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Floresta Ombrófila Densa Ocorrendo sobre - rio.rj.gov.br

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Segue a conceituação das regiões fitoecológicas e formações correspondentes:♦ <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong><strong>Ocorrendo</strong> <strong>so<strong>br</strong>e</strong> litologia variada, os ambientes compreendidos pela Região da <strong>Floresta</strong>Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> estão delimitados, de maneira geral, pela faixa de 0 a 60 dias secos. A forma devida dominante nos agrupamentos remanescentes é a fanerofítica, sem proteção do <strong>br</strong>oto foliarcontra seca.Os ambientes da <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> apresentam chuvas bem distribuídas com médiasanuais em torno de 1.500 mm, havendo estações sem seca ou mesmo com grandedisponibilidade de umidade.Subdivide-se a <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> nas seguintes formações, obedecendo a uma hierarquiatopográfica e fisionômica:− <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> de Terras Baixas− <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> Sub-Montana− <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> Montana<strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> de Terras Baixas - englobava os ambientes das terras situadas ao níveldo mar. Vai até, no máximo, 50m e está relacionada às litologias do Pré-Cam<strong>br</strong>iano e quaternária,<strong>so<strong>br</strong>e</strong> diversas formas de relevo.Sua vegetação caracteriza-se pela presença de Ficus, Tabebuia e Arecastrum em áreas úmidasmas com água doce, bem como uma fase intermediária de Callophylum, Tapira e Genoma. Naparte bem drenada estão os agrupamentos mais estáveis que, além de conservarem algunscomponentes das fases ante<strong>rio</strong>res, apresentam um estrato dominante de ± 25m de altura, comtanheiro (Alchornea triplinervia), sangue-de-drago (Croton sp.), figueira-do-<strong>br</strong>ejo (Ficusorganensis), ipê-do-<strong>br</strong>ejo (Tabebuia cassinoides); um estrato dominado de ± 20m de altura combicuíba (Virola sp.), pindaíba (Xylopia sp.), freijó (Cordia sp.), pau-jacaré (Piptadeniagonoacantha), angico-<strong>br</strong>anco (Parapiptadenia sp.); um estrato intermediá<strong>rio</strong> de ± 10m de alturacom ingá (Inga sp.), Posoqueira sp., candiúba (Trema micrantha); e um estrato infe<strong>rio</strong>r ondepredomina a bananeira-do-mato (Heliconia sp.) em meio à ocorrência generalizada de Palmae,Bromeliaceae, Orchidaceae e Pteridophytae. A estrutura fanerofítica da formação apresentalianas e epífitas em abundância.Originalmente, ocupava um grande espaço na região da baixa encosta e na planície da bacia. Naatualidade, esta fisionomia vegetal encontra-se drasticamente reduzida.No passado, nas zonas de inundação do baixo curso de alguns <strong>rio</strong>s e no entorno de lagunas,onde a salinidade fosse inexistente, era possível encontrar uma variação da floresta de terrabaixa, a floresta om<strong>br</strong>ófila densa aluvial . Embora os dados disponíveis <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a floresta aluvial dabacia sejam escassos, a condições ambientais da planície fúvio-marinha e os registros históricoslevam a crer que ela revestiu amplas superfícies (Correia, 1936).59


<strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> Sub-Montana - ocupava as áreas dissecadas que ocorrem na faixa dealtitude entre 50 e 500m <strong>so<strong>br</strong>e</strong> litologia do Pré-Cam<strong>br</strong>iano, quase sempre de relevo montanhoso eposicionados nas franjas das serras.Podem ser caracterizadas por possuir estrutura fanerofítica, com ocorrência de epífitas (dentreelas as <strong>br</strong>omélias) e lianas e a presença de um estrato de até 25-30m de altura com murici oupau-de-tucano (Vochysia tucanorum), baguaçu (Talauma organensis), faveira (Parkia sp.),jacatirão (Miconia thealzaus), vinhático (Plathynemia foliosa), tanheiro (Alcornea triplinervia),canelas (Nectandra sp. e Ocotea sp.), sangue-de-drago (Croton sp.); palmito (Euterpe edulis),Genoma sp. e também do xaxim. No passado, era a floresta que preponderava na bacia deJacarepaguá.<strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> Montana - revestia as faixas de altitude de 500 a 1.500m, <strong>so<strong>br</strong>e</strong> litologiapré-cam<strong>br</strong>iana de modo geral, com relevo dissecado, de caráter montanhoso.A vegetação da <strong>Floresta</strong> Om<strong>br</strong>ófila <strong>Densa</strong> Montana se caracteriza por apresentar um estratodominante com altura até ± 25m com espécies tais como: Vochysia laurifolia, Talaumaorganensis, Cariniana excelsa, Clethra <strong>br</strong>asiliensis, Ocotea sp., Nectandra sp., dentre asmacrofanerófitas; um estrato dominado de meso e nanofanerófitas de diversas famílias botânicas(Rubiaceae, Myrtaceae e Melastomataceae); e mais a presença generalizada de Palmae (palmito,guaricanga, tucum), Pteridophytae (samambaia e xaxim), Bromeliaceae e grande quantidade deepífitas e lianas.Ocupava grande parcela da bacia de Jacarepaguá, exclusivamente na parte supe<strong>rio</strong>r dos maçicosda Tijuca e Pedra Branca.♦ Áreas de Formação PioneiraNas áreas das Formações Pioneiras, a litologia é o fator essencial para sua identificação.Compreende a vegetação de primeira ocupação, instalada <strong>so<strong>br</strong>e</strong> as áreas onde os solos estãoincessantemente submetidos às influências marinha, fluvial e flúvio-marinha.Engloba a vegetação de restinga (arbórea e herbácea <strong>so<strong>br</strong>e</strong> dunas e cordões litorâneos); dosambientes de acumulação dos cursos d'água, sujeitos a inundações periódicas (vegetaçãoherbácea); e dos mangues (fisionomia arbórea ou herbácea), respectivamente. Estas formaçõeseram espacialmente muito significativas na planície flúvio-marinha da baixada de Jacarepaguá.3.3.2 Processo Histórico de Redução da Cobertura VegetalEm uma cidade de povoamento antigo como o Rio de Janeiro, que foi cená<strong>rio</strong> direto ou indiretodos grandes ciclos econômicos do país, e que neste século apresentou um notável crescimentourbano, a tarefa de diagnosticar a situação da vegetação atual somente é possível conhecendoseo passado. Sendo assim, descreve-se abaixo um resumo do processo histórico de ocupaçãoda bacia de Jacarepaguá.60


