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programa de pós-graduação em serviço social doutorado em ...

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIALDOUTORADO EM SERVIÇO SOCIALALINE ESPINDOLA DORNELLESPROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO À JUVENTUDELATINO AMERICANA: um estudo comparativo entreArgentina e BrasilPORTO ALEGRE2013


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE SERVIÇO SOCIALPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIALDOUTORADO EM SERVIÇO SOCIALALINE ESPINDOLA DORNELLESPROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO À JUVENTUDE LATINO AMERICANA: umestudo comparativo entre Argentina e BrasilTese <strong>de</strong> Doutorado apresentada como requisito paraobtenção do título <strong>de</strong> Doutora <strong>em</strong> Serviço Social, aoPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Serviço Social, daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço Social, da PontifíciaUniversida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.Orientador: Prof. Dr. Carlos Nelson dos ReisPorto Alegre2013


ALINE ESPINDOLA DORNELLESPROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO À JUVENTUDE LATINO AMERICANA: umestudo comparativo entre Argentina e BrasilEsta tese foi submetida ao processo <strong>de</strong> avaliação pela Banca Examinadora paraobtenção do título <strong>de</strong> Doutora <strong>em</strong> Serviço Social e aprovada na sua versão final <strong>em</strong> 5 <strong>de</strong><strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2012, aten<strong>de</strong>ndo às normas da legislação vigente, pela Pontifícia Universida<strong>de</strong>Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço Social, Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong>Serviço Social...............................................................................Professora Doutora Jane Cruz PratesCoor<strong>de</strong>nadora do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Serviço SocialBanca Examinadora:................................................................................Orientador: Prof. Doutor Carlos Nelson dos Reis................................................................................Profa. Doutora Beatriz Gershenson Aguinsky................................................................................Prof. Doutor Paulo Wüsch................................................................................Profa. Doutora Vanessa Maria PanozzoPorto Alegre2013


Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, naprática <strong>social</strong> <strong>de</strong> que tornamos parte.PAULO FREIRE


RESUMONesta pesquisa realiza-se um estudo comparativo dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para ajuventu<strong>de</strong> da Argentina e do Brasil, que objetivam a inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho e afinalização do estudo primário e/ou secundário, b<strong>em</strong> como um mapeamento dos <strong>programa</strong>svigentes na América Latina, entre 1990 e 2010, como uma das respostas construídas às Metas<strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio. Contextualizam-se alguns aspectos relevantes da trajetóriahistórica e do ajuste estrutural na América Latina, <strong>de</strong>stacando os processos <strong>de</strong> transformaçãoprodutiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial ao ajuste nos anos 90, e as modificações sociais que foramconsequências <strong>de</strong>ste processo. Descrev<strong>em</strong>-se e analisam-se aspectos pertinentes à juventu<strong>de</strong>,seus conceitos e configurações, as modificações do mercado <strong>de</strong> trabalho a partir <strong>de</strong> 1990 e ummapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> da América Latina, que surgirama partir <strong>de</strong> 1990 e estavam <strong>em</strong> execução até 2010. Realiza-se, ainda, um comparativo entre os<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação da Argentina e do Brasil, <strong>de</strong>stacando suas convergências edivergências, assim como uma reflexão sobre a contradição entre educação e capacitação,apontando os <strong>de</strong>safios dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> na inserção no mercado<strong>de</strong> trabalho frente à lógica do capital.Palavras-chave: Programas <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>. Mercado <strong>de</strong> trabalho. AméricaLatina.


ABSTRACTThis research conducts a comparative study of the training programs for the youth ofArgentina and Brazil inten<strong>de</strong>d for the insertion in the job market and the completion ofprimary and / or secondary education, as well as a mapping of the existing programs in LatinAmerica, between 1990 and 2010, as one of the answers built to the Millennium DevelopmentGoals. It contextualizes some relevant aspects of the historical trajectory and the structuraladjustment in Latin America, highlighting the processes of productive transformation fromthe colonial period to the adjustment in the 90s and the <strong>social</strong> changes that were consequencesof this process. It <strong>de</strong>scribes and analyzes relevant aspects of youth, its concepts andconfigurations, changes in the job market since 1990 and a mapping of the training programsfor the youth of Latin America that have <strong>em</strong>erged since 1990 and were running by 2010. Itperforms a comparison between the training programs in Argentina and Brazil, highlightingtheir similarities and differences, as well as a reflection on the contradiction betweeneducation and training, pointing out the challenges of the training programs for youthinsertion in the job market on the logic of capital.Keywords: Training programs for youth. Job Market. Latin America.


LISTA DE QUADROSQuadro 1 – Aspectos relevantes das economias da América Latina. ...................................... 17Quadro 2 – Características gerais dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong>trabalho para a juventu<strong>de</strong> na América Latina – 1990 a 2010 .............................. 67Quadro 3 – Áreas responsáveis pela formulação, fomento e execução dos <strong>programa</strong>s porpaíses. .................................................................................................................. 75Quadro 4 – Programas <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> da Argentina e do Brasil. ................ 84


LISTA DE TABELASTabela 1 – América Latina: distribuição setorial do investimento estrangeiro direto – 1996 –2003 (<strong>em</strong> porcentag<strong>em</strong>). ........................................................................................ 39Tabela 2 – América Latina (17 países ): Indicadores <strong>de</strong> trabalho para jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> torno dos 1990, 2000 e 2005 (<strong>em</strong> médias simples) .......................... 59Tabela 3 – América Latina (12 países): Proporção <strong>de</strong> jovens ocupados no setor <strong>de</strong> baixaprodutivida<strong>de</strong>, por sexo, segundo o nível educativo, <strong>em</strong> torno dos anos 1990, 2000e 2005 (<strong>em</strong> médias simples) .................................................................................. 62Tabela 4 – Número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s privados <strong>de</strong> capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong> trabalhovoltados à juventu<strong>de</strong> na América Latina entre 1990 – 2010 e ida<strong>de</strong> do públicoalvo........................................................................................................................ 77


LISTA DE SIGLASAECIDBMCEPALFMII GMII GMIBGEOIJOITONUPIBPREJALPNUDSEGIBUNESCOAgência Espanhola <strong>de</strong> Cooperação Internacional para o DesenvolvimentoBanco MundialComissão Econômica para América Latina e o CaribeFundo Monetário InternacionalPrimeira Guerra MundialSegunda Guerra MundialInstituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e EstatísticaOrganização Ibero-Americana para Juventu<strong>de</strong>Oficina Internacional <strong>de</strong>l TrabajoOrganizações das Nações UnidasProduto Interno BrutoProjecto <strong>de</strong> Promoción <strong>de</strong>l Empleo Juvenil en América LatinaPrograma das Nações Unidas para o DesenvolvimentoSecretaria Geral Ibero-AmericanaOrganização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura


SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 122 A (RE)PRODUÇÃO HISTÓRICA DA DESIGUALDADE NA AMÉRICA LATINA 162.1 ASPECTOS RELEVANTES DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA NA AMÉRICALATINA ................................................................................................................................ 162.2 OS AJUSTES ESTRUTURAIS NA AMÉRICA LATINA A PARTIR DOS ANOS 90.............................................................................................................................................. 322.3 O RECRUDECIMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NA AMÉRICALATINA A PARTIR DOS ANOS 90 ................................................................................... 413 A JUVENTUDE LATINO-AMERICANA E O MERCADO DE TRABALHO:configuração e modalida<strong>de</strong>s dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção ............................ 463.1 JUVENTUDE LATINO-AMERICANA: suas configurações e o papel da educação ... 463.2 MERCADO DE TRABALHO E PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA AJUVENTUDE NA AMÉRICA LATINA ............................................................................. 553.3 PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE: mapeamento das experiências latinoamericanas............................................................................................................................ 644 OS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO E INSERÇÃO NO MERCADO DETRABALHO PARA A JUVENTUDE: um estudo comparativo entre Argentina e Brasil.................................................................................................................................................. 784.1 OS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA A JUVENTUDE LATINO-AMERICANA: um comparativo entre Argentina e Brasil ................................................... 784.2 CAPACITAÇÃO VERSUS EDUCAÇÃO: a contradição <strong>em</strong> foco ............................... 884.3 OS DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA A JUVENTUDELATINO-AMERICANA NA INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO FRENTE ÀLÓGICA DO CAPITAL ....................................................................................................... 965 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 103REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 108


121 INTRODUÇÃOA tese que ora se apresenta t<strong>em</strong> por objetivo explicitar as direções da pesquisarealizada no <strong>de</strong>correr do doutoramento, a fim <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r às exigências do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Serviço Social, da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul;situa-se na área <strong>de</strong> concentração: Serviço Social, Políticas e Processos Sociais.Na presente pesquisa propõe-se sist<strong>em</strong>atizar um mapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong> latino-americana, como umadas respostas construídas na América Latina às Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio 1 . Taispropostas têm sido práticas comuns <strong>em</strong> diversos países da região, sob diversas modalida<strong>de</strong>s,mas <strong>em</strong> sua maioria com foco na inserção e reinserção no processo educacional e <strong>de</strong>qualificação profissional do jov<strong>em</strong> para seu ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho.As modificações econômicas vivenciadas no final do século XX e na primeira décadado século XXI vêm transformando as relações e as condições <strong>de</strong> trabalho, atingindoduramente o segmento da população que se encontra <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressar no mercado <strong>de</strong>trabalho, ou seja, a juventu<strong>de</strong>. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se vivencia a era da informação, do<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alguns setores da economia e do aumento da renda <strong>em</strong> alguns países,mantêm-se as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Enten<strong>de</strong>r tais contradições ou as transformações societárias quevêm ocorrendo ao longo dos séculos é uma necessida<strong>de</strong> dos profissionais que atuam com aspolíticas para a juventu<strong>de</strong>.Assim, uma juventu<strong>de</strong> que se caracteriza pela sua diversida<strong>de</strong> cultural, <strong>de</strong> costumes,pela história e constituição <strong>de</strong> cada país, mas, <strong>em</strong> sua maioria, encontra-se vulnerável diante<strong>de</strong> tantas modificações econômicas <strong>em</strong> nível mundial, das diversas crises financeiras que têmrepercutido diretamente no seu cotidiano <strong>de</strong> vida, seja nas relações familiares e sociais, sejano incentivo ao consumo, da falta <strong>de</strong> perspectivas futuras, entre outros.O interesse por tal t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> estudo surgiu com a aproximação ao Núcleo <strong>de</strong> Estudos<strong>em</strong> Políticas e Economia Social (NEPES) <strong>de</strong>ste Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação, que t<strong>em</strong> comouma das linhas <strong>de</strong> pesquisa o estudo da América Latina. Além disso, observou-se que sãopoucas as análises sobre os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> relacionando-os à1 O objetivo 8º das Metas do Milênio – Fomentar uma Associação Mundial para o Desenvolvimento. Meta 16:“Aumentar o número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho para os jovens, um trabalho digno e produtivo”. (PNUD.Disponível <strong>em</strong>: ).


13qualificação e inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho e à abrangência da América Latina, tanto noServiço Social como <strong>em</strong> outras áreas afins 2 .No que se refere à contribuição <strong>social</strong> da pesquisa, conhecer as modalida<strong>de</strong>s dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> e <strong>de</strong>cifrá-los inseridos nesse contexto <strong>de</strong>modificações do capitalismo na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, que reconfigura as relações <strong>de</strong> trabalho,são <strong>de</strong>safios cotidianos para o Serviço Social no enfrentamento das manifestações da questão<strong>social</strong>, justificando a pesquisa proposta com a intenção <strong>de</strong> “enxergar” o que não está aparente.O presente estudo preten<strong>de</strong> realizar um mapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação einserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho da América Latina, b<strong>em</strong> como um estudocomparativo dos <strong>programa</strong>s da Argentina e Brasil, buscando examinar as modalida<strong>de</strong>s dos<strong>programa</strong>s através das experiências <strong>em</strong> curso, a partir <strong>de</strong> 1990 até o ano 2010, tendo comoprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa: Como os diferentes países da América Latina, Argentina e Brasil têmefetuado a inserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho?Dessa forma, este estudo objetiva i<strong>de</strong>ntificar o papel dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação einserção no mercado <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong>, impl<strong>em</strong>entados e executados pelo Estado,<strong>em</strong> parceria com a socieda<strong>de</strong> civil, na inserção dos jovens no mercado <strong>de</strong> trabalho, nocontexto do capitalismo. Para tanto, objetiva-se: contextualizar historicamente as principaismodificações econômicas e sociais que ocorreram na América Latina a partir do períodocolonial; sist<strong>em</strong>atizar as principais características da juventu<strong>de</strong>; realizar um mapeamento dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação a ela dirigidos e vigentes na América Latina, a partir dos anos 90,b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>senvolver um estudo comparativo dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para ajuventu<strong>de</strong> entre os países metodologicamente escolhidos: Argentina e Brasil.O conteúdo interpretativo e analítico do trabalho fundamenta-se na perspectivamarxiana, e <strong>de</strong>finiu-se o método <strong>de</strong> pesquisa, conforme a Associação Brasileira <strong>de</strong> Ensino ePesquisa <strong>em</strong> Serviço Social (ABEPSS), que orienta a formação profissional, como o método 3materialismo dialético-crítico, sendo um dos princípios que fundamentam a formaçãoprofissional à adoção <strong>de</strong> uma teoria <strong>social</strong> crítica, que possibilite a apreensão da totalida<strong>de</strong><strong>social</strong> <strong>em</strong> suas dimensões <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>, particularida<strong>de</strong> e singularida<strong>de</strong> (ABEPSS, 1996).2 A pesquisa realizada no Portal da Capes – Banco <strong>de</strong> Teses – <strong>de</strong>monstrou que a t<strong>em</strong>ática juventu<strong>de</strong> e mercado<strong>de</strong> trabalho t<strong>em</strong> sido objeto <strong>de</strong> estudo <strong>em</strong> algumas áreas como: Educação, Sociologia, Psicologia e ServiçoSocial, mas que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes t<strong>em</strong> como foco o usuário dos <strong>programa</strong>s – o jov<strong>em</strong>, ou seja, um olharindividual para questões <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> transformação psicos<strong>social</strong> <strong>de</strong>ssa importante fase <strong>de</strong> transformação.3“O método <strong>de</strong> pesquisa é uma expressão política, uma extensão <strong>de</strong> nosso projeto ético-político”(MARTINELLI, 2005, p. 120), e pesquisar no Serviço Social revela esse ato, a escolha política, que se realizana opção teórico-metodológica. Ao utilizar-se o método dialético-crítico na investigação, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se articular ascondições objetivas e subjetivas, os dados quantitativos e qualitativos (PRATES, 2003), cont<strong>em</strong>plando, comdiversos olhares, o que se preten<strong>de</strong> pesquisar, resultando <strong>em</strong> uma intervenção mais qualificada.


14As categorias do método dialético, sendo articuladas às categorias explicativas darealida<strong>de</strong>, possibilitam probl<strong>em</strong>atizar o surgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserçãono mercado <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong> latino-americana, auxiliando na explicação dofenômeno e <strong>de</strong> suas relações. E, <strong>de</strong>ntre as categorias do método, aquelas que contribu<strong>em</strong> paraa análise da pesquisa são: totalida<strong>de</strong> 4 , historicida<strong>de</strong> 5e contradição 6 . Além disso, para acompreensão do fenômeno, enten<strong>de</strong>-se que as categorias teóricas do método se mostraminterconectadas com as categorias teóricas explicativas da realida<strong>de</strong> e contribu<strong>em</strong> para oprocesso interventivo profissional.Como categorias explicativas da realida<strong>de</strong>, para a realização da pesquisa, indicam-seos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, mercado <strong>de</strong> trabalho e juventu<strong>de</strong>. A opção pelométodo cont<strong>em</strong>plou uma investigação <strong>de</strong> dados quantitativos e qualitativos, através <strong>de</strong> fontesindiretas, informações oficiais dos organismos governamentais responsáveis pelaimpl<strong>em</strong>entação dos <strong>programa</strong>s, b<strong>em</strong> como dados fornecidos pela Organização Internacionaldo Trabalho – OIT, da Comissão Econômica para América Latina e Caribe – CEPAL, daUNESCO e <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> pesquisa que estudam a t<strong>em</strong>ática. A análise e interpretação dosdados 7serão realizadas após a análise documental 8 , este <strong>de</strong>ve facilitar o processo <strong>de</strong>interpretação da comunicação através <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> estratégias.4 “A categoria totalida<strong>de</strong> é fundamental no método dialético, pois não há totalida<strong>de</strong> que não seja histórica econtraditória. A totalida<strong>de</strong> [...] compreen<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong> nas suas íntimas leis e revela, sob a superfície e acausalida<strong>de</strong> dos fenômenos, as conexões internas, necessárias” (KOSIK, 1995, p. 41), uma forma <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r os fatos, a realida<strong>de</strong>.5 No que se refere à categoria historicida<strong>de</strong>, como forma <strong>de</strong> conhecer um fenômeno, resgatando sua história econhecendo as transformações ocorridas ao longo <strong>de</strong> um período (PRATES, 2005), preten<strong>de</strong>-se, com apesquisa, analisar as respostas construídas para a juventu<strong>de</strong> latino-americana frente ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural eàs Metas do Milênio, ou seja, os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> que surgiram a partir <strong>de</strong> 1990,inter-relacionando-os com as modificações econômicas da América Latina e a totalida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong> <strong>social</strong>.6 A categoria contradição, utilizada no método dialético-crítico, busca aprofundar o conteúdo, as contradições darealida<strong>de</strong>, na negação, no contrário, “[...] Só é real aquilo que apresenta contradições, aquilo que se apresentacomo unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contradições” (LEFEBVRE, 1991, p. 192). A partir do olhar sobre a aparência como algoinerte, ou seja, os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> como uma resposta às transformaçõeseconômicas, ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural, é que se preten<strong>de</strong> utilizar a categoria da contradição, enten<strong>de</strong>r suasforças, as lutas, o movimento, a transição, pois “Na contradição, as forças <strong>em</strong> presença se chocam, se<strong>de</strong>stro<strong>em</strong>. Mas, <strong>em</strong> suas lutas elas se penetram [...] o pensamento só vive por causa das contradições, mastriunfando sobre essas contradições (resolvendo os probl<strong>em</strong>as que elas colocam) ao superá-las” (LEFEBVRE,1991, p. 194).7 A análise dos dados compõe uma pré-análise <strong>de</strong>scritiva dos mesmos, conforme os objetivos da pesquisa, aexploração do material e o tratamento dado a eles. Nessa etapa, <strong>de</strong>ve-se realizar uma leitura flutuante, comouma forma <strong>de</strong> organizar o material coletado, <strong>de</strong>finindo-o e preparando-o para a análise (PRATES, 2003). “Apré-análise compõe-se <strong>de</strong> três aspectos: [...] A escolha dos documentos a ser<strong>em</strong> submetidos à análise, aformulação das hipóteses e <strong>de</strong> objetivos e a elaboração <strong>de</strong> indicadores que fundamentam a interpretação final”(BARDIN, 1977, p. 95). “A leitura flutuante objetiva conhecer o texto, aproximar-se do mesmo, [...] <strong>de</strong>ixandoseinvadir por impressões e orientações” (BARDIN, 1977, p. 96). Após, preparar o material, organizando-o,classificando-o e codificando os dados obtidos. Finalizando tais etapas, inicia-se a exploração do material, [...]esta fase longa e fastidiosa consiste essencialmente <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> codificação, <strong>de</strong>sconto e enumeração, <strong>em</strong>função <strong>de</strong> regras previamente formuladas (BARDIN, 1977, p. 101). E, por fim, realiza-se o tratamento dosdados, ao interpretá-los na produção da tese.8 Após a coleta dos dados os mesmos serão organizados e sist<strong>em</strong>atizados para auxiliar na análise.


15Para tanto, no segundo capítulo da tese busca-se <strong>de</strong>stacar alguns aspectos relevantes datrajetória histórica e do ajuste estrutural na América Latina, que caracterizaram a (re)produçãoda <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na região, <strong>de</strong>stacando os processos <strong>de</strong> transformação produtiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> operíodo colonial ao ajuste estrutural a partir dos anos 90, e as modificações sociais que foramconsequências <strong>de</strong>sses processos.Resgatar tais aspectos torna-se imprescindível para o entendimento do surgimento dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, com foco na capacitação e inserção ao mercado<strong>de</strong> trabalho, como uma forma <strong>de</strong> conhecer o fenômeno ao aprofundar sua história.Posteriormente, no terceiro capítulo, abordam-se os conceitos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e o papelda educação nesta etapa <strong>de</strong> vida, conceituando juventu<strong>de</strong> <strong>em</strong> seus aspectos histórico,sociológico e cultural. Além disso, propõe-se uma reflexão que articula o surgimento dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> após as modificações no mercado <strong>de</strong> trabalho apartir dos anos 90, e por fim, o mapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>que surgiram na América Latina a partir dos anos 90 e estavam <strong>em</strong> execução até o ano 2010.O quarto capítulo t<strong>em</strong> o intuito <strong>de</strong> realizar um comparativo entre os <strong>programa</strong>s <strong>em</strong>execução na Argentina e Brasil, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a contradição entre as propostas <strong>de</strong>capacitação e educação para a juventu<strong>de</strong>, e apontar os <strong>de</strong>safios dos <strong>programa</strong>s na inserção nomercado <strong>de</strong> trabalho frente à lógica do capital. E, por fim, as conclusões e as referências.


162 A (RE)PRODUÇÃO HISTÓRICA DA DESIGUALDADE NA AMÉRICA LATINAPara enten<strong>de</strong>r na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, após as mudanças econômicas e sociais queenvolveram a América Latina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período <strong>de</strong> colonização até a in<strong>de</strong>pendência dos países,é importante rever alguns aspectos importantes da trajetória histórica e do ajuste estrutural<strong>de</strong>ste continente e algumas características que predominaram <strong>em</strong> cada país.Com o intuito <strong>de</strong> retratar este processo, no presente capítulo, o foco principal serãoalguns <strong>de</strong>staques dos momentos históricos <strong>de</strong>ste continente, <strong>de</strong>stacando os processos <strong>de</strong>transformação produtiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial ao período após a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão; nasegunda parte o ajuste estrutural a partir dos anos 90 na região e, por fim, as modificaçõessociais que foram consequências <strong>de</strong> tais processos.O resgate <strong>de</strong>stes aspetos históricos torna-se necessário para o entendimento dosurgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, a partir dos anos <strong>de</strong> 1990,principalmente após o ajuste estrutural na região, uma forma <strong>de</strong> conhecer o fenômeno aoresgatar sua história e conhecer as transformações que ocorreram ao longo <strong>de</strong> um período<strong>de</strong>terminado. São avanços científicos e tecnológicos que criam gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s eating<strong>em</strong> a socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> nível mundial.2.1 ASPECTOS RELEVANTES DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA NA AMÉRICA LATINAAo voltar-se para o estudo do contexto histórico da América Latina preten<strong>de</strong>-se<strong>de</strong>stacar os aspectos relevantes <strong>de</strong>ste processo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial até após a gran<strong>de</strong><strong>de</strong>pressão, os principais acontecimentos e mudanças econômicas na região para um melhorentendimento do it<strong>em</strong> 2.2 e 2.3 <strong>em</strong> que se estudarão os fatos marcantes pós-ajuste estrutural,on<strong>de</strong> ocorreram modificações significativas no mundo do trabalho que criaram um impactonos países <strong>de</strong>senvolvidos e <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, como os que compõ<strong>em</strong> a América Latina.Inicialmente, torna-se importante <strong>de</strong>stacar algumas características da região compostapor 23 países que se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong>: 12 repúblicas da América do Sul (exceto Guiana Francesa),seis repúblicas da América Central (incluindo o Panamá e excluindo Belice), México, Cuba,República Dominicana e Haiti.Estes países que compõ<strong>em</strong> a América Latina têm como herança comum os aspectosculturais, a localização geográfica e a língua ou idioma utilizado (espanhol, português efrancês); sendo o espanhol a língua principal <strong>em</strong> 19 repúblicas, o português predominante no


17Brasil, o holandês no Suriname e o crioulo – um idioma <strong>de</strong>rivado do francês no Haiti. Além<strong>de</strong>stas principais línguas, parte da população do México, Guat<strong>em</strong>ala, Peru, Bolívia e Paraguaifalam línguas indígenas pelo percentual <strong>de</strong>sta população nestes países (BULMER-THOMAS;2010).Por tratar-se <strong>de</strong> uma extensa região 9 , <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> quilômetrosquadrados (FURTADO, 2007), <strong>de</strong>ve-se observar que também são muitas as diferenças entreos países, o que está presente <strong>em</strong> aspectos como: a extensão geográfica, a população, a etnia,os recursos naturais, o clima, a produção agrícola 10 e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais.Mas, <strong>de</strong>staca-se nesta parte do texto, um dos principais aspectos que se ass<strong>em</strong>elhamentre si, os econômicos, pois expressam os diversos períodos <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> suaseconomias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial ao período <strong>de</strong> crescimento, com base na produçãoindustrial conforme os dados do Quadro 1.Cabe salientar que nestes séculos <strong>de</strong> história a economia latino-americana vivenciouuma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecimentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a exploração e extração <strong>de</strong> minerais e vegetais àcrise e reestruturação produtiva.Quadro 1 - Aspectos relevantes das economias da América LatinaPeríodo Data ComentárioColônia 1500-1700 Exploração predatória, extração <strong>de</strong>minerais e vegetaisGuerra da in<strong>de</strong>pendência 1810-1870 Como resultado dos conflitosalgumas economias iniciam seuingresso nos mercados mundiais.Crescimento com base nasexportaçõesCrescimento com base naprodução industrialFonte: REIS (2001).1870-19141915-19301930-19701970-2000Ida<strong>de</strong> do ouroProgresso paralisadoSubstituição <strong>de</strong> importaçõesCrise e reestruturação produtiva9 “A expressão América Latina, vulgarizada nos Estados Unidos, durante muito t<strong>em</strong>po foi utilizada apenas comum sentido geográfico, para <strong>de</strong>signar os países situados ao sul do Rio Gran<strong>de</strong>. Longe <strong>de</strong> interessar-se pelo queexistia <strong>de</strong> comum entre elas, as nações surgidas nas terras <strong>de</strong> colonização ibérica das Américas procuravam darênfase ao que era traço próprio <strong>de</strong> cada uma, num esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição das personalida<strong>de</strong>s nacionaisrespectivas” (FURTADO, 2007, p. 29). Diferenciavam-se apenas o Brasil, pela colonização portuguesa e oHaiti pela colonização francesa. Em 2009 a população na América Latina era composta por 569 milhões <strong>de</strong>pessoas, sendo o Brasil o maior país do continente.10 As produções agrícolas e os produtos <strong>de</strong> exportação se diferenciavam conforme o clima <strong>de</strong> cada região: climat<strong>em</strong>perado (Argentina e Uruguai), <strong>em</strong> seguida daqueles que exportavam produtos tropicais (Brasil, Colômbia,Equador, América Central e Caribe), b<strong>em</strong> como amplas regiões do México e Venezuela; e do grupo dosexportadores <strong>de</strong> produtos minerais (México, Chile, Peru, Bolívia e Venezuela) (FURTADO, 2007). Algunspaíses latino-americanos, mesmo após séculos <strong>de</strong> mudanças econômicas, continuam apresentando comoprincipal economia a agrícola.


18No transcorrer dos séculos conforme os dados do Quadro 1, as inúmerastransformações econômicas que ocorreram <strong>em</strong> cada período <strong>de</strong>linearam um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>socieda<strong>de</strong>. Partindo-se da historicida<strong>de</strong> neste it<strong>em</strong> serão trabalhados os períodos que se<strong>de</strong>stacam no Quadro 1, ou seja, o período colonial, as Guerras <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, o período <strong>de</strong>crescimento com base nas exportações e o período após a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão: daindustrialização à reestruturação produtiva. Um longo caminho a ser percorrido, masnecessário para enten<strong>de</strong>r o contexto econômico do final do século XX e início do século XXI.A região da América Latina conviveu com a colonização espanhola e portuguesa entre1500 e 1700, e com uma organização econômica e política baseada na exploração dos seusprodutos primários. Um período que se caracterizava pela exploração predatória dos recursosnaturais (extração <strong>de</strong> minerais e vegetais) da maioria dos países e pelo mo<strong>de</strong>lo agrárioexportador,on<strong>de</strong> o domínio Espanhol, principalmente, “ditava as regras” <strong>em</strong> conjunto comPortugal, e <strong>de</strong>finiam os produtos e a quantida<strong>de</strong> que seriam produzidos.A colonização espanhola e portuguesa na América Latina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primórdios,“[...] se caracterizou pela organização <strong>de</strong> colônias <strong>de</strong> exploração, voltadas para incr<strong>em</strong>entar oprocesso <strong>de</strong> acumulação primitiva do capital <strong>em</strong> curso nos países centrais” (ANTUNES,2011, p. 17).Neste período colonial, conforme Quadro 1, as explorações tinham como focoprincipal os metais preciosos, e, especificamente <strong>em</strong> alguns países, como o Brasil, a extração<strong>de</strong> produtos agrícolas, a região latino-americana, dispunha <strong>de</strong> ouro e prata <strong>em</strong> abundância,diferente <strong>de</strong> Espanha e Portugal, que exigiam a exploração <strong>de</strong>stes produtos através docomércio exterior.Ouro, prata, açúcar 11 : a economia colonial, mais abastecedora do que consumidora,estruturou-se <strong>em</strong> função das necessida<strong>de</strong>s do mercado europeu, e a seu serviço. Ovalor das exportações latino-americanas <strong>de</strong> metais preciosos, durante longosperíodos do século XVI, foi quatro vezes maior do que o valor das importações,compostas estas, sobretudo, <strong>de</strong> escravos, sal, vinho, azeite, armas, tecidos e artigos<strong>de</strong> luxo. Os recursos fluíam para que foss<strong>em</strong> acumulados pelas nações europeias<strong>em</strong>ergentes (GALEANO, 2010, p. 52).Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a América Latina tinha apenas a opção <strong>de</strong> adquirir seus bensimportados da Espanha e Portugal, e vendia seus produtos <strong>de</strong> exportação para este mercado, oque culminou na acumulação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos metais preciosos por parte dos espanhóis e11 O açúcar era o produto agrícola mais importante para o cultivo nas terras latino-americanas, durante osprimeiros três séculos após o <strong>de</strong>scobrimento, multiplicaram-se os canaviais principalmente no Brasil e nas ilhasdo Caribe (GALEANO, 2010).


portugueses, caracterizando a trajetória <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência econômica da região que inicia nesteperíodo, pois: “A estrutura econômica das colônias ibéricas nasceu subordinada ao mercadoexterno e, <strong>em</strong> consequência, centralizada no setor exportador, que concentrava a renda e opo<strong>de</strong>r” (GALEANO, 2010, p. 52).Dessa forma, o direcionamento para a exportação, as características geológicas <strong>de</strong>estrutura e proprieda<strong>de</strong>s físicas, fez com que cada república tivesse somente uma gamalimitada <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> exportação, o que também fragilizava o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento:“Sua trajetória econômica foi permeada por ciclos <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pressão no comérciodos produtos <strong>de</strong> exportação, na maior parte do período genuinamente produtor primário, o quedificultou o <strong>de</strong>senvolvimento da região” (REIS, p. 170, 2001).As regiões que inicialmente apresentavam os maiores <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> metais preciososcomo o México, a Bolívia, o Peru e a Colômbia recebiam uma maior “atenção” doscolonizadores espanhóis. E, a cada <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> metais preciosos, <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>ssas regiões,surgia um novo agrupamento populacional, mesmo nos locais mais inóspitos possíveis;criavam-se acessos e estímulo ao comércio, conforme a abertura <strong>de</strong> novos canais econômicosforçados pela mineração.Com as s<strong>em</strong>elhanças <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> estrutura entre alguns países, ocorria a produçãodos mesmos produtos, estimulando uma concorrência na região e fortalecendo a <strong>de</strong>suniãoentre estes, <strong>de</strong>senvolvendo uma fragmentação regional 12 .Um processo que inicia com a implantação, pelos espanhóis, da economia mineira 13 , oque também exigia da população, muitas vezes, uma mudança geográfica, <strong>de</strong>sorganizando asfamílias e a produção já existente. “Esgotados os <strong>de</strong>pósitos aluvionais <strong>de</strong> mais fácilexploração, via <strong>de</strong> regra, a região se <strong>de</strong>spovoava. Nas Antilhas, importante zona produtora <strong>de</strong>ouro na primeira meta<strong>de</strong> do século XVI, ao esgotamento dos <strong>de</strong>pósitos suce<strong>de</strong>u-se o<strong>de</strong>spovoamento [...]” (FURTADO, 2007, p. 64).O período colonial também se caracterizou pelas gran<strong>de</strong>s disputas políticas, e aeconomia, mesmo sofrendo algumas alterações, foi guiada pelos princípios do mercantilismo,ou seja, com a exportação <strong>de</strong> metais preciosos e a importação <strong>de</strong> produtos manufaturados. “Osmetais arrebatados aos novos domínios coloniais estimularam o <strong>de</strong>senvolvimento europeu eaté se po<strong>de</strong> dizer que o tornaram possível” (GALEANO, 2010, p. 44).12 Uma fragmentação que durou até o período da crise <strong>de</strong> 1929, suas consequências na região, modificaram aeconomia e o sist<strong>em</strong>a produtivo, abrindo caminho para uma nova consciência latino-americana, originando umcomércio mais diversificado entre os países (FURTADO, 2007).13 Diferente da maioria dos países da região, o Brasil iniciou tardiamente a exploração <strong>de</strong> ouro e prata, pois osportugueses <strong>de</strong>scobriram por conta própria os rios que po<strong>de</strong>riam explorar, os índios da região não tinhamtradição no uso dos metais (FURTADO, 2007).19


20Enquanto o mercado dos países centrais crescia economicamente, o mercado domundo colonial participava <strong>de</strong> forma periférica, mas um sendo parte do outro, integrando omesmo sist<strong>em</strong>a. O setor artesanal, diferente da produção dos metais preciosos e produtosagrícolas, se mantinha protegido por algumas regulamentações, e apresentava um crescimentodiante do pequeno po<strong>de</strong>r aquisitivo dos habitantes da região (BULMER-THOMAS, 2010).O período colonial também se caracterizou pelas disputas entre os colonizadores, epelo gran<strong>de</strong> massacre aos índios 14 da região latino-americana, e ao mesmo t<strong>em</strong>po “a economiacolonial latino-americana valeu-se da maior concentração <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho até entãoconhecida, para tornar possível a maior concentração <strong>de</strong> riqueza com que jamais contouqualquer civilização na história mundial” (GALEANO, 2010, p. 64), que se caracterizava pelacoerção e falta <strong>de</strong> trabalho livre.A mão <strong>de</strong> obra indígena e a escrava 15 , importada pelos espanhóis e portugueses dospaíses africanos, principalmente, voltava-se para o trabalho nas minas e cultivo da cana-<strong>de</strong>açúcar,entre outros produtos agrícolas, o que ocorreu por um longo período, coor<strong>de</strong>nado pelomercado internacional.Os índios, inicialmente, foram a maior fonte <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra para os espanhóis, amineração <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong>ste trabalho, os brancos eram somente os proprietários e ousupervisores das ativida<strong>de</strong>s. As condições <strong>de</strong> trabalho nas minerações e refinarias erams<strong>em</strong>pre insalubres e perigosas, as t<strong>em</strong>peraturas elevadas, os espaços apertados, com poucailuminação e ventilação. Além disso, ainda era necessário o transporte dos metais preciosos, oque acabou matando muitos trabalhadores, <strong>de</strong>ntre estes, escravos e índios (BETHELL, 1990).Tanto para os indivíduos como para as comunida<strong>de</strong>s, a extração <strong>de</strong> ouro e prataprincipalmente, acarretou profundas consequências sociais, como por ex<strong>em</strong>plo, a mudançados espaços rurais para os novos espaços urbanos, além da exploração do trabalho(BETHELL, 1990).O longo período colonial da América Latina test<strong>em</strong>unhou a exploração das terras, dasriquezas, o massacre dos índios, a importação dos escravos e a extração do potencial da14 “Os índios das Américas somavam não menos do que 70 milhões, ou talvez mais, quando os conquistadoresestrangeiros apareceram no horizonte; um século e meio <strong>de</strong>pois estavam reduzidos tão só a 3,5 milhões”(GALEANO, 2010, p. 64).15 “As principais formas <strong>de</strong> trabalho existentes <strong>em</strong> nossa socieda<strong>de</strong> colonial <strong>de</strong>senvolveram-se entre os séculosXVI e XIX. Inicialmente, foi utilizado o trabalho indígena por meio do sist<strong>em</strong>a conhecido como encomiendas,uma espécie <strong>de</strong> concessão pessoal na qual o colono se comprometia a garantir a subsistência dos indígenas,apropriando-se do seu trabalho. Em especial nas colônias <strong>de</strong> domínio espanhol, era comum a exploração dotrabalho indígena, um modo <strong>de</strong> escravidão voltado à extração <strong>de</strong> metais preciosos (ouro e prata). Além disso,também no mundo colonial difundiu-se o trabalho escravo africano, resultado <strong>de</strong> um intenso tráfico humano daÁfrica para a América Latina, sob o controle das burguesias comerciais europeias <strong>em</strong> constituição que viviam<strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> comércio, inclusive o humano” (ANTUNES, 2011, p. 18).


21natureza ao extr<strong>em</strong>o. E, <strong>em</strong> meados do século XIX, todos os países latino-americanos<strong>de</strong>monstravam-se favoráveis ao crescimento via incentivo das exportações, mas a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cada região <strong>de</strong>monstrava o quanto a instabilida<strong>de</strong> política influenciava no <strong>de</strong>senvolvimentodos países, b<strong>em</strong> como a localização geográfica que facilitava, ou não, o transporte dosprodutos.E, entre os anos <strong>de</strong> 1810 a 1870, conforme <strong>de</strong>stacado no Quadro 1, no período quepo<strong>de</strong> se <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong> Guerra da In<strong>de</strong>pendência, os países começam a se in<strong>de</strong>pendizar dosgovernos europeus, <strong>em</strong> sua maioria ao longo dos anos 20 daquele século, um processo queficou marcado pelas divergências entre os países e na disputa pelas terras 16 , também secaracterizou pela “[...] formação do polo produtor <strong>de</strong> ouro e diamantes, ao qual coube o duplopapel <strong>de</strong> acelerar o povoamento <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> europeia e a formação <strong>de</strong> um mercado articuladordas distintas regiões” (FURTADO, 2007, p. 73).Cabe <strong>de</strong>stacar que a expansão dos países no comércio internacional, <strong>em</strong> sua maioria,ocorreu com maior intensida<strong>de</strong> a partir dos anos 40 do século XIX, on<strong>de</strong> se configuraram trêstipos <strong>de</strong> economia voltados à exportação <strong>de</strong> produtos primários: a) produtos agrícolas <strong>de</strong>clima t<strong>em</strong>perado 17 ; b) produtos agrícolas tropicais 18 e c) produtos minerais 19 (FURTADO,2007).Outro dado importante <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar foi o quanto o longo processo <strong>de</strong> domínioeuropeu, que a América Latina vivenciou, propiciou o surgimento <strong>de</strong> uma “nova” populaçãocomposta pelos nativos das terras, por escravos vindos <strong>de</strong> outros países e pelos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntesespanhóis nascidos na região, levando estes a lutar<strong>em</strong> pela in<strong>de</strong>pendência dos países. Umarealida<strong>de</strong> que se observa ao verificar as etnias <strong>de</strong> cada país.Neste período <strong>em</strong> que inicia o movimento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência dos países, o pensamentodos donos das terras e <strong>de</strong> capitais baseava-se na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “[...] sólo se necesitaba capital ymano <strong>de</strong> obra calificada para aprovechar los recursos naturales <strong>de</strong>l vasto interior inexplorado16 Um dos principais conflitos entre os países foi a Guerra do Paraguai, envolvendo a Argentina, o Brasil,Uruguai e Paraguai, pois os limites entre as fronteiras foi o principal motivo das lutas.17 Este primeiro grupo correspon<strong>de</strong> à Argentina e ao Uruguai, pelo uso extensivo da terra, o que propiciou umarápida estruturação dos transportes e unificou o mercado interno, diante da qualida<strong>de</strong> dos produtos, a taxa <strong>de</strong>crescimento se mostrava elevada (FURTADO, 2007). “A inserção <strong>de</strong>sses países no comércio internacional serealizou <strong>em</strong> concorrência com áreas coloniais e com a região escravista dos Estados Unidos” (FURTADO,2007, p. 98).18 O segundo grupo era constituído por quase meta<strong>de</strong> dos países latino-americanos, o Brasil, a Colômbia, oEquador, a América Central, o Caribe, o México e a Venezuela (FURTADO, 2007).19 O terceiro grupo, o México, o Chile, o Peru e a Bolívia, on<strong>de</strong> a produção artesanal foi substituída por umaprodução <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> escala, mas controlada e administrada por capitais estrangeiros americanos, seu avançoocorre com a <strong>de</strong>snacionalização da produção, on<strong>de</strong> o gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> renda não permanecia no mercadointerno (FURTADO, 2007).


