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UNIVERSIDADECATÓLICA DEBRASÍLIAPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃOTRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSORELAÇÕES INTERNACIONAISO GOVERNO HUGO CHÁVEZ E ASAMEAÇAS AOS VALORESDEMOCRÁTICOS ERELACIONAMENTO COM O BRASILAutor (a): <strong>Morgana</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong><strong>Buarque</strong>Orientador: Msc. Alexandre MartchenkoBRASÍLIA


MORGANA NOGUEIRA DE SOUZA BUARQUEO GOVERNO HUGO CHÁVEZ E AS AMEAÇAS AOS VALORESDEMOCRÁTICOS E RELACIONAMENTO COM O BRASILMonografia apresentada ao Curso <strong>de</strong>Relações Internacionais da Universida<strong>de</strong>Católica <strong>de</strong> Brasília como requisito parcialpara a obtenção do Título <strong>de</strong> Bacharel emRelações Internacionais.Orientador: Prof. MSc. AlexandreMartchenkoBrasília-DF2009


Monografia <strong>de</strong>fendida e aprovada como requisito parcial para obtenção dotítulo <strong>de</strong> Bacharel em Relações Internacionais, em 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2009, pelabanca examinadora constituída por:___________________________________Prof. MSc. Alexandre MartchenkoOrientadorRelações Internacionais - UCB_________________________________Prof. MSc. Fábio DuvalRelações Internacionais - UCB_________________________________Profa. MSc. Fernanda Fernan<strong>de</strong>sRelações Internacionais - UCBBrasília-DF2009


Dedico este trabalho a Deus, à minhafilha, aos meus pais, familiares e amigos.


Agra<strong>de</strong>cimentosÀ Maria Luísa, luz do meu caminho, alegria dos meus dias, por continuar meoferecendo seu amor gratuitamente. Te amo muito, filha!Aos meus pais, Sílvio e Brasília, por sacrificarem seu tempo e finanças parame presentearem com este curso superior. Obrigada pela base e confiança.Um obrigado especial se direciona a minha vovó Maria Amélia (in memorian),minha linda Madrinha <strong>de</strong> Formatura.Aos meus bons amigos, meus queridos primos Paulo, Hellen, Flávia, Luma,Filemon, tia Clarice e tia Joana, à Letícia e à amiga Patrícia simplesmente peloouvido e opinião. Aos companheiros <strong>de</strong> trabalho pela paciência e compreensão dasminhas necessida<strong>de</strong>s – o companheirismo <strong>de</strong> vocês sempre foi excepcional!Não po<strong>de</strong>ria olvidar citar meus queridos irmãos, Sandro e Sândalo, que cadaqual à sua maneira contribuem para <strong>de</strong>senvolver muitas tarefas cotidianas. E emnome do meu orgulho agra<strong>de</strong>ço simplesmente a existência da minha sobrinhaHeloísa e minha afilhada Lara: amo muito vocês!E por último, mas primordialmente agra<strong>de</strong>ço ao meu bom Deus, pois sem Suapermissão nada seria possível. Obrigada Papai pelo carinho que me <strong>de</strong>dicas, pelasoportunida<strong>de</strong>s que me conce<strong>de</strong>s e, principalmente, pelas pessoas que me permitesconviver. Obrigada por ter me carregado em Seus braços sempre que precisei.Declaro a ti todo o meu amor em reverência <strong>de</strong> filha e serva.


ABSTRACTBUARQUE, <strong>Morgana</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong>. Hugo Chávez's government and threats to<strong>de</strong>mocratic values and relationship with Brazil. Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Brasília.Aca<strong>de</strong>mic Advisor: Professor MSc. Alexandre Martchenko. November, 2009.The present work aims to analyze the methodology used by Hugo Chávez´sgovernment in Venezuela un<strong>de</strong>r the light of <strong>de</strong>mocratic theories including versed onthe ramifications of its foreign policy at the regional level with respect to therelationship with Brazil. To that end, it was exposed an overview of national policyhistory approaching the consolidation of <strong>de</strong>mocracy in the country and outline therelationship with Brazil, and the events that gave rise to actions. The conclusionportrays, in addition to proving the hypothesis that the Hugo Chávez´s governmentcan not be consi<strong>de</strong>red a vigorous <strong>de</strong>mocracy, and Venezuela represents a risk to thestability of South America, but that does not pose serious threat to Brazil's lea<strong>de</strong>rshipin consi<strong>de</strong>ring its prestige in a international level.Key words: Democracy – Hugo Chávez – Venezuela – Relantionship with Brazil


LISTA DE TABELAS E QUADROSTabela 1 – % <strong>de</strong> Votos Obtidos Pelos Presi<strong>de</strong>ntes Venezuelanos (1947-2000). 34Tabela 2 – Atos bilaterais entre o Brasil e Venezuela (2000 – 2008)...................65Figura 1 – Os elementos mais importantes da Democracia I<strong>de</strong>al e Real ...........30Figura 2 O que é Democracia?...............................................................................42


LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLASABNT – Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas.ALBA – Alternativa Bolivariana para a América Latina e Caribe.ALCA – Área <strong>de</strong> Livre Comércio das Américas.AD – Ação Democrática.ALALC – Associação Latino - Americana <strong>de</strong> Livre Comércio.ALADI – Associação Latino - Americana <strong>de</strong> Integração.ALCSA – Alternativa para o mercado comum do Sul.ANC – Assembléia Nacional Constituinte.CAP – Carlos Andrés Perez.CCM – Comissão <strong>de</strong> Comércio do Mercosul.CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e CaribeCIA – Central Intelligence Agency.CMC – Conselho do Mercado Comum.CNE – Conselho Nacional Eleitoral.COPEI – Comitê <strong>de</strong> Organização Política Eleitoral In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.CSNU – Conselho <strong>de</strong> Segurança das Nações Unidas.FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.FMI – Fundo Monetário Internacional.FUNAG – Fundação Alexandre Gusmão.HRW – Human Rights Watch.MVR – Movimento da Quinta República.MRV – Movimento Revolucionário da Venezuela.MERCOSUL – Mercado Comum do Sul.NAFTA – Tratado Norte - Americano <strong>de</strong> Livre Comércio (North American Free Tra<strong>de</strong>Agreement).ONG – Organização Não Governamental.ONU – Organização das Nações Unidas.OPEP – Organização dos países exportadores <strong>de</strong> petróleo.PDVSA – Petróleo da Venezuela Socieda<strong>de</strong> Anônima.PTB-AL – Partido Trabalhista Brasileiro – Alagoas.RECADI – Registro <strong>de</strong> Cambios Diferenciales.RCTV – Rádio Caracas Televisão.


SIPAM – Sistema <strong>de</strong> proteção da Amazônia.SIVAM – Sistema <strong>de</strong> vigilância da Amazônia.UFRJ – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro.URD – Unión Republicana Democrática


SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................121.1 Problema e a sua importância .........................................................................121.2 Hipótese.............................................................................................................211.3 Objetivos............................................................................................................211.3.1 Objetivo Geral ......................................................................................211.3.2 Objetivos Específicos .........................................................................211.4 Metodologia.......................................................................................................222 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................222.1 Revisão Bibliográfica........................................................................................222.2 Marco Teórico....................................................................................................252.2.1 Realismo...............................................................................................252.2.2 Globalismo ...........................................................................................262.2.3 Teorias das formas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rl.............................................................273 A DEMOCRACIA VENEZUELANA .......................................................................323.1 EVOLUÇÃO POLÍTICA: DA INDEPENDÊNCIA VENEZUELANA (1825)AO DECLÍNIO DO SISTEMA DO PACTO DE PUNTO FIJO (1990-1999)............................................................................................................... 324 A ALTERNATIVA HUGO CHÁVEZ: A ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE1999. .........................................................................................................................375 A VENEZUELA NA AMÉRICA DO SUL. ................................................................475.1 A RELACIONAMENTO COM OS VIZINHOS ...........................................475.2 VENEZUELA NO MERCOSUL: UMA AMEAÇA À HEGEMONIABRASILEIRA NO SUBCONTINENTE?...........................................................526 CONCLUSÃO. .......................................................................................................557 REFERÊNCIAS. ....................................................................................................597.1 Mídia Impresa..........................................................................................597.1.1 Livros .........................................................................................59


7.1.2 Jornais, revistas e periódicos:.................................................617.2 Documentos Online................................................................................628 ANEXOS. ...............................................................................................................65


1 INTRODUÇÃO1.1 O problema e sua importânciaApós contrariar os interesses da elite venezuelana, do FMI e da maiorpotência do mundo, Hugo Chávez ascen<strong>de</strong>u no cenário internacional como uma dasfiguras mais aludidas da América Latina. Em se tratando da opinião públicainternacional para alguns Chávez brota como um salvador que luta exaustivamentepelos direitos da maioria pobre da Venezuela, e para outros representa um <strong>de</strong>lirantesocialista almejando reproduzir a façanha <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l Castro em Cuba e repetindo umtradicional, porém arcaico, caudilhismo 1 latino.A História pessoal <strong>de</strong> Hugo Chávez é bastante conturbada e está intimamenterelacionada com as atitu<strong>de</strong>s concretizadas nos seus mandatos. Compartilhando darealida<strong>de</strong> dos venezuelanos pobres, quando entrou na Aca<strong>de</strong>mia Militar <strong>de</strong> seu país,Chávez propôs aos seus colegas <strong>de</strong> farda, que também estavam insatisfeitos com acorrupção e <strong>de</strong>cadência moral da nação, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trazer igualda<strong>de</strong> ao seupovo segundo a cartilha bolivariana 2 . Des<strong>de</strong> então, começou a ensaiar os primeirospassos da revolução, segundo ele, necessária à mudança da estrutura política,econômica e social venezuelana. Durante a sua escalada ao po<strong>de</strong>r presi<strong>de</strong>ncial,muitas vezes se utilizou <strong>de</strong> artifícios pouco clássicos, aliás uma das característicasindissociáveis do seu governo, como o golpe malsucedido <strong>de</strong> 1992 contra opresi<strong>de</strong>nte Carlos Andrés Perez, do qual participou, sendo essa a primeira <strong>de</strong> muitasmanobras da qual Chávez realizaria publicamente.Após a tentativa <strong>de</strong> golpe contra Andrés Perez, Chávez ficou bastanteconhecido na Venezuela e se tornou em um ente cativo entre a população pobre,todavia entre a elite venezuelana ficou estigmatizado como um <strong>de</strong>magogo queprocurava fomentar uma luta <strong>de</strong> classes, pautada sobre políticas marxistas1 Segundo o Dicionário <strong>de</strong> Política <strong>de</strong> Norberto Bobbio, se refere ao “regime imperante na maior parte dos paísesda América espanhola, no período que vai dos primeiros anos da consolidação <strong>de</strong>finitiva da In<strong>de</strong>pendência, emtorno <strong>de</strong> 1820, até 1860, quando se concretizaram as inspirações <strong>de</strong> unificação nacional”. Suas principaiscaracterísticas eram a divisão do po<strong>de</strong>r entre chefes carismáticos locais, oriundos das camadas marginalizadassocial e etnicamente, que recrutavam gran<strong>de</strong>s contingentes <strong>de</strong> paramilitares na zona rural. Autoritários epaternalistas, exigiam a<strong>de</strong>são incondicional <strong>de</strong> seus seguidores, mesmo não possuindo uma i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>finida.2 Tem como seu expoente Simón José Antonio <strong>de</strong> la Santísima Trinidad Bolívar Palacios y Blanco, umaristocrata venezuelano que viveu no século XIX e lutou pela in<strong>de</strong>pendência da Venezuela, Bolívia, Equador,Colômbia, Panamá e Peru e i<strong>de</strong>alizava uma integração latino-americana longe dos mol<strong>de</strong>s que serviam às naçõesimperialistas, conjeturando uma socieda<strong>de</strong> mais justa, na qual todas as classes tivessem acesso à educação esaú<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> uma fiel repartição das riquezas da União.12


extemporâneas. Des<strong>de</strong> então, ficou esquecido pelo povo venezuelano durante muitotempo, quando passou a cruzar a Venezuela <strong>de</strong> forma mais silenciosa. Foi quando,em 1998, Chávez se candidatou às eleições presi<strong>de</strong>nciais, que tinha como favoritaao cargo a ex-Miss Universo Irene Sáez, que na ocasião era a prefeita <strong>de</strong> um ricomunicípio das redon<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> Caracas. Contudo, os venezuelanos se aprouveramdos discursos populistas <strong>de</strong> Chávez, que <strong>de</strong>notavam maior preocupação com aparcela da população moradora das favelas, sobrepujando os discursos Sáez, quenão traziam nenhuma novida<strong>de</strong> ao povo se<strong>de</strong>nto por mudanças e i<strong>de</strong>ntificaram emChávez certa empatia e esperança para a nação. Dessa forma, Hugo Chávez Fríasfoi eleito em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998 com 56% dos votos.Logo no início do governo, Chávez convocou a Assembléia Constituinte parareescrever a Constituição do país, por meio do êxito do plebiscito, sendo aprovadopor 78% da população. Tentou também assumir o controle sobre estatal petrolíferaPDVSA, contribuiu para a elevação do preço do petróleo – que chegou a atingirsucessivos recor<strong>de</strong>s, aumentando a receita da Venezuela <strong>de</strong> US$14 bilhões em1998 para US$ 40 bilhões em 2006.Entretanto, não tardou para que as políticas <strong>de</strong> Chávez começassem aincomodar a elite venezuelana, provocando passeatas nas ruas, greve da PDVSA,que durou dois meses e, por fim, o golpe <strong>de</strong> 2002 que partiu da oposição contraChávez – nesse momento, a economia do país estava praticamente arruinada,faltando comida nas prateleiras dos supermercados e até gasolina – sendo aVenezuela um dos países mais abastados neste item no mundo, per<strong>de</strong>ndo somentepara o Oriente Médio. Dessa forma, Chávez foi obrigado a renunciar. Todavia, ogolpe não durou mais que dois dias e o presi<strong>de</strong>nte voltou recebido por milhões <strong>de</strong>chavistas que exigiam seu retorno.O coronel ressurgiu como um herói perante o <strong>de</strong>scrédito da oposição econcentrou seus esforços para programas sociais, direcionados à alfabetização,criação <strong>de</strong> supermercados com comida subsidiada, reforma agrária e ainda trouxemais <strong>de</strong> 20 mil médicos <strong>de</strong> Cuba, solidificando ainda mais a estreita relação comquem mantém com Fi<strong>de</strong>l Castro, o lí<strong>de</strong>r cubano.A proximida<strong>de</strong> entre Chávez e Fi<strong>de</strong>l Castro tem causado muita polêmica naprópria Venezuela como também em âmbito regional, pois o presi<strong>de</strong>nte se espelhano governo castrista <strong>de</strong> Cuba como mo<strong>de</strong>lo para o país.13


A nossa revolução <strong>de</strong>verá chegar algum dia a esse nível <strong>de</strong>maturida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> consolidação, mas isso requer um esforçogigantesco, no individual e no coletivo 3 .Os dois governantes estabeleceram sólidas parcerias no que remete aosplanos relacionados à educação e saú<strong>de</strong>, que inegavelmente Cuba revelaproeminência em relação à qualida<strong>de</strong> nesses setores, com reconhecimentointernacional pelo método “Yo sí puedo” 4para alfabetização, que foi objeto <strong>de</strong>primiação pela Unesco-ONU em 03 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007. Em 2004, Cuba eVenezuela assinaram um acordo <strong>de</strong> cooperação bilateral, abstendo qualquer tarifa<strong>de</strong> importação entre os produtos comercializados entre esses países, além dofinanciamento venezuelano aos projetos no setor energético cubano e os baixospreços dos barris <strong>de</strong> petróleo vendidos para Cuba. Em contrapartida, Cuba forneceserviços médicos, educacionais e esportivos, além <strong>de</strong> remédios, vacinas e açúcar.Ambos os presi<strong>de</strong>ntes acreditam que, <strong>de</strong>ssa forma, po<strong>de</strong>riam rechaçar a já frustradaAlca 5 e, em seu lugar salientar a proposta da Alba 6 .A gran<strong>de</strong> preocupação dos venezuelanos, como também, da comunida<strong>de</strong>internacional em relação à aproximação <strong>de</strong> Castro e Fi<strong>de</strong>l é a <strong>de</strong>rrocada da<strong>de</strong>mocracia da Venezuela - uma das mais antigas no continente Americano, queestá dando lugar a uma espécie <strong>de</strong> “ditadura <strong>de</strong>mocrática” (Manuel Caballero, 2009).Cumpre mencionar, que um dos agravantes à economia venezuelana, temsido os pesados investimentos a fundo perdido a nações como Cuba. Des<strong>de</strong> queChávez assumiu o controle da PDVSA em 2003, ele substituiu a mão-<strong>de</strong>-obraespecializada da estatal por seus aliados políticos e o Caixa da petrolífera passou abancar <strong>de</strong> cestas básicas a financiamentos <strong>de</strong> casa própria.A má-gestão econômica do presi<strong>de</strong>nte esbanjou os rendimentos oriundos dopetróleo ignorando investimentos necessários à economia interna, totalmentedirecionada à indústria petroleira, sem diversificação, contendo a iniciativa privada eaumentando o número dos funcionários públicos, inchando o aparelho estatal, semolvidar citar os pesados investimentos a países como Nicarágua, Bolívia, ElSalvador, Argentina e, reiterando, Cuba, além <strong>de</strong> outros mais.3 ( Discurso do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez, se referindo à Cuba, no Encontro com governadores e prefeitoschavistas - DANIEL RITTNER, 23/06/2009, para o jornal Valor Econômico, p. 1j)4 Método audiovisual cubano para alfabetização do cidadão em cerca <strong>de</strong> 70 dias.5 Alca – Área <strong>de</strong> Livre Comércio das Américas – Esforço para unir as economias das Américas em uma zona <strong>de</strong>livre comércio. Proposta norte-americana.6 Alba - Alternativa Bolivariana para as Américas – Proposta <strong>de</strong> Integração para as Américas, enfatizando a lutacontra a pobreza e a exclusão social. Originalmente Fi<strong>de</strong>l Castro foi o mentor da alternativa que encontrou apoioem Chávez, que por sua vez, tornou-se um estandarte da causa..14