As florestas do Rio de Janeiro permaneceram praticamente intocadas até meados do século XVII,pois os primitivos habitantes, os indígenas, concentravam-se na orla marítima, vivendo da pesca,da caça e do roçado da mandioca, não parecendo ter chegado a habitar as áreas de floresta,preferindo organizar suas roças onde a vegetação se apresentava mais rala.A necessidade de se estabelecer no País levou os primeiros colonizadores a abaterem a floresta.O movimento inicial daquele que se estabelece é, então, o de aproveitar em primeiro lugar osrecursos que a natureza oferece diretamente. Colhem-se frutos e madeiras, abate-se a fauna. Aaparente inesgotabilidade leva o colono a investir sempre <strong>so<strong>br</strong>e</strong> novas áreas de floresta e iniciaseentão a prática mais calamitosa, embora por vezes inevitável, do uso do fogo. Com a fundaçãoda Cidade do Rio de Janeiro, em 1565, a procura de madeira para construção e combustível foiincrementada.Principalmente os vales e as meias encostas foram sendo transformados em campos de cultivo eocupados com construções. Foi a fase áurea das fazendas de Santa Cruz, Vargem Grande eVargem Pequena. Nos séculos XVI a XIX floresceu o café nas encostas do Maciço da Ca<strong>rio</strong>ca, doMendanha e da Pedra Branca. Com ele os desmatamentos se sucederam e apenas grotõesinacessíveis permaneceram com cobertura vegetal.A erosão foi levando para os <strong>rio</strong>s a fertilidade superficial acumulada pela floresta no decorrer dosséculos. Acelerou-se o assoreamento dos leitos dos cursos d'água, ao mesmo tempo em que aschuvas lavaram a terra descoberta e formaram torrentes que desceram as encostas.Os <strong>rio</strong>s e riachos, antes perenes, tiveram sua vazão reduzida e o problema do abastecimento deágua à população preocupou o Governo Imperial. Em 1817 e 1818 o Governo baixou severasdisposições para proteger os mananciais ameaçados. Em 1862, em área da <strong>Floresta</strong> da Tijuca,os terrenos achavam-se inteiramente descobertos e apenas persistiam pequenas extensões dematas. Em 1844, após uma grande seca, o Ministro Almeida Torres propôs as desapropriações eos plantios das áreas para salvar os mananciais do Rio, Solicitando medidas urgentes deconservação e restauração de matas nas bacias dos <strong>rio</strong>s Ca<strong>rio</strong>ca e Maracanã.Em 1856 começaram a ser desapropriados alguns sítios. Em 1861 foram criadas a <strong>Floresta</strong> daTijuca e a <strong>Floresta</strong> das Paineiras, e foi nomeado Administrador da <strong>Floresta</strong> da Tijuca eencarregado de reflorestá-la o Major Manuel Gomes Archer. As primeiras mudas foram trazidasdas Paineiras, o que prova que deveria realmente haver na área um remanescente de floresta.De 1875 a 1888 o Barão Gastão Luiz H. de Eseragnolle o sucedeu no posto, continuando otrabalho de reflorestamento, agora com a colaboração paisagística de Glaziou. Pela mesma razãode proteção aos mananciais, no caso aqueles que abasteciam os chafarizes da Ca<strong>rio</strong>ca, sãoguardadas e recuperadas as matas do Corcovado, Silvestre e Paineiras.Após a Proclamação da República em 1889 e até 1890, muito pouco se fez e a partir de 1890 a<strong>Floresta</strong> da Tijuca ficou sob a guarda do Ministé<strong>rio</strong> da Viação, poste<strong>rio</strong>rmente da Saúde e, depois,da Agricultura. Quanto a floresta tropical do Maciço da Pedra Branca, originalmente, fornecialenha para os engenhos de açúcar, deu lugar ao cultivos de café, plantado nas encostas.A transferência dos cafezais para o Vale do Paraíba possibilitou, a partir de 1930, a implantaçãodo cultivo dos laranjais. Com os serviços de drenagem e saneamento, as culturas da laranja e dabanana se transferiram para a baixada e, poste<strong>rio</strong>rmente, essas terras planas foram valorizadaspara fins imobiliá<strong>rio</strong>s.61


Novamente os lavradores se fixaram nas encostas como simples posseiros, sendo que a maioriaali permanece há mais de trinta anos. Atualmente a existência de árvores frutíferas, horticultura ebananais nas vertentes das reservas florestais comprova o seu uso indevido.Após a Segunda Guerra Mundial, a expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro foiincrementada em direção ao territó<strong>rio</strong> da bacia, sendo que nas décadas de 80 e 90 o processo seintensificou com a implantação de zonas residenciais, especialmente nas áreas de baixada,destinadas às classes média e alta.A ocupação do territó<strong>rio</strong> da bacia acarretou e vem acarretando a supressão da vegetação derestinga, de manguezais e de florestas de encostas, inclusive as situadas em áreas legalmentevedadas para tal fim; o surgimento de habitações em áreas de risco e de loteamentos em áreasfrágeis; o acúmulo de lixo; a poluição das águas; deslizamentos; seca de mananciais;assoreamento de corpos d'água, enchentes e inundações; degradação de áreas de preservação;invasão de capim colonião; queimas e incêndios periódicos e aceleração do processo dedesmatamento.3.3.3 Vegetação Atual e Uso do SoloDe acordo com IBGE (1989), uma classificação fitogeográfica pode ser de a<strong>br</strong>angência regional,quando são utilizados mapas na escala entre 1:10.000.000 até 1:2.500.000; exploratória (entre1:1.000.000 até 1:250.000); semi-detalhe (entre 1:100.000 até 1:25.000); e detalhe (de 1:10.000até 1:1).Para identificação dos tipos atuais de vegetação e das modalidades de uso do solo da bacia deJacarepaguá, foi utilizando como referência para a concepção das legendas, o “Mapa deCobertura Vegetal e Uso das Terras”, na escala de 1:50.000, elaborado pela Secretaria de MeioAmbiente (SMAC, 1997), bem como pela atualização realizada neste estudo através daortorretificação em 1:10.000 das fotografias na escala 1:20.000, do ano de 1996 do IPLANRIO eposte<strong>rio</strong>r interpretação.O mapa da SMAC co<strong>br</strong>e todo o territó<strong>rio</strong> do município e foi produzido através de classificaçãodigital e interpretação de imagens SPOT XS-SPAN, poste<strong>rio</strong>rmente <strong>so<strong>br</strong>e</strong>postas à imagem desatélite LANDSAT. As cenas utilizadas foram K722/J395 de 09/09/94 e K723/J395 de 07/04/96.Foram empregadas como ferramentas auxiliares as fotografia aéreas de 1:20.000, tomadas pelaPROSPEC - IPLAN em 1996. A distribuição dos mangues e apicuns foi realizada com base eminformações do Projeto de Avaliação dos Manguezais do Município do Rio de Janeiro (SMAC,1997).As classes de vegetação e uso da terra definida no mapa da SMAC foram:− <strong>Floresta</strong> - F− <strong>Floresta</strong> Alterada - Fa− Mangue - M− Apicum A− Restinga - R− Área Úmida com Vegetação - B− Campo Antrópico - Ca62


− Cultura e Pastagem - CP− Águas Continentais e Ambientes Estuarinos - Lagoas, Rios e Canais− Praia e Areal - PA− Área Urbana - Au− Área Urbana Não Consolidada - Ac− Vegetação em Parques Públicos- Vp− Solo Exposto - Sm− Reflorestamento - RfO mapa, além de recente, apresenta em detalhe as distintas fisionomias vegetais do município,servindo plenamente aos objetivos do presente estudo.A vegetação atual e as classes de uso do solo da bacia de Jacarepaguá são apresentadas a nívelde detalhe no Mapa de Uso do Solo, da Cobertura Vegetal e Espaços Territoriais Protegidos(JAC-70-0007), em anexo.Para efeito de descrição, procurou-se adaptar a nomeclatura das fisionomias vegetais e dasclasses de uso da terra empregada pela SMAC com a recomendada pelo sistema oficial do IBGE,expressa na “Classificação da Vegetação do Brasil Adaptado a um Sistema Universal” (IBGE,1991). Segue uma caracterização dos tipos de vegetação e das classes de uso da terraidentificados nas bacias.3.3.3.1 Comunidades <strong>Floresta</strong>isOutrora revestida na parte montanhosa e nos morros isolados quase que integralmente porflorestas, conforme mostrado no item 3.3.1 - “Esboço da Vegetação Original” - na atualidade, asflorestas da macrobacia de Jacarepaguá são representadas por fragmentos de diversostamanhos e estágios sucessionais, com distintas alturas, distância entre as plantas e densidadede árvores e arbustos.Esta variedade é reflexo de uma conjunto de fatores, tais como altitude, espessura e fertilidade dosolo, proximidade do mar, orientação da encosta, insolação, ventos e regime de precipitações,bem como das diferenciadas formas e intensidades de perturbações a que foi submetida afloresta pretérita, e as condições em que a sucessão se processou poste<strong>rio</strong>rmente, até chegar aoestado atual. Acrescenta-se ainda como um elemento importante, o desempenho dos serviçospúblicos de fiscalização florestal ao longo do tempo e a localização do fragmento, se no inte<strong>rio</strong>rou fora de uma unidade de conservação.Em suma, a conseqüência mais marcante desta ação diferenciada dos diversos fatores ficaexpressa na variação florística e fisionômica nas florestas de montanha da bacia de Jacarepaguá.Há um nítido mosaico de fisionomias florestais, onde algumas espécies estão restritas adeterminados ambientes, outras são comuns em áreas mais impactadas e outras ocorrem aolongo de toda a área.63