22da América Latina, y tener acceso ilimitado a los ricos mercados <strong>de</strong> Europa occi<strong>de</strong>ntal”(BULMER-THOMAS, 2010, p. 18).Mas, com o passar dos séculos <strong>de</strong> história, o que se foi observando era o quanto essesplanos não se concretizaram, ao focar-se o olhar sobre as 23 repúblicas, on<strong>de</strong> nenhuma <strong>de</strong>laspo<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>senvolvida e, na sua maioria, segu<strong>em</strong> apresentando altos índices <strong>de</strong>pobreza, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>social</strong> e uma histórica precarização do trabalho. Pois, os redutos <strong>de</strong>riqueza são parte da história <strong>de</strong> todas as repúblicas, uma realida<strong>de</strong> permanente na maioria dospaíses, sendo que alguns ainda mantêm uma economia agrícola.Romper com o período colonial e concretizar a in<strong>de</strong>pendência das regiões foi umlongo processo, que marcou quatro séculos <strong>de</strong> história e provocou o <strong>de</strong>clínio das economias<strong>de</strong> Espanha e Portugal como potência mundial.Com a ruptura do pacto colonial, isto é, quando a comercialização dos produtoscoloniais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser feita através dos portos e alfân<strong>de</strong>gas ibéricas para ligar-sediretamente à Inglaterra, a formação das nações na América Latina faz-se possívelatravés <strong>de</strong> grupos sociais locais, cuja capacida<strong>de</strong> para estruturar um sist<strong>em</strong>a local <strong>de</strong>controle político e econômico variou justamente <strong>em</strong> função do processo histórico <strong>de</strong>sua constituição no período colonial (CARDOSO; FALETTO, p. 56, 2011).Ao longo dos séculos, cada país configurou-se com suas características próprias,particulares, <strong>de</strong>stacando as similitu<strong>de</strong>s e dissimilitu<strong>de</strong>s econômicas e sociais da região.A história revela o quanto os países latino-americanos estavam <strong>em</strong> conflito com oscolonizadores espanhóis e portugueses, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a estruturação dos Estadosnacionais, <strong>em</strong> sua maioria, foi “aci<strong>de</strong>ntada”, pois não estavam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> se organizarcomo a antiga Metrópole, prevalecendo o localismo político e o po<strong>de</strong>r que ten<strong>de</strong>ram a<strong>de</strong>slocar-se para os que mantinham as terras 20 (FURTADO, 2007), conservando as<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e a concentração do capital, que já existiam neste período.Um dos fatores negativos que marcaram este período foram as dívidas acumuladaspelos produtores, principalmente com a Igreja, que auxiliaram na imobilização dos primeirosanos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência dos países. Mesmo com o fim dos encargos públicos não se modificamos altos custos dos produtos, pois se criam novos impostos chamados “coloniais”. E, a20 “O regime latifundiário t<strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> no fato <strong>de</strong> que as terras foram inicialmente doadas <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>squantida<strong>de</strong>s a um número limitado <strong>de</strong> pessoas, que passaram a controlar, limitar e penalizar o acesso asmesmas. Esse controle se exercia tanto mais facilmente na medida <strong>em</strong> que as melhores terras eram aquelas quese beneficiavam <strong>de</strong> economias externas, proporcionadas por investimentos infra-estruturais realizados pelogoverno. Os indivíduos que não dispusess<strong>em</strong> <strong>de</strong> recursos financeiros para adquirir terras e não <strong>de</strong>sejass<strong>em</strong>trabalhar nos latifúndios, ou nestes não encontrass<strong>em</strong> trabalho, tinham que instalar-se <strong>em</strong> terras <strong>de</strong> inferiorqualida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> localização economicamente <strong>de</strong>svantajosa, transformando-se, necessariamente, <strong>em</strong>minifundistas” (FURTADO, 2007, p. 130).


23balança fiscal torna-se prejudicada diante dos gastos iniciais com as novas repúblicas, comopor ex<strong>em</strong>plo, as pensões pela participação nas guerras (BULMER-THOMAS, 2010).As vantagens do livre comércio e o acesso ao mercado internacional <strong>de</strong> capitaiscontrabalançavam com as <strong>de</strong>svantagens do fim do regime colonial, pois os novos encargosaos produtos importados ocasionaram o <strong>de</strong>svio do comércio e a <strong>de</strong>scapitalização das <strong>em</strong>presasexistentes diante das guerras civis e mudanças políticas (BULMER-THOMAS, 2010).O mercado <strong>de</strong> trabalho também se modifica após a in<strong>de</strong>pendência dos países,principalmente para os gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terras, as migrações <strong>em</strong> massa diminu<strong>em</strong>drasticamente, assim como a escravatura e as diversas formas <strong>de</strong> coerção aos índios. Mas, nospaíses on<strong>de</strong> o trabalho escravo abastecia gran<strong>de</strong> parte do mercado <strong>de</strong> trabalho, não ocorrerammudanças significativas, como no Brasil, Cuba e Peru (BULMER-THOMAS, 2010).Em relação à economia da maioria dos países, o comércio exterior continua voltadopara os produtos agrícolas, mas para alguns os investimentos na extração dos metais preciososse mantinha, principalmente após os investimentos estrangeiros vindos da Inglaterra, mas oretorno a mesma não ocorreu conforme o esperado, pois quase todas as mineradoras foram àfalência, diante da instabilida<strong>de</strong> política (FURTADO, 2007).As relações da Inglaterra com os países latino-americanos ficaram concentradasprincipalmente ao comércio 21 , com o fim do império dos espanhóis 22 e portugueses 23 , osingleses voltaram-se para a região com investimentos <strong>em</strong> fábricas, estradas <strong>de</strong> ferro e serviçosbásicos.O Brasil com uma produção <strong>de</strong> ouro mais tardia, que inicia <strong>em</strong> meados do séculoXVIII, criou um campo propício para os ingleses. “Dessa forma, o ouro do Brasil,encaminhou-se <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong> para a Inglaterra, permitindo que este país acumulassevultosas reservas internacionais, s<strong>em</strong> as quais não lhe teria sido fácil enfrentar as guerrasnapoleônicas” (FURTADO, 2007, p. 76).21 “A presença inglesa assumia essencialmente a forma <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> um comércio importador: surgiam ascasas importadoras, que difundiam as manufaturas europeias, principalmente inglesas, modificando hábitos <strong>de</strong>consumo e acarretando a <strong>de</strong>sagregação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s artesanais locais” (FURTADO, 2007, p. 80).22 “A <strong>de</strong>sorganização dos impérios espanhol e português, na época das guerras napoleônicas, constitui o ato final<strong>de</strong> complexo processo histórico que se esten<strong>de</strong> por todo o século XVIII e se liga diretamente às transformaçõeseconômicas e políticas ocorridas na Europa. As tratativas espanholas <strong>de</strong> diversificar as economias das colôniasamericanas enfrentaram dois obstáculos maiores: as barreiras protecionistas criadas nos principais mercadoseuropeus pelo mercantilismo e a incapacida<strong>de</strong> da própria Espanha <strong>de</strong> abastecer as colônias <strong>de</strong> produtosmanufaturados” (FURTADO, 2007, p. 74).23 “No caso <strong>de</strong> Portugal, a transição tivera início <strong>em</strong> fase muito anterior. O acordo <strong>de</strong> Methuen, firmado <strong>em</strong>1703, <strong>de</strong>ra à Inglaterra uma situação privilegiada no comércio brasileiro. Por esse acordo, Portugal, <strong>em</strong> troca<strong>de</strong> alguns favores no mercado inglês para os seus vinhos, abriu o próprio mercado e o das colônias, <strong>de</strong> formairreversível, às manufaturas inglesas” (FURTADO, 2007, p. 75).


24A América Latina, mesmo diante das dificulda<strong>de</strong>s comerciais, continuou a investir naexportação agrícola, mas as restrições para alguns <strong>de</strong>stes produtos, motivou uma <strong>de</strong>cadênciarelativa <strong>de</strong> produtos tradicionais, e, por outro lado, houve também o auge da exportação doaçúcar cubano 24 , como ex<strong>em</strong>plo. Em outros países, como no Brasil, o café <strong>de</strong>stacou-se 25 , b<strong>em</strong>como na Colômbia. O cacau foi consi<strong>de</strong>rado como tradicional nas exportações, mantinha aseconomias <strong>de</strong> Venezuela e Equador. A exportação do gado e seus subprodutos pela Argentinae Uruguai 26 .O açúcar e o fumo conservaram suas características <strong>de</strong> produtos tipicamentecoloniais até fins do século XIX. Foi a rápida expansão da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> café e cacau,a partir <strong>de</strong> meados do século XIX, que permitiu aos produtos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong> umpapel dinâmico na integração da economia latino-americana no comérciointernacional (FURTADO, 2007, p. 98).Mesmo com a inserção das economias no comércio internacional, a população erapredominant<strong>em</strong>ente rural até início do século XX, apenas a Argentina e Uruguai, que diante<strong>de</strong> uma produção rentável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das exportações, iniciaram um processo rápido <strong>de</strong>industrialização, pois eram produtos que concorriam com o mercado dos países <strong>de</strong>senvolvidos(FURTADO, 20007). Este período também se caracterizou pela inserção das discussões sobreas questões trabalhistas, agrária e educacional (SADER, 2009).No final do século XIX as economias latino-americanas, principalmente os três países<strong>de</strong> maior extensão, Argentina 27 , Brasil 28 e México 29 , apresentavam dados que indicavam opercentual do crescimento <strong>de</strong>stes países, pois a população aumentou consi<strong>de</strong>ravelmente,24 Cuba foi o primeiro país latino-americano a construir uma ferrovia, como resposta ao crescimento da indústriaaçucareira, inaugurado <strong>em</strong> 1838 (BULMER-THOMAS, 2010).25 O Brasil, especificamente São Paulo, no final do século XIX, abastecia dois terços da produção mundial <strong>de</strong>café (FURTADO, 2007). Ver Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado.26 O Chile, precoc<strong>em</strong>ente se comparado a outros países da região, já no final do século XIX, “Ao invés <strong>de</strong> umextenso campesinato, <strong>de</strong>senvolvia-se ali uma concentrada classe operária mineira. Surgiam, assim, já no finaldo século XIX, um proletariado e, a partir <strong>de</strong>le, um rigoroso movimento operário – nascido antes da burguesiaindustrial” (SADER, 2009, p. 41).27 “[...] foi na Argentina que as modificações nesse período alcançaram sua significação maior. Nos dois<strong>de</strong>cênios compreendidos entre 1890-4 e 1910-4, a população Argentina dobrou, passando <strong>de</strong> 3,6 milhões para7,2 milhões <strong>de</strong> habitantes, a re<strong>de</strong> ferroviária do país passou <strong>de</strong> 12,7 milhões para 31,1 mil quilômetros, asexportações <strong>de</strong> cereais aumentaram <strong>de</strong> 1,038 milhão para 5,294 milhões <strong>de</strong> toneladas e as <strong>de</strong> carnes congeladas<strong>de</strong> 27 mil para 376 mil toneladas” (FURTADO, 2007, p. 103).28 “No Brasil, a população que era <strong>de</strong> 10,1 milhões <strong>de</strong> habitantes <strong>em</strong> 1872, alcançou 17,3 milhões <strong>em</strong> 1900 [...]Entre 1880 e 1910, a extensão das linhas <strong>de</strong> estrada <strong>de</strong> ferro <strong>em</strong> tráfego passou <strong>de</strong> 3,4 mil para 21,3 milquilômetros. A exportação <strong>de</strong> café que era <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> sacas (sessenta quilos) <strong>em</strong> 1880,aproximou-se dos 10 milhões <strong>em</strong> 1900 e superou os 16 milhões antes da Primeira Guerra Mundial”(FURTADO, 2007, p. 102).29 “No México a população passou <strong>de</strong> 9,4 milhões <strong>em</strong> 1877 a 15,2 milhões <strong>em</strong> 1910. No último dos quase três<strong>de</strong>cênios do governo Porfírio Diaz (1900-10), a taxa média <strong>de</strong> crescimento anual do produto real per capitaalcançou 3,1 por cento” (FURTADO, 2007, p. 102).


25principalmente com a imigração, assim como a produção dos produtos para exportação e aextensão das estradas <strong>de</strong> ferro 30 (FURTADO, 2007).Mas, logo a partir da Primeira Guerra Mundial, ocorreram importantes modificaçõesnas economias mundiais, alterando o equilíbrio internacional do po<strong>de</strong>r e o comércio global,diante da <strong>de</strong>terioração dos preços dos produtos primários nos mercados internacionais e daevolução da tecnologia que auxiliou na <strong>de</strong>preciação dos preços <strong>de</strong> matérias-primas(FURTADO, 2007), atingindo diretamente a economia dos países latino-americanos.Entre os anos <strong>de</strong> 1913 e 1953, assinalou-se a persistência na modificação do comérciointernacional, com o aumento da exportação <strong>de</strong> petróleo e do protecionismo nos paísesindustrializados, e o crescimento <strong>de</strong> exportações entre estes países, diferenciandosignificativamente a participação dos países sub<strong>de</strong>senvolvidos neste período (FURTADO,2007).A Primeira Guerra Mundial, ao modificar os investimentos <strong>de</strong> capitais na AméricaLatina, principalmente da Inglaterra, sofreu com a anulação dos <strong>em</strong>préstimos econsequent<strong>em</strong>ente, com a dificulda<strong>de</strong> no pagamento das dívidas internas, possibilitando umnovo campo <strong>de</strong> investimento para os Estados Unidos (BULMER-THOMAS, 2010).Com o fim da I Guerra Mundial e após as modificações estruturais na economiamundial, os países latino-americanos ao diversificar a economia para não exportadora, iniciama produção <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> recursos, mas não conseguiam fortalecer-se para umacompetição externa s<strong>em</strong>elhante aos produtos primários. Além disso, as exportações seconcentravam nos países industrializados, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 70%: Estados Unidos, Grã-Bretanha,França e Al<strong>em</strong>anha. Ou seja, as economias latino-americanas continuaram com um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento que <strong>de</strong>ixava os países expostos às adversida<strong>de</strong>s que estavam ocorrendomundialmente <strong>em</strong> relação aos produtos primários 31 (BULMER-THOMAS, 2010).30 “Quanto mais as economias agrário-exportadoras, próprias do mundo mercantil, <strong>de</strong>senvolviam ativida<strong>de</strong>srelacionadas ao universo capitalista, mais necessida<strong>de</strong>s sentiam <strong>de</strong> incr<strong>em</strong>entar seus <strong>em</strong>preendimentosindustriais. Inicialmente, portanto, a diversificação dos negócios surgiu das <strong>de</strong>mandas da própria economiaagro-exportadora, que carecia da indústria têxtil, alimentícia, metalúrgica, etc.” (ANTUNES, 2011, p. 19). “Foinesse marco histórico e estrutural, constituído especialmente a partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, quecomeçou a se formar a classe trabalhadora latino-americana, centrada principalmente nos centros exploradores<strong>de</strong> salitre, cobre, prata, carvão, gás e petróleo, na indústria têxtil, nos serviços portuários e ferroviários, naconstrução civil e <strong>em</strong> pequenos estabelecimentos fabris” (ANTUNES, 2011, p. 19).31 “Durante a primeira meta<strong>de</strong> do século XIX, os mercados exteriores eram limitados e <strong>de</strong> difícil acesso. ARevolução Industrial, nessa primeira fase, apresentou duas características que se refletiram negativamente nospaíses latino-americanos: a concentração na Inglaterra, país possuidor <strong>de</strong> colônias capacitadas para supri-lo <strong>de</strong>produtos primários, particularmente os tropicais, e a prepon<strong>de</strong>rância da indústria têxtil algodoeira, cujamatéria-prima pô<strong>de</strong> ser produzida <strong>em</strong> larga escala nos Estados Unidos, à base <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra escrava e a umadistância muito menor, numa época <strong>em</strong> que os transportes marítimos eram precários” (FURTADO, 2007, p.81).


26No início do período consi<strong>de</strong>rado a Gran<strong>de</strong> Depressão, geralmente relacionado aocrack da Bolsa <strong>de</strong> Valores <strong>de</strong> Wall Street <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 1929 32 , o percentual <strong>de</strong> exportaçãocaiu drasticamente, mais <strong>de</strong> 50% <strong>em</strong> alguns países latino-americanos.Além disso, os valores das exportações também apresentaram queda, os países maisafetados foram: Bolívia, Chile e México e tinham como principal produto os minerais. Outrogrupo <strong>de</strong> países atingido pelas mudanças foi: Argentina, Brasil, Equador, Peru e os países daAmérica Central, estes produziam <strong>em</strong> conjunto uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong>alimentos a matérias-primas para a agricultura. E Cuba, que neste período exportava <strong>em</strong>gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s açúcar para os Estados Unidos, sofreu com uma diminuição drástica dasexportações (BULMER-THOMAS, 2010).[...] <strong>em</strong> alguns casos, a crise implicou somente o fortalecimento do domíniooligárquico dos grupos agroexportadores, e frequent<strong>em</strong>ente através <strong>de</strong> formasmilitar-autoritárias para enfrentar o <strong>de</strong>scontentamento produzido pelas medidassaneadoras e pela diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra do setorprodutivo (CARDOSO; FALETTO, 2011).Nenhum país latino-americano escapou da Gran<strong>de</strong> Depressão 33 , alguns sofreram maisque outros as consequências diante da baixa dos preços na exportação e do <strong>de</strong>clínio damesma. “A amplitu<strong>de</strong> e a profundida<strong>de</strong> da Depressão puseram <strong>em</strong> primeiro plano os aspectosconjunturais e ofuscaram a percepção dos fatores estruturais” (FURTADO, 2007, p. 107).As políticas adotadas pelos países latino-americanos para estabilizar suas economiasapós a Gran<strong>de</strong> Depressão pretendiam restaurar o equilíbrio interno, a curto e longo prazo.Com a perda do dinamismo das exportações <strong>de</strong> produtos primários, após a evoluçãodos países industrializados, sua percepção foi adiada pela Gran<strong>de</strong> Depressão. “A amplitu<strong>de</strong> ea profundida<strong>de</strong> da Depressão puseram <strong>em</strong> primeiro plano os aspectos conjunturais eofuscaram a percepção dos fatores estruturais” (FURTADO, 2007 p. 107). Um período on<strong>de</strong> ocrescimento dos países latino-americanos ocorreu basicamente com as exportações, conformeos dados do Quadro 1, pois estes primeiros anos do século XX foram marcados pela PrimeiraGuerra Mundial, a Revolução Russa e a crise <strong>de</strong> 1929, modificando o rumo da história <strong>de</strong>steséculo (BORON, 1994).32 A crise <strong>de</strong> 1929 afetou profundamente os países latino-americanos, principalmente aqueles que já seencontravam e vivenciavam uma situação <strong>de</strong> crise, como o Brasil, com a superprodução <strong>de</strong> café e com a perda<strong>de</strong> posição no comércio da borracha (FURTADO, 2007).33 A maioria dos países que sobreviviam com a exportação <strong>de</strong> produtos primários sofreu consequênciaseconômicas graves, como ex<strong>em</strong>plo: “O preço do chá e do trigo caiu dois terços, o da seda bruta três quartos”(HOBSBAWN, 1994, p. 96). Deixando prostrados os países como Argentina, Brasil, Chile, Bolívia, Cuba,Equador, Peru, Uruguai, Paraguai, Venezuela, entre outros, que <strong>de</strong>pendiam do comércio internacional. “Emsuma, tornou a <strong>de</strong>pressão global no sentido literal” (HOBSBAWN, 1994, p. 96).


27A fragilida<strong>de</strong> econômica atingiu diretamente a política monetária, dificultando arecuperação dos países latino-americanos mesmo após a Gran<strong>de</strong> Depressão, a qual gerouconsequências significativas para esses países, como a perda dos preços <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>exportação, e a recuperação econômica da maioria dos países ocorreu somente a partir <strong>de</strong>1936 com o fortalecimento do processo <strong>de</strong> industrialização 34 (BULMER-THOMAS, 2010).As dificulda<strong>de</strong>s econômicas enfrentadas pelos países latino-americanos continuaram apartir <strong>de</strong> 1939, com a Segunda Guerra Mundial, diante das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong>produtos que eram importados, sinalizando uma mudança no comércio interno da região,favorecendo a relação entre alguns países. A crise na exportação incentivou o comércio entreos países latino-americanos, algo que não era fomentado começou a receber o apoio damaioria – foram criados acordos bilaterais, concessões tarifárias entre países vizinhos atravésdo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cooperação, o que evitou um colapso nas exportações do período 35 .O mo<strong>de</strong>lo econômico chamado <strong>de</strong> industrialização por substituição <strong>de</strong> importações 36 ,uma Contribuição da CEPAL à integração econômica regional, objetivava o entendimento doregionalismo na América Latina e o estímulo ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico 37 , pois “naAmérica Latina não só as exportações eram praticamente a única componente autônoma docrescimento da renda, como também o setor exportador representava o centro dinâmico <strong>de</strong>toda a economia” (TAVARES, 2000, p. 220). E, após as duas gran<strong>de</strong>s guerras, com a criseeconômica mundial, a América Latina reduz significativamente as exportações 38 , on<strong>de</strong> surge aproposta cepalina.34 “É nesse contexto <strong>de</strong> transição do mundo capitalista agrárioexportador para o urbanoindustrial queperceb<strong>em</strong>os a intensificação da ação do Estado, que procurava criar organismos sindicais oficialistas, a fim <strong>de</strong>barrar as lutas sociais autônomas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas pelas correntes revolucionárias do movimento operário. Onascente Estado burguês latino-americano <strong>de</strong>sejava, assim, abrir seus canais <strong>de</strong> controle junto aostrabalhadores, tendência que se intensificou a partir dos anos <strong>de</strong> 1930 por meio <strong>de</strong> uma política que pretendia‘integrar’ os trabalhadores a or<strong>de</strong>m burguesa” (ANTUNES, 2011, p. 21).35 Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> tais mudanças cita-se: as exportações <strong>de</strong> têxteis brasileiros cresceram consi<strong>de</strong>ravelmente,b<strong>em</strong> como a Argentina, que, além das exportações entre os países latino-americanos, expandiram-se asexportações para África do Sul (BULMER-THOMAS, 2010).36 O processo <strong>de</strong> industrialização por substituição <strong>de</strong> importações foi uma Contribuição da CEPAL à integraçãoeconômica regional, auxiliando no entendimento do regionalismo na América Latina e no <strong>de</strong>senvolvimentoeconômico.37 Este projeto <strong>de</strong>senvolveu-se <strong>de</strong> forma mais acentuada na Argentina, no Brasil e no México, e, um poucomenos marcada, no Chile, na Colômbia e no Peru. “Esses processos vieram acompanhados <strong>de</strong> projetospolítico-i<strong>de</strong>ológicos <strong>de</strong> caráter nacional, que fortaleciam a classe trabalhadora, os sindicatos e as forçaspartidárias <strong>de</strong> caráter nacional, assim como <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s nacionalistas. Ao mesmo t<strong>em</strong>po,constituíram-se novos blocos sociais no po<strong>de</strong>r” (SADER, 2009, p. 49).38 “A profundida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sequilíbrio externo fez com que a maior parte dos governos adotasse uma série <strong>de</strong>medidas ten<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o mercado interno dos efeitos da crise no mercado internacional. Medidas queconsistiriam basicamente <strong>em</strong> restrições e controle das importações, elevação da taxa <strong>de</strong> câmbio e compra <strong>de</strong>exce<strong>de</strong>ntes ou financiamento <strong>de</strong> estoques, visando antes <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se contra o <strong>de</strong>sequilíbrio externo do queestimular a ativida<strong>de</strong> interna” (TAVARES, 2000, p. 223).


28Inicialmente, a substituição <strong>de</strong> alguns bens antes importados possibilitou a algunspaíses uma recuperação rápida <strong>de</strong> sua economia, pois proporcionou um aumento do ProdutoInterno Bruto – PIB <strong>em</strong> algumas regiões, mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, com o aumento da produçãoindustrial <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, surge a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> outros bens como os intermediários e <strong>de</strong>equipamentos (FURTADO, 2007).O setor externo não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar papel relevante <strong>em</strong> nossos países;apenas houve uma mudança significativa nas suas funções. Em vez <strong>de</strong> ser o fatordiretamente responsável pelo crescimento da renda, através do aumento dasexportações, sua contribuição passou a ser <strong>de</strong>cisiva no processo <strong>de</strong> diversificação daestrutura produtiva, mediante a importação <strong>de</strong> equipamentos e bens intermediários(TAVARES, 2000, p. 224).Os países que mantinham fábricas financiadas pelos Estados Unidos, como Argentina,Brasil, Chile e México, durante o período da guerra, buscaram outros consumidores, ossetores produtivos e o próprio Estado; eram produtos como: cimento, maquinarias, plásticos,produtos químicos, entre outros, o que auxiliou na nova etapa da industrialização – aindustrialização por substituição <strong>de</strong> importação (BULMER-THOMAS, 2010).A substituição <strong>de</strong> importações avançou principalmente nos países que já haviaminiciado o processo <strong>de</strong> industrialização, como a Argentina, o Brasil, o Chile e o México, ouseja, que minimamente mantinham os equipamentos necessários à produção, o “incr<strong>em</strong>ento”ficou na intensificação dos turnos <strong>de</strong> trabalho. Tal produção foi necessária <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>mandainterna que anteriormente era suprida pelas importações.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a <strong>de</strong>manda pelo aumento na produção <strong>de</strong> produtos antesimportados, ao longo do processo, criou probl<strong>em</strong>as estruturais e pressões inflacionárias, quetinham como foco: a) a inelasticida<strong>de</strong> da oferta <strong>de</strong> produtos agrícolas – que necessitava <strong>de</strong>investimento <strong>em</strong> tecnologia, diante do aumento da população urbana e da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>produtos; b) a ina<strong>de</strong>quação da infraestrutura – a nova estrutura produtiva exigia maiorinvestimento <strong>em</strong> transportes, pois muitos produtos produzidos no interior necessitavam <strong>de</strong> um<strong>de</strong>slocamento consi<strong>de</strong>rável, assim como outros serviços básicos; c) a ina<strong>de</strong>quação do fatorhumano disponível a curto prazo – apesar da abundante mão-<strong>de</strong>-obra, a falta <strong>de</strong> qualificaçãoapresentava-se como uma dificulda<strong>de</strong> na produção, sendo que os países que receberamimigrantes europeus, principalmente, foram aqueles que iniciaram ativida<strong>de</strong>s comcaracterísticas mais <strong>em</strong>presariais; d) a ina<strong>de</strong>quação das estruturas fiscais – com a diminuiçãodas importações, reduziu-se a fonte fiscal e, e) aumento dos encargos financeiros – com aelevação dos preços dos equipamentos importados (RODRÍGUEZ, 2009).


Mas, a ina<strong>de</strong>quação era visível <strong>em</strong> vários setores ainda primários, como:infraestrutura, produtos agrícolas e na educação – falta <strong>de</strong> qualificação dos trabalhadores, umarealida<strong>de</strong> que se ass<strong>em</strong>elha à necessida<strong>de</strong> dos jovens no século XXI.Neste período <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento interno, uma das modificações expressivas foi amudança no papel do Estado 39 , que se voltou ao mercado interno, controlando as tarifasalfan<strong>de</strong>gárias, investindo internamente, 40 apoiando os projetos do aço, petróleo, das gran<strong>de</strong>scentrais elétricas, entre outros setores voltados ao <strong>de</strong>senvolvimento.De uma maneira geral, po<strong>de</strong>-se aferir que das mudanças na estrutura industrial nospaíses surge um novo perfil <strong>de</strong> Estado na América Latina, com característicasintervencionistas, com novas responsabilida<strong>de</strong>s estatais como o investimento <strong>em</strong> transporte eserviços públicos, além do surgimento <strong>de</strong> novas indústrias.A indústria, voltada para o mercado interno, acompanhava a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong>produtos não duráveis 41 , produtos duráveis 42 e os bens <strong>de</strong> capital 43 . Um período on<strong>de</strong> surgeuma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas tanto públicas quanto privadas como <strong>de</strong> pequeno e médio porte.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, criou-se um gran<strong>de</strong> êxodo rural, uma redução significativa nocampo, que <strong>de</strong>monstra as gran<strong>de</strong>s transformações na região latino-americana, o que culminouna elevação do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no meio urbano diante da urbanização acelerada <strong>em</strong>alguns países (CARDOSO; FALETTO, 2011).Com a elevação gradual na taxa <strong>de</strong> crescimento da população nos centros urbanos,inicia-se um processo <strong>de</strong> sub<strong>em</strong>prego, principalmente dos trabalhadores que vinham do meiorural, fortalecendo neste período o setor informal <strong>de</strong> trabalho, que será <strong>de</strong>staque no it<strong>em</strong>posterior, além do aumento da pobreza urbana.O que também se <strong>de</strong>staca neste período da década <strong>de</strong> 1950 e 1960 são osinvestimentos <strong>em</strong> capacitação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, criam-se bases para o início <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>capacitação maciça, conforme a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mercado, pois o elevado percentual <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>obranecessitava <strong>de</strong> qualificação para dar conta da <strong>de</strong>manda real no período. Mas, eramlimitações complexas, pois se tratava <strong>de</strong> processos produtivos com tecnologia avançada enovas ativida<strong>de</strong>s industriais (RODRÍGUEZ, 2009).Além dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> qualificação dos trabalhadores, as limitações do mercadotambém <strong>de</strong>monstravam um entrave no <strong>de</strong>senvolvimento econômico, e, na década <strong>de</strong> 1960 a39 Ver a obra <strong>de</strong> Atílio A. Boron, “Estado, capitalismo e <strong>de</strong>mocracia na América Latina”, 1994.40 No período anterior a industrialização, o Estado envolvia-se somente nas exportações e latifundiários, era um“mediador” dos investimentos externos (CARDOSO; FALETTO, 2011).41 São os produtos como alimentação, bebidas, entre outros pouco duráveis para consumo.42 São os bens adquiridos com maior durabilida<strong>de</strong> como eletrodoméstico, automóveis, entre outros.43 São os bens <strong>de</strong> produção, aqueles utilizados para a produção <strong>de</strong> outros bens.29


30taxa <strong>de</strong> crescimento industrial na América Latina diminui consi<strong>de</strong>ravelmente, se comparadacom a década anterior, sendo logo revertida, pois a posição da economia mundial nesteperíodo era <strong>de</strong> crescimento, a chamada “era do ouro” (RODRÍGUEZ, 2009). “Até <strong>em</strong> casoscomo da Argentina e do Chile, que naqueles anos eram vistos como pouco dinâmicos,sobretudo quando contrastados com os do Brasil e México, foram registradas taxas <strong>de</strong>crescimento elevadas [...]” (RODRÍGUEZ, 2009, p. 192).Mas, com a elevação da dívida externa, na década <strong>de</strong> 70, após a crise do petróleo,inicia-se uma nova fase da economia mundial. Nessa perspectiva, <strong>de</strong> uma maneira geral, aAmérica Latina ficou novamente <strong>em</strong> uma situação frágil, pois as exportações dos produtosprimários, marca da maioria dos países da região, não apresentaram o retorno suficiente parao pagamento da dívida externa durante a década <strong>de</strong> 80. Mesmo com o crescimento da dívida,a industrialização mantinha-se a todo vapor, e sua meta tornava-se criar uma indústriacompetitiva no mercado internacional e reduzir custos com melhor qualida<strong>de</strong>.Em alguns países, o endividamento externo financiou experimentos radicais <strong>de</strong>política econômica baseados <strong>em</strong> fórmulas <strong>de</strong> “abertura até a morte”. Tais foram oscasos dos países do Cone Sul (Argentina, Chile e, <strong>em</strong> menor medida o Uruguai) nasegunda meta<strong>de</strong> dos anos 1970 (RODRÍGUEZ, 2009, p. 197).Tais políticas <strong>de</strong> abertura comercial e também financeira levaram os países citadosacima a interromper uma trajetória <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> processos produtivos. Para outrospaíses, como o Brasil, a dívida contribuiu para o financiamento da base industrial, masfinalizou com a recessão no início dos anos <strong>de</strong> 1980.A participação do Estado na economia, como resposta às falhas do mercado, auxiliouno pagamento das dívidas, mas não reduziu a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição da renda namaioria das repúblicas latino-americanas 44 . Esta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, que a princípio foi produto da<strong>de</strong>sigual distribuição da terra, herdada <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos coloniais, foi reforçada pela concentraçãoindustrial e financeira no século XX, através da qual a distribuição da renda da AméricaLatina é uma das piores do mundo.São muitas as teorias que tratam sobre o <strong>de</strong>senvolvimento econômico da AméricaLatina, uma <strong>de</strong>las é a teoria da <strong>de</strong>pendência 45 , que é parte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obras teóricas queconsi<strong>de</strong>ram como o principal obstáculo ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico latino-americano,suas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s relacionais e a marcante <strong>de</strong>pendência dos países <strong>de</strong>senvolvidos.44 No Brasil, entre as décadas <strong>de</strong> 1960 e 1980, a população 40% mais pobre sofre com a queda da renda nacional<strong>de</strong> 17,3% para 14,5%, por outro lado, a renda dos mais ricos subiu <strong>de</strong> 39,0% para 44,0% (BORON, 1994).45 Ver a obra <strong>de</strong> Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto – Dependência e <strong>de</strong>senvolvimento na AméricaLatina: ensaio <strong>de</strong> interpretação sociológica. 2011.


31Por fatores externos e internos dos países da região, a partir <strong>de</strong> 1980, as economiaslatino-americanas iniciam um processo <strong>de</strong> crise, que afetou diretamente o setor produtivo – asindústrias.Nos documentos da CEPAL (2000), a década <strong>de</strong> 80 é conhecida como “a décadaperdida”, ao focar o olhar no <strong>de</strong>senvolvimento dos países. São diversos os motivos quecaracterizam o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrios macroeconômicos, como, por ex<strong>em</strong>plo: as mudançastecnológicas que mundialmente encontravam-se mais avançadas que na região, b<strong>em</strong> como“[...] o <strong>de</strong>sgaste da capacida<strong>de</strong> financeira e <strong>de</strong> gestão dos governos, a frustração <strong>de</strong> umnúmero crescente <strong>de</strong> pessoas que tentam incorporar-se ao mercado <strong>de</strong> trabalho, o mauaproveitamento dos recursos naturais e a <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>les e do meio ambiente” (CEPAL,2000, p. 890).Muitos governos avançam para novos projetos políticos mais pluralistas eparticipativos 46 , ao mesmo t<strong>em</strong>po, alguns países já iniciavam os ajustes econômicos, com umcusto <strong>social</strong> muito elevado, principalmente para a população com renda média e baixa(CEPAL, 2000).“Essa década <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento perdido e <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> dolorosa equivaleu,possivelmente, a conjunturas históricas que tiveram que ser vivenciadas <strong>em</strong> todas asexperiências b<strong>em</strong>-sucedidas <strong>de</strong> industrialização tardia” (CEPAL, 2000, p. 891).Uma crise econômica que se agrava com a recessão dos países centrais, as taxas <strong>de</strong>investimento diminu<strong>em</strong>, ocorre uma queda do produto per capita, um <strong>de</strong>scontroleinflacionário, e como consequência um aumento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e pobreza na maioria dospaíses latino-americanos. “Esse ‘fracasso’ da i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>senvolvimentista montou o cenáriopara o ataque neoliberal, <strong>de</strong>sferido pelos regimes Thatcher e Reagan, pelo Fundo MonetárioInternacional e pelo Fórum Econômico Mundial <strong>de</strong> Davos” (WALLERSTEIN, 2009, p. 62).O cenário econômico nesta década <strong>de</strong> 80 <strong>de</strong>monstra a peculiarida<strong>de</strong> que a caracteriza:[...] os graves <strong>de</strong>sequilíbrios macroeconômicos, as dificulda<strong>de</strong>s para superá-los e opeso da virtual inércia recessiva que implica sua superação; a acentuação dosprobl<strong>em</strong>as do setor externo [...] o marcado atraso na incorporação <strong>de</strong> tecnologia e aparalela obsolescência dos ativos fixos; o significado aumento do sub<strong>em</strong>prego,assim como do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego aberto (RODRÍGUEZ, 2009, p. 542).46 Como ex<strong>em</strong>plo o Brasil, que no final <strong>de</strong> década <strong>de</strong> 80 aprova a Constituição Cidadã (1988).


32A década <strong>de</strong> 80 para os países latino-americanos po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como a década<strong>de</strong> uma das maiores crises econômica e financeira, com repercussões sociais graves querepercutiram nos anos 90 47 .Ao longo do processo histórico cada país se <strong>de</strong>senvolveu <strong>de</strong> forma distinta,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do seu processo <strong>de</strong> organização do Estado, <strong>de</strong> classes, dos partidos, dossindicatos e do movimento <strong>de</strong> industrialização que ocorria <strong>em</strong> cada território, mas nenhum<strong>de</strong>les superou a situação <strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento produzida historicamente 48 .A adoção <strong>de</strong> novas medidas <strong>de</strong> cunho liberal na maioria dos países, como os ajustesestruturais, modificou novamente a economia latino-americana, principalmente, afetando ostrabalhadores e especificamente a juventu<strong>de</strong> que, a partir dos anos 90, encontra um novocenário econômico na região, t<strong>em</strong>a que será objeto do próximo it<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste capítulo.2.2 OS AJUSTES ESTRUTURAIS NA AMÉRICA LATINA A PARTIR DOS ANOS 90A proposta <strong>de</strong> iniciar os ajustes estruturais, principalmente a partir dos anos 90, naAmérica Latina surge diante do déficit dos países periféricos, com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restringiros gastos e reduzir o <strong>de</strong>sequilíbrio externo, através <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> estabilização, com aparticipação dos bancos transnacionais e FMI – Fundo Monetário Internacional.As reformas econômicas vivenciadas pelos países latino-americanos, principalmentenas décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990, caracterizam mudanças significativas na estrutura financeirainternacional que afetam diretamente os países periféricos, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>staca: a aberturacomercial, a liberalização financeira e as privatizações que modificam o futuro do mercado <strong>de</strong>trabalho e das relações e condições <strong>de</strong>ste.A redução do tamanho e das atribuições no papel do Estado também caracteriza esteperíodo, on<strong>de</strong> se inicia um ciclo <strong>de</strong> privatizações dos serviços públicos e favorecimento dosinvestimentos estrangeiros – mudanças que objetivavam a aceleração do crescimentoeconômico e aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>.A América Latina, durante os anos <strong>em</strong> que vivencia a impl<strong>em</strong>entação dos ajustes,sente o agravamento <strong>de</strong> suas consequências ao olhar para a sua história, pela sua47 “[...] os alentadores avanços políticos registrados nos anos 80 foram acompanhados por uma marcada pioradas condições <strong>de</strong> vida das gran<strong>de</strong>s maiorias nacionais, o que só po<strong>de</strong> colocar sombras sobre o futuro da<strong>de</strong>mocracia nos nossos países (BORON, 1994, p. 12).48 É necessário reconhecer a historicida<strong>de</strong> da situação <strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento dos países latino-americanos,analisar como estas economias se vincularam ao mercado mundial. “A <strong>de</strong>pendência da situação <strong>de</strong>sub<strong>de</strong>senvolvimento implica <strong>social</strong>mente uma forma <strong>de</strong> dominação que se manifesta por uma série <strong>de</strong>características no modo <strong>de</strong> atuação e na orientação dos grupos que no sist<strong>em</strong>a econômico aparec<strong>em</strong> comoprodutores ou como consumidores” (CARDOSO; FALETTO, 2000, p. 507-508).


33heterogeneida<strong>de</strong> estrutural, “[...] que resulta <strong>de</strong> uma síntese cont<strong>em</strong>porânea da formaçãohistórica das socieda<strong>de</strong>s latino-americanas” (SOARES, 2001, p. 25), e pela coexistência <strong>de</strong>formas produtivas e relações sociais que correspon<strong>de</strong>m a diferentes fases do <strong>de</strong>senvolvimentoda região (SOARES, 2001).Além das formas produtivas e relações sociais, <strong>de</strong>ve-se incluir nestas características oque se herdou do passado colonial, das sucessivas transformações ao longo dos séculos,conforme <strong>de</strong>scritas nos itens anteriores, que envolve três gran<strong>de</strong>s dimensões: a) as estruturas<strong>de</strong> produção que compreen<strong>de</strong>m estabelecimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala e alta tecnologia e, aomesmo t<strong>em</strong>po, ativida<strong>de</strong>s pré-industriais 49 ; b) a diversida<strong>de</strong> das relações sociais que seestabelec<strong>em</strong> nestas estruturas produtivas, por um lado, os locais <strong>de</strong> maior produtivida<strong>de</strong>, comrelações trabalhistas juridicamente claras, e por outro, no meio rural, relações senhoriais, nasáreas metropolitanas a existência das relações informais <strong>de</strong> trabalho e a precarização e, c) aesfera política, que correspon<strong>de</strong> à organização institucional (SOARES, 2001).São tendências que se repet<strong>em</strong> e perduram na região, mantendo as condiçõesdistributivas já existentes, mas torna-se relevante especificar as s<strong>em</strong>elhanças e as diferençasna impl<strong>em</strong>entação dos ajustes, conforme a política econômica vigente.Diante da crise especialmente <strong>de</strong> acumulação, como a iniciada na década <strong>de</strong> 70, umdos eixos a ser reestruturado é o processo produtivo. Os ajustes propostos para a AméricaLatina nos anos 90 foram discutidos e formulados durante a gran<strong>de</strong> crise mundial, que ocorreudurante toda a década <strong>de</strong> 80 – foram <strong>de</strong>smontes que intensificaram a crise financeira eprodutiva da economia, afetando <strong>de</strong> forma diferenciada cada região 50 .As orientações <strong>de</strong> ajuste que foram propostas para a América Latina, discutidas e<strong>de</strong>finidas durante a década <strong>de</strong> 80, converg<strong>em</strong> para o chamado Consenso <strong>de</strong> Washington 51 ,49 “Três aspectos são consi<strong>de</strong>rados básicos aqui: a produtivida<strong>de</strong> física do trabalho, a escala operacional dosestabelecimentos, e a divisão, especialização e hierarquização <strong>de</strong> funções produtivas” (SOARES, 2001, p. 25).50 “De maneira a compreen<strong>de</strong>r a impl<strong>em</strong>entação das reformas estruturais efetivadas no espaço latino-americano,a partir da década <strong>de</strong> 90, é importante caracterizar<strong>em</strong>-se as condições, a formação política, <strong>social</strong> e econômica<strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> suas particularida<strong>de</strong>s. São elas articuladas à análise da totalida<strong>de</strong> concreta, ao conjunto <strong>de</strong>mediações e <strong>de</strong>terminações econômicas, políticas e sociais internacionais que explicam e justificam asreformas estruturais enquanto movimento <strong>de</strong> rearticulação do capital da lógica do capitalismo e <strong>de</strong> sua relação<strong>de</strong> exploração e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> configurada, <strong>de</strong>ntre outros, pela necessária subordinação dos países periféricosao internacional” (OLIVEIRA, 2005, p. 69).51 Ficaram conhecidas como Consenso <strong>de</strong> Washington as recomendações para os países da América Latina,<strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> reunião realizada <strong>em</strong> 1989, <strong>em</strong> Washington, na qual participaram economistas do FMI – FundoMonetário Internacional, do BM – Banco Mundial, Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento e OrganizaçãoMundial do Comércio. “Essas recomendações foram constituídas <strong>de</strong> <strong>de</strong>z regras, assumidas como políticaoficial do FMI <strong>em</strong> 1990, e compreendiam o seguinte: a) disciplina fiscal; b) redução dos gastos públicos; c)reforma tributária; d) juros <strong>de</strong> mercado; e) câmbio <strong>de</strong> mercado; f) abertura comercial; g) eliminação dasrestrições ao investimento estrangeiro direto; h) privatização das estatais; i) <strong>de</strong>sregulamentação econômica etrabalhista; j) <strong>de</strong>fesa do direito à proprieda<strong>de</strong> intelectual” (MARQUES, 2010, p. 07).


