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O Teatro como meio de comunicação - Unimar

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TECHNICAL ACOUSTICAL ISSUES TO BE CONSIDERED IN NOISEREGULATIONprepared byGary W. Siebein FASA, FAIAProfessor of ArchitectureUniversity of FloridaSchool of Architecturegsiebein@siebeinacoustic.comwww.siebeinacoustic.comRobert M. Lilken<strong>de</strong>y, INCEAssociate PrincipalSiebein Associates, Inc.Consultants in Architectural Acousticsrlilken<strong>de</strong>y@siebeinacoustic.comABSTRACTThe basis of noise regulation in communities is to maintain healthful,productive environments for people to live, work, play, learn and prospertogether. Noise ordinances are usually <strong>de</strong>veloped to provi<strong>de</strong> maximumsound levels that can be emitted from one property or land use type toanother. The sound level limits are often prescribed using variousphysical measurements of sounds using a sound level meter or some typeof qualitative assessment of the noise such as whether or not it is “plainlyaudible,” “loud,” “raucous,” etc. This paper will review basic acousticalterminology and concepts that attorneys and planners who regulate thesonic environment should be aware of; the relationships between soundmeasurements and the perception of loudness by people; the effects ofnoise on human health and hearing as criteria for noise regulation;standards from ANSI, ASTM and others that proscribe acousticalmeasurement techniques; summarize general types of acousticalregulations in noise ordinances used in various communities; and discussthe applicability of the various types of ordinances for specific noiseissues in communities. Case studies will be presented for amplifiedmusic entertainment noise; industrial noise; transportation noise ofvarious types; and mixed-use district noise issues. Additionally, anemerging field of study called community soundscape <strong>de</strong>sign will bediscussed. Soundscape methods allow communities to not only regulateexcessive noise propagation after plans are executed and buildings arebuilt, but to consciously <strong>de</strong>sign for <strong>de</strong>sirable acoustical qualities as theygrow, re<strong>de</strong>velop and emerge; and to aurally preview and discuss thecommunity soundscape with all involved stakehol<strong>de</strong>rs as one of theconsi<strong>de</strong>rations in the public planning process.2


2Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> MaríliaFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação, Educação e TurismoReitorMárcio Mesquita ServaPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em ComunicaçãoCoor<strong>de</strong>nadora: Profª. Drª. Suely Villibor FloryÁrea <strong>de</strong> ConcentraçãoMídia e CulturaOrientadoraProfª. Drª. Lúcia Correia Marques <strong>de</strong> Miranda Moreira


3Clara Beatriz da Silva DezottiO <strong>Teatro</strong> <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicaçãoUm estudo sobre a utilização do tableau na Proposta Pedagógica <strong>de</strong> Arte doEnsino Fundamental e Médio da Re<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ensino do Estado <strong>de</strong> SãoPauloAprovado pela Banca Examinadora:Nota:Profª. Drª. Andréia Cristina Fregate Baraldi LabegaliniProfª. Drª. Ana Maria GottardiProfª. Drª. Lúcia Correia Marques <strong>de</strong> Miranda MoreiraMarília, 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006.


Dedicado ao meu filho Michel e meu esposoJosé Antonio pelo amor e <strong>de</strong>dicação e à minhamãe Ires que me ensinou a estudar.4


5AGRADECIMENTOSÀ Deus pela oportunida<strong>de</strong> da vida e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seguir em frente.Ao Governo do Estado <strong>de</strong> São Paulo e Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação e à DiretoriaRegional <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Marília por me incluir no Projeto Bolsa Mestrado, o que permitiu meuingresso no Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação e a realização <strong>de</strong>ste trabalho.À Profª. Dra. Lúcia Correia Marques <strong>de</strong> Miranda Moreira pelas orientações, carinho,paciência e a confiança em mim <strong>de</strong>positada e por me fazer encontrar o caminho da ciência.À Profª. Drª. Ana Maria Gottardi e à Profª. Drª. Andréia Cristina Fregate BaraldiLabegalini pela atenção e compreensão que muito contribuíram para a melhoria <strong>de</strong>stapesquisa.À Profª. Drª. Suely Villibor Flory e aos docentes do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação emComunicação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marília e sua contribuição para o <strong>de</strong>senvolvimento doconhecimento.A todos da E.E. Profª Wanda Helena Toppan Nogueira por serem mais que colegas <strong>de</strong>trabalho, pela amiza<strong>de</strong> e parceria na Educação.Aos amigos, que em todas as horas, alegres ou difíceis, não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> acreditar emmim e me incentivaram para continuar.À Élica Luiza Paiva pelo companheirismo e alegria.Ao Dr. Fernando <strong>de</strong> Camargo Aranha, Rafael <strong>de</strong> Mello e Larissa Fontana pelo apoio,colaboração e consi<strong>de</strong>ração.Aos meus antepassados, aos mestres e a todos que amam o teatro.A todos que <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra contribuíram, para que este trabalho pu<strong>de</strong>sseser realizado.E à minha família: meus irmãos Pedro e Marisa, Nina e Benedito e aos meus sobrinhosJoão Francisco, André Luís, Natália e Juliana por compreen<strong>de</strong>rem a minha ausência nesteperíodo <strong>de</strong> estudos.


6AGRADECIMENTO ESPECIALAos meus alunos,Pelo envolvimento no Ensino <strong>de</strong> Arte,e à 8ª série D e 1ª série A do Ensino Médio, <strong>de</strong> 2006, daE.E. Profª Wanda Helena Toppan Nogueira, pela participação nesta pesquisa.


7Se nós, sombras, vos ofen<strong>de</strong>mos,Pensai somente nisto e tudo estará resolvido:Ficastes aqui dormindo,Enquanto apareciam estas visões.E este fraco e humil<strong>de</strong> tema,Que nada mais contém do que um sonho,Gentis espectadores, não o con<strong>de</strong>neis.Se perdoar<strong>de</strong>s, nós nos emendaremos.PUCK em“ Sonho <strong>de</strong> Uma Noite <strong>de</strong> Verão” <strong>de</strong>William Shakespeare


8RESUMOO presente estudo tem <strong>como</strong> objetivo verificar se o teatro po<strong>de</strong> ser um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicaçãona situação ensino-aprendizagem proporcionando a transmissão do conteúdo escolar <strong>de</strong> Arteno Ensino Fundamental e Médio. Portanto, nosso objetivo se retém em estudar o papelpedagógico do teatro que se configura <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens,<strong>de</strong>sempenhando diferentes papéis nas socieda<strong>de</strong>s através dos tempos. Preten<strong>de</strong>mos<strong>de</strong>monstrar que o teatro é um suporte para estabelecer um processo comunicativo entreemissor/docente e receptor <strong>de</strong>stinatário/educando por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> da linguagemteatral, favorecendo significativamente a construção do conhecimento em Arte. Ressaltamosque o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nosso estudo seguiu a proposta pedagógica do Ensino <strong>de</strong> Arte daSecretaria do Estado <strong>de</strong> São Paulo assim <strong>como</strong> os Parâmetros Curriculares Nacionais, sendorealizado com os alunos da E.E. Profª Wanda Helena Toppan Nogueira.Palavras-chave: <strong>Teatro</strong>; Comunicação; Linguagem Teatral; Arte/Educação.


9ABSTRACTThe present study it has as objective to verify if the theater can be a media in the situationteach-learning providing the transmission it pertaining to school content of Art in Basic andAverage Ensino. Therefore, our objective if holds back in studying the pedagogical paper ofthe theater that if configures as media since its origins, playing different papers in thesocieties through the times. We intend to <strong>de</strong>monstrate that the theater is a support to establisha comunicativo process between sen<strong>de</strong>r/professor and receiver addressee/educating by meansof an activity of the teatral language, significantly favoring the construction of the knowledgein Art. We stand out that the <strong>de</strong>velopment of our study followed the proposal pedagogical ofEnsino <strong>de</strong> Arte of the Secretariat of the State of São Paulo as well as the National CurricularParameters, and carried through with the pupils of the E.E. Profª Wanda Helena ToppanNogueira.Key-Words: Theater; Communication; Teatral language; Art/Education.


10SumárioINTRODUÇÃO ......................................................................................................................13CAPÍTULO I - COMUNICAÇÃO – UM PROCESSO ......................................................161.1 O TEATRO E A CONFIGURAÇÃO DE UM PROCESSO COMUNICATIVO..................................201.1.1 O espaço comunicativo do teatro ...........................................................................29CAPÍTULO II – A LINGUAGEM TEATRAL ...................................................................402.1 TEATRO, UM SISTEMA SIMBÓLICO...................................................................................422.2 A MENSAGEM TEATRAL E O CONTEXTO PEDAGÓGICO.....................................................452.3 A MENSAGEM TEATRAL E O CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ESCOLAR.................................50CAPÍTULO III – A ANÁLISE DO TEATRO NA SALA DE AULA ...............................613.1 A PRÁTICA TEATRAL – UM EXERCÍCIO DO PROCESSO COMUNICATIVO ENSINO-APRENDIZAGEM .....................................................................................................................613.2 AS RELAÇÕES COMUNICATIVAS ENTRE EMISSOR E RECEPTOR NO ESPAÇO DE ENSINO-APRENDIZAGEM .....................................................................................................................633.3 “ARRUFOS” ...................................................................................................................713.4 “UMA JOVEM MULHER” (DETALHE) ..............................................................................763.5 “A DANÇA DA VIDA” ....................................................................................................813.6 “DAMA COM ARMINHO”.................................................................................................853.7 “PALAS ATENAS E O CENTAURO”...................................................................................90CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................95REFERÊNCIAS .....................................................................................................................98ANEXOS ...............................................................................................................................100


11ANEXO 1 - ALUNOS DA 8ª SÉRIE D – CICLO II – ENSINO FUNDAMENTAL DA EE PROFESSORAWANDA HELENA TOPPAN NOGUEIRA – MARÍLIA/SP – 2006..............................................101ANEXO 2 - PINTURA X TABLEAU ..........................................................................................104ANEXO 3 - ALUNOS DA 1ª SÉRIE A – ENSINO MÉDIO DA EE PROFESSORA WANDA HELENATOPPAN NOGUEIRA – MARÍLIA/SP – 2006..........................................................................108ANEXO 4 - PINTURA X TABLEAU ..........................................................................................111


12Índice <strong>de</strong> FigurasFIG. 1 - “ARRUFOS”...................................................................................................................71FIG. 2 - TABLEAU – ARRUFOS ....................................................................................................72FIG. 3 - “UMA JOVEM MULHER” (DETALHE).............................................................................76FIG. 4 - TABLEAU – “UMA JOVEM MULHER” (DETALHE) ...........................................................77FIG. 5 - “A DANÇA DA VIDA” ...................................................................................................81FIG. 6 - TABLEAU - “A DANÇA DA VIDA”..................................................................................82FIG. 7 - “DAMA COM ARMINHO”...............................................................................................85FIG. 8 - TABLEAU – “DAMA COM ARMINHO” .............................................................................86FIG. 9 - TABLEAU – “SEM ARMINHO”..........................................................................................87FIG. 10 - “PALAS ATENAS E O CENTAURO”...............................................................................90FIG. 11 - “PALAS ATENAS E CENTAURO” (DETALHE)................................................................91FIG. 12 - TABLEAU – “PALAS ATENAS E O CENTAURO” (DETALHE)...........................................92


13INTRODUÇÃODe um modo geral, a nossa pesquisa preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que o teatro é um <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação e que <strong>de</strong>sempenha diferentes papéis na formação sociocultural do indivíduo.Portanto, nosso objetivo se retém em estudar o papel pedagógico do teatro e sendo assim,neste primeiro capítulo vamos fazer uma abordagem sobre a origem do teatro e sua evolução,que mais adiante vai servir <strong>de</strong> aparato para correlacionar, explicar e <strong>de</strong>monstrar que o teatro,através da sua linguagem, é um suporte para estabelecer um processo <strong>de</strong> comunicação entreemissor/professor e receptor/aluno e/ou receptor/<strong>de</strong>stinatário, caracterizando o processo <strong>de</strong>ensino-aprendizagem. Para tanto, <strong>de</strong>senvolvemos nosso estudo através da propostapedagógica do Ensino <strong>de</strong> Arte do Ensino Fundamental e Médio da Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong>Educação <strong>de</strong> São Paulo, um trabalho com os alunos da 8ª Série D do Ciclo Fundamental II e1ª Série A do Ensino Médio da EE Professora Wanda Helena Toppan Nogueira da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Marília-SP. Vale mencionar ainda que, <strong>de</strong>ntro das diferentes técnicas da linguagem teatralescolhemos o Tableau ou quadro vivo, uma das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão propostas nos jogosteatrais 1 <strong>como</strong> estratégia metodológica no ensino da Estética e História da Arte, que seráexplicada posteriormente.O objetivo do Ensino <strong>de</strong> Arte no Ciclo Fundamental e Médio tem <strong>como</strong> proposta aleitura e produção <strong>de</strong> textos nas linguagens artísticas, ancorada em três eixos que são aprodução, a apreciação estética e a contextualização <strong>de</strong> textos plásticos ou visuais, sonoros,audiovisuais, corporais e cênicos. Então, pressupomos que a partir da produção e leitura <strong>de</strong>textos cênicos elaborados pelos alunos <strong>de</strong>stes Ciclos é possível <strong>de</strong>monstrar que o teatro, <strong>como</strong>suporte, passa a ser o formato que se configura num <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação com umalinguagem específica capaz <strong>de</strong> levar a mensagem, neste caso, o conteúdo programáticoescolar, ou seja, a compreensão e apreciação <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte, até o receptor/<strong>de</strong>stinatário(aluno).1 Os jogos teatrais (theater games) foram originalmente <strong>de</strong>senvolvidos por Viola Spolin (SPOLIN, 1979), com ofito <strong>de</strong> ensinar a linguagem artística do teatro a crianças, jovens, atores e diretores. Através do processo <strong>de</strong> jogose da solução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> atuação, as habilida<strong>de</strong>s a disciplina e as convenções do teatro são aprendidasorganicamente. Os jogos teatrais são ao mesmo tempo ativida<strong>de</strong>s lúdicas e exercícios teatrais que formam a base


14É importante ressaltar que o <strong>Teatro</strong>/educação, segundo Sandra Chacra (1991, p.37), noensino <strong>de</strong> arte ou educação artística, não busca apenas a criação <strong>de</strong> produções teatraispre<strong>de</strong>terminadas, mas preten<strong>de</strong> ampliar e enriquecer os <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> expressão do indivíduo e dogrupo, <strong>de</strong> qualquer faixa etária <strong>de</strong>ntro ou fora da situação escolar, <strong>como</strong> abordaremosposteriormente. Neste contexto, buscar nas origens do teatro suas característicascomunicativas resultará também no resgate do valor da educação artística <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>voltada para a educação, <strong>como</strong> a socieda<strong>de</strong> grega, na qual o teatro, no Período Clássico daHistória da Arte Grega, <strong>de</strong>sempenha um papel importante no resgate religioso e filosófico<strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong>.A relevância do teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação no processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagemé a mola mestra <strong>de</strong>sse estudo, e para seu <strong>de</strong>senvolvimento buscamos na área <strong>de</strong>Comunicação a teoria da sociodinâmica da cultura <strong>de</strong> Abraham Moles, que estabelece o modo<strong>de</strong> comunicação sociocultural e <strong>de</strong> <strong>como</strong> acontece a percepção da mensagem cultural,incluindo o teatro entre estes dois aspectos, assim <strong>como</strong> nos estudos <strong>de</strong> Linda Bulik (2001),sobre a comunicação do homem em situação <strong>de</strong> representação. Para uma introdução à Teoriada Comunicação, nossa pesquisa encontrou nos estudos <strong>de</strong> Luiz C. Martino (2001) e AntonioHohlfeldt (2001), a espistemologia e as origens históricas do fenômeno comunicação, e oimpacto transformador da mídia na teoria social <strong>de</strong> John B. Thompson.Na área <strong>de</strong> teatro, os teóricos principais <strong>de</strong>ste estudo foram Roland Barthes e seusensaios críticos sobre a representação, principalmente nas origens do teatro grego e na suatransformação <strong>de</strong> espetáculo religioso para o teatro que conhecemos ainda hoje, uma arte quese finaliza com a comunicação através <strong>de</strong> uma linguagem própria, cuja natureza efêmera étambém espontânea no homem, conforme explica a teórica Sandra Chacra (1991), na qualtambém ancoramos nossos estudos.Inegavelmente, esta pesquisa também tem correlação com o método dos jogos teatrais<strong>de</strong> Viola Spolin, cujo trabalho tem finalida<strong>de</strong> educativa para as crianças e para todos osinteressados em se expressar por <strong>meio</strong> do palco, e que foi o ponto <strong>de</strong> partida para asproduções <strong>de</strong> textos teatrais elaborados pelos alunos que acompanhamos através <strong>de</strong>ste estudo.Portanto, a organização <strong>de</strong>sta pesquisa compõe-se das seguintes partes:O Capítulo I – trata <strong>de</strong> <strong>como</strong> é estabelecido o processo comunicativo, e <strong>de</strong> <strong>como</strong> oteatro se configura <strong>como</strong> este processo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens ritualísticas até sua transformaçãoem espetáculo leigo, e da importância do espaço neste processo.para uma abordagem alternativa <strong>de</strong> ensino e aprendizagem. KOUDELA, Ingrid Dormien. Texto e jogo. SãoPaulo: Perspectiva: FAPESP, 1996, p.15.


15O Capítulo II – Contém informações sobre a Linguagem Teatral e a produção e leitura<strong>de</strong> textos cênicos na sala <strong>de</strong> aula, que transmitem duas mensagens: a estética e a semântica,segundo Abraham Moles, sobre a recepção da mensagem teatral.No Capítulo III – A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> <strong>como</strong> o teatro se configura <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação no processo ensino-aprendizagem através da produção e recepção da mensagemteatral que neste estudo é o conteúdo programático escolar <strong>de</strong> arte para o ensino Fundamentale Médio da re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> educação.Outro aspecto que <strong>de</strong>vemos ressaltar refere-se ao uso da palavra “transmissão” queocasionalmente surgirá na nossa pesquisa no sentido <strong>de</strong> veicular informações, segundo asteorias da comunicação na situação <strong>de</strong> emissão e recepção <strong>de</strong> uma mensagem através <strong>de</strong> umcanal, que neste caso trata-se da linguagem teatral. Mas reiteramos que a postura teóricometodológicaque está sendo abordada é a proposta pedagógica construtivista adotada peloEstado <strong>de</strong> São Paulo e sugerida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, na qual o alunoconstrói o seu conhecimento em Arte, que se processa quando ele encontra um equilíbrioentre o fazer e o compreen<strong>de</strong>r. A transmissão do conteúdo seria uma forma <strong>de</strong> pedagogiatradicional on<strong>de</strong> o aluno é apenas receptor passivo do conhecimento emitido pelo docente; nanossa análise da utilização da linguagem teatral na situação ensino-aprendizagem<strong>de</strong>monstraremos que o aluno torna-se co-autor <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> forma receptiva mas atuantenas articulações que compõem seus saberes artísticos e estéticos.A relevância do teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação e seu papel pedagógico é o quenosso estudo preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar, pois acreditamos na importância <strong>de</strong>ste <strong>meio</strong> e suacontribuição na construção do conhecimento na situação ensino-aprendizagem, estabelecendouma relação comunicativa entre docente e educando, auxiliando este processo <strong>de</strong> maneirasignificativa.


16CAPÍTULO I - COMUNICAÇÃO – UM PROCESSOA primeira idéia que temos <strong>de</strong> comunicação é a da situação <strong>de</strong> diálogo entre duaspessoas: o emissor e o receptor trocando idéias, informações e mensagens. Mas o fenômenoda comunicação não po<strong>de</strong>ria restringir-se ao diálogo direto entre duas pessoas visto que os<strong>meio</strong>s <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa 2 , por exemplo, também transmitem i<strong>de</strong>ologias através <strong>de</strong>mensagens verbais e não-verbais e, em vez da forma direta, a mídia utiliza um canal e/ou<strong>meio</strong>s técnicos para transmitir mensagens.Segundo Luiz C. Martino (2001, p. 12-13), em sua etimologia, comunicação vem dolatim communicatio, cujo significado é “ativida<strong>de</strong> realizada conjuntamente” e apareceprimeiramente no vocabulário religioso. O autor explica que nos primórdios do Cristianismoexistiam duas tendências para interpretar o isolamento que juntamente com a contemplação,eram as condições para se conhecer e se aproximar <strong>de</strong> Deus. Uma <strong>de</strong>stas tendências eram os“anacoretas”, religiosos que viviam afastados radicalmente do convívio das pessoas. A outratendência é conhecida <strong>como</strong> os “cenobitas”, que viviam em conventos e mosteiros (cenóbios,do grego koenóbion, cujo significado é “lugar on<strong>de</strong> se vive em comum”). Nos mosteiros,ainda segundo o autor, o ato <strong>de</strong> jantar ou <strong>de</strong> tomar a refeição da noite em comum recebeu onome communicatio. O termo communicatio referia-se mais à situação <strong>de</strong> fazer algo <strong>como</strong>utras pessoas do que propriamente ao ato <strong>de</strong> comer, o que o relaciona então à prática <strong>de</strong>romper o isolamento.Po<strong>de</strong>mos perceber que o termo também não nasceu do <strong>de</strong>senvolvimento natural dasrelações sociais entre os homens, mas <strong>de</strong> uma prática que surgiu com a intenção <strong>de</strong> romper oisolamento dos eclesiásticos em <strong>de</strong>terminadas situações <strong>de</strong> convívio entre seus pares:Alguns sentidos importantes se encontram implicados nesse sentidooriginal: 1) o termo comunicação não <strong>de</strong>signa todo e qualquer tipo <strong>de</strong>relação, mas aquela on<strong>de</strong> haja elementos que se <strong>de</strong>stacam <strong>de</strong> um fundo <strong>de</strong>2 Meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa. Sejamos mais precisos: eu usarei a expressão comunicação <strong>de</strong> massa para mereferir à produção institucionalizada e difusão generalizada <strong>de</strong> bens simbólicos através da fixação e transmissão<strong>de</strong> informação ou conteúdo simbólico. THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social damídia. Petrópolis: Vozes, 1998, p.32.


17isolamento; 2) a intenção <strong>de</strong> romper o isolamento; 3) a idéia <strong>de</strong> umarealização em comum. (Martino, 2001, p.13).A comunicação não se configura pelo convívio, também não se aplica ao sentidoplatônico <strong>de</strong> participação que expressa a relação dos seres sensíveis com as Idéias 3 , tampoucotem algo em comum no sentido <strong>de</strong> ter características ou semelhanças entre si. No sentidoetimológico, comunicação já aparece <strong>como</strong> um produto <strong>de</strong> um encontro social, ou seja, umprocesso que é <strong>de</strong>limitado com o tempo, mas não com a idéia <strong>de</strong> viver em comum. Porexemplo, o fato <strong>de</strong> irmos ao teatro assistir a uma peça não consiste numa ação comunicativamesmo sendo uma prática coletiva, e tampouco por ficarmos um <strong>de</strong>terminado tempo juntos(atores e platéia). Para que haja comunicação, cremos que além do emissor (direto ouindireto) e do receptor (direto ou indireto) e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma, <strong>de</strong> um canal (mediador),há a necessida<strong>de</strong> da interação entre ambos.Desse modo, po<strong>de</strong>-se dizer que o termo comunicação não se aplica nem àsproprieda<strong>de</strong>s ou ao modo <strong>de</strong> ser das coisas, nem exprime uma ação quereúne os membros <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>. Ele não <strong>de</strong>signa nem o ser, nem aação sobre a matéria, tampouco a práxis social, mas um tipo <strong>de</strong> relaçãointencional exercida sobre outrem. (MARTINO, 2001, p.14)Portanto, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r, através do autor citado que comunicar é compartilhar,<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado processo, um mesmo objeto <strong>de</strong> consciência, ou seja, é amanifestação que se expressa entre consciências 4 , uma forma <strong>de</strong> ação em comum. O autorexplica que <strong>de</strong>sta forma a comunicação po<strong>de</strong> ser consumada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta “ação emcomum” tenha o mesmo efeito <strong>de</strong> consciência. Precisamos enten<strong>de</strong>r também que “o algo emcomum” manifestado na idéia <strong>de</strong> “ação em comum” não se aplica às coisas materiais ou a suaproprieda<strong>de</strong>, mas sobre outrem, sobre a realização <strong>de</strong> um ato entre duas ou mais consciênciascom objetivos comuns.3 Deve-se distinguir comunicação <strong>de</strong> dois outros termos. O primeiro é “participação”, no sentido platônico. Paraesta tradição filosófica, “participação” expressa a relação dos seres sensíveis com as Idéias: as folhas das árvorese a esmeralda participam do ver<strong>de</strong>, da Idéia <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>. Todavia, comunicar não é “ter algo em comum” no sentido<strong>de</strong> ter algumas características ou proprieda<strong>de</strong>s semelhantes, o termo não se refere à essência ou aos atributos dascoisas [...] E, por outro lado, comunicação não é “ter algo em comum”, apenas por ser membro <strong>de</strong> uma mesmacomunida<strong>de</strong>. MARTINO, Luiz C. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 2 ed. Petrópolis:Vozes, 2001, p.14.4 Consciência: atributo altamente <strong>de</strong>senvolvido na espécie humana, pelo qual o homem toma, em relação aomundo e a seus estados interiores, aquela distância em que se cria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> níveis mais altos <strong>de</strong>integração, conhecimento, noção, idéia. CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira daLíngua Portuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.208.


