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História de Campinas Parte 2

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Sobre a <strong>História</strong> fazem-se <strong>História</strong>s: A Ocupação do Espaço eA Transformação da Paisagem Natural em <strong>Campinas</strong> no século XVIII11Dando prosseguimento ao processo<strong>de</strong> constituição da freguesiae construção da capela e tambémpreocupado com as necessida<strong>de</strong>smateriais inerentes à manutençãodas mesmas, o Cônego Laraexigira para a ereção da Capela a:"escriptura do dote <strong>de</strong> bens <strong>de</strong>raiz que rendam ao menos seis milréis annualmente para a reparaçãoe fabrica da capela que intentem"17Esta exigência teria sido atendidacom o oferecimento por ranciscoBarreto Leme <strong>de</strong> um:"(...) lanço <strong>de</strong> casas com seucorredor, <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão, quepor doação, <strong>de</strong>ixou ranciscoBarreto Leme para se as ter alugadoe do seu rendimento se dizermissas pelas almas, e para que issoconste a todo tempo, faço este assento.Declaro mais que o ditolanço <strong>de</strong> casas esta na rua Debaixo(atual Lusitana), junto aocaminho que hoje serve <strong>de</strong> estradapública". 18Tendo cumprido as exigências<strong>de</strong> renda para a construção e manutençãoda capela e habitaçãopara o vigário, foi concedida autorizaçãopara a ereção <strong>de</strong> uma Matrizcom a vocação a Nossa Senhorada Conceição, em 10 <strong>de</strong> maio<strong>de</strong> 1773. Como as obras para aconstrução da matriz seriam <strong>de</strong>moradas,os moradores novamenterecorreram ao Bispo da Diocese<strong>de</strong> São Paulo, o rei Manuel daRessurreição, para que lhes fosseautorizado a construção <strong>de</strong> umacapela provisória, tendo em vistaque mais <strong>de</strong> trinta moradores dobairro haviam morrido sem receberos sacramentos e sendo enterradosno cemitério bento da cida<strong>de</strong>,o que lhes foi concedido em 06<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1774.Dando continuida<strong>de</strong> ao processo<strong>de</strong> ocupação do espaço, BarretoLeme, ao <strong>de</strong>marcar a área do rociocomo sendo ¼ <strong>de</strong> légua em circulodo local da matriz, começa a sepreocupar com o planejamento ea construção do povoamento e receberáinstruções do Morgado <strong>de</strong>Mateus para o arruamento da povoação.Segundo documentotranscrito por Odilon Nogueira <strong>de</strong>Mattos, a <strong>de</strong>terminação do Morgado<strong>de</strong> Mateus seria,"Porquanto tenho encarregadoa rancisco Barreto Leme formaruma povoação na paragem chamada<strong>Campinas</strong> <strong>de</strong> Mato Grosso, distrito<strong>de</strong> Jundiaí, em sítio on<strong>de</strong> seacha melhor comodida<strong>de</strong> e é precisodar norma certa para a formaturada referida povoação: or<strong>de</strong>noque esta seja formada emquadras <strong>de</strong> sessenta ou oitentavaras cada uma e daí para cima, eque as ruas sejam <strong>de</strong> sessentapalmos <strong>de</strong> largura, mandando formaras primeiras casas nos ângulosdas quadras, <strong>de</strong> modo que fiquemos quintais para <strong>de</strong>ntro aentestar uns com os outros. SãoPaulo, 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1774." 19Observemos que nesse documento se fala em povoaçãoe não em vila ou município, o que indica que areguesia continua subordinada religiosamente a paróquia<strong>de</strong> Jundiaí e a povoação subordinada politicamentea Câmara <strong>de</strong> Vereadores da mesma Vila. A elevaçãoà Vila é algo que a região ainda nem pleiteia,mas o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura canavieira criaráas condições políticas e econômicas necessárias, tornandoeste pleito inevitável.Inicialmente, a região se beneficiara da realização<strong>de</strong> melhorias no antigo caminho do Goiás, agora estradaque liga São Paulo a Goiás, o que aconteceudurante a gestão <strong>de</strong> rança e Horta, melhorando ascondições para a escoação da produção campineira econstruindo-se pousos reais ao longo da mesma. Narealida<strong>de</strong>, essa ação correspon<strong>de</strong> a uma política dacoroa portuguesa <strong>de</strong> fixar o controle sobre o territóriocolonial ainda em litígio com os espanhóis, ao mesmotempo em que permite e incentiva a expansão dasculturas <strong>de</strong> produtos que tenham alto valor no mercadointernacional.Aquarela <strong>de</strong> José <strong>de</strong> CastroMen<strong>de</strong>s, Matriz Velha17Manifestação do Cônego Antônio <strong>de</strong> Toledo Lara em 05 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1772 sobre a petição dos moradores do Bairro do Mato Grosso para ereção <strong>de</strong> uma capela transcrita em CAMPOS Jr., Teodoro<strong>de</strong> Sousa. "<strong>História</strong> da Fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> (Subsídios)" Monografia Histórica do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, op. cit., p. 18.18Manifestação do Vigário André da Rocha <strong>de</strong> Abreu em 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1786 transcrita em CAMPOS Jr., Teodoro <strong>de</strong> Sousa. "<strong>História</strong> da Fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> (Subsídios)" Monografia Histórica doMunicípio <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, op. cit., p. 37.19Transcrito em MATOS, Odilon Nogueira <strong>de</strong>. "O Passado <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> através dos Textos", Revista Notícia Bibliográfica e Histórica, nº 59, p. 275 e CAMPOS, Jr., Teodoro <strong>de</strong> Sousa, "<strong>História</strong> daFundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> (Subsídios)" Monografia Histórica do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, op. cit., pp. 30-31.