34propostas <strong>de</strong> cunho teórico liberal, através <strong>de</strong> políticas “[...] liberalizantes, privatizantes e <strong>de</strong>mercado” (SOARES, 2009, p. 14), como resposta a crise econômica nos países periféricos 52 .Assim, são mudanças no contexto internacional, com um ajuste global, um período <strong>de</strong>significativa expansão do capitalismo, que fortaleceu o <strong>de</strong>senvolvimento da globalização 53financeira e produtiva. Esse novo mo<strong>de</strong>lo traz consigo transformações estruturais, que afetamgran<strong>de</strong> parcela da população. “Por trás <strong>de</strong> todas essas medidas está a i<strong>de</strong>ia central <strong>de</strong> que é olivre jogo das forças <strong>de</strong> mercado, s<strong>em</strong> nenhuma interferência, o que levaria a uma melhorutilização dos fatores produtivos <strong>em</strong> benefício <strong>de</strong> toda a coletivida<strong>de</strong>” (SOARES, 2009, p.15).Experimentava-se uma forçada liberalização nos mercados da América Latina,aumentando a competitivida<strong>de</strong> e exigindo maior “eficiência” dos trabalhadores, e, por outrolado, um protecionismo dos países centrais diante do mercado. “O ‘mercado’, mais do que ob<strong>em</strong>-estar da população, agora se tornava a medida <strong>de</strong> toda ativida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada do Estado”(WALLERSTEIN, 2009, p. 62).Mas, transformações <strong>de</strong>siguais ocorreram, se comparados os países centrais com osperiféricos, tanto os frutos do progresso técnico e tecnológico, quanto os custos sociais 54 , queserão tratados no it<strong>em</strong> posterior.Embora as ações <strong>de</strong> ajuste e reforma nos países latino-americanos se concentr<strong>em</strong> apartir dos anos 80, o Chile já na década <strong>de</strong> 70 iniciou este processo na região 55 . Foram osprimeiros ensaios <strong>de</strong> medidas consi<strong>de</strong>radas parciais, como a renegociação <strong>de</strong> dívidas(SOARES, 2009), e, nos anos 80 o país foca-se no corte <strong>de</strong> salários, com o objetivo <strong>de</strong>diminuí-lo.A América Latina, durante a década <strong>de</strong> 80, vivenciou, diferent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> cada país, acrise e suas resistências, <strong>de</strong>monstrando o quanto os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> estabilização não foramsuficientes para a superação <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> sua maioria, todos se voltaram para o52 “O chamado Consenso <strong>de</strong> Washington – inverteu a maioria dos dogmas do <strong>de</strong>senvolvimentismo. Aindustrialização por substituição <strong>de</strong> importações era agora <strong>de</strong>finida como um processo <strong>de</strong> favorecimentocorrupto; a construção estatal, como alimentando uma burocracia inchada; a ajuda financeira dos países ricos,como dinheiro <strong>de</strong>rramado na sarjeta; e as estruturas paraestatais, como barreiras mortais para uma ativida<strong>de</strong><strong>em</strong>presarial lucrativa” (WALLERSTEIN, 2009, p. 62).53 O fenômeno da globalização projeta para o final do século XX uma versão atualizada da i<strong>de</strong>ologia econômicaliberal, com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer a livre circulação <strong>de</strong> capital, b<strong>em</strong> como do livre comércio (FIORI,1997). Além do crescimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas transnacionais, mobilida<strong>de</strong> do capital e acesso à informação.54 Os custos sociais, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, recaíram para os países periféricos, mas os países centrais também iniciamum processo <strong>de</strong> modificações <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> equida<strong>de</strong> <strong>social</strong>, principalmente após a flexibilização nas relações<strong>de</strong> trabalho (SOARES, 2009).55 “O Chile <strong>de</strong> Pinochet começou seus <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> maneira dura: <strong>de</strong>sregulamentação, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego massivo,repressão sindical, redistribuição <strong>de</strong> renda <strong>em</strong> favor dos ricos, privatização <strong>de</strong> bens públicos” (ANDERSON,1995, p. 19).


35refinanciamento e novos <strong>em</strong>préstimos junto ao FMI – Fundo Monetário Internacional e o BM– Banco Mundial 56 .Como principais pontos da reforma estrutural, <strong>de</strong>stacam-se: a liberalização dasimportações que era <strong>de</strong>fendida pelos reformadores como necessário para o <strong>de</strong>senvolvimentoe crescimentos dos países, pois argumentavam que o protecionismo reduzia a eficiência daeconomia e afastava da competição do mercado; a reforma financeira interna 57 ; asprivatizações, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas estatais, que surgiram principalmente nos anos <strong>de</strong>1970, são vendidas a <strong>em</strong>presas privadas nacionais e internacionais; a reforma tributária,on<strong>de</strong> se reduziu os impostos para o comércio e para as exportações e a abertura <strong>de</strong> conta <strong>de</strong>capital 58 (STALLINGS; PERES, 2002).A década <strong>de</strong> 90 é marcada pela diversida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> das reformas, os objetivos sediferenciavam, mas todos tinham a intenção <strong>de</strong> aumentar a abertura dos mercados, acompetitivida<strong>de</strong>, liberar<strong>em</strong> as transações econômicas, os preços, b<strong>em</strong> como as ativida<strong>de</strong>sprodutivas, diminuindo a participação do Estado na economia 59 .As formas que as políticas <strong>de</strong> ajuste assum<strong>em</strong>, nos diferentes países, po<strong>de</strong>riam sersituadas num espectro que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquelas que possu<strong>em</strong> um caráter mais‘doutrinário’ ou mais ‘puro’, no qual se aplicam estritamente os princípios doliberalismo econômico, até aquelas <strong>de</strong> tipo pragmático, quase s<strong>em</strong>pre mais afeitas aoritmo e à gradualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas pelos interesses dominantes <strong>em</strong> cada país(SOARES, 2009, p. 24).O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cada país e a intensida<strong>de</strong> se diferencia conforme a opção utilizada, asestratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, o tipo <strong>de</strong> trajetória política, econômica e <strong>social</strong>, algunsoptaram por ajustes que ocorreram gradualmente outros mais radicais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da56 Como ex<strong>em</strong>plo, na Argentina, “Coube ao movimento piqueteiro e <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> fábricas ser o maiorprotagonista da resistência ao neoliberalismo – um cenário que se repetiu <strong>em</strong> quase toda a América Latina.Movimentos sociais, velhos e novos, <strong>de</strong>stacaram-se na resistência aos governos neoliberais e aos seus<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> privatizações, retração do Estado nos planos econômico e <strong>social</strong>, abertura acelerada daeconomia, dinamização do <strong>de</strong>senvolvimento centrado na exportação e no consumo <strong>de</strong> luxo, e precarização dasrelações <strong>de</strong> trabalho. [...] As centrais sindicais, <strong>de</strong>bilitadas pelo aumento exponencial do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e daprecarização estrutural das relações <strong>de</strong> trabalho, participaram <strong>de</strong>ste confronto, mas per<strong>de</strong>ram o lugar centralque tiveram nas décadas anteriores no campo popular” (SADER, 2009, p. 45).57 Este it<strong>em</strong> da reforma indicava o controle das taxas <strong>de</strong> juros sobre: os <strong>em</strong>préstimos bancários, os <strong>de</strong>pósitosbancários e a relação entre reservas e <strong>de</strong>pósitos (STALLINGS; PERES, 2002).58 Índices <strong>de</strong>: controle sobre os investimentos estrangeiros diretos; limites a repatriação dos lucros e dospagamentos <strong>de</strong> juros; controle sobre os créditos externos e relação entre reservas e <strong>de</strong>pósitos (STALLINGS;PERES, 2002).59 “O período pós 1990, <strong>em</strong> que são incorporados ao mundo das finanças <strong>de</strong>sreguladas e globalizadas, os‘mercados <strong>em</strong>ergentes’, do ex-mundo <strong>social</strong>ista e da América Latina. É a hora <strong>em</strong> que se universaliza arevolução neoliberal, promovendo por todos os lados a <strong>de</strong>sregulação e a abertura das economias nacionais,permitindo que a globalização financeira alcance uma dimensão territorial s<strong>em</strong> prece<strong>de</strong>ntes, mesmo quandonão inclua a maior parte dos estados nacionais” (FIORI, 1997, p. 91).


posição <strong>em</strong> que se encontrava o setor produtivo 60 . Mas, o que não se po<strong>de</strong>ria negar, é que oneoliberalismo:36É um movimento i<strong>de</strong>ológico, <strong>em</strong> escala verda<strong>de</strong>iramente mundial, como ocapitalismo jamais havia produzido no passado. Trata-se <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> doutrinacoerente, autoconsciente, militante lucidamente <strong>de</strong>cidido a transformar o mundo asua imag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> sua ambição estrutural e sua extensão internacional (ANDERSON,1995, p. 22).Um movimento que atingiu todos os países latino-americanos, tendo como uma dasmais importantes metas a reestruturação do Estado, agravando o autoritarismo, com uma novaroupag<strong>em</strong> “<strong>de</strong>mocrática”, b<strong>em</strong> como as políticas públicas que sofreram com os <strong>de</strong>smontes <strong>de</strong>direitos já conquistados, e voltaram-se à intensificação da concorrência entre as gran<strong>de</strong>s<strong>em</strong>presas, que objetivam cada vez mais lucros: “[...] que são o verda<strong>de</strong>iro motor do<strong>de</strong>senvolvimento histórico do capitalismo” (VALENCIA, 2009, p. 112).A década <strong>de</strong> 90 foi marcada pela ofensiva da política neoliberal e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,pela resistência dos movimentos sociais, pois:O neoliberalismo conseguiu criar um consenso <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> suas políticas, contandocom forte propaganda internacional, mas jogando também com o fantasma dainflação, o ponto <strong>de</strong> apoio fundamental na América Latina para a criminalização doEstado e a introdução <strong>de</strong> duras políticas <strong>de</strong> ajustes fiscal (SADER, 2009, p. 45).Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a corrida tecnológica envolve os países <strong>em</strong> escala global, todos seencontram atrelados a ela, sentindo seu “custo” direto no mercado <strong>de</strong> trabalho, pois aprodução <strong>de</strong> tecnologia torna-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala, mas com redução nos custos e no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>produção. A América Latina, ao inscrever-se neste processo <strong>de</strong> globalização, participa <strong>de</strong>forma ativa da expansão do comércio internacional com forte concentração no comércio <strong>de</strong>bens e serviços.Mas, é notável o quanto o progresso tecnológico concentra-se nos países centrais,principalmente <strong>em</strong> relação aos aspectos <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento, b<strong>em</strong> como os ramosque concentram o maior progresso técnico. “O progresso técnico se configura como baseessencial dos processos <strong>de</strong> acumulação, por sua vez chave da dinâmica da expansãoprodutiva” (RODRÍGUEZ, 2009, p. 589).60 O Chile que iniciou os ajustes na década <strong>de</strong> 70 vivenciou uma experiência consi<strong>de</strong>rada radical; b<strong>em</strong> como aArgentina, Bolívia e Peru na década <strong>de</strong> 80, o Brasil consi<strong>de</strong>rado mais cauteloso, tardiamente na década <strong>de</strong> 90(SOARES, 2009).


37Uma realida<strong>de</strong> que se verifica na América Latina ao se observar o número <strong>de</strong><strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> que surgiram a partir dos anos 90, pois <strong>em</strong>bora osjovens a partir <strong>de</strong>sta década sejam “inseridos” na era da informação, este acesso fica restrito apoucos.O movimento <strong>de</strong> globalização <strong>de</strong> algumas indústrias e fábricas também reproduz, <strong>em</strong>escala mundial, os processos <strong>de</strong> contratação e especialização do trabalho, no espaço local. Asativida<strong>de</strong>s ou funções que exig<strong>em</strong> menor especialização como a montag<strong>em</strong>, se aloca nasregiões periféricas, e as ativida<strong>de</strong>s que exig<strong>em</strong> conhecimentos mais especializados e commaiores avanços tecnológicos <strong>em</strong> regiões avançadas.Os países latino-americanos, i<strong>de</strong>ntificados como economias periféricas, não obtémuma alternativa diferente daquela imposta pelos países centrais, ou seja, uma forte<strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> histórica no que se refere ao <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, até mesmo aoobservar os avanços na industrialização <strong>de</strong> alguns países da região 61 .Os gran<strong>de</strong>s centros continuam concentrando o progresso técnico, os ramos maisdinâmicos e as principais <strong>de</strong>cisões quanto à localização e atuação das <strong>em</strong>presastransnacionais, assim como os modos <strong>de</strong> articulação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dosconglomerados que a conformam (RODRÍGUEZ, 2009, p. 589).A reestruturação produtiva e tecnológica carrega consequências <strong>de</strong> médio e longoprazo à região, aos países e principalmente à população. Ao ampliar a exploração <strong>de</strong> recursosnaturais, a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> gases poluentes, a falta <strong>de</strong> infraestrutura básica como saneamento,potencializa um agravamento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.Diante <strong>de</strong> tais disparida<strong>de</strong>s entre países centrais e periféricos, as políticas <strong>de</strong>cooperação e alianças tornam-se “aliadas” como forma <strong>de</strong> compensação, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> trêscomponentes que caracterizam a chamada estratégia <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> sistêmica:A primeira <strong>de</strong>stas é tornar estáveis os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> inovação, como forma <strong>de</strong> acelerar aacumulação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s tecnológicas. “Tais sist<strong>em</strong>as têm <strong>em</strong> sua base os investimentos<strong>em</strong> educação, <strong>em</strong> capacitação <strong>em</strong> distintos âmbitos e, com graus diversos <strong>de</strong> concreção ouespecificida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> vários tipos e níveis <strong>de</strong> formação <strong>em</strong> ciência e tecnologia” (RODRÍGUEZ,2009, p. 591-592), ativida<strong>de</strong>s li<strong>de</strong>radas pelo Estado <strong>em</strong> parceria com o setor privado.Experiência que a América Latina começa a vivenciar fort<strong>em</strong>ente a partir dos anos 90, tendocomo um dos focos a juventu<strong>de</strong>. Mas, <strong>de</strong> que forma estas experiências vêm ocorrendo?61 A respeito do <strong>de</strong>bate entre centro e periferia, para um maior aprofundamento, ver Fernando Henrique Cardoso,Enzo Faletto, Octavio Rodriguez, entre outros.


38O segundo componente refere-se à transformação das estruturas produtivas, se<strong>de</strong>stina ao mercado <strong>de</strong> exportação, com o incentivo a ampliação dos ramos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>(RODRÍGUEZ, 2009). E, o terceiro componente refere-se à infraestrutura, além <strong>de</strong> voltar-seà melhoria da estrutura viária, objetiva: “[...] a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrigir o déficit regulatório, <strong>de</strong>racionalizar o uso dos passivos contingentes, <strong>de</strong> incidir com <strong>de</strong>cisão na eficiência das<strong>em</strong>presas públicas” (RODRÍGUEZ, 2009, p. 592).Tais estratégias eram utilizadas pelos países, com intensida<strong>de</strong> diferenciada, assimcomo o retorno <strong>de</strong> cada componente, mas a adoção <strong>de</strong>ssas propostas não modificou oresultado obtido ao longo dos anos, pois não foi suficiente para modificar a estruturaprodutiva, a expansão da produção <strong>de</strong> forma continuada, b<strong>em</strong> como uma posição mais segurano mercado internacional.Contudo, o caráter da educação e da produção do conhecimento recebe umreconhecimento crescente dos países latino-americanos, como uma forma <strong>de</strong> investimentopara o <strong>de</strong>senvolvimento. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> qualificação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aptidões torna-se ofoco para a “competitivida<strong>de</strong> internacional”, e, neste cenário surg<strong>em</strong> os diversos <strong>programa</strong>s<strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, objeto do próximo capítulo.Os anos 90, que <strong>de</strong>veriam servir para a institucionalização da or<strong>de</strong>m global neoliberal,na abertura das fronteiras entre os países, <strong>em</strong> curto prazo não resultaram <strong>em</strong> uma mudançapositiva na economia dos países, pelo contrário, houve um agravamento nos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>b<strong>em</strong>-estar-<strong>social</strong>, um aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.As reações políticas foram ocorrendo <strong>de</strong> diversas formas, com a criação <strong>de</strong> novospartidos, <strong>de</strong>monstrações populares pelos movimentos sociais, b<strong>em</strong> como a criação do FórumSocial Mundial <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001 62 .A <strong>de</strong>snacionalização foi acentuada. No ano 2000, das 200 maiores <strong>em</strong>presasexportadoras 98 eram estrangeiras. No período <strong>de</strong> 1998-2000, das 100 principais<strong>em</strong>presas manufatureiras, 59 eram estrangeiras e controlavam 62% das vendas. Osestrangeiros também controlavam respectivamente 76,5% e 54,5% dos ativos totaisdos bancos (LEIVA, 2009, p. 152).A década <strong>de</strong> 90 apresentou o maior índice <strong>de</strong> investimentos estrangeiros, <strong>de</strong>vido àsprivatizações, e, na primeira meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 2000 vivencia a diminuição <strong>de</strong>stes. Oincentivo para tais investimentos foi um gran<strong>de</strong> atrativo, investidores europeus e americanosdisputavam este mercado.62 O Fórum Social Mundial tinha como um dos objetivos a contraposição ao Fórum Econômico Mundial <strong>de</strong>Davos, o primeiro FSM ocorreu <strong>em</strong> Porto Alegre-RS/ Brasil.


39Na Tabela 1, abaixo, se <strong>de</strong>stacam os setores <strong>de</strong> investimento por países da região,entre 1996 e 2003.Tabela 1 - América Latina: distribuição setorial do investimento estrangeiro direto – 1996 – 2003 (<strong>em</strong>porcentag<strong>em</strong>).PAÍSESSETORES Argentina Brasil Chile Colômbia Equador México TotalPrimários 42,7 4,1 27,8 19,2 84,8 1,0 13,6Manufaturados 18,6 24,0 11,5 18,0 3,8 47,9 27,9Serviços 30,9 71,9 60,7 62,9 11,4 51,1 57,3Outros 7,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,2Fonte: LEIVA (2009).Os dados da Tabela 1 indicam que a maior distribuição setorial do investimentoestrangeiro na maioria dos países latino-americanos, entre 1996 e 2003, ocorreu no setor <strong>de</strong>serviços, que seriam os investimentos <strong>em</strong> bancos, seguros, associações <strong>de</strong> fundos <strong>de</strong> pensão e<strong>em</strong> serviços públicos resi<strong>de</strong>nciais como: água, luz, gás e telefonia (LEIVA, 2009). “Isso<strong>de</strong>monstra que, com a globalização, a América Latina foi uma região <strong>de</strong> disputa aberta entreos Estados Unidos e Europa. Na realida<strong>de</strong>, ocorreu um verda<strong>de</strong>iro processo <strong>de</strong> absorção porparte do capitalismo <strong>de</strong>senvolvido” (LEIVA, 2009, p. 153).Mas, com as crises financeiras que iniciam, como ex<strong>em</strong>plo, no final da década <strong>de</strong> 90no Brasil e no início da década <strong>de</strong> 2000 na Argentina, modificam-se os fluxos <strong>de</strong> capital naregião, e, mesmo após uma reorganização dos países, os investidores retiram seusinvestimentos, mantendo a <strong>de</strong>pendência dos países centrais. “A maior parte da AméricaLatina permanece altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos mercados financeiros internacionais, que, <strong>em</strong>troca, impõ<strong>em</strong> uma série <strong>de</strong> obrigações aos governos latino-americanos” (KAY, 2009, p.370), uma realida<strong>de</strong> permanente nos países latino-americano <strong>de</strong>ste o período colonial como jácitado no it<strong>em</strong> anterior.E a situação econômica no início da primeira década do século XXI <strong>de</strong>monstra oaprofundamento do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sigual e do sub<strong>de</strong>senvolvimento na América Latina,ao se avaliar a inserção dos países na economia mundial, através do crescimento doinvestimento estrangeiro, com a compra <strong>de</strong> muitas <strong>em</strong>presas já existentes.No período <strong>de</strong> 2000 a 2010, os resultados dos ajustes iniciados <strong>em</strong> 90 continuamindicando os <strong>de</strong>safios da América Latina para a transição <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> capitalismoindustrial tardio para uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação e conhecimento. Observam-se nesta


40década pequenas taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>em</strong> alguns países, mas, <strong>em</strong> sua maioria, osinvestimentos estrangeiros diminuíram e as moedas per<strong>de</strong>ram valor <strong>em</strong> comparação ao dólar(SEGRERA, 2009).A percepção <strong>de</strong> que, por um lado, s<strong>em</strong> o mercado, ninguém po<strong>de</strong> viver e, por outro,<strong>de</strong> que, somente com o mercado, também não po<strong>de</strong> viver uma crescente maioria daspopulações, dá-se <strong>em</strong> um contexto <strong>de</strong> aumento da escravidão, da servidão pessoal eda economia informal na forma <strong>de</strong> pequena produção mercantil in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte; oumelhor, do intercâmbio da força <strong>de</strong> trabalho e produtos, evitando o mercado, àmaneira dos movimentos piqueteros 63 na Argentina (SEGRERA, 2009, p. 349).Alguns movimentos na América Latina surg<strong>em</strong> como resposta <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>exclu<strong>de</strong>nte que se aprofunda com os ajustes estruturais, aumentando as mobilizações sociais epolíticas, lutando contra um contexto internacional <strong>social</strong>-<strong>de</strong>mocrata – países europeus e osEstados Unidos. Além <strong>de</strong>stes, o próprio ciclo recessivo da economia mundial e a fragilida<strong>de</strong>do Estado para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas públicas, dificultam uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mudança.“A globalização não acarretou uma convergência ou menores <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre ospaíses e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les, como pregavam os neoliberais; pelo contrário, acarretou <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>screscentes” (KAY, 2009, p. 364), beneficiando apenas um percentual <strong>de</strong> países, regiões,diferente da maior parte da população latino-americana. “Como consequência disso, aglobalização está associada a novos padrões <strong>de</strong> estratificação global, nos quais algunsEstados, socieda<strong>de</strong>s e comunida<strong>de</strong>s tornaram-se cada vez mais implicados na or<strong>de</strong>m global,ao passo que outros cada vez mais marginalizados” (KAY, 2009, p. 364).Assim como a própria <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre a socieda<strong>de</strong> latino-americana, on<strong>de</strong> poucos<strong>de</strong>têm um gran<strong>de</strong> percentual da economia e muitos uma pequena parcela, a disparida<strong>de</strong> entreos países centrais e periféricos se repete entre a população e os países 64 .Sob este aspecto, <strong>de</strong>staca-se que muitos países latino-americanos ainda conviv<strong>em</strong> comuma economia agrícola, com relações contraditórias, que envolv<strong>em</strong> o processo <strong>de</strong> reproduçãodo capitalismo, criando consequências sociais, acerca dos quais se probl<strong>em</strong>atizará no próximoit<strong>em</strong>.63 Este movimento argentino <strong>de</strong>monstra uma organização dos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> auto-gestão egoverno <strong>de</strong> caráter comunitário (SEGRERA, 2009).64 A diferença econômica entre os países latino-americanos cresceu nos últimos 25 anos. Os países maioresobtiveram uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento industrial diferente que os países menores, que ficaram somente<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultura e outros tradicionais (KAY, 2009).


2.3 O RECRUDESCIMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NA AMÉRICA LATINAA PARTIR DOS ANOS 9041Os ajustes estruturais na área econômica, que foram implantados na América Latina,durante a década <strong>de</strong> 80 e 90 principalmente, são parte das re<strong>de</strong>finições do campo políticoinstitucionale das relações sociais. Com a mundialização do capitalismo e a globalização dosmercados, as mudanças afetam diretamente as relações <strong>de</strong> trabalho, direitos antes adquiridos,b<strong>em</strong> como as políticas públicas – uma realida<strong>de</strong> que se insere gradativamente, nestas duasdécadas citadas, afetando diretamente o ingresso do jov<strong>em</strong> no mundo do trabalho.As modificações estruturais criaram efeitos arrasadores e estão focalizadas <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>parte da população que necessita <strong>de</strong> políticas públicas para a manutenção das suasnecessida<strong>de</strong>s básicas, como saú<strong>de</strong>, educação e assistência <strong>social</strong>. Mas, ao longo dos anos 90,principalmente, o que se observou na América Latina foi: a intensificação dos probl<strong>em</strong>asrelacionados ao trabalho, a falta ou o agravamento <strong>de</strong> infraestrutura pública, o retorno <strong>de</strong>doenças que estavam sob controle, o aumento da violência nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>, entre outros.Também se observou uma modificação na faixa etária da população, com o aumentoda expectativa <strong>de</strong> vida ao longo dos anos; diante da urbanização das cida<strong>de</strong>s e os avanços damedicina, cresce o número <strong>de</strong> pessoas idosas, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, aumenta o acesso aossist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e segurida<strong>de</strong> <strong>social</strong>, b<strong>em</strong> como do número <strong>de</strong> jovens que pressionam omercado <strong>de</strong> trabalho por uma oportunida<strong>de</strong>.Outro fator que revela as consequências dos ajustes estruturais na América Latina é oaumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>social</strong> na região, b<strong>em</strong> como do aumento da extr<strong>em</strong>a pobreza namaioria dos países, surgindo, na década <strong>de</strong> 90, na maioria dos países, <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>transferência <strong>de</strong> renda para famílias que se encontram nesta posição.Modifica-se o papel do Estado, diminuindo sua função <strong>social</strong> e acentuando o papel domercado, como se o mesmo fosse solucionar os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><strong>social</strong> existentes, sendo um dos propósitos dos ajustes <strong>de</strong> recorte neoliberal.As propostas encaminhadas pelo Consenso <strong>de</strong> Washington e pelo Banco Mundial,conforme <strong>de</strong>scritas no it<strong>em</strong> anterior, eram direcionadas ao investimento nas “pessoas”,principalmente a saú<strong>de</strong> e educação. “Consi<strong>de</strong>rava-se que tais políticas tinham valor duplo:levariam à maior produtivida<strong>de</strong>, e, portanto, ao melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho econômico, e, ao mesmot<strong>em</strong>po, aumentariam a equida<strong>de</strong> e a mobilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>s muito <strong>de</strong>siguais”(STALLINGS; PERES, 2002, p. 73).


42Apesar do gran<strong>de</strong> impacto <strong>social</strong>, a década <strong>de</strong> 90 apresentou uma pequena elevaçãonos gastos sociais <strong>em</strong> algumas áreas, na maioria dos países e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, uma falta <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong> e incentivo nas principais políticas, o que revelava a fragmentação das propostas e anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reforma na área <strong>social</strong>.A segurida<strong>de</strong> <strong>social</strong> foi uma das áreas on<strong>de</strong> cresceu o gasto <strong>social</strong>, assim como naeducação, pela exigência <strong>de</strong> maior cobertura e melhor qualida<strong>de</strong>, e na saú<strong>de</strong>, após algumasreformas, um maior acesso, mas tais investimentos não aten<strong>de</strong>ram a necessida<strong>de</strong> real dospaíses.Com a reestruturação produtiva e o seu conjunto <strong>de</strong> inovações tecnológicas <strong>de</strong> bas<strong>em</strong>icroeletrônica, e <strong>de</strong> uma “nova” organização do trabalho, com o uso do mo<strong>de</strong>lo flexível, acompetitivida<strong>de</strong> torna-se a lógica do mercado, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> sua concorrência intercapitalista,modificando as relações e condições <strong>de</strong> trabalho, impl<strong>em</strong>entando a flexibilização eaprofundando a precarização do trabalho 65 .El<strong>em</strong>entos que estão impondo,[...] <strong>em</strong> todas as dimensões das relações sociais e humanas: nas fábricas, nasoficinas, na indústria, nas localida<strong>de</strong>s, regiões e países, assim como na vidacotidiana, que cada vez mais fica exposta às vicissitu<strong>de</strong>s que marcam esobre<strong>de</strong>terminam a lógica do capital na sua vertente neoliberal e mercantilista(VALENCIA, 2009, p. 120).As modificações no mundo do trabalho, ao longo do processo <strong>de</strong> ajustes, provocaramum maior <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural, pois o aumento da produtivida<strong>de</strong> do trabalho, por um lado,intensifica as formas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> mais valia, por outro, economiza mão-<strong>de</strong>-obra,possibilitando a “competitivida<strong>de</strong>” diante do mercado globalizado, b<strong>em</strong> como o aumento do<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, a precarização do trabalho, aumento da informalização e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s precárias.Dados que justificam o aumento das ativida<strong>de</strong>s informais, terceirizadas, horistas,subcontratados, e do setor <strong>de</strong> serviços, diminu<strong>em</strong> os vínculos <strong>de</strong> trabalho por assalariamento,b<strong>em</strong> como a contribuição para a Previdência Social <strong>em</strong> todos os países, torna-se natural aalteração da legislação trabalhista e aumentam as críticas aos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> proteção <strong>social</strong>.[...] os patrões tiraram proveito da volatilida<strong>de</strong> do mercado, do aumento dacompetição, do estreitamento das margens <strong>de</strong> lucro, do enfraquecimento do po<strong>de</strong>rsindical e da gran<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra exce<strong>de</strong>nte, para impor<strong>em</strong> regimes e contratos <strong>de</strong>trabalho mais flexíveis (OLIVEIRA, 2005, p. 56).65 Enten<strong>de</strong>-se por precarização do trabalho o processo crescente <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> direitos, os regimes <strong>de</strong> exploraçãodo trabalho, o livre-arbítrio dos <strong>em</strong>pregadores (VALENCIA, 2009).


43Situação que impacta negativamente nos salários e nos direitos antes adquiridos, além<strong>de</strong> gerar insegurança, mas “apresentada” como inevitável diante da concorrência e damo<strong>de</strong>rnização tecnológica 66 . A fim <strong>de</strong> justificar esta situação, os intelectuais orgânicos daclasse dominante 67 utilizam argumentos que na sua essência ass<strong>em</strong>elham-se aos utilizadospelo movimento Luddista 68 , durante a Revolução Industrial, ao culpabilizar o maquinário pelasituação, fetichizando 69 o processo <strong>em</strong> curso e seu real objetivo <strong>de</strong> elevar as taxas <strong>de</strong>acumulação. É este contexto <strong>de</strong> transformações, <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> lutas<strong>de</strong>siguais que a juventu<strong>de</strong> encontra para sua inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho.Os investimentos <strong>em</strong> educação, <strong>em</strong>bora foss<strong>em</strong> mínimos, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram uma melhorano nível educacional <strong>em</strong> geral na América Latina, a partir dos anos 90, principalmente naeducação primária, atingindo diretamente os jovens, mas uma realida<strong>de</strong> que não se mostravasuficiente para competir por melhores salários e trabalho diante da baixa qualificação 70 , t<strong>em</strong>aque será aprofundado no próximo capítulo.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, as novas vagas do mercado <strong>de</strong> trabalho foram mínimas,principalmente aquelas assalariadas, o que contribui para a superexploração 71 do trabalho; e asorganizações sindicais, que mantinham um papel <strong>de</strong> resistência e conquista <strong>de</strong> direitos,tornam-se fracas, s<strong>em</strong> força política.Hoje, essa nova divisão internacional do trabalho está re<strong>de</strong>finindo e pressionando asantigas periferias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da América Latina para adotar<strong>em</strong> mudanças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>meconômica, produtiva e trabalhista, <strong>de</strong> acordo com a (nova) lógica da mundializaçãodo capital, caracterizada pela simultaneida<strong>de</strong> dos seus ciclos econômicos (produçãocirculação-produção)e pelo predomínio do neo-imperialismo como formadominante do modo <strong>de</strong> produção (VALENCIA, 2009, p. 114).66 Como ex<strong>em</strong>plo, a Argentina, o Chile e o Uruguai, apresentavam um dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> proteção <strong>social</strong> maisavançado, “Estados com capacida<strong>de</strong> reguladora, processos <strong>de</strong> expansão do mercado interno, <strong>de</strong> fomento ao<strong>de</strong>senvolvimento econômico, <strong>de</strong> garantias dos direitos sociais da população e <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços. A maisbrutal repressão que conheceram <strong>em</strong> suas histórias abriu campo para os mo<strong>de</strong>los neoliberais, os quaisproduziram modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Estados mínimos, privatizando parte do patrimônio público – praticamente todo,no caso Argentino – e abolindo direitos sociais conquistados ao longo <strong>de</strong> muitas décadas <strong>de</strong> luta” (SADER,2009, p. 50).67 São os intelectuais cuja função e atuações criam condições favoráveis a sua heg<strong>em</strong>onia.68 Luddismo foi um movimento que ficou bastante conhecido <strong>em</strong> 1811, na Inglaterra, e que pregava acon<strong>de</strong>nação da mecanização do trabalho, uma das maiores consequências da Revolução Industrial. O nome domovimento <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> Ned Ludd, um <strong>de</strong> seus lí<strong>de</strong>res e autor das primeiras cartas que ameaçavam os industriaisda cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nottingham.69 Forma <strong>de</strong> aparência que oculta a essência, isso é, mascara a relação <strong>social</strong>.70 Como ex<strong>em</strong>plo: “A situação se mostrava particularmente grave no Brasil, on<strong>de</strong> quase 60% da força <strong>de</strong>trabalho tinham seis anos ou menos <strong>de</strong> estudo <strong>em</strong> meados da década <strong>de</strong> 1990” (STALLINGS; PERES, 2002, p.133).71 A noção <strong>de</strong> superexploração explica como o capitalismo se reproduz nas economias periféricas, <strong>em</strong>bora seconsi<strong>de</strong>re como uma violação do valor da força <strong>de</strong> trabalho, não significa uma maior exploração. “Asuperexploração r<strong>em</strong>ete a uma forma <strong>de</strong> exploração <strong>em</strong> que não se respeita o valor da força <strong>de</strong> trabalho”(OSÓRIO, 2009, p. 175).


44Uma realida<strong>de</strong> que inicia na década <strong>de</strong> 90 e predomina na primeira década do séculoXXI, ou seja, on<strong>de</strong> o que se observa é um aumento da flexibilização do trabalho e suasuperexploração, essenciais para a sobrevivência do capitalismo 72 .A abertura dos mercados t<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrado o quanto a globalização t<strong>em</strong> atingido,economicamente e <strong>social</strong>mente, não apenas os países latino-americanos, mas também ospaíses centrais, criando novas periferias, formada pelas migrações <strong>em</strong> nível internacional,regional e local, no interior do próprio centro do capitalismo (VALENCIA, 2009).Tal realida<strong>de</strong> cria, além <strong>de</strong> novas consequências sociais, uma concorrência que forçaos países latino-americanos a manter o valor da mão-<strong>de</strong>-obra s<strong>em</strong>pre mais baixo, mantendo alógica <strong>de</strong> exploração dos monopólios centrais, mesmo <strong>em</strong> período <strong>de</strong> crise <strong>de</strong>stes países 73 .“As mudanças nas relações sociais <strong>de</strong> produção, que o capitalismo conseguiu com aglobalização, expressam-se <strong>em</strong> todas as categorias econômicas e na forma <strong>de</strong> síntese noslucros globais, na taxa <strong>de</strong> lucro e na reprodução do capital” (LEIVA, 2009, p. 149).Aprofundando também o atraso <strong>social</strong> da região, diante da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>competitivida<strong>de</strong> e do incentivo para a<strong>de</strong>rir a novos riscos do mercado, o que atingediretamente a educação, o <strong>em</strong>prego e a proteção <strong>social</strong>.Em relação à educação, <strong>em</strong>bora se observe um incentivo para a universalização daeducação primária <strong>em</strong> todos os países, os níveis secundário e superior apresentam dadosmuito inferiores se comparados com países centrais, o que dificulta a competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vagas, melhores salários e direitos sociais.Mesmo com um pequeno aumento dos investimentos na educação, principalmente naprimária, na década <strong>de</strong> 2000, como forma <strong>de</strong> incentivar e potencializar as “capacida<strong>de</strong>s” e“competências” dos jovens, a qualida<strong>de</strong> do ensino revela a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta política.Mas, é necessário <strong>de</strong>stacar que os investimentos na área <strong>social</strong>, na América Latina,aumentaram durante a primeira década <strong>de</strong> 2000, uma tendência que se fortaleceu,principalmente através dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda, como forma <strong>de</strong> potencializar72 Torna-se relevante <strong>de</strong>stacar que a reforma trabalhista da União Européia, que inicia nos anos 2000, vêmatingindo diretamente a classe trabalhadora <strong>de</strong>stes países, b<strong>em</strong> como o <strong>de</strong>smonte do Estado <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar,através da flexibilização da jornada <strong>de</strong> trabalho, muitas vezes ampliando-a apenas para a garantia do <strong>em</strong>prego,além dos <strong>de</strong>slocamentos das <strong>em</strong>presas transnacionais para locais on<strong>de</strong> o valor dos salários encontra-se maisbaixo, uma realida<strong>de</strong> que não atinge somente a América Latina neste século XXI (VALENCIA, 2009).73 “As maiores conquistas do neoliberalismo não aconteceram no plano econômico, campo que canalizava suasmaiores promessas, mas nos planos <strong>social</strong> e i<strong>de</strong>ológico. A combinação entre políticas <strong>de</strong> ‘flexibilizaçãolaboral’ – que na realida<strong>de</strong> se trata <strong>de</strong> precarização laboral, <strong>de</strong> expropriação do direito ao contrato formal <strong>de</strong>trabalho -, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego resultante <strong>de</strong> ajustes fiscais <strong>em</strong> nível governamental e <strong>de</strong>missões maciças no setorprivado, enfraqueceu profundamente os sindicatos e a capacida<strong>de</strong> negociadora dos trabalhadores, fragmentou eatomizou a força <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>slocou os t<strong>em</strong>as do trabalho e das relações <strong>de</strong> trabalho para o <strong>de</strong>bate político”(SADER, 2009, p. 51).


45o <strong>de</strong>senvolvimento econômico dos países: “Desse modo, a participação do gasto <strong>social</strong> no PIBpassou <strong>de</strong> 12,2% no período <strong>de</strong> 1990-1991 para 18,4% <strong>em</strong> 2007-2008. [...] aumentouconsi<strong>de</strong>ravelmente a sua participação no orçamento, <strong>de</strong> pouco menos <strong>de</strong> 45% a cerca <strong>de</strong> 65%dos gasto público total 74 ” (CEPAL, 2010, p. 33).As medidas redistributivas executadas pelos governos inci<strong>de</strong>m nas faixas etárias <strong>de</strong>crianças e jovens, através da transferência <strong>de</strong> renda às famílias com crianças e adolescentes,b<strong>em</strong> como para a juventu<strong>de</strong> com o objetivo <strong>de</strong> formação para o <strong>em</strong>prego. São <strong>programa</strong>svoltados para famílias <strong>de</strong> baixa renda, que, para receber tais valores, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seguircondicionalida<strong>de</strong>s voltadas à saú<strong>de</strong> e à educação, principalmente, configurando uma forma <strong>de</strong>controle da população beneficiária, e não um direito.Os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção ao trabalho para a juventu<strong>de</strong>, que surg<strong>em</strong>principalmente na década <strong>de</strong> 90, são também parte <strong>de</strong>ste aumento dos investimentos naPolítica <strong>de</strong> Assistência Social e do Trabalho, e surg<strong>em</strong> com objetivo <strong>de</strong> inserir os jovens nomercado, muitos <strong>de</strong>les, investindo na educação, mas este <strong>de</strong>bate será aprofundado no próximocapítulo, que trata sobre a juventu<strong>de</strong> e o mercado <strong>de</strong> trabalho: concepção, configuração <strong>em</strong>odalida<strong>de</strong> dos <strong>programa</strong>s.74 Cabe salientar que exist<strong>em</strong> diferenças significativas no percentual <strong>de</strong> investimento no gasto <strong>social</strong> entre ospaíses da região, alguns com menos <strong>de</strong> 8% do PIB, como Equador, Guat<strong>em</strong>ala e Peru, e outros até um quintodo PIB como Argentina, Brasil, e Uruguai (CEPAL, 2010).