Nitidamente, há dois grandes grandes blocos de vegetação florestal separados na bacia, os dosmaciços da Tijuca e da Pedra Branca. O maciço da Tijuca é formado pela serra dos PretosForros, São Francisco, Três Rios, Mattheus, Ca<strong>rio</strong>ca e pelas elevações do Alto da Boa Vista,Mesa do Imperador e Pedra da Gávea. A vegetação forma um grande fragmento, onde seobservam muitas cicatrizes de movimentos de massa, principalmente na serra de Três Rios.As melhores matas do maciço da Pedra Branca estão nas serras de Santa Barbara, Sacarrão,Nogueira e Quilombo. Formam o núcleo florestal central do maciço, que é circundados porfragmentos menores ao seu redor, nas outras serras. Este núcleo apresenta também diversascicatrizes de movimentos de massa. No flanco oeste, representado pelas serras de Grumari egeral de Guaratiba, as florestas encontram-se muito fragmentadas e alteradas e são separadaspor imensos bananais que chegam a atingir a crista destas elevações, além de campos de ervasinvasoras.A serra do Engenho Velho e o conjunto de morros que une os maciços (Morros do Catonho, doMonte Alto, São José e Covanca), por serem de baixa altitude, apresentam florestas muitoalteradas, separadas por amplas superfícies de campos de ervas invasoras.No geral, observa-se que as plantas arbóreas e arbustivas da mata atlântica, nas cotas maisbaixas, vão gradativamente mesclando-se com árvores frutíferas e ornamentais em quintais evias que margeiam as encostas para logo depois, nas áreas urbanizadas, serem substituídas porespécies exóticas na ornamentação das ruas.Os remanescentes florestais da bacia podem ser designados como fragmentos em estágiosavançados, médio e iniciais de regeneração. Releva mencionar que em um único fragmento épossível encontrar mais de um estágio sucessional.Fragmentos de floresta primária provavelmente não mais existem ou são raríssimos. Estesrepresentariam a máxima expressão local em termos de clímax. Possuem grande diversidadebiológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetarsignificativamente, suas características originais de estrutura e de diversidade. Suas prováveiscaracterísticas, seriam: área basal média supe<strong>rio</strong>r a 40m 2 /ha, DAP médio acima de 40 cm e alturatotal média maior que 30 metros, com árvores emergentes superando 35 metros, diversidadeelevada e densidade baixa, com poucos indivíduos de uma só espécie por hectare.Matas de topo de serras estão, de modo geral, condicionadas pela presença de solos rasos epodem apresentar dossel contínuo, de porte baixo e alta densidade, com alto teor de matériaorgânica no solo. As matas de fundo de vale estão <strong>so<strong>br</strong>e</strong> solos mais profundos, sendo de maiorporte, com grande potencialidade de albergar maior riqueza florística.As matas de encostas apresentam variações estruturais muito grandes, pois são dependentesdos fatores ante<strong>rio</strong>rmente mencionados. Em declives onde o dossel permite a penetração de luzdifusa, há maior riqueza de epífitas e espécies de sub-bosque. Entre as matas de encosta, podesetambém observar variações decorrentes do efeito de som<strong>br</strong>a de chuva, determinando caráterdecíduo.64


Um aspecto ecológico importante da bacia são os efeitos climáticos diferenciados devido aorientação predominante das cristas. Nas áreas de relevo acentuado como na bacia, ocorre o queé denominado ascendência orográfica. O relevo o<strong>br</strong>iga o ar a se elevar e, consequentemente, aperder temperatura segundo o gradiente térmico adiabático de expansão, ou seja, 1° C paracada 100 metros, portanto 0,4°C a mais do que o gradiente térmico real, que é de 0,6° C paracada 100 m.As fortes precipitações que ocorrem à barlavento das cristas orográficas, são dadas por estemecanismo. Enquanto isso, na vertente situada a sotavento, o processo é exatamente o opostocom o ar se aquecendo na descida segundo o gradiente adiabático de compressão, na mesmaproporção, constituindo o fenômeno conhecido como efeito de Foehn (Nimer, 1989). Na bacia deJacarepaguá, o maciço da Tijuca recebe uma precipitação anual de cerca de 10 a 20% supe<strong>rio</strong>r ado Pedra Branca, devido ao posicionamento das cristas. Esta diferença representa cerca de 230a 400mm a mais de chuva por ano.Assim uma mesma serra sofre temperaturas, insolação e níveis de precipitação diferenciadas. Asvertentes sul são mais úmidas, mais frescas e menos ensolaradas, enquanto as posicionadascom face para norte são mais quentes, recebem maior insolação e estão sujeitas a menoresprecipitações. Isto tem importantes reflexos ecológicos, pois repercurte na densidade, nacomposição florística, na capacidade de regeneração e na suscetibilidade a incêndios.Estudos recentes detectaram que apenas 22% das espécies vegetais são comuns às vertentesnorte e sul do maciço da Tijuca. A vertente norte, a<strong>br</strong>angendo os bairros da Tijuca, Andaraí eGrajaú, possui 34% de espécies exclusivas. Apresenta-se sob condições de insolação três vezesmaior que a vertente sul (para encostas com 60% de declividade), o que acarreta temperaturasmais elevadas e menores teores de umidade. A vertente sul, com 44 % de espécies exclusivas,está voltada para o mar e engloba os bairros de Botafogo, Jardim Botânico, Gávea, São Conradoe Itanhangá. A grande incidência de luminosidade junto com elevados teores de umidadeambiental explicam a maior diversidade de espécies nos encostas sul, além da ocorrência deárvores mais elevados e troncos mais espessos (Oliveira et al.,1991 apud Coelho Netto, 1992).Bernardes (1959), assinala que os lavradores de montanha do Rio de Janeiro conheciam muitobem este aspecto, dando grande importância à diferença de insolação. Chamavam as vertentessul de “noruega” e as posicionadas para norte de “soalheiras”.Há uma abundante documentação técnica <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a vegetação florestal da bacia de Jacarepaguá,<strong>so<strong>br</strong>e</strong>tudo referente a situada no maciço de Tijuca, devido a existência do Parque Nacional.So<strong>br</strong>e a flora destacam-se os trabalhos de Araújo, 1982; Carauta, 1974; Mattos, 1976; Ochionni,1981 e Santos, 1976 1979 e 1980. Descrições gerais <strong>so<strong>br</strong>e</strong> o Parque Nacional da Tijuca queincluem considerações <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a flora podem ser encontrados em A<strong>br</strong>eu, 1992; Cezar e Oliveira,1992; Coelho Neto, et al; 1992; Bandeira, 1994; FEEMA 1979; IBDF, 1981; Martins, 1966;IBAMA. 1994; Maya, 1967 e Scheiner, 1976.Há também vá<strong>rio</strong>s trabalhos de enfoque ecológico abordando hidrologia florestal, processoserosivos, produção de serrapilheira, microecologia de solos e fauna endopedômica, contaminaçãode chumbo na serrapilheira, chuva ácida, edafologia e movimentos de massa (Castro, 1991;Castro, Miranda e Coelho Neto, 1989; Clevelá<strong>rio</strong>, 1989; Coelho Netto, 1979; 1985; 1987; CoelhoNetto e Fernandes, 1990; Coelho Netto, Santos e Meis, 1973; Coelho Netto, Sanche e Peixoto,1986; Miranda, Allemão, Nunes e Coelho Netto, 1991; Nunes; Castro e Coelho Netto, 1991;Oliveira, R.R, 1987; Oliveira e Lacerda, 1988; Oliveira, Zaú, Lima, Silva e Vianna, 1991;Pedlovsky, 1986; Rosas, 1991; Silva Filho, 1992 e 1985 e Vallejo, 1982).65