Sobre a <strong>História</strong> fazem-se <strong>História</strong>s: A Ocupação do Espaço eA Transformação da Paisagem Natural em <strong>Campinas</strong> no século XVIII12Essas melhorias na estrada queliga São Paulo a Goiás serão a primeira<strong>de</strong>monstração, ou talvez, oprimeiro instrumento da gradativaintegração <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> ao mo<strong>de</strong>loagro-exportador baseado na"plantation", que passara a vigorarnas terras paulistas. Os movimentospopulacionais típicos dosban<strong>de</strong>irantes e tropeiros, que <strong>de</strong>ramensejo ao <strong>de</strong>senvolvimentodas roças <strong>de</strong> subsistência, agoraserão substituídos por um mo<strong>de</strong>loeconômico baseado na culturacanavieira, em latifúndios baseados,na mão <strong>de</strong> obra escrava paraaten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> um mercadoexterno em expansão <strong>de</strong>vidoàs crises no Haiti e em outrascolônias francesas. Esse novo mo<strong>de</strong>loeconômico associado ao<strong>de</strong>clínio da ativida<strong>de</strong> mineradoraprovocará a fixação do paulista,contribuindo para o crescimentopopulacional da província e osurgimento <strong>de</strong> novos bairros rurais,vilas e cida<strong>de</strong>s, através do enriquecimentodos gran<strong>de</strong>s proprietários<strong>de</strong> terras e escravos.Em 1797, a freguesia das <strong>Campinas</strong>contava com uma populaçãocomposta por 2.107 habitantesdistribuídos em mais <strong>de</strong> 400fogos e em seis bairros distintos.Além disso, a freguesia vivia umasituação inusitada, pois o Juiz Ordinário20 da Câmara Municipal <strong>de</strong>Jundiaí, a qual <strong>Campinas</strong> estavasubordinada, era seu morador. OCapitão rancisco <strong>de</strong> PaulaCamargo era o juiz em questão e:"...referindo-se a ele, conta o Dr.Ricardo Gumblenton Daunt, que eratão ativo e robusto que, no exercício<strong>de</strong> suas funções, partia <strong>de</strong> madrugada<strong>de</strong> sua fazenda, situada noBairro da Ponte Alta, umas três emeia léguas além <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>,presidia as sessões do conselho edava audiências em Jundiaí, e vinhaainda cear em Casa". 21Essa situação, segundo a petição dos moradores <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> dirigida ao governadorda capitania, criava um dilema para os homens bons da freguesia, que era a participaçãona Câmara <strong>de</strong> Jundiaí exercendo as suas obrigações para com a Coroa ou a melhorcondução dos seus engenhos e lavouras e, portanto, eles solicitavam que a freguesiafosse elevada a Vila, alegando que a mesma teria uma receita <strong>de</strong> cincoenta mil réis.Estima-se que esta petição, sem data, tenha sido realizada no mesmo ano <strong>de</strong> 1797, foiassinada por 47 homens bons resi<strong>de</strong>ntes na freguesia, porém entre estes está excluído onome <strong>de</strong> rancisco <strong>de</strong> Paula Camargo como peticionário. O Vigário atesta, em 29 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 1797, o número <strong>de</strong> 2107 moradores e embasa a petição alegando que nosúltimos três anos a população teria crescido em 688 pessoas e em sua relação <strong>de</strong> homensbons que po<strong>de</strong>riam servir às funções públicas composta por 53 nomes, ele inclui onome <strong>de</strong> rancisco <strong>de</strong> Paula Camargo, o então juiz ordinário da Câmara <strong>de</strong> JundiaíA petição foi atendida pela provisão <strong>de</strong> 04 e portaria <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> novembro do ano <strong>de</strong>1797 e lavrado auto <strong>de</strong> ereção do pelourinho e <strong>de</strong>marcação para o paço da Ca<strong>de</strong>ia eCâmara em 14 <strong>de</strong> Dezembro. Houve ainda a <strong>de</strong>marcação do rocio e divisão <strong>de</strong> limites em15 <strong>de</strong> Dezembro do mesmo ano, sendo instituída, então a Vila <strong>de</strong> São Carlos.20Ao Juiz Ordinário <strong>de</strong> acordo com o Código Eleitoral <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nação cabia a Presidência da Câmara que era eleita entre os "homens bons" da vila ou cida<strong>de</strong>. Para ser consi<strong>de</strong>rado "homem bom" eranecessário possuir terras e escravos que lhe permitisse exercer funções públicas, o que no regime absolutista era servir a Coroa.21CAMPOS Jr., Teodoro <strong>de</strong> Sousa. "<strong>História</strong> da Fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> (Subsídios)" Monografia Histórica do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, op. cit., p. 48. Para maiores informações ver DAUNT, RicardoGumblenton "Reminiscências do Distrito <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> em Bairro, Freguesia e Vila", Revista do Centro <strong>de</strong> Ciência Letras e Artes <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, nº 7, 1904.


Capítulo II"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>:ábricas <strong>de</strong> Representações2213Refletir sobre a data oficial dafundação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>é pensar como a cida<strong>de</strong> se percebeao longo do tempo, cida<strong>de</strong> estaque por duas vezes comemorouseu bicentenário. Uma em 1939,durante a Ditadura do EstadoNovo e a outra, em 1974, durantea Ditadura Militar e que porocasião da oficialização da fundação,em 1971 através da Lei3984, buscava em sua origemuma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que lhe permitissevangloriar-se <strong>de</strong> um passadoque a teria tornado a "gran<strong>de</strong>urbe" do interior <strong>de</strong> São Paulo.Nesse sentido, as próprias disputasentre as datas da fundaçãosão disputas entre as representaçõesdo passado e do presenteque temos e tivemos da cida<strong>de</strong>.Nesta parte do nosso trabalho,mais do que esclarecer as circunstânciasda fundação da cida<strong>de</strong>, temoscomo objetivo enten<strong>de</strong>rquais as representações que motivaramos autores e vereadores,no início da década <strong>de</strong> 1970, aoficializarem a data <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1774 como data da fundaçãoe contrapô-las às representaçõesque foram silenciadas comessa atitu<strong>de</strong>.O primeiro passo para isso foitentar compreen<strong>de</strong>r como era entendidaa palavra fundação durantea polêmica 23 que resultou naalteração da data <strong>de</strong> fundação oficialda cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1739 para 1774.Essa discussão se esten<strong>de</strong>u portrinta anos, mas no período entre1962 e 1971 alcançou o plenárioda Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>e este optou por um conceito <strong>de</strong>fundação diferente daquele que acida<strong>de</strong> havia adotado em tempospassados. Comparar esse novoconceito com aquele que oscampineiros do século XIX e iníciodo XX possuíam po<strong>de</strong> ajudar a esclarecera mudança do próprioconceito <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>.Nesse sentido, comparar comodicionários dos dois momentos <strong>de</strong>finemo termo fundação foi o primeiropasso a que nos propusemos.Segundo o Pequeno Dicionárioda Língua Portuguesa, escritopor Candido <strong>de</strong> igueiredo, publicadoem 1924, fundação é <strong>de</strong>finidacomo "o ato ou efeito <strong>de</strong> fundar"e "fundar é construir, edificar<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os alicerces(...)estabelecer-se; fixar residência(Latim undare)" enquantona 11ª edição do Pequeno DicionárioBrasileiro da Língua Portuguesa,<strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> AurélioBuarque <strong>de</strong> Hollanda erreira,publicada em 1964, fundação é o"ato do Estado ou liberalida<strong>de</strong> privada,por doação ou testamento,que institui uma pessoa jurídicaautônoma <strong>de</strong>stinada a fins <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>pública ou beneficência,mediante dotação oficial especial<strong>de</strong> bens livres". Dessa forma, po<strong>de</strong>mosconcluir que para os autoresque entendiam que em 1739a cida<strong>de</strong> havia sido fundada, a fundaçãonada mais era do que a existência<strong>de</strong> "umas casinhas airosase em seguida as ruas", um lugaron<strong>de</strong> "quase não se distinguecousa alguma senão <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pisarchão propriamenteintramuros". 24 Por outro lado po<strong>de</strong>mosvislumbrar que para os que<strong>de</strong>cidiram, em 1971, qual seria anova data, a fundação era maisdo que a existência <strong>de</strong> pessoas habitandoo espaço geográfico. Paraestes vereadores e estudiosos, afundação era consi<strong>de</strong>rada:".no sentido exato <strong>de</strong> início dopovoado, do aglomerado urbano,excluindo-se qualquer outraconotação, como a <strong>de</strong> início do povoamento,com a formação <strong>de</strong>bairro rural, que aqui se formou",ou seja, "<strong>Campinas</strong> foi uma 'cida<strong>de</strong>criada'. Ela nasceu <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>diretrizes constantes <strong>de</strong> um 'planourbanístico', um plano muitorudimentar, sem os requintes datécnica mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> planejamento,mas que nem por isso <strong>de</strong>ixava<strong>de</strong> ser um 'plano diretor'" 25 :22Este capítulo é uma versão atualizada com novas pesquisas das versões já publicadas no Diário Oficial do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2004 e no Revista SINPRO Cultural, Sindicatodos Professores <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> e Região, Ano X, nº 58, Maio <strong>de</strong> 2004.23A polêmica refere-se à disputa ocorrida, durante as décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970, entre os estudiosos e políticos pela data <strong>de</strong> fundação da cida<strong>de</strong> que finalmente seria alterada <strong>de</strong> 1739 para 1774.24Escrito <strong>de</strong> Francisco Quirino dos Santos publicado, pós-morte do autor, na Revista Oficial da Exposição Feira - 1739 - 1939 do Bicentenário da <strong>Campinas</strong>, op. cit., p.02.25A citação se refere à <strong>de</strong>marcação do rocio realizada por Francisco Barreto Leme que seria a futura área urbana <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> citada na obra: PUPO, Benedito Barbosa, À Margem da <strong>História</strong> <strong>de</strong><strong>Campinas</strong> (As origens da cida<strong>de</strong> e oficialização da data <strong>de</strong> sua fundação), 2ª Ed., <strong>Campinas</strong>: Tipografia Matos, 1976, pp. 13 a 20.