18Relacionando ao nosso objeto <strong>de</strong> estudo, o processo <strong>de</strong> comunicação acontece quandoo professor e o aluno se envolvem na emissão e recepção <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada mensagem (oconteúdo programático), e nesta ação comunicativa, passam a compartilhar do mesmoconhecimento. Acreditamos que a utilização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado canal, neste caso, alinguagem do teatro, possibilitará esta ação comunicativa <strong>como</strong> um estímulo gerador quelevará o aluno à análise e reflexão das informações percebidas.Para que a mensagem ou informação se estabeleça <strong>como</strong> comunicação é preciso queela seja tomada <strong>como</strong> conteúdo simbólico, ou seja, quando esta representa algo para alguém.Portanto, para que o professor utilize o teatro <strong>como</strong> suporte para estabelecer uma forma <strong>de</strong>comunicação com seu aluno na intenção <strong>de</strong> transmitir e compartilhar <strong>de</strong>terminado conteúdo, énecessário que este aluno participe <strong>de</strong> experiências com a linguagem teatral que possibilitemseu diálogo com a realida<strong>de</strong>, por <strong>meio</strong> da expressão <strong>de</strong> sua criativida<strong>de</strong>; conforme explica aProposta Curricular para o Ensino <strong>de</strong> Educação Artística no Ensino Fundamental (1997,p.20): “Todo indivíduo precisa participar <strong>de</strong> experiências com os signos verbais (palavras), enão-verbais (linhas, cores, formas, espaços, luzes, sons, ritmos, movimentos corporais,odores) para que elas se traduzam em conceitos significativos”.A peça <strong>de</strong> teatro só se qualifica <strong>como</strong> mensagem quando acontece a interação ourelação entre emissor e receptor, nesta situação, palco e platéia. Se não houver esta relação <strong>de</strong>compreensão entre ator e público – <strong>de</strong>codificação da informação por parte <strong>de</strong>ste - então a peça<strong>de</strong> teatro torna-se apenas um suporte material, condição necessária para a comunicação, masnão <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação efetivamente. Então, para que a comunicação realmenteaconteça, a mensagem tem <strong>de</strong> ser recebida e <strong>de</strong>codificada pela platéia. “Por comunicaçãoenten<strong>de</strong>mos a recepção <strong>de</strong> uma informação, isto é, uma novida<strong>de</strong> que, aos olhos doespectador, po<strong>de</strong> ou não tomar forma <strong>de</strong> um significado, po<strong>de</strong> ou não traduzir por umasignificação”. (BULIK, 2001, p. 108)Enten<strong>de</strong>mos que, o palco, o espaço cênico, a fala dos atores, sua linguagem visual egestual <strong>como</strong> expressões, movimentos, indumentária, cenografia, são um suporte material ou<strong>meio</strong> para que se transmita a mensagem para ser lida ou interpretada pelos receptores e,portanto, compartilhada, estabelecendo-se uma relação ou comunicação. O emissor no teatroconstitui-se <strong>como</strong> o ator, diretor/encenador, na ação dramática, na realização do espetáculo.Como receptor temos o público que po<strong>de</strong> ou não conhecer os aspectos <strong>de</strong>codificadores damensagem; se conhecer conseguirá <strong>de</strong>codificar e interpretar aqueles elementos materiais queforam elaborados por outra consciência, esta informação será formatada. Não <strong>de</strong>vemos nos


19esquecer <strong>de</strong> que informar no sentido etimológico é dar forma a, e na consciência do receptor,portanto, esta informação constitui-se <strong>como</strong> comunicação.O suporte ou material é algo necessário para toda informação; no caso do teatro, tudoo que acontece no palco é um código, ou seja, a organização <strong>de</strong>sses traços materiais,compondo-os, organizando-os por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> um código e transformando-os na representaçãoou espetáculo teatral. Luiz C. Martino (2001, p.18), diz que os traços materiais permitem umareação no psiquismo do receptor <strong>de</strong> forma que possa se assemelhar ao psiquismo do emissor.O objeto <strong>de</strong> consciência do emissor é recebido pela consciência do receptor por <strong>meio</strong> <strong>de</strong>traços materiais organizados em um código, tornando, portanto, a informação veiculada emalgo comum entre emissor e receptor, assim a informação é parte do processo <strong>de</strong> comunicaçãoou mesmo seu sinônimo. E para outros autores, segundo Martino, informação <strong>de</strong>signa oconteúdo do processo <strong>de</strong> comunicação, enquanto que o termo comunicação expressa a relaçãoentre consciências ou pessoas. Assim, Luiz C. Martino conclui que:Enfim, se a i<strong>de</strong>ntificar com o plano material do processo, po<strong>de</strong>-se dizer queuma informação é comunicação em potencial, se levarmos em conta a suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser estocada, armazenada (codificada) e reconvertida numsegundo momento (<strong>de</strong>codificada) (MARTINO, 2001, p. 18).No processo ensino-aprendizagem pensamos no teatro não apenas <strong>como</strong> suporte, mas<strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação, para estabelecer uma relação comunicativa com seu aspectomaterial - a linguagem teatral – condição necessária para a produção <strong>de</strong> textos cênicos que sãocapazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a reflexão num processo que envolverá professor e aluno, cujo resultadopossibilitará uma gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do educando com aquilo que ele consegue adquirir nasala <strong>de</strong> aula, ou seja, o processo <strong>de</strong> construção do conhecimento do conteúdo programáticoescolar.O teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação no âmbito escolar po<strong>de</strong>rá estabelecer a relaçãocomunicativa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o professor/emissor faça, através da linguagem teatral, chegar amensagem, conteúdo, até seu receptor/<strong>de</strong>stinatário <strong>de</strong> maneira que este último possa assimilála.Pressupomos então que o teatro constitui-se <strong>como</strong> comunicação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que consigaestabelecer uma relação tal entre emissor e receptor através <strong>de</strong> um processo, no qual ainformação só será ativada na mensagem transmitida se, a outra consciência, a receptadora,resgatar, <strong>de</strong>codificar e interpretar os traços materiais <strong>de</strong> maneira a reconstituir a mensagem.


20Na situação <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, o aluno que é o receptor/<strong>de</strong>stinatário, além <strong>de</strong><strong>de</strong>codificar a mensagem, ou seja, o conteúdo emitido pelo professor, em algumas situações,torna-se emissor/codificador para expressar o que assimilou e, portanto, compartilhar com oprofessor e com os colegas, assumindo o papel <strong>de</strong> leitor e <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> textos na linguagemcênica, e <strong>de</strong> construtor <strong>de</strong> sua aprendizagem. Este aspecto po<strong>de</strong> ser observado no conteúdocurricular para o Ensino <strong>de</strong> Arte no Ciclo Fundamental e Médio: a leitura e produção <strong>de</strong>textos nas linguagens da arte, que explicaremos posteriormente.Assim, <strong>de</strong>monstraremos no último capítulo <strong>de</strong>ste estudo <strong>como</strong> a linguagem teatralpo<strong>de</strong> ser um suporte para que a comunicação entre o professor e o aluno aconteça,estabelecendo a relação ensino-aprendizagem <strong>de</strong> maneira satisfatória. Acreditamos que antes<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrarmos nas origens do teatro fez-se necessário uma contextualização acerca doprocesso <strong>de</strong> comunicação e o seu papel pedagógico, para situarmos nosso leitor na proposta<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que o teatro é um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação. Mais adiante, preten<strong>de</strong>mosexemplificar este processo comunicativo através do Tableau, técnica <strong>de</strong> linguagem teatral quefoi utilizada na transmissão e compreensão <strong>de</strong> conteúdos relacionados à Estética e História daArte.1.1 - O teatro e a configuração <strong>de</strong> um processo comunicativoAntes <strong>de</strong> iniciarmos o estudo sobre as origens do teatro acreditamos ser necessárioesclarecer <strong>como</strong> acontece o processo que conduz naturalmente à expressão dramática nosindivíduos e consequentemente à situação <strong>de</strong> representação teatral.Po<strong>de</strong>mos observar o impulso <strong>de</strong> dramatização no homem <strong>como</strong> parte do seucomportamento e <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong> na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar diferentes papéis,na sua relação do eu-e-o-outro-no-aqui-agora e também no faz-<strong>de</strong>-conta que é uma situaçãoficcional. O jogo do faz-<strong>de</strong>-conta é uma simulação, não é realida<strong>de</strong>, e acontece nasbrinca<strong>de</strong>iras das crianças, que chamaremos <strong>de</strong> jogo simbólico, assim também acontecia nosrituais do homem primitivo e que são manifestações espontâneas <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong> primáriaresultado <strong>de</strong> transformações simbólicas do cérebro humano. Foi essa capacida<strong>de</strong> espontânea<strong>de</strong> representação dramática que evoluiu para o teatro, conforme explica Sandra Chacra (1991,p. 49).A criança imita o que vê à sua volta, assim <strong>como</strong> também fazia nosso ancestral préhistóricoem contato com o <strong>meio</strong>/natureza on<strong>de</strong> vivia. Para a criança o jogo simbólicoacontece naturalmente a partir dos dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e faz parte <strong>de</strong> sua inteligência, ou seja,


21para compreen<strong>de</strong>r o mundo real no qual está inserido e em processo <strong>de</strong> adaptação; portanto, éna brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> faz-<strong>de</strong>-conta que encontra equilíbrio afetivo e intelectual.O ritual do homem primitivo era muito simples no início e foi se tornando maiscomplexo com sua evolução, e assim também a criança passará da imitação, através doprocesso simbólico, no qual o prazer <strong>de</strong> criar e <strong>de</strong> reproduzir faz parte do seu<strong>de</strong>senvolvimento <strong>como</strong> ser humano, para a expressão dramática.A imitação passará para um estágio mais complexo pelo processo <strong>de</strong> transformaçãosimbólica, <strong>de</strong> reprodução experimentada, ou seja, um estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento mental, quepreencherá <strong>de</strong> significados a conduta humana tanto no seu aspecto lógico <strong>como</strong> psicológico.Para Sandra Chacra (1991, p.50), a evolução dos impulsos da primeira infância <strong>como</strong>o instinto <strong>de</strong> lalação, da sensibilida<strong>de</strong> para a expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer tipo, dará origem àsformas <strong>de</strong> manifestações artísticas e sendo a mimese 5 uma tendência do homem, assim <strong>como</strong>a sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simbolização, encontramos (então) os fundamentos do teatro. O instinto<strong>de</strong> lalação naturalmente se encaminhará para o simbolismo verbal, assim <strong>como</strong> o gesto, que éo resultado do movimento espontâneo do corpo, é a origem do simbolismo gestual. A palavra,simbolismo verbal, e o gesto, simbolismo gestual, fundamentam o teatro, pois a palavra seestabelecerá <strong>como</strong> texto ou, peça teatral; e o gesto, <strong>como</strong> <strong>de</strong>sempenho do ator ou atuação,conforme explica Sandra Chacra (1991, p. 50).Devemos ressaltar que a representação dramática tem uma ligação muito próxima aoprocesso social, conforme explica Moreno, citado por Sandra Chacra (1991, p. 52), poisatravés do <strong>de</strong>senvolvimento das fases <strong>de</strong> imitação, i<strong>de</strong>ntificação, projeção e transferência <strong>de</strong> sino outro, a criança personificará os papéis necessários para viver no seu psicogrupo.Sabemos que o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um papel é a natureza da experiência dramática, poisestá relacionado ao movimento corporal, a linguagem verbal, emblemas, vestimentas, etc, ouseja, tudo aquilo que se encontra na interpretação <strong>de</strong> uma personagem pelo ator. É umprocesso <strong>de</strong> interação entre o eu e o papel ou entre o eu e o ser humano, e será útil na suasituação social. No entanto, a expressão dramática na vida real dos indivíduos é diferente daexpressão dramática ficcional, e esta diferença é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estética: o teatro do palcofundamenta-se no teatro da vida, pois na arte a compreensão da realida<strong>de</strong> é diferente. Existem3 níveis <strong>de</strong> expressão dramática, o subjetivo, que é a manifestação espontânea na criança do5 Mimese: Termo-chave para qualquer discussão acerca da criação artística. Para Aristóteles (384-322 a.C.) queo termo converteu-se na idéia central do processo <strong>de</strong> criação em arte. Para Aristóteles, a imitação é algoinstintivo ao homem. Assim sendo, este se expressa artisticamente reproduzindo a realida<strong>de</strong> que o cerca,“imitando” essa realida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> representação. VASCONCELLOS, Luiz Paulo da Silva.Dicionário <strong>de</strong> teatro. Porto Alegre: L&PM, 1987, p. 104.


22impulso <strong>de</strong> dramatização, <strong>como</strong> vimos anteriormente; o segundo nível é o expressivo ou seja,a reação espontânea a uma situação real e presente constitui-se na auto-expressão, nacondição <strong>de</strong> (dar oportunida<strong>de</strong>) possibilitar o que vai na subjetivida<strong>de</strong> emocional; finalmente,o terceiro nível, que é o teatral. O terceiro nível <strong>de</strong> expressão dramática, o teatral, configura-sena expressão que é repetida pelo jogo e pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> jogar; o nível teatral é arte, forma <strong>de</strong>expressão, ou seja, a criação <strong>de</strong> formas simbólicas 6 do sentimento humano e sendo assimpo<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que o conhecimento simbólico extrapola o campo da existência realtornando-se ficcional, conforme afirma Sandra Chacra (1991, p. 52).A expressão teatral po<strong>de</strong> ser entendida então <strong>como</strong> o controle da espontaneida<strong>de</strong> doprimeiro nível, a consciência e o uso <strong>de</strong> um simbolismo específico e a<strong>de</strong>quado em função doqual a representação dramática é teatral no seu sentido estético.Acreditamos que esta capacida<strong>de</strong> natural do ser humano para a imitação econsequentemente <strong>de</strong> simbolização e jogo na infância, assim <strong>como</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>representação por <strong>meio</strong> da ação dramática ou teatral po<strong>de</strong> ser um aliado na situação <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.Pressupomos que a partir do contato com a linguagem teatral, os alunos estãosendo preparados para serem leitores críticos capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar as mensagens implícitasnas informações veiculadas por este <strong>meio</strong>, o que certamente po<strong>de</strong>rá inferir no processocultural da socieda<strong>de</strong> na qual estão inseridas.A linguagem teatral constitui-se <strong>como</strong> um canal entre o professor, o conjunto <strong>de</strong>conteúdos e os alunos, que po<strong>de</strong>mos comparar, na relação comunicativa, a receptores<strong>de</strong>stinatários que <strong>de</strong>codificarão a mensagem emitida, atingindo os objetivos propostos pelosParâmetros Curriculares Nacionais para o <strong>de</strong>senvolvimento das linguagens e da formaçãoartística e estética dos alunos:A área <strong>de</strong> arte que se está <strong>de</strong>lineando neste documento visa a <strong>de</strong>stacar osaspectos essenciais da criação e percepção estética dos alunos e o modo <strong>de</strong>tratar a apropriação <strong>de</strong> conteúdos imprescindíveis para a cultura <strong>de</strong> criar umcampo <strong>de</strong> sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer oentendimento da riqueza e diversida<strong>de</strong> da imaginação humana (BRASIL,1998).6 Formas simbólicas: símbolo aparece <strong>como</strong> “aquilo que, por sua forma ou sua natureza ou por princípio <strong>de</strong>analogia, representa ou substitui outra coisa (...) Po<strong>de</strong> significar, também, “elemento <strong>de</strong>scritivo ou narrativosuscetível <strong>de</strong> dupla interpretação associada quer ao plano das idéias, quer ao plano real”; e, ainda, alegoria,comparação metáfora. MATE, Alexandre. Educação com arte. Série idéias; nº 31. São Paulo: FDE, Diretoria <strong>de</strong>Projetos Especiais, 2004, p.92.


23Portanto, estabelecer uma relação comunicativa entre professor e aluno através <strong>de</strong> um<strong>meio</strong> para que ambos possam refletir um mesmo objeto <strong>de</strong> consciência, ou seja, os conteúdosescolares sobre arte e os modos <strong>de</strong> produção e aplicação <strong>de</strong>sses conhecimentos na socieda<strong>de</strong> épapel fundamental da escola.Como já ressaltamos nosso estudo tem <strong>como</strong> objetivo estudar o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação entre o professor/emissor e o aluno/receptor <strong>de</strong>stinatário, sendo eficaz natransmissão e aquisição da mensagem/conteúdo <strong>de</strong> arte, envolvendo o aluno <strong>como</strong> construtor<strong>de</strong> seu conhecimento e o professor, que atua <strong>como</strong> questionador, instigador e colaborador dareflexão para a formação <strong>de</strong> conceitos significativos necessários para a aprendizagem. Paratanto, faremos um breve resgate da comunicação teatral e <strong>de</strong> suas origens que preservaram osaspectos do sagrado mesmo quando em sua evolução, o espetáculo tornou-se leigo. Nestecontexto, também faremos uma investigação das origens do teatro no oci<strong>de</strong>nte com umaanálise do espetáculo grego nos séculos V e IV a.C. e <strong>como</strong> se estabeleceu a interação entrepalco/emissor e platéia/receptor na socieda<strong>de</strong> ateniense daquele período.Acreditamos que é possível, por <strong>meio</strong> <strong>de</strong>ste breve resgate, traçar um parâmetro dasorigens do teatro mo<strong>de</strong>rno, que tem suas raízes no teatro grego da antiguida<strong>de</strong>, e suascaracterísticas comunicativas com o trabalho <strong>de</strong>senvolvido na proposta pedagógica do ensino<strong>de</strong> arte com os alunos da re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> São Paulo.Ao <strong>de</strong>senvolver a linguagem teatral nas aulas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> arte, além da relaçãocomunicativa, estabelecemos um vínculo natural com a situação <strong>de</strong> ensino-aprendizagematravés dos jogos simbólicos; acreditamos que conseguiremos também atingir um dosobjetivos <strong>de</strong>sta área que é a apreciação estética. A apreciação estética compreen<strong>de</strong> umareflexão, os sentimentos provocados pelo belo artístico, então na história da arte o alunoencontrará as formas com as quais o conhecimento humano permite a estruturação eorganização do mundo pelo homem em processo constante <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> si e darealida<strong>de</strong> na qual está inserido. Neste contexto, po<strong>de</strong>mos buscar nas origens do teatro e daprópria história da arte, portanto, o seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>como</strong> um dos <strong>meio</strong>s pelos quais osindivíduos estabelecem um processo <strong>de</strong> comunicação, e troca <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> conteúdosimbólico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as socieda<strong>de</strong>s mais remotas.A história do teatro confun<strong>de</strong>-se com a história do homem e sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>comunicação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, quando o nosso ancestral primitivo tentou entrar em contatocom as forças da natureza imitando seus sons e movimentos <strong>de</strong> maneira instintiva e passandoa usar máscaras <strong>como</strong> disfarce. Os <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> expressão do homem primitivo, inicialmentesimples ficaram mais complexos e, aos poucos, evoluíram para os ritos nos quais incluíram


24evoluções rítmicas, danças, símbolos e representações mais elaboradas. Assim, naAntiguida<strong>de</strong>, já foram colocadas em ação as regras das festivida<strong>de</strong>s religiosas, numa tentativa,provavelmente, <strong>de</strong> estabelecer uma forma <strong>de</strong> comunicação que servia para mediar os sereshumanos e os <strong>de</strong>uses, conforme abordaremos a seguir.Segundo a história, o teatro nasceu do rito e foi sucedido pelo espetáculo - aquilo queatrai o olhar - e que, segundo Linda Bulik (2001, p.48), colocaria o espetáculo, portanto, <strong>como</strong>um modo <strong>de</strong> participação entre emissor e receptor, assim <strong>como</strong> entre os iniciados, ossacerdotes, e os não-iniciados, o público, nas cerimônias religiosas, o que lhe atribuicaracterísticas comunicativas. Segundo Sandra Chacra:É curioso notar que nas suas origens o teatro era um ritual, um jogosagrado, on<strong>de</strong> o público <strong>de</strong>sempenhava um papel ativo <strong>de</strong>ntro da cerimôniareligiosa. Tratava-se <strong>de</strong> uma assistência bastante homogênea, do ponto <strong>de</strong>vista sócio-cultural, iniciada nos procedimentos do rito capaz <strong>de</strong> serrelativamente sensibilizada pelas mesmas emoções, sendo, por isso, sobesse aspecto, infenso à improvisação. À medida que o teatro evolui, opúblico vai <strong>de</strong>ixando gradativamente <strong>de</strong> ser participante para se tornar“espectador”(CHACRA, 1991, p.91).O jogo então é o princípio do teatro, pois era praticado <strong>como</strong> um ritual lúdico nopassado remoto, assim <strong>como</strong> as crianças brincam <strong>de</strong> maneira espontânea por <strong>meio</strong> do jogosimbólico e que evoluirá para as primeiras manifestações dramáticas, e consequentementepara os jogos dramáticos e para os jogos teatrais.O rito configura-se <strong>como</strong> um conjunto <strong>de</strong> regras que se <strong>de</strong>ve observar na práticareligiosa, portanto, o rito é uma forma ou ato <strong>de</strong> comunicação com as divinda<strong>de</strong>s. Nesteaspecto, o rito inclui o mito, segundo Emile Noël, citado por Linda Bulik (2001, p.57). Nestecontexto po<strong>de</strong>mos verificar que o mito sempre apresenta um conteúdo simbólico;representação i<strong>de</strong>alizada <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> em um passado remoto ou num futurofictício, segundo Antonio Cunha 7 (1986, p.535).O espetáculo, assim <strong>como</strong> o teatro, está relacionado com aquilo que atrai o olhar doreceptor, e o teatro é o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se vê, ou <strong>como</strong> se explicaria no passado clássico, umlugar para “olhar os <strong>de</strong>uses <strong>de</strong>scerem” (BULIK, 2001, p.45). Percebemos neste contexto ocaráter ritualístico do teatro, que se encontra no rito e na repetição <strong>de</strong> um arquétipo e na sua


25relação com o simbólico, pois mito é uma narrativa, ou seja, estrutura portadora eorganizadora <strong>de</strong> símbolos.Na passagem do culto 8 ao rito e do rito ao espetáculo é o mito que, <strong>como</strong> elemento <strong>de</strong>transformação, mantém o caráter religioso e reafirma esta i<strong>de</strong>ologia no espetáculo.Segundo Mircea Elia<strong>de</strong>, citado por Jabouille, na Introdução à Edição Portuguesa doDicionário da Mitologia Grega e Romana <strong>de</strong> Grimal,(...) o mito conta uma história sagrada; relata um acontecimento que tevelugar no tempo primordial, no tempo fabuloso das origens. Por outraspalavras, o mito conta <strong>como</strong>, graças ao actos dos seres sobrenaturais, umarealida<strong>de</strong> teve existência, quer seja a realida<strong>de</strong> total, o Cosmo, ou apenasum fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano,uma instituição. É, pois, sempre uma narrativa <strong>de</strong> uma criação: conta-se<strong>como</strong> qualquer coisa foi produzida, <strong>como</strong> começou a ser. O mito não falasenão naquilo que aconteceu realmente, naquilo que se manifestoucompletamente, as personagens do mito são Seres Sobrenaturais(JABOUILLE apud GRIMAL, 1997, p. XIII).Jabouille explica ainda que Elia<strong>de</strong> tenta <strong>de</strong>finir o mito a partir dos trabalhos <strong>de</strong> Jung esua teoria dos arquétipos; para Jung, discípulo e posteriormente dissi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Freud,consi<strong>de</strong>rado o pai da psicanálise, arquétipos são os her<strong>de</strong>iros do passado mais remoto, ou seja,são aqueles traços que se tornaram hereditários das primeiras experiências existenciais dohomem perante a natureza, a si próprio e aos outros homens. Deste modo, Jung mostra que osarquétipos são maneiras <strong>de</strong> comportamento universal típico, o que correspon<strong>de</strong> a formas <strong>de</strong>conduta biológica ou a princípios regulamentados ou a formas primárias <strong>de</strong> experiência.Assim, os arquétipos são manifestações inconscientes ou forças que se impõem às imagenspróprias dos indivíduos. No entanto, o arquétipo não é uma imagem, mas trata-se do impulsoque dá origem a imagens, e o símbolo é a explicação <strong>de</strong> um arquétipo <strong>de</strong>sconhecido. Estateoria <strong>de</strong> Jung explica o inconsciente individual e o inconsciente coletivo, que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir aestrutura mental que se materializa na mitologia: “Os produtos arquetípicos não se apresentam<strong>como</strong> mitos já formados, mas <strong>como</strong> elementos míticos, <strong>como</strong> motivos. O mito é, pois, a7 CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Nova Fronteira, 1986, p.535.8 Culto: adoração ou homenagem à divinda<strong>de</strong> em qualquer <strong>de</strong> suas formas e em qualquer religião. I<strong>de</strong>m. p.233


26projecção <strong>de</strong> uma forca psíquica que parte <strong>de</strong> um objecto real e o transfere na representação”(JABOUILLE apud GRIMAL, 1997).Assim o mito, na sua configuração, possui características dramatúrgicas pois o mito éforma simbólica <strong>de</strong> representação das percepções <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado grupo, e segundo LuizPaulo da Silva Vasconcellos (1987, p. 131), trata-se, portanto, da expressão das verda<strong>de</strong>s edos valores <strong>de</strong>sse grupo, o que o aproxima da matéria-prima i<strong>de</strong>al para o drama; tambémAristóteles (384-322 a. C.) <strong>de</strong>monstra aspectos dramatúrgicos para o mito o qual, segundo ofilósofo grego, correspon<strong>de</strong> à imitação <strong>de</strong> ações, ou seja, é sinônimo <strong>de</strong> fábula, enredo,intriga.Po<strong>de</strong>mos dizer então que o mito é o elemento <strong>de</strong> transformação do espetáculoreligioso em espetáculo leigo, <strong>de</strong> entretenimento, mas que aos poucos também adquiriuaspectos intelectuais.Para enten<strong>de</strong>rmos o espetáculo teatral e suas origens no sagrado citamos Linda Bulik(2001, p.48-49):Admitamos que, naquilo que aqui interessa, supõe-se a co-presença doespetáculo e do público, que po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir por formar (um tempo, umlugar) e que po<strong>de</strong> ser ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> práticas rituais ou convencionais(iniciatórias, <strong>de</strong> abertura , <strong>de</strong> encerramento...). mais próximo do teatroentão, <strong>como</strong> sugere Belaval (op cit:11), o espetáculo é o ato comum do atore do espectador.Ao explicar as características comunicativas das origens do espetáculo teatral, LindaBulik retém a idéia <strong>de</strong> que o espetáculo é tudo o que na or<strong>de</strong>m do divertimento regulado,transmite algo para ser visto por um público espectador.Linda Bulik (2001, p.48) explica, segundo Noël que o mito e o rito pertencem à esferado sagrado enquanto cerimônia, jogo, festa e espetáculo, situam-se no âmbito do profano mascom evidências do sagrado.Nestes aspectos ritualísticos das origens do espetáculo encontramos a situação <strong>de</strong>comunicação em geral,Quem diz o quêPara quemEm que circunstânciasE com que efeitos?(BULIK, 2001, p.29).