Em contraste, apesar de ser um Parque Estadual, a flora e a vegetação do maciço da PedraBranca são po<strong>br</strong>emente documentadas. Acredita-se que não haja desigualdades florísticassignificativas com o maciço da Tijuca. Talvez, as únicas diferenças sejam em relação a presençade espécies exóticas, que devem ser muito maiores no maciço da Tijuca.Já com respeito a vegetação, é provável que o maciço da Tijuca tenha porções de mata emmelhor estado que o da Pedra Branca, por ser uma área protegida a muito mais tempo. Destemodo, os dados <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a flora do maciço da Tijuca, com as devidas cautelas, podem serconsideradas válidas para a Pedra Branca. A descrição da vegetação e da flora, apresentada aseguir, foi realizada em grande parte com base nos diversos autores supracitados.Nas florestas do maciço da Tijuca, pode-se observar que as diferentes plantas atingem diversosníveis de altura dispondo-se em camadas ou estratos, entre os quais distinguem-se: o estrato arbóreo,constituído pelas árvores mais altas e dominadoras do ambiente. Dependendo dessasárvores, seguem-se outras menores e os arbustos que formam o estrato arbustivo; abaixo desteacha-se o estrato herbáceo, composto por subarbustos e plantas herbáceas.Além dos estratos mencionados, existem os constituídos por plantas trepadeiras, de vá<strong>rio</strong>stamanhos e formas, e pelas epífitas, que crescem <strong>so<strong>br</strong>e</strong> os troncos e ramos dos arbustos eárvores. A tendência a uma estratificação. destes dois últimos tipos é menos claramenteobservada, pois que dependem das plantas que lhes servem de suporte.O estrato arbóreo das florestas com estágio avançado de regeneração é constituído por árvoresque alcançam 20 e até 25 metros de altura, de troncos em regra retilíneos, sem ramificações anão ser no tôpo, onde formam a copa.Chama a atenção a uniformidade das copas que se tocam, formando um dossel contínuo que,visto de cima, dá a impressão de um mosaico de diferentes tonalidades de verde. As folhas sãomenores em relação aos estratos infe<strong>rio</strong>res, com lâminas predominantemente desprovidas depêlo (gla<strong>br</strong>a), mais ou menos lanceoladas e rígidas, que indicam uma adaptação a alta radiaçãosolar a que mata está exposta.As flores são em geral pequenas e inconspícuas, desco<strong>br</strong>indo-se por vezes, que uma árvore estáem flor pela presença de um enxame de abelhas, ou pela queda dos flores no chão da mata.Numerosas são as famílias botânicas, destacando-se com maior contingente de espécies afamília Leguminosae. Outras famílias com muitos representantes no estrato arbóreo sãoSapotaceae, Vochysiaceae, Bombacaceaee, Euphorbiaceae, Meliaceae, Lauraceae,Lecythidaceae, Moraceae e Melastomataceae.As árvores que mais se destacam na paisagem pelo porte e floração e as de melhor qualidadede madeira, outrora muito exploradas, são as seguintes: canela-santa ou murici (Vochysiaacuminata), muito comum na mata, de copa bem característica e que na época da floração(setem<strong>br</strong>o-novem<strong>br</strong>o) co<strong>br</strong>e-se inteiramente de flores amarelas, formando verdadeiros maciçosque <strong>so<strong>br</strong>e</strong>ssaem no verde escuro da folhagem; ipê-amarelo (Tecoma longiflora) e ipê-tabaco (T.chrysotricha) que ornamentam a floresta nos meses de julho a agôsto; o angico (Piptadeniacolu<strong>br</strong>ina, P. glaziovii), a caixeta-prêta (Tachigalia multijuga), o cambuí (Piptadenia nitida, P.contorta), a urucurana (Hieronyma alchorneoides) e o jequitibá-de-manta (Couratari sp).66


Arrolam-se ainda o araribá (Centrolobium robustum), a merindiba rosa (Lafoensia glyptocarpa), ocedro (Cedrela glaziovii), a copaíba ou óleo vermelho (Copaifera langsdorfii), o jacarandá-caviúna(Dalbergia nigra), o ingá (Inga edulis), o cedro-do-campo (Lamanonia speciosa), o pau-pereira(Geissospermum laeve), o açoita-cavalo (Luhea speciosa), a cangerana (Ca<strong>br</strong>alea cangerana), oandá-açu (Joannesia princeps), as diversas canelas (Cryptocarya saligna, C. moschata, Anibafirmula, Endlicheria paniculata, Ocotea sp., Nectanclra sp.), e o camboatá (Cupania oblongifolia),dentre outras.Em alguns poucos trechos bem preservados há jequitibás de troncos muito grossos, com alturasque ultrapassam os 30 m, além de espécies raras como, por exemplo Erythroxylum cincinatum,Pícramnia camboita, Tetragastris <strong>br</strong>eviacumínata e Ficus hírsuta.No maciço da Pedra Branca, Mallet, Madeira e Rodrigues (1984), realizaram um inventá<strong>rio</strong>florestal em uma mata com avançado estágio de regeneração. Mais de 50% do total de árvoresinventariadas estavam na faixa de 20-30 metros de altura e mais de 70 % apresentavam DAPentre 10 e 20 cm. Foram reconhecidos dois estratos; o sub-bosque, com árvores de até 16 metrose o da copa, com 26 metros em média, <strong>so<strong>br</strong>e</strong>ssaindo-se as emergentes com até 36 metros. Umtotal de 52 árvores foram identificadas com nome popular. As espécies aricurana, cacheteira,cangerana, quaresmeira e peito de pomba foram as que atingiram maior valor de importância.Protegida pela densa ramagem das árvores mais altas, num ambiente de luz difusa, de umidadeconstante e temperatura menos variável, desenvolvesse uma vegetação bem peculiar, de árvoresmenores e delgadas e de arbustos de folhas grandes, <strong>so<strong>br</strong>e</strong> cujas lâminas são comuns epífilos(<strong>br</strong>iófitos e líquens que vivem <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a superfície da folha), típicos das florestas tropicais pluviais.No estrato arbustivo ainda se observa uma uniformidade no aspecto, a mesma impressão demonotonia domina, embora a sua composição se manifeste variada nas formas. Destaca-se porseu porte o palmito doce (Euterpe edulis), assim como as palmeiras do gênero Geonoma (G.schottiana, G. elegans e outras). Da mesma família (Palmae) é a <strong>br</strong>ejaúba (Astrocaryumaculeatissimum), provida de numerosos espinhos negros. Mais ou menos semelhantes no portesão as samambaiaçus (Cyatheaceae), representadas por diversas espécies dos gênerosAlsophila, Hemitelia e Cyathea.Completam o estrato arbustivo, as leandras Leandra nianga, os manacás Brunfelsia sp., asbegônias Begonia coccinea, B. arborescens, os jaborandis Piper amplum, P. arboreum, enumerosos outros arbustos Rudgea macrophylla, R. comiculata, Quararibea turbínata, Bathysastipulata, Mollinedía lanceolata, Eugenía olívacea, Solanum gnaphalocarpum.Em trechos mais abertos (margens de estradas, clareiras na mata causadas por quedas deárvores, etc.), a composição florística do estrato arbustivo já se modifica aparecendo entre outrasas seguintes espécies: os urtigões Urera armigera, U. mitis, o assa-peixe Boehmeria caudata, oscamarás Lantana camara, as compostas de flores <strong>br</strong>ancas, em profusão Vernonía oppositifolía enumerosos outros.As demais famílias com maior número de representantes são as seguintes: Rubiaceae(Psychotria, com várias espécies. Rudgea, Mapouria, Palicourea, etc.), Myrtaceae (Eugenia,Myrciaria), Piperaceae (Piper), Meliaceae (Guarea, Trichilia), Guttiferae (Clusia),Melastomataceae (Miconia, Tibouchina, Meriania), Lauraceae (Ocotea), Nyctaginaceae (Pisonia,Neea), Flacourtiaceae (Casearia), Proteaceae (Panopsis), Lacistemaceae (Lacistema) eAnnonacece (Guatteria, Rollinia).Já uma vegetação diferente reveste o solo da mata, composta por plantas herbáceas que nãoultrapassam 2 metros, de folhas grandes e coloridas, constituindo o estrato herbáceo. Aqui se67