14"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>:ábricas <strong>de</strong> RepresentaçõesOu seja, ela surge como cida<strong>de</strong>planejada e não como um amontoado<strong>de</strong> casas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredados oucolonos pobres interessados emabastecer tropeiros ou habitantesfugitivos das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> varíolae sarampo da Vila <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong>Piratininga. 26Neste trecho da análise é precisorecuperar o conceito <strong>de</strong> bairrorural para percebermos que <strong>de</strong>ntroda própria comissão e entre oshistoriadores que ratificaram a mudançaesse argumento não eraconsensual. Para Maria Isaura Pereira<strong>de</strong> Queiroz:"Era o bairro rural um grupo <strong>de</strong>vizinhança <strong>de</strong> 'habitat' disperso,mas <strong>de</strong> contornos suficientementeconsistente para dar aos habitantesa noção <strong>de</strong> lhes pertencer, levando-osa distingui-lo dos <strong>de</strong>maisbairros da zona. O sentimento <strong>de</strong>'localida<strong>de</strong>' constituía elemento básicopara <strong>de</strong>limitar a configuração<strong>de</strong> um bairro, tanto geográficoquanto no espaço social. Tradicionalmente,uma capela marcava onúcleo central, e a festa do padroeiroconstituía um dos momentosimportantes <strong>de</strong> reunião para oscomponentes dispersos pelas cercanias,- momento em que se afirmavaa personalida<strong>de</strong> do bairro emrelação aos bairros vizinhos. Cadabairro se compunha <strong>de</strong> famíliasconjugais autônomas, autárquicas,lavrando in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente suasroças como e quando queriam. Nãopodiam, porém, prescindir do auxíliodos vizinhos sem grave diminuição<strong>de</strong> seus recursos, pois suastécnicas eram as mais rudimentares"27 .Assim, se por um lado o conceito<strong>de</strong> Bairro Rural utilizado porBenedito Barbosa Pupo se assemelhaa esta <strong>de</strong>finição no que se refereaos aspectos culturais earquitetônicos, <strong>de</strong>vemos nos lembrar<strong>de</strong> que a criação da freguesiaincentivou essa configuração, poisfoi através <strong>de</strong>sta que houve a autorizaçãopara e ereção da capelae <strong>de</strong>marcação do rocio; por outrolado, no que se refere aos aspectoseconômicos <strong>de</strong>ixam a <strong>de</strong>sejarse consi<strong>de</strong>rarmos, como apontouTeodoro <strong>de</strong> Sousa Campos, que asroças <strong>de</strong> subsistência em <strong>Campinas</strong>po<strong>de</strong>m ser comparadas àsfaiscações nas regiões da Minas 28e que estimasse que havia uma populaçãoescrava em número igualà população <strong>de</strong> livres 29 .Na realida<strong>de</strong>, esta discussão sobreo mito <strong>de</strong> origem da cida<strong>de</strong>,ou talvez seria mais preciso sobreRevista doBi Centenário<strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>a origem dos primeiros moradorese como a cida<strong>de</strong> foi fundada já haviasido travada em momentos anteriores,como <strong>de</strong>screveu ranciscoQuirino dos Santos no almanach<strong>de</strong> 1870 e reproduzido na RevistaOficial da Exposição eira do Bi-Centenário <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, 1739 -1939:"Eu ignoro se nós, comopaulistas, fomos <strong>de</strong> acordo com oparecer dum tal Vaissete, historiadorfrancez que Deus guar<strong>de</strong>, fomosdigo, em nossa origem, umatropa (a tradução é <strong>de</strong> rei Gasparda Madre <strong>de</strong> Deus), uma tropa <strong>de</strong>bandidos, ou se nossos progenitoresforam <strong>de</strong> remontado e estremosangue azul, como <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> oseraphico r. Gaspar." 3026JOSÉ, Jorge Antonio. "A cida<strong>de</strong> que nasceu pobre foi a potência do açúcar" Diário do Povo, 1983. Matéria localizada na Pasta Fundação da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, da Hemeroteca da Biblioteca PúblicaMunicipal Ernesto Manuel Zink. Foram constantes as epi<strong>de</strong>mias na capitania, <strong>de</strong>pois província que hoje chamamos Estado <strong>de</strong> São Paulo, e estas provocavam movimentos populacionais em busca <strong>de</strong> áreasjulgadas livres das doenças o que, segundo alguns autores, teria provocado uma migração da futura São Paulo para <strong>Campinas</strong>. Além disso, era comum pequenos infratores serem punidos com a pena <strong>de</strong><strong>de</strong>gredo, o que representava que estes <strong>de</strong>veriam se instalar aon<strong>de</strong> a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> el-rey ainda não estivesse estabelecida.27QUEREIROZ, Maria Isaura Pereira <strong>de</strong>. Bairros Rurais Paulistas: Dinâmica das Relações Bairro Rural - Cida<strong>de</strong>, São Paulo: Ed. Duas Cida<strong>de</strong>s, 1973, pp 3-4.28CAMPOS, Jr., Teodoro <strong>de</strong> Sousa. "<strong>História</strong> da Fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> (Subsídios)" Monografia Histórica do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, op. cit., pp 7- 9.29Revista Oficial da Exposição Feira - 1739 - 1939 do Bicentenário da <strong>Campinas</strong>. Publicação da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> e Comissão Oficial <strong>de</strong> Festejos, São Paulo: Gráfica J. Gozo, 1939, p. 115.30Texto <strong>de</strong> Francisco Quirino dos Santos publicado na Revista Oficial da Exposição Feira do Bi-Centenário <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, 1739 - 1939, op. cit.p. 32.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> Representações15O próprio autor se exime <strong>de</strong>emitir parecer, esclarecendo queem seu entendimento os feitospaulistas eram o que importavam,<strong>de</strong>stacando a ação dos mesmosnas lutas pela In<strong>de</strong>pendência, naRegência e na batalha da VendaGran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando a discussãoem torno da origem.A partir <strong>de</strong> 1971, com a aprovaçãoda lei 3984, promulgada em13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1971, que oficializao 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774, a fundaçãoda cida<strong>de</strong> passa a ser produto <strong>de</strong>um projeto político e urbanístico<strong>de</strong>finido. No entanto, se este conceitoe esta foi a versãohegemônica em 1971, que acabouse tornando oficial, ela não foi aúnica, pois Jolumá Brito, radialistae jornalista que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1956 vinhalançando os volumes da <strong>História</strong> daCida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, se recusa aassinar o relatório elaborado pelacomissão escolhida pela CâmaraMunicipal para dirimir as dúvidassobre a fundação, composta pelosestudiosos: João Batista <strong>de</strong> Sá -Jolumá Brito, Teodoro <strong>de</strong> SouzaCampos, José <strong>de</strong> Castro Men<strong>de</strong>s,Alaor Malta Guimarães e, posteriormente,Celso Maria <strong>de</strong> MelloPupo. Segundo Jolumá Brito, essatese era inaceitável e os argumentosutilizados para <strong>de</strong>fendê-la improce<strong>de</strong>ntes.31Resgatar esse <strong>de</strong>bate foi a quenos propusemos e para isso o métodoestabelecido foi dividido emtrês etapas. A primeira seria analisara documentação oficial sobreeste processo <strong>de</strong> "reinvenção datradição", a saber:- Decreto 1619, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1960, Declarando o Ponto acultativoem todas as repartiçõespúblicas municipais no dia 14 docorrente mês <strong>de</strong> julho, data dafundação da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>;- Requerimento 712/62, <strong>de</strong> autoriado vereador AntonioRodrigues dos Santos, que solicitavaa formação <strong>de</strong> uma comissãoque estudasse o fato <strong>de</strong>no monumento à fundaçãoconstruído na praça Guilherme<strong>de</strong> Almeida constar à data <strong>de</strong> 14<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774 32 ;- Relatório apresentado à Câmarapela comissão citada anteriormente,com data <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1963;- Parecer da comissão compostapelos senhores T. O.Marcon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza e Tito Lívioerreira, datado <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 1964, do Instituto Históricoe Geográfico <strong>de</strong> São Pauloratificando a data <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1774 e aditamento datado <strong>de</strong>16 do mesmo mês e ano <strong>de</strong>clarandoque a documentação apresentadapor Jolumá Brito nãooferecia argumentos capazes <strong>de</strong>modificar o parecer 33 ;- O projeto <strong>de</strong> Lei 78/70, <strong>de</strong> autoriado vereador AntonioRodrigues dos Santos, que estabeleciao dia 15 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1732 como fundação oficialda cida<strong>de</strong> 34 ;- A Lei 3984, promulgada em 13<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1971, que oficializa o14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774.A segunda foi verificar como setravou o <strong>de</strong>bate pela imprensacampineira entre os memorialistase estudiosos que se manifestarampublicamente na época, entre eles 35 :- João Batista <strong>de</strong> Sá - JolumáBrito: estudioso da história <strong>de</strong><strong>Campinas</strong> que publicou 26 volumessobre o assunto e <strong>de</strong>fendiaa fundação como sendo produtoda ação política <strong>de</strong> Barreto Lemea partir <strong>de</strong> 1739, quando o mesmose mudou <strong>de</strong> Jundiaí para<strong>Campinas</strong>;- Benedito Barbosa Pupo: Cronistados jornais Diário do Povoe Correio Popular que publicoudiversos artigos e livros sobre ahistória da cida<strong>de</strong>, entre elesOito Bananas por um Tostão e ÀMargem da <strong>História</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>- As origens da cida<strong>de</strong> eoficialização da data <strong>de</strong> sua fundação)que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a data <strong>de</strong>1774 e a co-autoria do capitãogeneral Dom Luis Antonio <strong>de</strong>Sousa Botelho e Mourão, o Morgado<strong>de</strong> Mateus, na fundação dacida<strong>de</strong>;31Para maiores informações ver: BRITO, Jolumá. "Por que 1939". Jornal Diário do Povo, 21 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1973.32O monumento em questão é composto "por oito blocos dispostos em ligeiro semi-circulo, todo em granito cinza picolado, com bordas polidas assentam(sic)sobre uma base <strong>de</strong> concreto". O projeto é doescultor Lélio Coluccini e ostenta brasão <strong>de</strong> armas da família <strong>de</strong> Barreto Leme e seus colaboradores, além das datas <strong>de</strong> elevação à Freguesia, Vila e Cida<strong>de</strong>. Para maiores <strong>de</strong>talhes ver <strong>Campinas</strong> em Pedra eBronze, catalogo editado pela Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> por ocasião do Bicentenário em 1974. Exemplar consultado na Biblioteca do Museu da Cida<strong>de</strong>.33PUPO, Benedito Barbosa. op. cit., p. 1834A proposta, segundo o artigo <strong>de</strong> Jorge Antônio, <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> ser a data da concessão da Sesmaria a Antonio da Cunha Abreu e ele ser o primeiro a utilizar o nome <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> para <strong>de</strong>finir estaregião, em petição datada <strong>de</strong> 1726. Artigo publicado pelo Correio Popular, em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1977, localizado na Hemeroteca da Biblioteca Pública Municipal Ernesto Manuel Zink, pasta: Fundação da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Campinas</strong>35As fontes pesquisadas e bibliografia aqui apontada estão citadas na parte final <strong>de</strong>ste texto, em Referência bibliográfica e outras fontes.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> Representações16- Jorge Antonio José: publicoudiversos artigos questionando atese oficial e a suposta participaçãodo Morgado <strong>de</strong> Mateus,como co-fundador da cida<strong>de</strong>.Para este autor a data seria 15<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1732, quandoocorreu a efetivação da posse dasesmaria concedida a Antonio daCunha Abreu.A terceira etapa estabelecida foiverificar como alguns <strong>de</strong>ssesmemorialistas e estudiosos haviamconduzido suas pesquisas atéo momento que prece<strong>de</strong>u a polêmica,buscando compreen<strong>de</strong>r porque alguns <strong>de</strong>les mudaram seuponto <strong>de</strong> vista. Além <strong>de</strong> BeneditoBarbosa Pupo e Jolumá Brito,acrescentamos os seguintes estudiosos.- José <strong>de</strong> Castro Men<strong>de</strong>s: Intelectual,pintor e escultor quealém <strong>de</strong> publicações diversassobre a história <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>,compôs diversos quadros eaquarelas sobre <strong>Campinas</strong>, algumasdas quais hoje fazemparte do acervo do Museu daCida<strong>de</strong>;- Teodoro <strong>de</strong> Souza Campos: estudiosoda história da cida<strong>de</strong> eum dos mentores da MonografiaHistórica da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>,publicada pela imprensaoficial do Estado <strong>de</strong> São PauloA Documentação Oficialto ilustre <strong>de</strong> seu arcebispo" 36 .Assim, po<strong>de</strong>mos concluir que acomemoração na forma <strong>de</strong> pontofacultativo em 1960 se <strong>de</strong>ve a umacombinação <strong>de</strong> fatores, a saber: aundação com a suposta primeiramissa e o Jubileu do arcebispo, osdois eventos <strong>de</strong> natureza religiosa.A fundação apenas enquantoevento público <strong>de</strong>svinculado daconcepção religiosa não justificariaa referida comemoração, poisa mesma não havia ocorrido nosanos anteriores e nem, pelos termosdo <strong>de</strong>creto, ocorreria nos posteriores.Com relação ao restante da documentaçãoproduzida pelo po<strong>de</strong>rpúblico