27Ainda segundo Noel, este esquema aproxima-se da leitura sociodinâmica do teatro <strong>de</strong>Abraham Moles 9 e também do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Harold D. Lasswell, na visão <strong>de</strong> Antonio Hohlfeldt(2001, p.79): emissor (fonte) – mensagem – receptor. Contudo, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunicaçãoproposto por Lasswell será abordado posteriormente neste estudo quando <strong>de</strong>stacaremos asorigens da comunicação.O espetáculo teatral, portanto, contém <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens, aspectos comunicativos queforam preservados ao longo dos tempos, e isto fez com que o teatro, <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação, tenha <strong>de</strong>senvolvido diversos papéis nas socieda<strong>de</strong>s. Ao estudarmos atransformação do espetáculo e sua evolução até sua configuração atual, encontramos naantiguida<strong>de</strong> clássica todos os elementos que o situam entre o sagrado e o profano, assim <strong>como</strong>suas características comunicativas preservadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suas origens.O estudo das origens do teatro e sua importância para a socieda<strong>de</strong> grega nos séculos Ve IV a.C. também nos proporciona o entendimento da educação artística daquele povo.Acreditamos que a valorização do espetáculo teatral pela socieda<strong>de</strong> grega trará elementos quenos aproximam <strong>de</strong> nossa proposta: o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação no processo <strong>de</strong>ensino-aprendizagem.As transformações do espetáculo religioso em espetáculos leigos na Grécia originarama principal manifestação cultural dos gregos, e que se reflete até hoje entre nós, segundoAntonio Hohlfeldt (2001, p.66). Nas práticas religiosas ligadas às ativida<strong>de</strong>s agrícolas, <strong>como</strong>os cultos <strong>de</strong>dicados a Dionísio, o <strong>de</strong>us grego da vinha, do vinho e do <strong>de</strong>lírio místico na épocaclássica, encontra-se, provavelmente, a origem do teatro trágico e cômico e as raízes do teatromo<strong>de</strong>rno.Dionísio era festejado com procissões tumultuosas nas quais figuravam, evocados pormáscaras, os gênios da terra e da fecundida<strong>de</strong>, segundo o Dicionário da Mitologia Grega eRomana, <strong>de</strong> Pierre Grimal (1997). Na Grécia Clássica, nos séculos V e IV a.C. estatransformação foi marcante: os cultos dionisíacos geraram o espetáculo do teatro grego apartir da transformação <strong>de</strong> seu rito em espetáculo, com um sentido <strong>de</strong> divertimento que seopunha ao caráter religioso do rito. No entanto, à medida que este espetáculo/teatro evoluiu,também adquiriu uma característica cada vez mais cívica. Portanto, para a socieda<strong>de</strong> grega naépoca clássica, o teatro é ao mesmo tempo religioso e cívico. Enquanto o culto a Dionísio9 Abraham Antoine Moles: autor da sociodinâmica da cultura que tem por objetivo conceituar o fenômenocultural no “quadro doutrinal” das Ciências Humanas, cujo objetivo é “o operador humano”. Todas essasCiências Humanas preten<strong>de</strong>m constituir um conhecimento objetivo do homem enquanto “sistema reativo”.BULIK, Linda. Comunicação e teatro: por uma semiótica do Odin Teatret. São Paulo: Arte & Ciência, 2001,p.28.


28continuava presente no tempo e espaço (espetáculo e edifício), em sua substância surge aessência da polis 10 . O caráter religioso do espetáculo grego era sustentado pelo mito, que seconfigura na comunicação do homem com a divinda<strong>de</strong>, ou seja, da imposição à natureza <strong>de</strong>um sistema semântico (sistema <strong>de</strong> significados). Então os gregos interrogavam a natureza noseu espetáculo pois acreditavam que a resposta plena ou verda<strong>de</strong>ira mensagem viria dosobrenatural: o <strong>de</strong>stino do homem era articulado pelos <strong>de</strong>uses, mas na sua evolução, tanto acomédia <strong>como</strong> a tragédia passaram a buscar a verda<strong>de</strong> humana, o questionamento do homem<strong>como</strong> ser integrante da socieda<strong>de</strong> civil.Roland Barthes (1990, p.68) afirma que o culto ao <strong>de</strong>us permaneceu presente noespetáculo grego no tempo e no espaço do edifício consagrado a Dionísio, constituindo assimsua ligação com a mitologia, e ao mesmo tempo, a cida<strong>de</strong> evolui ligando-se com a filosofia doséculo IV a.C. também presente na representação.Deste modo, po<strong>de</strong>mos perceber <strong>como</strong> o espetáculo grego se inseria naquela socieda<strong>de</strong>,tornando-se um dos aspectos principais da vida social:O papel do teatro nesta socieda<strong>de</strong> revela-se <strong>de</strong> extrema importância, bastalembrarmos que as narrativas míticas, material que inspirava as obrasdramáticas e em torno do qual se reunia toda uma população, era um bemcomum e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância cultural para o povo grego (DEGRANGES,2003, p.05).Nestas circunstâncias, o teatro grego obteve <strong>como</strong> em nenhuma outra civilização umarelação tal entre uma socieda<strong>de</strong> e seu espetáculo: o teatro grego é o verda<strong>de</strong>iro teatro popular,afirma Barthes (1990). No teatro grego existia uma relação <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong> entre oespetáculo e o público <strong>de</strong> tal intensida<strong>de</strong> que é o que caracteriza sua ação comunicativa.O público no teatro grego se preparava com seus melhores trajes e com os enfeitespróprios das festivida<strong>de</strong>s religiosas e ao ar livre o público entrava em contato com arepresentação e com a natureza. Portanto, o teatro/espetáculo grego inclui além do rito, acerimônia 11 , a festa 12 e o jogo 13 . O espetáculo grego acontecia em <strong>de</strong>terminadas épocas do ano10 Trata-se da institucionalização e legitimação do Estado grego através do contexto histórico e literário daurbanização e hegemonia <strong>de</strong> Atenas sobre as <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s-estado, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>mocrático, a evoluçãodos costumes, da filosofia e a valorização da arte bem <strong>como</strong> <strong>de</strong> sua intensa ativida<strong>de</strong> política e judicial.HOHLFELDT, Antonio. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 2 ed. Petrópolis: Vozes,2001, p.64-66.11 Cerimônia: forma exterior e regular <strong>de</strong> um culto, solenida<strong>de</strong>, cerimonial, conjunto <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong>s que se<strong>de</strong>vem seguir numa solenida<strong>de</strong>. CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da LínguaPortuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, p. 173.


29<strong>como</strong> o festival ateniense ou as Dionisíacas, e os dias do festival eram vividos para o teatro,que se iniciava com as procissões em honra ao <strong>de</strong>us até as próprias representações numacomunhão total entre espetáculo e espectadores. O gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas se a<strong>como</strong>dava<strong>de</strong> modo integrado nas arquibancadas, com cestas <strong>de</strong> alimentos, pois permaneciam no teatro odia todo, <strong>como</strong> uma verda<strong>de</strong>ira celebração em comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacando o caráter festivodaquele evento. O espetáculo grego era um acontecimento que revelava toda a simbologia quecaracteriza o aspecto ritualístico que permaneceu no teatro grego <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suas origens maisremotas até o auge <strong>de</strong>ste espetáculo no período clássico. Acreditamos que estes aspectos seconfiguram na cerimônia que caracteriza o espetáculo grego, assim <strong>como</strong> na repetição do ritoque atualiza o mito, conforme afirma Linda Bulik (2001, p.44), e que <strong>como</strong> já explicamosanteriormente possui características dramatúrgicas e comunicativas.1.1.1 - O espaço comunicativo do teatroPara enten<strong>de</strong>rmos o processo <strong>de</strong> comunicação entre espetáculo e público na GréciaClássica, é necessário lembrarmos da diferença entre aquele teatro ao ar livre e o teatro atual,que acontece na sala escura, embora existam tendências contemporâneas <strong>de</strong> busca por espaçosalternativos <strong>de</strong> encenações. A arquitetura está muito relacionada com a realização doespetáculo, <strong>de</strong> modo que, o local para a representação ou o espaço cênico contribui tambémpara estabelecer a relação comunicativa entre intérpretes e espectadores.A relação estabelecida entre palco e platéia tem-se modificado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> osprimórdios da arte teatral até os nossos dias, e cada período da história doteatro revela uma maneira própria <strong>de</strong> participação proposta ao espectador. Acomunicação que se estabelece atualmente nos espetáculos teatrais, quepromovem o encontro dos artistas em cena com os espectadores na sala, sedifere assim, daquela que se efetivava entre teatro e público em períodosanteriores <strong>de</strong> nossa história. Observar <strong>como</strong> se dava essa relação entre palcoe platéia em outras épocas e socieda<strong>de</strong>s nos permite investigar os diferentesaspectos <strong>de</strong>ssa comunicação e refletir acerca das diversas maneiras que os12 Festa: Quadro espaço/tempo no qual po<strong>de</strong> ser praticado um certo número <strong>de</strong> ações (jogos, comportamentos,etc) permitindo à coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reinvestir re-jogando o mundo e/ou o social <strong>de</strong> um modo situado entre oprofano e o sagrado. BULIK, Linda. Comunicação e teatro: por uma semiótica do Odin Teatret. São Paulo:Arte & Ciência, 2001, p.49.13 Jogo: estruturas <strong>de</strong> ações cujos conteúdos po<strong>de</strong>m ser muito diversos fazendo apelo a sensório-motricida<strong>de</strong> e/ouà inteligência, e/ou à imaginação e cuja economia se situa entre um sistema <strong>de</strong> regras e o <strong>como</strong> se. BULIK,Linda. Comunicação e teatro: por uma semiótica do Odin Teatret. São Paulo: Arte & Ciência, 2001, p.49.


30espectadores po<strong>de</strong>m ser convidados a participar do evento teatral(DEGRANGES, 2003, p.01).É necessário esclarecer que o espaço cênico ou espaço <strong>de</strong> representação não se refereapenas ao edifício isoladamente, refere-se também à relação <strong>de</strong> interação entre palco e platéiae <strong>de</strong> <strong>como</strong>, através dos tempos, este elemento acompanhou a maneira pela qual se estabeleceua representação teatral.A arquitetura do teatro grego propiciava esta relação entre artistas e público,estabelecendo-se <strong>como</strong> espaço <strong>de</strong> representação a<strong>de</strong>quado para promover a catarse trágicapois, <strong>como</strong> afirma Sábato Magaldi (1991, p.48), a própria disposição do público à volta daorchestra aquecia o espetáculo, promovendo esta relação interativa.Na Grécia Clássica, as arquibancadas ficavam a céu aberto, geralmente ocupando aencosta <strong>de</strong> uma colina, sendo uma espécie <strong>de</strong> hemiciclo chamado <strong>de</strong> théatron – lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong>se vê, cuja capacida<strong>de</strong> chegava a abrigar cerca <strong>de</strong> vinte mil espectadores. O théatron ligava-sea skéné – construção que servia <strong>de</strong> camarim e em cujo muro frontal eram colocados oscenários. Posteriormente, foi acrescentado à Skéné um tipo <strong>de</strong> estrado, o proskénion, on<strong>de</strong> seconcentrava a ação. O que chamamos hoje <strong>de</strong> palco seria a junção da Skéné com oproskénion. Entre o théatron e a skéné ficava a orchestra, formação circular <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> vintemetros <strong>de</strong> diâmetro, <strong>de</strong> chão <strong>de</strong> terra batido, lugar <strong>de</strong> apresentação do coro, dançarinos,músicos.Ressaltamos, a distribuição espacial da arquitetura do teatro grego clássico promoviatambém a comunhão entre intérpretes e público, pois se os atores ficavam na skéné, adistância entre aquele espaço e a platéia era reduzida pela orchestra, com sua forma circularconfigurando-se <strong>como</strong> elemento <strong>de</strong> ligação.A arquitetura daquele teatro, a céu aberto, com sua circularida<strong>de</strong>, simbolizava acomunhão do homem com a divinda<strong>de</strong> – homem e natureza – criando uma verda<strong>de</strong>ira unida<strong>de</strong>entre público e intérprete.A teórica Linda Bulik afirma também que para Abraham Moles, a situação <strong>de</strong>comunicação teatral está vinculada ao próprio espaço do espetáculo, não esquecendo que ai<strong>de</strong>ntificação do modo e do lugar são finalizados pelo vocabulário segundo a observação doautor. Segundo a autora, “(...) ‘teatro’ <strong>de</strong>signa a arte e o edifício, daí a ambivalência. Estaestreita ligação entre a situação e o lugar <strong>de</strong>fine os aspectos sociais da representação”; elacomplementa citando Abraham Moles, que diz:“1. não existe teatro privado para uma pessoa;2. teatro implica uma troca <strong>de</strong> mensagem entre atores e assistentes, uma audiência, digamos


31ainda um grupo ativo tornando - se um grupo receptivo.” (MOLES, 1967: 228, apud BULIK, 2001 p.29).O espetáculo grego era composto por elementos <strong>de</strong> integração entre público e atores,que proporcionavam sua interação <strong>de</strong> maneira eficiente através do espaço arquitetônico, dosprotocolos, das instituições e das técnicas <strong>de</strong> representação. Além da Choréia, que é a técnicafundamental do teatro grego, ou seja, a síntese das linguagens da poesia, música e dança, aplatéia possuía maior participação na atuação no coro. A função do coro era fazer acoletivida<strong>de</strong> confrontar os acontecimentos e assim compreendê-los, pois o coro posicionavasena orchestra, à volta da thymélé, entre o local dos atores, a skéne, e a platéia, <strong>como</strong>elemento <strong>de</strong> ligação entre o texto teatral e o público.Era através do coro que a participação da platéia se tornava efetiva, pois o coro,geralmente formado por um grupo <strong>de</strong> amadores, tinha <strong>como</strong> característica principal cantar emuníssono e era originário das festivida<strong>de</strong>s em homenagem a Dionísio; era o coro quetransmitia ao teatro grego o sentimento <strong>de</strong> coletivida<strong>de</strong>, <strong>como</strong> diz Roland Barthes (1990,p.78): “O coro dialoga com o autor pela voz do corifeu, colocava-se à sua volta para apoiá-loou para interrogá-lo: participa sem agir, porém comentando; em resumo, é a coletivida<strong>de</strong>humana confrontada com o acontecimento, buscando compreendê-lo”.É preciso também compreen<strong>de</strong>r a importância da Choréia na socieda<strong>de</strong> e no teatrogrego através da educação ateniense, pois Roland Barthes (1990, p.77), quando cita Hegel, dizque “através da representação completa <strong>de</strong> sua corporalida<strong>de</strong>, o canto e a dança, o ateniensemanifestava sua liberda<strong>de</strong>: a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar seu corpo em órgão do espírito.” Paraenten<strong>de</strong>rmos este aspecto da vida e do teatro na socieda<strong>de</strong> grega dos séculos V e IV a.C. épreciso também lembrar que os executantes da Choréia não eram artistas especializados,profissionais, pelo contrário, eram pessoas comuns que participavam indicando a dimensãoartística educativa daquela socieda<strong>de</strong>.A Choréia era constituída <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro sistema semântico e seus elementos eramconhecidos pelo público, sendo que este código era <strong>de</strong> domínio dos espectadores gregos;portanto, a leitura das danças e dos movimentos corporais era feita <strong>de</strong> maneira objetiva eformal, nos levando a crer que a apreciação estética e semântica era completa. Sandra Chacra(1991, p.86) diz que: “Deste modo, a estrutura <strong>de</strong> uma platéia afeta a natureza da forma <strong>de</strong>arte. Os padrões sociais e o comportamento da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m alterar materialmente aestrutura do texto, a encenação e a interpretação”.Em todas as representações do espetáculo grego, com exceção do ditirambo, o coro seapresentava mascarado. As máscaras, confeccionadas com linho estucado e pintado, além <strong>de</strong>


34a comédia estavam ligados aos cultos a Dioniso, e não a tragédia, que seria uma criação dapolis grega, a qual teria apenas utilizado o edifício consagrado ao Deus.Na tragédia, <strong>como</strong> na comédia, a presença do coro é <strong>de</strong> fundamental importância paraenten<strong>de</strong>r o sentimento do coletivo que originou o teatro grego, <strong>de</strong> total interação entre autores,intérpretes e platéia simultaneamente, sendo que não se encontra correspondência assim entreespetáculo e público em nenhum outro momento da história.A estrutura da tragédia, <strong>como</strong> na comédia, é mais elaborada, sendo composta <strong>de</strong> partesregulamentadas, mas com a alternância <strong>de</strong> trechos falados e cantados, da narrativa e docomentário. Percebemos então neste aspecto, a importância do coro no teatro grego, não sópela função dramática, lírica, épica e narrativa, mas principalmente pela função reflexiva queexercia na platéia, caracterizando a relação comunicativa entre emissor e receptor, da qual oteatro e sua linguagem eram um <strong>meio</strong> para a transmissão da mensagem que ao mesmo tempoé religiosa (mitológica) e leiga (filosófica). A platéia, na tragédia grega, assistia no presente atransformação do passado em futuro, ou seja, os acontecimentos do presente tinham raízes nopassado e isto po<strong>de</strong>ria resultar em conflito no futuro. No presente, o público via a liberda<strong>de</strong><strong>de</strong> escolha do herói <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecer seu passado; no entanto, era o sentido <strong>de</strong>sta escolhaque viria na resposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses e homens. Po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r esta transformação através <strong>de</strong>Elia<strong>de</strong>, apud Jabouille (1997, p. XIV):o herói repete um gesto arquetípico e, <strong>de</strong>sse modo, o homem, integrado nasocieda<strong>de</strong> suportou, durante séculos, pesadas pressões históricas sem<strong>de</strong>sesperar, sem recorrer ao suicídio nem cair na esterilida<strong>de</strong> espiritual. Noeterno presente converge fatalmente o passado e o futuro. Osacontecimentos históricos justificam-se <strong>como</strong> um eterno retorno, umrenovar perene do mito ou, por outro lado, <strong>como</strong> uma sucessão <strong>de</strong> teofanias.Para enten<strong>de</strong>r o caráter cívico do espetáculo grego na época clássica e sua evolução épreciso enten<strong>de</strong>r que os gêneros relacionados a Dionísio passavam para as instituições civis,provavelmente para acalmar este <strong>de</strong>us contraditório: “Po<strong>de</strong>mos perceber assim, <strong>como</strong> umespaço religioso foi sendo transformado em espaço <strong>de</strong> representação, a cerimônia religiosa vaidando lugar a uma cerimônia teatral” (DEGRANGES, 2003, p.05).Neste sentido o teatro grego não era apenas uma forma <strong>de</strong> entretenimento, era umcanal <strong>de</strong> comunicação que transmitia não apenas a idéia do sagrado na comunhão do homem


35com a natureza mas, também transmitia a noção <strong>de</strong> civismo, um verda<strong>de</strong>iro teatro popular,ensinava os valores sociais <strong>de</strong> seu tempo.O teatro foi utilizado pelo Estado grego <strong>como</strong> celebração <strong>de</strong> caráter cívico e religiosocom o objetivo <strong>de</strong> educar os cidadãos, ou seja, <strong>de</strong> doutrinar e transmitir conhecimentos aosseus espíritos e também para sensibilizá-los, conforme explica Alexandre Mate (2004, p.81).Sabemos que os gran<strong>de</strong>s festivais <strong>de</strong> teatro, na Grécia Clássica foram subvencionadospelo estado para difundir seus valores além das formas ritualísticas que homenageavam os<strong>de</strong>uses, e que o teatro ao longo da história, vem <strong>de</strong>senvolvendo também este papel <strong>de</strong>divulgação <strong>de</strong> normas <strong>de</strong> conduta, valores e tradições morais assim <strong>como</strong> <strong>de</strong> padrões estéticos.Para enten<strong>de</strong>rmos a importância cívica do teatro grego clássico é necessário entendê-lo<strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação naquela socieda<strong>de</strong>, pois segundo John B. Thompson (1998, p.20),a comunicação mediada é sempre implantada em contextos sociais que se estruturam <strong>de</strong>diversas maneiras e que por sua vez, produzem impacto na comunicação que ocorre.Devemos ressaltar que para o cidadão ateniense nada era feito, sentido ou pensado forado horizonte cívico e através do teatro, a socieda<strong>de</strong> grega tinha uma representação completa<strong>de</strong> valores religiosos, históricos, morais e estéticos que se configuravam <strong>como</strong> a próprianatureza ou a arte. Era o teatro da cida<strong>de</strong> responsável, segundo Roland Barthes (1990, p.74),que se inseria naquela socieda<strong>de</strong> através <strong>de</strong> três instituições, a coregia, o théôricon e oconcurso.A coregia era uma obrigação oficial imposta pelo Estado aos cidadãos ricos cujasfortunas eram tributadas com uma liturgia 15 , <strong>de</strong> modo que po<strong>de</strong>mos dizer que o teatro gregoera oferecido aos pobres pelos ricos. Escolhido pelo magistrado principal, que era o arconte,os coregos, que eram cidadãos ricos, patrocinavam e produziam as representações dos gruposque participavam do festival.Quanto ao théôricon, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r <strong>como</strong> uma medida tomada pelo Estado para asubvenção do ingresso aos cidadãos pobres, para que pu<strong>de</strong>ssem assistir aos espetáculos semprejuízo para a <strong>de</strong>mocracia, pois ir ao teatro era um direito e um <strong>de</strong>ver cívico.Finalmente, o concurso, que garantia o controle da <strong>de</strong>mocracia sobre o valor do teatro,que chegou ao auge no momento em que esta socieda<strong>de</strong> também se torna um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><strong>de</strong>mocracia, embora <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia aristocrática (nem todos os habitantes possuíam odireito à cidadania) e, no entanto, a responsabilida<strong>de</strong> cívica ateniense tinha uma participaçãotão ativa na vida pública que inclusive a governava.15 Liturgia: função ou serviço público. CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira daLíngua Portuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.478.


36Consi<strong>de</strong>rando o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação capaz <strong>de</strong> transmitir e difundir asidéias do Estado grego junto aos cidadãos, pensamos que é necessário fazermos umaabordagem <strong>de</strong> seu uso naquela socieda<strong>de</strong> e nas socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais em geral.Primeiramente vamos esclarecer que o Estado é uma instituição paradigmática 16 dopo<strong>de</strong>r político, e que a capacida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> exercer a autorida<strong>de</strong> geralmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>como</strong> po<strong>de</strong> exercer duas formas distintas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>como</strong> o po<strong>de</strong>r coercitivo 17 e o po<strong>de</strong>rsimbólico. O uso político do po<strong>de</strong>r simbólico cultiva e sustenta a legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>rpolítico, ou <strong>como</strong> <strong>de</strong>fine John B. Thompson (1998, p. 23), o po<strong>de</strong>r simbólico configura-se<strong>como</strong> o quarto po<strong>de</strong>r, constituído pelas instituições religiosas, educacionais e as mídias, cujasativida<strong>de</strong>s estão relacionadas à produção, transmissão e recepção do significado das formassimbólicas.Para enten<strong>de</strong>rmos o quarto tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, precisamos perceber que os indivíduospossuem ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão em si mesmos em formas simbólicas ou <strong>de</strong> interpretação dasexpressões usadas pelos outros: processo <strong>de</strong> comunicação e troca <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> conteúdosimbólico. Para tanto, os indivíduos utilizam-se <strong>de</strong> recursos que John B. Thompson (1998p.24) chama <strong>de</strong> <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> informação e comunicação:O quarto tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r é o cultural ou simbólico, que nasce na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>produção, transmissão e recepção do significado das formas simbólicas. Aativida<strong>de</strong> simbólica e característica fundamental da vida social, emigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com a ativida<strong>de</strong> produtiva, a coor<strong>de</strong>nação dosindivíduos e a ativida<strong>de</strong> coerciva.As formas simbólicas são características fundamentais da vida social e as instituiçõesque fazem parte do po<strong>de</strong>r cultural e simbólico <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> são aquelas que<strong>de</strong>sempenham um papel histórico <strong>de</strong> acumulação dos <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> comunicação.Como vimos anteriormente, acreditamos que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suas origens gregas, o teatro seconstituiu <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> produção, transmissão e recepção <strong>de</strong> formas simbólicas, na suaevolução através da socieda<strong>de</strong> ateniense do século V e IV a.C. A essência do teatrocompreen<strong>de</strong> o ator, o texto e o público, elementos da linguagem teatral, que é uma forma <strong>de</strong>expressão e <strong>de</strong> comunicação com os significados construídos por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> símbolos:16 Paradigmática: mo<strong>de</strong>lo, padrão. I<strong>de</strong>m, p.579.17 Po<strong>de</strong>r coercitivo: especialmente po<strong>de</strong>r militar, implica o uso ou a ameaça da força física para subjugar ouconquistar um oponente. THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia.Petrópolis: Vozes, 1998, p. 23.