463 A JUVENTUDE LATINO-AMERICANA E O MERCADO DE TRABALHO:CONFIGURAÇÃO E MODALIDADES DOS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO EINSERÇÃOO caminho que v<strong>em</strong> percorrendo a juventu<strong>de</strong> latino-americana, no século XXI, traz <strong>em</strong>sua bagag<strong>em</strong> um histórico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s transformações; são séculos <strong>de</strong> história, mudançaseconômicas, políticas e sociais, conforme <strong>de</strong>scritas no capítulo anterior, que repercut<strong>em</strong>diretamente no cotidiano dos jovens que se encontram inseridos ou não no mercado <strong>de</strong>trabalho ou <strong>em</strong> <strong>programa</strong>s voltados à capacitação.As consequências das reformas estruturais e da introdução <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong>estabilização, principalmente no final do século XX, afetaram a América Latina acarretando aintrodução <strong>de</strong> novas políticas para a juventu<strong>de</strong> e na criação <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s voltados àcapacitação e inserção do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho através dos organismosinternacionais.Para tanto, ao longo do capítulo, procura-se estabelecer uma reflexão que articulaalguns conceitos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e o papel da educação neste período <strong>de</strong> vida. Na segunda partedo capítulo, propõe-se uma reflexão que articula o surgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãopara a juventu<strong>de</strong> com as transformações no mundo do trabalho, principalmente na AméricaLatina. E, por fim, um mapeamento dos <strong>programa</strong>s que surgiram a partir <strong>de</strong> 1990 <strong>em</strong> algunspaíses da América Latina.3.1 JUVENTUDE LATINO-AMERICANA: suas configurações e o papel da educaçãoSendo o foco <strong>de</strong>sta tese os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, torna-serelevante conceituar a juventu<strong>de</strong> <strong>em</strong> seu aspecto histórico, político, sociológico e cultural,pois, ao longo da história, o papel do jov<strong>em</strong> na socieda<strong>de</strong> também se modificou.O imaginário sobre o conceito <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> r<strong>em</strong>ete a diversas associações, tantopositivas quanto negativas, ou seja, po<strong>de</strong> estar relacionada à beleza, alegria e jovialida<strong>de</strong>,como para a violência, rebeldia entre outros. Mas <strong>de</strong> fato, a busca do jov<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre esteveassociada a sua passag<strong>em</strong> para a vida adulta, <strong>em</strong> “como” vivenciar este período <strong>de</strong> transição.A educação historicamente esteve associada à juventu<strong>de</strong>, como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>concretizar além das mudanças físicas, as sociais e políticas – um olhar que inicia na Europa,no século XIX, com o surgimento das instituições <strong>de</strong> ensino (CRUZ; SILVA, 2006).


O século XIX potencializou outras imagens acerca do protagonismo <strong>social</strong> dajuventu<strong>de</strong>. Assim como outros atores sociais, a juventu<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnavivência a dialética da socieda<strong>de</strong> burguesa, <strong>em</strong> sua busca por incorporar ousubstituir o status aristocrático por outras atitu<strong>de</strong>s e posturas socioculturais (CRUZ;SILVA, 2006, p. 03).47Assim, incorporando i<strong>de</strong>ias e atitu<strong>de</strong>s que eram compartilhadas <strong>social</strong>mente pelosjovens, nos limites societários que se encontravam inseridos. E, para ex<strong>em</strong>plificar o quanto osjovens foram historicamente configurando juventu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>staca-se a juventu<strong>de</strong> operária, quelogo no início do século XIX, na Europa, já formava gran<strong>de</strong> parte da força <strong>de</strong> trabalho nasfábricas, on<strong>de</strong> assumiam todos os <strong>de</strong>veres dos adultos, mas s<strong>em</strong> os mesmos direitos(PERROT, 1996). “O século XIX t<strong>em</strong> medo <strong>de</strong> sua juventu<strong>de</strong>, e particularmente <strong>de</strong> suajuventu<strong>de</strong> operária, da qual se t<strong>em</strong>e a vagabundag<strong>em</strong>, a libertinag<strong>em</strong> e o espírito contestador”(PERROT, 1996, p. 85), caracterizados por três figuras simbólicas: o aprendiz, o apache <strong>de</strong>Paris e a pequena operária <strong>de</strong> costura (PERROT, 1996).O aprendiz seria aquele jov<strong>em</strong> que <strong>de</strong>ixava seu trabalho para voltar-se às ruas dacida<strong>de</strong>, praticando alguns tipos <strong>de</strong> furtos, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns e tumultos, sustentava-se por bicos,rompendo seus laços com a família e vivendo isoladamente 75 . Diferente do aprendiz, osapaches <strong>de</strong> Paris 76 , que surg<strong>em</strong> no final do século XIX e início do XX, eram jovens entre 18e 20 anos, que viviam <strong>em</strong> grupos nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, conhecidos por praticar <strong>de</strong>litos comouma forma <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à socieda<strong>de</strong> suas imposições e a condição <strong>de</strong> proletário dos pais(PERROT, 1996).Os apaches, <strong>em</strong>bora vivess<strong>em</strong> na periferia <strong>de</strong> Paris, reivindicavam o centro da cida<strong>de</strong>,o consumo <strong>de</strong> bens e vestuário e sonhavam <strong>em</strong> frequentar bons lugares (PERROT, 1996). Emrelação à pequena operária da costura, i<strong>de</strong>alizada pelo romantismo do período, e pelaimaginação dos homens, era também conhecida como a grisette ou costureirinha galante(PERROT, 1996).Mas, estes grupos eram uma parcela da juventu<strong>de</strong>, <strong>em</strong> sua maioria, eram jovensoperários, que se encontravam cotidianamente nas fábricas, revelando com o passar do t<strong>em</strong>po,o gran<strong>de</strong> mal para a saú<strong>de</strong> que tal realida<strong>de</strong> impunha à juventu<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como para as criançasque ainda se encontravam nas fábricas (PERROT, 1996). As relações <strong>de</strong> trabalho nesteperíodo eram precárias, os jovens recebiam somente alojamento e alimentação, além da falta75 “[...] o aprendiz é o burro <strong>de</strong> carga da oficina, bom para tudo e para nada [...] até constitu<strong>em</strong> o meio essencial<strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> mercadorias” (PERROT, 1996, p. 105).76 Uma <strong>de</strong>nominação que surge da imprensa, ao mencionar os <strong>de</strong>litos dos jovens. “Michelle Perrot (1988) aoestudar os porquês da <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>ste grupo <strong>social</strong> <strong>de</strong> Apaches, percebeu que, <strong>de</strong>ntre as várias explicaçõescolocadas, havia a associação com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> índios selvagens que não se a<strong>de</strong>quavam aos valores vigentes”(CRUZ; SILVA, 2006, p. 04).


48<strong>de</strong> higiene nos locais, <strong>em</strong> sua maioria, não mantinham contrato <strong>de</strong> trabalho por escrito atéfinal do século XIX.O trabalho na fábrica para o jov<strong>em</strong> era muitas vezes também familiar, pois suaativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria estar voltada a auxiliar os pais ou irmãos, e aqueles que recebiam salário, omesmo era incorporado ao <strong>de</strong>les. Além disso, <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> frequentar a escola, sendo este umdos principais propósitos dos jovens ao ingressar nas fábricas (PERROT, 1996).Em 1892, final do século XIX, as leis voltadas ao trabalho começam a se modificar naEuropa, fixando <strong>em</strong> 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> para ingresso, um controle que ocorria principalmentenas gran<strong>de</strong>s indústrias, limitando a jornada dos menores <strong>de</strong> 16 anos a <strong>de</strong>z horas, apenas apósos 18 anos o regime se ass<strong>em</strong>elhava aos adultos (PERROT, 1996). Um movimento que indicao fim do trabalho infantil, mas mantendo o incentivo para os jovens a partir dos 13 anos. Oinício da ida<strong>de</strong> adulta era consi<strong>de</strong>rado quando o jov<strong>em</strong> adquiria a in<strong>de</strong>pendência financeira, ocasamento ou a constituição <strong>de</strong> família.No final do século XIX e início do XX, a juventu<strong>de</strong> também começa a sercaracterizada como juventu<strong>de</strong>-probl<strong>em</strong>a. Como ex<strong>em</strong>plo, a imag<strong>em</strong> da juventu<strong>de</strong> fascista(Itália), a juventu<strong>de</strong> nazista (Al<strong>em</strong>anha), b<strong>em</strong> como da juventu<strong>de</strong> transviada nos EstadosUnidos (PASSERINI, 1996).Os jovens que acompanharam o regime fascista 77 durante seus 20 anos <strong>de</strong> dominaçãodo país, tanto na Al<strong>em</strong>anha quanto na Inglaterra, viveram uma realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a relação entrejuventu<strong>de</strong> e valores patrióticos estava s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> primeiro plano.O nascimento das organizações juvenis fascistas coincidiu com a fundação dosgrupos fascistas (fasci sansepolcristi) <strong>em</strong> 1919, quando se formaram as Vanguardasestudantis com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enquadrar militarmente os estudantes; estes últimosparticiparam das violências dos dois anos sucessivos ao lado dos esquadrõesfascistas (PASSERINI, 1996, p. 322).Destaca-se também que os próprios lí<strong>de</strong>res do movimento tinham ida<strong>de</strong> entre 18 e 40anos, ou seja, faziam parte da própria geração, fortalecendo a conexão juventu<strong>de</strong>/guerra.Em relação à juventu<strong>de</strong> nazista, o ser jov<strong>em</strong>, não se referia principalmente a umgrupo <strong>social</strong> ou as mudanças biológicas, mas principalmente à vinculação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>Weltanschauung – nacional – <strong>social</strong>ista (MICHAUD, 1996).77 Na Itália, “No imediato pós-guerra, tratou-se, sobretudo, <strong>de</strong> estudantes provenientes da pequena burguesiaurbana, submetido à crise que atingia as categorias com renda fixa; <strong>de</strong> novo seus m<strong>em</strong>bros mais jovens seencontraram expostos ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e sub<strong>em</strong>prego, o que era acentuado pela condição <strong>de</strong> ex-combatentes”(PASSERINI, 1996, p. 322).


49A escola era consi<strong>de</strong>rada como o local on<strong>de</strong> a “aprendizag<strong>em</strong>” focava-se nadiscriminação pelos ju<strong>de</strong>us, a saudação “Heil Hitler” era repetida <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 150 vezes pelosjovens no seu cotidiano. As juventu<strong>de</strong>s hitleristas <strong>de</strong>viam ser as verda<strong>de</strong>iras escolas da nação,pois tinham por <strong>de</strong>ver iniciar um processo <strong>de</strong> educação permanente. As ativida<strong>de</strong>s físicas paraos jovens também iniciavam fort<strong>em</strong>ente nos 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Assim como o “casamentobiológico”, on<strong>de</strong> as jovens eram estimuladas pelo Füher a engravidar como uma forma <strong>de</strong>assegurar a reprodução do “material humano” (MICHAUD, 1996) – uma realida<strong>de</strong> queestimulou os jovens por muitos anos.Na década <strong>de</strong> 1950, diferente da realida<strong>de</strong> europeia, surge nos Estados Unidos o termoteenager para conceituar a juventu<strong>de</strong> e suas características, on<strong>de</strong> as discussões sobreadolescência que iniciaram nos primeiros anos do século XX, se concretizam logo após aSegunda Guerra Mundial. Neste ano surge também o estatuto legal e <strong>social</strong> queregulamentava o período da adolescência (PASSERINI, 1996).Os teenagers caracterizavam uma geração consi<strong>de</strong>rada “privilegiada” nos EstadosUnidos, pois se <strong>de</strong>stacavam pela coesão, o autoconhecimento e espírito comunitário diantedos interesses comuns, um dos clássicos que os simbolizava eram os filmes <strong>de</strong> James Dean etambém Elvis Presley, entre outros (PASSERINI, 1996).Na América Latina, no século XX, logo após o período que suce<strong>de</strong> a II GuerraMundial, a juventu<strong>de</strong> começou a conquistar um novo espaço <strong>em</strong> diversas áreas como: naciência, na igreja, na socieda<strong>de</strong>, na mídia e no mercado. Um período on<strong>de</strong> a industrializaçãoiniciada nos países latino-americanos, visualiza o jov<strong>em</strong> como sujeito <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>consumo (BARBIANI, 2007). “No momento <strong>em</strong> que inicia o ingresso na socieda<strong>de</strong> ampla, ojov<strong>em</strong> <strong>de</strong>scortina condições e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> existência que o tornam consciente tanto dascondições reais como das <strong>em</strong>ergentes” (IANNI, 1968, p. 228).Um período on<strong>de</strong> a urbanização, a migração das famílias do campo para a cida<strong>de</strong>auxiliam na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos produtos <strong>de</strong> consumo e novas possibilida<strong>de</strong>s para o jov<strong>em</strong>,que também se caracterizou pela inserção do mesmo a ação política <strong>em</strong> alguns países (IANNI,1968).A <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>sta etapa <strong>de</strong> vida também se modificou ao longo do t<strong>em</strong>po,chamado <strong>de</strong>: adolescência 78 , puberda<strong>de</strong>, jov<strong>em</strong>, fase adulta, jov<strong>em</strong> adulto e <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>,78 “Adolescência é uma fase <strong>de</strong> preparação psicos<strong>social</strong> para a ida<strong>de</strong> adulta e a socieda<strong>de</strong>, fase da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma individualida<strong>de</strong> [...] É um estágio <strong>em</strong> que os <strong>de</strong>senvolvimentos pré-genitais, genitaise psicológicos da infância encontram padrões culturais <strong>de</strong> um meio <strong>social</strong> no qual o indivíduo terá <strong>de</strong> serealizar e continuar a evolução” (GROPPO, 2000, p. 61). Uma realida<strong>de</strong> muitas vezes difícil <strong>de</strong> encontrar,diante da realida<strong>de</strong> <strong>social</strong> dos países, muitas vezes, algumas etapas não são vivenciadas.


termos que conceituam essa fase <strong>de</strong> transição <strong>em</strong> diversas áreas, na psicologia, na sociologia ena educação.50Antigamente, e não tanto, o trânsito da infância à ida<strong>de</strong> adulta não contava com esse“fole” t<strong>em</strong>poral e anímico que hoje é a juventu<strong>de</strong>, e era garantido por ritos <strong>de</strong>passag<strong>em</strong> consagrados, assim como pela incorporação precoce dos homens à vidaprodutiva e das mulheres à vida reprodutiva. As divisões sexual e etária do trabalho<strong>de</strong>ixavam pouco espaço para ser jov<strong>em</strong> e refletir sobre a juventu<strong>de</strong> (CEPAL;AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 09).As transformações que ocorreram também reflet<strong>em</strong> as mudanças no papel da família apartir do período <strong>de</strong> urbanização e industrialização 79 , o que influencia diretamente ajuventu<strong>de</strong>, pois o aumento do número <strong>de</strong> mulheres que começam a ingressar no mercado <strong>de</strong>trabalho modifica as relações familiares, b<strong>em</strong> como do ingresso dos jovens <strong>em</strong> uma ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> trabalho. Além disso, os meios <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> massa inva<strong>de</strong>m as casas com imagens“i<strong>de</strong>alizadas” <strong>de</strong> família e juventu<strong>de</strong>.São diferentes cenários que surg<strong>em</strong> para os jovens, e o mais observado eram aquelesque expressass<strong>em</strong> a rebeldia e o <strong>de</strong>scontentamento frente à realida<strong>de</strong> <strong>social</strong>; um perfil qu<strong>em</strong>uda ao longo do t<strong>em</strong>po, diante das próprias contradições da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado e das<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, principalmente pelo <strong>em</strong>pobrecimento e a falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.A sua inserção <strong>social</strong> também se modificou ao longo dos anos, na década <strong>de</strong> 60, ajuventu<strong>de</strong> caracterizava-se pelo protagonismo <strong>em</strong> questões políticas, sociais, culturais e nosconflitos <strong>de</strong> gerações, predominantes neste período 80 . A partir dos anos 70, com as mudançaseconômicas e políticas, o foco da juventu<strong>de</strong> também se fixa na luta pela inserção no mercado<strong>de</strong> trabalho (SPOSITO, 1997).Torna-se relevante <strong>de</strong>stacar que a ida<strong>de</strong> da juventu<strong>de</strong>, que t<strong>em</strong> sido utilizado pelamaioria dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação na América Latina, compõe jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos 81 ,um novo recorte t<strong>em</strong>poral, mas alguns institutos <strong>de</strong> pesquisa ainda realizam o levantamento<strong>de</strong> dados somente até os 24 anos.79 A partir <strong>de</strong>ste período <strong>de</strong> industrialização, observa-se uma cronologização da vida, na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar osestágios/fases que se vivencia.80“A juventu<strong>de</strong> típica do século XX, a juventu<strong>de</strong> ‘rebel<strong>de</strong>-s<strong>em</strong>-causa’, radical ou <strong>de</strong>linquente é,primordialmente, uma imag<strong>em</strong> baseada no jov<strong>em</strong> das chamadas ‘novas classes médias’. [...] São outrasjuventu<strong>de</strong>s que construíram para si representações e relações sociais concretas distintas, <strong>em</strong> diversos graus, dopadrão consi<strong>de</strong>rado i<strong>de</strong>al ou típico da juventu<strong>de</strong> <strong>em</strong> sua época” (GROPPO, 2000, p. 16).81 Como ex<strong>em</strong>plo, a partir da série dos Censos D<strong>em</strong>ográficos brasileiros é possível avaliar a evolução docontingente <strong>de</strong> 15 a 24 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Muito <strong>em</strong>bora os efetivos absolutos apresent<strong>em</strong> uma tendência <strong>de</strong>crescimento, este experimenta um paulatino processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>saceleração a partir da década <strong>de</strong> 70. Em 1940,eram 8,2 milhões <strong>de</strong> jovens neste grupo etário e 30 anos <strong>de</strong>pois estes jovens e adultos jovens já somavam 18,5milhões. Em anos mais recentes, 1991 e 1996, os respectivos censos populacionais enumeraram 28,6 e 31,1milhões <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> 15 a 24 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. (IBGE, População Jov<strong>em</strong> no Brasil, p. 02).


51Os diferentes recortes geracionais 82 do público-alvo dos <strong>programa</strong>s para a juventu<strong>de</strong>,conforme os dados que serão apresentados no it<strong>em</strong> 3.3, indicam o quanto o conceito <strong>de</strong>juventu<strong>de</strong>, <strong>em</strong> cada socieda<strong>de</strong>, está vinculado à estrutura <strong>social</strong> <strong>em</strong> que este jov<strong>em</strong> vive, seuuniverso específico, além da dimensão psicos<strong>social</strong>.A Sociologia, ao conceituar a categoria juventu<strong>de</strong>, foca-se na situação <strong>social</strong> dosjovens e sua transição para a fase adulta. “Neste sentido a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> comportaria, <strong>de</strong>forma ambígua, características <strong>de</strong> uma categoria <strong>social</strong> <strong>de</strong>terminada por critérios biológicos ecaracterísticas representativas <strong>de</strong> grupos e/ou indivíduos que se i<strong>de</strong>ntificam <strong>social</strong> eculturalmente” (CRUZ; SILVA, 2006, p. 08).A juventu<strong>de</strong>, neste novo recorte geracional, <strong>de</strong>staca-se também por ser um período <strong>de</strong>inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho. Jovens que cotidianamente pressionam a economia para a“criação” <strong>de</strong> novos postos <strong>de</strong> trabalho, uma contracorrente, uma oferta mais elevada que a<strong>de</strong>manda existente. “O período da juventu<strong>de</strong> prolonga-se na medida <strong>em</strong> que os processos <strong>de</strong><strong>em</strong>ancipação dos jovens são retardados por diversos motivos, como a ampliação do período<strong>de</strong> formação escolar para enfrentar as exigências do mercado <strong>de</strong> trabalho” (ABRAMOVAY;CASTRO, 2006, p. 10).Mas, para <strong>de</strong>finir juventu<strong>de</strong> é necessário <strong>de</strong>stacar que na realida<strong>de</strong> convive-se com‘juventu<strong>de</strong>s’, on<strong>de</strong> a situação socioeconômica <strong>de</strong> cada jov<strong>em</strong> irá influenciar e modificar omodo <strong>de</strong> viver essa fase. “A criação das juventu<strong>de</strong>s é um dos fundamentos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, ea existência da multiplicida<strong>de</strong> quase que incontrolável <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>s é um sinal <strong>de</strong> que estefundamento, assim como outros fundamentos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, possui suas contradições”(GROPPO, 2000, p. 18) – são juventu<strong>de</strong>s no plural que se encontram e reencontram nocotidiano da socieda<strong>de</strong>.Juventu<strong>de</strong>, também entendida como uma categoria <strong>social</strong>, com um limite etário que aolongo dos anos foi se modificando, e que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste período dos 15 aos 29 anos, exist<strong>em</strong>outras fases importantes como a adolescência e fase adulta:Ao ser <strong>de</strong>finida como categoria <strong>social</strong>, a juventu<strong>de</strong> torna-se, ao mesmo t<strong>em</strong>po, umarepresentação sociocultural e uma situação <strong>social</strong> [...]ou seja, a juventu<strong>de</strong> é umaconcepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais oupelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série <strong>de</strong>comportamentos e atitu<strong>de</strong>s a ela atribuídos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, é uma situação vivida<strong>em</strong> comum por certos indivíduos (GROPPO, 2000, p. 07, 08).82 Que caracterizam um conceito biológico <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>.


52Tal representação que t<strong>em</strong> sido foco <strong>de</strong> estudo e da mídia principalmente neste séculoXXI, por um lado, pelo incentivo ao consumo através <strong>de</strong> produtos direcionados a este público,ou uma parte <strong>de</strong>ste, e por outro, pelo aumento da violência, tráfico e homicídios entre osjovens. Realida<strong>de</strong>s opostas que <strong>de</strong>monstram o quanto a questão socioeconômica <strong>de</strong> cadasocieda<strong>de</strong> revela a possibilida<strong>de</strong> ou não da existência <strong>de</strong> uma juventu<strong>de</strong> para todos os jovens(BRITTO, 1968).As situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> existentes nos países latino-americanos, muitas vezesgeradas pela qualida<strong>de</strong> do acesso à educação, cultura, renda, saú<strong>de</strong> ou até mesmo pela falta<strong>de</strong>stes, revelam o quanto os recursos são escassos, diminuindo as chances <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> oulazer, fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento da juventu<strong>de</strong>. Além disso:[...] muito distinta é a situação <strong>de</strong> jovens urbanos e rurais, <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> grupossocioeconômicos carentes <strong>em</strong> relação a outros que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> domicílios <strong>de</strong> maiorrenda, <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> 15 a 19 anos <strong>em</strong> contraste com outros <strong>de</strong> 20 a 24, ou <strong>de</strong> 25 a 29,<strong>de</strong> jovens com pouca ou com muita educação formal, <strong>de</strong> jovens mulheres <strong>em</strong> relaçãoa jovens homens, <strong>de</strong> jovens indígenas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes (CEPAL; AECID; SEGIB;OIJ, 2008, p. 11).As diferenças do próprio critério etário e o nível socioeconômico do jov<strong>em</strong> também s<strong>em</strong>odificam <strong>de</strong> acordo com sua nacionalida<strong>de</strong>, grupo étnico, gênero 83 e contexto <strong>social</strong>(GROPPO, 2000). “Cada juventu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> reinterpretar à sua maneira o que é “ser jov<strong>em</strong>”,contrastando-se não apenas <strong>em</strong> relação a crianças e adultos, mas também <strong>em</strong> relação a outrasjuventu<strong>de</strong>s” (GROPPO, 2000, p. 15).E, <strong>de</strong>ntre a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jovens, muitos se encontram <strong>em</strong> famílias <strong>em</strong> situação <strong>de</strong>pobreza ou extr<strong>em</strong>a-pobreza, afetando especialmente jovens <strong>de</strong> 16 a 19 anos. São distintas asoportunida<strong>de</strong>s, para muitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições familiares 84 , das políticas públicas 85ofertadas e da qualida<strong>de</strong> do ensino.83 A presente pesquisa não preten<strong>de</strong> focar-se na questão <strong>de</strong> gênero ao discutir os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãovoltados à juventu<strong>de</strong> e sua inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, mas torna-se relevante <strong>de</strong>stacar que a juventu<strong>de</strong>vivida pela mulher se difere da juventu<strong>de</strong> vivida pelo hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> vários aspectos: educação, inserção aotrabalho, sexualida<strong>de</strong> entre outros.84 Além da situação socioeconômica da família, este núcleo v<strong>em</strong> se modificando, <strong>de</strong>finindo papéis e alterando acomposição <strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros por ida<strong>de</strong>, pelo número <strong>de</strong> filhos, <strong>social</strong>izam normas e a forma <strong>de</strong> legitimar aautorida<strong>de</strong> (CEPAL; AECID; SEGIB; OIJ, 2008). “Estas mudanças favorec<strong>em</strong> o surgimento <strong>de</strong> novas formas<strong>de</strong> organização familiar na América Latina: famílias monoparentais, lares com pessoas sós, uniões <strong>de</strong> fato,jovens que não constitu<strong>em</strong> famílias, famílias recompostas ou complexas, famílias a distância, famíliashomoparentais e outras” (CEPAL; AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 257). Mas, <strong>em</strong> muitos casos, o chamado“lar” não se apresenta como o local mais seguro ao vivenciar situações <strong>de</strong> violência, expulsando o jov<strong>em</strong> parauma realida<strong>de</strong> muitas vezes <strong>de</strong> risco.85 As políticas públicas ofertadas para os jovens na América Latina são, <strong>em</strong> sua maioria, elaboradas para umaparcela <strong>de</strong>stes, principalmente aqueles consi<strong>de</strong>rados <strong>em</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ou risco <strong>social</strong> (ABRAMOVAY;CASTRO, 2006).


53E, para pensar sobre a inclusão no mercado <strong>de</strong> trabalho após as transformaçõesestruturais, é necessário direcionar o olhar para a educação que historicamente é consi<strong>de</strong>radaum dos principais espaços <strong>de</strong> <strong>social</strong>ização para o jov<strong>em</strong>.Mas, a educação na América Latina, <strong>em</strong>bora se observe que, a partir dos anos 90,tenha ocorrido um aumento no número <strong>de</strong> crianças e jovens ingressando no sist<strong>em</strong>aeducacional, r<strong>em</strong>ete para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ensino, além dadiferenciação ao comparar-se o ensino privado com o público. On<strong>de</strong>,O aumento na oferta <strong>de</strong> vagas para o ensino público não foi <strong>de</strong>vidamenteacompanhado por um controle da qualida<strong>de</strong> da educação que se oferecia. Comoresultado, passou a ser ineficiente diante da nova realida<strong>de</strong>, provocando um aumentocrescente nos níveis <strong>de</strong> repetência e também nas avaliações negativas sobre osconhecimentos adquiridos (ABRAMOVAY et al., 2002, p. 44).Outro agravante que configura uma realida<strong>de</strong> no cotidiano <strong>de</strong> muitos jovens seria oquanto estes abandonam os estudos diante da falta <strong>de</strong> perspectivas <strong>de</strong> trabalho ou até mesmopara ingressar neste mercado, “[...] comprometendo muitas vezes seu processo <strong>de</strong> formação ecapacitação profissional” (ABRAMOVAY et al., 2002, p. 45) e, por outro lado, jovens quenão chegam a se alfabetizar.Embora o número <strong>de</strong> jovens analfabetos tenha diminuído consi<strong>de</strong>ravelmente, aindacompõe os dados relativos à educação na América Latina on<strong>de</strong>, do total <strong>de</strong> jovens entre 15 e24 anos – 104milhões: 2% são analfabetos; 19% 86 estudaram até o nível primário; 65% 87estudaram até o nível secundário e 14% estudaram até o nível superior (OIT, 2010a).São dados que <strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos <strong>em</strong> educação para ajuventu<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora exista um avanço se comparados com o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da populaçãoadulta e o acesso a novas tecnologias da informação e das comunicações; por outro lado, osresultados ainda são muito tímidos diante dos dados <strong>de</strong> ingresso <strong>em</strong> nível mundial.Além disso, é necessário salientar a estreita relação entre educação e trabalho, oquanto estão interligados, muitas vezes finalizar os estudos é uma opção para o jov<strong>em</strong>, maspara muitos não, o trabalho assume integralmente sua rotina. E, neste contexto que surg<strong>em</strong> os<strong>programa</strong>s e projetos para a juventu<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> instrumentos para aprofundar oconhecimento do jov<strong>em</strong> e “qualificar” as políticas públicas.Os estudos da CEPAL e UNESCO indicam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento naeducação, sua universalida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver “capacida<strong>de</strong>s” e acesso a86 Compõ<strong>em</strong> este grupo aqueles que não finalizaram o primário ou que estão estudando.87 Compõ<strong>em</strong> este grupo aqueles que estão estudando.


54“oportunida<strong>de</strong>s”, e, <strong>em</strong>bora se observe um avanço na educação <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> acesso,acessibilida<strong>de</strong>, aceitabilida<strong>de</strong> e o aumento no investimento público 88 , a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ensinomuitas vezes <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser avaliada, comprometendo os resultados. Além disso, é necessárioavaliar quais as oportunida<strong>de</strong>s que estão disponíveis para os jovens? Quais “capacida<strong>de</strong>s” omercado vêm exigindo?Outro dado importante <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar é que, na maioria dos países, a exigência daobrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> finalização dos estudos é somente para o nível primário, <strong>de</strong>ixando paraescolha do jov<strong>em</strong> o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> finalizar ou não o ensino secundário, pois neste ciclo <strong>de</strong> vida,muitos estão realizando ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estágio ou ingressando no mercado <strong>de</strong> trabalho 89 .Com frequência, os jovens mais pobres não terminam seus estudos básicos e seincorporam ao mercado <strong>de</strong> trabalho assalariado <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s por conta própria ou<strong>de</strong> caráter familiar, <strong>de</strong> maneira precária, com baixa renda e ausência <strong>de</strong> acesso aossist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> proteção <strong>social</strong>, o que reforça sua condição <strong>de</strong> pobreza ouvulnerabilida<strong>de</strong> e exacerba as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênciasmais especializadas (CEPAL; AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 129).A realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong> condições socioeconômicas menos favoráveis secomparados com jovens que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> famílias <strong>de</strong> classe média e média alta, se diferenciam<strong>em</strong> muitas situações, sendo a educação formal uma das principais; enquanto que para algunsexiste a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir nos estudos e adiar o ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, paraoutros <strong>de</strong>ixar o estudo é o foco principal <strong>de</strong> vida.A relação existente entre educação e mercado <strong>de</strong> trabalho v<strong>em</strong> se modificando diantedas transformações econômicas, criando novas e complexas <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> qualificação, além<strong>de</strong> alterar a utilização da mão-<strong>de</strong>-obra já existente.E, para tratar <strong>de</strong>ste “novo” mercado <strong>de</strong> trabalho e sua relação com os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação para a juventu<strong>de</strong>, no it<strong>em</strong> 3.2 discorre-se sobre dois enfoques conceituais paraanálise: mercado <strong>de</strong> trabalho e <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, ou seja, asmodificações que este mercado vivenciou principalmente a partir dos anos 80, b<strong>em</strong> como88 Torna-se relevante <strong>de</strong>stacar que o percentual <strong>de</strong> investimento público na educação entre os países latinoamericanosse diferencia entre si e entre os níveis educativos (primário, secundário, terciário): “Há países on<strong>de</strong>o gasto público anual por estudante <strong>em</strong> qualquer dos níveis não supera 500 dólares (Bolívia, Colômbia, ElSalvador, Guat<strong>em</strong>ala, Nicarágua, República Dominicana, Paraguai e Peru); na Guat<strong>em</strong>ala e Nicarágua estesvalores não superam os 100 dólares anuais. Num conjunto amplo <strong>de</strong> países (Argentina, Brasil, Chile, CostaRica, Cuba, México, Panamá e Uruguai) se <strong>de</strong>stinam recursos significativos que variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 500 a 2.500dólares, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do nível educativo, com bastante heterogeneida<strong>de</strong> entre si e <strong>em</strong> relação à concentração <strong>de</strong>recursos por estudante nos diversos níveis”. (CEPAL, AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 119).89 Além disso, “Entre os jovens <strong>de</strong> 15 a 19 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que pertenc<strong>em</strong> ao primeiro <strong>de</strong>cil <strong>de</strong> renda per capita(mais pobre) e que estudam, só 44% estão <strong>em</strong> dia, frente a 88% dos jovens do <strong>de</strong>cil <strong>de</strong> renda mais rico”(CEPAL, AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 125). Em torno <strong>de</strong> 2006, os dados indicam que somente 51% dosjovens ibero-americanos finalizaram o ensino secundário (CEPAL; AECID; SEGIB; OIJ, 2008).


sobre o surgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> a partir dos anos 90 naAmérica Latina.553.2 MERCADO DE TRABALHO E PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA AJUVENTUDE NA AMÉRICA LATINAPara discorrer sobre o mercado <strong>de</strong> trabalho e os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para ajuventu<strong>de</strong>, é necessário compreendê-los no âmbito cultural, político, <strong>social</strong> e econômico <strong>em</strong>que estes se inser<strong>em</strong>, com suas particularida<strong>de</strong>s locais e territoriais. Para tanto, <strong>de</strong>ve-secontextualizar qual mercado <strong>de</strong> trabalho se encontra disponível para a juventu<strong>de</strong>, após os anos<strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong>pois das mudanças <strong>de</strong>correntes da reestruturação produtiva.Destaca-se também a criação dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação que surg<strong>em</strong> como respostaaos Objetivos do Milênio, às modificações estruturais e ao aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego juvenil naAmérica Latina, através <strong>de</strong> políticas voltadas aos jovens que vivenciam as incertezas domercado <strong>de</strong> trabalho, a precarização <strong>de</strong> suas relações e situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong>.As primeiras propostas dos <strong>programa</strong>s para a juventu<strong>de</strong> surg<strong>em</strong> através dos governosibero-americanos 90 , a partir da década <strong>de</strong> 1990, quando iniciam a criação <strong>de</strong> leis para ajuventu<strong>de</strong>, a elaboração e execução <strong>de</strong> planos e <strong>programa</strong>s além <strong>de</strong> pesquisas sobre o jov<strong>em</strong> 91 .No ano <strong>de</strong> 1985, as Nações Unidas já <strong>de</strong>claravam que este seria o ano Internacional daJuventu<strong>de</strong>, com a aprovação <strong>de</strong> diretrizes que <strong>de</strong>veriam orientar futuras ações; <strong>em</strong> 1995 aAss<strong>em</strong>bleia Geral aprova o Programa <strong>de</strong> Ação Mundial para os jovens até o ano 2000; <strong>em</strong>1998 é aprovada a Declaração <strong>de</strong> Lisboa sobre políticas e <strong>programa</strong>s voltados à juventu<strong>de</strong> e<strong>em</strong> 2008 é <strong>de</strong>clarado o ano Ibero-Americano da Juventu<strong>de</strong>.Ações que surg<strong>em</strong> com o propósito <strong>de</strong> garantir direitos aos jovens, e, na ConvençãoIbero-Americana <strong>de</strong> Direitos dos Jovens (2008) <strong>de</strong>staca-se o quanto os governos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> secomprometer a adotar medidas necessárias para garantir aos jovens, <strong>de</strong>ntre várioscompromissos, o direito <strong>de</strong> capacitar-se para acessar melhores <strong>em</strong>pregos; além disso, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>fomentar políticas <strong>de</strong> estímulo as <strong>em</strong>presas como forma <strong>de</strong> inserção.90 Compõ<strong>em</strong> os países da América Latina e três países da Península Ibérica (Portugal, Espanha e Andorra).91 “[...] um número crescente <strong>de</strong> países está ratificando a Convenção Ibero-Americana <strong>de</strong> Direitos dos Jovens(CIDJ). Essa Convenção, que entrou <strong>em</strong> vigor <strong>em</strong> 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008, e é o único tratado internacional domundo que reconhece a juventu<strong>de</strong> como sujeito específico <strong>de</strong> direito e ator estratégico do <strong>de</strong>senvolvimento, foielaborada e promovida pela OIJ” (CEPAL; AECID; SEGIB; OIJ, 2008, p. 26). Países que ratificaram aConvenção: República Dominicana, Equador, Costa Rica, Honduras, Espanha, Uruguai e Bolívia. Países queassinaram e estão <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> ratificação: Cuba, Guat<strong>em</strong>ala, México, Panamá, Nicarágua, Paraguai, Peru,Portugal e Venezuela. Países que ainda não assinaram: Argentina, Colômbia, El Salvador, Chile, Andorra eBrasil. Disponível <strong>em</strong>: www.oij.org/convencion.


56A realida<strong>de</strong> a ser enfrentada pela juventu<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao <strong>em</strong>prego, principalmente apartir dos anos <strong>de</strong> 1990, t<strong>em</strong> se apresentado como uma preocupação mundial; a criação <strong>de</strong>tantas leis e <strong>programa</strong>s surge da realida<strong>de</strong> observada principalmente na década <strong>de</strong> 90, nospaíses latino-americanos, on<strong>de</strong> os ajustes estruturais foram implantados na maioria dos países.A capacitação para o trabalho também é uma preocupação <strong>de</strong>scrita entre os Objetivose Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio 92 , pois as mudanças econômicas, políticas etecnológicas e um crescimento econômico entre baixo e mo<strong>de</strong>rado, na maioria dos países,tiveram efeitos adicionais na composição do <strong>em</strong>prego (WELLER, 2006).Para muitos jovens o <strong>em</strong>prego po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o principal acesso à inclusão<strong>social</strong>, pois <strong>de</strong>ve possibilitar a manutenção das necessida<strong>de</strong>s básicas dos sujeitos e o acesso àproteção <strong>social</strong>, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o sentimento <strong>de</strong> pertencimento. E, para a juventu<strong>de</strong>,conforme os conceitos apresentados no it<strong>em</strong> anterior, ingressar no mercado <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong>ser uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar as mudanças que esta fase <strong>de</strong>termina.Trata-se <strong>de</strong> uma juventu<strong>de</strong> que t<strong>em</strong> vivenciado as mudanças estruturais que ocorrerama partir dos anos 70, após as transformações políticas e econômicas e com o início dareestruturação produtiva. Uma juventu<strong>de</strong> que sofre, gradativamente, as consequências domundo capitalista, suas modificações nas relações e condições <strong>de</strong> trabalho e um mercado comum elevado grau <strong>de</strong> exigência, competitivida<strong>de</strong> e enxuto.A acumulação <strong>de</strong> capital, a exploração da mão-<strong>de</strong>-obra e a ampliação das<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, transformam o cotidiano <strong>de</strong> trabalho da maioria dos jovens: “[...] aconfiguração do mundo do trabalho é cada vez mais transnacional. Com a reconfiguração,tanto do espaço quanto do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> produção, novas regiões industriais <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e muitas<strong>de</strong>saparec<strong>em</strong>, além <strong>de</strong> se inserir<strong>em</strong> cada vez mais no mercado mundial” (ANTUNES, 2005, p.80).As mudanças no mundo do trabalho são historicamente favoráveis ao gran<strong>de</strong> capital, e,após a globalização e a as modificações estruturais na economia, as relações tornaram-se maisflexíveis e informais nas contratações, ocorrendo as <strong>de</strong>sregulamentações dos direitos antesadquiridos. Criam-se “novas” modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contrato entre <strong>em</strong>pregado e <strong>em</strong>pregador,diminuindo, consi<strong>de</strong>ravelmente, o <strong>em</strong>prego formal, atingindo principalmente a juventu<strong>de</strong>,pois:92 O Oitavo objetivo indica “Fomentar uma associação mundial para o <strong>de</strong>senvolvimento” e especificamente ameta 16: “Em cooperação com os países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento elaborar e aplicar estratégias que proporcion<strong>em</strong>aos jovens um trabalho digno e produtivo”. E, na 93ª Conferência Internacional do Trabalho, <strong>em</strong> 2005, a OITassumiu o compromisso <strong>de</strong> buscar o trabalho <strong>de</strong>cente para os jovens como um el<strong>em</strong>ento crucial para avançarna erradicação da pobreza e para alcançar o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável (OIT, 2010b).


57[...] a crescente exclusão dos jovens, que atinge a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong>trabalho e, s<strong>em</strong> perspectiva <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, acaba muitas vezes engrossando as fileirasdos trabalhos precários, dos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, s<strong>em</strong> perspectivas <strong>de</strong> trabalho, dada avigência da socieda<strong>de</strong> do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural (ANTUNES, 2005, p. 78).Além disso, o movimento <strong>de</strong> globalização 93 , <strong>de</strong> expansão do comércio e produtos e dainter<strong>de</strong>pendência entre os países, t<strong>em</strong> produzido nos países latino-americanos, ao longo dosanos, uma série <strong>de</strong> consequências que contribu<strong>em</strong> para a permanência da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> como:as diferenças salariais entre os países centrais e periféricos, as privatizações <strong>de</strong> estatais,criando um aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, entre outras mudanças que ating<strong>em</strong> a divisão <strong>social</strong> dotrabalho e a condição salarial da maioria dos trabalhadores. “[...] A velocida<strong>de</strong> das trocas t<strong>em</strong>crescido <strong>em</strong> ritmo acelerado nos últimos anos, numa integração entre países comandada pelasgran<strong>de</strong>s corporações <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas multinacionais” (CARMO, 2004, p. 11).A mundialização da economia e a financeirização do capital 94 criam um mercadovirtual, algo que não é concreto, palpável. E, para “gerenciar” este mercado, surg<strong>em</strong> as<strong>em</strong>presas transnacionais que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>: os tipos <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego assalariado, o tipo <strong>de</strong> gestão daforça <strong>de</strong> trabalho e o perfil do trabalhador, e neste contexto que <strong>de</strong>ve se inserir o jov<strong>em</strong>.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, se exige e <strong>de</strong>manda para a juventu<strong>de</strong>, condições <strong>de</strong> se “autoajustar”,como se foss<strong>em</strong> objetos, pois: “Viv<strong>em</strong>os numa socieda<strong>de</strong> que visivelmente <strong>de</strong>scarta esecundariza pessoas” (MARTINS, 2002, p. 19), fortalecendo a precarização do trabalho euma “criativida<strong>de</strong>” nas diferentes formas <strong>de</strong> contratar, principalmente os jovens e mulheres,“[...] começa a tornar-se claro que precarização do <strong>em</strong>prego e do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego se inseriram nadinâmica atual da mo<strong>de</strong>rnização” (CASTEL, 2008, p. 516).São contradições produzidas pelo próprio capital, vive-se no final do século XX umdiscurso sobre o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e suas “vantagens” para o ingresso no mercado<strong>de</strong> trabalho, mas poucos consegu<strong>em</strong> acessar tal progresso, pois: “A socieda<strong>de</strong> que exclui é amesma socieda<strong>de</strong> que inclui e integra, que cria formas também <strong>de</strong>sumanas <strong>de</strong> participação, namedida <strong>em</strong> que <strong>de</strong>las faz condição <strong>de</strong> privilégios e não <strong>de</strong> direitos” (MARTINS, 2008, p. 11).93 “A globalização implica mudança no ritmo da indústria, do comércio, das comunicações e dos transportes,configurando uma situação <strong>de</strong> crescente inter<strong>de</strong>pendência econômica entre os países. [...] A velocida<strong>de</strong> dastrocas t<strong>em</strong> crescido <strong>em</strong> ritmo acelerado nos últimos anos, numa integração entre países comandada pelasgran<strong>de</strong>s corporações <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas multinacionais” (CARMO, 2004, p. 11).94 “O fetichismo dos mercados financeiros, que apresenta as finanças como potências autônomas diante dassocieda<strong>de</strong>s nacionais escon<strong>de</strong>m o funcionamento e a dominação operada pelo capital transnacional einvestidores financeiros, que atuam mediante o efetivo respaldo dos estados nacionais sob a orientação dosorganismos internacionais, porta-vozes do gran<strong>de</strong> capital financeiro e das gran<strong>de</strong>s potências internacionais”(IAMAMOTO, 2008, p. 109).


