Consultas médicas em Leiria são das mais ... - Jornal de Leiria

2 | 31 de Março de 2005 | SOCIEDADE | JORNAL DE LEIRIA |EDITORIALDoutores eEngenheirosPortugal é um país onde se vivemuito de aparências. Mais importanteque ser é parecer. Um bomcarro, uma grande casa ou roupasde marca são objectivos ouaté sonhos de parte dos portugueses,porque assim lhes disseramque devia ser. Não por o carroser mais seguro ou a casa maisconfortável, mas pela imagem quecausam nos outros. Esta característica,fruto de complexos de inferioridadee de alguma insegurança,incutida na memória colectivada população por dezenas de anos,de regimes conservadores e retrogados,tem custado caro ao desenvolvimentodo país. Produzimoscomo os países pobres e queremosviver como os ricos. Muitas famíliasvivem acima das suas possibilidades,endividando-se para oconseguirem e criando com isso,para além de uma ansiedade prejudicial,um problema para o paíscuja economia sofre com o consumismoexagerado da sua população,pela reduzida poupança epela pouca sensibilidade para aimportância do saber. Fruto dessaforma de estar e pensar, foiigualmente penalizado e enfraquecidoo nosso tecido empresarial,cujos empresários, em muitoscasos, investem o que é seu edos outros em gastos dispensáveise até supérfluos, em vez de utilizaremos meios disponíveis namodernização e consolidação dasempresas. Mas o exemplo maisilustrativo deste complexo reinantena sociedade portuguesa, talvezseja a "doutorite". Doutor e engenheirosão os “nomes próprios”mais utilizados e ambicionadosem Portugal. Ter doutor atrás donome nos cheques ou cartões decrédito, usar o anel de curso quemuitos fazem questão de evidenciarna perspectiva de um tratamentoespecial, são vaidades quesurpreendem, muitas vezes, os doutorese engenheiros de outros países.A ambição de se tirar um cursosuperior passa muito por vir aser doutor, mesmo que desempregadoou mal remunerado. Possivelmenteesse estigma é um dosresponsáveis pelos problemas porque passa o nosso sistema educativoe consequentemente pela fracaqualificação que tem a nossamão- -de-obra produtiva. Na alturade optar, os nossos jovens, muitasvezes pressionados pelos pais,preferem enveredar por cursos compoucas saídas profissionais e emque o mercado já está excedentário,mas que lhes permita dizer que"andam na Faculdade" ou que são"engenheiros" ou "doutores", mesmoquando isso não correspondeà realidade. Sem essa forma depensar redutora, talvez fossemlevados a procurar formação emáreas técnicas ou profissões tradicionaisque lhes garantiriam empregos,inclusive melhor remunerados,e contribuiriam, também, paradesenvolver este querido país. ■Há 25 ou 26 anos foi eleito papa da Igreja Católica Romana o CardealPolaco Woytila, que escolheu a designação de João Paulo II. Investidopelo Colégio dos Cardeais de todo o mundo católico, João Paulo IIveio a manifestar-se um Papa diferente, norteado, de modo especial,pela unidade das Igrejas, pela solidariedade entre os povos, pela paz, econtra qualquer guerra, pela defesa dos pobres e daqueles que não têmvoz. Pela palavra e pela escrita, pela acção e pela oração, o Papa deu aomundo a imagem dum homem coerente, lutador, que ultrapassandotanto e tanto obstáculo, se mostrou igual a si mesmo, levando a sua presençaaos povos mais longínquos, independentemente dos credos quepudessem professar. Todos são homens, todos têm os mesmos direitos,e será na verdadeira unidade de objectivos e práticas que o mundo poderáser mais humano e um lugar mais habitável.As suas inumeráveis viagens deram o testemunho daquilo pelo queo Papa na verdade luta: a união e o amor entre todos. Atraiu multidões– crentes ou não crentes -, arrastou jovens, fez ouvir