37Entre o ator, o texto e o público veiculam-se uma mensagem transmitida, então entreemissor e receptor existe um canal <strong>de</strong> comunicação, o <strong>meio</strong> técnico <strong>de</strong> fixação e transmissão,ou elemento material.John B. Thompson (1998, p. 26) explica que os <strong>meio</strong>s técnicos e as informações ouconteúdos simbólicos neles armazenados po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> fonte para o exercício <strong>de</strong> diferentesformas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o que nos remete à importância do teatro e seu <strong>de</strong>senvolvimento nasocieda<strong>de</strong> grega clássica.O uso dos <strong>meio</strong>s técnicos <strong>de</strong> comunicação pressupõe um processo <strong>de</strong> codificação(conjunto <strong>de</strong> regras codificadas) e <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação da informação veiculada (conteúdosimbólico). Quando os indivíduos codificam ou <strong>de</strong>codificam mensagens são empregadas paraeste processo, as habilida<strong>de</strong>s e competências requeridas pelo <strong>meio</strong> técnico e outros recursosculturais, repertórios, suposições e conhecimentos que farão intercâmbio entre emissor ouprodutor e receptor. Vimos anteriormente que os cidadãos gregos possuíam uma educaçãoartística que contribuía para a leitura das representações do espetáculo teatral; portanto, oconhecimento, o repertório cultural dará forma às mensagens transmitidas, possibilitará seurelacionamento com o receptor e o modo que ele as integrará em sua vida.Po<strong>de</strong>mos perceber que existe um processo <strong>de</strong> compreensão entre as mensagenscodificadas por um emissor ou produtor, e entre a forma <strong>como</strong> o receptor fará a interpretaçãodas mensagens <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos recursos culturais que possui.Portanto, po<strong>de</strong>mos concluir que a codificação e a <strong>de</strong>codificação das mensagenstransmitidas pelos <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> comunicação entre os indivíduos nas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá dashabilida<strong>de</strong>s e competências requeridas pelo <strong>meio</strong> técnico que veicula as informações doemissor para o receptor.O conhecimento que dará suporte para as habilida<strong>de</strong>s e competências requeridas pelo<strong>meio</strong> técnico <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> mensagens, ou seja, os recursos culturais que o indivíduopossui, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ará o processo <strong>de</strong> intercâmbio simbólico e estabelecerá a relaçãocomunicativa dando forma às mensagens e fazendo com que emissor e receptor participem <strong>de</strong>uma ação recíproca <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong>stas mensagens ou seja, ficará estabelecida acomunicação entre os indivíduos.Os recursos incluem <strong>meio</strong>s técnicos <strong>de</strong> fixação e transmissão além <strong>de</strong> possuirem ashabilida<strong>de</strong>s, competências e as formas <strong>de</strong> conhecimento empregadas na produção, transmissãoe recepção da informação e do conteúdo simbólico incluem também o prestígio acumulado, oreconhecimento e o respeito tributados a alguns produtores ou instituições ou capitalsimbólico, o que nos remete à idéia <strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r simbólico é o referente na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


38intervir no curso dos acontecimentos e <strong>de</strong> influenciar as ações dos outros e <strong>de</strong> produzireventos por <strong>meio</strong> da produção e da transmissão <strong>de</strong> formas simbólicas.Neste sentido, po<strong>de</strong>mos analisar o teatro <strong>como</strong> um <strong>meio</strong> técnico para produção <strong>de</strong>formas simbólicas e para sua transmissão, com o qual ou por <strong>meio</strong> do qual a informação ouconteúdo simbólico é fixado e transmitido para o receptor.Uma das características dos <strong>meio</strong>s técnicos é o grau <strong>de</strong> fixação da forma simbólica, ouseja, a preservação da forma simbólica em <strong>meio</strong> <strong>de</strong> maior ou menor durabilida<strong>de</strong>, portanto, afixação da forma simbólica e sua preservação, ou mecanismos <strong>de</strong> armazenamento (fixação) <strong>de</strong>informações (conteúdo simbólico) po<strong>de</strong>rá alterá-las e torná-las consequentemente disponíveispara o uso. Possuem também grau <strong>de</strong> reprodução, ou seja, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> multiplicar ascópias das formas simbólicas, o que é uma característica dos <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> comunicaçãomercantilizadas. Um outro aspecto dos <strong>meio</strong>s técnicos <strong>de</strong> comunicação é o grau <strong>de</strong>distanciamento espaço-temporal, <strong>como</strong> por exemplo, a suplementação da fala por <strong>meio</strong>stécnicos terá disponibilida<strong>de</strong> maior no espaço, mas a duração temporal ficará limitada aomomento da emissão. Esta alteração espaço-temporal faz com que os <strong>meio</strong>s técnicos exerçamo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> agir e interagir à distância provocando impacto na vida social até em regiões maisdistantes.Mas voltando para o teatro, o distanciamento entre emissor e receptor é pequeno poisos participantes/platéia estão presentes fisicamente no momento da emissão e compartilhamno mesmo espaço com o tempo <strong>de</strong> duração da emissão que, aliás atribui ao espetáculo teatralsua efemerida<strong>de</strong>: terminada aquela representação nada restará, a não ser o que ficou namemória e foi vivenciado naquele presente.John B. Thompson (1998, p.28), alega que as falas trocadas numa convenção sãodisponíveis somente aos interlocutores ou a indivíduos situados nas imediações e terãoduração transitória enquanto durar a memória <strong>de</strong> seu conteúdo. Enten<strong>de</strong>mos que neste caso,trata-se <strong>de</strong> uma interação face-a-face, mas no teatro, mesmo com a co-presença dos emissorese receptores, recorreremos a Abraham Moles (1974, p. 223) que, <strong>como</strong> já vimosanteriormente, diz que esta relação está condicionada à idéia <strong>de</strong> uma assistência, ou seja, oespetáculo não acontece para uma pessoa, mas para um grupo <strong>de</strong> pessoas. As mensagenstrocadas pelos emissores e platéia acontecem no âmbito do grupo o que liga a arte teatral àscondições materiais <strong>de</strong> sua realização: “Os pontos <strong>de</strong> vista sociológico, psicológico,arquitetônico e técnico estão, portanto intimamente ligados, e estabelece-se uma trocadialética entre o lugar da ação e a própria ação [...]” (MOLES, 1974, p. 223).


39Sendo assim, <strong>de</strong>vemos ressaltar a importância do espaço cênico no teatro para atransmissão <strong>de</strong> uma mensagem que no nosso estudo configura-se <strong>como</strong> o conteúdoprogramático <strong>de</strong> arte. Ao construir um espaço cênico na sala <strong>de</strong> aula, os alunoscompreen<strong>de</strong>rão a importância do papel do público no teatro e <strong>de</strong> <strong>como</strong> a recepção do que serepresenta está intrínseca à interação entre palco e platéia.No espaço cênico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos mais remotos, estabelecer uma relação entre oespetáculo e espectadores sempre foi fundamental para a transmissão <strong>de</strong> mensagens dos maisdiversos fins.Acreditamos que hoje, ao se propor o teatro no processo educativo <strong>como</strong> instrumento eestratégia para a transmissão do conteúdo escolar encontraremos um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicaçãoeficaz entre os elementos que participam do processo ensino-apredizagem, ou seja, o docentee o aluno na situação <strong>de</strong> emissor e receptor.Enten<strong>de</strong>mos que a Choréia, por exemplo, era a linguagem teatral do espetáculo gregoe seu código era <strong>de</strong> domínio dos espectadores, o que facilitava a transmissão da mensagemteatral naquele contexto, e que era capaz <strong>de</strong> reunir em torno do espetáculo, todos os cidadãosdaquela socieda<strong>de</strong>. Hoje, ao propor a linguagem teatral para transmitir a mensagem/conteúdoescolar, introduzimos o teatro <strong>como</strong> um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> compartilhar os conhecimentos artísticos eestéticos produzidos historicamente pela humanida<strong>de</strong>; além disso será <strong>de</strong>senvolvida no alunoa sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> codificar e <strong>de</strong>codificar elementos das linguagens verbais e não-verbais,ampliando significativamente a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e expressão do educando e suaapreensão das informações necessárias ao seu <strong>de</strong>senvolvimento cultural e intelectual.No próximo capítulo, vamos discutir a questão da linguagem <strong>como</strong> mediadora danossa percepção da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que po<strong>de</strong>mos atribuir significados ao mundo no qualestamos inseridos. A linguagem teatral é um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> expressão dos indivíduos e <strong>de</strong>comunicação, portanto, daquilo que é para eles significante e cujo significado <strong>de</strong>sejamtransmitir para outrem.


40CAPÍTULO II – A LINGUAGEM TEATRALO papel fundamental da escola está associado aos <strong>de</strong>veres e direitos do cidadão e issopressupõe que o ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> acontece quando os conhecimentos historicamenteproduzidos pela humanida<strong>de</strong> são transmitidos <strong>de</strong> maneira sistematizada; sendo assim aproposta curricular para o ensino <strong>de</strong> educação artística 18 da Secretaria <strong>de</strong> Educação do Estado<strong>de</strong> São Paulo, enfatiza que o papel da escola <strong>de</strong> transformação social será sua contribuiçãopara a conscientização do indivíduo frente à socieda<strong>de</strong> na qual está inserido e que estáfundamentada no conhecimento e na sensibilida<strong>de</strong>.Enten<strong>de</strong>mos que a proposta pedagógica para o ensino <strong>de</strong> arte preten<strong>de</strong> tornar o alunoum fruidor <strong>de</strong> arte e para que isso aconteça, buscamos no teatro um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação quepossibilita o processo <strong>de</strong> conhecer e apreciar Arte, <strong>de</strong> modo que os alunos terão ampliada suavisão <strong>de</strong> mundo, tornando-se cidadãos mais sensíveis e críticos para atuar no processo <strong>de</strong>consolidação da <strong>de</strong>mocracia entre outras aspirações humanas.Ensinar com qualida<strong>de</strong> implica em estratégias que possam auxiliar o processo <strong>de</strong>conhecimento na área <strong>de</strong> Arte, assim <strong>como</strong> nas outras disciplinas do currículo escolar, por<strong>meio</strong> da resolução <strong>de</strong> problemas sobre os conteúdos necessários aos educandos para suaformação, e conforme explicamos anteriormente, nosso objetivo é verificar <strong>como</strong> seestabelece a relação comunicativa que possibilitará o compartilhamento <strong>de</strong> informações entreemissor (docente) e receptor (aluno) através da linguagem teatral, que, acreditamos, po<strong>de</strong>ráser um canal eficiente para a transmissão da mensagem/conteúdo programático escolar.Para Martins (1998, p.12-13), a Arte <strong>de</strong>ve ser tratada <strong>como</strong> conhecimento, um enfoqueque vem sendo requisitado pelos arte-educadores, o que segundo também a nova Lei <strong>de</strong>Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394), aprovada em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1996, estabelece em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino da arte constituirá componente18 Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) <strong>de</strong> Arte: “São características <strong>de</strong>sse novo marcocurricular as reinvindicações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a área por arte (e não por educação artística), e <strong>de</strong> incluí-la naestrutura curricular <strong>como</strong> área com conteúdos próprios ligados à cultura artística, e não apenas <strong>como</strong> ativida<strong>de</strong>”.MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias, et al. Didática do ensino <strong>de</strong> arte: a linguagem do mundo: poetizar,fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998, p.13.


41curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, <strong>de</strong> forma a promover o<strong>de</strong>senvolvimento cultural dos alunos”.Como já ressaltamos, nosso estudo tem <strong>como</strong> objetivo <strong>de</strong>monstrar que o teatro vem<strong>de</strong>sempenhando diversos papéis na socieda<strong>de</strong> ao longo do tempo e um <strong>de</strong>les é o papelpedagógico, <strong>de</strong>sempenho que julgamos eficaz na transmissão do conteúdo programáticoescolar <strong>de</strong> arte do Ensino Fundamental e Médio.Acreditamos que é possível estabelecer uma relação comunicativa na situação ensino eaprendizagem através da linguagem teatral, e neste contexto, o teatro se configura <strong>como</strong> umcanal entre emissor/docente e aluno, receptor/<strong>de</strong>stinatário, através da produção e da leitura <strong>de</strong>textos dramáticos que têm <strong>como</strong> tema o conteúdo da arte.Percebemos no nosso estudo os aspectos comunicativos do teatro que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suasorigens na socieda<strong>de</strong> grega clássica vem <strong>de</strong>sempenhando um papel sócio-cultural importantena transmissão <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> conteúdo simbólico, o que o caracteriza <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação.Enten<strong>de</strong>mos que o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação no ensino <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong>rá ser umaescolha selecionada para estabelecer a relação educativa entre professores e alunos, condiçãonecessária para a formação dos saberes significativa do conteúdo escolar (mensagem), <strong>como</strong>articulador dos objetivos, conteúdos e métodos propostos não somente para as aulas <strong>de</strong> arte,mas também para os <strong>de</strong>mais componentes curriculares.Os diversos materiais didáticos e “mídias” já produzidas contêm informações quepossibilitam a comunicação em arte <strong>como</strong>, por exemplo, quadros, livros, fotografias, objetos,filmes, exposições, discos, ví<strong>de</strong>os, audiocassetes, multimídias, segundo Maria Heloísa C. T.Ferraz (1993, p.102-103). Entretanto, optamos em nosso estudo pela linguagem teatral <strong>como</strong>uso pedagógico nas ativida<strong>de</strong>s educativas em arte pelo seu próprio caráter comunicativo e seupapel sociocultural nas socieda<strong>de</strong>s através dos tempos.Po<strong>de</strong>mos ressaltar que, ao aproximar o teatro da educação, relacionamos a situação <strong>de</strong>ensino-aprendizagem com o impulso natural do homem para a dramatização, o que já seconfigura <strong>como</strong> elemento facilitador do processo educativo, e que ao fazer uso da linguagemteatral pressupomos que o professor afasta o educando do mo<strong>de</strong>lo tradicional da aulaexpositiva e o aproxima <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> natural para a mimese, para a imitação, que é idéiacentral do processo em arte, além <strong>de</strong> possibilitar o acesso a elementos <strong>de</strong> diversas linguagensque compõem a linguagem teatral.A linguagem teatral é uma linguagem específica que se configura com um <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação com seus elementos, ou seja, direção <strong>de</strong> cena, interpretação verbal e não verbal


42do ator, sonoplastia, iluminação, para levar uma mensagem (na escola, o conteúdoprogramático) até o receptor. Na relação <strong>de</strong> comunicação, o aluno po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado <strong>como</strong>o receptor/<strong>de</strong>stinatário da mensagem emitida pelo professor; mas na prática pedagógicaenten<strong>de</strong>mos que os alunos/receptores são co-responsáveis pelo processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> seuconhecimento em arte, estimulado pelo professor para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong>criativa e reflexiva, pois apresentam potencialida<strong>de</strong>s, objetivos e necessida<strong>de</strong>s sensoriais ecognitivas, assim <strong>como</strong> possuem uma história individual e social <strong>de</strong> produção artística e <strong>de</strong>entendimento estético, segundo Maria Heloísa Corrêa <strong>de</strong> Toledo Ferraz (1993, p.102-103).Vimos que nossa penetração na realida<strong>de</strong> é sempre mediada por linguagens ousistemas simbólicos e, sendo assim, o mundo terá o significado que construímos para ele.Enten<strong>de</strong>mos que toda linguagem é um sistema <strong>de</strong> representação e é através da leitura e daprodução <strong>de</strong> textos nas diversas linguagens que nos inserimos no mundo, conforme explicaMiriam Celeste Ferreira Dias Martins (1998, p. 38-39).Desse modo, ao organizar, selecionar, utilizar os signos da linguagem teatralpressupomos algum tipo <strong>de</strong> código 19 , ou seja, os signos significam algo que foi previamentecombinado entre o emissor e o receptor, o que nos transfere novamente para a situação <strong>de</strong>ensino-aprendizagem, a qual no contexto do ensino <strong>de</strong> arte pressupõe o uso da linguagemteatral no seu aspecto semântico e no seu aspecto estético, ou seja, a mensagem transmitida sepreocupará primeiramente com o conteúdo programático escolar da História da Arte mas sem<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> observar a composição dos signos <strong>de</strong> representação <strong>de</strong>sta linguagem artística.Sendo assim, po<strong>de</strong>mos ressaltar que a linguagem é um sistema <strong>de</strong> signos, e,consequentemente, é um sistema simbólico, e que tanto as linguagens verbais e as linguagensnão-verbais servem <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> comunicação entre os indivíduos, e po<strong>de</strong>mser percebidas pelos nossos sentidos assim <strong>como</strong> as linguagens artísticas, da qual<strong>de</strong>stacaremos para nosso estudo, a linguagem teatral.2.1 - <strong>Teatro</strong>, um sistema simbólicoSabemos que arte é linguagem e que estudar a arte nos insere no universo dacriação/produção, apreciação/percepção e fruição das obras que os artistas nos <strong>de</strong>legaram<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos primordiais até hoje, ou seja, penetramos no mundo <strong>de</strong> representações, doscódigos <strong>de</strong> cada linguagem da arte. Decifrar, interpretar, assimilar e contextualizar estes19 Código: Coleção ou conjunto <strong>de</strong> leis. CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira daLíngua Portuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.192.


43códigos para compreen<strong>de</strong>r a produção artística e cultural da humanida<strong>de</strong> é o propósito doconteúdo programático escolar do Ensino Fundamental e Médio para o componente curricular<strong>de</strong> arte, assim <strong>como</strong> <strong>de</strong>senvolver no aluno a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e comunicação por<strong>meio</strong> das diferentes linguagens artísticas.A<strong>de</strong>mais, <strong>como</strong> nosso objeto <strong>de</strong> estudo focaliza a transmissão do conteúdoprogramático escolar <strong>de</strong> arte, buscamos na linguagem teatral com seus signos <strong>de</strong>representação, um <strong>meio</strong> para que se estabeleça uma relação comunicativa a<strong>de</strong>quada entreprofessor/emissor e aluno/receptor. Neste contexto po<strong>de</strong>mos dizer que a linguagem teatral seconfigura <strong>como</strong> o canal que po<strong>de</strong>rá levar a informação emitida pelo professor <strong>de</strong> forma que amensagem chegue ao aluno/receptor e possa produzir os efeitos necessários na qualida<strong>de</strong> daaprendizagem.A mensagem que chega até o aluno ou receptor/<strong>de</strong>stinatário, é a produção artística nasdiversas linguagens e estilos da História da Arte, portanto, o que possibilitará ao alunoperceber as características e significados próprios <strong>de</strong> cada época e/ou singulares <strong>de</strong> cadaartista que explorou com originalida<strong>de</strong> a organização e a criação <strong>de</strong> signos artísticos emrelação ao uso dos códigos <strong>de</strong>stas linguagens. Conforme explica Miriam Celeste F. D. Martins(1998, p.46), esta aprendizagem da arte é significativa para o aluno pois:Pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> síntese da linguagem da arte, nossa sensibilida<strong>de</strong> captauma forma <strong>de</strong> sentimento que nos nutre simbolicamente ampliandonosso repertório <strong>de</strong> significações. Adquirimos um conhecimentodaquilo que ainda não sabíamos e, por isso mesmo, transformamosnossa relação sensível com o mundo e as coisas do mundo.No ensino <strong>de</strong> Arte, é necessário fazer uma ligação da convivência ou a percepção dasimagens e das obras <strong>de</strong> arte com o fazer artístico, ou seja, a produção <strong>de</strong> textos nas linguagensda arte, assim <strong>como</strong> a sua leitura e a interpretação. Para tanto é necessário que o alunoregistre em <strong>de</strong>terminados suportes o texto produzido em <strong>de</strong>terminada linguagem ou seja, ocódigo da qual faz uso, para através <strong>de</strong> sua expressivida<strong>de</strong> manifestar a mensagem ou ainformação codificada e <strong>de</strong>codificada do conteúdo escolar.Lembramos que no nosso estudo vamos nos limitar aos textos cênicos ou teatraisproduzidos e criados pelos alunos das 8ª séries do Ensino Fundamental e 1ª séries do EnsinoMédio, que po<strong>de</strong>m ser entendidos <strong>como</strong> já vimos: <strong>como</strong> o conjunto <strong>de</strong> sinais, signos esímbolos verbais e não-verbais, existentes durante a representação. Neste caso apresentaremos


44o tableau que se configura <strong>como</strong> um texto teatral, o que terá uma função pedagógica para aapreensão ou fixação <strong>de</strong> conceitos e conteúdos específicos <strong>de</strong> arte, <strong>como</strong> já mencionamos,bem <strong>como</strong> uma proposta <strong>de</strong> caráter estético da linguagem porque o teatro, constituído <strong>como</strong> épor códigos simbólicos é, pois também objeto <strong>de</strong> comunicação.Segundo Luiz Paulo da Silva Vasconcelos (1987, p. 163), tableau é uma palavrafrancesa que <strong>de</strong>signa quadro: e <strong>como</strong> o próprio nome diz, trata-se <strong>de</strong> uma cena apresentadapor um grupo <strong>de</strong> pessoas <strong>como</strong> se fosse um quadro, isto é, sem movimento.O quadro vivo ou a representação <strong>de</strong> um quadro <strong>como</strong> uma pintura por exemplo, éuma das ativida<strong>de</strong>s globais <strong>de</strong> expressão dos jogos teatrais propostos na escola. Para a arteeducadoraOlga Reverbel, representar um quadro figurativo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada época dahistória da pintura é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão corporal que visa o <strong>de</strong>senvolvimento dapercepção além <strong>de</strong> promover um <strong>de</strong>bate na sala <strong>de</strong> aula sobre a semelhança, equilíbrio, visãoespacial, e senso rítmico entre a obra e a imitação <strong>de</strong>sta pelo grupo <strong>de</strong> alunos.Esta ativida<strong>de</strong> geralmente é proposta para alunos a partir <strong>de</strong> 10 anos, mas po<strong>de</strong> seradaptada para crianças menores, <strong>de</strong> 7 a 9 anos. É importante que se discuta o que <strong>de</strong>terminoua escolha da obra pelo grupo que a representa <strong>como</strong> a harmonia, a beleza, a semelhança com oreal, etc. Segundo Olga Reverbel:As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão são jogos dramáticos, musicais ou plásticos quedão ao aluno um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> exteriorizar, pelo movimento e pela voz, seussentimentos mais profundos e suas observações pessoais. O objetivo básicodas ativida<strong>de</strong>s é ampliar e orientar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão do aluno(REVERBEL, 1989, p.24).Enten<strong>de</strong>mos assim que, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão são interdisciplinares e nelas oselementos <strong>de</strong> várias linguagens se complementam.Sendo assim, acreditamos que esta ativida<strong>de</strong> que vem sendo praticada nas aulas <strong>de</strong> artena séries do Ensino Fundamental e Médio para <strong>de</strong>senvolver no educando juntamente com suanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação a sua percepção com relação a si mesmo e com o mundo no qualestá inserido, constitui-se numa produção <strong>de</strong> um texto da linguagem teatral significante paranosso estudo, pois através <strong>de</strong> seus elementos po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver também a recepção doconteúdo histórico, artístico e estético proposto pela secretaria <strong>de</strong> Educação do Estado <strong>de</strong> SãoPaulo, para o ensino <strong>de</strong> arte.


45Sendo o espetáculo teatral a junção <strong>de</strong> várias linguagens artísticas, o texto cênicoportanto, trata-se <strong>de</strong> uma obra polissêmica 20 , ou seja, apresenta muitos sentidos simbólicos, oque possibilita ao receptor várias interpretações. Portanto, o teatro assim <strong>como</strong> as outrasproduções artísticas, abrange várias leituras. Por isso, o repertório dos espectadores, seusconhecimentos, as informações que possuem, entre outros aspectos pessoais, po<strong>de</strong>rão facilitarou não a leitura do texto teatral. Na prática pedagógica, ao <strong>de</strong>senvolver o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>transmissão <strong>de</strong> conhecimentos específicos <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> atuação, o professor/emissor precisapensar na apreciação do texto, o que significa fazer o aluno enten<strong>de</strong>r e distinguir cada parte,cada elemento da representação e somá-los <strong>como</strong> um todo, <strong>como</strong> explica Alexandre Mate(2004, p.96).Achamos necessário esclarecer que nas ativida<strong>de</strong>s do teatro pedagógico que são<strong>de</strong>senvolvidas exclusivamente em sala <strong>de</strong> aula, as questões estéticas da linguagem po<strong>de</strong>mficar em segundo plano pois o teatro assume, nesse caso, o caráter <strong>de</strong> uma nova metodologiapara a apreensão <strong>de</strong> novos conhecimentos. No entanto, nosso estudo está voltado para oEnsino <strong>de</strong> Arte, <strong>de</strong> contextos históricos e estéticos, o que lhe atribui além da transmissão <strong>de</strong>conteúdos específicos, uma preocupação estética referente à linguagem teatral.Nesse sentido, nos reportamos à teoria sociodinâmica <strong>de</strong> Abraham Moles (1974, p.228), para explicar que a mensagem teatral, assim <strong>como</strong> as mensagens transmitidas por outros<strong>meio</strong>s <strong>de</strong> comunicação, comporta um aspecto semântico que enten<strong>de</strong>-se <strong>como</strong> a históriacontada, as idéias sustentadas, a tese apresentada, e um outro aspecto, o estético, que seconfigura <strong>como</strong> o jogo dos atores, a escolha das palavras, o calor comunicativo, etc.2.2 - A mensagem teatral e o contexto pedagógicoPara enten<strong>de</strong>r <strong>como</strong> a mensagem teatral se insere, através <strong>de</strong> seus aspectos semânticose estéticos no contexto pedagógico, faremos uma abordagem dos modos <strong>de</strong> comunicaçãofísica da mensagem segundo Abraham Moles (1974, p.99):Uma mensagem é um grupo finito, or<strong>de</strong>nado, <strong>de</strong> elementos tirados <strong>de</strong> umrepertório, constituindo uma seqüência <strong>de</strong> signos agrupados. Segundo certasleis, as da “ortografia”, da “gramática”, da “sintaxe”, da “lógica”; essestermos são extremamente gerais e aplicam-se não somente ao domínio da20Polissêmica: poli= muitos + semica-sêmen, correspon<strong>de</strong>ndo semente, sentidos, significados. MATE,Alexandre. Educação com arte. Série idéias; nº 31. São Paulo: FDE, Diretoria <strong>de</strong> Projetos Especiais, 2004, p.


46língua escrita, que lhes <strong>de</strong>u origem, porém, mais genericamente a todo oconjunto da mensagem (...).Abraham Moles indica dois modos <strong>de</strong> comunicação por intermédio <strong>de</strong> um canal físicoda mensagem que são a mensagem sonora e a mensagem visual. Como mensagem sonoratemos a palavra, cujo canal é a linguagem dos homens, a música ou a linguagem dassensações, e o ruído, que se configura <strong>como</strong> a linguagem das coisas; já a mensagem visualcomporta a mensagem simbólica do texto impresso, a mensagem das formas, naturais ouartificiais e as mensagens artísticas.Vale ressaltar que o teatro <strong>como</strong> canal é um modo <strong>de</strong> comunicação da mensagemsonora e da mensagem visual <strong>de</strong>vido a sua própria linguagem que, sendo síntese <strong>de</strong> outraslinguagens, apresenta códigos sonoros e visuais, <strong>como</strong> os ruídos da sala, música, voz dosatores, efeitos sonoros necessários à representação, os gestos, movimentos, a iluminação, ofigurino, o cenário, entre outros elementos.Segundo Abraham Moles (1974, p. 100), praticamente todos os sistemas culturais domundo mo<strong>de</strong>rno passam pelo intermédio <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> outro ou <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>sses canais, mas oteatro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens gregas, apresenta-se <strong>como</strong> um canal distinto, pois comporta umamensagem sonora composta <strong>de</strong> palavras e <strong>de</strong> uma mensagem visual constituída <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s,pois sabemos que o ser humano na presença real não se apresenta por uma única mensagem,mas pela multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas manifestações que são simultâneas. Neste contexto, LindaBulik (2001, p.32) explica que para Abraham Moles, há mensagens múltiplas que utilizamcanais distintos <strong>como</strong> o teatro, o cinema, a televisão, o balé, enquanto que outras utilizam ummesmo canal, mas <strong>de</strong> modos diferentes, <strong>como</strong> a ópera radiofônica, por exemplo, que é asuperposição <strong>de</strong> uma mensagem falada ou poética e <strong>de</strong> uma mensagem musical.Destacamos que já em suas origens o teatro configurava-se <strong>como</strong> um canal distintopara a transmissão <strong>de</strong> mensagens múltiplas que, no caso do espetáculo grego clássico seconstitui tanto no aspecto semântico quanto no aspecto estético, pois através da técnica dachoréia, que era a síntese da poesia lírica, da música e da dança, o público/receptor era capaz<strong>de</strong> fazer a leitura dos textos sonoros e visuais.Assim sendo, encontramos no teatro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens, o ato elementar dacomunicação, ou seja, a existência <strong>de</strong> um emissor que retira <strong>de</strong> um repertório um certonúmero <strong>de</strong> signos que se agrupa seguindo certas leis, <strong>de</strong> um canal pelo qual a mensagem étransferida através do espaço e do tempo, e <strong>de</strong> um receptor que receberá o conjunto <strong>de</strong> signos96.