58As modificações <strong>de</strong>correntes da chamada revolução tecnológica ating<strong>em</strong> vários níveis:os métodos <strong>de</strong> produção, a organização das fábricas, das <strong>em</strong>presas, dos serviços e a própriapolítica <strong>de</strong> financiamento dos governos, portanto aquele que se encontra “fora” <strong>de</strong>ste acessotambém sofre perdas, e po<strong>de</strong>rá ficar a um passo do abismo (MARTINS, 2008). “As <strong>em</strong>presasna competitivida<strong>de</strong> travada entre elas, visando reduzir o t<strong>em</strong>po entre produção e consumo,incentivam ao limite essa tendência restritiva do valor <strong>de</strong> uso das mercadorias” (ANTUNES,2005, p. 43).Tantas modificações estruturais agravaram o ingresso do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong>trabalho, principalmente a partir da meta<strong>de</strong> dos anos 90, com maior porcentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> algunspaíses na década <strong>de</strong> 2000. “Além disso, observou-se menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção do setorinformal, o que se traduziu <strong>em</strong> altas e persistentes taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>em</strong> alguns países,apesar <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> importante crescimento econômico” (CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ, 2008,p. 170), aumentando o percentual <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong> setores <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>.Como ex<strong>em</strong>plo, os dados da América Latina e Caribe indicam que há cerca <strong>de</strong> 106milhões <strong>de</strong> jovens entre 15 e 24 anos, <strong>de</strong>stes, 58 milhões contabilizam a força <strong>de</strong> trabalho,quase 10 milhões estão <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados e 30 milhões trabalham na economia informal. Outros48 milhões são consi<strong>de</strong>rados inativos, pois não trabalham e não buscam trabalho (CEPAL;AECID; CEGIB; OIJ, 2008).Os dados citados <strong>de</strong>monstram quantitativamente que a meta<strong>de</strong> dos jovens latinoamericanosestão <strong>em</strong>pregados, mas <strong>em</strong> sua maioria inseridos <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s informais, comcontratos s<strong>em</strong> garantias <strong>de</strong> proteção <strong>social</strong>, terceirizados, subcontratados, sendo este o únicopercentual que <strong>de</strong>monstra crescimento <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong> crise no capital financeiro. “Issoporque o capital necessita cada vez menos do trabalho estável e cada vez mais <strong>de</strong> trabalhopart time, terceirizado, que se encontra <strong>em</strong> enorme crescimento no mundo produtivoindustrial e <strong>de</strong> serviços” (ANTUNES, 2005, p. 42).Embora as taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego tenham <strong>de</strong>monstrado uma pequena diminuição entreos anos <strong>de</strong> 2004 e 2007 na América Latina, o tipo <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho não s<strong>em</strong>odificou, conforme os dados da tabela 2.


Tabela 2: América Latina (17 países ): Indicadores <strong>de</strong> trabalho para jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<strong>em</strong> torno dos 1990, 2000 e 2005. (Em médias simples)Total Homens MulheresMedição <strong>em</strong>torno <strong>de</strong>:1990 2000 2005 1990 2000 2005 1990 2000 2005Taxa <strong>de</strong>participação56,6 58,1 57,8 74,7 71,6 70,7 39,7 45,1 45,4Taxa <strong>de</strong>ocupação49,3 49,3 50,6 66,5 62,8 63,6 33,1 36,2 38,0Taxa <strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego12,8 16,1 12,5 10,9 13,6 10,2 15,9 20,0 15,8Porcentag<strong>em</strong><strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregadoque busca há17,8 15,8 10,9 17,2 15,5 9,7 18,2 16,1 12,0um ano oumaisTaxa <strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregorelativa à taxa<strong>de</strong>2,68 2,30 2,73 2,54 2,25 2,63 2,80 2,36 2,89<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregoadultoPorcentag<strong>em</strong><strong>de</strong> estudantes22,0 23,9 25,4 21,6 23,0 24,1 22,8 24,9 26,7Porcentag<strong>em</strong><strong>de</strong> inativosque nãoestudam n<strong>em</strong> 4,4 3,7 4,1 4,8 3,9 4,4 3,7 3,5 3,8se <strong>de</strong>dicam aafazeresdomésticosPorcentag<strong>em</strong><strong>de</strong> ocupados<strong>em</strong> setores <strong>de</strong> 48,7 50,7 45,7 47,0 48,8 43,2 51,1 53,2 49,0baixaprodutivida<strong>de</strong>Fonte: CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ (2008).59Conforme os dados da Tabela 2, quase a meta<strong>de</strong> do percentual <strong>de</strong> jovens que se inseriua partir dos anos 1990 no mercado <strong>de</strong> trabalho foi <strong>em</strong> setores <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>, ou seja,<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s instáveis, burocráticas, pouco qualificadas, s<strong>em</strong> conteúdo e questionamento,rotinizadas e com ausência <strong>de</strong> perspectiva profissional, mas as realizam diante da falta <strong>de</strong>alternativas e <strong>em</strong>prego no mercado formal 95 (BAJOIT; FRANSSEN, 2007).Os dados também indicam que os homens mantiveram-se por mais t<strong>em</strong>po no sist<strong>em</strong>aeducativo, e as mulheres, <strong>em</strong>bora ainda apresent<strong>em</strong> taxas inferiores <strong>de</strong> participação,95 Especificamente no Brasil, os dados do IBGE <strong>de</strong> 2000, apontam 34.092.224 <strong>de</strong> jovens com ida<strong>de</strong> entre 15 e 24anos, um dado significativo mesmo diante do envelhecimento da população brasileira e a <strong>de</strong>saceleração docontingente <strong>de</strong> jovens, pois com a falta <strong>de</strong> perspectiva no mercado <strong>de</strong> trabalho, é necessário repensar comoinseri-los. Pois, convive-se com <strong>de</strong> 3,5 milhões <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, com ida<strong>de</strong> entre 16 e 24 anos, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>45% da força <strong>de</strong> trabalho nacional (OIT, 2010b).


60aumentaram seu percentual se comparados entre os anos <strong>de</strong> 1990 a 2005. A tendência que seobserva é o encurtamento na brecha entre ambos os sexos <strong>em</strong> relação à participação nomercado <strong>de</strong> trabalho 96 .A falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s para a juventu<strong>de</strong>, no final do século XX e início do séculoXXI, faz aumentar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>social</strong>, a competição e o individualismo que caracteriza esteséculo, limitando-a muitas vezes a sair <strong>de</strong> uma condição <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong>. Em sua maioria,receb<strong>em</strong> uma educação precária, que não correspon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s do mercado <strong>de</strong>trabalho, contribuindo para a inserção no mercado informal, com a exploração do capital.Como já referido anteriormente, para a juventu<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> condiçõeseconômicas, a educação é uma forma <strong>de</strong> inclusão no mercado <strong>de</strong> trabalho, mas muitos, comcondições <strong>de</strong> qualificar-se, disputam vagas que não necessitariam <strong>de</strong> tanta qualificação, sendoque :“Os jovens realmente não-qualificados corr<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong> não ter nenhuma alternativapara o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, visto que os postos que po<strong>de</strong>riam ocupar estão tomados por outros maisqualificados que eles” (CASTEL, 2008, p. 520).Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a juventu<strong>de</strong> vivencia dois tipos <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho: o mercado<strong>de</strong> trabalho primário, mais restrito, formado por jovens com relações mais estáveis, relaçõesformais <strong>de</strong> trabalho, salários b<strong>em</strong> pagos, com a qualificação exigida, disponibilida<strong>de</strong> paraviagens, instrumentos <strong>de</strong> trabalho necessários (notebooks, smartfones), flexibilida<strong>de</strong> nohorário e disponibilida<strong>de</strong> 24 horas por dia. E, por outro lado, na sua maioria, o mercadosecundário, formado por trabalhadores menos qualificados, relações <strong>de</strong> trabalho precarizadas,<strong>de</strong> exploração, com uma carga horária formal <strong>de</strong> 10, 12 ou 14 horas, s<strong>em</strong> direitos garantidos, e“[...] submetidos às flutuações da <strong>de</strong>manda” (CASTEL, 2008, p. 524).Estes dois tipos <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong>bora tão diferenciadas, estão submetidas às<strong>de</strong>mandas do mercado, e mesmo não concorrendo diretamente entre si, <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong>crise, po<strong>de</strong>rão concorrer on<strong>de</strong> aquele percentual <strong>de</strong> jovens que conseguiu qualificar-se <strong>em</strong>nível terciário, assumindo vagas on<strong>de</strong> a exigência escolar é mínima diante <strong>de</strong> seus anos <strong>de</strong>estudo.Os dados da OIT – Organização Internacional do Trabalho indicam que, <strong>em</strong> nívelmundial: “Uma <strong>em</strong> cada cinco pessoas com ida<strong>de</strong> entre 15 e 24 anos está <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada, ou96 Embora o texto não se proponha a tratar sobre a questão <strong>de</strong> gênero e sua relação com o mercado <strong>de</strong> trabalho,torna-se relevante <strong>de</strong>stacar que o <strong>em</strong>prego f<strong>em</strong>inino t<strong>em</strong> especificida<strong>de</strong>s que se inter-relacionam com asmudanças mais recentes, pois as mulheres continuam sendo representadas no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s domésticas ealgumas áreas do setor <strong>de</strong> serviços (comércio, hotéis, restaurantes e outros), que também se relacionam àsativida<strong>de</strong>s domésticas. Mesmo com o aumento da escolarização das mulheres, as mudanças no tipo <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> não segu<strong>em</strong> a mesma tendência, <strong>em</strong> sua maioria, principalmente com o aumento significativo doscontratos terceirizados (CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ, 2008).


61seja, 88 milhões <strong>de</strong> jovens, que representam mais <strong>de</strong> 40% do total <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. Destes,85% encontram-se <strong>em</strong> países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento” (OIT, 2010b); sendo que à perspectiva <strong>de</strong>660 milhões <strong>de</strong> jovens ingressando no mercado <strong>de</strong> trabalho nos próximos <strong>de</strong>z anos.Com as taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>em</strong> alta na maioria dos países latino-americanos, oingresso no mundo do trabalho formal para a juventu<strong>de</strong> se distancia; almejá-lo, qualificar-separa disputar uma vaga, não será suficiente diante da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. E otrabalho, fonte <strong>de</strong> sobrevivência, <strong>de</strong> criação, per<strong>de</strong> suas características diante da <strong>de</strong>mandaofertada.A satisfação das necessida<strong>de</strong>s humanas, muitas vezes submete os sujeitos a situações<strong>de</strong> humilhação e exploração da mão-<strong>de</strong>-obra por uma questão <strong>de</strong> sobrevivência. O <strong>em</strong>pregoformal, principalmente, que s<strong>em</strong>pre assumiu um sentido <strong>de</strong> pertencimento para a juventu<strong>de</strong>com o ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, dá lugar à sensação <strong>de</strong> “não pertencimento”, que setorna parte do cotidiano <strong>de</strong> suas vidas após as mudanças estruturais ao longo do processo <strong>de</strong>reestruturação.Tais modificações ating<strong>em</strong> as relações sociais, criam os supranumerários, formadosprincipalmente pela juventu<strong>de</strong>, sujeitos que precisam lidar com a falta <strong>de</strong> trabalho, ou oschamados inúteis para o trabalho – vítimas das transformações na organização do trabalho eda sua exploração e precarização. Situações que “[...] alimentam a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong> eproduz<strong>em</strong>, no final do percurso, o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>sfiliação” (CASTEL, 2008, p. 516), formascotidianas não mais atípicas que a juventu<strong>de</strong> t<strong>em</strong> se <strong>de</strong>parado.O jov<strong>em</strong> t<strong>em</strong> aparecido como retrato projetivo da socieda<strong>de</strong>, con<strong>de</strong>nsando angústias,medos e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, esperanças <strong>em</strong> relação às tendências sociais percebidasno presente, e aos rumos que essas tendências imprim<strong>em</strong> para a conformação <strong>social</strong>futura (FEFFERMANN; FIGUEIREDO, 2006, p. 37).A falta <strong>de</strong> perspectiva diante das profundas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, especialmente nospaíses que compõ<strong>em</strong> a América Latina, faz com que a juventu<strong>de</strong> tenha que lidarcotidianamente com o mal estar da civilização.A diversida<strong>de</strong> e a constante <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> nas formas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, através daflexibilização interna e externa e as novas relações entre <strong>em</strong>pregado e <strong>em</strong>pregador, criam umadinâmica da mo<strong>de</strong>rnização, pois: “[...] a precarização do trabalho é um processo central,comandado pelas novas exigências tecnológicas e econômicas da evolução do capitalismomo<strong>de</strong>rno” (CASTEL, 2008, p. 526) que alimenta a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong>.


62E, muitas vezes, ao ingressar neste mercado <strong>de</strong> trabalho, a competitivida<strong>de</strong> geradapelos <strong>em</strong>pregadores, a exigência <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> e o fomento pelo individualismo funcionamcomo “[...] uma máquina <strong>de</strong> vulnerabilizar, e até mesmo como uma máquina <strong>de</strong> excluir”(CASTEL, 2008, p. 519).E, para muitos jovens, o sentimento gerado é <strong>de</strong> anulação, ser <strong>de</strong>scartado, <strong>de</strong> umsujeito que, para a socieda<strong>de</strong>, “ele” não consegue se incluir, não está <strong>em</strong> constanteinstrumentalização, criando uma sensação <strong>de</strong>: “Exclusão <strong>social</strong>, medo <strong>de</strong> se tornar ninguémou coisa alguma, <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scartado e banalizado, o medo daquilo que não se vê” (MARTINS,2008, p. 20), invadindo a juventu<strong>de</strong> um individualismo <strong>de</strong> massa.Segundo os dados da Tabela 3, a proporção <strong>de</strong> jovens ocupados no setor <strong>de</strong> baixaprodutivida<strong>de</strong>, relacionado com os anos <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong>monstra a forte relação existente entre osanos <strong>de</strong> estudo e as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho.Tabela 3 - América Latina (12 países): Proporção <strong>de</strong> jovens ocupados no setor <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>,por sexo, segundo o nível educativo, <strong>em</strong> torno dos anos 1990, 2000 e 2005 (<strong>em</strong> médiassimples)Total Homens MulheresAnos <strong>de</strong>estudo1990 2000 2005 1990 2000 2005 1990 2000 2005Total 49,6 51,5 46,8 47,8 49,2 44,3 52,0 54,5 50,10-3 68,3 72,8 68,8 63,2 65,8 62,6 78,9 85,5 76,84-6 62,8 65,7 62,7 57,2 60,5 56,2 74,6 77,2 75,57-9 51,2 58,8 55,1 46,6 52,9 49,0 61,0 70,4 67,810-12 33,5 40,4 37,6 32,3 37,2 33,9 35,7 45,2 43,313 e mais 15,9 19,1 17,4 16,0 19,4 17,0 15,7 18,9 18,0Fonte: CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ (2008)Os dados da Tabela 3 indicam que a maioria dos jovens que ingressam nas ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong> são aqueles que apresentam até 9 anos <strong>de</strong> estudo, ou seja, <strong>em</strong> suamaioria que apenas finalizaram o ensino fundamental, mas também se <strong>de</strong>stacam os dados querevelam: mesmo com o ensino médio completo ou <strong>em</strong> curso, muitos jovens também seencontram nestas ativida<strong>de</strong>s.Assim, a melhoria do nível educativo da força <strong>de</strong> trabalho juvenil significou quen<strong>em</strong> todos os jovens com melhor educação pu<strong>de</strong>ram se inserir nas ocupaçõespreviamente “reservadas” para pessoas <strong>de</strong> seu nível educativo, exercendo <strong>de</strong>stamaneira uma “pressão para baixo” nos <strong>em</strong>pregos disponíveis (CEPAL; AECID;CEGIB; OIJ, 2008, p. 182).


63Um dado que reforça a lógica do mercado, ou seja, a necessida<strong>de</strong> da concorrência, damaior <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> jovens que a oferta <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos disponíveis, forçando-os a aceitar<strong>em</strong> oingresso <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s que não correspon<strong>de</strong>m ao seu nível educativo.Mas ainda assim, os jovens mais afetados frente ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego são s<strong>em</strong>pre aquelesque apresentam a menor renda per capita, b<strong>em</strong> como os jovens do meio rural, on<strong>de</strong> asoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho se restring<strong>em</strong> a ativida<strong>de</strong>s familiares ou t<strong>em</strong>porárias, muitas vezesnão r<strong>em</strong>unerados ou com baixa r<strong>em</strong>uneração, s<strong>em</strong> segurida<strong>de</strong> <strong>social</strong> e com uma forteexigência física (CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ, 2008).Outro fator que fragiliza o ingresso no mundo do trabalho é o primeiro <strong>em</strong>prego, poismuitas vezes o jov<strong>em</strong> fica por mais t<strong>em</strong>po na busca <strong>de</strong>sta oportunida<strong>de</strong>, se comparados comjovens que já realizaram alguma experiência profissional, além disso, as questões <strong>de</strong> etnia,gênero e <strong>de</strong>ficiência 97 (CEPAL; AECID; CEGIB; OIJ, 2008).Também se <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar que, <strong>em</strong>bora as taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para a juventu<strong>de</strong>tenham oscilado a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 2000, o surgimento <strong>de</strong> novas vagasou a manutenção das existentes está vinculado às taxas <strong>de</strong> crescimento econômico dos países,que, diante das crises, fragiliza novamente o ingresso ou a permanência no mercado <strong>de</strong>trabalho.A juventu<strong>de</strong> encontra-se s<strong>em</strong>pre sobre crescente pressão por competir <strong>em</strong> mercadosnão mais regionais, mas globalizados, submetendo-se a uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>sua maioria, voltadas a trabalhos por conta própria, informal ou na criação <strong>de</strong> micro<strong>em</strong>presas.A primeira década do século XXI, principalmente sua segunda meta<strong>de</strong>, t<strong>em</strong><strong>de</strong>monstrado que até mesmo os países consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>senvolvidos, vêm enfrentando umaumento nos cortes <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos e na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência <strong>social</strong>, on<strong>de</strong>:As gran<strong>de</strong>s corporações multinacionais <strong>de</strong>mit<strong>em</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong>trabalhadores e, na busca <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos, terceirizam parte <strong>de</strong> seu trabalho etransfer<strong>em</strong> suas operações para países do Terceiro Mundo, com mão-<strong>de</strong>-obra maisbarata. ‘Crescimento s<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego’ é a expressão utilizada pela ONU para ofenômeno atual (CARMO, 2004, p. 79).Diante <strong>de</strong>stas modificações <strong>em</strong> países <strong>de</strong> economias avançadas, nos países periféricoso que se percebe é a instalação <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do trabalho, on<strong>de</strong> se observa ocrescimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s precárias, a padronização e a banalização da exploração dotrabalhador.97 Muitas vezes a restrição na inserção ao mercado <strong>de</strong> trabalho também ocorre para mulheres jovens, com baixonível educativo, s<strong>em</strong> experiência <strong>de</strong> trabalho, maternida<strong>de</strong> adolescente e que pertençam a famílias pobres(CEPAL, AECID; CEGIB; OIJ, 2008).


64A classe trabalhadora t<strong>em</strong> misturado dimensões local, regional, nacional einternacional diante do processo <strong>de</strong> mundialização produtiva, ampliando as fronteiras domundo do trabalho (ANTUNES, 2005). “Assim como o capital torna ‘supérfluas’ suasmercadorias, s<strong>em</strong> as quais, entretanto, não po<strong>de</strong> sobreviver, o mesmo capital torna ‘supérflua’sua mercadoria, força <strong>de</strong> trabalho s<strong>em</strong> a qual também não po<strong>de</strong> sobreviver” (ANTUNES,2005, p. 28).Tal flexibilização t<strong>em</strong> criado consequências significativas para os trabalhadores,excluindo o jov<strong>em</strong> do mercado, e, muitas vezes, incluindo a criança diante da mão-<strong>de</strong>-obraescrava e explorada. O aumento do acesso da mulher ao mercado <strong>de</strong> trabalho também <strong>de</strong>veser observado, pois os dados muitas vezes exclu<strong>em</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> salarial se comparados aodo universo masculino.Realida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>safiam cotidianamente os governos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticase <strong>programa</strong>s para a juventu<strong>de</strong>: Como enfrentar um mercado <strong>de</strong> trabalho restrito a poucasvagas <strong>de</strong> trabalho e as condições do mercado? Como estimular o jov<strong>em</strong> a ingressar <strong>em</strong><strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação diante da falta <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego formal? Quais os objetivos <strong>de</strong>stes<strong>programa</strong>s? Não seriam novas estratégias do capital? São questionamentos que encaminhampara o próximo it<strong>em</strong> do capítulo, on<strong>de</strong> se apresenta um mapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação para a juventu<strong>de</strong>, criados pelos governos latino-americanos, a partir <strong>de</strong> 1990, b<strong>em</strong>como para o próximo capítulo.3.3 PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE: MAPEAMENTO DAS EXPERIÊNCIASLATINO-AMERICANASConforme explicitado anteriormente, os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>,que iniciam a partir da década <strong>de</strong> 90, <strong>de</strong>veriam ocupar uma posição estratégica para a inserçãodo jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, principalmente após o surgimento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregoestrutural na América Latina. Embora os <strong>programa</strong>s se ass<strong>em</strong>elh<strong>em</strong> no público-alvo <strong>de</strong> suasações e <strong>em</strong> alguns objetivos, exist<strong>em</strong> particularida<strong>de</strong>s significativas diante da trajetória <strong>de</strong>cada país.Nesta parte do capítulo a intenção é sintetizar as principais características dos<strong>programa</strong>s governamentais, seus objetivos, características e público-alvo, visando possibilitara construção <strong>de</strong> um panorama dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> <strong>em</strong> execução naAmérica Latina a partir <strong>de</strong> 1990.


65Além disso, optou-se por informar o número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s executados pelo setorprivado (socieda<strong>de</strong> civil, organizações não governamentais, entre outros) mesmo não sendoeste o objeto <strong>de</strong> pesquisa.Tais <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> surg<strong>em</strong>, conforme <strong>de</strong>scrito no it<strong>em</strong>3.2, após várias ações dos governos Ibero-Americanos 98 , e da publicação dos Objetivos <strong>de</strong>Desenvolvimento do Milênio 99 , que foram constituídos por uma agenda que objetiva o<strong>de</strong>senvolvimento mundial, compondo um conjunto <strong>de</strong> oito objetivos e <strong>de</strong>zoito metas, tendocomo prazo para cumprimento <strong>de</strong>stes 25 anos – entre 1990 e 2015.Os oito objetivos são: 1) erradicar a extr<strong>em</strong>a pobreza e a fome; 2) tornar o ensinobásico universal; 3) promover igualda<strong>de</strong>; 4) Reduzir a mortalida<strong>de</strong> infantil; 5) Melhorar asaú<strong>de</strong> materna; 6) Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7) garantir asustentabilida<strong>de</strong> universal e 8) estabelecer uma parceria mundial para o <strong>de</strong>senvolvimento, e<strong>de</strong>ntre este, uma das metas (16) <strong>em</strong> cooperação com os países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,elaborar e executar estratégias que proporcion<strong>em</strong> aos jovens um trabalho digno eprodutivo (OIT, 2010b). Todos os objetivos <strong>de</strong>veriam orientar as políticas sociais nos países.Cabe ressaltar que os objetivos se inter-relacionam, especificamente os objetivos 2, 3 e8 (meta 16), pois se encontram na maioria dos objetivos dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para ajuventu<strong>de</strong>, ou seja, a questão <strong>de</strong> tornar o ensino fundamental universal, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneroe a capacitação aos jovens. No mapeamento realizado, <strong>em</strong>bora se observe que alguns<strong>programa</strong>s surgiram na década <strong>de</strong> 90, <strong>em</strong> sua maioria a execução ocorreu a partir do ano2000, conforme os dados do Quadro número 2, pois a partir <strong>de</strong>ste ano a t<strong>em</strong>ática do <strong>em</strong>pregopara a juventu<strong>de</strong> torna-se parte da agenda <strong>de</strong> muitos organismos internacionais.98 Em 2008, se realizou o marco da Cúpula <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governos Iberoamericanos,e o I Foro Iberoamericano <strong>de</strong> Ministras e Ministros do Trabalho, com o l<strong>em</strong>a “Juventu<strong>de</strong>, trabalho <strong>de</strong>cente e<strong>de</strong>senvolvimento com <strong>de</strong>mocracia”, on<strong>de</strong> se aprovou a Declaração <strong>de</strong> Sonsonate, on<strong>de</strong> acordaram as diferentesmedidas encaminhadas a promover o trabalho <strong>de</strong>cente para os jovens dos países iberoamericanos. (OIT,2010b). E, <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2010 ocorreu <strong>em</strong> Salvador/Bahia a Pré-Conferência das Américas, que prece<strong>de</strong> aConferência Mundial da Juventu<strong>de</strong>, que se realizou no México <strong>em</strong> agosto <strong>de</strong> 2010. No Brasil, <strong>em</strong> Salvador, seescreveu La Carta <strong>de</strong> Bahia, que reconhece o <strong>de</strong>safio que significa combater a pobreza e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, além<strong>de</strong> melhorar a formação e o <strong>em</strong>prego para os jovens. Entre os principais pontos que foram acordados entre osparticipantes está o esforço <strong>de</strong> eliminar a discriminação e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, e promover o trabalho <strong>de</strong>cente e aparticipação juvenil na elaboração <strong>de</strong> políticas públicas; buscar a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, étnica e racial, além <strong>de</strong>indicar que o acesso à educação seja universal e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. (OIT, 2010b).99 Em set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000, 189 chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> governo reuniram-se na se<strong>de</strong> das Nações Unidas <strong>em</strong> NovaIorque para firmar a Declaração do Milênio, comprometendo-se a trabalhar juntos para a erradicação dapobreza extr<strong>em</strong>a mundial. E, com base neste acordo surgiram os oito Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento doMilênio. (OIT; 2010b)


66Destaca-se <strong>de</strong>ntre estes, a OIT, a ONU, a agenda h<strong>em</strong>isférica <strong>de</strong> Trabalho Decente2006-2015 100 , a Declaração <strong>de</strong> Sonsonate 101 , o Pacto Mundial para o <strong>em</strong>prego 102 e a REJ –Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emprego Juvenil, que foi criada <strong>em</strong> 2001 para respon<strong>de</strong>r especificamente ao oitavoObjetivo do Milênio, meta 16. A REJ é uma associação interinstitucional entre a SecretariaGeral das Nações Unidas, a OIT e o BM, composta <strong>de</strong> representantes políticos, <strong>em</strong>presários,organizações <strong>de</strong> jovens e representantes da socieda<strong>de</strong> civil, com a tarefa <strong>de</strong> abordarconjuntamente o t<strong>em</strong>a do <strong>em</strong>prego juvenil <strong>em</strong> escala global, nacional e local (OIT, 2010b).Ao longo da década <strong>de</strong> 2000 os encontros e fóruns para a discussão sobre o trabalhopara a juventu<strong>de</strong> foram ocorrendo e formatando as orientações para a criação dos <strong>programa</strong>sexistentes, e, principalmente voltando-se para a Secretaria ou Ministério do Trabalho <strong>de</strong> cadanação conforme as informações do Quadro número 2.100 O documento “Trabajo <strong>de</strong>cente en las Américas: uma Agenda H<strong>em</strong>isférica 2006-2015” (Brasília 2006) foiaprovado na XVI reunião regional americana, on<strong>de</strong> se adotou como objetivo central para a década fomentar aformação/capacitação e inserção no trabalho dos jovens e como meta reduzir nestes 10 anos o número <strong>de</strong>jovens maiores <strong>de</strong> 15 anos que não estudam e não trabalham (OIT, 2010b).101 A Declaração <strong>de</strong> Sonsonate (El Salvador) surge no marco das reuniões preparatórias da XVIII CúpulaIberoamericana “Juventud y <strong>de</strong>sarrollo”, que se realizou no I Foro <strong>de</strong> Ministros do Trabalho da RegiãoIberoamericana, nesta Declaração os ministros reafirmaram a importância da <strong>de</strong>mocracia como garantia para otrabalho <strong>de</strong>cente, o diálogo <strong>social</strong> e a promoção dos direitos trabalhistas, se comprometendo a fortalecer aeducação e formação profissional para favorecer a inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho dos jovens.Estabeleceram acordos para <strong>de</strong>senvolver políticas, estratégias, projetos e <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> inserção ao trabalhovoltado a coletivos <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong> situações mais vulneráveis, e incluam ações <strong>de</strong> transição entre escola etrabalho, capacitação e geração <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s (OIT, 2010b).102 Diante da crise mundial <strong>de</strong> 2009 a OIT adotou, <strong>em</strong> junho <strong>de</strong> 2009, o Pacto Mundial para o Emprego, com oobjetivo <strong>de</strong> orientar as políticas nacionais e internacionais que se <strong>de</strong>stinam a estimular a recuperaçãoeconômica, gerar <strong>em</strong>pregos e proteger os trabalhadores e famílias (OIT, 2010b).


67Quadro 2 - Características gerais dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong> na América Latina – 1990 a 2010País Programa / gestão Início Objetivo População-alvoApren<strong>de</strong>r trabajando – Secretaría<strong>de</strong> Educación, Gobierno <strong>de</strong> laCiudad <strong>de</strong> Buenos Aires.ArgentinaPrograma Nacional <strong>de</strong> InclusiónJuvenil – Dirección Nacional <strong>de</strong> laJuventud, Ministerio <strong>de</strong> DesarrolloSocial.Proyectos Intersectoriales (3Programas) – Dirección <strong>de</strong>Educación Adultos y FormaciónProfesional, Dirección General <strong>de</strong>Cultura y Educación.Red <strong>de</strong> Empresas Jóvenes conFuturo – Ministerio <strong>de</strong> Trabajo,Empleo y Seguridad Social y<strong>em</strong>presas participantes.Entrenamiento para el trabajo <strong>de</strong>jóvenes tucumanos – Ministerio<strong>de</strong> Trabajo Empleo y SeguridadSocial.Programa Jóvenes con Más yMejor Trabajo – Ministerio <strong>de</strong>Trabajo, Empleo y SeguridadSocial.Soldado Cidadão – Ministério daDefesa.2003 Desenvolver ações para facilitar a transição escola –trabalho, através <strong>de</strong> treinamento interno <strong>de</strong>ntro efora da escola; possibilitar a escolas <strong>de</strong> ensinomédio o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiênciasprodutivas <strong>de</strong> bens e serviços.2004 Desenvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s produtivas dosjovens excluídos, e promover a geração <strong>de</strong><strong>em</strong>preendimentos produtivos, construir processossociais da comunida<strong>de</strong>.2006 Propiciar a inclusão educativa; fornecer orientaçõessobre a busca <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos; melhorar as condições esituação socioeconômica das mulheres rurais.2007 Gerar ações para facilitar o <strong>em</strong>prego dos jovens;<strong>de</strong>senvolver conjuntamente a responsabilida<strong>de</strong><strong>social</strong> e <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.2007 Melhorar as competências e habilida<strong>de</strong>s dos jovenspara aumentar suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção aotrabalho.2008 Gerar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão <strong>social</strong> e laboral dosjovens através <strong>de</strong> ações integradas que lhespermitam i<strong>de</strong>ntificar o perfil profissional que<strong>de</strong>sejam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar, finalizar a escolarida<strong>de</strong>,realizar experiências <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> práticasqualificantes no ambiente <strong>de</strong> trabalho, iniciar umaativida<strong>de</strong> produtiva in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e inserir-se <strong>em</strong> um<strong>em</strong>prego.2004 Qualificar <strong>social</strong> e profissionalmente os jovens queprestam serviço militar par o seu ingresso no serviçomilitar, através <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> qualificação. Ocorre<strong>em</strong> 26 Estados e Distrito Fe<strong>de</strong>ral.Jovens a partir <strong>de</strong> 16 anos do ensinomédio <strong>de</strong> escolas públicas ouprivadas.Jovens entre 18 e 25 anos,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados ou sub<strong>em</strong>pregados,<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza, com níveis<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> baixos.Jovens entre 18 e 30 anos,principalmente mulheres rurais.Jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos comdificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção no mercado<strong>de</strong> trabalho.Jovens <strong>de</strong>socupados <strong>de</strong> 18 a 25anos, s<strong>em</strong> experiência <strong>de</strong> trabalho.Jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos, comresi<strong>de</strong>nte fixa no país, que não tenhaconcluído o ensino fundamental <strong>em</strong>édio, e que esteja <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado.Jovens <strong>de</strong> famílias carentes queprestam serviço militar.


68BrasilBolíviaNossa Primeira Terra – Ministériodo Desenvolvimento Agrário.Programa Projov<strong>em</strong> – GovernoFe<strong>de</strong>ral - Secretaria Nacional <strong>de</strong>Juventu<strong>de</strong>.Programa Jóvenes Soldados -Ministerio <strong>de</strong> Trabajo y PrevisiónSocial.Mi Primer Empleo Digno -Ministerio <strong>de</strong> Trabajo.Programa <strong>de</strong> Formación enOficios – SENCE. Ministerio <strong>de</strong>Trabajo y Previsión Social.Subsecretaría <strong>de</strong>l Trabajo.Programa <strong>de</strong> Aprendices - OTECOrganismos Técnicos <strong>de</strong>Capacitación. SENCE. Ministerio<strong>de</strong> Trabajo y Previsión Social.2004 Manter os jovens e suas famílias no campo,evitando a migração na busca <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego <strong>em</strong>elhores condições <strong>de</strong> vida nas cida<strong>de</strong>s, possibilitarqualificação técnica e maior inovação tecnológicano meio rural.2005 Desenvolvimento dos jovens para reduzir a<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> educação,qualificação e ação comunitária. O <strong>programa</strong> t<strong>em</strong> 4modalida<strong>de</strong>s: a) Projov<strong>em</strong> Adolescente – focado nareinserção e permanência dos jovens no sist<strong>em</strong>aeducativo (15 a 17 anos); b) Projov<strong>em</strong> Urbano –busca elevar o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, a qualificaçãoprofissional e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong>participação cidadã; c) Projov<strong>em</strong> Campo – focado aampliar a permanência dos jovens do meio rural nosist<strong>em</strong>a educativo, a qualificação profissional e oexercício <strong>de</strong> cidadania; d) Projov<strong>em</strong> Trabalhador –busca preparar os jovens para o mercado <strong>de</strong>trabalho, mediante a formação <strong>em</strong> ocupaçõesalternativas.1995 Melhorar a <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> e futura inserção <strong>social</strong>e para o trabalho <strong>de</strong> jovens soldados, jovens <strong>em</strong>situação irregular e infratores, dando-lhes formaçãoprofissional.2008 Facilitar e incr<strong>em</strong>entar a inserção laboral dosjovens. Melhorar suas condições <strong>de</strong><strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação.1997 Melhorar as condições <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> dosjovens <strong>de</strong> escassos recursos, através da formaçãopara o trabalho, capacitação e experiênciaprofissional.2000 Promover e apoiar a contratação <strong>de</strong> jovens naqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizes para que adquiramformação <strong>em</strong> um oficio mediante seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<strong>em</strong> um posto <strong>de</strong> trabalho, e acesso a capacitação <strong>de</strong>competências relacionadas com a própria <strong>em</strong>presa.Jovens s<strong>em</strong> terras, filhos <strong>de</strong>agricultores familiares, estudantes<strong>de</strong> escolas técnicas agrícolas, comida<strong>de</strong> entre 18 e 28 anos, quequer<strong>em</strong> permanecer no meio rural einvestir na agricultura.Jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos.Jovens maiores <strong>de</strong> 16 anos.Jovens entre 18 e 24 anos, <strong>de</strong> baixarenda, com o segundo ano do ensinomédio, <strong>de</strong> áreas urbanas es<strong>em</strong>iurbanas das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> La Paz,El Alto, Cochabamba y Santa Cruz.Jovens <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados entre 20 e 30anos.Jovens menores <strong>de</strong> 25 anos.


69ChileColômbiaCosta RicaEl SalvadorPrograma <strong>de</strong> CapacitaciónEmprendimiento juvenil – SOFOFAy OTIC Chilecalifica SecretariaGeneral <strong>de</strong> Gobierno GabinetePresi<strong>de</strong>ncial.Programa <strong>de</strong> Bonificación a lacontratación Jóvenes ChileSolidario – Ministerio <strong>de</strong> Trabajoy Previsión Social.Programa Jóvenes en RiesgoSocial – Servicio Nacional <strong>de</strong>Capacitación y Empleo (SENCE)y Oficina Municipal <strong>de</strong>Intermediación Laboral (OMIL).Programa Aprendices – Ministerio<strong>de</strong> Trabajo y Previsión <strong>social</strong>(Servicio Nacional <strong>de</strong>Capacitación y Empleo)Jóvenes en Acción – Presi<strong>de</strong>ncia<strong>de</strong> La República.2001 Entregar ferramentas para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhoprofissional e reforçar capacida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s dosjovens para favorecer sua colocação no mercado <strong>de</strong>trabalho.2002 Facilitar a inserção ao trabalho <strong>de</strong> jovenspertencentes ao sist<strong>em</strong>a Chile Solidário, através <strong>de</strong>capacitação <strong>em</strong> um ofício.2006 Facilitar a inserção dos jovens <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregadosatravés do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> iniciativas<strong>de</strong>stinadas ao acesso ao <strong>em</strong>prego, uma bonificaçãoàs <strong>em</strong>presas que contratam os jovens entre 5 e 12meses.2008 Promover a formação <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong> um ofíciomediante a contratação por uma <strong>em</strong>presa; melhoraro <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências laborais atravésdo apoio <strong>de</strong> um tutor.2002 Oferecer oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação e estágio aosjovens. Objetiva melhorar a <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> e asoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho.Jóvenes Aprendices 2004 Buscar oportunida<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregopara os jovens aprendizes, solicitar as <strong>em</strong>presascotas para os jovens; vinculação a <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>ensino superior; registros <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> vagas parabuscar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho.Jóvenes con Futuro - Alcaldía <strong>de</strong>Me<strong>de</strong>llín.Programa Alternativas Juveniles –Vic<strong>em</strong>inisterio <strong>de</strong> Juventud /Consejo <strong>de</strong> la Persona Joven.Programa <strong>de</strong> Jóvenes a Jóvenes“Orientación y habilida<strong>de</strong>s para eltrabajo” - Ministerio <strong>de</strong> Trabajo yPrevisión Social, Ministerio <strong>de</strong>Educación, Secretaría <strong>de</strong> laJuventud, INSAFORP.2005 Capacitar para o trabalho para que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penh<strong>em</strong>ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> diversas áreas da economia.2007 Melhorar a <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas jovens,priorizando aqueles com <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>socioeconômica e que trabalh<strong>em</strong> <strong>em</strong> regiões<strong>de</strong>primidas. Capacitação para enfrentar o mercado<strong>de</strong> trabalho.2005 Orientar os jovens na elaboração <strong>de</strong> uma estratégiapessoal e um plano <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> einserção no mercado <strong>de</strong> trabalho; está organizado<strong>em</strong> 4 módulos.Jovens <strong>de</strong> 17 a 35 anos.Jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados.Jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos ebeneficiários do Chile Solidário.Jovens <strong>de</strong> 15 a 25 anos que tenhamconcluído o ensino básico e médioou estejam cursando durante avigência do contrato.Jovens entre 18 e 25 anos.Jovens aprendizes que se formampara o <strong>em</strong>prego, <strong>em</strong> áreas como ocomércio, serviços, manufatura,entre outros, e que pertençam asetores vulneráveis da socieda<strong>de</strong>.Jovens entre 16 e 29 anos, dosbairros mais pobres e violentos.Jovens entre 18 a 25 anos.Jovens <strong>de</strong> 14 a 25 anos que seencontram na transição entre escolae trabalho ou não esteja estudando.


