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Prima 1170.qxd - Jornal de Leiria

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| JORNAL DE LEIRIA | OPINIÃO |14 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2006 | 13| O p i n i ã o |Guerra sem tréguas contra a violência doméstica…Aviolência doméstica, em geral contra as mulheres,mas também contra filhos ou contra pais por acçãodaqueles, é uma das formas mais graves <strong>de</strong> violação<strong>de</strong> direitos humanos. Se há guerras justas, e poucashaverá, este será um dos casos mais flagrantes.Des<strong>de</strong> há alguns anos que o dia 25 <strong>de</strong> Novembrovem sendo consi<strong>de</strong>rado como o Dia Internacional contra a ViolênciaDoméstica fazendo concentrar em torno <strong>de</strong>ssa data numerosasiniciativas ten<strong>de</strong>ntes a sensibilizar todos os cidadãos para aimportância da temática da violência doméstica, que sendo, marcadamente,um tipo <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> género, é também um tipo <strong>de</strong>violência recorrente no meio familiar. Para além das agressões entrecônjuges ou análogos, em mais <strong>de</strong> 90 por cento do homem sobrea mulher, não é igualmente <strong>de</strong> subestimar a violência <strong>de</strong>saforada<strong>de</strong> pais sobre filhos menores ou in<strong>de</strong>fesos, mas igualmente <strong>de</strong> filhossobre pais idosos e igualmente in<strong>de</strong>fesos.Ou seja, no seio da família, ou mesmo quando esta já se transformouou extinguiu, persistem por parte dos agressores os maus--tratos <strong>de</strong> natureza física ou moral.Vale por dizer que todos, em circunstâncias diversas, mulheres,homens, idosos e crianças estão sujeitos a um dos maiores flagelosque, muitas vezes surdamente, afecta os seres humanos e osseus respectivos direitos.É por isso bom ter conhecimento que Organizações da socieda<strong>de</strong>civil, como a Mulheres Século XXI, em <strong>Leiria</strong> e em Coimbra, mastambém a Delegação portuguesa da Amnistia, a Plataforma paraos Direitos das Mulheres e a UMAR, entre várias outras, assumiramem pleno o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong>sse combate e têm inundado o país cominiciativas as mais diversas, mas sempre ten<strong>de</strong>ntes a pôr na agendasocial e política o magno problema da luta contra a violência,<strong>de</strong>signadamente a doméstica. Isto é, <strong>de</strong>nunciando o carácter inumanodas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maridos ou companheiros que mataram 37mulheres em Portugal, só neste ano, para além das milhares queforam gravemente ofendidas corporalmente, ou vítimas <strong>de</strong> maustratossexuais e psicológicos ou até violadas.Na próxima alteraçãoao Código Penalestão previstas umconjunto <strong>de</strong> medidasten<strong>de</strong>ntes ao reforçoda tutela dosinteresses físicos emorais <strong>de</strong> pessoasparticularmentein<strong>de</strong>fesas, como ascrianças, os menorese as vítimas <strong>de</strong>violência domésticaOSVALDO CASTROdDeputadoosvaldocastro@ps.parlamento.ptE na verda<strong>de</strong>, tal campanha, <strong>de</strong> tão justa e eficaz, vai ganhandoterreno na consciência social e junto dos po<strong>de</strong>res fácticos e governamentais.Não por acaso, na próxima alteração ao Código Penal estão previstasum conjunto <strong>de</strong> medidas ten<strong>de</strong>ntes ao reforço da tutela dosinteresses físicos e morais <strong>de</strong> pessoas particularmente in<strong>de</strong>fesas,como as crianças, os menores e as vítimas <strong>de</strong> violência doméstica,maus tratos e discriminação nas suas diversas áreas.A adopção <strong>de</strong> um artigo com a epígrafe “violência doméstica”,agravando penas aos agressores, mas contemplando igualmente aadopção <strong>de</strong> medidas que evitem a sua proximida<strong>de</strong> física da vítima,com controlo através do mecanismo da pulseira electrónica, oua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internamento compulsivo para tratamento <strong>de</strong> certotipo <strong>de</strong> infractores, visando a sua reinserção e ressocialização,são tudo acções que po<strong>de</strong>m ajudar a dissuadir e a combater todosaqueles que se servem da força física, do seu ascen<strong>de</strong>nte profissional,ou do seu po<strong>de</strong>r económico em relação à vítima, para praticaremcrimes com os quais a socieda<strong>de</strong> portuguesa durante muitotempo pactuou.O ainda Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, disse recentementeque “A violência contra as mulheres é talvez a mais vergonhosaviolação dos direitos humanos. Não conhece fronteiras geográficas,culturais ou po<strong>de</strong>r económico. Enquanto se mantiver, não po<strong>de</strong>remosafirmar que fizemos verda<strong>de</strong>iros progressos em direcção à igualda<strong>de</strong>,ao <strong>de</strong>senvolvimento e à paz…”Palavras por <strong>de</strong>mais sábias, provindas <strong>de</strong> alguém que conhece<strong>de</strong> perto todos os mais dolorosos martírios do mundo, e que <strong>de</strong>vemecoar na consciência <strong>de</strong> todos aqueles que se batem em <strong>de</strong>fesa dosdireitos humanos como po<strong>de</strong>roso lenitivo para continuar uma lutaque carece do papel cada vez mais afirmativo das mulheres, masque é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>fensores dos direitos humanos.Que mais não fosse porque o problema subsiste em Portugal,como na Europa e em todo o mundo, mas, além do mais porque opróximo 2007 será o “Ano Europeu da Igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oportunida<strong>de</strong>spara todos”! ■| O p i n i ã o |<strong>Leiria</strong> e a sua Política CulturalHá cerca <strong>de</strong> um ano, estive reunido com oDr. António Leite da Costa, director daCasa da Cultura, em Coimbra e, a meiodo encontro, ele perguntou-me o seguinte:«em <strong>Leiria</strong> há pelouro da Cultura?»Assim, <strong>de</strong> chofre, achei a pergunta disparatadae provinciana. Mas, <strong>de</strong>pois, no fim, percorrendoo sofisticadíssimo e acolhedor espaço da Casa da Cultura,relembrando-me do tempo em que vivi em Coimbrae que me permitia o hedonismo <strong>de</strong> consumir avidamentecultura, pensei cá comigo: «afinal, acho que o provincianoaqui sou eu!»De acordo com dados do INE (Anuário Estatístico daRegião Centro – 2004), Coimbra tem uma <strong>de</strong>spesa anualcom Cultura que é maior do que a soma da <strong>de</strong>spesa <strong>de</strong>todos os concelhos do distrito <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (30 milhões <strong>de</strong>euros). Em 2004, o concelho <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> gastou com a Cultura1,4 milhões <strong>de</strong> euros. Ou seja, cinco vezes menosque a Figueira da Foz, cinco vezes menos que Aveiro, ameta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viseu, a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça e o equivalentea Alvaiázere e a Óbidos. Só com a <strong>de</strong>spesa em artes cénicas,<strong>Leiria</strong> gastou 65 mil euros, Coimbra 360 mil, Figueirada Foz 308 mil e Viseu 314 mil euros.Eu, enquanto professor <strong>de</strong> Economia Pública, digo aosmeus alunos que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Política Pública envolve aprovisão <strong>de</strong> bens e serviços que produzam resultadosmensuráveis na socieda<strong>de</strong> e que, em larga medida, soba óptica da sua eficiência versus equida<strong>de</strong>, está subjugadaao juízo <strong>de</strong> valor do <strong>de</strong>cisor político. Nesse sentido,a política cultural <strong>de</strong> uma autarquia, ou até mesmodo po<strong>de</strong>r central, <strong>de</strong>bate-se sempre com duas gran<strong>de</strong>sangústias: 1. A difícil valorimetria social dos objectivose resultados alcançados; e 2. A sua abrangência, na medi-Este executivocamarário temainda dois anos emeio para fazermais pela Cultura, eincentivar queoutros promotorestambém o façam. É,no mínimo, liquidarcontas com apopulação que oelegeu por duasvezesMÁRCIO LOPESDocente na ESTG-<strong>Leiria</strong>da em que o conceito <strong>de</strong> “cultura” é complexo e extremamentedifuso (que cultura? como fazê-la? com quêrecursos? e para quem?).Nos dias 4 e 5/12, estreou em <strong>Leiria</strong>, no Teatro MiguelFranco, a peça O Beijo no Asfalto <strong>de</strong> Nelson Rodrigues.A casa esteve a um terço, e a ressonância na cida<strong>de</strong> foinula – sobretudo ao nível da vereação da cultura. Mastratou-se <strong>de</strong> um marco na história <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>. O teatro éuma arte milenar. O teatro universitário em Portugaltem quase setenta anos (o TEUC é <strong>de</strong> 1938 e é um dosmais antigos da Europa). O Beijo no Asfalto foi um projecto<strong>de</strong> um ano, e que culminou com a criação do Grupo<strong>de</strong> Teatro Académico <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> (GTAL). Ou seja, nahistória do distrito, é o primeiro grupo <strong>de</strong> teatro amadorvinculado ao Ensino Superior, porque está sob atutela da Associação <strong>de</strong> Estudantes da ESTG e que foiprontamente acolhido pelo presi<strong>de</strong>nte do IPL. Nesteexacto momento, o distrito ligou-se à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> teatrouniversitário do País e da Europa. É mais um agentepromotor <strong>de</strong> cultura numa cida<strong>de</strong> que faz o que po<strong>de</strong>e, através da sua Divisão <strong>de</strong> Cultura, até faz bem. Masa questão é que tem dimensão para fazer muito mais enão o faz. E porquê? Porque se trata <strong>de</strong> uma políticapública sujeita a juízo <strong>de</strong> valor por parte do <strong>de</strong>cisor político,e que não é assumida como sendo <strong>de</strong> eleição. Oque também não se percebe, porque, segundo um estudorecente da UE (A Economia Cultural na Europa), osector da cultura representa 2,6% do PIB europeu e 1,4%do PIB português. Este executivo camarário tem aindadois anos e meio para fazer mais pela Cultura, e incentivarque outros promotores também o façam. É, nomínimo, liquidar contas com a população que o elegeupor duas vezes. ■

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