municipal sobre esse assunto,a partir do Requerimento712/62, do projeto <strong>de</strong> Lei 78/70 eda Lei 3984, esta não está localizadano Arquivo da Câmara Municipal,o que inviabilizou que fosseresgatada essa parcela do proces-em 1952;- Celso Maria <strong>de</strong> Mello Pupo: escreveuentre outros, <strong>Campinas</strong>,Município do Império e <strong>Campinas</strong>,Seu Berço e Juventu<strong>de</strong>;- Julio Mariano: jornalista queescreveu <strong>Campinas</strong>: De Onteme Anteontem Quadros Históricosmenos conhecidos da Cida<strong>de</strong>-Princêsa, que se traçaram tendopor base documentos inéditosdo Arquivo da Câmara Municipal<strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>;- Geraldo Sesso Junior: escreveuRetalhos da Velha <strong>Campinas</strong>,conjunto <strong>de</strong> crônicas e imagensque revelam passagens do passadocampineiro.O Decreto nº 1619, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 1960, assinado pelo Vice-Prefeito Municipal em exercício, <strong>de</strong>clarao ponto facultativo apenas nodia 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1960 revelandoque nos anos anteriores a referidadata não foi comemorada comoponto facultativo e nem o seria nosanos posteriores a partir apenas<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>creto. Além disso, em suajustificativa o <strong>de</strong>creto assim se manifestava:"Consi<strong>de</strong>rando <strong>de</strong> alta significaçãoo dia 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774, dataem que a cida<strong>de</strong> foi fundada porrancisco Barreto Leme;Consi<strong>de</strong>rando que essa data, emcoincidência feliz, combina com osfestejos <strong>de</strong> comemoração do jubileuepiscopal <strong>de</strong> S. Exa, Revma. DOMPAULO DE TARSO CAMPOS, arcebispometropolitano <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>;Consi<strong>de</strong>rando ser <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>staadministração Municipal,concomitantemente, comemorar adata histórica e homenagear o vulso<strong>de</strong> "reinvenção da tradição". Aanálise <strong>de</strong>ssa documentação po<strong>de</strong>riafavorecer a compreensão dosmotivos que levaram à mudançada data da fundação da cida<strong>de</strong>, pelomenos do ponto <strong>de</strong> vista do <strong>de</strong>batetravado entre os vereadores eentre os membros da comissão <strong>de</strong>estudiosos.O que nos causou estranheza éque o conjunto dos requerimentose projetos <strong>de</strong> leis <strong>de</strong>ste períodoesta enca<strong>de</strong>rnado e que os referidosnesse ensaio não se encontram,parecendo terem sido retiradosno momento da enca<strong>de</strong>rnação37 . Assim sendo, o projeto <strong>de</strong>lei 78/70 que em sua justificativapo<strong>de</strong>ria vir a esclarecer o porquêdo vereador Antonio Rodrigues dosSantos propor a data <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1732, simplesmente<strong>de</strong>sapareceu e quanto ao requerimento712/62, há uma cópia semo conseqüente <strong>de</strong>spacho e processoque o mesmo motivou.36Decreto 1619, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1960, Biblioteca Jurídica da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Assuntos Jurídicos, Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>.37No protocolo da Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> a referida documentação consta como estando em po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Alcindo, segundo levantamento realizado pela Senhora Marina, funcionária do Arquivo daCâmara em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> RepresentaçõesA ImprensaOs jornais <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> nas décadas<strong>de</strong> 1960 e 1970, assim comohoje, noticiavam os "aniversários"da cida<strong>de</strong> como sendo dias <strong>de</strong> festae inauguração <strong>de</strong> obras públicas, noentanto ainda havia artigos dos diversosestudiosos <strong>de</strong>sta história divergindosobre a data oficial da fundaçãoe trazendo novos argumentosque problematizavam a história<strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>. Enquanto isso, a CâmaraMunicipal e a Prefeitura <strong>de</strong><strong>Campinas</strong> haviam optado por umadata que consigo trazia as idéias <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, institucionalida<strong>de</strong> eorigem nobre, representadas, respectivamente,pela <strong>de</strong>marcação dorocio com ruas planejadas, criaçãoda freguesia e a primeira missa, fundaçãorealizada por ranciscoBarreto Leme (<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nobreportuguês) e Morgado <strong>de</strong>Mateus. 38Entre esses autores, dois mereceram<strong>de</strong>staque. O primeiro <strong>de</strong>lesfoi Jolumá Brito que continuavareafirmando a existência <strong>de</strong><strong>Campinas</strong> Velha, que ficaria àsmargens do antigo caminho paraas Minas <strong>de</strong> Goiás e dando ênfasea rancisco Barreto Leme como ogran<strong>de</strong> articulador para a fundaçãoda freguesia. A sua chegadateria ocorrido em 1739 e, a partirdaí, a idéia <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> teria se disseminadopelos moradores, ouseja, já havia um núcleo <strong>de</strong> "fogos"no momento em que ele chegoua <strong>Campinas</strong>, mas os moradoresda região não tinham a pretensão<strong>de</strong> fundar uma cida<strong>de</strong>. Esseprojeto pessoal <strong>de</strong> ranciscoBarreto Leme o teria motivado aconvencer seus vizinhos da necessida<strong>de</strong><strong>de</strong>ssa criação e a acolhidaposterior do Morgado <strong>de</strong> Mateus,enquanto Governador daCapitânia, teria provocado o <strong>de</strong>senvolvimentodo processo <strong>de</strong>institucionalização do núcleopopulacional até atingir o status <strong>de</strong>reguesia, Vila e Município. Nessesentido, a data da fundação da cida<strong>de</strong>proposta é a data do nascimento<strong>de</strong> um projeto mais do que<strong>de</strong> um acontecimento concreto.O segundo autor, Jorge AntonioJosé, hoje silenciado, questionavaa tese oficial e as idéias <strong>de</strong> JolumáBrito, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que <strong>Campinas</strong><strong>de</strong>veria comemorar o dia 15 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1732 como data da fundação.Essa proposta se justificariaem virtu<strong>de</strong> das concessões <strong>de</strong>sesmarias a Antonio da Cunha Abreue seu concunhado João Bueno daSilva, a Antônio Neves Pires e a AlexandreSimões Vieira. Este autorassim <strong>de</strong>fendia seu argumento questionandoa data oficial:"A missa que se diz rezada nãofoi, evi<strong>de</strong>ntemente, a primeira quena área se realizou, todos aquelesanos antes ntre(sic) 1728 e 1774.Até mesmo com altar portátil sepo<strong>de</strong>ria rezá-la.Mas, ainda que tenhasido a primeira missa, aindanão foi missa <strong>de</strong> autonomia, missa<strong>de</strong> paróquia, pois a própria paróquiaera e continuou sendo Jundiaí.Sem autonomia religiosa, sem autonomiacivil, secular, política e administrativanão se po<strong>de</strong> falar emfundação que implica ponto <strong>de</strong> partidaou <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>jurídica que não adquiriuentão." 39Esta linha <strong>de</strong> argumentaçãotentava <strong>de</strong>monstrar que a ereção<strong>de</strong> bairro a freguesia não representavaautonomia religiosa e política,o que é fato. A freguesia é uma"povoação, do ponto <strong>de</strong> vista eclesiástico"ou o "conjunto dos paroquianos".Como a paróquia continuavaa ser Jundiaí, po<strong>de</strong>mos concluirque <strong>Campinas</strong> estava subordinadae continuava a fazer partedaquela; portanto, Barreto Lemee Morgado <strong>de</strong> Mateus não teriampromovido mudança alguma parao povoado. Ele prossegue sua linha<strong>de</strong> argumentação escrevendo:"o Morgado aplicou um 'esquemasui generis': a obrigação aosvadios, o convite aos lavradores.E da forma como o <strong>de</strong>terminou, pareceudizer que na área não haviaum lavrador sequer, o que tornaseu ato mais estranho ainda, além<strong>de</strong> negação da própria história poisele sempre soube que o bairro tinha,lavradores em número suficiente."40A leitura do autor nos permiteconcluir, e talvez seja isto que elesugere, é que em virtu<strong>de</strong> do princípio"uti possi <strong>de</strong> tis" 41 que regulouos acordos entre Portugal eEspanha após a revogação do Tratado<strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas, o Morgado <strong>de</strong>Mateus teria oficializado uma ocupaçãoque já existia, dando-lhe reconhecimentoe pressionando aIgreja Católica a fazê-lo para mantersob domínio português as terrashoje ocupadas por <strong>Campinas</strong>.Ao caracterizar os moradores doBairro do Mato Grosso <strong>de</strong> Jundiaí,Jorge Antonio José conclui sobre ossesmeiros que para cá vieram posteriormente:"os primeiros não estiveram naárea do bairro com o intuito <strong>de</strong> específico<strong>de</strong> povoar lugar ermo, poisvieram no embalo <strong>de</strong> outros que osantece<strong>de</strong>ram. Que vieram com opropósito <strong>de</strong> participar do povoamento,não resta dúvida com acondição superior da continuida<strong>de</strong>(grifo nosso) o que não lhesmodifica a posição <strong>de</strong> seguidores." 421738É interessante observar como esta imagem foi preservada até hoje e não é mais questionada. José Pedro Martins publicou em 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999 no Correio Popular duas matérias sob as seguinteschamadas "Linhagem Nobre <strong>de</strong> Heróis" sobre Barreto Leme e "Um filho legítimo da aristocracia Lusitana, Luís Antonio <strong>de</strong> Sousa Botelho, o Morgado <strong>de</strong> Mateus", atribuindo a ambos a fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>.No entanto, na mesma página apresenta um mapa realizado entre 1743 e 1758 no qual já consta o termo <strong>Campinas</strong> para <strong>de</strong>finir a região. Segundo Benedito Barbosa Pupo, esta nomenclatura seria explicadapela vegetação e relevo da região, mas no mapa não consta outras <strong>de</strong>nominações <strong>de</strong>sta natureza, como serra, planaltos etc.39JOSÉ, Jorge Antonio. "A cida<strong>de</strong> que nasceu pobre foi a potência do açúcar" Diário do Povo, 1983. Matéria localizada na Pasta Fundação da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, da Hemeroteca da Biblioteca PúblicaMunicipal Ernesto Manuel Zink.40I<strong>de</strong>m, ib<strong>de</strong>m.41O Tratado <strong>de</strong> Madrid firmado em 1750 estabelecia o principio do uso e posse da terra como elemento <strong>de</strong>finidor das fronteiras entre Portugal e Espanha. Mesmo sendo substituído por outros tratados oprincípio continuou a ser observado.42I<strong>de</strong>m, ib<strong>de</strong>m.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> Representações18Ou seja, na sua opinião os sesmeiros oficiaisvieram após a fixação <strong>de</strong> pessoas queabandonaram ban<strong>de</strong>iras para aqui se fixarem,<strong>de</strong>gredados e fugitivos das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> varíolae sarampo da Vila <strong>de</strong> Piratininga, com oobjetivo <strong>de</strong> abastecerem as tropas que praticavamo comércio na região das minas.Sobre a região do caminho dos Goiases,Teodoro <strong>de</strong> Sousa Campos Jr. Afirma:"se cobre a partir <strong>de</strong> 1726, <strong>de</strong> aventureiros <strong>de</strong>todas as classes e procedências, em trânsitopara a região do Novo Eldorado. O sucedidofez surgir a exploração <strong>de</strong> pousos ao longo daestrada, negócio este tão rendoso, a julgarpela competição logo estabelecida, quanto aindústria da faiscação do minério..." 43Para este autor, a exploração dos pousosse apresenta como uma ativida<strong>de</strong> econômicaimportante e, po<strong>de</strong>mos concluir, atraentepara os aventureiros que tinham como objetivose manter afastados da autorida<strong>de</strong> doRei e <strong>de</strong> seus subordinados.Nesse levantamento, realizado junto aHemeroteca da Biblioteca Pública MunicipalErnesto Manuel Zink e a ColeçãoJoão alchi Trinca do Centro <strong>de</strong> Memóriada UNICAMP, po<strong>de</strong>mos observar que adiscussão sobre a fundação oficial da cida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> através da imprensa teria tidoinício na década <strong>de</strong> 1960 e obteve <strong>de</strong>staquena década <strong>de</strong> 1970, quando se constata quehouve um crescimento significativo do número<strong>de</strong> artigos publicados os quais foram <strong>de</strong>saparecendogradativamente nos anos <strong>de</strong>1980. A análise <strong>de</strong>sses artigos nos levou aconcluir que, mais do que argumentosembasados em novas fontes documentais,novas metodologias ou teoricamente maisconsistentes que levassem a opção pela data<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774 e uma conclusão efetivado <strong>de</strong>bate, houve sim, por parte dosmeios <strong>de</strong> comunicação e da própria administraçãomunicipal 44 , um gradativo "esquecimento"das outras datas propostas e umaconstante exaltação da origem planejada,institucionalizada, religiosa e nobre da cida<strong>de</strong>,silenciando um outro discursohistoriográfico que apontava uma origem maissimples, nem por isso menos real.Programa da 1ª ComemoraçãoOficial do Aniversário da Fundaçãoda Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>43CAMPOS, Teodoro <strong>de</strong> Souza "<strong>História</strong> da Fundação <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>(Subsídios)"; in Monografia Histórico do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, publicação da Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro: ServiçoGráfico do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística,1952, p. 0744O Programa da Comemoração do Aniversário <strong>de</strong> Fundação da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong> em 1971 assim se referia ao Evento "1ª Comemoração Oficial do Aniversário da Fundação da Cida<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong>1971" (Lei 3984 <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1971) não fazendo nenhuma referência as comemorações ocorridas em 1939.