70HondurasReinserción <strong>de</strong> MigrantesHondureños Retornados <strong>de</strong> losEstados Unidos <strong>de</strong> Norteamérica -Comisión Nacional para elDesarrollo <strong>de</strong> la EducaciónAlternativa no Formal –CONEANFO.Centro Nacional <strong>de</strong> Educaciónpara el Trabajo (CENET).2000 Reinserção dos migrantes retornados dos EstadosUnidos, <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> educação não formal, parafortalecer suas capacida<strong>de</strong>s. Cursos na área dabeleza, corte, confecção e informática. Para otérmino do ensino primário e capacitação paraautoestima.2002 Impl<strong>em</strong>entar <strong>programa</strong>s para educação e formaçãoprofissional, com foco na proteção ao meioambiente.Adolescentes, jovens e adultos.Jovens e adultos, zonas urbanas erurais pobres.PROELEN – Proyecto <strong>de</strong>Educación Básica y Prebásica enel Norte <strong>de</strong> L<strong>em</strong>pira – ComisiónNacional para el Desarrollo <strong>de</strong> laEducación Alternativa No Formal.2003 Melhorar o nível educacional <strong>de</strong> jovens e adultos,facilitar a inclusão no trabalho produtivo.Jovens <strong>de</strong> 15 a 30 anos.Mi Primer Empleo – Secretaría <strong>de</strong>Trabajo y Seguridad Social(STSS)2006 Promover o <strong>em</strong>prego e a inclusão <strong>social</strong> <strong>de</strong> jovensatravés <strong>de</strong> capacitação técnica, facilitar o acesso àformação e inclusão no mercado <strong>de</strong> trabalho.Jovens <strong>de</strong> 15 a 19 anos, <strong>em</strong> situação<strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> áreas urbanas.Programa Jóvenes a jóvenes yconformación <strong>de</strong> la red <strong>de</strong> <strong>em</strong>pleojuvenil – Programa Presi<strong>de</strong>ncial<strong>de</strong> Desarrollo Comunitario eInstituto Nacional <strong>de</strong> FormaciónProfesional.PROYECTOHondurasAD/HON/04/H882007 Formação, promoção e treinamento <strong>em</strong> áreasespecíficas: tecnologia, administração, marketing evendas. Fortalecimento dos recursos humanos e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res.2007 Inserção sócio-laboral. Jovens <strong>de</strong> 15 a 23 anos <strong>de</strong> zonasmarginalizadas, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados eque se encontram <strong>em</strong> situação <strong>de</strong>risco.MéxicoLa Comuna – Dirección General<strong>de</strong> Empleo y Capacitación.Jóvenes con Oportunida<strong>de</strong>s –Secretaría <strong>de</strong> Desarrollo Social.1999 Aconselhamento e orientação aos jovens<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados com probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> inserção nomercado <strong>de</strong> trabalho.2003 Promover oportunida<strong>de</strong>s para estagiários queconclu<strong>em</strong> o ensino médio.Jovens <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados <strong>de</strong> 15 a 29anos.Jovens até 22 anos.


71Joven Empren<strong>de</strong>dor Rural –Secretaria <strong>de</strong> la reforma agraria.Dirección General <strong>de</strong> Política yPlaneación Agraria.Programa Nacional <strong>de</strong> Juventud –Gobierno Fe<strong>de</strong>ral.Nicarágua Programa <strong>de</strong> FormaciónOcupacional e Inserción Laboral –Ministerio do Trabajo.ParaguaiLos Jóvenes como ImportantesActores <strong>de</strong>l Desarrollo - SecretaríaTécnica <strong>de</strong> Planificación yMinisterio <strong>de</strong> Agricultura yGana<strong>de</strong>ría.2004 Incentivar os jovens para aquisição <strong>de</strong> terras ouarrendá-las; capacitação técnica para impl<strong>em</strong>entação<strong>de</strong> produção sustentável.2008 Cidadania e participação <strong>social</strong>; acesso efetivo àjustiça; acesso e permanência na educação; trabalho<strong>de</strong>cente; fomento à saú<strong>de</strong> dos jovens; habitaçãoa<strong>de</strong>quada.2005 -Finalizou<strong>em</strong> 2009Impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> Programas <strong>de</strong> capacitação combase no diagnóstico <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s,com um posterior processo <strong>de</strong> inserção no ServiçoPúblico <strong>de</strong> Emprego.2004 Ampliar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação na agenda<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local e regional, através dacapacitação da juventu<strong>de</strong>.Jovens <strong>de</strong> 12 a 29 anos.Adolescentes e jovens <strong>de</strong> áreasrurais.Jovens <strong>de</strong> 15 a 24 anos pertencentesa zonas rurais e s<strong>em</strong>irrurais.PeruRepúblicaDominicanaCentro <strong>de</strong> Servicios Empresarialespara Jóvenes (CENSEJOV) – ElMinisterio <strong>de</strong> Trabajo y elPrograma CAPLAB.Plan <strong>de</strong> Acción Sectorial <strong>de</strong>Empleo Juvenil 2009-2011 –Ministerio <strong>de</strong> Trabajo yPromoción <strong>de</strong>l Empleo.QUISQUEYA JOVEN: Programa<strong>de</strong> capacitación e intermediaciónpara el <strong>em</strong>pleo (Antece<strong>de</strong>nte<strong>programa</strong> Juventud y Empleo) –Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Trabajo,Dirección General <strong>de</strong> Promoción<strong>de</strong> la Juventud, Instituto Nacional<strong>de</strong> Formación Técnico Profesional(INFOTEP), El Consejo Nacional<strong>de</strong> Empresas Privadas (CONEP).1994 Proporcionar aos jovens sua integração no mercado<strong>de</strong> trabalho, promover formação técnica <strong>em</strong>conjunto com as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas locais.2009 Desenvolver e impl<strong>em</strong>entar estratégias quepermitam aos jovens construir trajetórias <strong>de</strong> trabalhodigno e produtivo; se sustenta <strong>em</strong> 4 eixos: <strong>em</strong>prego,<strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>preendimento e equida<strong>de</strong>.1999 Aumentar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego para apopulação jov<strong>em</strong> urbana <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>a pobreza,através <strong>de</strong> ações específicas e serviços <strong>de</strong>treinamento intensivo.Jovens <strong>de</strong> 18 a 29 anos com algumaexperiência técnica, com educaçãobásica completa ou incompleta,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados ou sub<strong>em</strong>pregados,com características pessoais <strong>de</strong><strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor.Jovens <strong>de</strong> 14 a 24 anos.Jovens <strong>de</strong> 15 a 24 anos, resi<strong>de</strong>ntes<strong>em</strong> zonas urbanas e <strong>em</strong> situação <strong>de</strong>extr<strong>em</strong>a pobreza, que tenhamabandonado os estudos e<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados.


72Formación <strong>de</strong> jóvenes agricultores(Forja) – Instituto Nacional <strong>de</strong>Formación Técnico Profesional(INFOTEP), Secretaria <strong>de</strong> Estado<strong>de</strong> Trabajo (SET), Secretaria <strong>de</strong>Estado <strong>de</strong> Agricultura (SEA),Instituto Superior <strong>de</strong> Agricultura(ISA).Programa Juventud y Empleo –Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Trabajo –SET.Mercados Laborales yTransferencias <strong>social</strong>es – Fase 1-Vicepresi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la República.Uruguai Primera Experiencia Laboral -Instituto Nacional <strong>de</strong> Juventud(INJU)1999 Formar a cada ano um mínimo <strong>de</strong> 60 jovens rurais,financiar e supervisionar 30 novos projetos por anoatravés <strong>de</strong> um <strong>programa</strong> <strong>de</strong> capacitação.2001 Aumentar a <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> do jov<strong>em</strong> com menorrenda, combinando a oferta <strong>de</strong> formação e a procura<strong>de</strong> trabalho no setor produtivo.2005 Melhorar os níveis <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> da força <strong>de</strong>trabalho, através da capacitação profissional.1993 Facilitar a realização da primeira experiência <strong>de</strong>trabalho para o jov<strong>em</strong>, fornecer ferramentas para ummelhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho no mundo do trabalho,promover o conhecimento dos direitos dos jovens.2006 Melhorar as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego através <strong>de</strong>processos <strong>de</strong> capacitação profissional, articuladas às<strong>de</strong>mandas do mercado <strong>de</strong> trabalho.PROJOVEN - Junta Nacional <strong>de</strong>Empleo, Dirección Nacional <strong>de</strong>Empleo <strong>de</strong>l Ministerio <strong>de</strong> Trabajoy Seguridad Social e Instituto <strong>de</strong>la Juventud.Fonte dos dados brutos: OITc. Proyecto Prejal – Promoción <strong>de</strong>l <strong>em</strong>pleo juvenil en América Latina (Site oficial).Jovens <strong>de</strong> 16 a 22 anos, filhos <strong>de</strong>pequenos e médios agricultoresJovens <strong>de</strong> 16 a 29 anos, que tenhamabandonado a escola,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado, sub<strong>em</strong>pregado ouinativo.População com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalharcom ênfase nos jovens.Jovens <strong>de</strong> 16 a 24 anos que nãoestejam trabalhando, principalmente<strong>de</strong> famílias com necessida<strong>de</strong>sbásicas insatisfeitas.Jovens <strong>de</strong> 18 a 29 anos, que nãoestudam e não trabalham, nãotenham finalizado o secundário.


73Os dados pesquisados através do site oficial da OIT – PROJETOS PREJAL 103 eapresentados no Quadro 2 indicam que 13 países da América Latina e Caribe executavam<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> com o objetivo <strong>de</strong> capacitação e inserção aomercado <strong>de</strong> trabalho, entre 1990 e 2010, que seriam: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile,Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Honduras, México, Paraguai, Peru, RepúblicaDominicana e Uruguai, sendo no total <strong>de</strong> 42 <strong>programa</strong>s governamentais 104 .Na década <strong>de</strong> 90 foram impl<strong>em</strong>entados 7 <strong>programa</strong>s <strong>em</strong> 5 países – Chile, México,Peru, República Dominicana e Uruguai, após o ano 2000 este número saltou para 34<strong>programa</strong>s <strong>em</strong> mais 8 países. Cabe salientar que um dos fatores que também incidiram para oaumento dos <strong>programa</strong>s foi o PREJAL/OIT, que até 2010 estava sendo executado naArgentina, Brasil, Chile, Colômbia, Honduras, Peru, República Dominicana e México,formando uma associação entre os setores público e privado.No mapeamento realizado das experiências nacionais latino-americanas, i<strong>de</strong>ntificamsealgumas características, sendo que o objetivo geral <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos <strong>programa</strong>s volta-separa a inserção do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, através da capacitação e ou qualificação,conforme orientação dos organismos envolvidos. A análise documental realizada permiteindicar <strong>de</strong> forma geral os principais objetivos dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>: Oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão <strong>social</strong>; Finalizar a escolarida<strong>de</strong>; Experiência <strong>de</strong> práticas qualificantes; Facilitar a transição escola-trabalho; Orientações sobre trabalho; Melhorar as condições socioeconômicas; Melhorar as competências e habilida<strong>de</strong>s dos jovens; Reduzir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os jovens através da educação, qualificação e açãocomunitária; Inclusão <strong>em</strong> <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação diversos;103 O PREJAL – Projeto <strong>de</strong> Promoción <strong>de</strong>l Empleo Juvenil en America Latina da OIT, objetiva promover otrabalho <strong>de</strong>cente para os jovens através da sensibilização e da inclusão do <strong>em</strong>prego juvenil nas políticas e<strong>programa</strong>s públicos. Este projeto se inscreve <strong>de</strong>ntro das iniciativas da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emprego Juvenil, impulsionadapela Secretaria Geral da ONU e pelo Programa Global <strong>de</strong> Emprego da OIT, t<strong>em</strong> o respaldo do governoespanhol e <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>ste país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2009; são três eixos <strong>de</strong> ação: político, técnico e prática<strong>em</strong>presarial. (OIT, 2010b).104 Embora a Nicarágua esteja sendo citada no quadro, não será contabilizada no total <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s e países, poiso <strong>programa</strong> finalizou <strong>em</strong> 2009.


74 Promover e apoiar a contratação <strong>de</strong> jovens na condição <strong>de</strong> aprendizes; Inclusão <strong>em</strong> vagas <strong>de</strong> estágio; Auxilio na elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong>; Finalização do ensino primário ou fundamental; Capacitação com foco no meio ambiente.Cabe <strong>de</strong>stacar também que o público-alvo dos <strong>programa</strong>s, <strong>em</strong>bora se ass<strong>em</strong>elh<strong>em</strong>,apresentam algumas características específicas conforme o país. Dos 42 <strong>programa</strong>s mapeados33 indicam a ida<strong>de</strong> dos jovens como sendo a partir dos 14 anos, mas, <strong>em</strong> sua maioria, a partirdos 15 anos até o máximo <strong>de</strong> 35 anos, que já incluiria a ida<strong>de</strong> adulta (apenas um <strong>programa</strong>), orestante divi<strong>de</strong>-se principalmente até o máximo <strong>de</strong> 24, 25, 28 ou 29 anos.Embora todos indiqu<strong>em</strong> como público-alvo o jov<strong>em</strong>, alguns <strong>programa</strong>s especificam,além da ida<strong>de</strong>, as condições socioeconômicas, ou seja, jovens <strong>de</strong> famílias pobres, vulneráveis;além <strong>de</strong>stes, os jovens do meio rural, ou da cida<strong>de</strong>, jovens migrantes, jovens que prestamserviço militar, jovens infratores, jovens que não finalizaram o ensino fundamental ou médio,jovens que não estudam e não trabalham, mulheres jovens ou jovens pertencentes a <strong>programa</strong>ssociais <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda, neste caso principalmente o adolescente.Destaca-se, também, <strong>de</strong>ntre as características dos <strong>programa</strong>s, que muitos objetivamfomentar a inclusão dos jovens no mercado <strong>de</strong> trabalho, através do repasse <strong>de</strong> verbas às<strong>em</strong>presas privadas, como uma “bonificação” para o contratante, além <strong>de</strong> repasses <strong>de</strong> bolsas elinhas <strong>de</strong> crédito diretamente aos jovens 105 .Outro dado que se <strong>de</strong>staca é o responsável por formular, elaborar e fomentar os planose projetos voltados à capacitação e inserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, ou seja, oMinistério do Trabalho, Emprego e Segurida<strong>de</strong> Social <strong>em</strong> sua maioria, conforme o Quadro 3.105 As linhas <strong>de</strong> crédito são específicas para jovens do meio rural, como um incentivo para a permanência domesmo no meio rural.


75Quadro 3 - Áreas responsáveis pela formulação, fomento e execução dos <strong>programa</strong>s por países.PaísResponsávelMinisterio <strong>de</strong> Trabajo, Empleo y Seguridad Social; DirecciónArgentinaNacional <strong>de</strong> la Juventud, Ministerio <strong>de</strong> Desarrollo Social;Secretaría <strong>de</strong> Educación, Gobierno <strong>de</strong> la Ciudad <strong>de</strong> BuenosAires; Dirección General <strong>de</strong> Cultura y Educación;BrasilGobierno Fe<strong>de</strong>ral/Secretaria Nacional <strong>de</strong> Juventud; Ministerioda Defesa; Ministerio do Desenvolvimiento Agrario;BolíviaMinisterio <strong>de</strong>l Trabajo.Ministerio <strong>de</strong>l Trabajo y Previsión Social; Fondo Nacional <strong>de</strong>Capacitación (FONCAP); Servicio Nacional <strong>de</strong> CapacitaciónChiley Empleo (SENCE) y Oficina Municipal <strong>de</strong> IntermediaciónLaboral (OMIL); Secretaria General <strong>de</strong> GobiernoGabinete Presi<strong>de</strong>ncial.ColômbiaPresi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> La República; Ministerio <strong>de</strong>l Trabajo; Alcaldía<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>llín.Costa RicaVic<strong>em</strong>inisterio <strong>de</strong> Juventud / Consejo <strong>de</strong> la Persona Joven.El SalvadorMinisterio <strong>de</strong> Trabajo y Previsión Social, Ministerio <strong>de</strong>Educación, Secretaría <strong>de</strong> la Juventud, INSAFORP.Presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la República; Comisión Nacional para elDesarrollo <strong>de</strong> la Educación Alternativa no Formal –HondurasCONEANFO; Centro Nacional <strong>de</strong> Educación para el Trabajo;Secretaría <strong>de</strong> Trabajo y Seguridad Social (STSS); ComisiónNacional para el Desarrollo <strong>de</strong> la Educación Alternativa NoFormal.MéxicoGobierno Fe<strong>de</strong>ral; - Secretaría <strong>de</strong> Desarrollo Social;Dirección General <strong>de</strong> Empleo y Capacitación.NicaráguaMinisterio do Trabajo.ParaguaiSecretaría Técnica <strong>de</strong> Planificación y Ministerio <strong>de</strong>Agricultura y Gana<strong>de</strong>ría.Vic<strong>em</strong>inisterio <strong>de</strong> Promoción <strong>de</strong>l Empleo y CapacitaciónPeruLaboral; El Ministerio <strong>de</strong> Trabajo y Promoción <strong>de</strong>l Empleo yel Programa CAPLAB.Vicepresi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la República; Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong>Trabajo, ,Dirección General <strong>de</strong> Promoción <strong>de</strong> la Juventud,República Dominicana Instituto Nacional <strong>de</strong> Formación TécnicoProfesional (INFOTEP), El Consejo Nacional <strong>de</strong> EmpresasPrivadas (CONEP).Ministerio <strong>de</strong> Trabajo y Seguridad Social e Instituto <strong>de</strong> laUruguaiJuventud; Administración Nacional <strong>de</strong> Educación Pública; -Instituto Nacional <strong>de</strong> Juventud (INJU).Fonte dos dados brutos: OIT (2010b).Dentre os 13 países pesquisados, o Ministério do Trabalho é responsável <strong>em</strong> suamaioria, além <strong>de</strong> outros Ministérios como o da Agricultura e Educação, além <strong>de</strong>stesparticipam Secretarias, Institutos e Comissões. Uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçõesprincipalmente na execução dos <strong>programa</strong>s, fragilizando a proposta <strong>de</strong> uma política para ajuventu<strong>de</strong>, pois as leis e normas não são comuns a todos, <strong>em</strong>bora exista uma indicação daConvenção Iberoamericana da Juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que todos os governos sejam responsáveis pela


76coor<strong>de</strong>nação e avaliação das políticas para os jovens, que promovam todas as medidas legais efoment<strong>em</strong> a organização e consolidação das estruturas para a juventu<strong>de</strong> (OIT, 2010b).Tais leis gerais para a juventu<strong>de</strong> surg<strong>em</strong> a partir dos anos 90 <strong>em</strong> alguns países, aArgentina <strong>em</strong> 2007 cria, através da Lei nº 26.227, o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> queobjetiva a participação na concepção e coor<strong>de</strong>nação interjurisdicional; o Brasil <strong>em</strong> 2005 cria aLei nº 11.129 (modificando as leis <strong>de</strong> 2002 e 2003), que institui o Programa Nacional <strong>de</strong>Inclusão <strong>de</strong> Jovens, cria o Conselho Nacional da Juventu<strong>de</strong> e a Secretaria Nacional <strong>de</strong>Juventu<strong>de</strong>; o Chile foi o pioneiro, criando, <strong>em</strong> 1991, a Lei n° 19.042 que institui o InstitutoNacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong>, encarregado <strong>de</strong> colaborar com o po<strong>de</strong>r executivo (OIT, 2010b).A Colômbia <strong>em</strong> 1997 cria a Lei da Juventu<strong>de</strong> n° 375, que estabelece o marcoinstitucional e orientador das políticas, planos e <strong>programa</strong>s por parte do Estado e da socieda<strong>de</strong>civil; a Costa Rica <strong>em</strong> 2002 cria a Lei geral para pessoas jovens, n° 8261, que objetivaelaborar, promover, coor<strong>de</strong>nar e executar <strong>de</strong> políticas públicas voltadas a pessoas jovens,também cria o Conselho Nacional <strong>de</strong> Políticas Públicas para o jov<strong>em</strong>; o Equador cria <strong>em</strong>2001 a Lei da Juventu<strong>de</strong>, n° 2001-49, que reconhece a particularida<strong>de</strong> dos jovens quepromovam o efetivo gozo e exercício <strong>de</strong> seus direitos e garantam o cumprimento dos <strong>de</strong>verese obrigações; Honduras, <strong>em</strong> 2005, cria a Lei Marco para o Desenvolvimento Integral daJuventu<strong>de</strong>, Decreto nº 260, e também o Instituto Nacional da Juventu<strong>de</strong>; o México, <strong>em</strong> 1999,cria a Lei do Instituto Mexicano da Juventu<strong>de</strong> como um organismo público <strong>de</strong>scentralizado(OIT, 2010b).A Nicarágua <strong>em</strong> 2001 cria a Lei <strong>de</strong> Promoção do Desenvolvimento Integral daJuventu<strong>de</strong>, nº. 392, que objetiva promover o <strong>de</strong>senvolvimento humano dos jovens, garantindoo exercício <strong>de</strong> seus direitos e obrigações, estabelecer políticas institucionais e mobilizarrecursos do Estado e socieda<strong>de</strong> civil; o Paraguai <strong>em</strong> 2009 criou o anteprojeto da Lei Nacional<strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong>; o Peru cria <strong>em</strong> 2002 a Lei do Conselho Nacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong>, nº. 27802, queobjetiva estabelecer o marco normativo e institucional que oriente as ações do estado esocieda<strong>de</strong> civil e a República Dominicana cria <strong>em</strong> 2000 a Lei Geral da Juventu<strong>de</strong>, nº 49-2000, para instaurar o marco jurídico, político e institucional que oriente o Estado e asocieda<strong>de</strong> na elaboração e impl<strong>em</strong>entação das políticas (OIT, 2010b).Como <strong>de</strong>monstram as leis, muitas incentivam a criação <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s e projetosexecutados, além do Estado, pela socieda<strong>de</strong> civil, muitas vezes com recursos internacionais.Ao realizar o mapeamento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção ao trabalho, através dosite da OIT/PREJAL, i<strong>de</strong>ntificou-se um número expressivo <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s que se encontramneste contexto, conforme os dados da tabela número 4.


77Tabela 4 - Número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s privados <strong>de</strong> capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho voltadosà juventu<strong>de</strong> na América Latina entre 1990 – 2010 e ida<strong>de</strong> do público alvo.País Número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s Ida<strong>de</strong> do público-alvoArgentina 13 15 – 35Brasil 6 16 – 25Chile 11 16 – 35Colômbia 2 18 – 25Honduras 8 12 – 25México 5 15 – 29Paraguai 2 18 – 29Peru 3 15 – 25República Dominicana 1 18 – 21Venezuela 1 16 – 24Fonte dos dados brutos: OIT (2010b).A maioria dos <strong>programa</strong>s privados surgiu a partir do ano 2000, apenas o Brasil,Honduras e México iniciaram seus <strong>programa</strong>s privados na década <strong>de</strong> 90, mas cabe salientarque alguns dos <strong>programa</strong>s não indicavam a data <strong>de</strong> início.A faixa etária dos <strong>programa</strong>s não se diferencia significativamente dos <strong>programa</strong>spúblicos, b<strong>em</strong> como o perfil do jov<strong>em</strong>: jovens <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza,situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, sub<strong>em</strong>pregado, mulheres jovens, jovens indígenas, que não estãoestudando ou no último ano.Os objetivos dos <strong>programa</strong>s focam-se na capacitação dos jovens diante das <strong>de</strong>mandasdo mercado <strong>de</strong> trabalho, assim como melhorar o ingresso, conclusão do ensino formal,orientação para o ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, formação <strong>de</strong> uma “mentalida<strong>de</strong><strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dora” ou “espírito <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor” e <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> treinamento com foco no<strong>de</strong>senvolvimento humano, pois <strong>em</strong> sua maioria são realizados <strong>em</strong> parceria com <strong>em</strong>presasprivadas.O mapeamento realizado indica que a maioria dos países latino-americanos a<strong>de</strong>riu aosObjetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio e dos incentivos dos organismos internacionais <strong>de</strong>capacitar e ou qualificar o jov<strong>em</strong> com o objetivo <strong>de</strong> inseri-lo no mercado <strong>de</strong> trabalho. Nopróximo capítulo se aprofundará a discussão ao realizar um comparativo dos <strong>programa</strong>sexecutados na Argentina e Brasil, e probl<strong>em</strong>atizar a relação capacitação versus educaçãocomo forma <strong>de</strong> inserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho e a contradição entre osobjetivos dos <strong>programa</strong>s e a precarização na inserção do jov<strong>em</strong>.


784 OS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO E INSERÇÃO NO MERCADO DETRABALHO PARA A JUVENTUDE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTREARGENTINA E BRASILOs <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> v<strong>em</strong> adquirindo um maiorprotagonismo na América Latina, principalmente a partir do ano 2000, diante da promulgaçãodas Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio, do aumento nas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego entre osjovens, da precarização do trabalho e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, da expectativa do próprio mercado nacontribuição <strong>de</strong>stes para o crescimento econômico da região.Por um lado, se observa o crescimento no número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação einserção no mercado <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> os jovens se <strong>de</strong>param com uma novarealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas, e, por outro, a proposta <strong>de</strong> “capacitação” modificando a lógica daeducação, on<strong>de</strong> a preocupação fica restrita <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas do mercado.Para tanto, este capítulo se subdivi<strong>de</strong> <strong>em</strong> três itens, no primeiro, faz-se umcomparativo dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois países: Argentina eBrasil, suas convergências e divergências frente à lógica do capital; no segundo momento,propõe-se uma reflexão sobre a questão: capacitação versus educação, uma contradição <strong>em</strong>foco, principalmente neste século XXI; e, por fim, os <strong>de</strong>safios dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãopara a inserção dos jovens no mercado <strong>de</strong> trabalho.4.1 OS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA A JUVENTUDE LATINO-AMERICANA: UM COMPARATIVO ENTRE ARGENTINA E BRASILNeste it<strong>em</strong> busca-se <strong>de</strong>senvolver um comparativo dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para ajuventu<strong>de</strong> da Argentina e do Brasil, suas convergências e divergências diante da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cada país. Inicialmente, os dois países apresentam o mesmo número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s (seis), poiso Programa Projov<strong>em</strong> do Brasil se subdivi<strong>de</strong> <strong>em</strong> 4 modalida<strong>de</strong>s que se diferenciam no seupúblico-alvo, conforme os dados contidos no Quadro 4.A questão do trabalho para a juventu<strong>de</strong> na Argentina e no Brasil também se ass<strong>em</strong>elhanas suas características <strong>em</strong> relação à precarização das condições <strong>de</strong> trabalho e ao aumento noíndice <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.A escolha <strong>de</strong> tais países, Argentina e Brasil, se justifica pelo fato <strong>de</strong> ambos os paísester<strong>em</strong> passado por vigorosas crises econômicas, ex ant e ex post a ajustes estruturais, queocorreram <strong>em</strong> fins dos anos 90 e início do ano 2000 <strong>em</strong> tais países, além disso, os mesmos


79iniciaram seus principais <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> 2000, sendoque se ass<strong>em</strong>elham nos seus objetivos e público-alvo, e, por fim, são países que na segundameta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80 iniciam um processo político que resultou na criação do MercadoComum do Sul – o MERCOSUL 106 .Trata-se <strong>de</strong> países que se ass<strong>em</strong>elham <strong>em</strong> alguns dados como o percentual <strong>de</strong> jovens<strong>de</strong>ntre a população total, nas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para a juventu<strong>de</strong> e no aumento do número<strong>de</strong> jovens que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, mas torna-se relevante <strong>de</strong>stacar algumasespecificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada região, principalmente informações sobre trabalho e educação.Na Argentina a população jov<strong>em</strong> (15 a 24 anos) <strong>em</strong> 2006 era <strong>de</strong> 17,6% da populaçãototal, e, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 51% <strong>de</strong>stes viviam <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>. Uma realida<strong>de</strong> que seagravou no início dos anos 2000, quando o país passou por uma gran<strong>de</strong> crise econômica.Mas logo após este período consegue diminuir o índice <strong>de</strong> pobreza e sua taxa <strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, como ex<strong>em</strong>plo, entre o primeiro trimestre <strong>de</strong> 2003 e o terceiro trimestre <strong>de</strong> 2006diminui pela meta<strong>de</strong> no país, <strong>de</strong> 20,4% para 10,2%, diferente da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego dajuventu<strong>de</strong> entre 15 e 24 anos, a partir do segundo trimestre <strong>de</strong> 2005, fica <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 25%, e ataxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego adulto baixa <strong>de</strong> 9,3% a 7,0% no mesmo período 107 (OIT, 2007).106 “O ano <strong>de</strong> 1985 é o marco inicial do processo político que resultou na criação do Mercado Comum do Sul, oMERCOSUL. Foi o momento <strong>em</strong> que Brasil e Argentina iniciaram as negociações comerciais, no âmbito daAssociação Latino-Americana <strong>de</strong> Integração (ALADI), com vistas à formação <strong>de</strong> um mercado regional. Emcontexto histórico marcado pela re<strong>de</strong>mocratização dos dois países, os Presi<strong>de</strong>ntes José Sarney e Raul Alfonsínassinaram, <strong>em</strong> 30 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1985, a Declaração <strong>de</strong> Iguaçu. No documento, os mandatários do Brasil e daArgentina enfatizaram, entre outros t<strong>em</strong>as, a importância da consolidação do processo <strong>de</strong>mocrático e da união<strong>de</strong> esforços com vistas à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interesses comuns nos foros internacionais. Reafirmaram o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>aproximar as duas economias e criaram a Comissão Mista <strong>de</strong> Cooperação e Integração Bilateral, à qual coube aformulação <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> integração entre Brasil e Argentina. O resultado do trabalho da Comissão Mistalevou à assinatura, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buenos Aires, <strong>em</strong> 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1986, da Ata para a Integração Argentino-Brasileira. No acordo, Brasil e Argentina comprometeram-se a cumprir o Programa <strong>de</strong> Integração eCooperação Econômica (PICE). Por meio do PICE, foram estabelecidos protocolos setoriais, voltados àintegração <strong>de</strong> setores produtivos específicos. O objetivo do Programa era abrir, <strong>de</strong> modo seletivo, os mercadosnacionais e estimular a compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> das economias, a fim <strong>de</strong> permitir condições <strong>de</strong> adaptação dosagentes privados ao novo ambiente econômico. O incr<strong>em</strong>ento do intercâmbio comercial entre Brasil eArgentina impulsionou a assinatura do Tratado <strong>de</strong> Integração, Cooperação e Desenvolvimento, <strong>em</strong> 29 <strong>de</strong>nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1988. Naquele acordo, os dois países estabeleceram um prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos para a formação <strong>de</strong> umespaço econômico comum, mediante a eliminação <strong>de</strong> barreiras tarifárias e não tarifárias e a elaboração <strong>de</strong>políticas conjuntas. Ao esforço <strong>de</strong> integração inicialmente <strong>em</strong>preendido por Argentina e Brasil uniram-seParaguai e Uruguai. Juntos, os quatro países formularam o projeto <strong>de</strong> criação do Mercado Comum do Sul, oMERCOSUL, culminando na assinatura do Tratado <strong>de</strong> Assunção, <strong>em</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1991. Naquela data,Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai acordaram <strong>em</strong> ampliar as dimensões dos seus mercados nacionais, combase na pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que a integração constitui condição fundamental para acelerar o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento econômico e <strong>social</strong> <strong>de</strong> seus povos. Estabeleceram, no preâmbulo do Tratado <strong>de</strong> Assunção,que a constituição do mercado comum <strong>de</strong>ve pautar-se pelo aproveitamento mais eficaz dos recursosdisponíveis, pela preservação do meio ambiente, pela melhora das interconexões físicas e pela coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>políticas macroeconômicas <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entação dos diferentes setores da economia”. Disponível <strong>em</strong>:www.mercosul.gov.br. Acesso <strong>em</strong>: 20 out. 2012.107 “[...] as políticas dos anos 1990 jogaram milhões <strong>de</strong> jovens na pobreza. Em 2003, 54% <strong>de</strong> todos os jovensentre catorze e 22 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> eram pobres nesse país” (KLIKSBERG, 2010, p. 216).


80São dados que revelam a gravida<strong>de</strong> do probl<strong>em</strong>a – o ingresso ao mercado <strong>de</strong> trabalhoda juventu<strong>de</strong>, uma das expressões da questão <strong>social</strong> 108 . Em relação à educação na Argentina,<strong>em</strong> 2006, 64% dos adolescentes <strong>de</strong> 15 a 19 anos se <strong>de</strong>dicavam somente ao estudo, 6%estudavam e trabalhavam e 2,8% estudavam e buscavam trabalho. Mais <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong>stesadolescentes viviam <strong>em</strong> lugares pobres e não completaram o ensino médio. Em relação aosjovens <strong>de</strong> 20 a 24 anos, somente 22,8% apenas estudavam, 13,6% estudavam e trabalhavam e4,3% estudavam e buscavam trabalho, e, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 60% dos jovens <strong>de</strong>sta faixa etáriaestavam fora do sist<strong>em</strong>a educativo (OIT, 2007), dados que indicam a diferença da relação dojov<strong>em</strong> com a educação e o trabalho, conforme a ida<strong>de</strong> do mesmo.Deste percentual <strong>de</strong> jovens argentinos que se encontram trabalhando, com ida<strong>de</strong> entre18 e 24 anos, <strong>em</strong> sua maioria, permanec<strong>em</strong> por pouco t<strong>em</strong>po vinculados ao <strong>em</strong>prego,principalmente diante da informalida<strong>de</strong> que supera 62% dos vínculos <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como afalta <strong>de</strong> proteção <strong>social</strong> e instabilida<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> trabalho e dos contratos (OIT, 2007).As fragilida<strong>de</strong>s do mercado <strong>de</strong> trabalho aumentaram o percentual <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong>situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, sendo os mais atingidos pela precarização na inserção. Asprincipais situações que os caracterizam seriam: o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado, não estudar e nãofinalizar o ensino formal e a inserção <strong>em</strong> trabalhos precários que, muitas vezes, apenasreforçam o ciclo <strong>de</strong> pobreza da família. Em 2006, 57,9% <strong>de</strong>stes jovens não finalizaram oensino secundário (OIT, 2007).Outra situação que caracteriza a vulnerabilida<strong>de</strong> entre os jovens, são aqueles que estão<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados com responsabilida<strong>de</strong>s familiar – neste grupo <strong>de</strong> jovens, 47,2% nãocompletaram o ensino médio, <strong>em</strong> sua maioria são mulheres, e 40,6% viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong>pobreza, outro grupo seriam os jovens com <strong>em</strong>pregos precários que abandonam osestudos, pois diante da fragilida<strong>de</strong> do ingresso assalariado, optam pela inserção <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>sprecarizadas, são <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 62,4% dos jovens argentinos (OIT, 2007).A juventu<strong>de</strong> Argentina, convive com uma realida<strong>de</strong> característica dos jovens latinoamericanos,on<strong>de</strong> a combinação <strong>de</strong> fatores como a precarização do mercado <strong>de</strong> trabalho, afragilida<strong>de</strong> familiar diante das situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e as exigências do capital nãopossibilitam uma modificação real, <strong>em</strong> sua maioria.Ao focar o olhar na juventu<strong>de</strong> do Brasil, os dados não se diferenciam tanto, umagran<strong>de</strong> parcela da população jov<strong>em</strong> brasileira também apresenta dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realizar uma108 O <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural, que atinge a juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes formas, torna-se umas das expressões daquestão <strong>social</strong>. A pesquisa no Serviço Social t<strong>em</strong> avançado, com um aumento significativo <strong>de</strong> produções aolongo dos últimos anos, ampliando as t<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong> estudo que objetivam atuar nas múltiplas expressões daquestão <strong>social</strong> (IAMAMOTO, 2008).


81inserção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, pois a precarização das condições <strong>de</strong> trabalho,as elevadas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, <strong>de</strong> informalida<strong>de</strong> e a falta <strong>de</strong> acesso à segurida<strong>de</strong> <strong>social</strong>tornam evi<strong>de</strong>ntes a probl<strong>em</strong>ática do “acesso <strong>de</strong>cente”, conforme indicam as Metas doMilênio.O Brasil, que durante as décadas <strong>de</strong> 80 e 90 viveu gran<strong>de</strong>s crises econômicas, b<strong>em</strong>como uma reestruturação do mercado <strong>de</strong> trabalho, conforme os dados trabalhados no capítulo2, mesmo com uma melhora nas taxas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego formal a partir <strong>de</strong> 2004, os jovens foram afaixa etária que apresentou a menor participação no aumento <strong>de</strong>stes índices (OIT, 2009).A exclusão <strong>social</strong>, a precária inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho e a falta <strong>de</strong> umaeducação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e do acesso a um trabalho <strong>de</strong>cente não apenas impe<strong>de</strong>m opleno exercício dos direitos <strong>de</strong> cidadania <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> jovensbrasileiros, como também compromet<strong>em</strong> sua vida futura (OIT, 2009, p. 20).Muitos jovens brasileiros viv<strong>em</strong> essa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar o estudo com o trabalho,com o objetivo <strong>de</strong> criar melhores condições <strong>de</strong> vida para suas famílias, pois muitos auxiliamna renda ou já são chefes <strong>de</strong> família. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, este jov<strong>em</strong> recebe uma exigência domercado <strong>de</strong> qualificação permanente diante da transformação tecnológica.No Brasil, <strong>em</strong> 2006 o percentual <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> 15 a 24 anos correspondia a 18,5% dapopulação do país (34,7 milhões), e, ao consi<strong>de</strong>rar os jovens na faixa <strong>de</strong> 15 a 29 anos 109 , estepercentual sobe para 50,5 milhões. Dentre este percentual, o Brasil se diferencia da Argentina<strong>em</strong> relação a questões <strong>de</strong> raça, cor e etnia, pois do total <strong>de</strong> jovens 18,2 milhões são negros e16,3 milhões são brancos, e <strong>de</strong>ntre estes os anos <strong>de</strong> estudo se diferenciamsignificativamente 110 , b<strong>em</strong> como, os anos <strong>de</strong> estudo do jov<strong>em</strong> urbano e do jov<strong>em</strong> que vive nomeio rural (OIT, 2009).A questão da escolarida<strong>de</strong> se ass<strong>em</strong>elha aos dados da Argentina, on<strong>de</strong> o nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> do jov<strong>em</strong> é superior ao do adulto, <strong>em</strong> 2006, 44% dos jovens brasileiros tinhamentre 09 e 11 anos <strong>de</strong> estudo. De forma geral, os jovens apresentam um maior acesso àescolarida<strong>de</strong>, mas a realida<strong>de</strong> do Brasil, sua diversida<strong>de</strong> regional, revela dados particulares <strong>de</strong>um país com gran<strong>de</strong> extensão, on<strong>de</strong>, como ex<strong>em</strong>plo, o analfabetismo no sul apresenta índices109 A faixa etária tradicionalmente utilizada pelas Nações Unidas é <strong>de</strong> 15 a 24 anos, no Brasil, a Constituição<strong>de</strong>termina a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 16 anos para ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, e a partir <strong>de</strong> 14 como aprendiz. Mas apolítica Nacional para a juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine a faixa etária dos 15 aos 29 anos (OIT, 2009).110 “[...] as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso à educação por raça/cor ainda são extr<strong>em</strong>amente elevadas. Enquanto apenas7,2% dos jovens brancos tinham <strong>de</strong> zero a quatro anos <strong>de</strong> estudo e 29,5% <strong>de</strong> cinco a oito anos, no caso dosjovens negros essas cifras se elevavam respectivamente <strong>de</strong> 16,2% e 39,7%. Enquanto 49,4% e 13,3% dosjovens brancos tinham, respectivamente, <strong>de</strong> nove a 11 ou 12 anos ou mais <strong>de</strong> estudo, esses percentuais sereduziam para 39,6% e 3,7% para os jovens negros” (OIT, 2009, p. 28- 29). São dados que revelam areprodução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> racial no país.


82<strong>de</strong> 0,9% e se eleva para 5,3% no nor<strong>de</strong>ste do país. São diferenças importantes ao se consi<strong>de</strong>raro local on<strong>de</strong> o jov<strong>em</strong> vive, urbano ou rural, a raça e a renda 111 (OIT, 2009).Em relação à condição <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho do jov<strong>em</strong> no Brasil, quantomaior a renda per capita da família, mais o jov<strong>em</strong> posterga sua entrada no mercado <strong>de</strong>trabalho e mais qualificação formal adquire. Outro dado relevante no Brasil é o percentual <strong>de</strong>jovens com 24 anos que são referência da família, 41% do total, um dado importante <strong>de</strong> seconsi<strong>de</strong>rar para a formulação <strong>de</strong> políticas para a juventu<strong>de</strong> (OIT, 2009).Em relação ao mercado <strong>de</strong> trabalho, o jov<strong>em</strong> no Brasil apresenta uma taxa <strong>de</strong>participação elevada na faixa etária dos 15 aos 24 anos – 63,9% 112 , na faixa dos 15 aos 19anos o percentual diminui para 50,4% e na faixa dos 20 aos 24 anos se eleva para 77,5%, oque não significa um ingresso <strong>de</strong>cente, pois a jornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>stes jovens, <strong>em</strong> suamaioria, prejudica a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar estudo e trabalho 113 (OIT, 2009), além daprecarização das relações e condições <strong>de</strong> trabalho.Em relação ao tipo <strong>de</strong> ocupação dos jovens, a maioria encontra-se vinculado aativida<strong>de</strong>s no setor <strong>de</strong> serviços e terceirizado, o percentual <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dores épequeno, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 9,3% se comparados com os adultos 24,7%, mesmo este sendo um dosobjetivos dos <strong>programa</strong>s – <strong>de</strong>senvolver o <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo. O tipo <strong>de</strong> vínculo quepredomina entre os jovens é <strong>em</strong>pregos s<strong>em</strong> carteira assinada, e a informalida<strong>de</strong> chegou a60,5% dos jovens ocupados <strong>em</strong> 2006. A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego dos jovens brasileiros também seass<strong>em</strong>elha à realida<strong>de</strong> da Argentina, pois <strong>em</strong> 2006 a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego entre os jovenschegou a 17,8% 114 , três vezes superior a dos adultos (OIT, 2009).111 No Brasil, particularmente, “A situação educacional, <strong>de</strong>corre <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida, do acesso restrito à educaçãoinfantil, e da baixa efetivida<strong>de</strong> no ensino fundamental, evi<strong>de</strong>nciadas pela elevada distorção ida<strong>de</strong>-série e pelosincipientes índices <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>ste nível <strong>de</strong> ensino. Desse modo, parcela consi<strong>de</strong>rável das crianças ingressana juventu<strong>de</strong> com <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> educacional, tanto do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo (anos <strong>de</strong> estudo) quanto <strong>em</strong>termos qualitativos (capacida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas). Estas <strong>de</strong>fasagens são agravadas pelas precáriascondições socioeconômicas, que concorr<strong>em</strong> para manter baixo o rendimento dos estudantes e, não raro,ampliar as taxas <strong>de</strong> abandono escolar” (CORBUCCI; CASSIOLATO; CODES; CHAVES, 2009, p. 106).112 Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o déficit do <strong>em</strong>prego formal é alto, dos 22 milhões <strong>de</strong> jovens economicamente ativos noano <strong>de</strong> 2006, cerca <strong>de</strong> 3,9 milhões estavam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados e 11milhões estavam inseridos <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregosinformais (OIT, 2009).113 “Assim, uma parte importante da juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> baixa renda no Brasil vive um dil<strong>em</strong>a: a busca <strong>de</strong> trabalho pornecessida<strong>de</strong> traz prejuízos à formação educacional formal, o que, por sua vez, gera impactos negativos sobresua inserção futura no mercado <strong>de</strong> trabalho, e, <strong>em</strong> geral, s<strong>em</strong> qualquer contrapartida significativa, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong>aquisição <strong>de</strong> experiência profissional <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, que contribua para a construção <strong>de</strong> uma trajetória <strong>de</strong>trabalho <strong>de</strong>cente” (OIT, 2009, p. 45).114 No Brasil, os dados indicam que: “[...] <strong>de</strong>terminadas características dos trabalhadores inci<strong>de</strong>m sobre aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experimentar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. As mulheres, os negros e aqueles que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas urbanas,<strong>em</strong> especial, metropolitanas, têm maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar nessa situação do que, respectivamente, oshomens, os brancos, e aqueles que viv<strong>em</strong> na zona rural” (OIT, 2009, p. 57).


83Os dados sobre os jovens da Argentina e do Brasil <strong>em</strong> relação à educação e aotrabalho, principalmente na primeira década <strong>de</strong> 2000, direcionam a alguns dos objetivos dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes países, conforme os dados contidos noQuadro 4, ou seja, tentam respon<strong>de</strong>r aos elevados índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>de</strong>sta faixa etária e aauxiliar os jovens na finalização do estudo formal.


84Quadro 4 - Programas <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> da Argentina e do Brasil.ArgentinaBrasilPaís Programa / Público-alvo ObjetivosApren<strong>de</strong>r Trabajando – Jovens apartir <strong>de</strong> 16 anos do ensinomédio.Programa Nacional <strong>de</strong> InclusiónJuvenil – jovens <strong>de</strong> 18 a 25 anos<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado ou sub<strong>em</strong>pregado.Proyectos Intersetoriales –jovens <strong>de</strong> 18 a 30 anos –mulheres rurais.Red <strong>de</strong> Empresas Jóvenes conFuturo – jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos.Entrenamiento para el trabajo <strong>de</strong>jóvenes tucumanos – jovens<strong>de</strong>socupados <strong>de</strong> 18 a 25 anos.Programa Jóvenes con Más eMejor Trabajo – jovens <strong>de</strong> 18 a24 anos, que não tenhamconcluído o ensino fundamentalou médio, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.Soldado Cidadão – jovens <strong>de</strong>famílias carentes que prestamserviço militar.Nossa Primeira Terra – jovenss<strong>em</strong> terra, filhos <strong>de</strong> agricultoresfamiliares, estudantes <strong>de</strong> escolastécnicas agrícolas com ida<strong>de</strong>entre 18 e 28 anos.Programa Projov<strong>em</strong> Adolescente– jovens <strong>de</strong> 15 a 17 anosPrograma Projov<strong>em</strong> Urbano –jovens <strong>de</strong> 18 a 29 anos que nãofinalizaram o ensinofundamental.Programa Projov<strong>em</strong> Campo –Saberes da Terra – jovens domeio ruralProjov<strong>em</strong> Trabalhador – jovens<strong>de</strong> 18 a 29 anos, m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong>famílias com renda per capita <strong>de</strong>1 SM, que esteja cursando oufinalizando o ensino fundamentalou médio.Desenvolvimento <strong>de</strong> ações que facilit<strong>em</strong>a transição escola – trabalho;<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiênciasprodutivas <strong>de</strong> bens e serviços.Desenvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>sprodutivas e promoção <strong>de</strong><strong>em</strong>preendimentos produtivos.Propiciar a inclusão educativa; fornecerorientações sobre a busca <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos <strong>em</strong>elhorar as condições socioeconômicas.Desenvolver a responsabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong> e<strong>em</strong>prego <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> açõesque facilit<strong>em</strong> o <strong>em</strong>prego do jov<strong>em</strong>.Melhorar as competências e habilida<strong>de</strong>sdos jovens, com o objetivo <strong>de</strong> auxiliar nainserção no trabalho.Gerar oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão <strong>social</strong> elaboral finalizar a escolarida<strong>de</strong>, realizarexperiências <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> práticasqualificantes, iniciar uma ativida<strong>de</strong>produtiva.Qualificar <strong>social</strong> e profissionalmente osjovens através <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> qualificação.Manter o jov<strong>em</strong> e sua família no campo,evitando a migração para a cida<strong>de</strong>;possibilitar a qualificação técnica einovação tecnológica.Oferece oportunida<strong>de</strong> socioeducativapara criar condições <strong>de</strong> inserção,reinserção ou permanência do jov<strong>em</strong> nosist<strong>em</strong>a educativo.Formação básica do ensino fundamental,qualificação profissional inicial composta<strong>de</strong> formação técnica geral e formaçãotécnica específica.Oferecer formação básica do ensinofundamental para aqueles que nãocompletaram e integração à qualificação<strong>social</strong> e profissional.Preparar o jov<strong>em</strong> para o mercado <strong>de</strong>trabalho ou para ocupações geradoras <strong>de</strong>renda.Fonte dos dados brutos: OITc. Proyecto Prejal – Promoción <strong>de</strong>l <strong>em</strong>pleo juvenil en América Latina(Site oficial).


85Em relação aos <strong>programa</strong>s argentinos, aqueles que mais se <strong>de</strong>stacam e apresentam amaior abrangência são: Jóvenes con Futuro e Jóvenes con Más e Mejor Trabajo. Oprimeiro <strong>de</strong>les apresenta o foco na intervenção entre público e privado, pois também objetivaa formação profissional, <strong>em</strong> parceria com <strong>em</strong>presas lí<strong>de</strong>res do mercado, e busca “superar asbarreiras próprias do mercado <strong>de</strong> trabalho”. O <strong>programa</strong> traz como <strong>de</strong>safio a inserção dosjovens, <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, ao mercado <strong>de</strong> trabalho associadas: a elevadas taxas<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no país; à informalida<strong>de</strong> do trabalho; ao <strong>em</strong>prego precário e ao sist<strong>em</strong>aeducativo segmentado <strong>em</strong> relação à qualida<strong>de</strong> da educação ofertada. A permanência no<strong>programa</strong> po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong> 3 a 10 meses e 6 horas diárias. Das 27 <strong>em</strong>presas que participam do<strong>programa</strong>, 21 estão voltadas ao setor <strong>de</strong> serviço (MINISTERIO DE TRABAJO, EMPLEO YSEGURIDAD SOCIAL; PNUD; CEPAL; OIT, 2010).Em relação ao Programa Jóvenes con Más e Mejor Trabajo, este investe napossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o jov<strong>em</strong> ser acompanhado por um tutor ou orientador, i<strong>de</strong>ntificando suasnecessida<strong>de</strong>s e priorida<strong>de</strong>s, auxiliando com “estratégias” para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suaformação na busca e acesso ao <strong>em</strong>prego, também indica como público-alvo os jovens <strong>de</strong>famílias atendidas <strong>em</strong> <strong>programa</strong>s sociais (MINISTERIO DE TRABAJO, EMPLEO YSEGURIDAD SOCIAL; PNUD; CEPAL; OIT, 2010).Um dos incentivos do <strong>programa</strong> é a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes oupequena <strong>em</strong>presa. O <strong>programa</strong> também propõe trabalhar conceitos técnicos básicos, b<strong>em</strong>como aspectos <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong>, higiene e saú<strong>de</strong>. Também apresenta como um dos objetivos acapacitação conforme a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho local. Em 2006 o <strong>programa</strong> aten<strong>de</strong>u 27.900jovens entre 18 e 24 anos. Os dois <strong>programa</strong>s possibilitam um recurso financeiro que estárelacionado à modalida<strong>de</strong> do <strong>programa</strong> <strong>em</strong> que o jov<strong>em</strong> se insere e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência(MINISTERIO DE TRABAJO, EMPLEO Y SEGURIDAD SOCIAL, 2008).Dentre os <strong>programa</strong>s do Brasil, aqueles que mais se <strong>de</strong>stacam são as 4 modalida<strong>de</strong>s doProjov<strong>em</strong> 115 . Cabe <strong>de</strong>stacar que, <strong>em</strong>bora todas as modalida<strong>de</strong>s façam parte <strong>de</strong> um único<strong>programa</strong>, a gerência ocorre <strong>em</strong> diferentes Ministérios: Ministério do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome (Projov<strong>em</strong> Adolescente); Ministério da Educação (Projov<strong>em</strong> Urbano);Ministério da Agricultura <strong>em</strong> parceria com o Ministério da Educação (Projov<strong>em</strong> Campo) e115 No Brasil, <strong>em</strong> 2005 foi instituída a Política Nacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong>, a criação da Secretaria Nacional <strong>de</strong>Juventu<strong>de</strong> – SNJ, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> (CONJUVE) e do Programa Nacional <strong>de</strong> Inclusão <strong>de</strong>Jovens – Projov<strong>em</strong>. A SNJ é responsável pela gestão do Projov<strong>em</strong> e o CONJUVE t<strong>em</strong> a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formulare propor diretrizes <strong>de</strong> ação governamental voltada à promoção <strong>de</strong> políticas públicas para a juventu<strong>de</strong>. “O eixoarticulador da atual política pública <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> é norteado por duas noções fundamentais: oportunida<strong>de</strong>s edireitos. As ações e <strong>programa</strong>s visam oferecer oportunida<strong>de</strong>s e garantir direitos aos jovens brasileiros. Nessavisão consi<strong>de</strong>ra-se necessária a oferta <strong>de</strong> meios para aquisição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s (acesso à educação e àqualificação profissional) e para sua utilização (acesso ao trabalho <strong>de</strong>cente e ao crédito)” (OIT, 2009, p. 72).


86Ministério do Trabalho e Emprego (Projov<strong>em</strong> Trabalhador), todos estão ligados à PolíticaNacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> (PORTAL BRASIL, 2010).O Programa iniciou algumas das modalida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> 2005 e se reestrutura <strong>em</strong> 2008,passando a ser chamado <strong>de</strong> Projov<strong>em</strong> Integrado, também conta com o apoio da socieda<strong>de</strong>civil. A modalida<strong>de</strong> Projov<strong>em</strong> Adolescente, após a criação do Programa Bolsa Família,cancelou o repasse da bolsa (r<strong>em</strong>uneração) diretamente ao jov<strong>em</strong>, e, o mesmo que participa<strong>de</strong>ve ser beneficiário do <strong>programa</strong> <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda ou estar <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> risco<strong>social</strong>, encaminhado pelo Conselho Tutelar ou serviços da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento (PORTALBRASIL, 2010).A modalida<strong>de</strong> Projov<strong>em</strong> Urbano foca suas ações na questão da educação, através daEducação <strong>de</strong> Jovens e Adultos, o jov<strong>em</strong> que participa e apresenta 75% <strong>de</strong> frequência recebeuma bolsa <strong>de</strong> R$100,00 mês. Em 2012 a participação atingiu 18 capitais, 19 Estados e oDistrito Fe<strong>de</strong>ral, cont<strong>em</strong>plando um total <strong>de</strong> 110 mil jovens no país (PORTAL BRASIL,2010).A modalida<strong>de</strong> Projov<strong>em</strong> Campo, oferece um curso com duração <strong>de</strong> dois anos, ojov<strong>em</strong> recebe um repasse <strong>de</strong> R$100,00 bimensais e certificação <strong>de</strong> ensino fundamental, com aQualificação Profissional <strong>em</strong> Produção Rural Familiar, se apresentar uma frequência <strong>de</strong> 75%(PORTAL BRASIL, 2010).A modalida<strong>de</strong> Projov<strong>em</strong> Trabalhador oferece cursos com 350 horas aula, tambémocorre o repasse <strong>de</strong> uma bolsa por 6 meses no valor <strong>de</strong> R$100,00 se houver a frequênciamínima exigida (PORTAL BRASIL, 2010).Ao propor um comparativo entre os <strong>programa</strong>s, observa-se que as convergências quese apresentam voltam-se para os objetivos dos mesmos, todos indicam como foco central aqualificação do jov<strong>em</strong>, que se mescla com a finalização da educação formal, principalmentea fundamental, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, com a “preparação” para o ingresso no mercado <strong>de</strong>trabalho, <strong>de</strong>senvolvendo suas habilida<strong>de</strong>s e competências, além <strong>de</strong> cursos específicos,conforme a <strong>de</strong>manda do mercado <strong>de</strong> trabalho e a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada região.Dentre os objetivos, também se observa um incentivo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>“capacida<strong>de</strong>s produtivas”, estimulando o jov<strong>em</strong> na abertura <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos ou uma“ativida<strong>de</strong> produtiva in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte” no setor <strong>de</strong> serviços, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po construindoprocessos sociais <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> ou a formação <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s alternativas; são incentivos queo mercado <strong>de</strong> trabalho neste século XXI v<strong>em</strong> estimulando.Em relação ao público-alvo, a maioria dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> cada país indica a ida<strong>de</strong>mínima <strong>de</strong> 18 anos para ingressar, apenas uma modalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> cada região inclui o


87adolescente <strong>de</strong> 15 ou 16 anos, com o incentivo <strong>de</strong>ste manter-se no sist<strong>em</strong>a educativo, poismuitos jovens ainda se encontram no ensino fundamental ou iniciando o ensino médio. O quese diferencia nesta modalida<strong>de</strong> é que, no Brasil, a maioria dos beneficiários <strong>de</strong>ste <strong>programa</strong><strong>de</strong>ve participar do Programa <strong>de</strong> Transferência <strong>de</strong> Renda – Bolsa Família 116 . Tais <strong>programa</strong>stêm sido uma das formas <strong>de</strong> manter as crianças e os jovens no sist<strong>em</strong>a educacional primário,pois se apresenta como uma condicionalida<strong>de</strong> para a permanência da família.O que também se <strong>de</strong>staca nos <strong>programa</strong>s dos dois países é o foco no jov<strong>em</strong> do meiourbano, principalmente diante dos índices <strong>de</strong> urbanização dos países, mas indicam comopúblico-alvo <strong>de</strong> uma das modalida<strong>de</strong>s o jov<strong>em</strong> que vive no meio rural 117 . Na Argentina, o<strong>programa</strong> foca-se especificamente na mulher, e no Brasil mulheres e homens, ambosobjetivam a questão da finalização da escolarida<strong>de</strong> e qualificação para melhorar as condições<strong>de</strong> renda das famílias, pois os anos <strong>de</strong> estudo dos jovens do meio rural são menores secomparados com os dados do jov<strong>em</strong> que vive no meio urbano, b<strong>em</strong> como a precarização dotrabalho.A população jov<strong>em</strong> (15 a 29 anos) rural na Argentina fica <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2,5% do total<strong>de</strong> jovens nesta faixa etária no país, uma região on<strong>de</strong> a população é praticamente urbana,diferente do Brasil que, diante <strong>de</strong> sua extensão, o percentual <strong>de</strong> jovens no meio ruralconsi<strong>de</strong>ra-se mais expressivo, o que reflete nos dados totais dos jovens on<strong>de</strong> 27% dapopulação rural é composta por jovens entre 15 e 29 anos 118 (OIT, 2010).Algumas das modalida<strong>de</strong>s dos <strong>programa</strong>s da Argentina e do Brasil apresentam algumrepasse financeiro ao jov<strong>em</strong>, que se relaciona com a frequência no curso ou o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>duração do mesmo.Uma das diferenças que se observa entre os <strong>programa</strong>s dos dois países se relaciona aopúblico-alvo: enquanto no Brasil a maioria dos <strong>programa</strong>s indica o jov<strong>em</strong> que não finalizou oensino fundamental, na Argentina a maioria volta-se para a finalização do ensino secundário,ou seja, <strong>em</strong>bora não tenham finalizado a educação formal, os argentinos apresentam um116 Na Argentina, o Programa <strong>de</strong> Transferência <strong>de</strong> Renda “Familia por la Inclusión Social”, traz como uma dascondicionalida<strong>de</strong>s a frequência escolar dos filhos menores <strong>de</strong> 19 anos.117 O Brasil, diante <strong>de</strong> um percentual maior <strong>de</strong> jovens que viv<strong>em</strong> no meio rural, <strong>de</strong>staca dois <strong>programa</strong>s.118 “Para os que viv<strong>em</strong> no campo, as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho e construção <strong>de</strong> autonomia são mais difíceis, poisse inser<strong>em</strong> <strong>em</strong> padrões culturais que operam com a lógica da continuida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> agrícola, <strong>em</strong> estreitarelação com o tamanho da terra a que estejam vinculados por laços <strong>de</strong> família” (FERREIRA; ALVES, 2009, p.246). Além disso, os anos <strong>de</strong> estudo do jov<strong>em</strong> rural ficam <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 6,5 anos, pois as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso,a precarieda<strong>de</strong> das famílias, a falta <strong>de</strong> transporte, as más condições das escolas e a distância entre os conteúdosestudados e a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong> auxiliam na evasão escolar (FERREIRA; ALVES, 2009).


88número mais elevado <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo se comparados aos jovens do Brasil – uma realida<strong>de</strong>que também inci<strong>de</strong> sobre o percentual <strong>de</strong> pobreza dos países 119 .Tanto na Argentina como no Brasil, um número significativo <strong>de</strong> jovens concilia aeducação com o trabalho, muitas vezes <strong>em</strong> jornadas exaustivas que prejudicam o rendimentona escola, ou <strong>de</strong>smotiva-os levando à evasão. E, nos dois países, quanto maior a rendafamiliar <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong>, maior será os anos <strong>de</strong> estudo e mais tar<strong>de</strong> será seu ingresso no mercado<strong>de</strong> trabalho.Dentre os objetivos, também se observa que na Argentina os <strong>programa</strong>s focam na suamaioria, as <strong>de</strong>mandas do mercado <strong>de</strong> trabalho, ou seja, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s,habilida<strong>de</strong>s, responsabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong> e, além disso, melhorar as condições socioeconômicas dojov<strong>em</strong>. Uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s, que abrange uma série <strong>de</strong> exigências ao jov<strong>em</strong>,que vai da capacitação formal ao <strong>de</strong>senvolvimento pessoal.Os jovens da Argentina e do Brasil são frutos <strong>de</strong> uma situação econômica, política,<strong>social</strong> e cultural específica <strong>de</strong> cada país, mas também da região, que se <strong>de</strong>monstra nas<strong>em</strong>elhança <strong>em</strong> alguns dados como a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção ao mercado <strong>de</strong> trabalho formalneste século XXI, pois diante das <strong>de</strong>mandas do capital a exigência não t<strong>em</strong> fronteiras.Para tanto, no próximo it<strong>em</strong>, preten<strong>de</strong>-se aprofundar a lógica atual que permeia arelação capacitação versus educação, uma contradição <strong>em</strong> foco, principalmente após osurgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>.4.2 CAPACITAÇÃO VERSUS EDUCAÇÃO: A CONTRADIÇÃO EM FOCOO t<strong>em</strong>a da capacitação para o ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho s<strong>em</strong>pre esteve presentenas <strong>de</strong>mandas do mercado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período <strong>em</strong> que inicia a industrialização na AméricaLatina, conforme os dados do capítulo 2, e esta relação torna-se presente e se fortalece com oavanço do capitalismo.Por outro lado, a educação formal 120 , um direito reconhecido por legislações no mundointeiro, é um direito <strong>de</strong> cidadania, que <strong>de</strong>ve ser garantido a todos, principalmente o ensino119 Na Argentina, a incidência <strong>de</strong> pobreza entre os jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos é inferior a 15% e a indigência inferiora 5%; no Brasil, a incidência <strong>de</strong> pobreza entre os jovens <strong>de</strong>sta faixa etária fica acima <strong>de</strong> 20% e <strong>de</strong> indigênciaacima <strong>de</strong> 5% (CEPAL, 2011).120 “A educação formal t<strong>em</strong> objetivos claros e específicos e é representada principalmente pelas escolas euniversida<strong>de</strong>s. Ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturashierárquicas e burocráticas, <strong>de</strong>terminadas <strong>em</strong> nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos ministérios daeducação” (GADOTTI, 2005, p. 02).


89fundamental. O direito à educação <strong>de</strong>ve cont<strong>em</strong>plar o direito do jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> acessarum ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, o que muitas vezes é negado.Em toda a região, a cidadania fez da educação uma <strong>de</strong> suas reivindicaçõesprincipais. No processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização, os investimentos nesse campoaumentaram, e avanços consi<strong>de</strong>ráveis foram obtidos <strong>em</strong> áreas como a massificaçãodo acesso à escola primária e a forte queda das taxas <strong>de</strong> analfabetismo. No entanto,os resultados alcançados pelos sist<strong>em</strong>as educacionais da região continuam muitodistantes das metas consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>sejáveis (KLIKSBERG, 2010, p. 230).Mas, os avanços na educação, um direito <strong>de</strong> todos, ocorreram principalmente após oano 2000, juntamente com as Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio, que também indicamcomo um dos objetivos a “educação básica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para todos”, o que na realida<strong>de</strong>encontra-se longe <strong>de</strong> ocorrer principalmente no ensino público.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, as recomendações da OIT, relacionadas aos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação e formação para a juventu<strong>de</strong>, reforçam o quanto os processos formativos <strong>de</strong>v<strong>em</strong>estar orientados à inserção ao trabalho e a apoiar o trânsito da educação ao trabalho, gerandouma trajetória <strong>de</strong> qualificação. Um <strong>de</strong>safio presente no cotidiano das políticas <strong>de</strong>senvolvidaspara a juventu<strong>de</strong>, frente aos dados sobre a educação formal dos jovens latino-americanos; narealida<strong>de</strong>, o que se observa é uma lacuna <strong>de</strong>safiadora no transcorrer <strong>de</strong>ste caminho.Uma juventu<strong>de</strong> que ao longo do século XX t<strong>em</strong> vivido diferentes olhares do Estado<strong>em</strong> relação a este período <strong>de</strong> vida, e este varia conforme o momento econômico e político quecada país vivencia. Como ex<strong>em</strong>plo, nos anos 50, quando se optou por investir massivamentena educação dos jovens e na ocupação do seu t<strong>em</strong>po livre, principalmente nos países queestavam <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, diferente dos anos 60 e 70 que foi marcado porperíodos ditatoriais, on<strong>de</strong> a preocupação focou o controle e a censura; nos anos 80, com oinício das crises econômicas, a preocupação volta-se para a situação <strong>de</strong> pobreza e violência,que aumenta significativamente entre o jov<strong>em</strong> e sua família; e, nos anos 90, o incentivo <strong>de</strong>investir no jov<strong>em</strong> como capital humano voltado ao mundo produtivo (RODRIGUES, 2008).Este novo olhar sobre a juventu<strong>de</strong> impõe novos <strong>de</strong>safios aos jovens e um papelprepon<strong>de</strong>rante no “<strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>”; para tanto, os investimentos na educação,capacitação e qualificação têm sido proporcionados pelos <strong>programa</strong>s públicos e privados 121 .121 “Assim, o que cada Estado ou governo reserva ao ‘seu jov<strong>em</strong>’ – o que propõe o que dá e o que nega a ele –acaba imbuindo as políticas públicas <strong>de</strong>stinadas a esse grupo geracional, <strong>de</strong> um caráter quase ‘utilitário’. Restasaber se essas percepções da juventu<strong>de</strong> por parte das instituições públicas (e as ações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ssaspercepções) encontram eco nas <strong>de</strong>mandas reais apresentadas pelos jovens, não só <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> e<strong>de</strong> interesses, mas também <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos e aspirações” (RODRIGUES, 2008, p. 205).


90Em relação à educação formal, a juventu<strong>de</strong> nas últimas duas décadas t<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstradoum aumento no número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo, se comparados com os índices dos adultos latinoamericanos,diante do incentivo dos países <strong>de</strong> tornar um direito <strong>de</strong> todos a finalização doensino básico. Mas, as modificações estruturais que ocorreram a partir dos anos 90 têmexigido dos jovens um investimento além do ensino básico formal, uma lógica quase queinvertida ao se comparar o incentivo à capacitação e à educação formal para a inserção nomercado <strong>de</strong> trabalho.Frente a estes incentivos para a capacitação da juventu<strong>de</strong>, encontram-se os Objetivos<strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio, que incorporaram o trabalho <strong>de</strong>cente 122 para os jovenscomo um dos pilares para a redução da pobreza; além disso, os jovens são parte <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ações na Agenda H<strong>em</strong>isférica <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>cente nas Américas, o quejustificaria o surgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>. Mas capacitar-separa quê diante da lógica do capital?Os objetivos dos <strong>programa</strong>s avançam para uma lógica <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>“oportunida<strong>de</strong>s”, dos direitos trabalhistas, por r<strong>em</strong>unerações que garantam a este jov<strong>em</strong> sair<strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> pobreza e pelo acesso à proteção <strong>social</strong>, como se as modalida<strong>de</strong>soferecidas foss<strong>em</strong> dar conta <strong>de</strong>ste mercado <strong>de</strong> trabalho cont<strong>em</strong>porâneo, que exige cada vezmais qualificação e oferece um número reduzido <strong>de</strong> vagas. Além disso, trata-se <strong>de</strong> ummercado <strong>de</strong> trabalho que vive conforme a <strong>de</strong>manda do capital.Ao focar o olhar na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, como uma dasformas <strong>de</strong> oportunizar ao jov<strong>em</strong> um “trabalho <strong>de</strong>cente”, nega-se a realida<strong>de</strong> da educaçãoformal dos jovens da América Latina e Caribe, on<strong>de</strong> apenas 35% <strong>de</strong>stes, com ida<strong>de</strong> entre 15 e29 anos, estão inseridos no sist<strong>em</strong>a educativo (CEPAL, 2011), uma realida<strong>de</strong> que sofregran<strong>de</strong>s variações ao se comparar os países, o quintil familiar, a questão étnica e <strong>de</strong> gênero 123(CEPAL, 2011).Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a educação formal é consi<strong>de</strong>rada como um pilar-chave nainserção ao trabalho e inclusão <strong>social</strong> da juventu<strong>de</strong>, convive-se, na América Latina, com umarealida<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiadora: além dos dados da educação formal primária e secundária, já <strong>de</strong>scritosno capítulo anterior, apenas 9% dos jovens entre 25 e 29 anos, concluíram uma educaçãouniversitária equivalente a 5 anos <strong>de</strong> estudo; um dado que também se diferencia ao comparar-122 “El concepto <strong>de</strong> trabajo <strong>de</strong>cente propuesto por el Director General <strong>de</strong> la OIT alu<strong>de</strong> a un trabajo productivocon r<strong>em</strong>uneración justa, seguridad en el lugar <strong>de</strong> trabajo y protección <strong>social</strong> para el trabajador y su familia,mejores perspectivas para el <strong>de</strong>sarrollo personal y <strong>social</strong>, libertad para que manifiesten sus preocupaciones, seorganicen y participen en la toma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisiones que afectan a sus vidas así como la igualdad <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>sy <strong>de</strong> trato para mujeres y hombres” (OIT, 2010a, p. 21).123 Para aprofundar este <strong>de</strong>bate ver texto da CEPAL, Informe Juventu<strong>de</strong> 2011.


91se as regiões, como ex<strong>em</strong>plo: na Argentina on<strong>de</strong> o percentual chega a 20% e no Brasil (jovens<strong>de</strong> 18 a 24 anos) o percentual fica <strong>em</strong> 13% (CEPAL, 2011).Outro dado importante <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar <strong>em</strong> relação ao acesso à educação seria o uso <strong>de</strong>tecnologias <strong>de</strong> informação, por parte dos jovens latino-americanos, um recurso importante nouso educativo, mas pesquisas indicam o quanto muitos jovens entre 16 e 29 anos ainda estãofora do acesso ou da utilização como ferramenta <strong>de</strong> estudo.Entre aqueles que contam com o acesso à Internet (jovens <strong>de</strong> 16 a 29 anos), 36%utilizam para buscar informações, 21% para estudar, 13% para trabalhar e 25% somente paraentretenimento, <strong>de</strong>ntre estes 30% acessa <strong>em</strong> um café ou outro local pago (CEPAL, 2011). Maschama a atenção o percentual <strong>de</strong> jovens que nunca acessou a Internet – 44%, um dado quetambém se diferencia ao comparar<strong>em</strong>-se os países da região, como ex<strong>em</strong>plo: na Argentina67% dos jovens acessa a re<strong>de</strong> diariamente e no Brasil 59% (CEPAL, 2011).Dados que revelam a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à tecnologia <strong>de</strong> informação entre osjovens, on<strong>de</strong> o menor acesso está vinculado aos jovens <strong>de</strong> menor quintil, b<strong>em</strong> como a questãoétnica (indígenas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes) e ao jov<strong>em</strong> do meio rural, o que também inci<strong>de</strong> naquestão do ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s precárias (CEPAL, 2011).A contradição 124 encontra-se <strong>em</strong> foco ao se observar o quanto os jovens latinoamericanos,<strong>em</strong> sua maioria, antes <strong>de</strong> capacitar-se para a inserção no mercado, <strong>de</strong>veriamacessar um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que propiciasse a finalização do ensino primário e/ousecundário, pois no ingresso ao mercado <strong>de</strong> trabalho, estes dados irão diferenciar o tipo <strong>de</strong>acesso, as condições <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como a r<strong>em</strong>uneração 125 .Ao observar as informações sobre as “oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho para a juventu<strong>de</strong>”, oque surge <strong>de</strong> concreto é que, mais <strong>de</strong> um terço dos jovens latino-americanos estão vinculadosao setor <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>, principalmente as mulheres, e, quanto maior o níveleducacional, menor o acesso nestes setores 126 .124 “A contradição dialética t<strong>em</strong> sua raiz profunda no conteúdo, no ser concreto: nas lutas, na vida, na socieda<strong>de</strong>,no espírito humano [...] Só é real aquilo que apresenta contradições, aquilo que se apresenta como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>contradições” (LEFEBVRE, 1991, p. 192). “[...] A contradição é <strong>de</strong>struidora, mas também criadora, já que seobriga à superação, pois a contradição é intolerável” (PRATES, 2003, p. 08).125 O abandono da escola formal po<strong>de</strong> ocorrer, muitas vezes, não apenas pelo ingresso precoce ao mercado <strong>de</strong>trabalho, mas também pela falta <strong>de</strong> estímulo e pela baixa qualida<strong>de</strong> da educação.126 “Os trabalhos <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong> mais do que se duplicam no quintil inferior, os mais pobres, <strong>em</strong> relaçãoaos do quintil superior, o que significa que os jovens mais b<strong>em</strong> preparados <strong>de</strong>ssa última parcela foram os queabocanharam, numa proporção muito maior, os postos <strong>de</strong> alta e média produtivida<strong>de</strong> gerados pelas economiasda região, entre 1990 e 2005” (KLIKSBERG, 2010, p. 220).


92Ou seja, a taxa <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> jovens entre 15 e 29 anos no setor <strong>de</strong> baixaprodutivida<strong>de</strong> se modifica conforme os anos <strong>de</strong> estudo: a taxa <strong>de</strong> jovens que dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong>primário incompleto é <strong>de</strong> 66,3%; dos jovens que apresentam secundário incompleto é <strong>de</strong>51,6% e para aqueles que dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> secundário completo é <strong>de</strong> 31,5% (CEPAL, 2011).Uma realida<strong>de</strong> que revela o quanto a juventu<strong>de</strong> necessita que o seu direito à educaçãotenha um significado maior frente à capacitação para inserção ao trabalho, uma lógica qu<strong>em</strong>uitas vezes culpabiliza o jov<strong>em</strong> na sua dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção no mercado, como se omesmo não dispusesse <strong>de</strong> “capacida<strong>de</strong>s” para tanto, uma realida<strong>de</strong> que torna aresponsabilida<strong>de</strong> individual.Como na perspectiva das Capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Amartya Sen, on<strong>de</strong> “[...] a pobreza <strong>de</strong>ve servista como privação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s básicas” (SEN, 2000, p. 106), ou seja, os jovens que seencontram <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza na América Latina são consi<strong>de</strong>rados como privados <strong>de</strong>suas Capacida<strong>de</strong>s, pois consi<strong>de</strong>ra que a renda é um meio importante <strong>de</strong> se obter Capacida<strong>de</strong>sou que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas Capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ocorrer através da renda. Mas, tambémindica que: “Quanto mais inclusivo for o alcance da educação básica e dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,maior será a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que mesmo os potencialmente pobres tenham uma chanc<strong>em</strong>aior <strong>de</strong> superar a penúria” (SEN, 2000, p. 113). Como se, ao obter este mínimo <strong>de</strong> educaçãoformal, o jov<strong>em</strong> tivesse oportunida<strong>de</strong>s significativas, como se a realida<strong>de</strong> do mercado nãoinfluenciasse nas “oportunida<strong>de</strong>s” do mercado <strong>de</strong> trabalho.O autor também consi<strong>de</strong>ra que “[...] por meio da educação, aprendizado eespecialização as pessoas po<strong>de</strong>m tornar-se muito mais produtivas ao longo do t<strong>em</strong>po, e issocontribui enorm<strong>em</strong>ente para o processo <strong>de</strong> expansão econômica” (SEN, 2000, p. 331), umalógica que permeia os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, ou seja, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>capacitar-se para o mercado, visando ao crescimento econômico <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outrossignificados do trabalho, além disso, responsabilizando o jov<strong>em</strong> individualmente pela suainserção ou não no mercado, <strong>de</strong>sresponsabilizando o entorno político e econômico.Uma i<strong>de</strong>ia que também po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada ilusória diante <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong>trabalho competitivo, restrito e preocupado com o aumento da produção <strong>de</strong> mercadorias e docapital humano – utilizar como uma das vias o “<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo” 127 .127 A i<strong>de</strong>ia do <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo surge nos Estados Unidos, <strong>em</strong> 1985, após um s<strong>em</strong>inário on<strong>de</strong> reuniuacadêmicos, <strong>em</strong>presários e formuladores <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> países <strong>de</strong> capitalismo avançado, com o objetivo <strong>de</strong>pensar novas linhas <strong>de</strong> ação dos governos diante das crises econômica e fiscal (HARVEY, 2005). “O s<strong>em</strong>inárioexpressou um gran<strong>de</strong> consenso: os governos urbanos tinham <strong>de</strong> ser muito mais inovadores e <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dores,com disposição <strong>de</strong> explorar todos os tipos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para minorar sua calamitosa situação, e, assim,assegurar um futuro melhor para suas populações” (HARVEY, 2005, p. 164).


93A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo <strong>em</strong> relação ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico, que surgenos países <strong>de</strong> capitalismo avançado, logo é incorporada nos países <strong>de</strong> industrialização tardia,principalmente após as reformas estruturais, on<strong>de</strong> os vínculos entre o setor público e privadotornam-se mais estreitos (HARVEY, 2005).[...] o novo <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo t<strong>em</strong>, como el<strong>em</strong>ento principal, a noção <strong>de</strong> ‘parceriapúblico-privada’, <strong>em</strong> que a iniciativa tradicional local se integra com o uso dospo<strong>de</strong>res governamentais locais, buscando e atraindo fontes externas <strong>de</strong>financiamento, e novos investimentos diretos ou novas fontes <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego(HARVEY, 2005, p. 170).Uma relação que atrai investimento <strong>de</strong> capital privado e, muitas vezes, com a“promessa” <strong>de</strong> novos <strong>em</strong>pregos, mas “Em muitos casos, os tipos <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos impe<strong>de</strong>mqualquer mudança progressiva na distribuição da renda [...]” (HARVEY, 2005, p. 180), pois oestímulo às pequenas <strong>em</strong>presas e na terceirização po<strong>de</strong> se transformar, ao mesmo t<strong>em</strong>po, numincentivo ao setor informal, “necessário” para a sobrevivência urbana na lógica docapitalismo.A i<strong>de</strong>ia do <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo também incentivou a migração para as gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s,muitos jovens <strong>de</strong>ixam o meio rural com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> encontrar uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s no meio urbano; <strong>de</strong>staca-se também que, <strong>de</strong>ntre os objetivos dos <strong>programa</strong>spara a juventu<strong>de</strong>, muitos indicam a parceria com a <strong>em</strong>presa privada na abertura <strong>de</strong> vagas ouna realização dos cursos focados nas propostas do “jov<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor” 128 .A proposta <strong>de</strong> alguns <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> inserir o jov<strong>em</strong>como um “agente da construção do capital <strong>social</strong>” ou <strong>de</strong> utilizar sua “capacida<strong>de</strong><strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dora” para a inserção ao mercado <strong>de</strong> trabalho, vai ao encontro da própria lógica docapital, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, nega as crises <strong>de</strong>ste mercado.Nega também a condição <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>social</strong> ou risco que este jov<strong>em</strong> apresenta,seja pela renda ou condições <strong>de</strong> vida precária, da exposição à violência urbana, dos probl<strong>em</strong>as<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, do abandono ao estudo formal, entre outros, pois <strong>em</strong>bora este seja o público-alvo <strong>de</strong>alguns <strong>programa</strong>s, os objetivos dos mesmos focam somente a inserção <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong> aomercado <strong>de</strong> trabalho, a qualificação, assim, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado outras <strong>de</strong>mandas ligadas à educaçãoformal <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, espaços <strong>de</strong> cultura e lazer, b<strong>em</strong> como, muitas vezes, o acompanhamentodas famílias.128 Na América Latina este tipo <strong>de</strong> <strong>programa</strong> t<strong>em</strong> se <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> geral, fora da estrutura educativa formal,sendo financiado pela cooperação internacional e pelos próprios Estados <strong>em</strong> alguns casos. Objetivandoaumentar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção do jov<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma ocupação, como <strong>em</strong>pregado ou “gestor” <strong>de</strong> seunegócio (OIT, 2010a).


94Mas, respon<strong>de</strong> a uma lógica real que movimenta a economia, “[...] uma condiçãonecessária para a reprodução e a expansão do capital” (HARVEY, 2011, p. 55), ou seja, apermanência <strong>de</strong> um exército industrial <strong>de</strong> reserva 129 , “Esse exército <strong>de</strong>ve ser acessível,<strong>social</strong>izado e disciplinado, além <strong>de</strong> ter as qualida<strong>de</strong>s necessárias (isto é, ser flexível, dócil,manipulável e qualificado quando preciso)” (HARVEY, 2011, p. 55), o que irá possibilitar aacumulação contínua.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, as inovações tecnológicas, que criam novos postos <strong>de</strong> trabalho,expulsam trabalhadores não qualificados para fora <strong>de</strong>ste mercado, exigindo uma qualificaçãopermanente, o que não garante um <strong>em</strong>prego estável, “O resultado é um exército ‘flutuante’ <strong>de</strong>trabalhadores <strong>de</strong>mitidos, cuja existência coloca uma pressão <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte sobre os salários. Ocapital manipula simultaneamente a oferta e a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho” (HARVEY, 2011, p. 56).E, diante <strong>de</strong>ste contexto <strong>de</strong> competição permanente, a que serve ou “a qu<strong>em</strong> serve” a lógicados <strong>programa</strong>s?Torna-se importante <strong>de</strong>stacar o papel e o po<strong>de</strong>r do Estado diante da lógica do capital,pois têm sido efetivas algumas ações frente às relações <strong>de</strong> trabalho, através da retirada <strong>de</strong>direitos trabalhistas e <strong>de</strong> facilitar os interesses capitalistas <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> alguns postos <strong>de</strong>trabalho, uma vez que,O Estado (local, regional ou nacional) se torna responsável por garantir ofornecimento <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>s e qualida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas(incluindo formação profissional, treinamento e docilida<strong>de</strong> política) <strong>em</strong> relação à<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho corporativo. Embora o aparelho do Estado possa passar aseguir a agenda das <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> vez da agenda <strong>de</strong> trabalho, há ainda um gran<strong>de</strong>interesse <strong>em</strong> localida<strong>de</strong>s que invest<strong>em</strong> <strong>em</strong> oportunida<strong>de</strong>s educacionais <strong>de</strong> altaqualida<strong>de</strong> (universida<strong>de</strong>s e escolas técnicas), por isso po<strong>de</strong>rá ajudar a atrair aindústria <strong>de</strong> alta tecnologia que irá contribuir mais para a base tributária dalocalida<strong>de</strong> (HARVEY, 2011, p. 60).Dentre os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação à juventu<strong>de</strong> mapeados, <strong>de</strong>stacam-se as ações e oucursos <strong>de</strong> qualificação oferecidos pelo Estado que estão interligados às <strong>de</strong>mandas das<strong>em</strong>presas privadas, <strong>de</strong>mandas flutuantes do mercado; além disso, muitos objetivam trabalhar operfil que este mercado exige, ao propor o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s dojov<strong>em</strong>, negando muitas vezes outras privações básicas que este necessita, como a finalizaçãoda educação formal.129 “A existência <strong>de</strong> uma reserva <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada e parcialmente <strong>em</strong>pregada é umacaracterística inerente à socieda<strong>de</strong> capitalista, criada e reproduzida diretamente pela própria acumulação docapital, a que Marx chamou <strong>de</strong> exército <strong>de</strong> reserva do trabalho ou exército industrial <strong>de</strong> reserva. A acumulação<strong>de</strong> capital significa o crescimento <strong>de</strong>ste, mas significa também novos métodos <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong> maior escala <strong>em</strong>ais mecanizados, que a concorrência obriga os capitalistas a adotar” (BOTTOMORE, 2001, p. 144).


