>s espéciesnativas <strong>da</strong> região, pois algumas comuni<strong>da</strong>des atribuem nomes populares às ervas utiliza<strong>da</strong>sque diferem <strong>da</strong>queles citados na literatura referente às espécies de uso popular na fitoterapia.Esse fato dificulta o esclarecimento <strong>da</strong> população a respeito do uso de determina<strong>da</strong>espécie enquanto fitoterápico, bem <strong>como</strong> suas características de cultivo e formas deutilização.E <strong>como</strong> afirmou Vieira (2003), faz-se necessário o incentivo à pesquisa e àcatalogação dessas espécies ain<strong>da</strong> não identifica<strong>da</strong>s, no sentido de conhecer para otimizar ouso adequado e, sobretudo, proteger e conservar esse patrimônio genético de nosso país.Seria necessário, portanto, para sanar esse aspecto, a abor<strong>da</strong>gem de projeto queimplementasse e viabilizasse a identificação botânica, inclusive buscando acumularinformações <strong>como</strong> as características agronômicas e farmacológicas <strong>da</strong>s espécies.Posteriormente poderia ser desenvolvido um trabalho de esclarecimento a respeito do usoadequado dessas plantas, bem <strong>como</strong> a sua forma de utilização, indicações, efeitos colaterais eprecauções a serem toma<strong>da</strong>s na utilização.A respeito <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong>s Farmácias Vivas, a maior parte dos entrevistados não asconhece (Tabela 12).Tabela 12. Conhecimento sobre Farmácia Viva.OUVIU FALAR Nº %Sim 16 26Não 44 74Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.


Na Tabela 13, podemos observar que a maioria dos entrevistados demonstrou interesseem implantar as Farmácias Vivas nas proprie<strong>da</strong>des ou num local de acesso comunitário. Ahorta <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de foi o local mais citado para implementar a Farmácia Viva.11Tabela 13. Implantação de uma Farmácia Viva.FAVORÁVEL Nº %Sim 52 86Não 08 14Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Na Tabela 14, pode-se verificar que 95% dos agricultores entrevistados têm interesseem aprender mais sobre o uso <strong>da</strong>s plantas medicinais.Tabela 14. Interesse em saber mais sobre plantasmedicinais.TEM INTERESSE Nº %Sim 57 95Não 03 05Total 60 100FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.Essa informação é salienta<strong>da</strong> pela OMS (2000 apud BRASIL, 2001) que relata quedurante as últimas déca<strong>da</strong>s, o interesse do público nas terapias naturais tem aumentadoenormemente nos países industrializados, e acha-se em expansão o uso de plantas medicinaise medicamentos fitoterápicos.Segundo Sartório et al. (2000), o cultivo e o uso de plantas medicinais tem crescidonas últimas déca<strong>da</strong>s por motivos diversos, <strong>como</strong> intoxicações por medicamentos, preço alto ebusca de uma vi<strong>da</strong> mais saudável e natural.


