Consultas médicas em Leiria são das mais ... - Jornal de Leiria

4 | 31 de Março de 2005■ Sociedade■ALCOBAÇA E CALDAS TÊM CONSULTASPRIVADAS MAIS CARAS QUE LEIRIAQuem não estiver disposto a esperar semanas ou até meses por um consulta no hospital, só tem uma opção: recorrer aconsultórios privados e pagar cerca de 55 euros, o custo médio das consultas no concelho de Leiria, de acordo com um estudoda Deco, divulgado no início desta semana. Mas, segundo a associação de defesa dos consumidores, os preços podem subir atéaos 85 euros ou descer aos 30 euros (clínica geral). A análise conclui que o concelho de Leiria é das 16 regiões estudadas, aquinta onde as consultas são mais baratas. No pólo oposto está o Sul do distritoMenor tempo de espera, melhororganização dos serviços e maisqualidade do atendimento sãoalgumas das razões apontadaspelos utentes para recorrer à medicinaprivada. Uma opção quelhes saí do bolso, obrigando-osa despender entre 30 e 85 eurospor consulta, o preço médio cobradopor clínicos gerais e especialistasna região, de acordo comum estudo da Deco, divulgadono início da semana pela revista“Teste Saúde”.A asssociação de defesa dosconsumidores visitou 102 clínicase consultórios privados nodistrito, tendo concluído que,entre 16 regiões analisadas, Leiriaé dos concelhos com consultasmais baratas. No pólo opostoencontram-se Caldas Rainhae Alcobaça que, na maioria dasespecialidades estudadas, ocupamposições na última metadeda tabela.De acordo com o estudo, Leiriaé a segunda região onde sepraticam preços mais baixos aonível da clínica geral, com umcusto médio de 34,51 euros porconsulta. Para recorrer a um reumatoligistaprivado, a especialidademais cara no concelho, outente paga em média 68 euros,um valor que pode ser explicadopela falta de clínicos nestaárea. Dos cerca de 26 mil médicosinscritos na Ordem dos Médicos,apenas uma centena são reumatologistas.Um dos dados que sobressaida investigação da Deco é a grandediferença entre os preços mínimose máximos das consultas,que chega a atingir os 45 euros,em ortopedia no Sul do distrito,e os 35 euros na especialidadede ginecoligia/obstetricia, querem Leiria quer em Caldas da Rainhae Alcobaça.Apesar de sublinhar que aOrdem dos Médicos dispõe deuma tabela de preços (entre os30 e os 132 euros), Ana Barros,presidente do Conselho Distritalde Leiria da instituição, reconhecehaver uma “grande flexibilidade”na definição dos valores,impondo-se a lei daconcorrência. “Normalmente olhasepara os preços praticados nazona para que não haja grandesdisparidades”, explica José CarlosRamos, médico em Porto deMós, justificando o custo médiodas consultas de clínica geral emLeiria (dos mais baixos do País),com o facto de, apesar das queixas,o sistema público funcionarDR“razoavelmente bem”. No geral,diz, “é fácil conseguir uma vaga”.ESPERAR MESESPOR UM CONSULTAHá cerca de um ano, PauloBento, de Porto de Mós, deparou-secom vários problemasnos intestinos e no estômago,que o obrigaram a recorrer aespecialistas. Na ocasião, nemsequer colocou a hipótese deusar o sistema público de saúde.“Era uma situação que meincomodava bastante e que nãose compadecia com meses deespera por uma consulta, comoem vários casos que conheço”,justifica, frisando que “muitasvezes são os próprios médicosde família a encaminhar paraos privados, porque conhecemas demoras do público”.No hospital de Leiria, por exemplo,há especialidades com umtempo de espera entre os trêsmeses e um ano. Depois de averiguarem vários consultórios deLeiria os preços para fazer umalimpeza aos dentes, e como nãoestava na disposição de desembolsarcerca de 60 euros, RicardoCarvalho tentou aquela unidadehospitalar, tendo