Chávez dividiu a Venezuela. Para alguns venezuelanos ele realiza umapolítica baseada no populismo 7 e gera uma luta <strong>de</strong> classes. Para outrosvenezuelanos ele trouxe esperança e melhores condições <strong>de</strong> vida. Consta 8durante a gestão <strong>de</strong> Chávez, a taxa <strong>de</strong> alfabetização foi aumentada <strong>de</strong> 90.3% em2000 para 92.7% 2008. Além disso, também figuram a redução da população que seenquadra abaixo do nível <strong>de</strong> pobreza, que em 2000 registrava um percentual <strong>de</strong>67% da população diminuiu para 37% em 2008 e a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego que era <strong>de</strong>18 % em 2000, registrou o abatimento <strong>de</strong> 9.1% em 2008.Todavia, para o historiador venezuelano Manuel Caballero 9 , o que estáhavendo é uma “Buonerização da política”, que em português, seria algo atinente aovocábulo camelô. Para Caballero, o grosso do eleitorado <strong>de</strong> Chávez é formado porpelo contingente <strong>de</strong> excluídos e informais, que encontraram em seu regime algumaforma <strong>de</strong> inclusão.queA Venezuela ainda não é uma ditadura, mas já não é uma<strong>de</strong>mocracia 10 .Para perpetuar-se no po<strong>de</strong>r por mais tempo aumentando seu controle nopo<strong>de</strong>r Executivo Nacional, o presi<strong>de</strong>nte propôs, por meio <strong>de</strong> referendo em 2007, areeleição ilimitada do chefe <strong>de</strong> Estado, porém o povo rechaçou o referendo com umpercentual <strong>de</strong> 50,7%. Mesmo com a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 2007, em 2008 Chávez reformulou aproposta do referendo, esten<strong>de</strong>ndo o direito a todas as <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s eleitaspor voto popular. Dessa forma, foi aprovado em 15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2009 o referendo,com 54% <strong>de</strong> aceitação popular.Não se <strong>de</strong>ve ignorar que os métodos e consultas pelos quais Chávez élegitimado na Venezuela, pois emanam <strong>de</strong> processos <strong>de</strong>mocráticos. Entretanto, sãonotórios alguns nomes <strong>de</strong> populistas como Adolf Hitler e Benito Mussolini, o peruanoAlberto Fujimori e o argentino Juan Domingo Perón que também chegaram ao po<strong>de</strong>rpela via <strong>de</strong>mocrática. Esse paralelo abre flanco para discussões acerca doparadigma da <strong>de</strong>mocracia participativa, o papel do povo na socieda<strong>de</strong>, que legitimao <strong>de</strong>tentor do po<strong>de</strong>r para que ele governe, em nome da <strong>de</strong>mocracia, para interessespessoais.7 Populismo é um tipo <strong>de</strong> política direcionada a aten<strong>de</strong>r aos anseios do povo, atenta à opinião pública.8 Em CIA, The World Fact Book.9 Manuel Caballero é um dos historiadores mais respeitados da Venezuela, autor <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 livros.10 Manuel Caballero, para o Jornal O Estado <strong>de</strong> São Paulo em 10/02/200915


Em sentido contrário às críticas ao governo Chávez, Noan Chomsky aponta ahipocrisia usada por parte dos Estados Unidos e da comunida<strong>de</strong> internacional comoum todo para intervir nos assuntos alheios:A pergunta que importa é: o que os venezuelanos pensam dogoverno? Em pesquisas feitas pelo Latinobarômetro, umaorganização chilena muito respeitada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a eleição <strong>de</strong> Chávez, aVenezuela fica no topo ou perto do topo <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> paísesquanto ao apoio popular e à <strong>de</strong>mocracia 11 .Contudo, não <strong>de</strong>ve o próprio Chávez, <strong>de</strong>sprezar os ensinamentos do seuinspirador para a revolução, el Libertador, Simón Bolívar:Nada é tão perigoso quanto permitir que o mesmo cidadãopermaneça no po<strong>de</strong>r durante muito tempo 12 .Ao assumir a presidência do país, em 1999, Chávez propôs uma reforma àConstituição na forma da Carta Bolivariana, aprovada mediante referendo nacional.A Carta, elaborada por meio <strong>de</strong> uma Assembléia Constituinte, foi formulada a partirdo respeito aos direitos humanos, incorporando leis internacionais neste particular eestabelecendo mecanismos <strong>de</strong> fiscalização e prestação <strong>de</strong> contas das instituições.Em janeiro <strong>de</strong> 2007, a Assembléia Nacional, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005, após o boicote daseleições por parte da oposição tornou-se 100% chavista, aprova lei que dá direito aChávez legislar por <strong>de</strong>creto durante <strong>de</strong>zoito meses.Para garantir a sua influência no Po<strong>de</strong>r Judiciário, em 2004, o presi<strong>de</strong>nteaumentou o número <strong>de</strong> juízes na Suprema Corte <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> 20 para 32, po<strong>de</strong>ndoos 12 adicionais ser apontados por Hugo Chávez. Posteriormente, foram criadosmecanismos para que a Assembléia Nacional, alinhada com o presi<strong>de</strong>nte, pu<strong>de</strong>sse<strong>de</strong>stituir juízes <strong>de</strong> seus cargos.Não sendo suficiente lançar tentáculos por todas as formas <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntrodo Estado, o presi<strong>de</strong>nte venezuelano também vem minando o Quarto Po<strong>de</strong>r,representado pela Imprensa que, por sua vez, concebe a voz do povo.Chávezdomina o noticiário oficial e privado. A qualquer momento, Chávez po<strong>de</strong> aparecer empronunciamentos e ainda num programa semanal chamado Alô Presi<strong>de</strong>nte, no qualele cultiva uma linha direta com o povo, que explana seus problemas. Na imprensaescrita, mantém uma coluna publicada três vezes por semana em alguns jornais dopaís.11 CHOMSKY, Noan para Revista Istoé, março 2009, p.1012 in Simon Romero, O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, 22/02/200916


Qualquer nota oriunda da imprensa emitida <strong>de</strong>ntro do território venezuelanoque vá <strong>de</strong> encontro aos interesses do Governo, po<strong>de</strong> resultar em expulsão do seuautor do país, como aconteceu com o subdiretor para as Américas da ONG HumanRights Watch (HRW) Daniel Wilkinson, co-autor <strong>de</strong> um relatório que continha umbalanço sobre a era Chávez, e foi banido após a divulgação do documento, em2008.Ainda em 2007 houve um caso que incomodou a opinião pública mundial.Quando o presi<strong>de</strong>nte, em 30 <strong>de</strong> abril, <strong>de</strong>cidiu assumir o controle majoritário dosprojetos petrolíferos na bacia do rio Orinoco, no leste da Venezuela, que erampertencentes a empresas estrangeiras. Então, à meia noite, o presi<strong>de</strong>nte autorizouque o presi<strong>de</strong>nte da PDVSA, Rafael Ramírez, informasse ao povo <strong>de</strong>ste feito usandoa mídia televisão por meio <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>na 13 . Dessa forma, ao verificar que somenteo canal 2 Televisão Venezuelana RCTV (Rádio Caracas Televisão), pertencente aGustavo Cisneros 14 , não havia acatado à ca<strong>de</strong>na e também por já haver acusadoChávez <strong>de</strong> suprimir a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, Chávez não renovou o contrato <strong>de</strong>stecanal, que ficou fora do ar, retornando somente após aceitarem a transmitir aca<strong>de</strong>na.Outra polêmica que envolve a Venezuela é a do processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>stepaís ao Mercosul, que se iniciou quando da visita do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez aBrasília em abril <strong>de</strong> 2001, ainda sob a gestão <strong>de</strong> Fernando Henrique Cardoso.Todavia, veio a formalizar a petição somente em julho <strong>de</strong> 2006, por ocasião daCúpula <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>ntes em Córdoba, Argentina.Embora o documento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são tenha sido firmado há quase três anos, até oprimeiro semestre do ano <strong>de</strong> 2009, somente os Parlamentos <strong>de</strong> Argentina, Uruguai eVenezuela o ratificaram, estando pen<strong>de</strong>ntes as ratificações por parte do Brasil 15 e doParaguai.Não obstante os Senadores brasileiros reconhecerem a importânciaestratégica da entrada da Venezuela no Mercosul, o Senado Fe<strong>de</strong>ral e algunsembaixadores brasileiros têm apresentado forte resistência nesse particular,alegando que a Venezuela precisa incorporar alguns padrões técnicos atinentes aoBloco para nele ingressar.13 Termo jurídico que <strong>de</strong>signa a or<strong>de</strong>m para que todos os canais transmitam o mesmo programa.14 Um dos adversários mais po<strong>de</strong>rosos <strong>de</strong> Chávez, magnata da mídia e imigrante cubano, cuja fortuna foraavaliada em 2008 em US$5 bilhões pela Revista Forbes, o que faz <strong>de</strong>le a 14ª pessoa mais rica do mundo.15 A a<strong>de</strong>são à entrada da Venezuela no Mercosul foi ratificada pela Câmara brasileira.17


Contudo, no que tange ao Parlamento brasileiro, incomodam bastante apostura do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez e, principalmente, o insulto feito ao Senado em2007, quando o venezuelano se referiu ao Senado como “papagaio <strong>de</strong> Washington”,em resposta às críticas dos parlamentares brasileiros à sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não renovara concessão à emissora <strong>de</strong> televisão que fazia críticas a seu governo, a RCTV.O senador e ex-presi<strong>de</strong>nte Fernando Collor <strong>de</strong> Mello (PTB-AL), manifestou-secontrário à entrada do país no bloco, justificando em seu discurso (transcrito em suapágina do Senado):O Chávez tem comprado armas, aviões, navios <strong>de</strong> guerra,submarinos. Quem está ameaçando a Venezuela? Pra quê essesinvestimentos em armas? Para brincar <strong>de</strong> batalha naval? O processo<strong>de</strong> integração é um processo que pressupõe a convivência pacíficacom os parceiros e esse não parece ser o principal objetivo dopresi<strong>de</strong>nte venezuelano. [...] Chávez em seu comportamento temsido belicoso, provocativo e divisivo. [...] É evi<strong>de</strong>nte que ovenezuelano se <strong>de</strong>dica a um projeto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que não coaduna comos interesses brasileiros, visto que não atua como fator <strong>de</strong> união eintegração, mas como elemento <strong>de</strong> discórdia 16 .O opositor <strong>de</strong> Chávez e ex-prefeito da segunda maior cida<strong>de</strong> da Venezuela,Maracaíbo, agora asilado no Peru por ser acusado <strong>de</strong> enriquecimento ilícito, ManuelRosales, já havia sugerido ao Brasil intermediar o diálogo da oposição com opresi<strong>de</strong>nte, agravado em março <strong>de</strong> 2009, quando da intervenção fe<strong>de</strong>ral em portos eaeroportos administrados pela oposição. E recomendou que, antes do Parlamentobrasileiro ratificar a a<strong>de</strong>são da Venezuela no Mercosul, seja analisadacautelosamente a situação real vivida na Venezuela, pois <strong>de</strong>ve haver o cumprimentodo protocolo que exige respeito absoluto à <strong>de</strong>mocracia, aos direitos humanos, àliberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar e agir politicamente, como reza o texto do Protocolo <strong>de</strong>Ushuaia 17 , no tangente às condições para o <strong>de</strong>senvolvimento da integração dosmembros que compõem o Bloco:Artigo 3: Toda ruptura da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática em um dos EstadosPartes do presente Protocolo implicará a aplicação dosprocedimentos previstos nos artigos seguintes.Artigo 4: No caso <strong>de</strong> ruptura da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática em um EstadoParte do presente Protocolo, os <strong>de</strong>mais Estados Partes promoverãoas consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado.Artigo 5: Quando as consultas mencionadas no artigo anteriorresultarem infrutíferas, os <strong>de</strong>mais Estados Partes do presenteProtocolo, no âmbito específico dos Acordos <strong>de</strong> Integração vigentes16 In Assessoria <strong>de</strong> Imprensa, 17/04/200917 Tratado firmado em 1998 entre os quatro países integrantes do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai eUruguai), cujo regime <strong>de</strong>mocrático nos sócios plenos do Bloco se torna cláusula sine qua non.18


entre eles, consi<strong>de</strong>rarão a natureza e o alcance das medidas aserem aplicadas, levando em conta a gravida<strong>de</strong> da situaçãoexistente. Tais medidas compreen<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a suspensão dodireito <strong>de</strong> participar nos diferentes órgãos dos respectivos processos<strong>de</strong> integração até a suspensão dos direitos e obrigações resultantes<strong>de</strong>stes processos.O Parlamento paraguaio tem <strong>de</strong>monstrado congruência ao pensamento doSenado brasileiro, não i<strong>de</strong>ntificando vantagem na entrada da Venezuela no Bloco,salientando que se <strong>de</strong>verá fortalecer o Bloco nos mol<strong>de</strong>s em que ele se encontra.A <strong>de</strong>mocracia, objeto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse para o Mercosul – tanto o é que sefaz necessário o país ser consi<strong>de</strong>rado uma <strong>de</strong>mocracia para compor o Bloco, é <strong>de</strong><strong>de</strong>finição bastante complexa, haja vista sua mutabilida<strong>de</strong> em função do passar dotempo e dos costumes <strong>de</strong> cada povo.Cumpre mencionar, que a Democracia po<strong>de</strong> assumir diferentes significados,por vezes complementares, sob óticas clássicas (a Aristotélica, que admite as trêsformas <strong>de</strong> governo – <strong>de</strong>mocracia, aristocracia e monarquia, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocracia évista como o Governo do Povo, <strong>de</strong> todos os cidadãos), a ótica medieval (<strong>de</strong> origemromana apoiada na teoria da Soberania Popular – na qual afirma que o po<strong>de</strong>r emanado povoe é representado pelo Príncipe), e sob o ponto <strong>de</strong> vista da <strong>de</strong>mocraciamo<strong>de</strong>rna (da teoria <strong>de</strong> Maquiavel que admite somente dois tipos <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>governo – monarquia e república, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocracia seria um regime empregadona república).Há concepções i<strong>de</strong>ológicas distintas sobre a Democracia no tangente aosmétodos aplicáveis do regime, partindo da suposição liberal e socialista. Sob a ótica<strong>de</strong>ste último, no que diz respeito à Democracia enquanto regime representativo éressaltado o sufrágio universal (que legitima o representante), do cidadãotrabalhador e não o cidadão abstrato (que exerce personagem meramente figurativapara os liberais, segundo os socialistas) e a <strong>de</strong>scentralização do Estado e damáquina do po<strong>de</strong>r administrativo.Foi formulada, no fim do século XIX, crítica contra a Democraciafundamentada exclusivamente no método <strong>de</strong> observação, preten<strong>de</strong>ndo ser maiscientífica e não i<strong>de</strong>ológica. Os pensadores Ludwig Gumplowicz, Gaetano Mosca eVilfredo Pareto refutam a tese da Democracia participativa, atribuindo-lhe à utopia esituação que jamais ocorreu ou ocorrerá no mundo, haja vista que, embora o po<strong>de</strong>remane do povo, ele será sempre uma oligarquia, pois os representantes, que <strong>de</strong>témo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fato, serão uma minoria.19