47que constitui a mensagem; segundo Abraham Moles (1974, p. 101), o receptor i<strong>de</strong>ntifica ossignos através dos signos que já possui e que estão armazenados no seu repertório próprio,percebendo então que além da reunião <strong>de</strong> signos, também existem as formas, regularida<strong>de</strong>s esignificações que serão armazenadas em sua memória. Portanto, po<strong>de</strong>mos concluir que oemissor e o receptor possuem repertórios <strong>de</strong> signos que lhes são mais ou menos comuns e queconstituem a base da comunicação.Para que a comunicação entre os indivíduos aconteça <strong>de</strong> maneira integral, AbrahamMoles (1974, p.101) alega que seria importante que o repertório <strong>de</strong> signos do emissor fossemenor que o do receptor e incluído no seu interior; no entanto, esta é uma condição para acomunicação entre máquinas mas não po<strong>de</strong>ria ser rigorosa na comunicação entre as pessoas,pois através do processo <strong>de</strong> aprendizagem o receptor tem seu repertório influenciado peloaumento <strong>de</strong> números <strong>de</strong> signos, o que o aproxima progressivamente do repertório do emissor.Este processo <strong>de</strong> aproximação do repertório do receptor com o emissor po<strong>de</strong> serproduzido entre um número muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> emissores e receptores, tornando-se, portanto,uma massa social e ficando mais complexo, pois o emissor e receptor modificam seusrepertórios para adaptá-los um ao outro:O público consumidor (massa dos receptores) segue uma evolução em seurepertório que entraria no quadro <strong>de</strong> uma semiótica geral. O conjunto <strong>de</strong>emissores (micro<strong>meio</strong> criador) modifica seu vocabulário por seus contatosrepetidos com a massa. Isso se traduz por um ciclo <strong>de</strong> evolução dos signosno ato <strong>de</strong> comunicação que é um fragmento <strong>de</strong> ciclo sociocultural (MOLES,1974, p. 101).Portanto, é necessário que o repertório seja comum ao emissor e ao receptor para apercepção da mensagem, mas não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> semelhança física entre eles, <strong>de</strong> modoque o emissor po<strong>de</strong> ser um homem ou um grupo <strong>de</strong> homens, ou a própria natureza, pois apercepção da mensagem acontece quando o receptor i<strong>de</strong>ntificar e interpretar nela um conjunto<strong>de</strong> signos que tenham i<strong>de</strong>ntificação em seu próprio repertório.Assim sendo, enten<strong>de</strong>mos que a natureza e a estrutura do canal são do ponto <strong>de</strong> vistado observador, <strong>de</strong>terminados pelo receptor que, no ato da comunicação impõe seu repertório àmensagem, pois aquilo que não fizer parte <strong>de</strong>ste repertório po<strong>de</strong>rá ser recebido, mas nãopercebido, e neste sentido, perceber é enten<strong>de</strong>r o agrupamento <strong>de</strong> signos que compõem uma<strong>de</strong>terminada linguagem.


48É possível através <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> recepção da mensagem a partir do repertório doreceptor, fazermos um parâmetro da situação ensino-aprendizagem com a recepção damensagem/conteúdo escolar através do canal da linguagem teatral; assim o docente/emissordo conteúdo programático escolar precisa conhecer seu aluno do ponto <strong>de</strong> vista dos prérequisitossobre o conhecimento histórico e artístico que ele possui. Além disso, o docentetem que verificar as habilida<strong>de</strong>s e competências referentes à linguagem dramática para que oaluno possa <strong>de</strong>la fazer uso para sua expressão e comunicação e assim também ter a percepçãoda mensagem emitida. Enfatizamos que a mensagem, neste caso, trata-se do conteúdo escolar<strong>de</strong> arte no seu aspecto histórico e cultural e no seu aspecto estético, que se configura naprodução dos textos dramáticos e envolve os signos da linguagem teatral <strong>como</strong> expressãofacial, gestos, figurino, cenografia, iluminação, entre outros.Acreditamos que ao perceber a mensagem emitida, o aluno/receptor fará a leitura doconteúdo e da forma pelo qual foi transmitido e, portanto, através do teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação na sala <strong>de</strong> aula, além <strong>de</strong> assimilar o conhecimento científico e histórico o alunoserá também um <strong>de</strong>codificador dos textos teatrais.Enten<strong>de</strong>mos que a mensagem po<strong>de</strong> ser o objeto material transferido por um canalfísico para o receptor, o que nos remete à ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação-emissor-canal-receptorrepertório,mas a complexida<strong>de</strong> da mensagem teatral supõe um canal apropriado, que emteoria da comunicação se diz canal natural, conforme explica Linda Bulik (2001, p.55).A representação teatral em geral, dispensa a mediação artificial, pois ela se <strong>de</strong>senvolveno seu espaço próprio, apresentando à primeira vista; a dimensão do canal teatral éaudiovisual: a palavra, a voz, o gesto, tudo acontece a partir do corpo do ator. Além disso,existe uma outra dimensão na situação comunicativa do teatro que é a proximida<strong>de</strong>, pois umcerto número <strong>de</strong> pessoas se encontram reunidas em um mesmo lugar para assistir ao mesmoespetáculo, o que Linda Bulik (2001, p.55), qualifica <strong>como</strong> segunda dimensão do canalteatral: a dimensão proxêmica.Neste contexto queremos ressaltar que no espaço da sala <strong>de</strong> aula, o canal natural doteatro po<strong>de</strong> ser eficiente na relação emissor/docente e receptor/aluno <strong>de</strong>vido a facilida<strong>de</strong> e anatureza do canal e a proximida<strong>de</strong> do grupo, tornado-se facilitador da compreensão damensagem/conteúdo escolar.Tanto na sala <strong>de</strong> realização do espetáculo, quanto na sala <strong>de</strong> aula, a materialida<strong>de</strong> damensagem fica registrada na memória, na compreensão dos signos <strong>de</strong> representação, naassimilação do conteúdo proposto e na reelaboração <strong>de</strong>ste conhecimento adquirido para sua


49evolução <strong>como</strong> indivíduo, bem <strong>como</strong> <strong>de</strong>senvolvendo sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão através dalinguagem teatral.Salientamos ainda que na relação comunicativa entre docente/emissor e receptor/alunoatravés da linguagem teatral, as mensagens transmitidas são interindividuais, visto queacontece uma troca <strong>de</strong> papéis que se alternam, estabelecendo assim um circuito diferentedaquele da difusão <strong>de</strong> massa, em que o emissor encontra-se distante, numa unidirecionalida<strong>de</strong>,ou seja, somente o emissor transmite e o receptor absorve a informação, mas não respon<strong>de</strong>.Encontramos na da linguagem teatral <strong>de</strong>ntro da situação ensino-aprendizagem umcanal que aproxima a comunicação das idéias <strong>de</strong> ambos, do emissor/docente que transmite oconhecimentos e do receptor/aluno que absorve a mensagem, mas que ao <strong>de</strong>codificá-lamodifica também seu repertório gradativamente, englobando cada vez mais o repertório doemissor.Compreen<strong>de</strong>mos que o teatro <strong>como</strong> canal <strong>de</strong> comunicação da proposta pedagógica noEnsino Fundamental e Médio aproxima o repertório do aluno/receptor ao repertório dodocente <strong>de</strong> maneira que os dois repertórios possam ser compartilhados, entre ambos, <strong>como</strong>algo em comum, o conhecimento ou o conteúdo <strong>de</strong> Arte.Acreditamos que a linguagem teatral oferece as condições necessárias para que adifusão do conhecimento que se comporta <strong>de</strong> maneira unidirecional possa ser estabelecidaentão através <strong>de</strong> mensagem trocada entre emissor e receptor, ou seja, docente e aluno,configurando o teatro <strong>como</strong> parte do circuito sócio-cultural, segundo Abraham Moles (1974,p.100):O processo <strong>de</strong> comunicação entre um emissor e um receptor por intermédio<strong>de</strong> um canal físico equivale, sendo MEYEREPPLER a haurir signosreconhecíveis num repertório possuído pelo emissor, a reuni-los e atransmiti-los naquilo que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> comunicação, paraque o receptor i<strong>de</strong>ntifique, em seguida, cada um <strong>de</strong>sses signos que recebecom aqueles que já possui em seu próprio repertório.Em geral, no caso da difusão <strong>de</strong> massa <strong>como</strong> os livros, enciclopédias, ví<strong>de</strong>os, filmes,fotografias <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte utilizadas <strong>como</strong> recurso didático <strong>de</strong> arte na situação ensinoaprendizagem,o emissor/criador está <strong>de</strong> certo modo inacessível no espaço-tempo, isto porqueestão separados pelos séculos que se passaram. Caberá ao docente, agora emissor <strong>de</strong>ste


50conhecimento, utilizar um <strong>meio</strong> que conduzirá a mensagem/conteúdo escolar até seualuno/receptor <strong>de</strong>stinatário <strong>de</strong> maneira satisfatória, conforme explicamos anteriormente.Abraham Moles (1974, p. 100), explica que esse compartilhamento <strong>de</strong> idéias entreemissor e receptor acontece porque a inteligência humana é um sistema dotado <strong>de</strong> memória e<strong>de</strong> apreensão estatística que proporciona este processo <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> signos econsequentemente a aproximação do repertório do receptor ao do emissor, o que po<strong>de</strong>moscaracterizar, portanto, <strong>como</strong> um processo <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> cultura. Esteprocesso aproxima a situação <strong>de</strong> ensino-aprendizagem da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação -docente/emissor – canal – aluno/receptor <strong>de</strong>stinatário – repertório, <strong>como</strong> acontece atransferência da mensagem/conteúdo programático escolar <strong>de</strong> arte ou o objeto material entreeles, através da linguagem teatral que cremos ser um canal físico constituído por som eimagem e facilitador do processo pedagógico. Linda Bulik (2001, p.32), explica que o teatrocomporta uma mensagem sonora que é composta <strong>de</strong> palavras e uma mensagem visualconstituída <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s o que o torna um canal distinto, empregado para a transferência <strong>de</strong>mensagens múltiplas. Para enten<strong>de</strong>r o conjunto das mensagens transmitidas é necessárioenten<strong>de</strong>r o repertório do emissor e do receptor, buscando na teoria da comunicação a idéiafísica da mensagem e do conjunto <strong>de</strong> signos do repertório entre eles. Ao estudar o aspecto quefará da mensagem um produto <strong>de</strong> consumo qualquer, entraremos na materialida<strong>de</strong> damensagem, ou seja, a idéia <strong>de</strong> que a medida <strong>de</strong> uma mensagem comporta um aspecto físicorelacionado à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> signos/símbolos que ela contém, além <strong>de</strong> um outro aspecto que secaracteriza <strong>como</strong> elemento <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>.2.3 - A mensagem teatral e o conteúdo programático escolarPo<strong>de</strong>mos dizer que quando uma mensagem introduz algo <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong> original norepertório do receptor, temos aquilo que compreen<strong>de</strong>mos por informação, ou melhor, aquiloque se configura <strong>como</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprevisibilida<strong>de</strong> que uma mensagem fornece,segundo Abraham Moles (1974, p. 104).Na situação ensino-aprendizagem, quando se utiliza a linguagem teatral <strong>como</strong>estímulo gerador, 21 ou seja, <strong>como</strong> elemento capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o processo expressivo paraque o professor <strong>de</strong>senvolva o conteúdo programático escolar <strong>de</strong> arte, temos uma representação21 A idéia <strong>de</strong> estímulos geradores e a sua sistematização foram elaboradas pela equipe interdisciplinar daF.A.S.M. – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arte Santa Marcelina. São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong>


51da obra <strong>de</strong> arte <strong>como</strong> uma pintura, por exemplo, que é o objeto <strong>de</strong> estudo naquela situação, eque não se caracteriza por uma simples cópia através do tableau ou quadro vivo, pois envolvea originalida<strong>de</strong> da criação cênica e seus signos. Po<strong>de</strong>mos dizer que ambas as produções, apintura que é a obra <strong>de</strong> um artista, e o texto encenado pelos alunos para compreen<strong>de</strong>r suascaracterísticas e as peculiarida<strong>de</strong>s daquele autor, são autênticas, isto é, a linguagem teatralpossui outros signos <strong>de</strong> representação, diferentes do texto artístico <strong>de</strong> outra linguagem, <strong>como</strong>uma pintura, concebida em outro espaço-tempo. Acreditamos, que o conjunto <strong>de</strong> mensagenstransmitidas é constituído em um domínio particular <strong>de</strong> elementos <strong>como</strong> o figurino, aexpressão, o gesto, as cores, a iluminação e o cenário idênticos a obra <strong>de</strong> arte que é o objeto<strong>de</strong> estudo entre professor/emissor e aluno/receptor, e a encenação/tableau produzida pelosalunos, <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> recepção da mensagem do conteúdo implícito nesta relaçãocomunicativa entre eles.Para Abraham Moles (1974, p.104), à medida que a mensagem introduz algo <strong>de</strong> novo,<strong>de</strong> original, ou seja, introduz aquilo que enten<strong>de</strong>mos por informação no <strong>meio</strong> do receptor, elase relaciona com a originalida<strong>de</strong> do agrupamento particular <strong>de</strong> signos consi<strong>de</strong>rados; noentanto, agrupamentos <strong>de</strong> signos que tenham a mesma originalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ter conteúdosdiferentes, o que nos conduz à situação na sala <strong>de</strong> aula on<strong>de</strong> se encontram a obra <strong>de</strong> arte –conteúdo programático escolar e a produção artística na linguagem teatral efetuada pelosalunos, sendo que a obra <strong>de</strong> arte com seu estilo e suas características é a mensagem que<strong>de</strong>verá ser transmitida ao receptor/aluno, e que é portanto, um agrupamento original <strong>de</strong> signosou seja, uma informação, e que <strong>de</strong>verá fazer parte do repertório tanto do receptor/<strong>de</strong>stinatárioquanto do emissor/docente.Assim, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a criação artística nos apresenta, através <strong>de</strong> imagenssonoras, visuais ou cênicas, o modo singular <strong>de</strong> captar e poetizar a realida<strong>de</strong>; assim <strong>como</strong> fazo artista, também faz o aluno, ao utilizar a linguagem da arte para expressar amensagem/conteúdo curricular <strong>de</strong> que foi receptor. Segundo Miriam Celeste F. D. Martins(1998, p.57), cada pessoa combina percepção, imaginação, repertório cultural e histórico paraler o mundo e o representa à sua maneira utilizando signos das mais diversas linguagens.Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a arte é conteúdo e forma, processos simultâneos on<strong>de</strong> oconteúdo está associado à temática e a forma <strong>de</strong> apresentá-lo está associado ao autor, a suapoética, o seu modo <strong>de</strong> fazer e <strong>de</strong> expressar o conteúdo.Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta curricular para o ensino <strong>de</strong> educação artística: ensino fundamental.3ªed. São Paulo: SE/CENP, 1997, p.67.


52Enfim, para que a informação possa ser compartilhada entre emissor e receptor, énecessário na situação ensino-aprendizagem que novos agrupamentos <strong>de</strong> signos sejamproduzidos, neste caso específico, os signos da linguagem teatral que criarão novasexpectativas e <strong>como</strong> já sabemos a informação é a medida do que é novo, ou imprevisível namensagem.Antes <strong>de</strong> prosseguirmos é importante ressaltar que para Abraham Moles (1974, p.109), a informação é apenas a medida da mensagem, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> médiapor signo é chamada <strong>de</strong> “<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação” e que existe uma in<strong>de</strong>pendência entre aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> e o número <strong>de</strong> signos empregados. A informação é portanto, amedida da novida<strong>de</strong> daquilo que nos é transmitido, sendo que tudo aquilo que restringe aescolha arbitrária <strong>de</strong> signos ou todo o conjunto <strong>de</strong> regras que estabelecem maior ou menorprevisibilida<strong>de</strong> para o receptor, contribuindo para pôr em or<strong>de</strong>m o agrupamento <strong>de</strong> signos, échamado <strong>de</strong> código. No código entram regras para a organização e escolha dos signos quecolaboram com a percepção da mensagem, sendo que além dos signos do repertório doemissor e receptor, o código <strong>de</strong>ve ser conhecido primeiramente por ambos.Abraham Moles (1974, p.107), explica que para fornecer informação a mensagem<strong>de</strong>ve ser variada <strong>de</strong> alguma forma, no tempo ou na dimensão do universo consi<strong>de</strong>rado eexplorado pela consciência do receptor. Portanto, a imprevisibilida<strong>de</strong> é a fonte do interesse doreceptor que reencontrará nos símbolos que lhe são oferecidos pelo emissor, um outrointeresse sobre aquilo que virá a partir do que lhe foi oferecido.Vale ressaltar que é justamente este processo comunicativo que preten<strong>de</strong>mosestabelecer na relação ensino-apredizagem através da linguagem teatral, pois que ainformação emitida pelo docente se reconhecerá na mensagem receptada pelo aluno, assimtambém <strong>como</strong> a informação no teatro, que é justamente a linguagem teatral e todos osarranjos que se realizam com seus elementos, através do diálogo entre o autor do textodramático e o encenador.Para Luiz C. Martino (2005, p.17), a informação só será ativada na mensagem se umaconsciência vem resgatar, <strong>de</strong>codificar ou interpretar os traços materiais <strong>de</strong> maneira areconstruir a mensagem, o que a aproxima da consciência emissora e, neste contexto po<strong>de</strong>mosfazer um parâmetro da relação comunicativa que acontece através do teatro e entredocente/emissor e aluno/receptor-<strong>de</strong>stinatário através da linguagem teatral no âmbito escolar.Já vimos anteriormente que a mensagem segundo Abraham Moles (1974, p.134),apresenta-se <strong>como</strong> uma hierarquia <strong>de</strong> níveis fenomenológicos <strong>de</strong> comunicação que secorrespon<strong>de</strong>m entre emissor e receptor, e a cada um <strong>de</strong>sses níveis, oferece um modo


53semântico e um modo estético <strong>de</strong> apreensão. A parte semântica são as idéias, a filosofia, aintriga, o roteiro; a parte estética é a peça, a encenação, o jogo dos atores controlado peloencenador. Ao utilizar o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação no processo pedagógico, vamosobter a mesma situação, ou seja, a parte semântica, o conteúdo abordado, a informação queestá relacionada ao contexto histórico e artístico e que <strong>de</strong>verá ser compartilhada entre odocente e o aluno, e a parte estética, com os signos da linguagem teatral, a ação dramática, oselementos sonoros e visuais da encenação. A reação do público no teatro diante do espetáculodivi<strong>de</strong>-se em três canais distintos, sendo que o primeiro é direto e imediato no sentido <strong>de</strong>Moreno 22 : mas a reação do público só é exercida sobre a peça encenada naquele momento, aparte semântica permanece in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ste mecanismo <strong>de</strong> reação. Segundo AbrahamMoles (1974, p.227), o que <strong>de</strong>terminará a originalida<strong>de</strong> semântica ou o valor cultural damensagem teatral é sua evolução no micro<strong>meio</strong> do qual surgiu, condicionado por sua leiturapolítica, econômica e sentimental. Já o terceiro canal <strong>de</strong> reação da massa sobre a obra teatralacontece <strong>de</strong> maneira difusa e a longo prazo, <strong>como</strong> o preço dos ingressos que influenciará acriação literária ou a teatral reduzindo as possibilida<strong>de</strong>s do autor inclusive no número <strong>de</strong>canais/palcos nos quais po<strong>de</strong> representar sua obra. Assim, po<strong>de</strong>mos perceber que o circuito <strong>de</strong>difusão da mensagem teatral é em gran<strong>de</strong> parte aberto e que a reação do público e portanto, dabilheteria é <strong>de</strong>terminada pela mensagem estética. Neste sentido, ao utilizar o canal teatral paraa transmissão da mensagem/conteúdo programático escolar, o emissor/docente sabe quepo<strong>de</strong>rá contar com esta reação do receptor <strong>de</strong>stinatário em relação ao texto cênico ou seuaspecto estético que se configura <strong>como</strong> fator captador da atenção dos alunos, parasimultaneamente compreen<strong>de</strong>r o aspecto semântico <strong>de</strong>ste conteúdo. Além disso, é importante<strong>de</strong>stacar que a parte estética da mensagem teatral em geral não é o foco do interesse do teatropedagógico, mas sim o conteúdo escolar abordado através da linguagem teatral. No entanto,no nosso estudo, o aspecto estético será também analisado visto que o conteúdo programáticoque se configura <strong>como</strong> a mensagem veiculada entre o docente/emissor e o aluno/receptor fazparte <strong>de</strong>ste conteúdo <strong>de</strong> arte. Ressaltaremos ainda que a parte semântica da mensagem e <strong>de</strong><strong>como</strong> ela é receptada pelo aluno é o aspecto mais relevante que será transmitido e que seconfigura no conhecimento e na contextualização artístico-histórico e cultural da humanida<strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>ramos relevante esclarecer que o sistema <strong>de</strong> teatro que <strong>de</strong>screvemos difere dosistema do “Espetáculo <strong>de</strong> massa”, que agrupa procedimentos e estruturas culturais22 Moreno, o inventor do Psicodrama (...). Em 1921, fundou em Viena o “<strong>Teatro</strong> da espontaneida<strong>de</strong>” (DasStegreiftheater) (...) Utilizando as noções <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> improvisação dramática, no “aqui –agora”, ele


54diversificadas que engloba proporções da parte cultural, do entretenimento, <strong>de</strong> eventospolíticos ou até mesmo da manifestação “religiosa” (no sentido etimológico <strong>de</strong> ligação entreindivíduos), e se configura <strong>como</strong> um teatro popular <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s espetáculos, conforme explicaAbraham Moles (1974, p.232). É através <strong>de</strong> um protocolo previamente estabelecido, que aexistência <strong>de</strong> uma ação consegue reunir tantas manifestações sociais <strong>de</strong> aspectos diferentes,juntamente com uma assistência: o público; neste espetáculo, o público é composto por umamultidão, que possui uma alma coletiva e seus arquétipos, numa espécie <strong>de</strong> comunhão, e quetem um passado no teatro antigo, um espetáculo <strong>de</strong> massa no qual participava toda acoletivida<strong>de</strong>, no espaço projetado para receber toda a cida<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> o receptor po<strong>de</strong>ria ver eouvir o emissor simultaneamente <strong>de</strong> todos os lugares.Neste contexto po<strong>de</strong>mos ressaltar que ao utilizar o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicaçãona prática pedagógica, não se necessita <strong>de</strong> área especialmente preparada para o<strong>de</strong>senvolvimento da linguagem teatral, po<strong>de</strong>ndo-se utilizar as próprias salas <strong>de</strong> aula,afastando-se as carteiras e criando então uma área <strong>de</strong> atuação. Segundo Flávio Desgranges(2003, p.10), a exploração das diversas áreas da escola <strong>como</strong> ambiente ficcional possibilitaque os alunos criem uma outra simbologia para os ambientes do cotidiano escolar. Sendoassim, o teatro na escola po<strong>de</strong> servir para redimensionar a relação <strong>de</strong> ensino-aprendizagementre docente/emissor e aluno/receptor da mensagem-conteúdo escolar com o espaço,possibilitando também a revisão das relações estabelecidas em diferentes níveis no interior daestrutura escolar.A mensagem, ou seja, a peça <strong>de</strong> teatro ou o texto teatral ou texto espetacular é apenasum suporte material, que é condição necessária para a comunicação, mas não imprescindível,pois não se trata <strong>de</strong> um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação porque não comunica efetivamente, embora opalco ou espaço cênico, a movimentação dos atores, o som, a indumentária se configurem<strong>como</strong> elementos ou suporte material para comunicar. No entanto, para que aconteça oprocesso comunicativo é necessário que aconteçam também as ativida<strong>de</strong>s doreceptor/espectador, <strong>como</strong> reação ao produto da ativida<strong>de</strong> do emissor, que envolve a direçãoda ação dramática dos atores com todos os elementos do texto teatral, ou seja, da peçaencenada, concretizada no palco. Enten<strong>de</strong>mos que é esta relação <strong>de</strong> interação entre o emissore receptor e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas entre eles que estabelece realmente o processocomunicativo. Vinculada a este processo encontramos toda a informação que será reconhecidana mensagem, mas para reconhecer a informação veiculada é preciso que ela seja ativada. Sepropõe que as próprias pessoas atuem e criem o seu próprio teatro. CHACRA, Sandra. Natureza e sentido daimprovisação teatral. São Paulo: Perspectiva, 1991, p. 36/37.


55o receptor, ou mesmo aquele que codificou a mensagem (<strong>como</strong> no caso da situaçãopedagógica, que estamos analisando no nosso estudo, quando o aluno é produtor <strong>de</strong> textoscênicos), vem <strong>de</strong>codificar ou interpretar os traços materiais <strong>de</strong> maneira a reconstituir amensagem, passando a compartilhar da mesma informação da consciência emissora, entãoestabeleceu-se a relação <strong>de</strong> comunicação. Na situação pedagógica quando o teatro é um <strong>meio</strong>para a transmissão <strong>de</strong> conteúdos, a mensagem terá um aspecto semântico e outro estético,<strong>como</strong> já nos referimos anteriormente, então para que a informação/conteúdo programáticoescolar seja veiculada, é necessário fazer uma organização dos traços materiais que neste casoé a linguagem teatral e seus elementos por uma consciência, a emissora. Esta consciência éorientada pelo diálogo entre o autor do texto dramático e o diretor ou encenador, que muitasvezes são os mesmos. Po<strong>de</strong>mos pensar que o papel do autor do texto dramático se encontra nodocente com as informações que se caracterizam <strong>como</strong> o conteúdo escolar e o papel doencenador, o aluno, que codificará os elementos materiais produzindo assim um texto teatralque resgatará aquilo que encontramos no repertório do professor ou ainda nos textosacadêmicos dos livros e enciclopédias.Ao levar o texto dramático para o espaço cênico, temos a presença <strong>de</strong> comediantes ouatores e <strong>de</strong> espectadores, situação que envolve normas e convenções <strong>de</strong> códigos <strong>de</strong>comunicação lingüística mas que através do texto espetacular adquirem maior explicitu<strong>de</strong><strong>de</strong>vido aos códigos que o regulam. No texto teatral temos, além do texto dramático o textoproxêmico, isto é, que regula as personagens através dos movimentos corporais e os gestosdos comediantes assim <strong>como</strong> a sua mímica facial, e o código paralinguístico que regula osfatores vocais e a emissão dos signos verbais <strong>como</strong> a entonação, riso, qualida<strong>de</strong> da voz, etc.Portanto, a estrutura visual do texto teatral é o resultado da concretização oral do textodramático; assim, os espectadores, além <strong>de</strong> ouvirem po<strong>de</strong>rão ver as personagens dramáticas, oque se configura <strong>como</strong> uma transcodificação semiótica, conforme explica Aguiar e Silva(2002, p.209), <strong>como</strong> resultado das instruções do dramaturgo, ou o criador do texto dramáticoaos intérpretes, organizados pelo encenador, para através dos movimentos dos atores, docenário, dos efeitos acústicos e visuais no espaço cênico, transmitir suas idéias.Quando o espetáculo é exibido no espaço cênico ele se torna gerador <strong>de</strong> muitossignificados, <strong>como</strong> os significados do vestuário, da iluminação; além disso, sendo que apresença física do ator, a ação das personagens os elementos paralinguísticos, proxêmicos ecinésicos, os efeitos sonoros e visuais que ali se relacionam, apresentam-se <strong>como</strong> signos <strong>de</strong>sistemas semióticos e <strong>de</strong> códigos heterogêneos que constituem o texto teatral. Sendo assim, o


56texto teatral torna-se um verda<strong>de</strong>iro mo<strong>de</strong>lo da comunicação humana, utilizando <strong>meio</strong>ssemióticos que não ocorrem nos textos <strong>de</strong> nenhuma outra arte.A comunicação acontece no teatro a partir do resultado da ação dramática que envolvetambém a presença e o <strong>de</strong>sempenho dos atores e todos os elementos da encenação no espaçocênico, tratando-se, portanto, <strong>de</strong> uma comunicação intracênica; a comunicação extracênicaacontece quando os receptores são os espectadores ou público que assiste á representação doespetáculo e suas reações influenciam a comunicação intracênica, através dos aplausos ouvaias que <strong>de</strong>monstram a sua aceitação ou seu <strong>de</strong>sagrado. A partir <strong>de</strong>ste contexto, po<strong>de</strong>mosfazer um parâmetro da comunicação teatral propriamente dita, com a comunicação teatral noambiente escolar, quando esta aceitação ou compreensão do espetáculo pelo público receptor,no caso, o aluno, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá tanto do seu repertório <strong>como</strong> da leitura do conteúdo escolartransmitido através <strong>de</strong> um texto teatral. Sendo o aluno consi<strong>de</strong>rado <strong>como</strong> receptor <strong>de</strong>stinatáriono processo comunicativo, <strong>de</strong>vemos lembrar que o docente <strong>de</strong>ve conhecer a bagagem sócioculturaldo educando e <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem verbal e não-verbal paracompreen<strong>de</strong>r <strong>como</strong> o aluno estabelece seu diálogo com a realida<strong>de</strong> por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> signosartísticos. Ao conhecer o repertório <strong>de</strong> seus alunos, as produções dos textos teatrais ficarãomais significativas no seu aspecto estético, o que provavelmente auxiliará na recepção <strong>de</strong> seuaspecto semântico. Porém, é preciso ressaltar que arte é forma e conteúdo ao mesmo tempo,conforme explica a Proposta Curricular para o Ensino <strong>de</strong> Educação Artística: EnsinoFundamental (1997, p.20): “trabalhar apenas com proposições temáticas é reforçar umaprática em arte centralizada no conteúdo”. No nosso estudo propomos a linguagem teatral<strong>como</strong> suporte para o processo ensino-aprendizagem, pois além do <strong>de</strong>senvolvimento dapercepção e senso estético, o teatro po<strong>de</strong> se configurar <strong>como</strong> um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação quepo<strong>de</strong>rá contribuir para a construção do conhecimento não só <strong>de</strong> Arte, mas <strong>de</strong> outroscomponentes curriculares, colaborando para o crescimento intelectual e emocional necessáriopara a formação integral do indivíduo.Na proposta <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos cênicos pelos alunos para a transmissão e portanto,recepção dos conteúdos pedagógicos, encontramos na situação ensino-aprendizagem oemissor teatral que é um emissor plural, ou seja, uma espécie <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> emissores oumicrogrupo criador. Neste microgrupo criador, cada integrante <strong>de</strong>sempenha funçõessemioticamente diferenciadas e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, conforme explica Aguiar e Silva (2002, p.211), cronologicamente po<strong>de</strong>mos situar primeiramente o autor do texto dramático, ao qualjuntam-se o encenador que em muitas vezes também é o autor textual ou autor dramático, eàs vezes também se configura <strong>como</strong> um dos atores ou dos comediantes. A função do


57encenador ou do diretor do espetáculo é uma operação <strong>de</strong> metalinguagem 23 pois é ele quem lêe interpreta o texto dramático e estabelece as condições para a transcodificação teatral, ouseja, é quem escolhe e dirige os atores, constrói o espaço cênico e seus elementos sonoros evisuais. O encenador tem domínio dos códigos culturais e estéticos que são necessários paraabordar o público receptor do texto teatral e que será transmissor também da mensagem doautor dramático.No entanto, o encenador tem liberda<strong>de</strong> para a criação do texto teatral sem que sejanecessário pren<strong>de</strong>r-se ao texto dramático, pois ele, o encenador, criará um novo texto,semioticamente diverso do texto do emissor originário, pois os códigos e signos envolvidosno espetáculo são diferentes daqueles do texto literário.Esta liberda<strong>de</strong> semiótica do encenador acontece por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>retextualização, termo proposto por Franco Ruffini, segundo Aguiar e Silva (2002, p.209), ouseja, a exploração do texto dramático e portanto literário, para sua transformação em textooralmente realizado numa situação fictícia por atores, e comunicado aos espectadores oureceptores por um canal vocal-auditivo.Para concretizar o texto do dramaturgo e o texto do encenador temos os atores oucomediantes que são também emissores relevantes do texto teatral através <strong>de</strong> sua expressãocorporal, sua voz, seus gestos, seu vestuário, sua fisionomia e sua sensibilida<strong>de</strong>, e em muitasvezes, o ator é um emissor mais <strong>de</strong>stacado <strong>de</strong>vido a sua atuação que é muito valorizada pelopúblico. E também são emissores os cenógrafos, os <strong>de</strong>coradores, os técnicos <strong>de</strong> luz e som,entre outros, que po<strong>de</strong>rão participar da produção do texto teatral <strong>como</strong> coreógrafos, músicos,etc. De qualquer modo, todos esses emissores com seus códigos heterogêneos são produtores<strong>de</strong> mensagens múltiplas que se configuram <strong>como</strong> o texto teatral.Po<strong>de</strong>mos ressaltar que esta comunicação que acontece através da transmissão <strong>de</strong> umamensagem múltipla, <strong>de</strong>vido aos códigos distintos, mas que se reúnem para a produção dotexto teatral, é muito eficiente na situação <strong>de</strong> ensino-aprendizagem e transmissão do conteúdoprogramático <strong>de</strong> arte, pois os alunos/receptores terão a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilar asinformações e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> várias linguagens e seus signos, além do conteúdoproposto pelo docente e que se apresenta <strong>como</strong> ponto <strong>de</strong> partida para a emissão e recepção dotexto teatral.23 Metalinguagem: a função metalingüística está centrada no código, isto é, seu objetivo é a própria linguagem.Só em casos especiais é que se usa esta função na correspondência empresarial ou oficial. Serve para darexplicações ou precisar o código utilizado pelo emissor. Tem por objetivo a própria língua. MEDEIROS, JoãoBosco. Correspondência: técnica <strong>de</strong> comunicação criativa. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2002, p.77.


58No nosso estudo, enten<strong>de</strong>mos que o docente po<strong>de</strong> ser comparado ao emissor noprocesso comunicativo, pois ao propor a produção e a leitura <strong>de</strong> textos cênicos na sala <strong>de</strong> aula,estabelece um canal, através da linguagem teatral para a recepção <strong>de</strong>ste conteúdo e se colocanesta situação <strong>como</strong> um emissor múltiplo, pois os alunos participam <strong>de</strong>ste processo visto quetambém dominam os códigos referentes à encenação.Salientamos que <strong>como</strong> no nosso estudo o conteúdo programático escolar <strong>de</strong> arte é amensagem que será veiculada pelo canal teatro, também os códigos <strong>de</strong> representação estãoimplícitos no repertório dos alunos ou receptores/<strong>de</strong>stinatários, assim <strong>como</strong> a liberda<strong>de</strong>semiótica para a transcodificação <strong>de</strong> textos da História da Arte verbais e não-verbais, <strong>como</strong> apintura e a escultura, por exemplo, em textos teatrais, <strong>como</strong> a produção <strong>de</strong> tableau.Neste contexto, ao utilizar o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação na sala <strong>de</strong> aula, oprofessor/emissor e o aluno receptor aproximam-se <strong>de</strong> tal modo na produção econsequentemente na leitura dos textos teatrais que torna o aluno co-emissor e portanto, coautordo processo ensino-aprendizagem, agindo <strong>de</strong> maneira atuante na recepção dasinformações necessárias ao seu <strong>de</strong>senvolvimento escolar.Assim, <strong>como</strong> o receptor na sala <strong>de</strong> aula, o receptor do texto teatral nunca é umindivíduo isolado ou um grupo <strong>de</strong> pessoas isoladas, e ao contrário do receptor do textodramático, os espectadores são indivíduos que se reúnem para assistirem juntos, num<strong>de</strong>terminado espaço/tempo, a realização <strong>de</strong> um espetáculo, que representa uma manifestaçãosocial e que envolve suas raízes religiosas e rituais.Para Franco Ruffini, apud Aguiar e Silva (2002, p.212), a comunicação teatral seráefetivada se o receptor do texto teatral compreen<strong>de</strong>r qual é o texto principal 24 e qual é o textodramático, além <strong>de</strong> possuir conhecimento <strong>de</strong> códigos que lhe permitam interpretar tanto osatos linguísticos quanto os das ações das dramatis personae 25 e uma competênciacomunicativa específica que lhe dará a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>signos, que constituem o texto teatral, recebidos pelo seu canal auditivo e visual. Sendo assim,é importante ressaltar que:24 “O texto dramático caracteriza-se estruturalmente por ser constituído por um texto principal, isto é, pelasréplicas, pelos actos linguísticos realizados pelas personagens que se comunicam entre si – no texto dramáti<strong>como</strong>nológico não existem réplicas, nem interlocutores stricto sensu, embora neles se possam manifestar elementosdialógicos e se possam i<strong>de</strong>ntificar interlocutores implícitos ou latentes - , e pos um texto secundário, formadopelas didascálias ou indicações cênicas”. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria e metodologia literária.Lisboa: Universida<strong>de</strong> Aberta, 2002, p.205.25 Expressão latina que significa “personagem do drama”. Trata-se da lista <strong>de</strong> personagens <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminadapeça, antece<strong>de</strong>nte ao texto impresso, muito usadas em edições antigas. VASCONCELLOS, Luiz Paulo da Silva.Dicionário <strong>de</strong> teatro. Porto Alegre: L&PM, 1987, p.76.


59Não nos parece carecer <strong>de</strong> fundamento a asserção, ou a hipótese, <strong>de</strong> queexiste um texto verbal na origem <strong>de</strong> todo texto teatral, quer esse texto verbalseja constituído por um texto dramático, por um texto literário complexo erigorosamente estruturado, quer seja constituído por um simples plano ouum esboço da ação dramática (<strong>como</strong> o canovaccio da commedia <strong>de</strong>ll’arte),quer por qualquer texto, enfim, a partir do qual e muitas vezes contra o qualé produzido o texto teatral (AGUIAR e SILVA, 2002, p.213).Consi<strong>de</strong>rando que no nosso estudo o teatro é um <strong>meio</strong> para a emissão e a recepção doconteúdo escolar, pensamos que a produção <strong>de</strong> textos teatrais pelos alunos configura-se <strong>como</strong>a mensagem teatral que está armazenando as informações da proposta pedagógica emitidapelo docente. Através da produção <strong>de</strong> textos cênicos sobre o conteúdo escolar, a consciênciareceptora reconhecerá na mensagem as informações que foram emitidas pelo docente noprocesso que se estabelece <strong>de</strong> codificação e <strong>de</strong>codificação dos traços materiais da mensagem eao mesmo reconstituindo-a.Nesse contexto, acreditamos que acontece, portanto, uma relação comunicativa entredocente/emissor do conteúdo escolar com o aluno ou receptor/<strong>de</strong>stinatário <strong>de</strong>sta mensagem,através do canal teatro, um <strong>meio</strong> que acreditamos ser eficiente para estabelecer a relaçãoensino-aprendizagem.Segundo Sandra Chacra (1991, pág.85), o teatro é um processo <strong>de</strong> uma articulaçãosimbólica específica que permite esta relação <strong>de</strong> troca entre palco e platéia e que o ator comseu jogo <strong>de</strong> dupla personalida<strong>de</strong> reflete também o público em dois sentidos, sendo o primeirodurante o próprio instante da comunicação estética e o segundo <strong>como</strong> reflexo <strong>de</strong> um momentosocial e histórico. Este segundo sentido revela também que o modo <strong>de</strong> representar assim <strong>como</strong>as convenções teatrais se modificam em cada época da nossa história <strong>de</strong> acordo com areceptivida<strong>de</strong> do público. Como vimos anteriormente, o comportamento da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>alterar o aspecto material do texto teatral no que se refere à encenação e a interpretação. Nasorigens ritualísticas do teatro encontramos uma platéia homogênea, pelo menos do ponto <strong>de</strong>vista sócio-cultural e que <strong>de</strong>sempenha um papel ativo <strong>como</strong> aquele das cerimônias religiosas.Na sua evolução o teatro que antes tinha um público participante, recebe um público que setorna espectador, segundo Sandra Chacra (1991, pág.91). No entanto, o teatro buscaatualmente a participação coletiva do público, segundo a idéia <strong>de</strong> um espectador que está


60contida no jogo dramático infantil, pois as regras que <strong>de</strong>limitam os atores para serem apenasvistos não fazem parte da natureza da criança.


61CAPÍTULO III – A ANÁLISE DO TEATRO NA SALA DE AULA3.1 - A prática teatral – um exercício do processo comunicativo ensino-aprendizagemCom base nas observações realizadas em 2 turmas da EE Profª Wanda Helena ToppanNogueira, estabelecemos nosso público-alvo com a 8ª série D do Ensino Fundamental e a 1ªsérie A do Ensino Médio <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong> escolar, para o qual foi proposto a construção doconhecimento em <strong>de</strong>terminados estilos da Arte através da linguagem teatral, especificamentepela produção <strong>de</strong> quadros-vivos representando obras <strong>de</strong> diversos períodos da História da Arte.Escolhemos uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>como</strong> o tableau ou quadro-vivo para arealização da análise da utilização da linguagem teatral <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação na sala <strong>de</strong>aula, pois consi<strong>de</strong>ramos que a interação entre os alunos e esta forma <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textoteatral foi a que obteve melhores resultados na recepção do conteúdo programático <strong>de</strong>Estética, História e Evolução das Artes Visuais, assim <strong>como</strong> para o conteúdo na área daslinguagens corporal e teatral.Devemos ressaltar que para a análise foram escolhidos as produções/tableau aquelesque mais se <strong>de</strong>stacaram na relação palco e platéia ou grupo que representa e grupo espectadorna leitura das características dos Estilos da História da Arte que foram apresentadas, e que porisso mesmo, proporcionaram melhor relação comunicativa entre emissor/docente do conteúdoe receptor <strong>de</strong>stinatário/aluno.No jogo dramático, a criança evolui e em seu <strong>de</strong>senvolvimento ela sente a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> ver e <strong>de</strong> ser vista. Neste aspecto, a<strong>de</strong>ntraremos na iniciação das crianças na linguagemteatral na escola, mas para tanto precisamos enten<strong>de</strong>r que o processo dramático na infância édiferente <strong>de</strong> <strong>como</strong> se apresenta para o adulto. Para a criança que assiste a uma peça teatraltudo se configura <strong>como</strong> real, não <strong>como</strong> situações ensaiadas e encenadas; mas em seu<strong>de</strong>senvolvimento ela vai aos poucos assumindo seu papel <strong>de</strong> espectadora <strong>de</strong> uma criaçãoartística, <strong>como</strong> explica Chacra (1991, p. 93). Segundo Os Parâmetros Curriculares Nacionais– Arte (1997, p. 85), para o ensino <strong>de</strong> teatro nas séries iniciais do Ensino Fundamental oprofessor <strong>de</strong>ve conhecer as etapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem dramática da criança e<strong>como</strong> ela está relacionada ao processo cognitivo. Por volta dos oito, nove anos é que a criança


62procura mostrar os fatos do jogo simbólico <strong>de</strong> forma mais realista, estando, <strong>de</strong>sse modo, maisconsciente sobre o que quer dizer por <strong>meio</strong> do teatro. Assim, a linguagem teatral na escolaprecisa ser repensada sob o ponto <strong>de</strong> vista do <strong>de</strong>senvolvimento do educando, quecompreen<strong>de</strong>rá a ativida<strong>de</strong> teatral gradualmente e não através <strong>de</strong> uma iniciação da gramáticateatral da mesma forma <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> língua portuguesa que certas pré-escolaspropagam, <strong>como</strong> explica Chacra (1991, p.92). Portanto, o teatro na escola, vem sendotrabalhado através da prática <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> improvisação teatral, ou jogos <strong>de</strong> expressãodramática, os quais são exercícios em que jogadores–atores executam uma cena improvisada,partindo <strong>de</strong> uma proposta dada pelo professor ou coor<strong>de</strong>nador do processo, enquanto os<strong>de</strong>mais alunos se colocam enquanto expectadores da cena improvisada, conforme explicaDesgranges (2003, p.03).Através do jogo teatral, a criança <strong>de</strong>senvolve um jogo <strong>de</strong> construção para aconsciência do “<strong>como</strong> se” que, se for gradativamente trabalhado, levará à articulação dalinguagem teatral e <strong>de</strong> seus elementos. Os participantes dos jogos adquirem ao longo doprocesso das aulas, a percepção para a utilização dos elementos que compõem a linguagemteatral e consequentemente terá ampliada sua capacida<strong>de</strong> expressiva e analítica. Por <strong>meio</strong> daassociação do divertimento e aquisição da linguagem teatral, os alunos encontrarão nos jogosimprovisados, nas aulas <strong>de</strong> arte, a facilida<strong>de</strong> para abordarem também os aspectos históricos doteatro nas séries finais do ciclo fundamental e no Ensino Médio, assim <strong>como</strong> acreditamos quea linguagem teatral também é eficiente para estabelecer a relação comunicativa entre docentee educando nos outros componentes curriculares para emissão e recepção <strong>de</strong> seus conteúdos.Sendo assim, po<strong>de</strong>mos pensar que a improvisação é o princípio e a base do teatro/educação<strong>como</strong> afirma Chacra (1991, p. 36), e também do Psicodrama.Moreno, o inventor do psicodrama criticava o teatro convencional e a divisão entrepalco e platéia, que consi<strong>de</strong>rava bloqueadores da espontaneida<strong>de</strong>, e ao elaborar a teoria daespontaneida<strong>de</strong>, Moreno buscou na Commedia Dell’Arte e nas lições <strong>de</strong> Stanislavski a teoriapara sustentar a expressão psicodramática improvisada e consequentemente, a cura terapêuticaatravés do drama. O psicodramatista Moreno aplicou também suas teorias na educação, poispara ele, toda escola <strong>de</strong>veria contar com uma sala <strong>de</strong> psicodrama <strong>como</strong> um laboratório paraque o aluno tenha uma atuação livre e espontânea <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>. Chacra (1991, p. 37),explica que o psicodrama pedagógico é um instrumento <strong>de</strong> ensino em relação à aprendizagem<strong>de</strong> um modo geral, <strong>de</strong> maneira que uma explicação somente teórica não é satisfatória aoeducando e que a teoria aplicada à sua vivência prática através da dramatização improvisadaserá muito mais eficaz. A autora também explica que:


63O teatro/educação, <strong>de</strong>ntro da educação artística, não visa especificamente acriação <strong>de</strong> produtos teatrais acabados ou pré-<strong>de</strong>terminados, mas preten<strong>de</strong>propiciar o enriquecimento dos <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> expressão do indivíduo e dogrupo, quer seja ele formado por crianças, jovens ou adultos, em situaçãoescolar ou fora <strong>de</strong>la! (CHACRA, 1991 p. 37).Percebemos que ao trabalhar o teatro nas aulas <strong>de</strong> arte, duas tendências se manifestamna escola, a primeira que é o próprio <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem teatral econsequentemente visa enfatizar o lado artístico, e a segunda que prioriza o <strong>de</strong>senvolvimentopessoal do educando, mas em qualquer um dos modos <strong>de</strong>scritos, o jogo teatral ouimprovisiocional é estimulado, segundo Chacra (1991, p.38).No nosso estudo, no entanto, além <strong>de</strong>stes aspectos acima <strong>de</strong>scritos, procuramostambém no teatro um <strong>meio</strong> para facilitar o processo ensino-aprendizagem, não apenas na área<strong>de</strong> arte, mas também em outros componentes curriculares.Para Piaget e Peter Sla<strong>de</strong>, que estudaram o universo dramático das crianças, o jogodramático é anterior à sala <strong>de</strong> aula, pois através do “faz-se <strong>de</strong> conta” a criança joga simbólicae dramaticamente por pura necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu interior ou pelo puro prazer, e conformeexplicamos anteriormente, é essa naturalida<strong>de</strong> e espontaneida<strong>de</strong> que na nossa experiênciaajudará a <strong>de</strong>senvolver o processo comunicativo na situação ensino-aprendizagem.Nas nossas escolas, segundo Desgranges (2003, p05), os jogos <strong>de</strong> improvisação teatralseguem a metodologia <strong>de</strong> Viola Spolin, O Jogo Teatral, para a aprendizagem <strong>de</strong> teatro; oDrama, <strong>de</strong>senvolvido nos países <strong>de</strong> língua inglesa e que propõe um processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>uma narrativa dramática; o jogo dramático que surgiu na França no início do Século XIX, e éreconhecido pelo seu valor educacional <strong>como</strong> uma ativida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolve criações cênicas<strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> apreensão da linguagem teatral.3.2 - As relações comunicativas entre emissor e receptor no espaço <strong>de</strong> ensinoaprendizagemNo ensino <strong>de</strong> Arte, o teatro se estabelece <strong>como</strong> diálogo entre palco e platéia (processo<strong>de</strong> comunicação) e po<strong>de</strong> se tornar um dos parâmetros <strong>de</strong> orientação educacional nas aulas <strong>de</strong>teatro, integrando-se aos objetivos, conteúdos, métodos e avaliação da área, conformeexplicam os Parâmetros Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos do EnsinoFundamental (1998, p.88).


64Sendo assim, passaremos à utilização do tableau, um texto teatral que se configura<strong>como</strong> um quadro-vivo <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação para os estilos e os autores da linguagemvisual e sua evolução na história da pintura.O tableau ou quadro vivo é um texto teatral que utiliza os signos <strong>de</strong>sta linguagem eseus elementos visuais, mas não os sonoros, e vem sendo muito usado nas representaçõesescolares, em cenas históricas e artísticas. Trata-se <strong>de</strong> uma cena representada por uma pessoaou por um grupo, sem movimento e sem o uso da voz, conforme já <strong>de</strong>stacamos. Neste textocênico especificamente, os signos icônicos são utilizados pelos alunos, pois apresentamsimilarida<strong>de</strong> com aquilo que representam e que geralmente são as pinturas dos diversos estilosda História da Arte, e sendo assim, po<strong>de</strong>mos dizer que os alunos representam através dalinguagem teatral, o que o artista plástico representou em sua tela em tempos e lugaresdistantes.Ao produzir o tableau <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada pintura representativa <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminadoestilo artístico, os alunos estão interpretando a mensagem, veiculada pelo canal teatro eemitida pelo professor, mas lembrando-nos que ele, o educando, é o receptor <strong>de</strong>stinatárionesta relação <strong>de</strong> ensino-aprendizagem e que para <strong>de</strong>codificar as informações transmitidas peloemissor/docente torna-se também co-emissor visto que também foi encenador.Por <strong>meio</strong> do gesto, da expressão facial, do figurino, da maquiagem e por vezes dailuminação, o educando representa as informações que chegaram até ele neste processocomunicativo estabelecido por <strong>meio</strong> da linguagem teatral, <strong>de</strong>senvolvida ao longo das séries doEnsino Fundamental.Sabemos que o objetivo do ensino <strong>de</strong> arte é a leitura e a produção <strong>de</strong> textos daslinguagens artísticas, um processo que já vimos com Piaget que é anterior à sala <strong>de</strong> aula e quecomeça naturalmente na criança através do jogo simbólico do “faz-<strong>de</strong>-conta”; então, nasséries iniciais do Ensino Fundamental, os alunos jogavam dramaticamente nas aulas <strong>de</strong> ensino<strong>de</strong> arte, para que a experiência proporcionada por estes jogos pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> maneiraespontânea e prazerosa a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imaginação, <strong>de</strong> ação e da reflexão sobre omundo, sobre si mesmo e sobre a arte.Desgranges (2003, p.03) diz que a prática dos jogos <strong>de</strong> improvisação <strong>de</strong>sperta noaluno a aquisição da linguagem teatral capacitando-os para organizar um discurso coerente ecriativo que explore os diferentes signos que constituem esta linguagem que é composta <strong>de</strong>palavras, sons, gestos, ações dramáticas, exploração da luz e <strong>de</strong> objetos, entre outros recursospara comunicar algo, e no nosso estudo, “comunicar algo” significa a recepção, damensagem/conteúdo programático, emitida pelo professor. Ao utilizar os elementos materiais


65<strong>de</strong>ste canal que é o teatro, o aluno <strong>de</strong>codifica a mensagem através <strong>de</strong> seu aspecto estético,usando os diversos elementos da linguagem teatral exprimindo, <strong>de</strong> diferentes maneiras, aquiloque captou da informação que lhe foi emitida. Segundo Bulik (2001, p.32) “A mensagemsemântica exprime-se por símbolos, <strong>de</strong>termina as <strong>de</strong>cisões. É traduzível, lógica. A mensagemestética exprime-se por ícones, <strong>de</strong>termina os estados interiores. É intraduzível, metafórica”.Ao produzir o texto cênico/quadro vivo o educando busca nos signos que seassemelham à pintura em observação, <strong>como</strong> as cores da indumentária, o jogo <strong>de</strong> luz e sombra,a expressão parecida com aquela da obra, a postura, etc., e encontramos novamente o conceito<strong>de</strong> mimese, o jogo (“<strong>de</strong> estátua viva”) simbólico, os signos da linguagem com seus códigos euma produção criativa, poética, que é ao mesmo tempo a própria recepção da informação préestabelecidapelo docente ao expor as características e as singularida<strong>de</strong>s do artista, assim<strong>como</strong> os aspectos históricos e culturais <strong>de</strong> seu estilo.Encontramos o aspecto estético da mensagem teatral através da função poética dalinguagem teatral que está centrada na própria mensagem e nela, o ritmo, a sonorida<strong>de</strong> e aestrutura têm importância relevante. No entanto, o aspecto da informação/conteúdoprogramático é o aspecto que será mais <strong>de</strong>stacado em nosso estudo, pois não apenas oconteúdo <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong>rá ser abordado através da linguagem teatral, mas outros componentescurriculares também encontrarão no teatro um canal para a transmissão <strong>de</strong> seus conteúdos,quando encontraremos então o papel pedagógico do teatro e não apenas sua função estética eartística.Mas <strong>de</strong>vemos ressaltar que no nosso estudo, os educandos, ao utilizarem a linguagemteatral para criar um texto que se presentifica <strong>como</strong> a recepção da mensagem emitida pelodocente sobre o conteúdo escolar, uniram também a techné 26 , ou seja, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operaros <strong>meio</strong>s com a poiesis 27 , ou seja, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação estabelecendo assim um modopoético <strong>de</strong> se relacionar com o mundo, segundo Martins (1998, p.24), ao representar, atravésda linguagem teatral, um texto cênico que no nosso estudo é o quadro vivo/tableau, querepresenta um outro texto, <strong>de</strong> outra linguagem <strong>como</strong> das Artes Plásticas, e acontece então umatranscodificação semiótica, assim <strong>como</strong> quando o texto dramático torna-se espetacular.Po<strong>de</strong>mos dizer que nesta transcodificação, encontramos o caráter <strong>de</strong> mimese, <strong>de</strong> analogia, e26 Movimento que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da potência o cosmos do caos (...) Modoexato <strong>de</strong> perfazer uma tarefa antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> todas as técnicas dos nossos dias. BOSI apud MARTINS, MirianCeleste Ferreira Dias, et al. Didática do ensino <strong>de</strong> arte: a linguagem do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte.São Paulo: FTD, 1998, p.13.27 Poiesis: do grego: ação <strong>de</strong> fazer algo, aquilo que <strong>de</strong>sperta o sentido do belo, que encanta e enleva. MARTINS,Mirian Celeste Ferreira Dias, et al. Didática do ensino <strong>de</strong> arte: a linguagem do mundo: poetizar, fruir econhecer arte. São Paulo: FTD, 1998, p.24.