sidoinformado que só teria vaga dentrode três meses. Pior aconteceucom Mário Santos, que estasemana se dirigiu ao hospital dePombal para marcar uma consultade estomatologia. “VolteUma consulta de Ortopedia em Leiria custa entre 45 e 70 eurosdaqui a um ano”, foi a respostaque obteve.Mas nem tudo são espinhos.Segundo uma nota enviada aoJORNAL DE LEIRIA por LícinioCarvalho, administrador executivodo Hospital de Santo André,em Leiria, “não há lista de espera”para consultas em ortopedia,ginecologia/obstetrícia e reumatologia.Para pediatria e dermatologiaserá necessário esperarcerca de duas e quatro semanasrespectivamente, enquanto paraser visto por um oftalmologista,o utente terá de aguardar doismeses. De acordo com a informaçãodo hospital, a duraçãoindicada é avaliada em termosmédios, “já que é feita uma triagemde prioridades”. Licínio Carvalhofrisa ainda o facto de, entre2000 e 2004, o número de consultasexternas ter subido 36 porcento (de 89.986 para 122.205).MAIS TEMPOPARA OS DOENTESAlém dos tempos de esperamais reduzidos, a qualidade doatendimento é outro dos factoresque leva os utentes a optarempelo sistema privado. Apesarde considerar que “não háfundamento” nas afirmações deutentes que dizem ser melhoratendidos nos consultórios particulares,a representante da Ordemdos Médicos no distrito, admiteque, no privado, o clínico “temmais disponibilidade para estarcom o doente”, embora frise quea componente prática da consulta“é igual”.“Na consulta privada, o médicogere as marcações e tem umcontrolo maior sobre o tempo daconsulta, dispondo de mais tempopara conversar com o paciente,um factor que ajuda a criarempatia entre as partes”, afirmaJosé Carlos Ramos. Partilhandodessa opinião, José Luís Brandão,director da Clínica de Santanae médico no Centro de SaúdeGorjão Henriques, em Leiria,diz, no entanto, que os utentessão “mais exigentes quando nãopagam um serviço”. “Ficam satisfeitosse saem à meia-noite deum consultório privado, depoisde duas ou três horas de espera,mas, se aguardem uma hora noposto médico, fartam-se de refilar”,sustenta. O médico frisa queno centro de saúde onde trabalhahá “centenas de utentes” que,podendo recorrer ao privado, porquetêm sistemas que os reembolsam,optam pelo público, porque“gostam do atendimento”. Oclínico destaca ainda o “factorpsicológico” que leva muitosutentes a recorrer a médicos particularesnas áreas da obstetríciae da pediatria. “Os pais adoraminvestir nos filhos e tem anoção de que se recorrerem aopúblico não estão a dar aos seusrebentos tudo o que podem e oque devem”, sustenta.UM NEGÓCIO DA CHINATomando como exemplo ummédico ginecologista que trabalheno consultório duas vezespor semana, fazendo cerca deseis horas por dia, atendendo trêspessoas por hora e cobrando 60euros (o preço médio praticadoem Leiria) por consulta, concluíseque o clínico arrecada pertocerca de 2100 euros por semanae 8400 euros por mês. ■Maria Anabela SilvaPREÇOS DA PRIMEIRA CONSULTALEIRIAEspecialidade Mínimo Máximo Médio Lugar noranking*Pediatria 50 € 70 € 57 € 8ªOrtopedia 45 € 70 € 53,03 € 3ªGinecologia/Obst. 50 € 85 € 61,33 € 6ªOftalmologia 48 € 65 € 56,72 € 6ªDermatologia 45 € 60 € 54,5 € 3ªClínica Geral 30 € 55 € 34,51 € 2ªReumatologia 60 € 75 € 68 € 12ªALCOBAÇA E CALDAS DA RAINHAEspecialidade Mínimo Máximo Médio Lugar noranking*Pediatria 50 € 70 € 60,24 € 11ªOrtopedia 30 € 75 € 57,21 € 9ªGinecologia/Obst. 50 € 85 € 66,88 € 10ªOftalmologia 45 € 65 € 57,9 € 10ªDermatologia 45 € 70 € 59,78 € 9ªClínica Geral 27 € 50 € 37,04 € 3ªReumatologia 55 € 75 € 62,73 € 8ª* do mais barato para o mais caro, entre 16 regiões estudadasFonte: Deco - Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores