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| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | ENTREVISTA |14 de Dezembro de 2006 | 15soas têm a ideia de que ‘vão paralá’ para se servirem. Nós procuramosser diferentes. É claro quevalorizo a contribuição individual,mas discordo que estejamosna política como os que procuramapenas servir-se a sipróprios.Está a dizer que a deputadaLuísa Mesquita estava a servir-seda política?Reconheço que a camaradaLuísa Mesquita fez um bom trabalhoe reconheço-lhe qualidades.O problema de fundo é saberse desvalorizamos o compromissoe se necessitamos ou não da renovaçãoda bancada do PCP. Sepensarmos que isto é um emprego,qualquer dia teríamos umabancada de senadores com umaidade muito respeitável, quandoo que precisamos é de jovens queexperimentem esta frente de trabalho.Assumindo este compromisso,também Odete Santos eAbílio Fernandes vão permitirque dois jovens com 30 anos deidade reforcem a nossa bancada.Não se trata de um problemapolítico, nem de falta de reconhecimentopelo trabalhorealizado.Durante as jornadas parlamentaresdo PCP, que terminaramno passado dia 6, osenhor acusou o Governo deestar ao serviço de “interessesinstalados”, como compromisso de destruiro Serviço Nacionalde Saúde. Quer explicar?Um alto responsável doGrupo Mello disse que asaúde era um grande mercado.Toda a estratégia do Governo -em relação às parcerias públicase privadas, à construção de novoshospitais, à falta de meios e definanciamento, à falta de profissionais,ao encerramento de unidadesde saúde – vai no sentidode transformar o serviço nacionalde saúde público num serviçopago. Tudo isto porque a saúde,segundo a visão do grandecapital, é um excelente negócio,em que haverá sempre clientesque pagam. Deixo esta reflexão:por que razão o Grupo Melloabandonou a Lisnave, a CUF eoutras grandes empresas para sededicar ao mercado da saúde?Porque chegou à conclusão queé muito mais rentável. Só queisso colide com a Constituição.Com esta política, os portuguesesvão assistir à destruição demais uma conquista de Abril.Investigações levadas a cabopor uma comissão do ParlamentoEuropeu - de acordocom o relatório entretanto feito- permitiram detectar as passagensde 91 voos da CIA porsete aeroportos nacionais, algunsdos quais tinham como origemou destino a base norte-americanade Guantánamo. Quala posição do PCP sobre esteassunto?É uma posição muito crítica.Há duas questões a sublinhar:trata-se da defesa da soberanianacional e de um direito humanitário.Como é possível que onosso território sirva de escala aaviões que carregam homens quevão para Guantánamo sem julgamentoe sem direito à justiçainternacional, sujeitos às torturasmais violentas? Como é quePortugal, um dos primeiros paísesa abolir a pena de morte, podepermitir que a CIA faça isso? Ocombate a esta situação não éuma luta só dos comunistas, masde todos os democratas.Classifica a Coreia do Nortecomo um país com um regimedemocrático?Não é assim. São conhecidasas nossas diferenças em relaçãoao modelo, à estrutura e ao funcionamentodo partido na Coreiado Norte. Somos claros em afirmaressas diferenças. Em Portugalnão faremos assim de certeza.Mas isso não invalida a nossasolidariedade por aquele povoque continua a ser cercado peloimperialismo norte-americano.Defendemos uma solução políticae negociada que permita aopovo norte-coreano ser dono doseu próprio futuro.Como vai passar o Natal?Sou muito tradicional. Vou passaro Natal com a companheira,as filhas e com os respectivos genrose netos. Sou um portuguêsnormal e clássico que gosta departicipar numa festa com bacalhaue filhoses e com presentespara as crianças que é o momentomais bonito do Natal. ■Damião Leonel“A vida vai ficar pior no distrito de Leiria”Saúl Fragata, dirigente doPCP na Marinha Grande, dizque o vai convidar, assim comoà sua companheira, a comerum peixinho fresco, na sua casana Praia da Vieira, em frenteao mar. Vai aceitar o convite?Claro que sim. Não é uma deslocaçãooriginal, pois já conheçoaquele cantinho, não paracomer peixe fresco, mas umaespecialidade da Praia da Vieira,o carapau seco, um petiscomuito gostoso, com uma boasalada e batatas. Eu, que já estiveem almoços e jantares comreis, rainhas e presidentes, nãotrocava aquele acepipe pelos banquetesde gala. É uma questãode agenda para voltar à Praia daVieira, um local cheio de tradições,tanto no plano pesqueirocomo no plano operário. Foi nafábrica Tomé Feteira que viviuma das experiências mais exaltantesenquanto jovem membrodo Sindicato dos Metalúrgicos.Aconteceu antes do 25 de Abril,num grande movimento de solidariedadenacional para com trabalhadoresdaquela empresa.Na qualidade de ex-operáriometalúrgico, conhecedor darealidade laboral da cinturaindustrial de Lisboa, sempreque se desloca à Marinha Grandesente algo de especial poraquele concelho?