66não <strong>de</strong> duplicação simplesmente, visto que o educando criou um novo texto, que é o resultado<strong>de</strong> uma leitura <strong>de</strong> um outro signo e do significado <strong>de</strong> um outro texto.O modo <strong>de</strong> representação muda, não é uma operação idêntica para todos os povos eculturas, e tem se transformado ao longo da história da humanida<strong>de</strong>, e são justamente estasmudanças ou modos diferentes <strong>de</strong> representação através das Artes Plásticas que é o conteúdoescolar que se configura <strong>como</strong> a mensagem que é emitida pelo docente nas aulas <strong>de</strong> EducaçãoArtística nas séries finais do Ensino Fundamental e no ensino Médio.Para Bulik (2001, p.50), os aspectos semânticos e estéticos da comunicação estãopresentes, na elaboração da mensagem pelo emissor, que po<strong>de</strong>m ser percebidos e examinadossem nunca serem confundidos. Segundo a autora, o duplo aspecto semântico/estético damensagem conforme foi analisado por Abraham Moles, embora não corresponda ao duploaspecto digital/analógico <strong>de</strong> Anthony Wil<strong>de</strong>n, parece que encontra semelhanças na forma<strong>como</strong> a comunicação digital foi codificada com a mensagem semântica. Sendo assim,po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que existem dois modos fundamentais <strong>de</strong> acoplamento dos signos que sãoo digital e o analógico, e que a comunicação digital, conforme explicou Bulik (2001, p.51/54)correspon<strong>de</strong>rá à mensagem semântica, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da combinação <strong>de</strong> elementos que po<strong>de</strong>mser consi<strong>de</strong>rados <strong>como</strong> signos convencionais (símbolos). Quanto à comunicação analógica, oucomponente estético, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita <strong>como</strong> um aspecto contínuo <strong>de</strong> diferenças que nosremetem <strong>de</strong> modo icônico a conteúdos subjetivos.Para enten<strong>de</strong>r <strong>como</strong> a mensagem chega até o receptor e por ele é interpretada,voltaremos ao processo <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> Lasswell (HOHLFELDT, 2001 p.79): Quem – dizo que – em que canal – a quem – e com que efeito, para nos voltarmos para o processocomunicativo que é objetivo <strong>de</strong> nosso estudo, ou seja, o teatro <strong>como</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicaçãoentre professor/emissor do conteúdo programático escolar e o aluno/receptor <strong>de</strong>sta mensagem,e <strong>de</strong> <strong>como</strong> ela atua na psique <strong>de</strong>ste receptor. Portanto, para enten<strong>de</strong>r com que efeitos amensagem se manifesta no receptor, buscaremos seus componentes comunicativos que já sãoencontrados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens ritualísticas do teatro.Bulik (2001, p.52), divi<strong>de</strong> a mensagem ritual e posteriormente, teatral, em trêscomponentes, sendo composta <strong>de</strong> um aspecto implícito e um aspecto explícito. O primeirocomponente é o explícito, ou seja, é composto por um certo número <strong>de</strong> palavras, cantos,gestos, evoluções corporais, danças, que no passado, tinha um sentido conhecido por todos osenvolvidos nos rituais, já o segundo componente é classificado pela autora <strong>como</strong> implícito


67esotérico 28 ou seja, um certo número <strong>de</strong> palavras, gestos, cânticos, danças, cujo sentido éconhecido apenas pelos iniciados (ou sacerdotes), e é este aspecto que trará o efeito <strong>de</strong>espetáculo nos ritos no passado da humanida<strong>de</strong>. E o terceiro componente é constituído por umcerto número <strong>de</strong> signos implícitos que a autora Bulik (2001, p.53), chama <strong>de</strong> implícitoempático, pois estes signos é que fazem funcionar o contexto esotérico do segundocomponente, atuando sobre os fiéis, explicando-lhes que eles entraram em contato com forçasmisteriosas, míticas.Mas na mensagem teatral, os três componentes da mensagem ritual se reencontrammodificados inclusive pelo aspecto profano que o teatro <strong>de</strong>senvolveu. No primeiro nível, damensagem teatral encontra-se a história contada ou a narrativa textual, ou o primeirocomponente; o segundo encontra-se no texto teatral ou espetacular com todo o resultante dos<strong>meio</strong>s <strong>de</strong> expressão cênica, e o último nível que <strong>de</strong>nomina-se teatralida<strong>de</strong> ou seja, ocomponente da mensagem que permite a transmissão emocional e simbólica.Para a <strong>de</strong>monstração do papel pedagógico do teatro, ou seja, <strong>como</strong> o teatro seconfigura <strong>como</strong> um <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação eficaz na transmissão da mensagem ou conteúdoprogramático escolar faz-se necessário relembrar que a comunicação é uma ação exercidainternacionalmente sobre outrem. No nosso estudo po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a comunicação <strong>como</strong> arelação estabelecida entre docente e aluno no processo ensino-aprendizagem.Precisamos enfatizar também que esta relação comunicativa é uma ação comum ouseja, que esta “ação em comum” reflita um mesmo objeto <strong>de</strong> consciência o que na nossapesquisa será abordada <strong>como</strong> o conhecimento sobre arte ou o conteúdo programático <strong>de</strong> artepara o Ensino Fundamental e Médio.No nosso estudo o conteúdo programático escolar <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong> ser entendido <strong>como</strong> amensagem veiculada pelo canal teatro, entre emissor/docente e receptor <strong>de</strong>stinatário/aluno, noprocesso ensino aprendizagem; entretanto, a mensagem só é comunicação <strong>de</strong> modo relativo,só quando a mensagem é formada <strong>como</strong> conteúdo simbólico, ou seja, quando estárepresentando algo para alguém, é que se estabelece um processo comunicativo. Para queaconteça o processo comunicativo é necessário haver interação entre emissor e receptor, ouseja, somente quando se realizarem as ativida<strong>de</strong>s do receptor/espectador teatral <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r, interagir, interpretar, enfim, fazer uma leitura do produto das ativida<strong>de</strong>s doemissor, é que se estabelece a comunicação. Não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ressaltar que no teatro o28 Diz-se do ensinamento que, em escolas filosóficas da Antiguida<strong>de</strong> Grega, era reservado aos discípuloscompletamente instruídos. CUNHA, Antonio G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da LínguaPortuguesa. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.320.


68emissor configura-se através do autor textual, o encenador, os atores, a ação dramática, enfim,o espetáculo pronto, concretizado no palco.Sendo assim, ao utilizar o teatro na sala <strong>de</strong> aula para <strong>de</strong>senvolver o conteúdo <strong>de</strong> ensino<strong>de</strong> Arte, acreditamos que se estabelecerá uma interação entre docente e aluno, emissor ereceptor, <strong>de</strong> modo semelhante àquele que acontece entre palco e platéia. Ressaltamos que arelação estabelecida entre palco e platéia foi se modificando no <strong>de</strong>correr da evolução doteatro, que coinci<strong>de</strong> com a própria história do homem. As socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada época tinhamuma maneira própria <strong>de</strong> estabelecer a participação entre palco e espectadores, conformeexplica Desgranges (2003, p.01), e percebemos que um dos elementos reveladores <strong>de</strong>starelação tem sido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos primordiais o espaço cênico.Para enten<strong>de</strong>r <strong>como</strong> acontece a relação entre palco e platéia é necessário conhecer osaspectos <strong>de</strong>ssa comunicação que permitirá a reflexão sobre as diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>interação entre espectador e espetáculo teatral. Para tanto, buscamos nas origens ritualísticasdo teatro, <strong>como</strong> por exemplo, com os fiéis <strong>de</strong> reuniões festivais em homenagem aos <strong>de</strong>uses, osquais compareciam para participar e observar estas cerimônias religiosas e que posteriormenteforam transferidos para um espaço próprio que aos poucos se transformou em espaço cênico.Por isso, acreditamos que através <strong>de</strong> jogos e exercícios dramáticos nas aulas <strong>de</strong> EducaçãoArtística, os alunos po<strong>de</strong>m compreen<strong>de</strong>r a relação que acontece no espaço cênicotransmitindo-lhes a importância do público no teatro.No ambiente escolar, <strong>como</strong> a prática <strong>de</strong> jogos dramáticos não exige cenários efigurinos ou acessórios especiais, os alunos po<strong>de</strong>m valer-se do material disponível no espaçoda sala <strong>de</strong> aula, bastando para isso que se afastem algumas carteiras, criando assim uma área<strong>de</strong> atuação. Degranges (2003, p.10) explica que a exploração das diversas áreas da escolatransformadas em ambiente ficcional possibilitará aos alunos, participantes dos jogosdramáticos, criarem uma outra simbologia para esses ambientes do cotidiano escolar, o queacarretará o estreitamento do laço afetivo dos alunos com a escola, redimensionando,portanto, a relação dos alunos e professores entre si e com o espaço on<strong>de</strong> acontece a situação<strong>de</strong> ensino-aprendizagem por <strong>meio</strong> do canal teatro, um grupo da sala <strong>de</strong> aula representa,através <strong>de</strong> textos cênicos, enquanto os <strong>de</strong>mais alunos tornam-se espectadores, os quaisanalisando e trocando comentários durante e após a apresentação, propiciando ao gruporeceptor e ao grupo co-emissor a conquista da linguagem teatral e as noções básicas para aprodução em cena, assim <strong>como</strong> a utilização do teatro <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> expressão ecomunicação. É importante salientar que a presença do professor <strong>como</strong> condutor do <strong>de</strong>bate<strong>de</strong>ve criar um ambiente favorável no qual cada participante atuando <strong>como</strong> personagem ou na


69condição <strong>de</strong> espectador, possa encontrar o seu espaço e a sua maneira <strong>de</strong> se integrar eparticipar ativamente do processo; assim sendo, a interação entre palco e platéia ou entredocente e aluno acontecerá, possibilitando a relação comunicativa necessária para umaaprendizagem satisfatória. Segundo a Proposta Curricular para o Ensino <strong>de</strong> EducaçãoArtística 2º Grau (1992, p.33):Para Piaget, o conhecimento é sempre o resultado <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>construção, processo esse que, partindo <strong>de</strong> alguns dados e <strong>de</strong>problematizações vai experimentar, generalizar, aplicar, relacionar,transferir, etc, o que se adquiriu em uma <strong>de</strong>terminada situação para outra. Oconhecimento se processa quando há um equilíbrio entre o fazer e ocompreen<strong>de</strong>r.Acreditamos que o tableau ou quandro-vivo <strong>de</strong> uma obra /pintura, produzido pelosalunos será um estímulo gerador para o sentir, o pensar e o expressar que estabelecerá umdiálogo com a realida<strong>de</strong> (experiências com signos verbais e não-verbais), condiçõesnecessárias para a construção do conhecimento do educando. A construção do conhecimentocompreen<strong>de</strong> o fazer artístico, as experiências artísticas e estéticas, a relação com a produçãocultural e a compreensão da Arte, conforme a Proposta Curricular do Estado <strong>de</strong> São Paulo(1997), elaborada para o ensino <strong>de</strong> arte nas séries do Ensino Fundamental.Sendo assim, para a produção e leitura do tableau em sala <strong>de</strong> aula, buscamosorientações didáticas para <strong>de</strong>senvolver o processo <strong>de</strong> conhecimento na área artística por <strong>meio</strong>da resolução <strong>de</strong> problemas, segundo a Proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais: arte,1998. procuramos estabelecer com a produção e a leitura <strong>de</strong>ste texto teatral, o tableau, algunsitens para a emissão e recepção da mensagem nele veiculada, permitindo a reflexão quepossibilitará a construção do conhecimento <strong>de</strong> forma significativa dos estilos artísticosestudados.As questões levantadas pelos grupos produtores e pelos grupos receptores ecoor<strong>de</strong>nadas pelo professor <strong>de</strong>monstram: problemas sobre o processo <strong>de</strong> criação <strong>como</strong>técnicas e materiais disponíveis; organização <strong>de</strong> elementos cênicos e <strong>de</strong> forma harmoniosa noespaço/tempo <strong>de</strong> cotidiano escolar; e tendo em vista o conhecimento prévio dos signos verbaise não-verbais, que são requisitos importantes para a proposta <strong>de</strong> produção e leitura <strong>de</strong> textosartísticos criados pelos alunos sobre os períodos da História da Arte.


70Vimos que o processo <strong>de</strong> construção do conhecimento em arte po<strong>de</strong> ter na linguagemteatral um estímulo para concretizar a situação <strong>de</strong> aprendizagem juntamente com acombinação <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos cênicos e a fruição e contextualização das obras <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>períodos e estilos diversificados. Este processo aconteceu partindo do levantamento prévio doconhecimento e repertório cultural trazido pelos alunos, assim <strong>como</strong> do seu <strong>de</strong>senvolvimentocognitivo, além da coleta <strong>de</strong> dados e pesquisas sobre referências biográficas dos artistas e <strong>de</strong>seus estilos, da escolha <strong>de</strong> técnicas e elementos para a execução <strong>de</strong> procedimentos necessáriospara fazer o tableau. Ao momento <strong>de</strong> representação do quadro-vivo, segue-se a observação ea leitura conduzida por um levantamento <strong>de</strong> questões que envolvem um <strong>de</strong>bate on<strong>de</strong> todos osintegrantes <strong>como</strong> os emissores e a assistência, tornam-se atuantes. Neste contexto, o papel doprofessor, além <strong>de</strong> garantir situações para a execução <strong>de</strong> procedimentos, é o <strong>de</strong> condutor doquestionamento, orientando os educandos para a compreensão <strong>de</strong> conceitos e princípios,apropriando-se <strong>de</strong> seus significados mais complexos.Sendo assim, a linguagem teatral estabeleceu um <strong>meio</strong> para a comunicação entre osenvolvidos no processo ensino-aprendizagem, possibilitando ao aluno a base necessária paraseguir em busca do conhecimento.Passamos agora à análise <strong>de</strong> alguns trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos pelos alunos <strong>de</strong> 8ª sérieciclo II do Ensino Fundamental e 1ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Profª. WandaHelena Toppan Nogueira, <strong>de</strong> Marília, São Paulo, nas aulas <strong>de</strong> Educação Artística.


713.3 - “Arrufos”Fig. 1 - “Arrufos”“Arrufos”, 1887.Belmiro Barbosa <strong>de</strong> Almeida (1858-1935)Óleo sobre tela, 089x116cmAcervo do Museu Nacional <strong>de</strong> Belas Artes, RJ.


Fig. 2 - Tableau – Arrufos72


73Arrufos <strong>de</strong> Belmiro Barbosa <strong>de</strong> AlmeidaO conteúdo curricular implícito neste texto cênico que representa uma pintura <strong>de</strong>Belmiro Barbosa <strong>de</strong> Almeida <strong>de</strong> 1887 é a Arte Brasileira do século XIX e suacontextualização em relação à história e ao cotidiano no Brasil daquela época. O tableausobre “Arrufos” é um <strong>meio</strong>, <strong>de</strong>ntro do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem para intermediar asações norteadoras do conjunto <strong>de</strong> conteúdos, neste caso, a Arte Brasileira no século XIX –produção, apreciação e contextualização – e prece<strong>de</strong> a emissão <strong>de</strong> dados biográficos do pintorpelo docente assim <strong>como</strong> as explicações sobre uma linha do tempo sobre os principaisacontecimentos daquele século no campo da história e do cenário cultural e científico doBrasil e do mundo. Além das características do Aca<strong>de</strong>mismo visíveis na obra, mas elatambém representou uma quebra <strong>de</strong> convenções ao retratar uma cena do cotidiano em <strong>meio</strong> aogosto do público por assuntos históricos, bíblicos ou retratos <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nocenário nacional.O grupo <strong>de</strong> alunos que produziu e encenou este texto cênico, procurou no figurino areconstituição <strong>de</strong> época e nos signos <strong>de</strong> representação <strong>como</strong> o gesto, a postura e os acessórios,elementos que na linguagem teatral transmitem significados, <strong>como</strong> a postura da jovemaparentemente chorando por uma irritação passageira, o que <strong>de</strong>nota o papel da mulher noséculo XIX e transmite a idéia <strong>de</strong> que ela é uma figura quase secundária, no cenário. Apostura elegante e séria do homem que embora jovem mantém-se numa atitu<strong>de</strong> <strong>meio</strong> austera,impassível diante dos caprichos <strong>de</strong>la. A cena representada nesta pintura é quase teatral por simesma, o que facilitou a apresentação do quadro vivo, embora as atitu<strong>de</strong>s e posturas sejammuito diferentes <strong>de</strong> nossa época atual. A elegância das pessoas e do ambiente aparece atravésda própria maneira <strong>de</strong> pintar do artista e este vestuário tão bem representado foi o ponto <strong>de</strong>partida para a criação da cena pelos alunos.Seguindo o manual do professor para a Exposição Digital da Mostra “Brasil séculoXIX – Imagens da Cultura” (OLIVEIRA, 2001), houve um levantamento <strong>de</strong> questões quevisam ampliar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong> interpretações, <strong>de</strong> captar as informações quepossibilitem um exercício verbal <strong>de</strong> análise, reflexão e construção <strong>de</strong> idéias sobre conteúdos easpectos estéticos que estão sendo veiculados durante a encenação, além do contexto da obraanalisada na época da vida do seu autor.Portanto, o texto cênico elaborado pelos alunos envolveu o fazer artístico, requisitonecessário para o ensino-aprendizagem <strong>de</strong> arte, através <strong>de</strong> uma produção mais aprofundadapor intermédio da qual o professor po<strong>de</strong> avaliar <strong>como</strong> os conteúdos e conceitos foram


74apreendidos. O professor <strong>como</strong> condutor do jogo dramático faz o levantamento <strong>de</strong> questõesenvolvendo o texto pictórico e o texto cênico elaborado pelos alunos produtores envolvendoos alunos espectadores:- O que aconteceu nesta cena?- Como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver este ambiente?- Como é a postura do homem? É parecida com a postura dos rapazes da sala <strong>de</strong> aula?Que classe social e época a roupa do homem aparenta? O que ele segura nas mãos? Como é oseu rosto, sua expressão? Que ida<strong>de</strong> aparenta ter? Qual seria sua profissão?- E a mulher, <strong>como</strong> é o seu corpo? Como ela está vestida? Que ida<strong>de</strong> aparenta ter? Oque ela está pensando ou fazendo?- Qual é a relação entre essas pessoas?- O que há no chão e o que isso po<strong>de</strong> simbolizar?- Qual é o significado da palavra “Arrufos”?- Quais são as características da pintura brasileira do século XIX que po<strong>de</strong>mosverificar neste quadro?- Através do tableau foi possível perceber estas características?- O texto pictórico pertence a uma linguagem específica, e o texto cênico produzidopelos alunos pertence à outra linguagem, a teatral. Aconteceu uma “cópia” da obra verda<strong>de</strong>iraou não?Durante o questionamento, o professor preten<strong>de</strong> ajudar os alunos a enten<strong>de</strong>rem que apintura brasileira do século XIX representa as aparências do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>, danatureza do homem e da mulher na socieda<strong>de</strong> daquele tempo.Pressupomos então que houve o processo <strong>de</strong> comunicação, consi<strong>de</strong>rando que amensagem veiculada pelo canal teatro, através do texto cênico tableau encenado pelos alunosque estabelecem uma relação entre encenadores e atores e o grupo <strong>de</strong> espectadores após aemissão das informações pertinentes ao conteúdo programático escolar pelo professor <strong>de</strong>Arte. Esta relação aconteceu no espaço cênico recriado na sala <strong>de</strong> aula numa situação on<strong>de</strong> arecepção da mensagem emitida favoreceu a relação ensino-aprendizagem entre docente ealuno. Por <strong>meio</strong> da leitura dos signos visuais da encenação <strong>como</strong> a indumentária, os gestos, apostura e a distribuição <strong>de</strong> elementos no espaço dramático, ou seja, um lugar implícito ou<strong>de</strong>scrito no texto no qual se <strong>de</strong>senvolve a ação ou pelo menos parte <strong>de</strong>la, e que segundo OlgaReverbel (1989, p.14), “permite ao espectador construí-lo com sua imaginação; assim <strong>como</strong>dos autores do texto teatral e dos espectadores no espaço cênico–público e platéia, os alunos


75receptores <strong>de</strong>stinatários da mensagem teatral encontraram o aspecto estético <strong>de</strong>sta mensagemconstituído por ícones, signos que possuem similarida<strong>de</strong> com aquilo que representam. Naroupa das personagens, <strong>como</strong> o paletó do homem, o vestido longo e claro da mulher, napostura corporal que os alunos imitaram da obra <strong>de</strong> Belmiro Barbosa <strong>de</strong> Almeida, assim <strong>como</strong>a expressão facial que procura expressar os sentimentos do casal naquele momento, po<strong>de</strong>mosobservar os códigos envolvidos na situação <strong>de</strong> representação teatral.No entanto, também percebemos que o outro aspecto da mensagem, o semânticotambém foi transmitido e receptado pelos alunos encenadores e alunos espectadores, queapresenta o significado do cotidiano <strong>de</strong> um casal do século XIX assim <strong>como</strong> dos aspectossociais daquele tempo e que o artista com suas tintas conseguiu representar por <strong>meio</strong> dapintura.


763.4 - “Uma jovem Mulher” (<strong>de</strong>talhe)Fig. 3 - “Uma Jovem Mulher” (<strong>de</strong>talhe)“Uma Jovem Mulher” (<strong>de</strong>talhe)Berthe Morisot


Fig. 4 - Tableau – “Uma Jovem Mulher” (<strong>de</strong>talhe)77


78Uma Jovem Mulher (<strong>de</strong>talhe) <strong>de</strong> Berthe MorisotEste tableau tem, além do aspecto <strong>de</strong> ocupação do espaço dramático por uma únicaaluna, a intenção <strong>de</strong> transmitir a quebra <strong>de</strong> convenções pelos artistas do Impressionismo,<strong>como</strong> abolir o contorno e <strong>de</strong>finir as formas através <strong>de</strong> pinceladas com efeitos cromáticos; aoescolher uma obra <strong>de</strong> Morisot (embora se trate apenas <strong>de</strong> um <strong>de</strong>talhe, não do quadro todo), ogrupo encenador preten<strong>de</strong> exprimir essa ruptura das convenções enfatizada não apenas peloaspecto pictórico, mas também pela aceitação da pintora e seu reconhecimento <strong>como</strong> umaartista bem-sucedida pelo grupo impressionista: Renoir, Degas, Monet, Manet e Alfred Sisleyentre outros, em 1874.A opção pelo traje branco proporcionou aos alunos espectadores perceber apreocupação dos impressionistas com a incidência da luz sobre as superfícies, que na pintura<strong>de</strong>ste estilo é caracterizada pela presença <strong>de</strong> tinta branca, uma constante inclusive nos trajesdas mulheres representadas por estes artistas.O grupo encenador era constituído apenas por alunas e elas preten<strong>de</strong> mostrar otrabalho <strong>de</strong> uma pintora, algo inusitado para a época, conforme explicou o paradidático sobrea vida e a obra <strong>de</strong> Manet, pois até o final do século XIX as mulheres não eram reconhecidas<strong>como</strong> pintoras no âmbito profissional.A primeira impressão do grupo <strong>de</strong> espectadores foi com a semelhança da aluna com ajovem do quadro. A similarida<strong>de</strong> dos signos com aquilo que representam, ou seja, o seuaspecto icônico foi bem <strong>de</strong>stacado na encenação, o que era uma forte intenção do grupo. Noentanto, os espectadores enten<strong>de</strong>ram também que a semelhança entre a aluna/atriz e a jovemda pintura foi enfatizada pelos elementos visuais <strong>como</strong> a maquiagem, o figurino, a expressão,a postura, que se configuram <strong>como</strong> o aspecto estético da mensagem teatral.Como condutor do jogo teatral ou da reflexão/apreciação da produção cênica, oprofessor insistiu também no aspecto semântico da mensagem teatral, visto que os alunosestavam muito envolvidos com a recepção <strong>de</strong> conteúdo estético. Para isto apresentavam novosquestionamentos <strong>como</strong>:- Como po<strong>de</strong>mos imaginar o que está acontecendo nesta cena se temos apenas o<strong>de</strong>talhe da obra?- Como é a expressão da jovem?- Como <strong>de</strong>ve ser o ambiente no qual a jovem está representada?- A qual classe social ela pertence?