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> RepresentaçõesBibliografia Comentada19O primeiro questionamento, do qual temos conhecimento,sobre o ano <strong>de</strong> 1939 como o ano <strong>de</strong> fundação,foi realizado por Teodoro <strong>de</strong> Souza Campos 45 naMonografia Histórica do Município <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>. Paraeste autor:"Acreditamos que a sua vinda e mudança (<strong>de</strong> BarretoLeme) para cá se verificou <strong>de</strong>pois do ano <strong>de</strong> 1744,baseados na circunstância <strong>de</strong> haverem nascido emTaubaté quase todos os seus filhos, com exceção feitaaos últimos como adiante veremos. E, portanto, nãopo<strong>de</strong> ser aceitável a versão segundo a qual no ano <strong>de</strong>1739 a sua transferência para o bairro do Mato Grosso;pois não é crível que vivesse <strong>de</strong> cá para lá, emcontinuas e longas jornadas, em visita à família" 46 .Portanto, a fundação não po<strong>de</strong>ria ter ocorrido nareferida data, mas o pressuposto <strong>de</strong> que Barreto Lemeé o fundador não é questionado e nem o significadodo que era a fundação.A esta argumentação Jolumá Britto rebaterá emartigo publicado no jornal Diário do Povo, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong>Julho <strong>de</strong> 1973, escrevendo:"quando discutia com um gran<strong>de</strong> amigo meu e historiadore genealogista <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> duvidando <strong>de</strong> queBarreto Leme estivesse em <strong>Campinas</strong> em 1739. Perguntei-lheo motivo <strong>de</strong> sua dúvida. 'É que', disse-meele, 'nesse ano sua mulher <strong>de</strong>ra à vida mais um filhoe , portanto Barreto Leme <strong>de</strong>veria andar por lá... emTaubaté'.E fui obrigado a respon<strong>de</strong>r: 'Afinal <strong>de</strong> contas quem<strong>de</strong>u a luz? oi ele ou a mulher.'". 47As pesquisas recentes <strong>de</strong>monstram que ospaulistas, até o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura canavieira,sempre estiveram associados às praticas <strong>de</strong> movimentospopulacionais em busca <strong>de</strong> ouro, pedras preciosasou mesmo do tropeirismo e movimentosmonçoeiros. A partir da compreensão <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>,torna-se possível que Barreto Leme já tivessepassado pelas terras que darão origem à <strong>Campinas</strong>ou mesmo que aqui tivesse formado sesmaria, no entanto,não significa que ele quisesse formar cida<strong>de</strong>,tendo em vista os constantes <strong>de</strong>slocamentos dospaulistas.A esse respeito escreverá Paulo César GarcezMarins analisando a vida cotidiana dos Paulistas:"O nomadismo a que gran<strong>de</strong> parte dos paulistasse obrigava durante os três primeiros séculos tambémtolheu o gasto com construções ou casas <strong>de</strong> maiorrequinte. Passavam-se muitos meses nos sertões embusca <strong>de</strong> indígenas a escravizar e também <strong>de</strong> metaispreciosos para que as vilas e fazendas, espaços se<strong>de</strong>ntários,justificassem gastos elevados, que eram,pouco <strong>de</strong>sfrutáveis em vista do excesso <strong>de</strong> tempo<strong>de</strong>spendido nas expedições." 48Alaor Malta Guimarães escrevia em 1953:"<strong>Campinas</strong>, assim como muitas outras cida<strong>de</strong>s doBrasil, teve a sua origem num pouso, on<strong>de</strong> os intrépidosBan<strong>de</strong>irantes Paulistas <strong>de</strong>scansavam, quando empreendiamas suas viagens pelos sertões do País, principalmente<strong>de</strong> Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, embusca <strong>de</strong> ouro, pedras preciosas e escravizando índios."49Na década <strong>de</strong> 1950, a cida<strong>de</strong> originária ainda eraentendida como ponto <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong> tropeiros eroceiros que aqui se estabeleceram em virtu<strong>de</strong> da hospitalida<strong>de</strong>campineira. Isso po<strong>de</strong> ser entendido, comoapontou Rosana Baenninger, porque nessa etapa do<strong>de</strong>senvolvimento econômico da cida<strong>de</strong> há uma <strong>de</strong>mandapor mão <strong>de</strong> obra que dê sustentação ao mesmoe portanto:"os movimentos migratórios aparecem como necessáriopara o gran<strong>de</strong> impulso industrial no município."A cida<strong>de</strong> se representava como tendo uma dasmenores taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, oferecia vagasao mercado <strong>de</strong> trabalho, se orgulhava <strong>de</strong> não possuirfavelas como resultado <strong>de</strong> uma administração eficiente,fazendo propaganda para atrair migrantes. 50Esta situação nos permite compreen<strong>de</strong>r porqueAlaor Malta Guimarães entendia <strong>Campinas</strong>, naquelemomento, anos 50, como sendo uma cida<strong>de</strong> que teveorigem "como outras cida<strong>de</strong>s do Brasil". Representaçãoesta que passou a não ser aceitável aos olhos daelite dirigente campineira, entre o final da década <strong>de</strong>1960 e início <strong>de</strong> 1970, que buscava em sua origemalgo que a diferenciasse das outras cida<strong>de</strong>s. Não aceitaçãoque se torna evi<strong>de</strong>nte no prefácio <strong>de</strong> SólonBorges dos Reis, datado <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1969, àobra Retalhos da Velha <strong>Campinas</strong>, <strong>de</strong> Geraldo SessoJunior:"Como brasileiro incumbido da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>educar, cumprimento-o porque ele quer guardar paraas gerações que crescem em <strong>Campinas</strong> e lá fora osretalhos da velha cida<strong>de</strong>, atualizada hoje em funçãodo progresso que empolga o século, mas on<strong>de</strong> a sauda<strong>de</strong>mora para a lembrança <strong>de</strong> outros tempos em45CAMPOS, Teodoro <strong>de</strong> Souza. Op. cit46I<strong>de</strong>m, ib<strong>de</strong>m, p.29.47Para maiores informações ver BRITO. Jolumá. "Por que 1939". Jornal Diário do Povo, 21 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1973.48MARINS, Paulo César Garcez, "A Vida Cotidiana dos Paulistas: Moradias, alimentação, indumentária" in Terra Paulista <strong>História</strong>s Artes Costumes,(Vol. II). São Paulo: CENPEC/Imprensa Oficial do Estado<strong>de</strong> São Paulo, 2004, p. 96.49GUIMARÃES, Alaor Malta, <strong>Campinas</strong>, Dados Históricos e Estatísticos (Contendo um Guia Completo <strong>de</strong> Ruas), <strong>Campinas</strong>: Ed. Livraria Brasil, 1953, p. 96.50BAENNINGER, Rosana, Espaço e Tempo em <strong>Campinas</strong>: Migrantes e Expansão do Pólo Industrial Paulista, <strong>Campinas</strong>: Publicações CMU/UNICAMP - Coleção Campiniana, 1996, p. 47.