De acordo com Schumpeter (1961) a <strong>de</strong>mocracia existe on<strong>de</strong> há váriosgrupos em concorrência pela conquista do po<strong>de</strong>r por meio <strong>de</strong> uma luta que tem porobjetivo o voto popular. Esta concorrência <strong>de</strong>veria compreen<strong>de</strong>r a análise <strong>de</strong> trêspontos fulcrais: o recrutamento, a extensão e a fonte do po<strong>de</strong>r da classe política.O recrutamento <strong>de</strong>mocrático diz respeito a escolha dos representantes pormeio <strong>de</strong> eleição livre, eliminando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transmissão hereditária oucooptação. A extensão remete a estabilida<strong>de</strong> da classe política e à presença <strong>de</strong>lano território do Estado, no sentido <strong>de</strong> cobertura nas articulações do Governo centrale local, admitindo uma presença aberta (com a oposição), mas efetiva. Ainda emrelação à fonte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r Schumpeter enfatiza a necessida<strong>de</strong> do registro emConstituição das regras a serem seguidas e na importância da forma à ascenção aopo<strong>de</strong>r, que <strong>de</strong>ve ser por meio do voto popular e não em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> dotescarismáticos ou <strong>de</strong> tomada por uso da força violenta.A gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> da questão resi<strong>de</strong> em que não há <strong>de</strong>mocracia perfeita– que até agora, segundo os pensadores <strong>de</strong>ste particular, em especial Bobbio, nãofoi realizada em nenhuma parte do mundo, sendo utópica. Na <strong>de</strong>mocracia, por nãoser perfeita, admite-se o sacrifício <strong>de</strong> alguns elementos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>mocráticosem benefício <strong>de</strong> outros elementos. A <strong>de</strong>mocracia só não existirá quando todos oselementos que ela pressupõe forem negligenciados.Contudo, os discursos costumeiramente inflamados do tenente-coronel<strong>de</strong>vem abrandar-se à guisa do acontecido em seu discurso quando da ciência dasua vitória do referendo <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2009. Chávez salientou direcionar o foco dogoverno aos problemas internos como a segurança popular. Com a baixa do preçodo petróleo e queda das exportações do produto em 65%, provavelmente diminuirãoas verbas para os programas sociais, o que <strong>de</strong>ve diminuir a popularida<strong>de</strong> dopresi<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>sestabilizar ainda mais a política venezuelana. Também é verda<strong>de</strong> e,muito relevante, que o diálogo com os Estados Unidos tem caminhadopositivamente, o que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>linear novos rumos para o relacionamento <strong>de</strong> ambosos países.Tratar do governo <strong>de</strong> Hugo Chávez é uma tarefa bastante complexa, poisrequer uma análise muito cuidadosa para não resvalar simplesmente nos estigmasatribuídos a ele. Sem dúvida versa-se sobre um articulado estrategista, todavia osmétodos que o presi<strong>de</strong>nte emprega para lograr êxito em suas investidas revelam-sebastante audaciosos e, não raro põem em xeque os códigos <strong>de</strong> conduta abraçados20


internacionalmente, o que po<strong>de</strong> representar um gran<strong>de</strong> retrocesso para a conquista<strong>de</strong>mocrática da América Latina.1.2 HipóteseA condução do governo do atual presi<strong>de</strong>nte venezuelano, Hugo Chávez,imprime risco para os valores <strong>de</strong>mocráticos, bem como para a coor<strong>de</strong>nação política,econômica e militar dos países vizinhos, sobretudo para o Brasil.1.3 Objetivos1.3.1 GeralI<strong>de</strong>ntificar manobras políticas do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez, caracterizadasdurante os primeiros anos da sua gestão (1999 a 2005) que afrontem a <strong>de</strong>mocraciae apresentar os efeitos surtidos nos ambientes doméstico e regional, especialmentepara o Brasil.1.3.2 Específicos‣ Contemplar a evolução da política contemporânea da Venezuelacontextualizando a inserção <strong>de</strong> Hugo Chávez ao <strong>de</strong>spontar como uma alternativapara o arranjo político vigente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a queda da ditadura <strong>de</strong> Marcos Perez <strong>de</strong>Jimenez em 1958 – o sistema <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> Punto Fijo;‣ Analisar, à luz dos conceitos <strong>de</strong> Democracia e Despotismo abordados por RobertA. Dahl e Norberto Bobbio, a promulgação da Constituição Bolivariana daVenezuela <strong>de</strong> 1999, bem como salientar eventos noticiados por diversos veículos<strong>de</strong> comunicação que se apresentam como ameaças à manutenção dasinstituições <strong>de</strong>mocráticas;‣ Apresentar o relacionamento da Venezuela com os países vizinhos, salientandoo papel do Brasil consi<strong>de</strong>rando-se para tanto a relevância histórica e estratégica.Analisar o novo posicionamento da Venezuela <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ascensão do governo21


Hugo Chávez e seus <strong>de</strong>sdobramentos no hemisfério sul-americano, inclusive noque tange a um possível contrabalanço <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r em referência à li<strong>de</strong>rançabrasileira, num cenário que po<strong>de</strong>ria se engendrar a partir da entrada venezuelanano Mercosul.1.4 MetodologiaA investigação do presente projeto baseou-se em fontes primárias esecundárias, tendo por sua natureza <strong>de</strong> pesquisa básica (valores universais) eaplicada, uma vez que o foco <strong>de</strong> estudo é a pessoa do presi<strong>de</strong>nte na condução dasua gestão – e isto implica analisar a história <strong>de</strong> vida e diversos elementos quecompõem e que foram fundamentais à formação da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chávez: taiscomo as condições sociais, econômicas e políticas, suas crenças, cultura típica dosvenezuelanos dos barrios pobres.A forma <strong>de</strong> abordagem é qualitativa, uma vez que é impraticável dissociar aimagem do comandante e do mundo no qual está inserido, apoiando-se em análiseindutiva, impetrada por meio da apresentação dos fatos, observando-se o objetivoexplicativo, por meio do uso do método da observação.Para o procedimento técnico, <strong>de</strong>signaram-se pesquisas bibliográficasessencialmente <strong>de</strong> fontes secundárias (livros, jornais, revistas, internet) e fontesprimárias (monografias e discursos do proferidos pelo presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez), ecentrado em estudo <strong>de</strong> caso, haja vista o foco da questão estar diretamenteindicado.22


2 REFERENCIAL TEÓRICO2.1 Revisão BibliográficaPara a elaboração do presente projeto, foram utilizados livros e artigospublicados em jornais e revistas e também na internet, que representem relevânciapara o tema proposto, salientando a possibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> serem incluídas outraspublicações atinentes a questão posteriormente.Um dos textos-base para a apreciação do projeto é o livro do jornalista BartJones, Hugo Chávez – da Origem Simples ao I<strong>de</strong>ário da Revolução Permanente,cuja escrita trata da influência da vida pessoal <strong>de</strong> Hugo Chávez, da formação da suapersonalida<strong>de</strong> e o modo com o qual enxerga o sistema para aplicá-los na sua forma<strong>de</strong> governo.Jones relata a trajetória <strong>de</strong> Chávez, no que diz respeito a sua infância nosbarrios pobres da Venezuela, da pouca condição financeira da sua avó – por quemfora criado, do estremecido relacionamento com seus pais, da sua entrada nasForças Armadas, dos relacionamentos amorosos: tudo conspirando para a Missãoque o próprio Chávez acredita estar pre<strong>de</strong>stinado: a <strong>de</strong> fazer a revolução.Imediatamente no prefácio do livro, redigido pelo próprio autor, Bart Jonescomenta sobre um difícil encontro do jornalista com o presi<strong>de</strong>nte venezuelano, noPalácio <strong>de</strong> Miraflores, Caracas, Venezuela, em 2007, quando da nacionalização <strong>de</strong>04 projetos petrolíferos na bacia do rio Orinoco, no leste do país. O autor i<strong>de</strong>ntificana figura <strong>de</strong> Chávez um workaholic, um presi<strong>de</strong>nte que pouco dorme e que muito se<strong>de</strong>dica à causa venezuela, <strong>de</strong> forma bastante pessoal e minuciosa.A leitura permeia entre as raízes do governante Chávez e toda as ocorrênciasconsi<strong>de</strong>radas importantes para a formação do lí<strong>de</strong>r e sua ascensão ao po<strong>de</strong>r em1998, <strong>de</strong>pois da tentativa fracassada <strong>de</strong> Golpe em 1992 protagonizada por ele e,posteriormente na tentativa <strong>de</strong> Golpe na qual ele mesmo seria vítima em 2002 –golpe esse, cabe ressaltar, apoiado pelo então presi<strong>de</strong>nte George W. Bush dosEstados Unidos e veementemente sustentado pela sua secretária <strong>de</strong> Estado,Condoleeza Rice. Trata da forma com a qual foi aceito pelo eleitorado Venezuelanoe sobre as suas estranhas ligações com as FARC – Forças ArmadasRevolucionárias da Colômbia, seu estreitamento com o iraniano Ahmadinejad e suaíntima relação com seu suposto mentor, Fi<strong>de</strong>l Castro.23


Embora sem admitir abertamente, Bart Jones privilegia bastante a pessoa <strong>de</strong>Chávez, diversas vezes no livro se referindo a ele como um incansável comandantecom objetivos, por mais que sejam obscuros seus meios, claros e nobres, que aindaos julga indiscutíveis. Ainda assim, não omite e nem abranda as atitu<strong>de</strong>s esdrúxulasdo comandante contra a imprensa, por exemplo.Por fim, o autor alinha Chávez à visão do presi<strong>de</strong>nte que prima cuidar daVenezuela fazendo o que há <strong>de</strong> mais óbvio e mais emergencial – numa visão guiadapelo senso comum e não ao sabor <strong>de</strong> conveniências.Anterior à publicação <strong>de</strong> Jones, o livro <strong>de</strong> Cristina Marcano e Alberto BarreraTyszka, Hugo Chávez sem uniforme – uma história pessoal, no mesmo diapasãotrata da vida <strong>de</strong> Chávez e da influência personalida<strong>de</strong> do presi<strong>de</strong>nte. Logo noprefácio, assinado pelo Professor Titular <strong>de</strong> História Mo<strong>de</strong>rna e Contemporânea daUFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva, traça-se um panorama sobre a Venezuela,fazendo um paralelo entre a era pré e pós Chávez, não olvidando elencar orelacionamento <strong>de</strong> cada país latino-americano com os Estados Unidos.No livro <strong>de</strong> Eva Golin<strong>de</strong>r, El Código Chávez, a autora, advogadavenezuelana – norte-americana especializada em leis internacionais <strong>de</strong> direitoshumanos e imigração, relata ter iniciado sua pesquisa a respeito da ingerência norteamericanana Venezuela em meados <strong>de</strong> 2003, após o golpe <strong>de</strong> 2002, no qualafirma, consubstanciada em documentos ultra-secretos da CIA (Agência Central <strong>de</strong>Inteligência) obtidos por ela em 2004, que os Estados Unidos tiveram participaçãoveemente no referido golpe: seja por apoio aberto e reconhecimento imediato, nosentido <strong>de</strong> legitimar Carmona (o breve sucessor <strong>de</strong> Chávez), seja pelo financiamentoestimado em mais <strong>de</strong> US$20 milhões para grupos anti-chavistas.Em seu livro, a autora <strong>de</strong>nota certa revolta com a maquiagem feita pelosEstados Unidos para a Venezuela. As <strong>de</strong>clarações da ex-secretária <strong>de</strong> EstadoCondoleeza Rice, em janeiro <strong>de</strong> 2005 (ano em que foi nomeada ao cargo), na qualRice <strong>de</strong>clarou a Venezuela como parte do “eixo do Mal” latino-americano(naturalmente unida a Cuba), induzindo a opinião pública internacional a pensar quealgo <strong>de</strong>veria ser feito contra Chávez, por <strong>de</strong>srespeito a proprieda<strong>de</strong> privada e outroscrimes não especificados abertamente. Todavia, argumenta Golin<strong>de</strong>r, o ato quecaracterizava tal ação para os Estados Unidos se tratava somente <strong>de</strong> uma reformaagrária consentida até mesmo por muitos empresários que concordavam emeliminar as terras ociosas. A revolta da advogada remete ao <strong>de</strong>sprezo pela realida<strong>de</strong>24


vivida na América Latina, como os milhões <strong>de</strong> pobres sem terra para morar oucultivar, pela separação das camadas rica e pobre, não tendo os Estados Unidos seincomodado com os governos anteriores que não se <strong>de</strong>dicavam a diminuir essefosso, conquanto tenha se <strong>de</strong>dicado à intervenção em quase todos os paíseschamados <strong>de</strong> Terceiro Mundo.Golin<strong>de</strong>r ainda propõe a seguinte reflexão apresentando idéia contrária aoconcebido internacionalmente: não seriam os Estados Unidos e não Chávez, osculpados pela tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a <strong>de</strong>mocracia venezuelana, quando <strong>de</strong>clararamapoio a um ato anti-<strong>de</strong>mocrático, quer seja um golpe <strong>de</strong> Estado, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong>eleições livres e justas, num país com os Po<strong>de</strong>res legislativo e jurídico em plenofuncionamento?A justificativa da escolha do livro, que contraria os propósitos do presentetrabalho, se justifica no sentido <strong>de</strong> evitar a glosa e estudar os diversos pontos <strong>de</strong>vista em relação aos acontecimentos na Venezuela no período proposto para oestudo.2.2 Marco TeóricoPara elaboração <strong>de</strong>ste projeto, foram consi<strong>de</strong>radas as Escolas Realistae o paradigma Globalista das Relações Internacionais e a Teoria da DemocraciaSoberana, além das consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>de</strong> teorias não <strong>de</strong>mocráticas, para ajustificação da caracterização do governo <strong>de</strong> Hugo Chávez.2.2.1 RealismoO paradigma realista, que data do pós-segunda guerra mundial, surgiu comoum contraponto ao i<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong> Kant. Seus conceitos encontram amparo nas obras<strong>de</strong> Nicolau Maquiavel “O Príncipe” (1532) e no “O Leviatã” (1615) <strong>de</strong> ThomasHobbes. Na perspectiva realista, a política em ambiente global é <strong>de</strong>finida pelo po<strong>de</strong>rexercido <strong>de</strong> cada Estado. E a política executada internamente é distinta daquelaregida internacionalmente, sendo o Estado o ator único racional que age com basenum cálculo custo-benefício.25


O sistema das Relações Internacionais se apresenta como anárquico num ritopredominantemente hobbesiano on<strong>de</strong> prevalece a força e o conflito na busca pelopo<strong>de</strong>r/dominação. A moralida<strong>de</strong> das ações é aplicável no seio da política doméstica– obe<strong>de</strong>cendo à máxima proposta por Maquiavel: “os fins justificam os meios”. A pazé possível, todavia somente quando há equilíbrio entre o po<strong>de</strong>r e a força dosEstados oponentes.Fragilida<strong>de</strong>s:‣ Não se a<strong>de</strong>quou a realida<strong>de</strong> apresentada no pós – Segunda Guerra, cujopanorama da época era apresentado pela busca da segurança.‣ Desprezo ao setor econômico e a não aceitação <strong>de</strong> outros atoresinstitucionais que não o Estado.‣ Neorealismo - Como forma <strong>de</strong> crítica ao realismo político (realismotradicional), que não se a<strong>de</strong>quava perfeitamente ao panorama global quese formou após a Segunda Guerra, surgiu na década <strong>de</strong> sessenta ochamado neo-realismo (ramificação do paradigma do realismo), pelo qualse sustentava a busca da segurança como causa última da práticapolítica no sistema internacional. O argumento central <strong>de</strong>sta nova visãodo realismo consiste em <strong>de</strong>stacar a limitação da soberania e a paralelaredução da insegurança <strong>de</strong>corrente dos compromissos institucionais.‣ Nascimento do Neorealismo (Kenneth Waltz): Estado como ator maisimportante, mas não o único, sobrepujando o interesse das outrasclasses, como por exemplo dos capitalista industriais, que promovem o<strong>de</strong>senvolvimento econômico e bem-estar social da nação.A opção pela Escola Realista se <strong>de</strong>ve, portanto à personificação do governona figura do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez e excessiva concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r noExecutivo, realçando o papel do Estado, inclusive nas relações internacionais, o quejustificam as recorrentes críticas ao chavismo <strong>de</strong> que o governo se trataria <strong>de</strong> umshow <strong>de</strong> um homem só.2.2.2 GlobalismoNa visão dos globalistas existe interação entre os Estados e outras entida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto global. É mister que sejam analisados os fatos ocorridos em26


ambiente doméstico para, então, partir para uma análise externa (VIOTTI, KAUPPI,1999).Os globalistas acreditam que o capitalismo seja i<strong>de</strong>al para <strong>de</strong>finir o sistemainternacional, sendo o capitalismo responsável pela transformação e<strong>de</strong>senvolvimento, interação e expansão dos países, tendo esses últimos e asocieda<strong>de</strong> que se ajustarem à realida<strong>de</strong> proposta pelo sistema. É importante quecada país avalie seus sistemas <strong>de</strong> governo, a economia, política para que alcanceum <strong>de</strong>senvolvimento satisfatório. A teoria radical acredita que as corporaçõesmultinacionais e bancos internacionais, que para os pluralistas são atoresglobalizantes, são na verda<strong>de</strong> e por excelência agentes da burguesia internacionalresponsável por manter os países menos <strong>de</strong>senvolvidos na condição <strong>de</strong>subordinação à economia global capitalista.Fragilida<strong>de</strong>s:‣ Nexo causal. Relação <strong>de</strong> causa e conseqüência entre a <strong>de</strong>pendênciae sub<strong>de</strong>senvolvimento.‣ Limitações, sem embasamento empírico suficiente, baseando-sesomente nas construções teóricas gerais como a <strong>de</strong>pendência e osistema capitalista.‣ Os globalistas voltam-se <strong>de</strong>masiadamente para o meio externo paraexplicar as <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>ntro do seu próprio Estado.A justificativa da escolha pela corrente Globalista se justifica para que hajaum entendimento da visão centro-periferia existente no governo Hugo Chávez,inclusive responsabilizando os países capitalistas <strong>de</strong>senvolvidos pelosub<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alguns países, como por exemplo, da América Latina.2.2.3 Teoria das formas <strong>de</strong> governoA princípio serão abordadas teorias da forma <strong>de</strong> governo para nortear oestudo e <strong>de</strong>finição do governo Hugo Chávez.27


2.2.3.1 DemocraciaPor ser parte do objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho inicialmente é mister quesejam abordadas com a<strong>de</strong>quada minúcia as preposições da Democracia e o que seespera <strong>de</strong> um governo <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong>mocrático, quer seja, a presença <strong>de</strong>elementos básicos para a configuração <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> governo.2.2.3.2 A origem da <strong>de</strong>mocraciaDo trato histórico e etimológico o vocábulo <strong>de</strong>mocracia tem origem no termogrego Demokratia (Demo = povo, e kratos= governo) em 507 a.C, quando osatenienses adotaram um sistema <strong>de</strong> governo popular – a <strong>de</strong>mocracia participante.Apesar da complexida<strong>de</strong> do governo ateniense, se faz importante grafar nomomento, o que remete à eleição dos funcionários públicos feita numa Assembléiaem que todos os cidadãos 18 po<strong>de</strong>riam participar. O modo <strong>de</strong> eleição se assemelhavaa uma loteria e os cidadãos comuns tinham gran<strong>de</strong> chance <strong>de</strong> se eleger. Todavia,não há registros relevantes <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong>mocráticas para reger o governoateniense.O governo popular <strong>de</strong> Roma surgiu contemporaneamente ao <strong>de</strong> Atenas, maso termo aplicável a esse tipo governo era República, <strong>de</strong>rivado do latim (Res = coisae publicus = público). A República Romana se esten<strong>de</strong>u bastante pela penínsulaitaliana, compartilhando a cidadania 19 do povo romano aos povos conquistados, emvez <strong>de</strong> subjugá-los como escravos. Todavia a expansão da república tambémcontribuiu para uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> da participação efetiva do povo.Há registros que em Roma os cidadãos se reuniam numa livre Assembléiapara discutir rumos do governo, porém como mencionado anteriormente haviadificulda<strong>de</strong> para a participação <strong>de</strong> todos, pois consi<strong>de</strong>rando o território da repúblicaromana e o número do seu povo, participar da Assembléia era quase impraticávelpor questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m geográfica e <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento. Sendo assim, po<strong>de</strong>-seconcluir que suas instituições políticas não foram <strong>de</strong>vidamente a<strong>de</strong>quadas.A república romana teve durabilida<strong>de</strong> maior do que qualquer <strong>de</strong>mocracia naHistória, todavia foi sobrepujada em meados <strong>de</strong> 130 a.C em razão dos altos custos18 Os cidadãos gregos eram consi<strong>de</strong>rados apenas homens livres. As mulheres, escravos e crianças não faziamparte <strong>de</strong>ste coletivo.19 Assim como os atenienses, os cidadãos romanos eram os homens livres. Primeiramente só a aristocracia, oschamados patrícios, gozava dos direitos <strong>de</strong> cidadão, contudo, com o passar do tempo o povo, ou a plebe tambémadquiriu esses direitos. É importante ressaltar que as mulheres continuavam impedidas <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>steprocesso.28


da guerra e militarização, inquietu<strong>de</strong> pública e corrupção, dando lugar à ditadura <strong>de</strong>Júlio César e, mais tar<strong>de</strong>, com os Impérios, cujos imperadores assumiram o po<strong>de</strong>r,fazendo com que a república e o governo popular se dissipassem do sul europeu e,praticamente <strong>de</strong> todo o mundo, por cerca <strong>de</strong> um milênio, reaparecendo somente naIda<strong>de</strong> Média por volta <strong>de</strong> 1100 d.C. ao norte da Itália à guisa do mo<strong>de</strong>lo romano,restrita inicialmente pela aristocracia local composta pela classe consi<strong>de</strong>radasuperior <strong>de</strong> nobres e possuidores <strong>de</strong> bens. Com o transcorrer do tempo a classe queequivaleria hoje à classe média também adquiriu direitos <strong>de</strong> participação do governolocal.Por fim, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar sinônimos os termos República e Democracia,diferindo-se somente pela origem etimológica. A lógica da Democracia e República éguiada por um senso do princípio da igualda<strong>de</strong>.2.2.3.3 O que é Democracia?Em seu livro “Sobre a Democracia” Robert Dahl propõe uma bipartição daDemocracia nos planos i<strong>de</strong>al e real. O i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Democracia correspon<strong>de</strong> à sua partemais subjetiva, baseado primariamente em julgamento <strong>de</strong> valores. Contudo o i<strong>de</strong>alpleno <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia não é nada além <strong>de</strong> uma utopia e para alcançar o governo<strong>de</strong>mocrático, o seu regimento <strong>de</strong>ve estar intrinsecamente apoiado sobre parâmetrosmínimos que po<strong>de</strong>rão ser garantidos através <strong>de</strong> instituições essenciais à aferição dogoverno <strong>de</strong>mocrático.É <strong>de</strong> suma importância consi<strong>de</strong>rar que tais referências são mutáveis emrelação ao tempo e ao sabor do <strong>de</strong>senvolvimento das socieda<strong>de</strong>s. Assim comopressupõe Norberto Bobbio no livro “O futuro da Democracia” a <strong>de</strong>mocracia não éestática. O referencial que temos <strong>de</strong> Democracia mo<strong>de</strong>rna diverge bastante daclássica, fundamentalmente pela lógica da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida através dascondições que favorecem a <strong>de</strong>mocracia e pelas instituições políticas que essesistema exige. A falta dos componentes incrementamos na época mo<strong>de</strong>rna à épocaclássica não significa, portanto, negar a existência da Democracia em temposanteriores. Do contrário, reforça somente a mutabilida<strong>de</strong> e evolução do sistema.Sendo assim, Robert Dahl propõe um sistema dos elementos maisimportantes para a Democracia:29


Figura 1. Os elementos mais importantes 20Dahl portanto consi<strong>de</strong>rava que este sistema contemplava critérios para oestabelecimento <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia plena, com uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sistema<strong>de</strong>mocrático perfeito, o que, segundo o próprio Dahl, não é uma possibilida<strong>de</strong> crível,mas em todo caso, um caminho para a aproximação do i<strong>de</strong>al.2.2.3.4 Teoria da Democracia SoberanaNa América Latina, cuja História apresenta longo período regido por ditadurasmilitares somados à <strong>de</strong>sintegração da União Soviética e a <strong>de</strong>rrocada dos sistemasocialista, o capitalismo e a <strong>de</strong>mocracia representativa foram expandidos aliados aoadvento da globalização, abolindo alternativas para outras linhas <strong>de</strong> pensamentoque não coadunassem com a hegemonia estabelecida.Com a <strong>de</strong>silusão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r apontada para a América Latina, que não goza dasbenécias oferecidas pela Globalização, vários países latino-americanos elegerampara presidir seus países representantes esquerdistas com propostas alternativaspara o <strong>de</strong>senvolvimento.Norberto Bobbio propõe que os esquerdistas são os partidários da melhoriadas condições <strong>de</strong> vida da maioria da população, e direitistas são os partidários daconservação dos privilégios das elites tradicionais. Os esquerdistas, nesse sentidoten<strong>de</strong>m a exercer o po<strong>de</strong>r a partir dos interesses do povo, preten<strong>de</strong>ndo implementaros ditames do Direito Socialista, optando por um novo mo<strong>de</strong>lo, quer seja da social<strong>de</strong>mocracia,a superação da <strong>de</strong>mocracia representativa e afirmação da <strong>de</strong>mocraciaparticipativa, com re<strong>de</strong>finição da <strong>de</strong>mocracia por meio <strong>de</strong> plebiscitos, referendos, etc.Haja vista a <strong>de</strong>mocracia não ser estática, do contrário é algo dinâmico, como umprocesso em constante transformação. Dessa forma é que a Democracia, por mais20 Robert A. Dahl, Sobre a Democracia,tradução <strong>de</strong> Beatriz Sidou. – Brasília: editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília,2001, p. 40..30


que em seu contexto apresente diversas fragilida<strong>de</strong>s, como sustenta Platão (557ac),se todas as outras formas <strong>de</strong> governo (monarquia e aristocracia) forem<strong>de</strong>senfreadas, a forma <strong>de</strong> governo menos má é a <strong>de</strong>mocracia, on<strong>de</strong> haverá maiorvantagem para se viver.2.2.3.2 Teorias não <strong>de</strong>mocráticasA <strong>de</strong>mocracia liberal, como termo positivo, da dicotomia, <strong>de</strong>nomina-se peladivisão <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong> direito do po<strong>de</strong>r e pala transmissão da autorida<strong>de</strong> política <strong>de</strong>baixo para cima.Existem duas acepções distintas sobre Despotismo. Despotismo orientalremonta ao pensamento grego clássico e <strong>de</strong>signa um regime político monocrático.Segundo Aristóteles à índole dos povos Asiáticos que eram consi<strong>de</strong>rados incapazes<strong>de</strong> autogovernar-se e eram inclinados à obediência. Foram constantementeenfatizadas a arbitrarieda<strong>de</strong> e brutalida<strong>de</strong> que diferenciam sua maneira <strong>de</strong> exercer opo<strong>de</strong>r.Montesquieu <strong>de</strong>finiu Despotismo como um governo no qual “um sozinho, semleis nem freios, arrasta tudo e todos conforme sua vonta<strong>de</strong> e seus caprichos.O Despotismo e o Absolutismo são parecidos com a Ditadura <strong>de</strong>vido aconcentração e caráter ilimitado do po<strong>de</strong>r, mas são ao mesmo tempo diferentes daDitadura pois tanto o absolutismo como o <strong>de</strong>spotismo, são monarquias hereditárias elegitimas. A Ditadura é uma monocracia, ou seja, governo <strong>de</strong> um pequeno grupo,não hereditária e ilegítima.O Absolutismo e o Despotismo po<strong>de</strong>m ser ligados a uma socieda<strong>de</strong> do tipotradicional, on<strong>de</strong> a participação política da gran<strong>de</strong> maioria da população é nula, e amonarquia é vista como a única forma <strong>de</strong> governo.A Ditadura está ligada a uma socieda<strong>de</strong> em transformação, na qual aparticipação política reduzida. Desta forma, o regime ditatorial não po<strong>de</strong> se basearna tradição ou na aceitação passiva <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população.Tirania não é consi<strong>de</strong>rada monarquia legitima. O tirano é <strong>de</strong>nominado chefe<strong>de</strong> uma facção política que impõe com a força o próprio po<strong>de</strong>r a todos os partidos.Os tiranos exercem papel arbitrário e ilimitado, on<strong>de</strong> recorrem muitas vezes ainstrumentos coercitivos.31


3 A DEMOCRACIA VENEZUELANA3.1 EVOLUÇÃO POLÍTICA: DA INDEPENDÊNCIA VENEZUELANA (1825)AO DECLÍNIO DO SISTEMA DO PACTO DE PUNTO FIJO (1990-1999)A Venezuela tornou-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em 1825 em larga medida graças aosesforços <strong>de</strong> Simón Bolívar. A Constituição elaborada por Bolívar a esta época eratida como visionária e havia sido saudada como a mais liberal do mundo, porabarcar liberda<strong>de</strong>s civis e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento diante das leis, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>expressão, a locomoção e a <strong>de</strong> imprensa, a abolição da escravatura e provisõessobre o <strong>de</strong>vido processo legal, e a realização <strong>de</strong> julgamento com a participação <strong>de</strong>júris: um gran<strong>de</strong> contraste à realida<strong>de</strong> da América Latina à época, que estava quaseem sua totalida<strong>de</strong> chefiada por governos autocratas e ditatoriais.Antes, porém, <strong>de</strong> libertar a Venezuela Bolívar havia escrito um ensaio paraum congresso realizado em Angostura, em 1919 on<strong>de</strong> alertava sobre o perigo dapermanência <strong>de</strong> um cidadão no po<strong>de</strong>r durante muito tempo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a idéia <strong>de</strong>eleições periódicas. Escreveu que “o sistema mais perfeito <strong>de</strong> governo é aquele queproduz a maior felicida<strong>de</strong> possível, o maior grau <strong>de</strong> segurança social e segurançapolítica”.Apesar <strong>de</strong> seus esforços para conquistar a In<strong>de</strong>pendência venezuelana, arealida<strong>de</strong> do país não havia modificado no que tange às estruturas sociais e, alémdo mais o custo da guerra que outrora trouxera a in<strong>de</strong>pendência havia complicadobastante a economia doméstica. A ditadura estava concretamente instalada no paíse, com o prelúdio do século XX pouco mais <strong>de</strong> 19% da população era alfabetizada.Foi então que em 1908 o general Juan Vicente Gómez tomou o po<strong>de</strong>r e foiele responsável por dinamizar a economia venezuelana atraindo, inclusive, capitalestrangeiro com o nascimento da indústria petrolífera, entre outros gran<strong>de</strong>s feitos.Todavia, este experimento foi tomado por gran<strong>de</strong> corrupção e marcado por uma dasditaduras mais violentas já praticadas no país.Somente em 1940 a Venezuela experimentaria um breve momento<strong>de</strong>mocrático, abreviado pela tomada <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do general Marcos Peres Jimenéz em1950. Assim como Gómez, Jimenéz foi um realizador visionário <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s feitospara o país, mas havia apenas refinado as técnicas do seu antepassado em seconsi<strong>de</strong>rando o lado visionário, como também a corrupção e violência.32


A ditadura <strong>de</strong> Pérez Jimenéz foi encontrou fim por meio <strong>de</strong> uma rebelião civilmilitarem 1958, li<strong>de</strong>rada pelas tropas do articulado e principal adversário partidopolítico ao regime <strong>de</strong> Peréz Jimenéz – o Acción Democrática (AD) que durante avigência ditatorial foi obrigado a viver na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. O AD contou também comos esforços do Comitê <strong>de</strong> Organización Electoral In<strong>de</strong>pendiente (COPEI) e da UniónRepublicana Democrática (URD), fato esse que levou os três partidos a li<strong>de</strong>rarem omovimento em favor da instalação da Democracia, <strong>de</strong>stacando sobremaneira o AD eo COPEI, que materializaram acordos como o Pacto <strong>de</strong> Punto Fijo e o Programa <strong>de</strong>Gobierno Mínimo.O sistema <strong>de</strong>mocrático venezuelano, vigente no período <strong>de</strong> 1959-1998,permitiu ao País partilhar junto à Colômbia o título <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracias mais antigas daAmérica do Sul. Segundo Amorim Neto, a consolidação do Pacto <strong>de</strong> Punto Fijoobteve êxito graças a quatro fatores que seguem:(1) a disposição que <strong>de</strong>monstraram seus lí<strong>de</strong>res em superardiferenças i<strong>de</strong>ológicas para formar pactos <strong>de</strong> governabilida<strong>de</strong> (Karl1991, Navarro 1988); (2) a capacida<strong>de</strong> que tiveram no esforço <strong>de</strong>eliminar a atuação <strong>de</strong> grupos radicais e anti-<strong>de</strong>mocráticos durante oauge da guerra fria; (3) sua habilida<strong>de</strong> em aplacar os militares esubmete-los ao controle civil; (4) sua eficácia na organização,mobilização e representação <strong>de</strong> diversos grupos sociais 21 .Cumpre mencionar que a tentativa <strong>de</strong> aproximação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias entre ospartidos foi relevante para propiciar uma base estável para o <strong>de</strong>senvolvimento da<strong>de</strong>mocracia, todavia restringia a igualda<strong>de</strong> política entre os cidadãos, <strong>de</strong>starte opêndulo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estabelecido entre os partidos AD e COPEI, pois apesar daparticipação do URD o sistema multipartidário vingou somente durante os trêsprimeiros lustros do regime, tornando em breve o baixo nível <strong>de</strong> fragmentaçãorepresentativa na Câmara.COPEI somaram 86,4% da representação.Como exemplo figura o ano <strong>de</strong> 1978 quando o AD e oA máxima do controle <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r também era verda<strong>de</strong>ira quando se tratava doPo<strong>de</strong>r Executivo. Para efeito <strong>de</strong> ilustração, po<strong>de</strong>-se verificar a tabela 22 <strong>de</strong> percentual<strong>de</strong> votos obtidos pelos presi<strong>de</strong>ntes venezuelanos, no período compreendido entre1947-2000:21 AMORIM NETO, 2001, p. 8722 AMORIM NETO, 2001, p. 90.33


Tabela 1 - % <strong>de</strong> Votos Obtidos Pelos Presi<strong>de</strong>ntes Venezuelanos (1947-2000)Presi<strong>de</strong>nte Partido Ano % <strong>de</strong> VotosRómulo Gallegos AD 1947 74,4Rómulo Betancout AD 1958 49,2Raúl Leoni AD 1963 32,8Rafael Cal<strong>de</strong>ra I COPEI 1968 29,1Carlos Andrés Perez I AD 1973 48,7Herrera Campins COPEI 1978 46,6Jaime Lusinchi AD 1983 58,4Carlos Andrés Perez II AD 1988 52,9Rafael Cal<strong>de</strong>ra II Convergência 1993 30,5Hugo Chávez I MVR 1998 56,2Hugo Chávez II MVR 2000 59,7O Programa Mínimo <strong>de</strong> Gobierno espelhou-se no sistema eleitoral emreferência à opção dos Estados Unidos 23 alicerçado pela distribuição clientelista darenda petrolífera.A existência do petróleo condicionou a forma <strong>de</strong> intervenção doEstado na economia, e também a relação <strong>de</strong>ste com o restante dosatores políticos, tais como partidos, sindicatos, forças armadas esetor privado. Todos estes setores foram subsidiados pelo Estado,fato este que inibiu qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crítica sobre asconseqüências futuras do mo<strong>de</strong>lo clientelista <strong>de</strong> conciliação entãoadotado. Faz-se necessário sublinhar esta premissa: não se po<strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r a vida política venezuelana, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do período<strong>de</strong>mocrático em 1958, sem o entendimento do papel <strong>de</strong>senvolvidopelo recurso petrolífero, não sendo também possível a compreensãoda vida econômica do país sem o entendimento do papel protagônicodo Estado, que, em última instância, apresenta-se como o únicoproprietário do recurso petrolífero 24 .A aproximação da Venezuela com os Estados Unidos era bastante nítidaprincipalmente nas gestões <strong>de</strong> Rómulo Betancourt e Rafael Cal<strong>de</strong>ra, <strong>de</strong>vidoprincipalmente a importância dos EUA como o principal parceiro comercial para oPaís, fator <strong>de</strong>cisivo para a tomada <strong>de</strong> rumos da política venezuelana, pautada23 Governo presi<strong>de</strong>ncialista com eleições FPTP (First-past-the-post, sistema <strong>de</strong> representação proporcional). OsEstados Unidos são a única das <strong>de</strong>mocracias mais antigas que ainda utiliza essa combinação, daí o nome.(DAHL, 2001, p. 155).24 VILLA, 2005, pg.15434


primordialmente pela receita petrolífera, a principal motor da economia nãodiversificada do País.Foi então que em 1973 por ocasião da criação da Opep e da Guerra Árabe-Israelense, que o preço do barril <strong>de</strong> petróleo subiu do incipiente patamar <strong>de</strong> US$1,76em 1970 para US$10 em 1974. Nessa época a população venezuelana nãoultrapassava os 16 milhões <strong>de</strong> habitantes, e com o boom do petróleo a quantia <strong>de</strong>petrodólares acumulada nesse período ren<strong>de</strong>u ao país mais <strong>de</strong> US$150 bilhõesoferecendo aos resi<strong>de</strong>ntes do país o mais elevado padrão <strong>de</strong> vida da América doSul. Desenvolveu-se aí a mentalida<strong>de</strong> do hay pa´ todo, quando os venezuelanosatingiram altíssimo nível <strong>de</strong> consumo.Sob a gestão <strong>de</strong> Carlos Andrés Perez, em 1976 a indústria do petróleo foinacionalizada, o que tranqüilizava a economia do país, <strong>de</strong>tentora do maior ativoeconômico. Diante <strong>de</strong>sse cenário, a Venezuela era vista como um verda<strong>de</strong>iro oásis<strong>de</strong>mocrático em contraste com os outros países sul-americanos que viviam tortuososanos <strong>de</strong> Ditadura.Contudo, nos anos 80 sobrevieram ao país os efeitos <strong>de</strong>clínio do preço dopetróleo, da globalização, gerando instabilida<strong>de</strong> econômica, altos índices <strong>de</strong>inflação, perda do po<strong>de</strong>r aquisitivo da população somando-se a perturbadoracorrupção instalada no país.O eleitorado venezuelano <strong>de</strong>monstrava insatisfação com as instituições<strong>de</strong>mocráticas e com os resultados do sistema eleitoral através da abstinência dosvotos. O eleitorado venezuelano que compareceu às urnas diminuiu mais <strong>de</strong> 10%nesse ínterim.Sob a gestão <strong>de</strong> Lusinchi lançou-se a tentativa <strong>de</strong> reforma eleitoral, todavia, ea apesar dos esforços do presi<strong>de</strong>nte para atenuar a hegemonia AD-COPEI, osresultados foram consi<strong>de</strong>rados pífios haja vista a malversação dos recursos públicosque agudizou ainda mais a crise na escandalosa comissão RECADI 25 , cujasestimativas 26 apontam para a frau<strong>de</strong> <strong>de</strong> oito bilhões <strong>de</strong> dólares por parte do Tesouro.Foi então que Carlos Andrés Perez (CAP) reelegeu-se trazendo esperança<strong>de</strong> retorno aos anos <strong>de</strong> ouro vividos pela Venezuela na sua primeira gestão.Todavia, o que houve foi um profundo alastramento da crise econômica e uma tristeinsígnia se abateu sobre seu governo. Em não havendo outra saída, Perez adotou25 Registro <strong>de</strong> Cambios Diferenciales26 AZEREDO, 2001, p. 11635


as políticas neoliberais e implementou um pacote <strong>de</strong> medidas recomendadas peloFMI, a<strong>de</strong>rindo enfim ao Consenso <strong>de</strong> Washington 27 . Essa política na Venezuelarecebeu o nome <strong>de</strong> gran viraje.Não obstante o gran viraje não foi bem-recepcionado pela população e osresultados <strong>de</strong>le oriundos fizeram o preço da gasolina acrescer em 100%. Foi entãoque em 27 <strong>de</strong> fevereiro ocorreu o episódio sangrento conhecido como Caracazo,uma insurreição civil <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e proporções catastróficas com incêndios <strong>de</strong>ônibus, saques às lojas da cida<strong>de</strong> que a<strong>de</strong>ntraram o dia 28 <strong>de</strong> fevereiro, levandoCAP a <strong>de</strong>cretar estado <strong>de</strong> emergência. Para controlar os excessos civis as forçasarmadas foram convocadas a intervir.A repressão foi brutal, tanto pela gravida<strong>de</strong> do conflito, quanto pelainexperiência das tropas em lidar com esse tipo <strong>de</strong> perturbação.Segundo a estatística oficial, houve 372 vítimas fatais. Todavia, comosói acontecer em tais cômputos, o número <strong>de</strong> mortes terá sido muitosuperior, chegando a mais <strong>de</strong> dois mil, e somente na capital 28 .O <strong>de</strong>senfreio e a má administração dos gastos públicos 29e o cenárioassolador venezuelano puseram em xeque os valores apregoados pela <strong>de</strong>mocraciapostulada pelo Pacto <strong>de</strong> Punto Fijo assinalando a <strong>de</strong>cadência do sistema.Diante ao cenário <strong>de</strong>solador e instável da Venezuela, em quatro <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1992 a Causa R, composta por oficiais do Exército e li<strong>de</strong>rada por Hugo Chávez,intentou um malogrado putsch contra o então presi<strong>de</strong>nte Carlos Andrés Perez.Apesar do insucesso e da prisão <strong>de</strong> Chávez, boa parte da população venezuelana,que em seu todo estava órfã <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r político que refletisse as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>seu povo, <strong>de</strong>monstrou certa simpatia com o revolucionário que se propunha aliquidar a crise e eliminar um sistema, que nas palavras do próprio Chávez se tratava<strong>de</strong>uma ditadura vestida com trajes <strong>de</strong>mocráticos, uma ditaduraresponsável por levar um povo que mora sobre um mar <strong>de</strong> petróleo,com enormes rios navegáveis e milhões <strong>de</strong> acres <strong>de</strong> terra arável,27 Conjunto <strong>de</strong> políticas econômicas <strong>de</strong> recomendação norte-americana para a reconstrução dos paísesendividados e em <strong>de</strong>senvolvimento, principalmente da Am. Latina.28 AZEREDO, 2001, P. 11829 “A venda <strong>de</strong> hidrocarbonetos ren<strong>de</strong>u para o Estado, entre 1976 e 1995, cerca <strong>de</strong> 270 bilhões <strong>de</strong> dólares. Atítulo <strong>de</strong> comparação, o plano Marshall que, após a segunda guerra mundial, permitiu a reconstrução da EuropaOci<strong>de</strong>ntal, representava uma ajuda total <strong>de</strong> treze bilhões <strong>de</strong> dólares. Um pequeno país como a Venezuelarecebeu, portanto, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos petrolíferos, uma soma global equivalente a vinte planosMarshall... Esta cifra astronômica não permitiu, todavia, dotar o país com infra-estruturas mínimas, nem reduziras escandalosas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais...” (ARTURO ISLAR PIETRI, in AZEREDO, 2001, p. 118).36


para um estado abjeto <strong>de</strong> pobreza e infindável corrupção política emoral. 30Em verda<strong>de</strong>, por <strong>de</strong>corrência do fim da Guerra Fria e em <strong>de</strong>corrência do novo,complexo e confuso arranjo do sistema internacional, sobretudo a América Latinauma das regiões que mais sofreu com a parte obscura da Globalização, estavase<strong>de</strong>nta por uma li<strong>de</strong>rança inovadora, o que favoreceu a emergência <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rançascom tendência populista no subcontinente.Chávez era então uma alternativa.4. A ALTERNATIVA HUGO CHÁVEZ: A ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE1999Em 1998 Chávez se lança como candidato à presidência da Venezuela pelopartido MVR (Movimento Quinta República), e mesmo tendo sido reprimido por meioda prisão em 1992 quando tentara o malgrado golpe contra CAP, ele <strong>de</strong>spertava napopulação venezuelana muita simpatia, pelo fato <strong>de</strong> da convergência <strong>de</strong>pensamentos da necessida<strong>de</strong> por mudanças da caótica situação <strong>de</strong> miséria em quea massa pobre venezuelana estava submetida.Contudo, inicialmente Chávez apresentava resultados pífios em relação àspesquisas <strong>de</strong> intenções <strong>de</strong> votos que eram li<strong>de</strong>radas pela ex-miss Universo, IreneSáez, que era prefeita do município mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Chacao. A campanha política dorevolucionário foi marcada por constantes ofensas e ameaças às instituiçõesestabelecidas, incluindo-se à constituição vigente à época, claramente<strong>de</strong>monstrando o anseio <strong>de</strong> convocar uma Assembléia Constituinte para redigir umanova Constituição e dissolver o Congresso. Ainda assim, por volta <strong>de</strong> julho do anoeleitoral Chávez já alcançava 45% das intenções <strong>de</strong> votos por se apresentar comouma opção esquerdista, <strong>de</strong>scolada dos partidos AD e COPEI que já não sinalizavama uma boa seara na mente dos venezuelanos.Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998 Chávez se elegeria ao cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte com 56,2%dos votos. Sua pujante vitória foi somada a uma gran<strong>de</strong> fragmentação da Câmara,on<strong>de</strong> pela primeira vez AD e COPEI somavam, juntos, apenas 42,6% das ca<strong>de</strong>iras,muito embora o AD ainda permanecesse na li<strong>de</strong>rança, este era um resultado inédito.Chávez tomou posse em dois <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1999 e neste ato se recusou ajurar respeito à Constituição <strong>de</strong> 1961 e as priorida<strong>de</strong>s bradadas durante a sua30 JONES, 2007, p. 143.37


campanha iam tomando forma, junto ao plano <strong>de</strong> integração das Forças Armadas naativida<strong>de</strong> econômico-social através do programa “Plano Bolívar 2000”.Logo que tomou posse o presi<strong>de</strong>nte iniciou o processo <strong>de</strong> convocação daAssembléia Nacional Constituinte (ANC), ao passo que as duas Câmarasmanifestaram-se contrárias alegando que tal ato não correspondia aos princípios daConstituição <strong>de</strong> 1961, haja vista que o mecanismo para reformas constitucionais<strong>de</strong>veria ser por meio da emenda e mediante aprovação <strong>de</strong> dois terços doCongresso. Não obstante, a Corte Suprema <strong>de</strong>terminou que não seriainconstitucional a eleição da ANC, conce<strong>de</strong>ndo também ao Presi<strong>de</strong>nte plenospo<strong>de</strong>res para a formulação do processo <strong>de</strong> escolha dos representantes. A corteestava em crise. O resultado foi a renúncia da juíza presi<strong>de</strong>nte, Cecilia Sosa, ao seucargo.A corte pura e simplesmente cometeu suicídio para evitar que fosseassassinada. Mas o resultado é o mesmo. Ela está morta. 31O que ocorreu, nas palavras do Professor Dr. Octavio Amorim Neto foi umaruptura institucional, uma forma <strong>de</strong> concluir o golpe ensejado em 1992.Essa mudança profunda no or<strong>de</strong>namento constitucional daVenezuela não se fez da mesma maneira que em outros paíseslatino-americanos ao longo das décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990, tal qual oBrasil em 1988, na Colômbia em 1991 e na Argentina em 1994.Esses três processos constitucionais ocorreram sob as regrasvigentes do jogo político, sem que estas jamais tenham sido violadas.Foram, em suma, processos <strong>de</strong> mudança pactuada entre asprincipais forças políticas do país. Quando a mudança constitucionalse faz à margem das regras do jogo, isto é, <strong>de</strong> forma ilegal, temos oque se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> ruptura institucional 32 .Ainda em fevereiro <strong>de</strong> seu primeiro ano <strong>de</strong> mandato foi remetido aoCongresso um projeto <strong>de</strong> lei habilitante que lhe conferia po<strong>de</strong>res para legislar por<strong>de</strong>creto durante um ano questões administrativas, monetárias, fiscais e setoriais. OCongresso <strong>de</strong>cidiu emendar o processo, todavia Chávez não concordou. Nãoobstante or<strong>de</strong>nou que seus ministros não aten<strong>de</strong>ssem aos chamados do Congresso,do contrário compareceriam somente para fazer pressão em torno do plano,conseguindo, em abril, a aprovação do projeto a ser submetido ao referendo. Emagosto do mesmo ano, a assembléia <strong>de</strong>cidiu por fechar terminantemente oCongresso. O órgão usurpou os poucos po<strong>de</strong>res ainda mantidos pelo Congresso,argumentando que os legisladores estavam interferindo no trabalho da Assembléia.31 JONES, 2008, p. 25332 AMORIM NETO, 2001, p. 9638


Ainda assim, a Assembléia ameaçou o Congresso <strong>de</strong> tomar-lhe os po<strong>de</strong>resremanescentes, caso não colaborassem com o trabalho em <strong>de</strong>senvolvimento 33 .Aqui não há dúvida <strong>de</strong> que se tratou <strong>de</strong> uma violação irrefutável dasregras do jogo da <strong>de</strong>mocracia, pois não consta que, em nenhumregime digno <strong>de</strong>ste nome, projetos do Executivo sejam aprovadoscom bases em cercos ao Po<strong>de</strong>r Legislativo or<strong>de</strong>nados peloPresi<strong>de</strong>nte da República 34 .Portanto, contrário às regras vigentes, no intento <strong>de</strong> transformar a forma <strong>de</strong>governo para uma <strong>de</strong>mocracia direta, realizou no ano <strong>de</strong> 1999 dois referendos – umem abril para a convocação da Assembléia, que resultou em aprovação em 88% dosvotos e o segundo em <strong>de</strong>zembro para a ratificação da nova Constituição, cujaaprovação alcançou 71% do eleitorado que compareceu às urnas 35 .Ainda durante o ano <strong>de</strong> 1999 Chávez disparou insultos à Corte Suprema e aopróprio Congresso, salientando que lhes faltava legitimida<strong>de</strong>. A Corte Supremaor<strong>de</strong>nou formalmente para que Chávez parasse com as hostilida<strong>de</strong>s.Ainda em maio <strong>de</strong> 1999 os aliados <strong>de</strong> Chávez iniciaram uma manobra quefavoreceria a dissolução do Senado eleito legitimamente em novembro <strong>de</strong> 1998, <strong>de</strong>forma que senadores e <strong>de</strong>putados da situação renunciaram aos seus postos paraque pu<strong>de</strong>ssem concorrer às eleições para a ANC. Em junho, Chávez foi formalmenteacusado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) por interferência nas eleições e porsubsidiar com o dinheiro dos cofres públicos a campanha dos elegíveis à ANC edirigir ofensas aos candidatos opositores publicamente, ao passo que Chávez lheschamava <strong>de</strong> “corruptos” e “ladrões” 36 .Novamente Chávez se indispôs com o Congresso por conta do ato dapromoção, por parte do Presi<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> 262 militares, sendo que 52 ocupariamdoravante o posto <strong>de</strong> general. O Congresso reagiu afirmando que não haveriapostos a serem preenchidos. A<strong>de</strong>mais, a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns dos referidos militares jáhouvera ultrapassado o período <strong>de</strong> elegibilida<strong>de</strong>. À revelia da <strong>de</strong>cisão do Congresso,as promoções foram consumadas.Nas eleições da ANC em julho <strong>de</strong> 1999 os aliados <strong>de</strong> Chávez ocupariam 122das 131 ca<strong>de</strong>iras disputadas. E em agosto do mesmo ano foi instaurada, via ANC,uma comissão <strong>de</strong> emergência judicial para promoção <strong>de</strong> reformas radicais no Po<strong>de</strong>rJudiciário, o que resultou na <strong>de</strong>missão sumária <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 400 juízes.33 JONES, 2008, p. 25534 AMORIM NETO, 2001, p. 9735 Ib<strong>de</strong>m, p. 9636 Ib<strong>de</strong>m, p. 9839


Contradizendo então as <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> Chávez a respeito do fim dacorrupção e do fim dos dias <strong>de</strong> nomeações <strong>de</strong> bastidores realizadas pelas elitespolíticas, a Assembléia Constituinte não consultou a socieda<strong>de</strong> civil ou membros <strong>de</strong>outros grupos antes <strong>de</strong> tomar suas <strong>de</strong>cisões, o que claramente corrobora com opensamento <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Luis Miquilena, o chefe da ANC e do minicongresso,escolheu pessoalmente várias das novas autorida<strong>de</strong>s. Uma <strong>de</strong>lasinclusive era Adán, o irmão <strong>de</strong> Chávez. Adversários do presi<strong>de</strong>nte o acusaram <strong>de</strong>criar uma situação caótica gerada pelos <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong> terra ocorridos naVenezuela para levar a cabo as nomeações.Então em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a nova Constituição foi promulgada. Logo emjaneiro <strong>de</strong> 2000, o Congresso bicameral eleito <strong>de</strong> forma legítima em 1998, foidissolvido. Também foi dissolvida a Corte Suprema, conforme <strong>de</strong>terminações danova Carta, e substituída por um Supremo Tribunal <strong>de</strong> Justiça, cujos membros foramescolhidos pela ANC.Em julho do mesmo ano, portanto, estava prevista a mega eleição, cujoescrutínio nomearia as 165 ca<strong>de</strong>iras da Assembléia Nacional (o Congressounicameral), os 23 governos estaduais, além da presidência. Chávez novamente foieleito com 59,7% dos votos e os seus aliados ocuparam 60% das ca<strong>de</strong>iras doparlamento.A Nova Carta Magna venezuelana conta com 350 artigos. Dentre a mudança<strong>de</strong> 69 artigos da Constituição, dos quais 33 são propostas do Presi<strong>de</strong>nte, está aalteração do nome oficial do país para República Bolivariana da Venezuela e apentapartição do Po<strong>de</strong>r Nacional, distribuído conforme o artigo 136 em Legislativo,Executivo, Judiciário, O Po<strong>de</strong>r Cidadão na figura do Ministério Público, e Eleitoral –alçando os órgãos que cuidam <strong>de</strong>sse particular a um Po<strong>de</strong>r específico amparado naCarta, todos, conforme a Constituição in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes entre si.Uma das principais característica da nova Carta é o excessivo po<strong>de</strong>r atribuídoao Po<strong>de</strong>r Executivo, que inclusive o seu mandato foi extendido para 06 anos epassível <strong>de</strong> reeleição seguida por uma vez 37 . Compete ao presi<strong>de</strong>nte, conformedisposto no artigo 236, nomear e remover seu vice-presi<strong>de</strong>nte e ministros, dirigir asrelações internacionais do país, bem como ratificar tratados, convênios ou acordosinternacionais. Também lhe incumbe a direção da Força Armada Nacional37 Em fevereiro <strong>de</strong> 2009, contudo, por meio do referendo popular o Presi<strong>de</strong>nte alcançou vitória para reeleger-sein<strong>de</strong>finidamente..40