destacam as bananeirinhas-do-mato (Heliconia spp), os caetés (Calathea, Ctenanthe), e o pacová(Renealmia). Além destas há neste estrato muitas plantas jovens (indivíduos de regeneraçãoarbórea dominante).So<strong>br</strong>e os barrancos úmidos encontram-se comumente as samambaias, avencas, licopódios eselaginelas, ao lado das begônias (Begonia), dos filodendrons (Philodendron), dos gravatás(vá<strong>rio</strong>s gêneros de Bromeliaceae), etc. Nas grotas úmidas e som<strong>br</strong>ias, as pedras sãointeiramente cobertas por musgos e hepáticas e por tapetes de Hymenophyllum e Trichomanes.Rente ao solo espalham-se as trapoerabas (Commelinaceae), as pequenas Neomarica e muitasrepresentantes principalmente das famílias Rubiaceae (Coccocypselum), Oxalidaceae (Oxalis),Gesneriaceae (Besferia), Acanthaceae, Piperaceae (Peperomia, Piper), Solanaceae (Brunfelsia),Gramineae e Cyperaceae.A presença de plantas trepadeiras, chamadas lianas ou cipós quando lenhosas, constituem umcomponente peculiar das florestas tropicais, ao lado das epífitas. Consistem de plantas que sefixam no solo, mais necessitam de um suporte para seus caules frágeis. Entre as famílias maisrepresentadas destacam-se: Aristolochiaceae (Aristolochia), Bignoniaceae (Doxantha,Tynnanthus, Adenocalymma),Trigoniaceae (Trigonia), Malpighiaceae (Diplopterys,Stigmatophyilum), Dilleniaceae (Davilia), Asclepiadaceae, Convolvulaceae, Compositae,Diascoreaceae e Sapindaceae.Os cipós e as trepadeiras herbáceas que se <strong>so<strong>br</strong>e</strong>ssaem por suas flores chamativas sãoNematanthus longípes, Mendoncia coccinea, Jacquemontía holosericca, Adenocalymnacomosum, A. grandifolíum, Merremía macrocalyx, Rubus rosaefolius, Mikania, ou mesmo folhasadaptadas (Aristolochia) para captura de insetos.Diversificada é a flora epífita, que inclui algas, cogumelos e liquens, além de grande número deorquídeas e muitas outras plantas floríferas. São vegetais que vivem <strong>so<strong>br</strong>e</strong> os troncos e ramosde outras plantas e delas dependem, somente por razões mecânicas. Apenas a famíliaLoranthaceae apresenta espécies semi-parasitos, que se nutrem de sais minerais e água dohospedeiro.As famílias de epífitas mais bem representadas são Bromeliaceae, Orchidoceae e Araceae entreas monocotiledoneas; Cactaceae, Gesneriaceae, Piperaceae e Begoniaceae entre asdicotiledoneas, além dos Pteridófitos representados por inúmeras espécies das famíliasLycopodiaceae, Hymenophyllaceae e Polypodiaceae.As famílias Bromeliaceae (cujos representantes são vulgarmente, conhecidos por "gravatás" e“<strong>br</strong>omélias”) e Cactaceae são as mais características das matas sul-americanas. Alguns gravatásapresentam a peculiaridade de acumular certa quantidade de água e húmus na base de suasfolhas, tornando-se um biótopo, onde se desenvolve uma variada fauna. Das espécies maisnotadas pode-se destacar as pertencentes aos gêneros Billbergia, Aechmea, Vriesia, Nidularium,Canistrum, Pitcaimia e Tillandsia.68


Também a família Cactaceae acha-se representada por vá<strong>rio</strong>s gêneros com grande número deespécies, com predominância de Rhipsalis (R. cri<strong>br</strong>ata, R. pachyptera, R. houtletiana, R.cassytha, R. paradoxa, etc.). As orquídeas (Orchidaceae) são representados por espécies dosgêneros Pleurothallis, Octomeria, Miltonia, Bulbophyllum, Cataseturn, Laelia e muitos outros.Ainda dentro do grupo das epífitas pode-se considerar os semi-parasitos como as ervas-depassarinho(Struthanthus, ], Phoradendron), assim como os mata-paus, como o Ficus (Moraceae)e Clusia (Guttiferac). Estes iniciam a vida como epífitas e poste<strong>rio</strong>rmente emitem raízes quechegam ao solo, tornando-se independentes ou quase, e às vezes alcançam tal porte queacabam por matar o hospedeiro. Algo muito parecido ocorre com algumas espécies da famíliaAraceae - semiepífitas - que enviam raízes até ao chão, mas nunca se tornam independentes.Convém ressaltar que a diferença das áreas naturais para com as áreas reflorestadas, a partir de1856, é que, na primeira, a distribuição das árvores não apresenta alinhamento regular; enquanto,na segunda, pode-se observar uma regularidade e distância entre as árvores, plantadas comalinhamento pelos reflorestadores.Nas florestas em estágios iniciais de regeneração, as espécies possuem característicasdiferentes daquelas dos estágios mais avançados. Nesta as plantas são menos robustas, deporte mais reduzido, com maior homogeneidade na constituição dos grupos vegetacionais. Sãopoucas as espécies e grande o número de exemplares de cada, havendo predominância davegetação arbustiva e herbácea.De um modo geral, as suas flores são grandes e vistosas, as folhas maiores e pilosas, em regracom eficiente meio de dispersão das sementes, e de crescimento rápido, o que explica o poder decolonização em lugares abertos e clareiras nos matas.As plantas mais comuns neste tipo de mata são a crindiúva (Trema mícrantha), a quaresmeira(Tibouchina granulosa) a aleluia ou canudeiro (Cassia multijuga), o tangará (Miconia guianensis),o açoita-cavalo (Luehea divaricata) e as imbaúbas Cecropia adenopus mais comum e C.hololeuca, esta com folhas de um <strong>br</strong>ilho pardo-argênteo, que se destaca no verde-escuro damata. Nos terrenos mais degradados destaca-se a candeia (Vaniliosmopsis erythropappa).Bandeira (1994) assinala que as espécies de maior ocorrência no maciço da Tijuca são angicovermelho(Piptadenia peregrina), aperta-ruão (Piper aduncum L.), bambu (Bambusa vulgaria),camboatá (Cupania obiongifilia), canudeiro (Senna multijuga), carrapeta (Guarca trichilioides L.),caixeta (Tachigalia multijuga Benth.), cipó-cabloco (Dairela rugosa), fedegoso (Sennamacranthera), ipê-tabaco (Tabebuia chrysotricha), jaqueira (Artocarpus heterophyllus), jacaré(Piptadênia communis), jacatirão (Miconia theaezans), maria-sem-vergonha (Impatiens sultanii),margaridão (Wedelia paludosa), panacea (Solano martii), quaresmeira (Tibouchina granulosa),rabo-de-tucano (Vochysia oppugnata) e vassourinha (Myrcia rostrata).As que atigem maior porte são canela-rosa (Aniba firmula), peroba-rosa (Aspidosperma peroba),peroba-café (Aspidosperma ramifiorum), tapinhão (Beilschmiedia angustifolia), jequitibá(Cariniana excelsa), cedro (Cedrela sp.), óleo de copaíba (Copaifera langsdorfii), jacarandácaviúna(Dalbergia nigra), gameleira (Ficus enormis), figueira-vermelha (Ficus luschnathiana.),jacarandatã (Machaerium pedicellatum), <strong>br</strong>aúna (Melanoxylon <strong>br</strong>aunia) e canela-copalba (Ocoteateleiandra), de acordo com Bandeira (1994).69