79- Por que o grupo dos Impressionistas aceitou as obras <strong>de</strong> Morisot ao lado das suas noSalão In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em 1874?- Por que a semelhança da aluna e da jovem do quadro <strong>de</strong> Morisot constituiu-se <strong>como</strong>o foco <strong>de</strong> interesse principal do grupo <strong>de</strong> espectadores?- Através do tableau foi possível perceber as características da pintura impressionista?Durante o <strong>de</strong>bate, os alunos espectadores chegavam ao consenso <strong>de</strong> que o ambiente doquadro que nos é visível na fotografia do livro paradidático, provavelmente seria um localexterno pela clarida<strong>de</strong> da pintura e porque em sua maioria, os impressionistas representaramcenas ao ar livre, o que se constituiu numa das características <strong>de</strong>ste estilo e porque viramalgumas obras <strong>de</strong> Berthe Morisot em outros livros na sala <strong>de</strong> aula e observaram quegeralmente ela pintava cenas <strong>de</strong> pessoas nos jardins e bosques.Sobre a participação <strong>de</strong> Morisot no grupo dos Impressionistas, os alunos relataram quetambém provocou uma fuga da convencionalida<strong>de</strong> assim <strong>como</strong> a maneira <strong>de</strong> pintar <strong>de</strong>ssesartistas que foi <strong>de</strong>senvolvida também pela pintora, o que facilitou sua integração no grupo.Sobre o interesse do grupo <strong>de</strong> espectadores pela semelhança entre a jovem do quadro ea aluna que a representou constatamos que da mesma forma que a pintura é uma imitação danatureza, do real, e embora os impressionistas pintassem com “manchas”, não se preocupandocom as tradições <strong>de</strong> técnicas pictóricas, ainda assim é possível perceber os <strong>de</strong>talhes daquelafigura, uma jovem mulher.No Tableau produzido na sala <strong>de</strong> aula o grupo encenador também buscou nasimilarida<strong>de</strong> a idéia <strong>de</strong> imitação, não da natureza propriamente dita, <strong>como</strong> a artistarepresentou, mas do quadro, objeto <strong>de</strong> estudo naquele momento, mostrado <strong>de</strong> maneira teatral.Sendo assim, po<strong>de</strong>mos encontrar neste estudo a teoria <strong>de</strong> Moles que apresentamosanteriormente, que avalia a mensagem estética <strong>como</strong> fator <strong>de</strong> sucesso ou fracasso doespetáculo teatral antes mesmo da recepção da mensagem semântica.Segundo Reverbel (1989, p. 110), a criança observa verda<strong>de</strong>iramente o que lheinteressa, não sendo suficiente, portanto, que o professor or<strong>de</strong>ne que ela observe algumacoisa; por isso, através do teatro, surgiram situações que <strong>de</strong>spertaram o interesse em executaro fazer artístico assim <strong>como</strong> em proce<strong>de</strong>r à leitura dos textos produzidos pelos alunos que,acompanhados pelo professor, participaram <strong>de</strong> novas <strong>de</strong>scobertas que lhes permitiram ir alémda observação pura e simples, <strong>de</strong>ste modo compartilhando daqueles saberes importantes parao <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento em Arte. Esta relação que se estabeleceu com a


80linguagem teatral cremos que se trata <strong>de</strong> uma relação comunicativa, conforme objetivamos emnossa pesquisa.


813.5 - “A Dança da Vida”Fig. 5 - “A Dança da Vida”“A Dança da Vida” (1899-1900)Edward Munch (1863-1944)Óleo sobre tela (123x188cm)Galeria Nacional, Oslo.


Fig. 6 - Tableau - “A dança da Vida”82


83A Dança da Vida <strong>de</strong> Edward MunchPo<strong>de</strong>mos perceber no tableau sobre “A dança da vida”, <strong>de</strong> Edward Munch, aexploração do espaço através da produção coletiva <strong>de</strong> um texto cênico composto <strong>de</strong> diversossignos visuais <strong>como</strong> a expressão facial, o gesto <strong>de</strong> cada participante, dos elementos, nestecaso, dos atores, neste espaço, as cores da indumentária representadas na obra do artista. Ofigurino dos alunos é improvisado e não convencional no sentido <strong>de</strong> buscar a forma <strong>de</strong> cadatraje, mas optando pela roupa do nosso tempo, embora mantendo a or<strong>de</strong>m das cores dovestuário <strong>de</strong> cada personagem. Através do figurino composto com roupas e acessórios atuaisos alunos encenadores/atores, procuravam mostrar a estilização da figura humana, nasobrieda<strong>de</strong> do ambiente on<strong>de</strong> está inserida, assim <strong>como</strong> no uso simplificado das cores semmuitas nuanças. Temos então neste contexto, o aspecto estético da mensagem teatral, <strong>de</strong>conteúdo icônico na similarida<strong>de</strong> das pessoas que compõem o texto teatral <strong>como</strong> as figuras doquadro, por <strong>meio</strong> do aspecto visual das cores do vestuário, da postura, do gesto expressivo, naocupação do espaço dramático. O grupo encenador escolheu esta obra <strong>de</strong> Munch <strong>como</strong>representante do Expressionismo com o propósito <strong>de</strong> colocar em cena todos os seuscomponentes, pela idéia <strong>de</strong> festa, dança entre casais e algumas personagens sozinhas. Ocuparo máximo <strong>de</strong> espaço dramático com todos os integrantes do grupo que também tem apretensão <strong>de</strong> transmitir a idéia <strong>de</strong> Munch, sugerida em seus quadros, <strong>de</strong> que o ambiente tornaseprolongamento psíquico do ser humano, era o objetivo do grupo. Sugerindo sexualida<strong>de</strong> etristeza, o grupo escolheu um quadro que tem todas as características <strong>de</strong>ste estilo que seconfigura na tradução dos sentimentos <strong>de</strong> tristeza, <strong>de</strong> morte, <strong>de</strong> amor, através da obraperturbadora do pintor norueguês que se tornou a raiz do Expressionismo mo<strong>de</strong>rno.Para que o grupo espectador compartilhasse da mensagem emitida, o professor <strong>como</strong>condutor do jogo teatral inicia o questionamento:- O que acontece nesta cena?- Como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver este ambiente?- Que classe social e época a roupa das pessoas aparentam? Porque eles se encontramem <strong>de</strong>terminadas posições/posturas no espaço? Como é a expressão <strong>de</strong> cada personagem?- Qual é a relação entre essas pessoas?- Qual é o significado do título, “A dança da vida”?- Quais são as características do Expressionismo que po<strong>de</strong>mos verificar neste quadro?- Através do tableau foi possível perceber estas características Expressionistas?


84- O texto pictórico pertence a uma linguagem específica, e o texto cênico produzidopelo grupo <strong>de</strong> alunos pertence à outra linguagem, a teatral. Os textos são parecidos ou“cópias”?- A representação das pessoas no quadro <strong>de</strong> Munch é diferente do modo que os artistasrepresentaram antes do final do século XIX?Com este questionamento, o professor procura instigar os alunos sobre a percepção daruptura com os valores estéticos convencionais que foi dos objetivos principais dosmo<strong>de</strong>rnistas.Ao perceberem as mudanças significativas na representação os espectadores assim<strong>como</strong> os produtores do tableau a<strong>de</strong>ntraram no contexto do estilo Expressionista <strong>de</strong> Munch esua intenção <strong>de</strong> incluir neste quadro os temas que o artista mais apreciava <strong>como</strong> os momentossempre eternos da natureza humana que não seguem as regras <strong>de</strong> lugar ou <strong>de</strong> época, <strong>como</strong> osexo e a angústia. A Dança da Vida é parte do Painel da vida, um conjunto <strong>de</strong> pinturas querepresenta para Munch, simbolicamente, um retrato da vida em todas as suas manifestações,segundo a coleção Gênios da Pintura (1987, p.131-132), que foi utilizada <strong>como</strong> referênciapara o grupo encenador <strong>de</strong>sta pintura do artista expressionista norueguês.Durante o <strong>de</strong>bate, originado pelo questionamento, os alunos/espectadoresconsi<strong>de</strong>raram relevante à ocupação das personagens no espaço, um ambiente <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong>outros elementos, a forma humana simplificada, mas que está repleta <strong>de</strong> significados <strong>como</strong> amulher <strong>de</strong> preto <strong>de</strong> semblante angustiado, em contraste com os casais dançando; a observaçãoda linguagem teatral em seu aspecto estético <strong>como</strong> a postura, o figurino, a expressão facial ecorporal <strong>de</strong> cada encenador em relação à obra foi também <strong>de</strong>stacada. No entanto, a relativasimplicida<strong>de</strong> da obra que foi muito bem representada pelo grupo produtor do tableau tornouseelemento <strong>de</strong> inquietação entre os espectadores, o que era um dos objetivos dos emissores,que assim conseguiram provocar o interesse dos alunos, provocando a leitura econsequentemente a recepção da mensagem proposta, ou seja, a introdução ao EstiloExpressionista por <strong>meio</strong> da obra <strong>de</strong> Edward Munch, por <strong>meio</strong> <strong>de</strong> uma relação comunicativaestabelecida pela linguagem teatral.


853.6 - “Dama com Arminho”Fig. 7 - “Dama com Arminho”“Dama com Arminho” (Cecília Gallerani), ca 1484Leonardo da VinciÓleo sobre ma<strong>de</strong>ira (54x40)Cracóvia, Muzeum Narodowe


Fig. 8 - Tableau – “Dama com Arminho”86


Fig. 9 - Tableau – “sem arminho”87


88Dama com Arminho (Cecília Gallerani) <strong>de</strong> Leonardo da VinciEste quadro <strong>de</strong> Leonardo da Vinci foi escolhido por um grupo <strong>de</strong> alunos da 1ª série Ado Ensino Médio para representar a i<strong>de</strong>alização da forma, o retorno do interesse pela naturezae pelo homem, a re<strong>de</strong>scoberta dos valores da antiga cultura clássica greco-romana,características do Renascimento, que teve sua origem na Itália. Os espectadores começam afazer suas observações a partir da preocupação com o equilíbrio, com o estudo <strong>de</strong> luz esombra, com os <strong>de</strong>talhes da produção pictórica e cênica, cujo figurino foi bem elaborado, comtecidos pesados <strong>como</strong> aqueles do Renascimento, com a semelhança física entre a jovem doquadro e a aluna que a representa, o que foi consi<strong>de</strong>rado <strong>como</strong> uma característica propostapelo grupo encenador a respeito daquele estilo da Arte. Todo o cuidado com a produção, aparte visual bem cuidada foi assimilada não apenas pelo aspecto estético mas <strong>como</strong> umamensagem característica do estilo.O grupo encenador explicou que enfatizou a expressão da aluna para mostrar a posearistocrática da personagem do quadro; outro <strong>de</strong>talhe significante foi a apresentação dotableau quando o grupo apagou as luzes da sala retirando todos os espectadores para queestes, ao retornarem, percebessem, ao acen<strong>de</strong>r as luzes, o contraste entre a figura da moça e ofundo escuro.Também aconteceu um interesse pela figura do arminho, <strong>de</strong>sconhecido para os alunose foi sugerido que se fizesse um novo tableau sem o brinquedo que representava o animal. Nonovo tableau, a falta do elemento foi questionada, mas chegaram à conclusão <strong>de</strong> que aimaginação serviu para construir o brinquedo mesmo que ele não estivesse no lugar.Alguns espectadores pensaram que o animal tivesse um significado científico pois omestre renascentista também era, além <strong>de</strong> artista, um homem da ciência; outros lembraramque Leonardo da Vinci era apaixonado por animais e talvez por isso tenha se interessado emcolocar a figura do animal junto com a moça do quadro.A perspectiva foi notada <strong>de</strong>talhadamente, assim <strong>como</strong> a pintura a óleo, a proporçãoáurea, e as composições que se baseiam em figuras geométricas. Os alunos também seinteressaram em conhecer a jovem Cecília Gallerani e relembraram dos mecenas e suaimportância para o Renascimento, além do interesse pela pintura <strong>de</strong> retratos <strong>de</strong> pessoasimportantes. Vale ressaltar que existem dúvidas sobre a mo<strong>de</strong>lo, Cecília Gallerani ou Beatrizd’Ester mulher <strong>de</strong> Ludovico Mouro.


89O questionamento provocado pelo professor iniciou-se com algumas perguntas quelogo sugeriram outras, inclusive conduzindo o grupo encenador para uma nova produção – ajovem aristrocrática sem o brinquedo que representava o arminho, <strong>como</strong> vimos anteriormente.As perguntas introdutórias foram:- O que está acontecendo nesta cena?- Como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver este ambiente?- Qual é a classe social que esta mulher pertence? O que seus trajes representam?- Como é sua expressão?- Qual é a relação entre a mulher e o animal que está segurando?- O que é um “arminho”? É um animal conhecido no nosso cotidiano?- Como seria o ambiente no qual a jovem viveu?- Através do tableau foi possível perceber as características da pintura renascentista?- Assim <strong>como</strong> a pintura <strong>de</strong> Da Vinci, o tableau também é uma forma <strong>de</strong>representação?A condução do <strong>de</strong>bate serviu para a retomada do conteúdo sobre Renascimento que seiniciou no ensino Fundamental. O grupo encenador explicou que o ponto <strong>de</strong> partida para aelaboração do tableau foi a frase <strong>de</strong> Leonardo da Vinci, encontrada em pesquisas sobre suabiografia: “o que é visível é compreensível”, para exprimir a evolução científica daqueletempo e que se manifestou também através da arte.As experiências vividas pelos alunos com a elaboração e produção e leitura <strong>de</strong> textosda linguagem teatral <strong>de</strong>spertaram o interesse para a observação e a reflexão necessárias para aconstrução <strong>de</strong> seu conhecimento, então po<strong>de</strong>mos pensar neste caso, que o teatro colaboroupara estabelecer uma relação comunicativa no processo ensino-aprendizagem.


903.7 - “Palas Atenas e o Centauro”Fig. 10 - “Palas Atenas e o Centauro”“Palas Atenas e o Centauro” cerca <strong>de</strong> 1482Sandro Botticelli (1445-1510)Têmpera sobre tela (207x148cm)Galeria Degli Uffizi, Florença.


91Fig. 11 - “Palas Atenas e Centauro” (<strong>de</strong>talhe)“Palas Atenas e o Centauro” (<strong>de</strong>talhe) cerca <strong>de</strong> 1482Sandro Botticelli (1445-1510)Têmpera sobre tela (207x148cm)Galeria Degli Uffizi, Florença.


Fig. 12 - Tableau – “Palas Atenas e o Centauro” (<strong>de</strong>talhe)92


93Palas Atenas e o Centauro (<strong>de</strong>talhe) <strong>de</strong> BotticelliNeste tableau que representa através da linguagem teatral um <strong>de</strong>talhe da pintura <strong>de</strong>Sandro Botticelli, “Palas Atenas e o Centauro”, ficou evi<strong>de</strong>nte a intenção do grupo produtor<strong>de</strong> enfatizar o interesse <strong>de</strong>ste artista renascentista italiano pela re<strong>de</strong>scoberta dos temas e daestética da Antiguida<strong>de</strong>.O tableau foi precedido pelos dados biográficos do artista e pelas características doRenascimento nas aulas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Arte. Foram <strong>de</strong>stacados no tableau a importância domecenato naquele tempo, pois a obra foi produzida para Lorenzo di Médici, o simbolismohumanista e a aparência da <strong>de</strong>usa Palas Atenas, muito semelhante às representações dos<strong>de</strong>uses gregos no Período Clássico. Também foi ressaltada a semelhança da mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>staobra com outras do artista, pois em suas pesquisas, os alunos encontraram os rostos dasmadonas <strong>de</strong> Botticelli na representação da <strong>de</strong>usa grega. Este aspecto das obras <strong>de</strong> Botticellifoi comentado, pois o artista possui quadros <strong>de</strong> temas religiosos que foram marcantes na suaprodução assim <strong>como</strong> pinturas <strong>de</strong> temas mitológicos; a maquiagem da aluna que interpretaPalas Atenas no quadro vivo quer ressaltar a i<strong>de</strong>alização da forma humana, característica doclassicismo que se <strong>de</strong>staca no rosto da personagem com uma expressão intelectualizada eserena <strong>como</strong> explicação do predomínio da razão sobre a emoção que se configura <strong>como</strong> oobjetivo das obras inspiradas na arte greco-romana da Antiguida<strong>de</strong>.Sobre os <strong>de</strong>talhes da encenação, <strong>como</strong> os acessórios que complementam aindumentária da personagem, o grupo espectador notou a busca pela semelhança da forma edas cores da obra <strong>de</strong> Botticelli e chegaram à conclusão <strong>de</strong> que este aspecto <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>com a pintura representada constitui-se <strong>como</strong> uma característica renascentista, a qual preten<strong>de</strong>mostrar as idéias inerentes à obra <strong>de</strong> forma objetiva sem <strong>de</strong>ixar margem para a subjetivida<strong>de</strong> ea emoção.As conclusões dos espectadores foram surgindo durante o <strong>de</strong>bate que se instaurou <strong>como</strong> questionamento proposto pelo professor:- Como po<strong>de</strong>mos imaginar o que está acontecendo nesta cena?- Quem é a <strong>de</strong>usa Palas Atenas na mitologia greco-romana? E o Centauro? O que suafigura representa?- Qual é a relação entre a <strong>de</strong>usa e o centauro?- Por que o grupo encenador escolheu apenas um <strong>de</strong>talhe da obra, o rosto dapersonagem Palas Atenas?


94- As roupas da <strong>de</strong>usa são características da época greco-romana ou se parecem comroupas renascentistas?- Como é a expressão da <strong>de</strong>usa?- Como é o ambiente no qual a cena está acontecendo?- O tableau é uma representação da pintura <strong>de</strong> Botticelli ou apenas uma “cópia”?- Por <strong>meio</strong> do tableau foi possível perceber características da pintura renascentista?Estas questões permeiam o <strong>de</strong>bate entre outras perguntas que surgem conforme, ogrupo espectador constrói a leitura e consequentemente a recepção do texto teatral acontece,estabelecendo uma relação comunicativa entre o grupo encenador e o grupo espectador, assim<strong>como</strong> entre os alunos, o professor e o conjunto <strong>de</strong> informações necessárias para se estabelecero conhecimento em Arte.


95CONSIDERAÇÕES FINAISO presente trabalho <strong>de</strong> pesquisa procurou <strong>de</strong>monstrar que o teatro é um <strong>meio</strong> <strong>de</strong>comunicação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens remotas e que vem <strong>de</strong>sempenhando diversos papéis nassocieda<strong>de</strong>s através dos tempos, sendo que um <strong>de</strong>les é o papel pedagógico. Assim, procurou-setambém <strong>de</strong>stacar a importância do teatro na socieda<strong>de</strong> grega clássica e sua valorização <strong>de</strong>vidoà educação artística daquele povo, bem <strong>como</strong> a transformação do espetáculo religioso emespetáculo profano e cívico que originou o teatro conforme o conhecemos hoje.É necessário ressaltar, que a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simbolização, assim <strong>como</strong> a capacida<strong>de</strong>espontânea para a imitação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, no jogo <strong>de</strong> faz-<strong>de</strong>-conta e sua evolução para arepresentação dramática e artística, é algo natural nos seres humanos.No teatro, o homem reencontra os mitos e arquétipos que são a expressão das suasverda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> seus valores, em <strong>de</strong>terminado tempo e espaço, pois na relação palco e platéiaencontramos as características comunicativas do teatro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens ritualísticas.Mas a relação comunicativa só se efetua quando a consciência receptora passar acompartilhar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo processo, <strong>de</strong> algo em comum com a consciência emissora;então vale ressaltar que o teatro é potencialmente comunicação, mas só o será efetivamente sea relação comunicativa entre emissor e receptor se estabelecer por <strong>meio</strong> da transmissão dainformação e a <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong>sta pelo <strong>de</strong>stinatário.Enten<strong>de</strong>mos que <strong>como</strong> relação comunicativa está a condição <strong>de</strong> compartilhar algo,conforme já explicamos, seja no sentido <strong>de</strong> transmitir, anunciar, trocar ou entrar em contatocom algo ou alguém, o que significa que entre o emissor e o receptor está sendo veiculadauma mensagem ou informação (conteúdo simbólico).Compreen<strong>de</strong>mos que os indivíduos possuem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão em formassimbólicas e, portanto fazem troca <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> conteúdo simbólico, e para tantoutilizam recursos ou <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> informação e comunicação; as formas simbólicas sãocaracterísticas fundamentais na vida social e constituem-se <strong>como</strong> po<strong>de</strong>r simbólico ou o quartopo<strong>de</strong>r, da qual fazem parte as instituições religiosas, educacionais e as mídias. Certamente, oteatro está incluído <strong>como</strong> parte do po<strong>de</strong>r cultural e simbólico das socieda<strong>de</strong>s, e por isso fomosbuscar na teoria sociodinâmica da cultura <strong>de</strong> Abraham Moles, <strong>como</strong> conceituar o teatro, um


96fenômeno cultural que tem <strong>como</strong> objetivo o operador humano: no teatro encontramos ohomem em situação <strong>de</strong> representação.Sabemos que representar é algo natural no ser humano em socieda<strong>de</strong> mas que aotransportar a representação para o âmbito ficcional, nos levará certamente para a manifestaçãoartística, o que explica uma linguagem própria do teatro, o constitui <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> expressãoe <strong>meio</strong> <strong>de</strong> comunicação, e acreditamos que ao utilizar esta linguagem <strong>como</strong> um canal entre odocente e o educando na situação ensino-aprendizagem, estabeleceremos uma relaçãocomunicativa significante na construção do conhecimento.Nossa pesquisa preten<strong>de</strong> contribuir <strong>de</strong> alguma forma para que o processo ensinoaprendizagemse estabeleça através do canal teatro e para tanto, procuramos nas aulas <strong>de</strong>ensino <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong>monstrar <strong>como</strong> é possível criar condições para que esta relaçãocomunicativa aconteça.A linguagem teatral, seus signos e elementos se constituem <strong>como</strong> estímulos geradorespara <strong>de</strong>senvolver a busca pela construção do conhecimento em Arte, e por <strong>meio</strong> da produção eleitura <strong>de</strong> textos cênicos, que tem <strong>como</strong> ponto <strong>de</strong> partida os jogos <strong>de</strong> expressão dramática.Na trajetória percorrida por docente e educando que neste estudo configuramos <strong>como</strong>os envolvidos na relação comunicativa que possibilita a emissão e recepção <strong>de</strong>informações/mensagem ou conjunto <strong>de</strong> conteúdos significativos para a aprendizagem emArte, por <strong>meio</strong> do canal teatro.O <strong>de</strong>safio para o aluno foi a representação, por <strong>meio</strong> da linguagem teatral, <strong>de</strong> uma obra<strong>de</strong> arte e o estilo peculiar <strong>de</strong> um pintor <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada época, com a produção e leitura<strong>de</strong> um tableau ou quadro-vivo. Nestas circunstâncias, o aluno aproximou-se da consciênciaemissora, compartilhando dos saberes necessários para seu <strong>de</strong>senvolvimento expressivo.Po<strong>de</strong>mos afirmar que na relação comunicativa que se estabeleceu por <strong>meio</strong> dalinguagem teatral, a mensagem veiculada foi recebida através <strong>de</strong> seu aspecto semântico, queenvolve o contexto histórico, social, filosófico, o estilo do artista e o aspecto estético que seconfiguram <strong>como</strong> a representação teatral, seus signos e elementos, <strong>como</strong> a expressão gestual efacial, a indumentária, a ocupação do espaço, entre outros.A produção/ emissão e recepção da mensagem teatral no espaço do cotidiano escolarpossibilitam o encontro do educando não apenas com o canal teatro, mas também o incentivaa buscar informações em outros <strong>meio</strong>s <strong>de</strong> comunicação proporcionando o contato com livrosespecíficos <strong>de</strong> Arte, ampliando significativamente seu repertório cultural.É importante evi<strong>de</strong>nciar que as consi<strong>de</strong>rações aqui representadas estão relacionadascom a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudo e uma reflexão mais profunda para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um


97conhecimento menos fragmentado e parcial, capaz <strong>de</strong> conduzir o educando na formação dacidadania, intensificando as suas relações com seu mundo interior e exterior.Estabelecer uma relação comunicativa a<strong>de</strong>quada na aprendizagem tambémpossibilitará a efetivação <strong>de</strong> uma prática pedagógica qualitativa em Arte, conforme propõe aatual Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases; e certamente em outros componentes curriculares.Portanto, espera-se que nosso estudo contribua para compreen<strong>de</strong>r que o teatro é um<strong>meio</strong> capaz <strong>de</strong> estabelecer um processo <strong>de</strong> comunicação na situação ensino-aprendizagem nãoapenas no Ensino da Arte, mas também possibilitar uma conduta mais dinâmica na práticapedagógica em todas as áreas na construção do conhecimento.


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ANEXOS100


101Alunos da 8ª Série D – Ciclo II – Ensino Fundamental daEE Professora Wanda Helena Toppan Nogueira –Marília/SP – 2006


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Pinturas X Tableau105


106“Jovem adormecida à mesa”, c.1667Jan Vermeer (1632-1675)Óleo sobre tela (87,6x76,5cm)Nova York, The Metropolitan Museum of Art.Tableau da pintura <strong>de</strong> Jan Vermeer intitulada “Jovem Adormecida à Mesa”.


107Lola <strong>de</strong> Valençia, 1862(até <strong>de</strong>pois 1867)Edward ManetÓleo sobre tela (123x92 cm)Rowart/ Wil<strong>de</strong>nstein I, 53Paris, Musée d’OrgoyTableau da pintura <strong>de</strong> Edward Manetintitulada “Lola <strong>de</strong> Valencia”


108“Henrique VIII”Hans Holbein, o jovemTableau da pintura <strong>de</strong> Hans Holbein intitulada “Henrique VIII”


109Alunos da 1ª Série A – Ensino Médio daEE Professora Wanda Helena Toppan Nogueira – Marília/SP –2006


110


111


Pinturas X Tableau112


113“A Rendilheira”, c. 1669-70Jan VermeerÓleo sobre tela (24,5 x 21 cm)Paris, Musée du LouvreTableau da pintura <strong>de</strong> Jan Vermeer intitulada “A Rendilheira”


114“Uma senhora brasileira em seu lar”Jean Baptiste DebretTableau da pintura <strong>de</strong> Jean Baptiste Debret intitulada “Uma Senhora Brasileira em seuLar”


115“Pietá”, 1490-1492Sandro Botticelli (1445-1510)Alte Pinakothek, MuniqueTableau da pintura <strong>de</strong> Sandro Botticelli intitulada “Pietá”


116“A Bela Ferrageira”, 1490-95Leonardo da VinciTableau da pintura <strong>de</strong> Leonardo da Vinciintitulada “A Bela Ferrageira”


117“O Nascimento <strong>de</strong> Vênus” (<strong>de</strong>talhe)cerca <strong>de</strong> 1484-1485Sandro Botticelli (1445-1510)Têmpera sobre tela (172,5 x 278,5 cm)Galleria <strong>de</strong>gli Uffizi, FlorençaTableau da pintura <strong>de</strong> Sandro Botticelli intitulada “O Nascimento <strong>de</strong> Vênus” (<strong>de</strong>talhe)intitulada “O Nascimento <strong>de</strong> Vênus” (<strong>de</strong>talhe)


118“O triunfo da Primavera” cerca <strong>de</strong> 1482Sandro Botticelli (1445-1510)Têmpera sobre ma<strong>de</strong>ira (203x314cm)Galleria <strong>de</strong>gli Uffizi, FlorençaTableau da pintura <strong>de</strong> Sandro Botticelli intitulada “O Triunfo da Primavera”


119“A menina do turbante”(ou A menina do brinco <strong>de</strong> Pérola),c. 1665.Jan Vermeer (1672-1675)Óleo sobre tela (45x40cm)Haia MauritshuisTableau da obra <strong>de</strong> Jan Vermeer intitulada “A menina do turbante” ou “A menina doBrinco <strong>de</strong> Pérola”

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