Bolivariana (unificados os três ramos em um só), po<strong>de</strong>ndo também nomear as suaspromoções em todos os graus e hierarquia. Cabe também ao Presi<strong>de</strong>nte administraras reservas internacionais, assim como o estabelecimento e regulamentação dapolítica monetária junto ao Banco Central, bem como administrar a Fazenda PúblicaNacional.O presi<strong>de</strong>nte também po<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar os estados <strong>de</strong> exceção (que serápormenorizado a frente), legislar por meio <strong>de</strong> uma lei habilitante, convocar aAssembléia para sessões extraordinárias, como também <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r paradissolvê-la. Também cabe ao Presi<strong>de</strong>nte "criar ou suprimir províncias fe<strong>de</strong>rais,territórios fe<strong>de</strong>rais, cida<strong>de</strong>s, distritos funcionais, municípios fe<strong>de</strong>rais, regiõesmarítimas, regiões estratégicas, distritos insulares e cida<strong>de</strong>s comunais", além <strong>de</strong>"<strong>de</strong>signar e remover suas autorida<strong>de</strong>s".Uma das medidas mais polêmicas, sem dúvida, é o artigo 337 que regula osEstados <strong>de</strong> Exceção, que alvitra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suspensão das garantiasconsagradas pela Constituição os direitos a um julgamento justo e à informaçãonestas situações – que se qualificam como:Circunstâncias <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, econômica, política, natural ouecológica que afetem gravemente a segurança da Nação, dasinstituições e dos cidadãos, quando da ineficiência dos meios dosquais se dispõem para fazer frente a tais feitos 38 .Sem dúvida esta é uma resolução que põe em dúvida a transparência doEstado. A<strong>de</strong>mais, no Capítulo primeiro, que cuida dos Princípios Fundamentais, art.6 <strong>de</strong>ssa mesma Constituição, o Governo da República Bolivariana da Venezuela esuas entida<strong>de</strong>s políticas se comprometem a zelar pela <strong>de</strong>mocracia, participação,eleição, <strong>de</strong>scentralização, alternação, responsabilida<strong>de</strong>, pluralista e <strong>de</strong> mandatosrevogáveis, o que, em tese, garantiria <strong>de</strong> fato um governo <strong>de</strong>mocrático.Todavia, segundo Dahl, existem alguns critérios aos quais um governo<strong>de</strong>veriam correspon<strong>de</strong>r para <strong>de</strong>nominar-se <strong>de</strong>mocrático.38 Constituición <strong>de</strong> la República Bolivariana <strong>de</strong> Venezuela, art. 33741


Figura 2. O que é Democracia?Esses critérios são necessários para garantir a igualda<strong>de</strong> política doeleitorado, visando a participação efetiva e inclusiva dos cidadãos. O pressuposto doEstado <strong>de</strong> Exceção restringe que haja o controle do planejamento supervisionadopelos eleitores.Dado os limites e as possibilida<strong>de</strong>s do mundo real, Dahl também propõe anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> algumas instituições políticas para a configuração<strong>de</strong> um regime <strong>de</strong>mocrático. Quais sejam 39 : funcionários eleitos; eleições livres,justas e freqüentes; liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão; fontes <strong>de</strong> informação diversificadas;autonomia para as associações; cidadania inclusiva.Como se vê, a participação efetiva dos povos tem sido <strong>de</strong>vidamenterespeitadas pelo governo Hugo Chávez, uma vez que são promovidos diversosA <strong>de</strong>speito das citadas instituições, as eleições venezuelanas se revelarambastante duvidosas. O episódio da dissolução do Congresso já caracterizaria umgran<strong>de</strong> agravo à condição <strong>de</strong> justiça em relação às eleições. A excessivaconcentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r atribuída ao Presi<strong>de</strong>nte na Carta em vigor, aliada aoreferendo aprovado em fevereiro <strong>de</strong> 2009 sobre a in<strong>de</strong>finição da eleição presi<strong>de</strong>ncialtambém fere o quesito da alternação do po<strong>de</strong>r, uma vez que <strong>de</strong>tendo a máquinaestatal, o governante po<strong>de</strong>rá se valer <strong>de</strong>la para se perpetuar no Po<strong>de</strong>r. Além <strong>de</strong>estar claramente confrontando a idéia <strong>de</strong> substituição do seu domínio por umaoposição, que <strong>de</strong>veria ser garantida consoante uma fonte <strong>de</strong> informaçõesdiversificadas. A<strong>de</strong>mais, um governo populista, ao estilo <strong>de</strong> Chávez, tem gran<strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> para ludibriar a população, fazendo esta se esquecer ou se acomodarem relação aos seus direitos à manutenção das instituições, fazendo, <strong>de</strong>ssa formaque a sua <strong>de</strong>mocracia incorra em sérios riscos.39 DAHL, 2003, p. 9942


Por mais instruídos que e confiáveis que sejam inicialmente osmembros <strong>de</strong> uma elite governante dotada do Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> governar umEstado, em poucos anos ou em poucas gerações, é muito provávelque abusem <strong>de</strong>le. Se po<strong>de</strong>mos dizer que a história da humanida<strong>de</strong>nos proporciona algumas lições, certamente uma <strong>de</strong>stas é o fato <strong>de</strong>que, pela corrupção, pelo nepotismo, pela promoção dos interessesdo indivíduo e seu grupo, pelo abuso <strong>de</strong> seu monopólio da forçacoercitiva do Estado para reprimir a crítica, extrair riquezas dossúditos ou governados e garantir a obediência pela força, é muitoprovável que os tutores <strong>de</strong> um Estado se transformem emdéspotas 40 .O caso da não renovação contratual com a emissora RCTV corrobora para aintolerância <strong>de</strong> Chávez no que se refere à opinião oposicionista. O direito <strong>de</strong>expressão não compete somente aos cidadãos. O direito <strong>de</strong> expressão também égarantido pelo direito <strong>de</strong> ouvir o que outros cidadãos têm a dizer.Em seu primeiro ano <strong>de</strong> mandato, o <strong>de</strong>srespeito ao lazer televisionado dopovo venezuelano também foi lesado. Chávez costumava realizar, dois ou trêsdiscursos por dia em horário nobre para falar durante períodos <strong>de</strong> duas horas emmédia 41 .Os discursos impediam a exibição das populares novelas do horárionoturno, além <strong>de</strong> diminuírem os lucros das emissoras <strong>de</strong> televisão, jáque, durante os pronunciamentos não se exibiam comerciais. Muitosdos adversários <strong>de</strong> Chávez e mesmo alguns <strong>de</strong> seus simpatizantesacreditavam que o presi<strong>de</strong>nte se excedia. [...] para a população,parecia se tratar <strong>de</strong> uma Ditadura 42 .Essa massiva aparição do governante soa como um culto ao próprio, quasecomo uma lavagem cerebral. Além disso, durante os seus discursos o presi<strong>de</strong>ntecostumava se referir à classe média como uma “oligarquia rançosa” e aos seusopositores como “porcos guinchantes”. Sem dúvida, isso reflete bastante a<strong>de</strong>scompostura do presi<strong>de</strong>nte mediante a população. Contudo, seus opositores e aclasse alta venezuelana o acusavam <strong>de</strong> dirigir um governo medíocre 43e, queenquanto muito falava, <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> governar, o que corrobora para a taxação do seugoverno populista, que versa sobre agradar o povo e se aproximar <strong>de</strong>le, fazendo queo povo se sinta melhor representado, quase como numa <strong>de</strong>mocracia direta, por meio<strong>de</strong> vários plebiscitos e referendos ocorridos durante sua gestão.40 DAHL, 2001, p. 8841 JONES, 2008, p. 275.42 Ib<strong>de</strong>m, p. 275, adaptado.43 Ib<strong>de</strong>m, p. 277.43


Por causa do apelo das idéias <strong>de</strong>mocráticas, no século XX osdéspotas disfarçaram seus governos com um espetáculo <strong>de</strong>“<strong>de</strong>mocracia” e “eleições” 44 .Essa Constituição, porém, assumiu um aspecto legalista para legitimaralgumas manobras do presi<strong>de</strong>nte que, <strong>de</strong> outra maneira, seriam <strong>de</strong> difícil digestãono cenário internacional. O estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spotismo que se <strong>de</strong>senha na gestão chavistaatua na sutileza do que está abarcado pela Carta Magna <strong>de</strong> seu país. A legalização,entre outras coisas, <strong>de</strong>sencoraja possível ingerência <strong>de</strong> países que se proporiam ainvestir contra o po<strong>de</strong>r vigente na Venezuela.Dessa forma, po<strong>de</strong>-se admitir a Venezuela como uma <strong>de</strong>mocraciaestabelecida formalmente, todavia o sistema encontra-se imbuído <strong>de</strong> característicasnão <strong>de</strong>mocráticas, sobretudo no que se refere ao <strong>de</strong>spotismo, pois revela gran<strong>de</strong>corrupção, o que não justificaria não ser <strong>de</strong>mocrático por esse motivo, mas sim pelouso do Po<strong>de</strong>r legítimo e, consi<strong>de</strong>re-se excessivo, para a concussão <strong>de</strong> taismanobras.A <strong>de</strong>speito das formas <strong>de</strong> governo e da condução do governo chavista não seconfigurar uma <strong>de</strong>mocracia mo<strong>de</strong>rna, embora que a <strong>de</strong>mocracia não se apresente<strong>de</strong> forma estática, como assegura Norberto Bobbio em O futuro da <strong>de</strong>mocracia, docontrário a <strong>de</strong>mocracia tem evoluído <strong>de</strong> acordo com a dinâmica <strong>de</strong> cada tempo elugar, o que possibilita consi<strong>de</strong>rar a diversida<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r empregado e,ainda assim, consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>mocracias. Todavia, para o presente trabalho, aconfiguração relevante é aquela engendrada a partir do século XX, com a inclusãodas mulheres no sufrágio e que mantém forte conexão com o modo <strong>de</strong> vida doséculo XXI, por ter sido esta época anterior, palco <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s revoluções em relaçãoà própria reconfiguração das próprias instituições <strong>de</strong>mocráticas que assumiramdiferentes nuances e diferenciadas variáveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Democracia Clássica,chegando, por vezes, a representar um contraponto. Portanto, cumpre mencionar, aDemocracia não consiste em somente consi<strong>de</strong>rar a legitimação por meio dos votos.Se assim o fosse, po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar legítimas as gestões <strong>de</strong> Adolf Hitler e <strong>de</strong>Benito Mussolini, que chegaram ao po<strong>de</strong>r conforme as regras políticas vigentes àssuas épocas.Apesar da promoção <strong>de</strong> muitos escrutínios, o que se po<strong>de</strong> perceber é que ocerco feito a oposição, o que se revela na dissolução do próprio congresso, tolhe a44 Ib<strong>de</strong>m, p. 6244


possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as eleições sejam justas, livres e idôneas, um dos princípiosapontados por Dahl para que sejam preservadas as instituições <strong>de</strong>mocráticas. Aorganização livre e legal <strong>de</strong> partidos políticos é um aspecto muito importante para a<strong>de</strong>mocratização.Parto do pressuposto <strong>de</strong> que uma característica-chave da<strong>de</strong>mocracia é a contínua responsivida<strong>de</strong> do governo às preferências<strong>de</strong> seus cidadãos, consi<strong>de</strong>rados como politicamente iguais. [...] Partodo pressuposto também <strong>de</strong> que, para um governo continuar a serresponsivo durante certo tempo, às preferências <strong>de</strong> seus cidadãos,consi<strong>de</strong>rados politicamente iguais, todos os cidadãos <strong>de</strong>vem teroportunida<strong>de</strong>s plenas: (1) <strong>de</strong> formular suas preferências; (2) <strong>de</strong>expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governoatravés da ação individual e coletiva; (3) <strong>de</strong> ter suas preferênciasigualmente consi<strong>de</strong>radas na conduta do governo, ou seja,consi<strong>de</strong>radas sem discriminação <strong>de</strong>corrente do conteúdo ou da fonteda preferência. Essas me parecem ser então as três condiçõesnecessárias à <strong>de</strong>mocracia, ainda que, provavelmente, não sejamsuficientes. Para isso são necessárias oito garantias 45 .As garantias apontadas por Dahl são referentes à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir aorganizações e basicamente a garantia <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, principalmenteno que se refere à promoção <strong>de</strong> eleições, que, para serem consi<strong>de</strong>radas jutas eidôneas não <strong>de</strong>vem, portanto, ter um lado controlador <strong>de</strong> informações, residindo,neste ponto, o papel da oposição: garantir fontes alternativas <strong>de</strong> informação paraconsolidar um entendimento esclarecido <strong>de</strong> fato e promover alternativas para oeleitorado.A <strong>de</strong>speito do governo Hugo Chávez não se consi<strong>de</strong>rar uma <strong>de</strong>mocraciavigorosa, po<strong>de</strong>-se ilustrar vantagens do sistema <strong>de</strong>mocrático 46 :‣ A <strong>de</strong>mocracia ajuda a impedir o governo <strong>de</strong> autocratas cruéis e perversos;‣ A <strong>de</strong>mocracia garante aos cidadãos uma série <strong>de</strong> direitos fundamentaisque os sistemas <strong>de</strong>mocráticos não proporcionam (nem po<strong>de</strong>mproporcionar);‣ A <strong>de</strong>mocracia assegura aos cidadãos uma liberda<strong>de</strong> individual mais amplaque qualquer alternativa viável;‣ A <strong>de</strong>mocracia ajuda a promover os interesses fundamentais das pessoas‣ Apenas um governo <strong>de</strong>mocrático po<strong>de</strong> proporcionar uma oportunida<strong>de</strong>máxima para os indivíduos exercitarem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminação;45 DAHL, 2005, P. 2646 Ib<strong>de</strong>m, p. 73.45


‣ Somente um governo <strong>de</strong>mocrático po<strong>de</strong> proporcionar uma oportunida<strong>de</strong>máxima do exercício da responsabilida<strong>de</strong> moral;‣ A <strong>de</strong>mocracia promove o <strong>de</strong>senvolvimento humano mais plenamente quequalquer alternativa viável;‣ Apenas um governo <strong>de</strong>mocrático po<strong>de</strong> promover um grau relativamentealto <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> política;‣ As mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong>mocracias representativas não lutam umas com as outras;‣ Os países com governos <strong>de</strong>mocráticos ten<strong>de</strong>m a ser mais prósperos queos governos não <strong>de</strong>mocráticos.Além <strong>de</strong> todos os fatos mencionados e corroborando para o caráter<strong>de</strong>sagregador do governo Hugo Chávez, cumpre salientar o seu ostensivo antiamericanismo.Não é a intenção, contudo <strong>de</strong>ste trabalho alvitrar a subserviênciacomo melhor opção para a condução do governo, todavia somente fazerconsi<strong>de</strong>rações a respeito da condição extrema em que se realizara.Os <strong>de</strong>sentendimentos <strong>de</strong> Chávez com os Estados Unidos se materializaramquando da visita do presi<strong>de</strong>nte venezuelano a Saddam Hussein em 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>2000, sendo Chávez o primeiro presi<strong>de</strong>nte eleito <strong>de</strong>mocraticamente a visitá-lo. OsEstados Unidos alegaram que este ato seria uma <strong>de</strong>sobediência às Resoluções doCSNU. Além <strong>de</strong> manter estreitas relações com o cubano Fi<strong>de</strong>l Castro, numaintenção <strong>de</strong> aprofundar as suas idéias socialistas, que dão base ao seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>governo à moda do Socialismo do século XXI, que seria uma mescla da ortodoxiados mo<strong>de</strong>los econômicos aliada a uma diferente estrutura que favoreceria aequida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição dos divi<strong>de</strong>ndos à população. A simples opção pelo nãoalinhamentoaos Estados Unidos não configura uma anti-<strong>de</strong>mocracia, o que indaganesse sentido são as alianças não muito auspiciosas para os mo<strong>de</strong>los aceitos peloOci<strong>de</strong>nte, pela manutenção <strong>de</strong> relações com países que não teriam boasinspirações aos mol<strong>de</strong>s políticos regidos nesta região.Também é alvo <strong>de</strong> crítica o suspeito relacionamento <strong>de</strong> Chávez com asFARC. O presi<strong>de</strong>nte venezuelano sustenta que as FARC são inimigas da Colômbiae não da Venezuela, <strong>de</strong>ssa forma, se ofereceu para mediar as negociações com aguerrilha, conseqüentemente conferindo a ela um status político, o que agravouduramente a relação da Venezuela com o seu vizinho, Colômbia. Cumpre salientarque a CIA suspeita que Hugo Chávez esteja ce<strong>de</strong>ndo seu território para que asFARC realizem treinamento paramilitar.46