a sua palavra espiritual,evangélica, cristã.Vítima duma impiedosa doença que não pára, alvo de dois atentados,idade que não perdoa, foi-se fragilizando fisicamente, mantendo,no entanto, a sua vivacidade intelectual. É uma figurade que se fala, admirada pela sua vida, pela sua intervenção, eque, hoje, doente como está, impressiona e, de certo modo, compadece.Como está verdadeiramente o Papa, depois de todasestas intervenções e recaídas de há três semanas para cá?Modelo de espiritualidade, escreveu Encíclicas e Cartas dignasde serem meditadas. Mas, perante certos aspectos da vidahumana, como seja a sexualidade, as suas atitudes eposições mantém um conservadorismo que não se integrarámuito bem na sociedade de hoje.| C a r t o o n |O trânsito caótico no Centro Histórico de Leiria obriga a manobras radicais!O tanoeiro das CortesEscreve o JORNAL DE LEIRIa, a 4 de Abril de1985: “Quando se desce da igreja das Cortes, pelaRua da Fé, algumas dezenas de metros mais abaixo,à direita, encontra-se a Rua do Malhão: zonade construções antigas onde predominam a pedrae a madeira, paredes de branco caiadas, telhas romanasa combinarem com o cenário rural que teimaem persistir. Ao dobrar da esquina, também do ladodireito, encontra-se a oficina do senhor JoaquimMarques, de 47 anos, tanoeiro de profissão. É a únicaoficina de tanoaria da freguesia das Cortes, e daspoucas que no concelho de Leiria ainda resistem àsinvestidas inexoráveis do progresso, até que com otempo sejam relegadas por completo às páginas histórico-literáriasde uma época em que foram relíquia. ‘Nasceram--me os dentes nisto. Estou nesta profissão porque não sei ler’,confessa-nos o senhor Joaquim. As palavras brotam-lhe francase espontâneas, no meio de um sorriso e de uma boa disposição| I m p r e s s õ e s |João Paulo IIHelena Carvalhão*Será que os problemas que dizem respeito às relações entre os seres,às suas opções de vida, não deverão ser objecto de uma análise profundade consciência, e não pura e simplesmente condenadas com opecado?! Veja-se, inclusivamente, as atitudes e posições hesitantes dealguns membros do clero católico e de católicos conscientes, muitosdeles já organizados em movimentos mais esclarecidos.A chamada Semana Santa e o Dia de Páscoa trouxeram até nós afigura acabrunhada e sofredora dum Papa que nos tinha habituado àsua energia e, mesmo, até nos momentos mais dolorosos, à sua coragemque a todos transmitia.Sabemos que o Papa não está bem.Os boletins médicos que nos fazem chegar ao nosso conhecimentosão, ou não, “filtrados” pelos que o rodeiam? Será que não teríamosdireito a saber toda a verdade? Crentes e não crentes, poisJoão Paulo II ultrapassa as fronteiras do Vaticano: é uma personalidadedo século XX e mesmo já XXI. A televisão dá-me imagens à distânciadum Papa que quis vir à janela abençoar os fiéis que estavam naPraça de São Pedro. Os assessores lêem textos que nos dizem terem sidoescritos pelo Pontífice. Eu não quero duvidar de todas estasnotícias que nos vão sendo dadas. Mas o grande silêncio à voltadas coisas essenciais, provoca em mim a dúvida. Gostariaque retirassem a “cortina” que me parece envolver todo o Vaticano,e por isso toda a verdade.Perante tudo isto, se me interrogassem àcerca da questãoque anda no ar – o Papa deve ou não resignar? - parece-meque não saberia responder, pois tudo o que vejo e leio me impressionaa ponto de não formular uma ideia clara sobreo assunto. ■* professora aposentadaMemórias | JORNAL DE LEIRIA 20 ANOSde tal modo contagiantes que em poucos minutos nos sentimosperfeitamente familiarizados com este homem que desfolha tãoabertamente as páginas da sua vida. O pai, hoje de idade avançada,também foi tanoeiro”. ■