95Além disso, a juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve conviver com a gran<strong>de</strong> reserva <strong>de</strong> trabalhadores,principalmente jovens <strong>em</strong> todo o mundo, on<strong>de</strong> muitas vezes compet<strong>em</strong> entre si, e capacitar-se,po<strong>de</strong> não ser a garantia <strong>de</strong> incluir-se no mercado <strong>de</strong> trabalho, principalmente o formal que seencontra mais restrito.“A relação capital-trabalho s<strong>em</strong>pre assumiu um papel central na dinâmica docapitalismo e po<strong>de</strong> estar na orig<strong>em</strong> das crises. Mas hoje <strong>em</strong> dia o principal probl<strong>em</strong>a resi<strong>de</strong> nofato <strong>de</strong> o capital ser muito po<strong>de</strong>roso e o trabalho muito fraco, não o contrário” (HARVEY,2011, p. 61), o que sustenta, muitas vezes, o aumento da precarização das relações econdições <strong>de</strong> trabalho, assim como as altas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego juvenil.Os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>m a respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s domercado <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas, mas diante <strong>de</strong> uma lógica <strong>de</strong> inovações permanentes, taismodificações tornam-se <strong>de</strong>scartáveis rapidamente, além disso, as “[...] mudanças rápidas nosrequisitos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho (por ex<strong>em</strong>plo, a súbita necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas habilida<strong>de</strong>s,como a alfabetização eletrônica), que ultrapassam as capacida<strong>de</strong>s existentes na força <strong>de</strong>trabalho, gerando tensões no mercado <strong>de</strong> trabalho” (HARVEY, 2011, P. 81), dificultam asmodificações constantes exigidas principalmente no setor público e principalmente para osjovens, público-alvo dos <strong>programa</strong>s.A juventu<strong>de</strong> latino-americana necessita <strong>de</strong> uma educação que efetivamente <strong>de</strong>senvolvaa capacida<strong>de</strong> física, intelectual e moral do jov<strong>em</strong> com qualida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umprocesso crítico e criativo, que <strong>de</strong>ve se sobrepor à capacitação <strong>de</strong>mandada pelo mercado epelo Estado.O fato <strong>de</strong> oferecer “oportunida<strong>de</strong>s para a juventu<strong>de</strong>”, através <strong>de</strong> vagas <strong>de</strong> estágio, cotaspara os jovens, plano <strong>de</strong> ação para <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong>, treinamento <strong>de</strong> vendas, no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res, aconselhamento, treinamentos específicos e intensivos, entreoutros objetivos dos <strong>programa</strong>s, não substitui a educação formal.A juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada, que não finalizou o ensino básico ou médio, que vive naárea urbana ou rural, <strong>em</strong> situação pobreza ou vulnerabilida<strong>de</strong>, risco <strong>social</strong>, que não estuda enão trabalha, ou está <strong>em</strong>pregada <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> precária, sub<strong>em</strong>prego, que tenham entre 14 e 29anos, ou seja, o público-alvo dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação será que <strong>de</strong>sejam estes cursosoferecidos pelo po<strong>de</strong>r público? Será que consegu<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificar-se com os objetivos dos<strong>programa</strong>s, muitas vezes, tão distante <strong>de</strong> seu cotidiano <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s reais?


96Parec<strong>em</strong> realida<strong>de</strong>s paralelas, que jamais se intercruzam, mas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> andar lado alado como uma resposta necessária às Metas do Milênio, ao mercado, ao capital, à socieda<strong>de</strong>,aos governantes e aos diversos atores envolvidos. Trata-se <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s muito recentes, queiniciaram principalmente na década <strong>de</strong> 2000, e já po<strong>de</strong>riam repercutir nos índices <strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego da juventu<strong>de</strong> na região. No próximo it<strong>em</strong> tratar-se-á sobre os <strong>de</strong>safios dos<strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação da juventu<strong>de</strong> latino-americana.4.3 OS DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA A JUVENTUDELATINO-AMERICANA NA INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO FRENTEÀ LÓGICA DO CAPITALA inserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, principalmente neste século XXI t<strong>em</strong>mobilizado diversos setores, entre governos, organismos internacionais e socieda<strong>de</strong> civil; <strong>em</strong>conjunto, tais representantes têm elaborado e executado diversos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãopara os jovens, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a finalização do estudo formal primário ou secundário até arealização <strong>de</strong> cursos voltados ao <strong>de</strong>senvolvimento pessoal, <strong>de</strong> relações sociais eprofissionalizantes, conforme os dados trabalhados no capítulo 3.Mas, o questionamento que se mantém ao longo do processo da pesquisa realizada,além do comparativo entre os <strong>programa</strong>s da Argentina e do Brasil, é enten<strong>de</strong>r a realefetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas propostas, frente a uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural na AméricaLatina, que v<strong>em</strong> atingindo principalmente a juventu<strong>de</strong> na última década.Alguns dados e autores indicam como motivos do surgimento dos <strong>programa</strong>s, (além <strong>de</strong>respon<strong>de</strong>r às Metas do Milênio), o aumento da violência urbana, do individualismo ao usodrogas, além do gran<strong>de</strong> incentivo ao consumo que os jovens estão expostos. Mas, cabesalientar que as modificações que ocorreram, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> ajustes estruturais e areestruturação produtiva, geraram transformações no mundo do trabalho que exigiu dajuventu<strong>de</strong> uma qualificação nunca antes requerente.Para uma tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r tais processos, é necessário voltar-se para aconjuntura econômica a qual os jovens do final do século XX e início do século XXIvivenciaram, um entorno marcado por crises econômicas e profundas transformações sociais,culturais e tecnológicas 130 nas socieda<strong>de</strong>s latino-americanas, conforme os dados trabalhadosno capítulo 2. On<strong>de</strong>, após tais modificações observou-se uma maior presença do setor privado130 A principal <strong>de</strong>stas a reestruturação produtiva, que “[...] envolve um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> inovações tecnológicoorganizacionaisno campo da produção <strong>social</strong> capitalista – por ex<strong>em</strong>plo, da robótica e a automaçãomicroeletrônica aplicada à produção” (ALVES, 2005, p. 11).


97na execução das políticas sociais, uma realida<strong>de</strong> que t<strong>em</strong> caracterizado o contextoinstitucional on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve as relações entre o Estado e o setor privado 131 .E, neste contexto, surg<strong>em</strong> os objetivos dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação, ou seja, <strong>de</strong>inserção do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho, o que põe <strong>em</strong> xeque a capacida<strong>de</strong> ou(in)capacida<strong>de</strong> do Estado e da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a coesão e a reprodução da força <strong>de</strong>trabalho a toda a população, mas principalmente àqueles que pertenc<strong>em</strong> ao segmento maisjov<strong>em</strong> e que se encontram mais vulneráveis ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.Um <strong>de</strong>safio, pois “O mercado <strong>de</strong> trabalho tornou-se cada vez mais inacessível paraamplos setores da juventu<strong>de</strong>” (KLIKSBERG, 2010, p. 217), on<strong>de</strong> o Estado, ao manter suaspropostas <strong>de</strong> cunho liberal, mesmo após as gran<strong>de</strong>s crises, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> investir <strong>de</strong> formasignificativa no trabalho 132 , nas suas relações e condições, para investir no mercado <strong>de</strong> capital,e na entrada <strong>de</strong> capital externo para o país.Dentre a faixa etária da juventu<strong>de</strong> (15 a 29 anos), os jovens <strong>de</strong> 15 a 19 anos são osmais afetados pela precarização, pois acabam se inserindo no mercado <strong>de</strong> trabalho s<strong>em</strong>qualificação e associado à <strong>de</strong>serção escolar. Assum<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s precárias e informais 133 ,que, na maioria das vezes, perpetua a condição <strong>de</strong> pobreza familiar. Assim como as mulheresque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da ida<strong>de</strong> indicada ao trabalho, apresentam taxas menores <strong>de</strong> ingresso secomparadas aos homens jovens, uma diferença que se alarga ainda mais no meio rural.Embora os organismos internacionais e os objetivos dos <strong>programa</strong>s indiqu<strong>em</strong> apreocupação com a melhoria na qualida<strong>de</strong> do trabalho para a juventu<strong>de</strong>, conforme os dadosapresentados ao longo da tese, as escassas “oportunida<strong>de</strong>s” estão longe <strong>de</strong> se situar na ótica dotrabalho <strong>de</strong>cente, do respeito aos direitos trabalhistas, do acesso à segurida<strong>de</strong> <strong>social</strong> e <strong>de</strong>ocupações formais 134 . Mesmo aqueles jovens que se encontram inseridos no mercado <strong>de</strong>trabalho, o que se observa são precárias condições contratuais, salários baixos e falta <strong>de</strong>proteção <strong>social</strong>.131 Na prática, o que se verificou foi o gran<strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s sendo executados pela socieda<strong>de</strong> civil <strong>em</strong>parceria com governos ou com recursos e parcerias <strong>de</strong> instituições internacionais, até 2010 um total <strong>de</strong> 52<strong>programa</strong>s <strong>em</strong> execução, conforme os dados da Tabela 4, além daqueles que iniciaram e finalizaram entre osanos <strong>de</strong> 1990 e 2010 que não foram contabilizados.132 “O trabalho é fundamental para todas as formas <strong>de</strong> vida humana, porque os el<strong>em</strong>entos da natureza têm que serconvertidos <strong>em</strong> produtos <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para os seres humanos. Mas, nas relações sociais que dominam o cernedo capitalismo, o trabalho assume uma forma muito particular <strong>em</strong> que o trabalho, as tecnologias <strong>de</strong> produção eas formas <strong>de</strong> organização estão reunidas sob o controle do capitalista por um t<strong>em</strong>po pre<strong>de</strong>terminado <strong>de</strong>contrato para fins <strong>de</strong> produção lucrativa <strong>de</strong> mercadorias” (HARVEY, 2011, p. 88).133 A evolução da informalida<strong>de</strong> no ingresso do jov<strong>em</strong> ao mercado <strong>de</strong> trabalho se relaciona, muitas vezes, com obaixo ritmo <strong>de</strong> crescimento econômico na região, e consequent<strong>em</strong>ente, o baixo ritmo <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregosformais.134 Em 2010, aproximadamente 6,7 milhões <strong>de</strong> jovens latino-americanos estavam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados ou buscavam<strong>em</strong>prego e não encontravam, o que representa 44% da população total <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados da América Latina(OIT , 2010a);


98Em gran<strong>de</strong> parte dos países latino-americanos se impl<strong>em</strong>entam políticas <strong>de</strong> formação ecapacitação para o trabalho, com o objetivo <strong>de</strong> aumentar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego dapopulação jov<strong>em</strong>, a<strong>de</strong>quando a oferta <strong>de</strong> capacitação à <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Algunspaíses ainda contam com incentivos ao <strong>em</strong>preendimento e autogestão. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, astaxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego na década <strong>de</strong> 2000 para a juventu<strong>de</strong> aumentaram significativamente, sediferenciando conforme o quintil <strong>de</strong> renda do domicílio 135 .As iniciativas dos países da região <strong>de</strong>monstram que o foco <strong>de</strong> preocupação ao ofertaros <strong>programa</strong>s e cursos, levam <strong>em</strong> conta principalmente, as necessida<strong>de</strong>s das <strong>em</strong>presas, não a<strong>de</strong>manda do jov<strong>em</strong>. Propostas que objetivam além <strong>de</strong> uma “formação profissional”, afinalização do ensino primário ou secundário para aqueles que <strong>de</strong>ixaram os estudos; ou umaformação “<strong>social</strong>”, que trabalhe questões <strong>de</strong> cidadania e integração comunitária e a formação<strong>de</strong> “competências”, ou seja, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> trabalhar a flexibilida<strong>de</strong>, a criativida<strong>de</strong>, o trabalho <strong>em</strong>equipe, o domínio <strong>em</strong> tecnologia, entre outros, como se este “bloco” <strong>de</strong> capacitações fosse darconta da <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> do jov<strong>em</strong>.Programas que muitas vezes objetivam todas as formações citadas, como se fossepossível dar conta <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s ainda básicas, que não foramsatisfeitas n<strong>em</strong> respeitadas ao longo do seu processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> vida, e <strong>em</strong> poucos meseso jov<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve superar-se quase que “magicamente”, para respon<strong>de</strong>r a uma <strong>de</strong>manda que não é<strong>de</strong>le e sim do mercado.Além <strong>de</strong>stas propostas <strong>de</strong> capacitação, alguns propõ<strong>em</strong> fomentar o“<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo” 136 entre os jovens, o que <strong>de</strong>monstrou poucos avanços na prática, o quenão seria uma novida<strong>de</strong> frente à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um capital inicial para investimento,experiência na ativida<strong>de</strong> e uma re<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> contatos. As “explicações” dos organismosresponsáveis pelas propostas <strong>de</strong>stacam que:[...] por um lado, apenas as micro<strong>em</strong>presas <strong>de</strong> ‘<strong>de</strong>senvolvimento’ parec<strong>em</strong> funcionar– ao contrário das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> ‘subsistência’ e, por outro, ainda no caso <strong>de</strong> práticasque tiveram êxito, chega-se a um número muito pequeno <strong>de</strong> jovens, geralmente os‘integrados’ e não os ‘excluídos’ (RODRIGUEZ, 2012, p. 08).135 “Em 2005, um <strong>em</strong> cada quatro jovens entre os 20% mais pobres da população jov<strong>em</strong> estava <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado,ante um <strong>de</strong> cada quinze entre os 20% mais ricos” (KLIKSBERG, 2010, p. 219).136 “O novo <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo urbano aumentou a flexibilida<strong>de</strong> geográfica pela qual as <strong>em</strong>presas multinacionaispo<strong>de</strong>m abordar suas estratégias localizacionais. Conforme a localida<strong>de</strong> se torna o lugar <strong>de</strong> regulamentação dasrelações trabalhistas, isso também contribui para a crescente flexibilida<strong>de</strong> das estratégias administrativas <strong>em</strong>mercados <strong>de</strong> trabalho geograficamente segmentados” (HARVEY, 2005, p. 179).


99Um dado que i<strong>de</strong>ntifica o “olhar” dos micro<strong>em</strong>presários à juventu<strong>de</strong>, ou seja, trata-se<strong>de</strong> jovens que estão “integrados” no sist<strong>em</strong>a ou “excluídos” <strong>de</strong>ste, uma visão focalizada e<strong>de</strong>sconectada dos próprios objetivos dos <strong>programa</strong>s que é, <strong>em</strong> sua maioria, justamenteacompanhar os jovens <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>. Os dados da OIT (2010a) tambémindicam que, aquele pequeno percentual <strong>de</strong> jovens que opta pelo <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo, ocorrepela falta <strong>de</strong> perspectivas <strong>em</strong> outros setores ou pelo baixo salário, mas ao surgir umaoportunida<strong>de</strong> tornam-se assalariados.Cabe salientar que, os donos <strong>de</strong> capitais, as <strong>em</strong>presas envolvidas nos <strong>programa</strong>s,<strong>de</strong>ntre aquelas modalida<strong>de</strong>s que realizam parcerias, muitas vezes <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida <strong>de</strong>stes jovens que estão executando o curso, um estágio ou um contrato <strong>de</strong> trabalho nolocal, <strong>de</strong>monstrando o quanto a preocupação po<strong>de</strong> estar focada apenas na mão-<strong>de</strong>-obradisponibilizada.Na realida<strong>de</strong>, as propostas <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s que criam novas vagas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego não seefetivaram, apenas as experiências <strong>de</strong> subsídios às <strong>em</strong>presas que contratam o jov<strong>em</strong> por um<strong>de</strong>terminado período po<strong>de</strong>riam caracterizar uma “abertura” <strong>de</strong> vaga. Embora existam asrecomendações da OIT <strong>em</strong> relação ao fortalecimento e ampliação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>trabalho para a juventu<strong>de</strong>, as iniciativas mostram-se muito tímidas frente à probl<strong>em</strong>ática do<strong>em</strong>prego, mas a exigência <strong>de</strong> qualificação para ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho se mantém.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, os jovens <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar na condição <strong>de</strong> plena “disponibilida<strong>de</strong>” parao mercado <strong>de</strong> trabalho, como se os <strong>programa</strong>s realmente <strong>de</strong>ss<strong>em</strong> conta <strong>de</strong> sua inserção, e ai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> resistência, questionamento e luta por direitos enfraquece ao longo do t<strong>em</strong>po,principalmente a partir da década <strong>de</strong> 90, com o início dos ajustes estruturais e do aumento doindividualismo 137 .Tal juventu<strong>de</strong> que t<strong>em</strong> convivido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 90 com a revolução tecnológica,nasceu diante <strong>de</strong> variadas inovações que atingiram principalmente as condições e relações <strong>de</strong>trabalho, como a nova expropriação contratual,[...] que consiste na eliminação, <strong>em</strong> escala internacional, dos direitos ligados aocontrato <strong>de</strong> trabalho, e à introdução <strong>de</strong> uma enorme e variada hierarquia <strong>de</strong> formatosjurídicos – calcada sobre contratos diferenciados, subcontratações, terceirizações ouaté mesmo sobre a pura e simples ausência <strong>de</strong> contrato formal. Esta é a base <strong>de</strong> umadas mais importantes reformas legais e/ou constitucionais, que v<strong>em</strong> sendo137 “A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as novas tecnologias eletrônicas eram as respostas aos probl<strong>em</strong>as do mundo se tornou omantra fetichista da década <strong>de</strong> 1990. E tudo pressagiou uma mudança tão gran<strong>de</strong> nas concepções mentais domundo, com o advento <strong>de</strong> um individualismo possessivo ainda mais intenso, juntamente com a lógica do fazerdinheiro, o endividamento, a especulação financeira, a privatização <strong>de</strong> ativos do governo e a ampla aceitaçãoda responsabilida<strong>de</strong> pessoal como norma cultural <strong>em</strong> todas as classes sociais” (HARVEY, 2011, p. 110-111).


100difundidas através do planeta, mostrando a importância do Estado nodisciplinamento e contenção <strong>de</strong> suas populações (FONTES, 2012, p. 09).Uma realida<strong>de</strong> que configura a <strong>de</strong>sregulamentação do mercado <strong>de</strong> trabalho e asobreposição do capital, <strong>em</strong> relação ao trabalhador e suas condições <strong>de</strong> trabalho, mas, aomesmo t<strong>em</strong>po, o Estado intervém frente ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego juvenil através dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>capacitação, pois, “[...] a or<strong>de</strong>m do capital é hoje, reconhecidamente, a or<strong>de</strong>m do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregoe da informalida<strong>de</strong>” (NETTO, 2010, p. 06).A força <strong>de</strong> trabalho não é qualitativamente homogênea, e exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> certo tiponão po<strong>de</strong>m, normalmente, ser instantaneamente absorvidos <strong>em</strong> outras partes.Inevitavelmente, a transformação das estruturas <strong>em</strong>pregatícias e ocupacionais élenta, po<strong>de</strong>ndo impedir a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer forma espiralada <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento (HARVEY, 2005, p. 135).Uma realida<strong>de</strong> que r<strong>em</strong>ete ao aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego entre a juventu<strong>de</strong>, pois se oexce<strong>de</strong>nte não po<strong>de</strong> ser absorvido, ou nunca será totalmente absorvido diante da próprialógica do capitalismo, torna-se quase como uma “farsa” para a juventu<strong>de</strong>, a promessa <strong>de</strong> umtrabalho <strong>de</strong>cente frente à realida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego juvenil.A indústria mo<strong>de</strong>rna nunca consi<strong>de</strong>ra n<strong>em</strong> trata como <strong>de</strong>finitiva a forma existente <strong>de</strong>um processo <strong>de</strong> produção. Sua base técnica é revolucionária, enquanto todos osmodos anteriores <strong>de</strong> produção eram essencialmente conservadores. Por meio damaquinaria, dos processos químicos e <strong>de</strong> outros modos, a indústria mo<strong>de</strong>rnatransforma continuamente, com base técnica da produção, as funções dostrabalhadores e as combinações sociais do processo <strong>de</strong> trabalho. Com isso,revoluciona constant<strong>em</strong>ente a divisão do trabalho <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> e lançaininterruptamente massas <strong>de</strong> capital e massas <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> um ramo <strong>de</strong>produção para outro (MARX, 2010, p. 551-552).Uma realida<strong>de</strong> que acompanha a juventu<strong>de</strong>, principalmente por se tratar <strong>de</strong> uma faseda vida on<strong>de</strong> a inserção ao trabalho <strong>de</strong>ve ocorrer, é parte <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> transição. Alémdas escolhas e mudanças sociais que enfrenta, <strong>de</strong>para-se com a realida<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong>trabalho, on<strong>de</strong> este que irá <strong>de</strong>finir o curso que <strong>de</strong>ve realizar através da <strong>de</strong>manda existente, e,além <strong>de</strong> não garantir seu ingresso, corre o risco <strong>de</strong> uma transformação, hoje tecnológica, qu<strong>em</strong>odifique as necessida<strong>de</strong>s do mercado logo que finaliza seu processo <strong>de</strong> qualificação. “Exige,por sua natureza, variação do trabalho, isto é, flui<strong>de</strong>z das funções, mobilida<strong>de</strong> do trabalhador<strong>em</strong> todos os sentidos” (MARX, 2010, p. 552).Além disso, para a própria manutenção da economia capitalista, existe a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> manter-se esta reserva <strong>de</strong> trabalhadores, que permite a produção <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho


101diversificada que possa dar conta das <strong>de</strong>mandas do capital, tanto as mais simples quanto asespecializadas.E, para tanto, os investimentos na educação pública ocorr<strong>em</strong> também como uma forma<strong>de</strong> “preparar” o capital humano para as <strong>de</strong>mandas do mercado, “A educação pública tornou-senecessária na medida <strong>em</strong> que a flexibilida<strong>de</strong> e a adaptabilida<strong>de</strong> do trabalho para diferentestarefas tornaram-se requisitos essenciais” (HARVEY, 2011, p. 107), ou seja, a finalização daeducação primária ou secundária, através dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação também surge <strong>de</strong> umanecessida<strong>de</strong> do capital, não somente das Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio.Assim como a educação terciária, pois se t<strong>em</strong> observado maiores investimentos apartir da década <strong>de</strong> 2000 na América Latina, expandiram-se os investimentos no ensinosuperior, uma necessida<strong>de</strong> real e importante para a juventu<strong>de</strong>, mas ainda restrito <strong>em</strong> suamaioria, a população com rendas médias e altas 138 (CORBUCCI; CASSIOLATO; CODES;CHANES, 2009).Uma realida<strong>de</strong> que infelizmente encontra-se distante da maioria dos jovens latinoamericanose daqueles consi<strong>de</strong>rados o público-alvo dos <strong>programa</strong>s. Mesmo aqueles países queapresentam alguma diferenciação <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> dados relacionados à educação, ao acesso àinformação, como a Argentina e o Brasil, também são parte <strong>de</strong> uma região que vivenciouconjuntamente o período colonial, <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> suas riquezas naturais e da <strong>de</strong>pendênciaeconômica dos países centrais.Portanto, o que se torna aparente através da pesquisa são as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s quea região mantém, suas contradições ao comparar-se jovens <strong>de</strong> um mesmo país comoportunida<strong>de</strong>s cotidianas tão diferenciadas, marcados pelo quintil <strong>de</strong> renda a que pertence, araça, etnia ou meio <strong>em</strong> que vive – urbano ou rural. Uma realida<strong>de</strong> que se esten<strong>de</strong> ao longo dahistória, on<strong>de</strong> a mobilização pelas reservas “latentes”, b<strong>em</strong> como o crescimento da população“[...] proporcionam fontes alternativas <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho exce<strong>de</strong>nte” (HARVEY, 2005, p.133), necessários para o próprio processo <strong>de</strong> acumulação.Os <strong>de</strong>safios dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção da juventu<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong>trabalho não estão isolados do contexto econômico da região, do mundo, pois “As crises são,por assim dizer, os racionalizadores irracionais <strong>de</strong> um capitalismo s<strong>em</strong>pre instável”(HARVEY, 2011, p. 65), portanto, necessárias ao capitalismo e vêm atingindo,principalmente a última crise <strong>de</strong> 2008, diretamente a juventu<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o que se observa nocotidiano dos jovens, não é uma participação “plena e efetiva”, mas sim um aumento na fila138 Até o ano <strong>de</strong> 2010 apenas 14% dos jovens latino-americanos finalizaram o ensino superior (OIT, 2010a).


102<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. Além disso, o único percentual <strong>de</strong> investimento que t<strong>em</strong> sido expressivo,principalmente na primeira década <strong>de</strong> 2000, é nos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda <strong>em</strong>toda a região da América Latina 139 .Mas, como gerar <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>cente <strong>em</strong> meio a crises e baixo crescimento econômico?Uma realida<strong>de</strong> que atinge a todos os países latino-americanos, que, além <strong>de</strong> conviver comsist<strong>em</strong>as educativos <strong>de</strong>siguais, com diferenças <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e cobertura, muitasvezes repassa para os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação tais fragilida<strong>de</strong>s como se fosse “compensar” oimpacto nocivo que o sist<strong>em</strong>a educativo formal fragilizado representa para a juventu<strong>de</strong>.Os jovens latino-americanos, <strong>em</strong> sua maioria, viv<strong>em</strong> num entorno marcado pelas<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, pela falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e pelo <strong>de</strong>srespeito aos direitos sociais, civis epolíticos que os Estados se comprometeram, seja através <strong>de</strong> suas legislações oficiais ou pelaparticipação nas convenções para a juventu<strong>de</strong>.Longe <strong>de</strong> ocorrer uma modificação expressiva no ingresso do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong>trabalho, os governos e instituições, responsáveis por fomentar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho<strong>de</strong>cente para a juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veriam também juntar esforços para inicialmente incentivar umprocesso <strong>de</strong> educação formal relevante aos jovens, e que consiga eliminar todas as formas <strong>de</strong>discriminação predominantes. O compromisso político e financeiro dos diversos órgãosresponsáveis pela gestão dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong>veria caminhar na busca da eliminação <strong>de</strong> barreiras<strong>de</strong> exclusão, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na tentativa <strong>de</strong> superação das vulnerabilida<strong>de</strong>s da juventu<strong>de</strong>.Além disso, a ausência <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos relevantes dos <strong>programa</strong>s,como suas legislações, formas <strong>de</strong> execução, responsáveis e a ida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada como o grupoque compõe a juventu<strong>de</strong> fragiliza muitas vezes o entendimento das políticas propostas e opo<strong>de</strong>r político que po<strong>de</strong>ria fomentar.A juventu<strong>de</strong> convive neste século XXI com um mundo on<strong>de</strong> a evolução t<strong>em</strong> seacelerado <strong>de</strong> forma frenética, on<strong>de</strong> “[...] o capital se movimenta <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> lucro por meio<strong>de</strong> diferentes ‘esferas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>’ [...] uma esfera <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> crucial diz respeito àprodução <strong>de</strong> novas formas tecnológicas e organizacionais” (HARVEY, 2011, p. 103).Assumir este <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> capacitar o jov<strong>em</strong> para a inserção ao trabalho torna-serelevante diante do contexto <strong>em</strong> que estes estão inseridos, mas <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>svincular-se daeducação formal a formação para o trabalho. O objetivo da educação formal <strong>de</strong>ve ir além dainserção ao trabalho, <strong>de</strong>ve assumir um papel <strong>de</strong> mudança da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> umaconsciência crítica e não <strong>de</strong> reprodução.139 Programas que não respon<strong>de</strong>m à <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho, apenas uma manutenção do consumo e da pobreza.


1035 CONCLUSÕESA escolha do t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa, os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e inserção no mercado <strong>de</strong>trabalho para a juventu<strong>de</strong>, a partir dos anos <strong>de</strong> 1990, levaram a uma série <strong>de</strong> indagações arespeito <strong>de</strong>ste processo, que será explicitado nas conclusões <strong>de</strong>sta tese. Em um primeiromomento, foram <strong>de</strong>dicados esforços no entendimento da constituição histórica da AméricaLatina e, principalmente, suas modificações econômicas, políticas e sociais que<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a (re)produção da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na região. Este capítulo, principalmente noit<strong>em</strong> 4.2, ao tratar sobre os ajustes estruturais e o processo <strong>de</strong> reestruturação produtiva, comseus conteúdos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> e concorrência, além do fomento da parceria entre Estadoe instituições privadas, auxiliou no entendimento do surgimento dos <strong>programa</strong>s para ajuventu<strong>de</strong>, e o quanto estes foram atingidos pelo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego estrutural no final do século XXe início do século XXI – uma discussão que irá permear o conteúdo da tese que ora seapresenta.No <strong>de</strong>correr da pesquisa, tornou-se fundamental voltar-se ao conceito <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>,suas configurações e modalida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>svendar sua construção multifacetada, on<strong>de</strong> diversosfatores e períodos modificaram o significado <strong>de</strong>sta fase da vida. Mas a principal evidência quetransparece neste processo são as juventu<strong>de</strong>s que conviv<strong>em</strong> entre si, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do lugaron<strong>de</strong> viv<strong>em</strong>. São diferentes cenários que foram surgindo para o jov<strong>em</strong> diante das própriascontradições da socieda<strong>de</strong> e das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais existentes, refletindo significativamenteo <strong>em</strong>pobrecimento e a falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes, principalmente ao observar os dadosrelacionados aos anos <strong>de</strong> estudo e trabalho.Outro fator relevante neste capítulo foi compreen<strong>de</strong>r a nova lógica do mercado <strong>de</strong>trabalho para a juventu<strong>de</strong> e o surgimento dos <strong>programa</strong>s, ou seja, o quanto as transformaçõessocietárias vêm incidindo na relação do jov<strong>em</strong> com o mundo do trabalho, ao flexibilizar ascontratações e retirar direitos antes adquiridos.Conhecer a trajetória do surgimento dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>,neste período <strong>de</strong>limitado <strong>de</strong> 1990 a 2010, possibilitou conhecer a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leis,convenções, planos e projetos que foram surgindo ao longo <strong>de</strong>stes anos como uma forma <strong>de</strong>respon<strong>de</strong>r às mudanças na composição do <strong>em</strong>prego, b<strong>em</strong> como a uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> uma dasMetas dos Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio, a qual indica “um trabalho digno eprodutivo aos jovens”.


104Tal meta movimentou um processo <strong>de</strong> discussão entre organismos internacionais eregionais e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong>que as relações e condições <strong>de</strong> trabalho se modificaram, on<strong>de</strong> a precarização e ainformalida<strong>de</strong> inverteram a lógica do trabalho formal, dos direitos já adquiridos. Ummomento on<strong>de</strong> a globalização fomentou a mundialização do capital, flexibilizando e<strong>de</strong>sregulamentando o mercado <strong>de</strong> trabalho.E, diante das consequências <strong>de</strong>ste processo, <strong>de</strong> mudanças no mercado <strong>de</strong> trabalho, ajuventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre a população economicamente ativa, foi a mais atingida, tanto pela falta <strong>de</strong>vagas, quanto pela falta <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> trabalho, pois, <strong>em</strong> sua maioria, as vagas disponíveisestão voltadas para os setores <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>. Exige-se do jov<strong>em</strong> experiênciaconforme o trabalho ofertado, além <strong>de</strong> um perfil que envolve características nunca antesexigidas no mercado <strong>de</strong> trabalho.Essa realida<strong>de</strong> obrigou os governos a respon<strong>de</strong>r tanto aos Objetivos <strong>de</strong>Desenvolvimento do Milênio quanto ao gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> jovens fora do mercado <strong>de</strong>trabalho e <strong>de</strong>smotivados para o estudo com a criação dos <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação. Aorealizar o mapeamento das experiências latino-americanas para a juventu<strong>de</strong>, observou-se oquanto tais propostas se ass<strong>em</strong>elham <strong>em</strong> diversos aspectos, mas também se diferenciam <strong>em</strong>aspectos importantes que po<strong>de</strong>riam auxiliar na avaliação da eficácia dos projetos, como aobrigatorieda<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> leis para a juventu<strong>de</strong>, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência nos <strong>programa</strong>s, oórgão responsável pela execução e, principalmente, a ida<strong>de</strong> para participar do <strong>programa</strong>, que<strong>de</strong>monstra uma variação conforme o país.Dentre o período <strong>de</strong>finido para o estudo, o número <strong>de</strong> <strong>programa</strong>s governamentais <strong>em</strong>execução até 2010 era <strong>de</strong> 42, <strong>em</strong> 13 países da região, e <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 52 <strong>programa</strong>s sendoexecutados por instituições privadas, na sua maioria, com recursos internacionais ou repassedo Estado. Uma realida<strong>de</strong> que ex<strong>em</strong>plifica as mudanças no papel do Estado, principalmente apartir da década <strong>de</strong> 1990, período <strong>em</strong> que ocorreu um crescimento significativo <strong>de</strong> parceriascom a socieda<strong>de</strong> civil na execução das políticas públicas, o que comprometeu ainda mais apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma homogeneida<strong>de</strong> dos <strong>programa</strong>s.A proposta <strong>de</strong> realizar um comparativo entre os <strong>programa</strong>s da Argentina e do Brasilauxiliou no entendimento do porquê <strong>de</strong>stes <strong>programa</strong>s, a quê serv<strong>em</strong> ou a qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> servir.Pois, os dados sobre educação e trabalho para os jovens nestes dois países, respeitando suasdiversida<strong>de</strong>s locais, representam uma realida<strong>de</strong> que a região v<strong>em</strong> vivenciando, ou seja, <strong>de</strong> umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> jovens que não finalizou seu ensino primário ou secundário e encontra-se


105fora do mercado <strong>de</strong> trabalho ou inserido <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s precarizadas, sendo a juventu<strong>de</strong> quevive <strong>em</strong> alguma situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> a mais afetada, e, <strong>de</strong>ntre estes, as mulheres.O comparativo também possibilitou observar frente aos dados apresentados, asgran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre as “juventu<strong>de</strong>s” quando se compara o quintil <strong>de</strong> renda, asdiferenças étnicas, <strong>de</strong> gênero, o meio <strong>em</strong> que vive – urbano ou rural e a região, ou seja,conforme a renda <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong>, seus anos <strong>de</strong> estudo se diferenciam, b<strong>em</strong> como o tipo <strong>de</strong>ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho. Quanto menor o quintil <strong>de</strong> renda, menores serão asoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado, se comparados com os jovens <strong>de</strong> famílias com quintilmais alto. Mas o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego t<strong>em</strong> afetado a todos os níveis, mesmo que <strong>em</strong> percentuaisdiferenciados.A questão <strong>de</strong> gênero e etnia também apresentam diferenças importantes para oingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, pois as mulheres, <strong>em</strong>bora estejam apresentando, <strong>em</strong> algunspaíses, mais anos <strong>de</strong> estudo se comparadas com os homens, ainda apresentam maioresdificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerações <strong>de</strong>siguais. Aquestão <strong>de</strong> raça e etnia também t<strong>em</strong> reforçado as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s no ingresso ao mercado <strong>de</strong>trabalho – as mulheres negras são as que apresentam maiores dificulda<strong>de</strong>s, b<strong>em</strong> como osindígenas.E, os jovens do meio rural apresentam muitas vezes uma situação <strong>de</strong> maiorvulnerabilida<strong>de</strong> diante das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso à escola, b<strong>em</strong> como da falta <strong>de</strong> estímulopara o estudo, o que se evi<strong>de</strong>ncia nos dados do número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo do jov<strong>em</strong> do campo– <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> seis anos. Assim como as taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no meio rural, que tambémapresentam maiores índices se comparados com os jovens do meio urbano, pois são poucas asoportunida<strong>de</strong>s, além da precarização do trabalho e muitas vezes, ocorre a falta <strong>de</strong>r<strong>em</strong>uneração por se tratar <strong>de</strong> um trabalho familiar. A migração para a cida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rada pormuitos como uma saída, surge com a ilusão <strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s, o que gera outrosconflitos e dificulda<strong>de</strong>s ao <strong>de</strong>parar-se com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no meio urbano, gerando outrasvulnerabilida<strong>de</strong>s que não existiam no campo.Dentre os <strong>programa</strong>s mapeados, alguns países indicam como propostas aten<strong>de</strong>r ojov<strong>em</strong> do meio rural seja através da finalização dos estudos, capacitação <strong>em</strong> cursos com novastecnologias ou algum repasse financeiro como forma <strong>de</strong> estimular sua permanência no campo.Mas, são poucas as propostas, a maioria volta-se para o jov<strong>em</strong> do meio urbano on<strong>de</strong> seconcentra o maior percentual.Ao mapear os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação e realizar o comparativo entre Argentina eBrasil foi possível avançar na percepção da contradição existente entre o papel da educação e


106da capacitação, diante dos organismos formuladores dos mesmos. Ou seja, estabelecer afinalização da educação formal primária ou secundária como um <strong>programa</strong> <strong>de</strong> capacitaçãopara a juventu<strong>de</strong> é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, negar o direito garantido à educação a oferecer-lhecomo uma “oportunida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> qualificação finalizar os estudos básicos.Ao mesmo t<strong>em</strong>po são ofertados cursos <strong>de</strong> capacitação e qualificação <strong>em</strong> diversasáreas, conforme a <strong>de</strong>manda do mercado <strong>de</strong> trabalho e das <strong>em</strong>presas envolvidas, cursosvoltados à lógica do capital, sua <strong>de</strong>manda, exigindo um perfil do jov<strong>em</strong> que muitas vezes nãot<strong>em</strong> o básico para suprir suas necessida<strong>de</strong>s, pois não finalizar os estudos, na maioria dasvezes, ocorre pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong> buscar uma renda diante da situação <strong>de</strong> pobreza dafamília e não como uma opção.Uma contradição que se evi<strong>de</strong>ncia, ou seja, o público-alvo dos <strong>programa</strong>s, <strong>em</strong> suamaioria, são jovens <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po nega-se talsituação, oferecendo-lhe cursos que não respon<strong>de</strong>m a sua <strong>de</strong>manda imediata, e, por vezes,culpabilizando-o pelo “fracasso” e dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho.Os dados apresentados ao longo da tese indicam uma maior vulnerabilida<strong>de</strong> nainserção ao trabalho dos jovens entre 15 e 19 anos, pois diante das situações <strong>de</strong> pobreza dafamília, muitas vezes acabam <strong>de</strong>ixando os estudos para ingressar no mercado, sendo este umdos objetivos dos Programas <strong>de</strong> Transferência <strong>de</strong> Renda, manter os jovens entre 15 e 17 anosna escola, uma das condicionalida<strong>de</strong>s exigidas para o repasse <strong>de</strong> renda.Programas que objetivam a inserção do jov<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho é um <strong>de</strong>safiodiante <strong>de</strong> um mercado cada vez menos acessível. Um mercado que, após a introdução <strong>de</strong>novas técnicas <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong> um novo padrão <strong>de</strong> acumulação flexível e <strong>de</strong> tecnologiasavançadas amplia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalhador polivalente, multifuncional eprincipalmente qualificado, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> trabalhadores voltados a ativida<strong>de</strong>s maissetorizadas, menos qualificadas, terceirizadas e subcontratadas, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, realizadaspor jovens com poucos anos <strong>de</strong> estudo.A necessida<strong>de</strong> do mercado, do capital, sobrepõe-se às particularida<strong>de</strong>s da juventu<strong>de</strong>,suas vonta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos e escolhas. Ao olhar para o jov<strong>em</strong>, o Estado e o mercado o visualizamapenas pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e do quanto este mantém o exce<strong>de</strong>nte necessário paraa própria sobrevivência do capitalismo, esquecendo do direito <strong>de</strong>ste jov<strong>em</strong> a um estudo <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong>, que possibilite uma formação crítica e reflexiva, indispensável para uma possívelmodificação na lógica dos <strong>programa</strong>s.O po<strong>de</strong>r público, <strong>em</strong>bora venha oportunizando à juventu<strong>de</strong> latino-americana afinalização dos estudos e a capacitação mínima <strong>em</strong> algumas áreas, <strong>de</strong>veria propiciar aos


107mesmos um maior protagonismo dos jovens na formulação das propostas, dos planos eprojetos, conhecendo melhor a realida<strong>de</strong>, o cotidiano <strong>de</strong>stes, como uma forma <strong>de</strong> respeitarseus direitos e cidadania.Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que propõe “melhorar” a qualida<strong>de</strong> do trabalho, nega a falta<strong>de</strong>ste, pois as poucas oportunida<strong>de</strong>s existentes ao jov<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> estãolonge <strong>de</strong> se configurar como um “trabalho <strong>de</strong>cente”, <strong>de</strong> respeitar os direitos sociais outrabalhistas, além disso, o próprio sist<strong>em</strong>a necessita que uma “reserva”, um exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>trabalhadores esteja disponível no mercado.Mas, ainda, se não houver alternativas <strong>de</strong> trabalho, criação <strong>de</strong> novas vagas, <strong>de</strong>melhores r<strong>em</strong>unerações e condições <strong>de</strong> inserção para a juventu<strong>de</strong>, as propostas continuamapenas respon<strong>de</strong>ndo uma necessida<strong>de</strong> do capital, ou seja, a qualificação <strong>em</strong> alguns setores<strong>em</strong>ergentes <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado período, ou fomentando o “<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo” ao jov<strong>em</strong> comouma “alternativa” a falta <strong>de</strong> trabalho, s<strong>em</strong> preocupar-se com todas as exigências que irá<strong>de</strong>mandar.Os <strong>programa</strong>s <strong>de</strong> capacitação para a juventu<strong>de</strong>, assim como o gran<strong>de</strong> percentual <strong>de</strong>jovens <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, são <strong>de</strong>safios para os profissionais – assistentes sociais,tanto na formulação e execução dos projetos quanto na intervenção.Conhecer as especificida<strong>de</strong>s culturais e sociais <strong>de</strong>stes jovens permitirá compreen<strong>de</strong>r osprocessos <strong>de</strong>stes sujeitos com os quais o assistente <strong>social</strong> intervém, um <strong>de</strong>safio à profissão nacont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>.Destaca-se, também, a relevância do presente estudo para o Serviço Social, pois aprofissão ao aprovar o Código <strong>de</strong> Ética Profissional <strong>em</strong> 1990, a Lei <strong>de</strong> Regulamentação daProfissão <strong>em</strong> 1993 e as Diretrizes Curriculares <strong>em</strong> 2002, v<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrando umamadurecimento teórico, político e metodológico que são resultados da luta por uma novai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional, b<strong>em</strong> como uma preocupação no <strong>de</strong>svelamento da realida<strong>de</strong> <strong>social</strong>.E, por fim, ressalta-se a importância da pesquisa no Serviço Social, como uma dasformas <strong>de</strong> qualificação do profissional necessárias para o entendimento das particularida<strong>de</strong>s esingularida<strong>de</strong>s das esferas subjetivas do cotidiano <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como das múltiplasexpressões da questão <strong>social</strong> e das contradições das relações sociais.


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