Esse caráter <strong>de</strong> escolha por negociações com instituições não legítimas,põem em xeque a diplomacia venezuelana, atuando como um catalisador <strong>de</strong>insurreições civis, como exemplo da Colômbia e, mais recentemente as <strong>de</strong>clarações<strong>de</strong> guerra feita à Colômbia, instando ao seu povo a preparação para uma guerra quenão tem finalida<strong>de</strong> alguma para o povo venezuelano.5. A VENEZUELA NA AMÉRICA DO SUL5.1 RELACIONAMENTO COM OS VIZINHOSPara iniciar uma discussão acerca do tema é imperioso que sejam analisadosos perfis diplomáticos e focos da política externa <strong>de</strong> cada país em paralelo com ospontos em comum capitaneados pelo ensejo da integração sul-americana, cujospaíses apresentam governos esquerdistas <strong>de</strong>vido ao vácuo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>ixadonos anos 90 pelo nefasto mol<strong>de</strong> neoliberal, marco <strong>de</strong>cisório do qual engendrou onovo perfil latino: <strong>de</strong> participação mais ativa no que tange às relações internacionais,<strong>de</strong>monstrando claramente seu posicionamento <strong>de</strong> não subserviência, mas aberto aalternativas que lhe possibilite novos rumos ou, em última análise, posicionamentoconfrontacionista.Para efeito <strong>de</strong> ilustração po<strong>de</strong>-se citar alguns países sul-americanos em cujapresidência ascen<strong>de</strong>ram governos esquerdistas <strong>de</strong> bases populistas. Quais sejam:Tabaré Vázquez no Uruguai, Fernando Lugo no Paraguai, Cristina Kirchner naArgentina, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Hugo ChávezVenezuela e Luís Inácio Lula da Silva no Brasil.Nesse cenário têm-se posto em relevo Brasil e Venezuela em relação aos<strong>de</strong>mais países. No que se refere ao Brasil po<strong>de</strong>-se grifar a dimensão territorial, suapujança econômica, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos naturais e a sua li<strong>de</strong>rança regionalque prima, inclusive por ganhos em toda a América Latina, na busca pelaequanimida<strong>de</strong> e multilateralida<strong>de</strong> nos foros internacionais por meio da diplomaciaconsensual afeta aos diálogos mo<strong>de</strong>rados.A Venezuela, por outro lado, é um dos maiores produtores <strong>de</strong> petróleo domundo o que representa crescimento econômico. Contudo o que mais temcontribuído para o <strong>de</strong>staque do país são os inflados discursos e a conduta polêmicae agressiva do presi<strong>de</strong>nte Hugo Chávez que <strong>de</strong>clara aversão aos padrões47


neoliberais e <strong>de</strong>spertava um forte sentimento anti-americano, quando os EstadosUnidos era presidido por George W. Bush. Dessa forma, Hugo Chávez encabeçou aALBA mesclando métodos consubstanciados no bolivarianismo e no socialismo doséculo XXI, apresentando-se como alternativa latina para rechaçar o já engavetadoprojeto da ALCA, mas permanecendo como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associaçãosuplementar para dirimir questões <strong>de</strong> cunho político-social no subcontinente.A História relata que a política externa venezuelana em relação aos paísesvizinhos foi adolescida com algumas dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido principalmente ao caráterisolacionista <strong>de</strong>ste país, que exibia gran<strong>de</strong> contraste à época da segunda meta<strong>de</strong> doséculo XX com o restante dos países sul americanos na esfera econômica, <strong>de</strong>vido àriqueza oriunda do petróleo, e também na arena política on<strong>de</strong> a Venezuela já haviaestabelecido a Democracia e por meio da Doutrina Betancourt (1959) travavabarreiras ao relacionamento com países não <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong>mocráticos.Subestimado o relacionamento com a América do Sul, a Venezueladirecionou seus esforços políticos aos Estados Unidos, que era à época seu maiorparceiro comercial, e também concentrou esforços na indústria doméstica, compolíticas <strong>de</strong> mercado protecionistas. Como reação a este fato nasceu certahostilida<strong>de</strong> partida dos países vizinhos para com a Venezuela.Des<strong>de</strong> famigerado golpe <strong>de</strong> 1964 no Brasil as relações entre os dois paísesse arrefeceram <strong>de</strong>vido a Doutrina Betancourt <strong>de</strong> não reconhecimento às nações queexerciam ditaduras. Todavia, por aspirar li<strong>de</strong>rança no âmbito regional, odistanciamento com o Brasil não sinalizava para uma boa seara. Dessa forma,quando eleito em 1968, Rafael Cal<strong>de</strong>ra tratou <strong>de</strong> estreitar os laços na década que seseguiu com o país e com outros países da região. Nesse sentido, no governo <strong>de</strong>Carlos Andrés Perez (CAP), quando a Venezuela <strong>de</strong>sfrutou do boom do petróleo, aDoutrina Betancourt <strong>de</strong>u lugar aos pensamentos <strong>de</strong> Simón Bolívar, on<strong>de</strong> aVenezuela exercia papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na América Latina. A Venezuela entãocomeçou a se engajar nos projetos da sub-região a<strong>de</strong>rindo a ALALC 47 , ao PactoAndino 48 , sem <strong>de</strong>sprezar suas outras áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho da política externa.47 Associação Latino-Americana <strong>de</strong> Livre Comércio foi uma tentativa mal sucedida <strong>de</strong> integração comercial daAmérica Latina na década <strong>de</strong> 60. Os membros eram Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru, e Uruguai.Pretendiam criar uma área <strong>de</strong> livre comércio na América Latina. Em 1970, a ALALC se expandiu com a a<strong>de</strong>são<strong>de</strong> novos membros: Bolívia, Colômbia, Equador, e Venezuela. Em 1980, se tornou ALADI. Permaneceu comessa composição até 1999, quando Cuba passou a ser membro.48 Bloco econômico da América do Sul foi inicialmente formado por: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru . Foicriado no ano <strong>de</strong> 1969 para integrar economicamente os países membros. As relações comerciais entre os países.48


O Brasil <strong>de</strong>monstrou interesse em <strong>de</strong>senvolver a cooperação bilateral com aVenezuela, todavia os esforços frustraram-se por não haver a contrapartidaesperada. A<strong>de</strong>mais, a Venezuela e a Argentina temiam a proeminência brasileira naregião e exerceram um papel antagônico para que o Brasil não assumisse ali<strong>de</strong>rança na América Latina. Somente após o Brasil apoiar a elevação dos preços dopetróleo, o país adquiriu maior credibilida<strong>de</strong> junto à diplomacia venezuelana queabdicava em 1977 <strong>de</strong> seu traço isolacionista e buscava maior integração por meio dacooperação ensejando o <strong>de</strong>senvolvimento. A partir <strong>de</strong> então fixaram cooperação nosramos do petróleo, da petroquímica, da mineração e da metalurgia.Outrossim, firmaram as bases para o Tratado <strong>de</strong> Cooperação Amazônica <strong>de</strong>cunho político voltado principalmente à seara da preservação do meio ambiente,direcionamento <strong>de</strong> estudos técnicos climatológicos, saú<strong>de</strong>, transportes entre outras.Todavia, por ocasião da recessão dos anos 80 a América Latina viu-seobrigada a enfrentar <strong>de</strong> forma realista a situação que se <strong>de</strong>lineava. Isso significadizer que cada um dos países voltou seus esforços para o tratamento <strong>de</strong> questõesdomésticas. O projeto encabeçado pela Venezuela para a criação da transnacionalpetrolífera Translatina foi adiado. O Brasil também concentrou esforços para dirimirquestões unilaterais como o Projeto Calha Norte 49 em 1985. Contudo, isso nãosignifica dizer que houve paralisação <strong>de</strong> projetos integracionistas no hemisfério sul,todavia, houve uma <strong>de</strong>saceleração.A Venezuela então passou a se envolver com menor intensida<strong>de</strong> nosassuntos regionais, ao passo que o Brasil assumiu a li<strong>de</strong>rança no subcontinente como projeto <strong>de</strong> integração no Cone Sul a partir das assinaturas em 1986 dos Protocolos<strong>de</strong> Cooperação entre Brasil, Venezuela e Argentina, aliado também ao Compromisso<strong>de</strong> Caracas em 1987, que cuidava da integração ao norte, porém não resultou esteúltimo no sucesso esperado pelo empresariado venezuelano. A esta época a gran<strong>de</strong>preocupação da política externa brasileira era a materialização da <strong>de</strong>mocracia nocontinente e, apesar do presi<strong>de</strong>nte Sarney ter consi<strong>de</strong>rado a cooperaçãovenezuelana, os esforços brasileiros voltaram-se para a formação do bloco do ConeSul, sobressaltando o relacionamento com a Argentina.membros chegam a valores importantes, embora os Estados Unidos da América ainda seja o principal parceiroeconômico do bloco.49 Programa brasileiro dirigido ao zelo da soberania e da primazia da melhora <strong>de</strong> vida dos moradores da regiãoAmazônica.49


O início da década <strong>de</strong> 90 foi bastante conturbado no campo político paraBrasil e Venezuela e os planos neoliberais dos então presi<strong>de</strong>ntes tiveram <strong>de</strong> serreavaliados após o impeachment <strong>de</strong> Fernando Collor <strong>de</strong> Melo no Brasil e <strong>de</strong> CarlosAndrés Perez na Venezuela. Nesse ínterim, mais precisamente em 1992, o entãotenente-coronel Hugo Chávez Frías investiu em um frustrado golpe contra CAP.Contudo, o relacionamento Brasil-Venezuela se estreitou em larga medidadurante as gestões <strong>de</strong> Itamar Franco (1992-1994) e Rafael Cal<strong>de</strong>ra (empossado em1994).Po<strong>de</strong>-se afirmar que o primeiro passo que propiciou oestabelecimento <strong>de</strong> uma cooperação mais sistemática entre Brasil eVenezuela foi a Iniciativa Amazônica, lançada pelo Presi<strong>de</strong>nte ItamarFranco em Buenos Aires, durante o encontro do Grupo do Rio(<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1992) 50 .O Brasil então foi um importante ator para o a<strong>de</strong>nsamento da integraçãolatino-americana que foi estabelecida em gran<strong>de</strong> parte em bases econômicas. Coma consolidação do MERCOSUL, o Brasil necessitava ampliar sua influência que<strong>de</strong>veria se exten<strong>de</strong>r ao norte, quando então o presi<strong>de</strong>nte Itamar Franco lançou em1993 as bases para Área <strong>de</strong> Livre Comércio Sul-Americana, a ALCSA. Dessa forma,Vizentini <strong>de</strong>staca que a cooperação Brasil-Venezuela assumia caráter essencial porexibirem complementarida<strong>de</strong> no que se refere à estratégia do posicionamentogeográfico <strong>de</strong> ambos os países, na confluência <strong>de</strong> interesses em relação àintegração e na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepções acerca <strong>de</strong>ssa problemática.Foi difundida então a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração hemisférica, oamadurecimento das nações sul-americanas e, suprimidas as assimetrias emrelação aos países do Norte, po<strong>de</strong>riam os países do Sul negociar com igualda<strong>de</strong> equiçá iniciar um processo <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> alcance continental.Em março <strong>de</strong> 1994, Brasil e Venezuela assinaram um importante protocoloque norteava os acordos bilaterais <strong>de</strong> ambos os países: o Protocolo <strong>de</strong> Guzmania,on<strong>de</strong> foi ressaltada a importância da consolidação <strong>de</strong>mocrática e a promoção do<strong>de</strong>senvolvimento econômico e justiça social.50 VIZENTINI, 2001, p. 67A Comissão Binacional <strong>de</strong> Alto Nível, integrada pelos respectivosChanceleres, passou a tratar da negociação <strong>de</strong> complementaçãoeconômica e <strong>de</strong> dupla tributação, cooperação fronteiriça, cultural,questões vinculadas à mineração e ativida<strong>de</strong>s envolvendo as ForçasArmadas <strong>de</strong> ambos os países. Além disso, aborda-se o combateconjunto ao narcotráfico, <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> fronteiras, levantamentocartográfico, implementação do projeto SIVAM/SIPAM, cooperação50


na área ambiental, estabelecimento <strong>de</strong> ligação hidrográfica entre asbacias do Amazonas e do Orinoco e a ampliação do Acordo <strong>de</strong>Transporte Terrestre <strong>de</strong> Carga 51 .Consi<strong>de</strong>ra-se, portanto <strong>de</strong> suma importância para o relacionamento bilateralentre os países os regimes <strong>de</strong> Carlos Andrés Perez e Rafael Cal<strong>de</strong>ra, este últimoinclusive manifestara publicamente o ingresso do Brasil como membro permanentedo Conselho <strong>de</strong> Segurança da ONU como representante da América Latina quandodo seu discurso na XLIX Assembléia Geral das Nações Unidas.Somente em 1999 Chávez ascen<strong>de</strong>ria à presidência da Venezuela, contudo,<strong>de</strong>sta vez por meios legítimos, oriundo das urnas. A política externa venezuelana,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ascensão <strong>de</strong> Chávez privilegiou acentuadamente o relacionamento com ospaíses vizinhos em função da integração latino-americana. O país assumiu umimportante papel estratégico para as relações <strong>de</strong> norte a sul no subcontinente sulamericano.Ele então direcionou os esforços da sua política externa para quatroáreas: a Atlântica, a Caribenha, a Andina e a Amazônica.Todavia, como já mencionado anteriormente Chávez exerce a sua diplomaciaao sabor do seu estilo extremista, <strong>de</strong>sagradando, inclusive alguns dirigentes <strong>de</strong>outros países, a exemplo da Colômbia.No que tange ao Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ascensão <strong>de</strong> Hugo Chávez foram firmados22 atos bilaterais entre os anos <strong>de</strong> 2000 a 2008, conforme a tabela 52 <strong>de</strong> tratadosbilateraisEsta tabela diagnostica a relevância do Brasil para a implementação dosprojetos venezuelanos como também, em contrapartida, a importância da Venezuelano que remete ao fornecimento energético, gasoso e petrolífero. Entretanto, nãoobstante a importância do fornecimento dos combustíveis, ele ainda é poucodiversificado. Já em 2001 o petróleo correspondia a 88% das exportaçõesvenezuelanas com <strong>de</strong>stino ao Brasil. O restante se refere às áreas <strong>de</strong> mineração,si<strong>de</strong>rurgia e tecnologia espacial. É, ainda assim um importante parceiro para aalimentação energética para a região amazônica, inclusive em relação à segurança,nos marcos do acordo relativo aos sobrevôos na área <strong>de</strong> fronteira, como também,para coação <strong>de</strong> práticas irregulares nos limites entre esse países como onarcotráfico e a exploração das jazidas <strong>de</strong> minérios.51 Ib<strong>de</strong>m, p. 7052 Vi<strong>de</strong> anexos.51


5.2 VENEZUELA NO MERCOSUL: UMA AMEAÇA À HEGEMONIABRASILEIRA NO SUBCONTINENTE?Em 1995 a Venezuela manifestou interesse em aproximar-se do Mercosul,antes que houvesse uma consolidação da ALCA. Para a articulação <strong>de</strong>ssaconvergência <strong>de</strong> interesses, data <strong>de</strong> 1999 as negociações do Brasil com aComunida<strong>de</strong> Andina, bloco li<strong>de</strong>rado pela Venezuela. Essas negociações se referemao acordo <strong>de</strong> preferência alfan<strong>de</strong>gária para 2.728 produtos até fins <strong>de</strong> 2000 53 . Esseacordo, portanto lançou bases para a subscrição acordo <strong>de</strong> livre comércio entre osdois blocos, o que ensejou, por ocasião da visita <strong>de</strong> Hugo Chávez a Brasília em2001 a solicitação da entrada da Venezuela no Mercosul.Des<strong>de</strong> 2002, portanto a presidência brasileira fora assumida por umpresi<strong>de</strong>nte esquerdista, Luís Inácio Lula da Silva, que, segundo a sua políticaexterna, o Brasil primaria pela multilateralida<strong>de</strong> nos foros internacionais, <strong>de</strong>alinhamento não automático com os Estados Unidos e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o seuposicionamento, voltado à solução <strong>de</strong> outras questões como a superação dosproblemas econômico-sociais. Nesse contexto, a América do Sul tinha umacorrelação <strong>de</strong> intenções <strong>de</strong> atos políticos, o que transformava a região emestratégica para o Brasil.Nosso objetivo era articular a América do Sul, num primeiromomento, para criar uma solidarieda<strong>de</strong> regional. Numa conjunturaadversa, tentamos mudar a correlação <strong>de</strong> forças internacional. Po<strong>de</strong>parecer pretensioso, mas ou se aceita passivamente a correlação <strong>de</strong>forças, ou se tenta alterá-la. Nós interviemos para mudarsignificativamente a região. Penso que tivemos sucesso. Hoje há umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> governos <strong>de</strong> esquerda e <strong>de</strong> centro-esquerda que,embora distintos entre si, buscam pontos <strong>de</strong> convergência. Mesmoadministrações mais conservadoras foram empurradas para essadiretriz feral <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> sul-americana 54 .Todos esses atos coadunam com a intenção do Brasil se tornar lí<strong>de</strong>r perantea sua real proeminência no subcontinente e <strong>de</strong>vido ao prestígio adquirido no cenáriointernacional, além e, principalmente, mediante a observância da convergência <strong>de</strong>interesses, que, entre outros é transformar a América do Sul mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte esoberana por meio da integração.53 CERVO, 2001, p. 176.54 GARCIA, 2006: 0352