12CONCLUSÃOPode-se verificar que os conhecimentos a respeito <strong>da</strong> utilização e benefícios <strong>da</strong>fitoterapia não estão realmente esclarecidos em algumas proprie<strong>da</strong>des e em certos locais aassistência médica adequa<strong>da</strong> se torna onerosa visto que muitas proprie<strong>da</strong>des se localizamdistantes dos centros de saúde do município.Apesar <strong>da</strong> maioria dos entrevistados terem relatado que não encontram dificul<strong>da</strong>des noatendimento médico, foram aponta<strong>da</strong>s <strong>como</strong> principais dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s pelosagricultores, relaciona<strong>da</strong>s à saúde, a falta de transporte, a distância e a ineficiência do sistemade atendimento público à saúde.Um dos pontos positivos verificados neste trabalho que deve ser ressaltado é ointeresse manifestado pelos agricultores em obter maiores informações a respeito <strong>da</strong>medicação alternativa utilizando fitoterápicos.Esse fato reflete mais uma vez a preocupação atual <strong>da</strong> população em adquirir hábitosmais saudáveis e valores cotidianos mais ecológicos, procurando alternativas terapêuticas quealém de evitar gastos financeiros dispendiosos com atendimento primário a saúde <strong>da</strong> família,também proporciona melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> ao agricultor e sua família.Com relação à implantação <strong>da</strong>s farmácias vivas nas proprie<strong>da</strong>des, esse objetivo nãopode ser concluído devido às dificul<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à aquisição <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>s de plantasmedicinais de fontes idôneas que não oferecessem risco a população que fosse utilizar asplantas.Poderiam ser usa<strong>da</strong>s plantas <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des vizinhas, porém seria necessário realizarpreviamente a implantação <strong>da</strong> farmácia viva, um trabalho de identificação <strong>da</strong>s espéciesnativas para que não ocorresse nenhum erro de identificação que contribuísse para o insucesso<strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s plantas medicinais.Cabe salientar que ain<strong>da</strong> são necessárias muitas pesquisas na área para possibilitaruma assistência terapêutica eficaz através do uso de fitoterápicos, bem <strong>como</strong> trabalhos deextensão que visem informar os agricultores a respeito <strong>da</strong> utilização segura e eficaz <strong>da</strong>splantas medicinais.


13REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Proposta de PolíticaNacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos. Brasília, DF, 2001. 38 p.CALIXTO, J. B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines forherbal medicines (phytotherapeutic agents). Brazilian Journal of Medical and BiologicalResearch., Ribeirão Preto, v.33, n.2, p. 179-89, fev. 2000. Disponível em:. Acesso em: 20 out. 2001.CORRÊA JÚNIOR, C.; MING, L.C.; SCHEFFER, M.C. Cultivo de plantas medicinais,condimentares e aromáticas. Jaboticabal: Fun<strong>da</strong>ção de Estudos e Pesquisas em Agronomia,Medicina Veterinária e Zootecnia, 1994. 151 p.DI STASI, L. C. Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. SãoPaulo: Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, 1996. 230 p.DI STASI, L. C.; OLIVEIRA, G.P.; CARVALHAES, M.A., QUEIROZ-JUNIOR, M.; TIEN,O.S.; KAKINAMI, S.H., REIS, M.S. Medicinal plants popularly used in the BrazilianTropical Atlantic Forest. <strong>Fitoterapia</strong>., Settala, v.73, n.1, p. 69-91, fev. 2002. Resumodisponível na base de <strong>da</strong>dos MEDLINE (PubMed) em: Acesso em: 22 mai. 2002.FITOTERAPIA (a). Disponível em: < http://www.comciencia.br/reportagens/fito/fito1.htm >Acesso em: 19 ago. 2003.FITOTERAPIA (b). Disponível em: < http://www.revistanexus.com.br/nex3/artigo01.html >Acesso em: 19 ago. 2003.HISTÓRIA. Disponível em: < http://www.ervasesaude.hpg.ig.com.br/historia.htm > Acessoem: 19 ago. 2003.IBAMA incentiva manejo <strong>da</strong>s plantas medicinais <strong>como</strong> alternativa de ren<strong>da</strong>. PanoramaAmbiental, Brasília – DF. Disponível em: < http://www.pickupau.com.br/INFORMATIVO/01.09.2003/ibama_incentiva.htm> Acesso em: 25 out. 2003.MOREIRA, F.; YARZA, O.; ACHARAN, M. L. As plantas que curam: a prevenção e acura <strong>da</strong>s doenças pelas plantas. São Paulo: Libra, 1988. 410 p.NASCIMENTO, M. A. H. O concreto <strong>da</strong>s práticas populares de cura desenvolvi<strong>da</strong>s emMatinha. Revista Enfermagem UERJ., Rio de Janeiro, v.4, n.1, p. 59-70, abr. 1996. Resumo


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