"undações" <strong>de</strong> <strong>Campinas</strong>: ábricas <strong>de</strong> Representações20Bibliografia Comentadaque nunca faltou gran<strong>de</strong>za à terra e à gentecampineira." 51Na fala do professor Sólon Borges dos Reis éenfatizada a gran<strong>de</strong>za da terra e da gente campineira,excluindo os que não são campineiros da construçãoda cida<strong>de</strong>. Ao realizar isto, ele exclui os escravos, osnegros, os migrantes e imigrantes, enfim uma gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas que não eram campineiras,mas que aqui trabalharam e construíram a cida<strong>de</strong>.Esta situação, em parte, po<strong>de</strong> ser entendida pelos problemasque a cida<strong>de</strong> enfrentava em fins da década <strong>de</strong>1960 e início <strong>de</strong> 1970. O po<strong>de</strong>r público municipal, isoladamente,havia perdido a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administrara cida<strong>de</strong>, ele não estava mais direcionando elimitando o po<strong>de</strong>r do capital industrial e imobiliário 52 .Os indicadores sociais entraram em <strong>de</strong>clínio e se fezpreciso achar um responsável: o migrante <strong>de</strong> heróifundador passa a ser marginal, como nos revelaBaenninger:"No final dos anos 60, e início dos anos 70, omigrante já aparece como bo<strong>de</strong> expiatório: causa docrescente surgimento das favelas da <strong>de</strong>sorganizaçãourbana e do aumento da mendicância na cida<strong>de</strong>." 53O próprio Sesso Junior reconhece a existência <strong>de</strong>uma povoação na região da atual <strong>Campinas</strong> em 1732,escrevendo:"Atrasando o relógio do tempo, vamos nosembrenhar nos idos <strong>de</strong> 1732, quando a nossa opulenta<strong>Campinas</strong> atual, não passava <strong>de</strong> uma pobre paragem,mais conhecida como o 'Bairro do Mato Grosso'(...)O nascimento da primitiva povoação, aconteceuquase que por acaso". Segundo ele, "a 3 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1722, partia da Vila <strong>de</strong> Piratininga uma ban<strong>de</strong>iraorganizada e custeada pelo então governador RodrigoCésar <strong>de</strong> Menezes e chefiada por Bartolomeu Buenoda Silva, 'O Anhanguera', com a missão <strong>de</strong> encontrara serra dos Martírios que, segundo a lenda, <strong>de</strong>via escon<strong>de</strong>rvaliosas peças. Como a ocasião era propícia,os que pensavam em abandonar a Vila <strong>de</strong> Piratiniga,apresentaram-se para integrar a expedição. Participavamda ban<strong>de</strong>ira homens e mulheres, negros, índios,mamelucos, mulatos, e entre os brancos, fra<strong>de</strong>s,lusos e espanhóis. A maioria dos que pertenciam àexpedição, à medida que esta ia avançando pelo interior,ia <strong>de</strong>sertando. O ponto culminante foi quandoalcançou as imediações <strong>de</strong> nossa terra. Pequenas erústicas palhoças começaram a surgir nas clareirasda mata." 54O autor faz referência aos "Campinhos" e emboranão se utilize do termo fundação, eximindo-se <strong>de</strong> participarda polêmica estabelecida, refere-se ao "nascimentoda primitiva povoação" e, neste caso, a origem,e não a fundação, da cida<strong>de</strong> se relacionava comfugitivos da Vila <strong>de</strong> Piratininga e fornece subsídiospara o questionamento da suposta origem nobre dacida<strong>de</strong>.O <strong>de</strong>bate não se encerra neste ponto e JulioMariano em <strong>Campinas</strong> <strong>de</strong> Ontem e Anteontem, publicadoem 1970, <strong>de</strong>squalifica o <strong>de</strong>bate realizado pelaImprensa afirmando:"...enveredando os editoriais da imprensa local parao terreno histórico, no qual careciam <strong>de</strong> base sólida,em <strong>de</strong>fesa da Comissão Centenária, resultou apaixonadae confusa polêmica, com pouco ou nada <strong>de</strong> aproveitamentoao povo menos letrado"Este autor consi<strong>de</strong>ra que a <strong>de</strong>fesa pela imprensada Comissão que <strong>de</strong>finiu a data da fundação como 14<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774 foi <strong>de</strong>cisiva para que a mesma prevalecesse,embora a imprensa não se preocupassecom a metodologia do trabalho do historiador e nemcom o rigor da análise das fontes. Para ele,"Na realida<strong>de</strong>, <strong>Campinas</strong> cida<strong>de</strong> veio a fundar-se<strong>de</strong>finitivamente aos 14 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1797, em'Auto <strong>de</strong> Erecçam' presidido pelo Doutor Ouvidor Gerale Corregedor da Comarca <strong>de</strong> São Paulo, CaetanoLuis <strong>de</strong> Barros Monteiro, em conseqüência da Portariado Sr. Capitão General da Capitania, Antonio Manoel<strong>de</strong> Melo Castro e Mendonça que <strong>de</strong>nominou ao novomunicípio <strong>de</strong> Vila <strong>de</strong> São Carlos. No dito 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro,para bem comprovar a existência daMunicipalida<strong>de</strong> Sancarlense, se proce<strong>de</strong>u ao levantamentodo Pelourinho e <strong>de</strong>marcação do paço do Conselhoe Ca<strong>de</strong>ia e igualmente do terreno do Rocio. Nodia seguinte, isto é, a 15 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1797, peranteo referido Doutor Ouvidor Geral e Corregedorda Comarca se proce<strong>de</strong>u à eleição dos dois juízes etrês vereadores, para Governo da Vila." 55Po<strong>de</strong>mos perceber que a linha <strong>de</strong> argumentaçãoadotada tem pontos <strong>de</strong> contato com o pensamento<strong>de</strong> Jorge Antonio exposto anteriormente. Ao dirigirsua análise para os aspectos legais expostos na argumentação<strong>de</strong> Benedito Barbosa Pupo, ele questiona o14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1774, pondo em dúvida a data da pri-51REIS, Solon Borges dos, in SESSO Jr., Geraldo, Retalhos da Velha <strong>Campinas</strong>: Prefácio, <strong>Campinas</strong>: Ed. Palmeiras, 1970.52Para maiores informações ver ERBOLATO, Mário & CASTRO, Moacir. "<strong>Campinas</strong> - Bicentenária Planeja o Futuro", O Estado <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1974. Neste artigo os autoresretratam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 130 milhões <strong>de</strong> cruzeiros para a plena execução do Plano Diretor da Cida<strong>de</strong> no que se refere a construção <strong>de</strong> casas populares e conclusão do Centro Cultural Carlos Gomes. ColeçãoJoão Falchi Trinca - Centro <strong>de</strong> Memória da UNICAMP.53BAENNINGER, Rosana, Espaço e Tempo em <strong>Campinas</strong>: Migrantes e Expansão do Pólo Industrial Paulista, <strong>Campinas</strong>: Publicações CMU/UNICAMP - Coleção Campiniana, 1996, p. 60.54 SESSO Jr, Geraldo, op. cit, pp. 31-32.55MARIANO, Júlio. <strong>Campinas</strong> <strong>de</strong> Ontem e Anteontem, <strong>Campinas</strong>: Ed. Maranata, 1970, pp 192 e 193.

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