É evidente que sim. Nasci nafreguesia de Santa Iria da Azóia,onde se situa a antiga Covina,DAMIÃO LEONEL“Aquilo que(Cavaco Silva)está a fazer naPresidência daRepública éabençoar e aplaudiruma política quegostaria de terlevado até ao fimdurante o seuconsulado comoprimeiro-ministro”grande empresa vidreira que chegoua ter mais de mil operários,muitos dos quais oriundos daMarinha Grande. Recordo-medas lutas que realizaram antesdo 25 de Abril. Cresci sem relógiode pulso, porque a vida nãopermitia. O nosso relógio era asirene da Covina que nos momentosda entrada, da hora de almoçoe da saída, nos dizia as horas.Muito da minha cultura e daminha consciência foi aprendidacom os operários vidreiros daCovina. Eis uma razão afectivaque resulta da minha actividadee do sítio onde nasci.Quais as suas perspectivaspara o distrito de Leiria tendoem conta o Orçamento do Estado(OE) para 2007?Lendo o OE para 2007, vaiser um distrito mais martirizado,que vai ficar mais pobre,com especial incidência nos concelhosdo Norte. Mesmo no planodo ensino superior, o InstitutoPolitécnico de Leiria vaisofrer com os cortes previstospara a Educação, além do adiamentode alguns projectos quepoderiam contribuir para o desenvolvimentodo distrito. Uma leiturafria do OE para 2007 diz--me que a vida vai ficar pior nodistrito de Leiria. ■DLPerguntas dos outrosRogério Raimundo, vereador daCDU na Câmara de AlcobaçaVê alguma relação entre oslucros da banca e a crise económicapor que passa o País?É uma contradição insanável.Toda a gente se recordará dosapelos permanentes do primeiro-ministroaos sacrifícios detodos os portugueses, tendo emconta a situação económica eo combate ao défice das contaspúblicas. Sublinho todos osportugueses para depois relevaresta contradição: nunca abanca e os grande grupos económicostiveram tantos lucroscomo agora. Como é sabido,em termos estatísticos, a bancaé quem mais consegue lucros aonível da União Europeia. Comoé possível haver uma ofensivatão grande em relação aos salários,ao direito à saúde e à segurançasocial, com o custo de vidaa aumentar, com os bancos e osgrandes grupos económicos ausufruírem lucros fabulosos? Istotem a ver com a política fiscal.O combate ao privilégio e umamaior repartição da riqueza nacionalnão fazem parte da políticadeste Governo. Há de facto umapolítica classista. Como é admissívelque um banco, que auferegrandes lucros, pague menosimpostos que um pequeno oumédio empresário? Também nãose compreende que o Governobaixe o valor da reforma e aumenteo tempo de trabalho sem convocaros bancos e os grandesgrupos económicos para comparticiparemno reforço da sustentabilidadeda segurança social.Não nos calaremos. Vamos continuara denunciar este tipo desituações. Há um pequeno númerode pessoas que junta fortunas,enquanto os pequenos emédios empresários continuamcom a corda na garganta e ostrabalhadores cada vez mais penalizadosnos seus direitos. A políticadeste Governo não serve opovo nem o País.Helena Carvalhão, professoraaposentada, de LeiriaHá cada vez mais presidenteseleitos no continente americanocontra as políticas neo--liberais de George Bush. Sinaisdos tempos?Hoje, na América Latina, viveseuma dinâmica de esquerda,de afirmação da soberania nacional.Brasil, Equador, Uruguai,Bolívia, Venezuela, Nicarágua,entre outros países do continenteamericano, apresentamesse dado novo na cena da políticainternacional: a afirmaçãoda soberania dos povos contrao imperialismo. Isto leva a outrareflexão: em relação ao Iraquemuita gente dizia que os EUAchegavam ali ocupavam o territórioe venciam a guerra semcontar com a resistência dospovos. Ao contrário do que asclasses dominantes pensam, sãosempre os povos a decidir o seupróprio destino. ■