Merecem destaque ainda, os representantes exóticos, isto é, aqueles que foram introduzidos na<strong>Floresta</strong> da Tijuca, oriundos de outras partes, seja de outros estados <strong>br</strong>asileiros, seja doestrangeiro. A ocorrência de espécies não peculiares da Mata Atlântica na <strong>Floresta</strong> da Tijuca édevida a dois fatores principais: o reflorestamento desenvolvido pelo major Major Manuel GomesArcher no período de 1862/1874, que envolveu o transplante de espécies nativas das mataspróximas e também de espécies exóticas com mudas provenientes do Jardim Botânico do Rio deJaneiro, e, em segundo lugar, à ação de dispersores que atuam em ambientes urbanos, aves emorcegos, que acabam disseminando na floresta as diásporas de plantas cultivadas na cidade. Éimpossível, na atualidade, detectar qual dos dois fatores foi mais importante (IBAMA, 1991).No estrato herbáceo, à beira das estradas e caminhos e próximo aos lugares muito freqüentadospelo público aparece a maria-sem-vergonha ou beijo-de-freira Impatiens sultanii, originária deTanzânia, na África. Uma amarilidácea Curculígo sp. e uma zingíberácea Renealmía spectabílissão, também, vistas em muitos trechos. Próximo às estradas vê-se, às vezes, a hera Ficuspumíla, reco<strong>br</strong>indo muros e subindo como epífita em troncos de árvores.Dentre os arbustos exóticos, convém ressaltar a folha-da-independência Sanchezia nobilis, adracena Dracaena fragans e o cafeeiro Coffea arabica, remanescentes dos cultivos do séculopassado.Do acervo arbóreo exótico existente no Parque dois tipos <strong>so<strong>br</strong>e</strong>ssaem: o dos eucaliptosEucalyptus spp. e o das jaqueiras Artocarpus heterophyllus, as quais já crescem de modoespontâneo nas cotas baixas do Parque e cujos frutos caídos entram na cadeia alimentar demuitos animais da mata. Em menor número aparecem os pândanos Pandanus sp. e uma espécie<strong>br</strong>asileira alienígena ao Parque - o pinheiro-do-Paraná Araucaría gustifolia, introduzido talvez hádois séculos. Existe ainda no componente exótico, a mangueira Mangifera indica, a nespereiraEryobotria japonica, a nogueira Aleurites molucana, e outras, não muito significativas (laranjeiras,bananeiras dos Açores, palmeira-real, areca-bambu, sabal, palmeira-de-vinho e cafés dasvariedades arábica, bourbon e robusta). A orquídea conhecida vulgarmente por baunilha (Vanilla)trata-se também de um elemento alienígena à flora do Parque.Por fim, cabe assinalar dois aspectos problemáticos relacionados a manutenção das florestas dabacia de Jacarepaguá. O primeiro é devido a fragmentação, que, por si só, representa uma fatornegativo em função do decréscimo de diversidade, perda de polinizadores e dispersores,penetração de plantas invasoras e endogenia crescente.A invasão diuturna de plantas exóticas a partir de sementes originadas de matrizes em áreasurbanas periféricas aos fragmentos, favorecida pelo fogo e pelo transporte de sementes poranimais e pelo vento para dentro dos fragmentos, é um fator negativo constante e de difícilequacionamento.Quando se considera a questão de fragmentos urbanos, os fatores ante<strong>rio</strong>res crescem deimportância e outras pressões são acrescidas, representadas pelos desmatamentos, deposiçãode resíduos, poluição atmosférica e maior perigo do fogo. Deste modo, a gestão de fragmentosflorestais urbanos é uma atividades bastante problemática.70


3.3.3.2 Comunidades Vegetais de RestingaEntende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamentedistintas, sob influência fluvio-marinha. O termo restinga, em botânica e fitogeografia, a<strong>br</strong>ange asdiversas comunidades vegetais que variam desde o porte herbáceo, arbustivo até arbóreo. Podeser compreendida ainda como sendo o conjunto de espécies que se desenvolvem nas planícieslitorâneas, <strong>so<strong>br</strong>e</strong> sedimentos quaterná<strong>rio</strong>s, constituído por areia quartzosas marinhas ou deorigem fluvio-marinha.Com exceção das plantas de praia e <strong>br</strong>ejo, que possuem ampla distribuição, a flora de restinga éessencialmente formada por espécies da Mata Atlântica (Rizzini, 1979), com baixo endemismo.Segundo o autor, é natural que seja assim, pois os terrenos arenosos são de idade recente edesta maneira, as plantas que lhes colonizaram faziam parte da vegetação da montanha.Contudo, na composição florística geral das restingas, observa-se ainda a contribuição de plantasde outros ecossistemas além da mata atlântica.Para o Estado do Rio de Janeiro, Araújo e Henriques (1984), relacionaram 360 gêneros e mais de600 espécies vegetais, distribuídas em 12 comunidades, a saber: halófila, psamófila reptante,“slack” de dunas móveis, “thicket” (vegetação arbustiva fechada) baixo de pós praia, “thicket” deMyrtaceae, “scrub” (vegetação arbustiva aberta) de Clusia, “scrub” de Palmae, “scrub” deEricaceae, <strong>br</strong>ejo herbáceo, floresta pe<strong>rio</strong>dicamente inundada, floresta permanentementeinundada e floresta seca.Na bacia de Jacarepaguá, a vegetação de restinga se encontra fortemente ameaçada pelaexpansão da cidade. O processo de urbanização é rápido. A área de maior extensão encontra-seao redor da laguna de Marapendi, no inte<strong>rio</strong>r da APA do Parque Ecológico de Marapendi.Segue uma <strong>br</strong>eve descrição das comunidades da baixada de Jacarepaguá.♦ Comunidades halófitas e psamófilas reptantesOcupam estas comunidades herbáceas as faixas arenosas das praias de Barra, Recreio dosBandeirantes, Pontal de Sernambetiba, Macumba, Prainha, A<strong>br</strong>icó, Grumari, Pequena (ou doInferno), Funda, do Meio e Perigoso. Tem como elementos típicos: Blutaparon portulacoides,Alternanthera maritima, Bromelia antiacantha, Canavalia rosea e Sporobolus virginicus, Ipomoeapes-caprae, Acicarpha spathulata, Cereus fernambucensis, Mariscus pedunculatus, Mollu<strong>gov</strong>erticillata, Panicum racemosum e Sophora tormentosa.♦ Comunidades arbustivas abertas e fechadasEstas comunidades são encontradas somente no Parque e na Apa de Marapendi, em Grumari eno Bosque da Barra. Há remanescentes esparsos e de pequeno tamanho em glebas e lotesdesocupados ao logo das avenidas da Américas e Sernambetiba, na Barra da Tijuca e no Recreiodos Bandeirantes.A comunidade arbustiva fechada de pós - praia tem como elementos típicos Bumelia obtusifolia,Eugenia uniflora, Manilkara subsericea e Schinus terebentifolius, todos apresentando, quasesempre, "habitus" prostrado. Outras espécies que podem integrar essa comunidade são:Allagoptera arenaria, Bromelia antiacantha, Cereus fernambucensis, Eugenia arenaria,Neomitranthes obuscura, Opuntia vulgaris, Passiflora mucronata, Pereskia aculeata e Tocoyenabullata.71