A gran<strong>de</strong> diferenciação do Brasil em relação à Venezuela resi<strong>de</strong> exatamentepelo posicionamento mais mo<strong>de</strong>rado do primeiro país. A imagem venezuelana caiuem <strong>de</strong>scrédito por obra das ações <strong>de</strong> Hugo Chávez, tendo por gran<strong>de</strong> ícone anacionalização <strong>de</strong> quatro projetos petrolíferos em 2007 que até o momentopertenciam a empresas estrangeiras, <strong>de</strong>ntre elas Exxon Móbil, Chevron Corp,Conoco e Total. Deve-se a isso também o escandaloso caso do corte <strong>de</strong> permissãoà re<strong>de</strong> RCTV e seus arroubos quando lhe eram oferecidas oportunida<strong>de</strong>s em falarem público, como aconteceu no âmbito da ONU quando o governante venezuelanochamou, o então presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos, George W. Bush, <strong>de</strong> “<strong>de</strong>mônio”.Isso gerou um enorme <strong>de</strong>sgaste político do país junto a tantos outros mundo afora.A falta <strong>de</strong> instrução diplomática do presi<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> até soar engraçada ou como um<strong>de</strong>sabafo, todavia mais do que isso, reflete claramente a falta <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> paratratar <strong>de</strong> assuntos sérios que envolvam necessariamente o compartilhamento <strong>de</strong>espaço e idéias <strong>de</strong> outros países.A Venezuela não é um país <strong>de</strong> economia incipiente, mas é frágil,principalmente porque a sua economia não é bem diversificada. Apesar <strong>de</strong>economicamente muito importante, tendo inclusive crescido 9% em 2005, 10% em2006 e 8% em 2007 55 , e que sua entrada no Mercosul possa significar umrobustecimento da economia do Bloco, também po<strong>de</strong> representar um gran<strong>de</strong> pesopolítico que possa não ser contrabalançada facilmente pelos outros membros, já quea Venezuela comprou 56 US$3,2 bilhões em títulos da dívida argentina e US$100milhões da dívida paraguaia, fez doações para escolas uruguaias. Tudo isso po<strong>de</strong>afetar seriamente a li<strong>de</strong>rança do Brasil no Bloco. O Senado brasileiro não apóia ainserção do país justamente pelas suas atitu<strong>de</strong>s não <strong>de</strong>mocráticas e o Mercosul,como já foi explicitado neste trabalho, também tem a sua Doutrina Betancourt naforma do Protocolo <strong>de</strong> Ushuaia nos seus artigos 3, 4, 5 e 6.Dessa forma, a entradado país po<strong>de</strong>ria significar a instabilida<strong>de</strong> política do Bloco.O Brasil encontra nesse início <strong>de</strong> século XXI uma posição bastanteconsolidada e respeitada no cenário internacional com soberania para <strong>de</strong>cidirseguramente sobre qualquer opção que venha compor a sua agenda <strong>de</strong> políticaexterna. A Venezuela, <strong>de</strong>vido a sua fragilida<strong>de</strong> econômica e a sua diplomaciaaudaciosa não <strong>de</strong>sfruta, portanto <strong>de</strong>sse status alcançado pela nação brasileira.55 LOPES, 2007, p. 62.56 Ib<strong>de</strong>m.53


Dessa forma, o Brasil goza <strong>de</strong> trânsito livre para passear <strong>de</strong> forma profunda nasquestões latino-americanas. Não é plausível que a Venezuela possa oferecer sériorisco para o Brasil, mas não se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as <strong>de</strong>sarticulações que ela possafavorecer. Neste contexto é mais confortável para o Brasil manter as relaçõesbilaterais com a Venezuela e não o encorajando a a<strong>de</strong>ntrar no Mercosul como sóciopermanente do Bloco, que po<strong>de</strong> exaurir o relacionamento já materializado com osoutros países.54


6 CONCLUSÃOO relacionamento do Brasil e da Venezuela foi estabelecido com certadificulda<strong>de</strong>, ao passo que os planos <strong>de</strong> governo <strong>de</strong> ambos os países nãoconvergiam na segunda meta<strong>de</strong> do século XX. Contudo, à exceção <strong>de</strong> 1964 quandopor força da Doutrina Betancourt a Venezuela não estabelecia relacionamentos compaíses não <strong>de</strong>mocráticos, jamais houve dissidências específicas entre os dois paísesque caracterizasse confronto. Ao contrário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70 (do século XX) orelacionamento da Venezuela com os países sul-americanos e em particular com oBrasil, a<strong>de</strong>nsou-se expressivamente pela convergência <strong>de</strong> interesses no campo dacooperação e pelo fato da Venezuela ter manifestado interesse em assumir ali<strong>de</strong>rança no subcontinente - o que implicou necessariamente o estreitamento doslaços com os vizinhos.Posteriormente, com a assunção <strong>de</strong> Hugo Chávez à presidência daVenezuela, o país adotou caráter integracionista, assentando na pauta da agenda dapolítica externa o plano do inspirador Simón Bolívar, procurando ainda mais aesten<strong>de</strong>r sua influência na América Latina. Houve então um relaxamento por parteda Venezuela no que tange ao seu tradicional isolacionismo.A Venezuela mudou o direcionamento da sua política externa, todavia, nãoalterou o seu caráter altivo, acrescendo em larga medida um estilo agressivo eesquerdista, principalmente no que se refere aos mol<strong>de</strong>s neoliberais e tudo que oque lhe traz à baila.Houve então um recru<strong>de</strong>scimento da política nacional <strong>de</strong>senvolvimentista, oque também trouxe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> acordos <strong>de</strong> cooperaçãobilateral com o Brasil em diversos ramos, sobressaltando da parte venezuelana ofornecimento energético, inclusive petrolífero e na cooperação da IniciativaAmazônica, atuando como importante parceiro para refrear ativida<strong>de</strong>s ilícitas por ali<strong>de</strong>senvolvidas.Outrossim, é inegável a proeminência econômica da Venezuela nocontinente, haja vista ser o maior produtor <strong>de</strong> petróleo do mundo, em não seconsi<strong>de</strong>rando o Oriente Médio, como também a importância estratégica geopolítica.Dessa forma, e coadunando com a sua tradicional diplomacia pacificadora énesse sentido que o Brasil tem pon<strong>de</strong>rado suas ações em relação ao país. A<strong>de</strong>mais55


é ponto pacífico que, nesta primeira década do século XXI, o Brasil tem exercidoli<strong>de</strong>rança na América do Sul e o estilo mo<strong>de</strong>rador e não confrontacionista adotadopelo Brasil tem sido uma ferramenta respeitável para galgar articulações nosubcontinente, o que dá bases para o pleito do assento permanente almejado peloBrasil no Conselho <strong>de</strong> Segurança da ONU.Todavia o diferente estilo diplomático Venezuelano <strong>de</strong> revolução permanentetem sido um empecilho para a estabilização da América Latina. A título <strong>de</strong> ilustraçãopo<strong>de</strong>-se observar o caso <strong>de</strong> Honduras e da <strong>de</strong>posição do (ex) presi<strong>de</strong>nte ManuelZelaya, que, à exemplo <strong>de</strong> Hugo Chávez, e por ele apoiado, <strong>de</strong>sejou alterar aconstituição hondurenha para tornar possível a sua reeleição. A constituição <strong>de</strong>Honduras prevê penas para àqueles que intentarem alterar os artigos atinentes aocaso.Talvez a polêmica gerada por Hugo Chávez fosse importante e quiçánecessária num primeiro momento para sacudir ou refrear algumas atitu<strong>de</strong>s queestivessem negligenciando a real situação da América Latina, porém para omomento a revolução parece ser parte apenas <strong>de</strong> um sonho romântico, porquanto arealida<strong>de</strong> mundo afora não nos permite o luxo para planos revolucionários quena<strong>de</strong>m contra a maré do sistema capitalista. Contudo não implica subserviência aosistema, porém cautela e mo<strong>de</strong>ração.A soberania <strong>de</strong> um país não é revelada em números <strong>de</strong> contendas que o paíspossa levantar, mas na competência <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> outras ferramentas capazes <strong>de</strong>alcançar o bem-comum sem o uso da força. A região latino americana necessita nomomento <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> interesses por meio do seu mais legítimo meio para talfim: a diplomacia.O progresso <strong>de</strong>ve ser fomentado e incentivado para que sejam criadascondições favoráveis ao florescimento <strong>de</strong> nações <strong>de</strong>mocráticas que possaproporcionar aos seus cidadãos o bem-estar social. Nesse contexto é mister que adiplomacia seja tomada como uma ferramenta imprescindível na construção <strong>de</strong> umambiente propício à cooperação rumo à sólida integração na esfera regional paraque os países se tornem maduros para as negociações inter-continentais.Talvez seria necessário à Venezuela a alteração do tom <strong>de</strong> seu discurso eprocurar a mo<strong>de</strong>ração, canalizar a sua energia para o robustecimento dos projetos<strong>de</strong> educação e saú<strong>de</strong>, a cooperação, o que aliado ao seu importante recurso natural,atrairá investimentos <strong>de</strong> capital estrangeiro o que favorecerá o <strong>de</strong>senvolvimento do.56


país. A<strong>de</strong>mais, o estilo chavista em nada tem contribuído para a disseminação dai<strong>de</strong>ologia bolivariana, pelo contrário seus métodos tem sido vetor <strong>de</strong><strong>de</strong>sestabilização e provocado receio por parte da comunida<strong>de</strong> internacional em suamaioria.Graças ao amadurecimento e à competência da diplomacia brasileira o Brasiltem conseguido lidar com a situação sem gran<strong>de</strong>s sobressaltos. A postura nãoconfrontacionista não tem diminuído o po<strong>de</strong>rio brasileiro, uma vez que não recuaquando da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> endurecer o tom e se utilizar <strong>de</strong> retaliações como, porexemplo, no caso O<strong>de</strong>brecht no Equador. Do contrário, tem o consagrado comolí<strong>de</strong>r, uma vez que não atua como uma nação imperialista no subcontinente.Perante o exposto, a hipótese <strong>de</strong>ste trabalho se confirma parcialmente,guardando a ressalva <strong>de</strong> que, muito embora o regime venezuelano tenha feridoseriamente os valores <strong>de</strong>mocráticos e atuado como um complicador para oestabelecimento das relações não só com o Brasil, mas em gran<strong>de</strong> parte da AméricaLatina, o relacionamento com este país se a<strong>de</strong>nsou expressivamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> adécada <strong>de</strong> 1990, abandonando assim a Venezuela o caráter isolacionista. O paísnão po<strong>de</strong> ser ainda consi<strong>de</strong>rado um <strong>de</strong>spotismo, uma vez que oficialmente, pelaconstituição é consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>mocrático e por ainda preservar algumas instituições,porém tem <strong>de</strong>sprezado outras <strong>de</strong> igual importância, o que constata não se tratarmais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia vigorosa e com fortes nuances déspotas.... por que <strong>de</strong>veríamos aceitar covar<strong>de</strong>mente as <strong>de</strong>clarações dosdéspotas <strong>de</strong> que são <strong>de</strong>mocratas? Uma serpente venenosa não setorna uma pomba porque o seu dono diz que é. Não importa o queafirmem lí<strong>de</strong>res e propagandistas, um país será uma <strong>de</strong>mocraciaapenas se possuir todas as instituições políticas necessárias à<strong>de</strong>mocracia 57 .Isso leva a acreditar que a <strong>de</strong>mocracia venezuelana mudou apenas <strong>de</strong>estilista, pois como o próprio Chávez criticou o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>mocrático na década <strong>de</strong>90, quando foi ele autor do malogrado golpe <strong>de</strong> 1992, por se tratar <strong>de</strong> uma ditaduravestida com trajes <strong>de</strong>mocráticos.A globalização tem exigido da comunida<strong>de</strong> internacional respeito aos direitoshumanos e preservação da <strong>de</strong>mocracia, que não seja por meio <strong>de</strong> ingerência, maspela rejeição dos regimes <strong>de</strong> países que não tem zelado pela consagração <strong>de</strong>conquistas tão caras à sustentação da tolerância e da convivência mais próxima daharmonia no mundo. Sendo assim, o engajamento do Brasil com os projetos57 DAHL, 2001, p. 11657


venezuelanos <strong>de</strong>vem ser levados adiante quando não representarem ameaças aosplanos brasileiros e nem à estabilização do continente.58


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Acesso em: 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 200964


ANEXOSTabela 2 - Atos bilaterais entre o Brasil e Venezuela (2000 – 2008);TítuloData <strong>de</strong>celebraçãoEntrada emVigorAjuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação 08/02/2000 21/05/2002Técnica para Cooperação TurísticaAcordo sobre Isenção <strong>de</strong> Visto em Passaporte Oficial/<strong>de</strong> Serviço 8/02/2000 31/03/2000Ajuste Complementar ao Acordo Cultural para a Divulgação 06/04/2000 06/04/2000Recíproca <strong>de</strong> Informações nas Áreas <strong>de</strong> Rádio, Televisão eAgências <strong>de</strong> Notícias.Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação 13/08/2001 13/08/2001Técnica na Área <strong>de</strong> Desenvolvimento Agrário.Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre a Secretaria Especial <strong>de</strong> 14/02/2005 14/02/2005Aqüicultura e Pesca da Presidência da República Fe<strong>de</strong>rativa doBrasil e o Ministério <strong>de</strong> Agricultura e Terras da RepúblicaBolivariana da Venezuela.Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério <strong>de</strong> Minas e 14/02/2005 14/02/2005Energia do Brasil e o Ministério <strong>de</strong> Energia e Petróleo daVenezuela sobre Construção <strong>de</strong> Plataformas e Navios.Protocolo <strong>de</strong> Intenções entre o Ministério do Desenvolvimento 14/02/2005 14/02/2005Agrário do Brasil e o Ministério <strong>de</strong> Agricultura e Terras daVenezuela sobre Cooperação na Áreas <strong>de</strong> Agricultura Familiar eReforma Agrária.Declaração do Rio <strong>de</strong> Janeiro sobre o Primeiro Trecho do 18/01/2007 18/01/2007Gran<strong>de</strong> Gasoduto do SulAjuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação 13/12/2007 13/12/2007Técnica para Implementação do Projeto "Desenvolvimento <strong>de</strong>Tecnologias Alternativas para o Processamento <strong>de</strong> Cítricos emPequena Escala"Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para a 13/12/2007 13/12/2007Implementação do Projeto "Fortalecimento da Vigilância eControle dos Resíduos e Contaminantes nos Alimentos daVenezuela"Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para 13/12/2007 13/12/2007implemetação do Projeto "Produção <strong>de</strong> mudas e beneficiamentoecológico do café"Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para aImplementação do Projeto "Produção <strong>de</strong> Mandioca nos Estados13/12/2007 13/12/200765


Anzoátegui e <strong>de</strong> Monangas"Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para a 13/12/2007 13/12/2007Implementação do Projeto "Desenvolvimento Institucional doInstituto <strong>de</strong> Altos Estudos em Saú<strong>de</strong> Doutor Arnoldo Gabaldon"Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para a 13/12/2007 13/12/2007Implementação do Projeto "Capacitação dos Recursos Humanosdo Serviço Autônomo da Controladoria Sanitária da RepúblicaBolivariana da Venezuela em Vigilância e Controle dos Produtos<strong>de</strong> Uso e Consumo Humano"Programa <strong>de</strong> Trabalho em Matéria <strong>de</strong> Cooperação Industrial 13/12/2007 13/12/2007Ajuste Complementar ao Convênio Básico <strong>de</strong> Cooperação para a 13/12/2007 13/12/2007Implementação do Projeto "Apoio Técnico para a implantação eimplementação <strong>de</strong> Bancos <strong>de</strong> Leite humano na Venezuela"Memorando <strong>de</strong> Entendimento em Matéria <strong>de</strong> Sistema <strong>de</strong> Reserva 26/03/2008 26/03/2008<strong>de</strong> AlimentosAcordo Relativo aos Procedimento para Autorização <strong>de</strong> 27/06/2008 27/06/2008Sobrevôos em Área <strong>de</strong> FronteiraMemorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério <strong>de</strong> 27/06/2008 27/06/2008Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior da RepúblicaFe<strong>de</strong>rativa do Brasil e o Ministério do Po<strong>de</strong>r Popular para aEconomia Comunal da República Bolivariana da VenezuelaMemorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério <strong>de</strong> Minas e 27/06/2008 27/06/2008Energia da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil e o Ministério doPo<strong>de</strong>r Popular para a Energia e Petróleo da RepúblicaBolivariana da Venezuela para a Interconexão ElétricaMemorando <strong>de</strong> Entendimento para o Desenvolvimento <strong>de</strong> um 27/06/2008 27/06/2008Centro Binacional em Santa Elena <strong>de</strong> UairénMemorando <strong>de</strong> Entendimento sobre Cooperação Ambiental 27/06/2008 24/12/2008Fonte: Ministério das Relações Exteriores – MRE (http://www2.mre.gov.br/dai/bivenez.htm, adaptado).66

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