No jundu, designação popular desse tipo de comunidade litorânea, as plantas sofrem umprocesso de poda natural, causada pelos ventos marinhos carregados de salsugem, que inibem ocrescimento de certas extremidades dos ramos. Outra característica do jundu é a presença detrepadeiras e escandentes.A comunidade arbustiva aberta de Palmae tem o guriri (Allagoptera arenaria) como a planta maisrepresentativa. Essa espécie por vezes encontra-se associada a outros vegetais da famíliaMyrtaceae (Eugenia spp., Calyptranthes spp., Neomitranthes obscura, Psidium littorale) e ainda:Cereus femambucensis, Inga maritima, Manilkara subsericea, Neoregelia cruenta, Ourateacuspidata, Passifiora mucronata, Pereskia aculeata, Pilosocereus arrabidae, Plumbago scandens,Sejania cuspidata, Sophora tomentosa e Tocoyena bullata.As comunidades arbustivas abertas de Ericaceae se localizam nas partes mais internas daplanície arenosa. O elemento típico é Humiria balsamifera (Humiriaceae). É constituída de moitascom até quatro metros de altura em que podem também estar presentes: Allagoptera arenaria,Andira spp, Annona palustris, Ficus spp, Inga fagifolia, Manilkara subsericea, Ormosia arborea,Rheedia <strong>br</strong>asiliensis, Gaylussacia <strong>br</strong>asiliensis, Norante <strong>br</strong>asiliensis, Chamaecrista ramosa e C.tetraphylla.Na comunidade arbustiva aberta de Clusia, a planta mais comum é Clusia fluminensis(Guttiferae), que em geral ocupa o ponto central da moita, que pode ter até quatro metros dealtura. Outras espécies que podem estar presentes são: Allagoptera arenaria., Bumeliaobtusifolia, Byrsonima sericea, Conepia spp, Cupanhia emarginata, Ficus spp, Ocotea notata,Pavonia alnifolia, Pera ferruginea, Pouteria psamophila, Protium spp, Pseudobombaxgrandiflorum, Schinus terebinthfolius, Tabebuia chrysotricha, Tapirira guanensis, Heisteriape<strong>rio</strong>nthomega, Ouratea cuspidata, Tocoyena bullata e Zollernia falcata. Há também trepadeiras:Se<strong>rj</strong>ania spp (Sapindaceae), Stigmaphyllon paralias (Malpighiaceae) e Vanilla chamissonis(Orquidaceae).As comunidades arbustivas fechadas de Myrtaceae são capões de moitas mais fechadas, sem acaracterística hemisféricas das moitas, e ocupando a parte mais interna e seca da planíciearenosa. Seus elementos característicos são as Myrtaceae, de modo geral, como por exemploMyrrhinium atropurpureum , de grande valor ornamental.Outras espécies que podem entrar na composição desse tipo de comunidade são: Aspidospermapyricollum, Byrsonima sericea, Esembeckia rigida, Vitex polygama, Vochysia opugnata, Xylopialaevigata e Zollernia falcata.♦ Brejo herbáceoDesignado pelo IBGE (1991) como comunidades aluviais, o termo agrupa diversos tipos devegetação não florestais situadas em áreas inundadas e inundáveis, sem influência de salinidade.As comunidades aluviais ocorrem nos terrenos alagados as margens de lagoas e <strong>rio</strong>s. Sãoconstituídas por uma vegetação herbácea de gramíneas, ciperáceas e outras ervas. As plantasdas comunidades aluviais podem ser designadas como hidrófitas, quando formados por plantasadaptadas a vida aquática, submersas total ou parcialmente, e higrófitas, quando ocorrem emambientes com elevado grau de umidade.Plantas características das comunidades aluviais da bacia são: Typha dominguensis, Achrosticumaureum, Eichhornia crassipes, Eichhornia azurea, Nymphaea sp., Pistia stratiotes, Utriculariafoliosa, Salvinia auriculata, Bacopa monnierii, Cyperus ligularis; Cyperus meyenianus; Cyperuspolystachyos; Cyperus prolixus, Cyperus surinameris; Hydrocotile bonariensis; Imperata contracta;72


Passiflora sp; Psidium littorale, Scirpus cubensis; Scirpus robustus; Setaria magna eStenotaphrum secundatum (Araújo 1978).Os <strong>br</strong>ejos herbáceos foram ante<strong>rio</strong>rmente tratados em detalhe no ítem Ecossistemas AquáticosInte<strong>rio</strong>res e Biota Associada.♦ <strong>Floresta</strong> pe<strong>rio</strong>dicamente inundada e floresta permanentemente inundadaEstas comunidades, tratadas como mata paludosa no item Ecossistemas Aquáticos Inte<strong>rio</strong>res eBiota Associada, é conhecida também por floresta aluvial ou matas higrófilas de várzea. Osfragmentos remanescentes encontram-se nas imediações do encontro da Av. Salvador Allendecom a Av. das Américas. Observa-se ainda árvores isoladas e pequenos agrupamentos dealguns indivíduos em outros locais remotos, a beira de alagadiços.Estas florestas possuem elementos arbóreos e arbustivos adaptados a viverem em solosencharcados ou cobertos por uma lâmina d’água. Provavelmente, eram formadas por indivíduoshigrófitos de porte arbóreo, com altura entre 10 e 15 metros, embora alguns indivíduoschegassem a atingir 30 metros. Conforme constatou-se em remanescentes deste tipo devegetação, como por exemplo os do vale do <strong>rio</strong> Ribeira e do Iguape, na região sul do Estado deSão Paulo, as árvores possuem sistemas radiculares pivotantes atrofiados e há formação deraízes superficiais devido à falta de oxigenação do solo e também como defesa dos ventos(Camargo, Pinto e Troppmair, 1972).Os dados <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a flora são precá<strong>rio</strong>s, mas acredita-se que existam as seguintes espécies:canela-do-<strong>br</strong>ejo (Ocotea squamosa), caroba miúda (J. tomentosa), caroba d'água (Jacarandanitida), malungu-do-<strong>br</strong>ejo (Erytrina falcata), genipapo (Genipa americana), caixeta (Tabebuiacassinoides), Laplacae fruticosa, capororoca (Rapanea umbellata), araticu (Anona palustris),congonha-do-<strong>rio</strong> (Ilex amara), pau-preto (Humiria sp), ingá (Inga maritima), pau-pombo (Tapiriraguianensis) e guairana (Peschiera sp). As espécies dominantes seriam o guanandi (Calophyllum<strong>br</strong>asiliensis) e Symphonia globulifera.♦ <strong>Floresta</strong> secaMata originalmente de 10 a 15 metros. Restam manchas no Parque Ecológico de Marapendi♦ Plantas exóticasNota-se uma falsificação da paisagem nas praias e áreas perilagunares, devido ao emprego deespécies exóticas na ornamentação, como amendoeiras (Terminalia catappa), flamboyants(Delonix regia), que são árvores da Ásia e de Madasgacar, respectivamente, casuarinas(Casuarina equisitifiolia), coqueiros (Cocos nucifera) e até mesmo leucenas (Leucaenaleucocephala).3.3.3.3 Comunidades de MangueManguezais são comunidades vegetais que se estendem por toda a região litorânea tropical<strong>so<strong>br</strong>e</strong> costas planas nas desembocaduras dos <strong>rio</strong>s e em margens de lagoas, submetidas aosefeitos de marés, em áreas de acumulação fluvio-marinha e mesmo fluvial, neste casoinfluenciados pela cunha salina.73


O solo do manguezal é po<strong>br</strong>e em oxigênio e rico em matéria orgânica, incompletamentedecomposta. São formados por materiais finos trazidos pela água doce do inte<strong>rio</strong>r e, depositadosno litoral, na zona de encontro das águas doces e salgadas. Ente tipo de solo contém areia fina,silte e argila transportados pelas enxurradas, bem como as que vem em suspenção coloidal naságuas dos <strong>rio</strong>s e que são floculadas pelos sais da água do mar.A vegetação de mangue é composta por espécies halófitas facultativas, por isso ocupam áreasque estão sob a influência direta das marés, onde as plantas de água doce não conseguemtolerar a salinidade. De maneira geral, a comunidade vegetal dos manguezais apresenta umnúmero reduzido de espécies, que possuem adaptações para <strong>so<strong>br</strong>e</strong>vivência nesse tipo deambiente, tais como fixação mecânica em solo frouxo, raízes respiratórias e mecanismos deaeração, mecanismos especializados de dispersão e desenvolvimento de estruturas xerofíticasdecorrentes da salinidade do solo.Os mangues são ecossistemas altamente produtivos e exportam boa parte da matéria orgânicaproduzida para as cadeias alimentares aquáticas adjacentes. Esta transferência de matéria deveseao fato deste sistema possuir poucos mecanismos internos de reciclagem de nutrientes,tornado-os sistemas abertos e permitindo grandes exportações de matéria prima vegetal,principalmente na forma de detritos vegetais. A decomposição das folhas das árvores e depedaços de ervas mortas por microorganismos e pequenos animais, inicia a cadeia de detritos.Destes detritos dependem para viver vermes, moluscos, camarões e caranguejos, que por suavez são consumidos por peixes, aves e outros animais.Destacam-se nos manguezais da bacia da baixada de Jacarepaguá, as espécies arbóreasRhizophora mangle, (mangue-vermelho) Avicennia schaueriana (mangue-preto ou siriúba) eLaguncularia racemosa (mangue-<strong>br</strong>anco), comuns à maioria dos manguezais que ocorrem nacosta <strong>br</strong>asileira.Os manguezais na baixada de Jacarepaguá encontram-se distribuídos na orla das lagoas deMarapendi, Tijuca, Camorim e Jacarepaguá, e de algumas ilhas. Embora apresentemsemelhanças com relação as espécies que os compõe, diferem quanto a estrutura e o estado deconservação e a área que ocupam.A seguir são caracterizadas as comunidades de mangue.♦ Manguezais da laguna de MarapendiAs formações perilagunares apresentam larguras entre 1 e 7 metros. Apesar de seu melhorestado de conservação, quando comparada com as demais lagunas, também nesta região ascomunidades vegetais sofreram intensamente a ação de dragagens, aterros hidráulicos e invasãode espécies arbóreas exóticas como amendoeiras (Terminalia cattapa), casuarinas (Casuarinaequisitifiolia) e leucenas (Leucaena leucocephala).As comunidades perilagunares desta laguna podem ser divididas geograficamente em:• Área 1 - Canal de Marapendi• Área 2 - Canal de Marapendi - Alfa Barra• Área 3 - Alfa Barra - Malibu• Área 4 - Malibu - Canal das Taxas74


(a) Área 1 - Canal de MarapendiDescrição - Canal de origem artificial, aberto na década de quarenta, visando o drenagem daregião. Apresenta-se atualmente bastante dete<strong>rio</strong>rado em virtude do grande volume de esgotolançado em suas águas, bem como pelas alterações topográficas ocorridas em virtude do aterrodas faixas marginas de proteção do canal, que são utilizadas por diversos condomínios comoárea de recreação ou vias para a passagem de veículos. Nas áreas mais impactadas, isto é,aterros justapostos ao canal, as espécies vegetais mais comuns são amendoeiras, leucenas,casarinas e o capim-colonião (Panicum maximum) todas de grande poder de dispersão.Nas margens onde há presença de sedimentos submetidos às variações de maré, podem serobservadas espécies exclusivas de mangue como Rhizophora mangle e Laguncularia racemosaatingindo alturas de até quatro metros. São também observadas junto a estas espéciesexclusivas, Hibiscus pernambucensis, Dalbergia ecastaphyllum, Acrostichum aureum e Paspalumvaginatum, consideradas espécies de transição ou não exclusivas de manguezal. Em quatropontos do canal, há atividades de recuperação de manguezais por meio do apoio da iniciativaprivada e de órgãos oficiais durante o período de 1994-1996.(b) Área 2 - Canal de Marapendi - Alfa BarraDescrição - Nesta porção inicial da laguna de Marapendi observa-se a expansão das áreas demanguezais, com largura estimada de até 7 metros, com a dominância de indivíduos deLaguncularia racemosa de até 6 metros de altura, apesar do aterro das margens em áreaspróximas, lançamento de esgotos e presença de vegetação exótica.Verifica-se também a presença de alguns indivíduos de Rhizophora mangle mais baixos, e rarosde Avicennia schaueriana. Associados a estes primeiros ocorrem Hibiscus pernambucensis,Dalbergia ecastaphyllum, Acrostichum aureum, Paspalum vaginatum, Sporobolus virginicus eTypha domingensis. Esta área foi objeto de atividades de recuperação de manguezais.(c) Área 3 - Alfa Barra - MalibuDescrição - As principais formações de manguezais apresentam-se situadas na margem dalaguna junto a Avenida Sernambetiba, estando a margem oposta com um maior grau deperturbação das comunidades vegetais, devido a instalação de condomínios.Próximo a avenida Ayrton Sena e condomínio Alfa Barra, ocorrem indivíduos de Lagunculariaracemosa de até 5 metros com poucos indivíduos de Rhizophora mangle e Avicennia schauerianade menor altura.Na porção situada frontalmente ao condomínio Novo Leblon, na margem junto a AvenidaSernambetiba, há um gradual incremento de Avicennia schaueriana com a ocorrência depequenas piscinas paralelas a laguna esporadicamente inundadas, onde ocorre a erva Sesuviumportulacastrum associada nas porções mais claras do manguezal.No primeiro grande estreitamento da laguna, há predominância de Laguncularia racemosa,associada a Acrostichum aureum, Typha domingensis e Dalbergia ecastaphyllum nas partes maisexternas em contato com as águas da laguna, e Cladium jamaicensis, Schinus terebentifolius enovamente Acrostichum aureum e Typha domingensis nas partes mais internas.São claras as interferências antropogênicas pretéritas, principalmente relacionadas comdragagens e aterros que foram responsáveis pela formação de depressões e elevações, além dealterações no perfil original das margens da laguna. Estes modificações não só eliminaram as75


formações originais de mangue como possibilitaram o desenvolvimento de espécies exóticas nasporções impactadas. Como resultado, há uma presença crescente de casuarinas(d) Área 4 -Malibu - Canal das TaxasDescrição - Praticamente do condomínio Malibú até o Clube Ginástico Português, a paisagem semantém homogênea com manguezais constituídos quase que exclusivamente por Lagunculariaracemosa de porte arbustivo, com a presença marcante de casuarinas por entre tais formações,situadas em pequenas ilhotas. Também ocorrem entre os manguezais formações de Acrostichumaureum associadas a Dalbergia ecastaphyllum. Nos trechos de menor salinidade foi observada apresença das ciperáceas Eleocharis caribea e Eleocharis puntata.Na área do Parque Municipal Ecológico de Marapendi, junto a Avenida Sernambetiba ocorre aúltima significativa formação de manguezal com a presença de Laguncularia racemosa associadacom Acrostichum aureum. Junto a abertura do canal das Taxas há a formação de extensa áreacoberta por Acrostichum aureum e Typha dormingensis, esta última predominando na maior parteda margem oposta da laguna onde esporadicamente são encontradas pouco expressivos (emárea) agrupamentos de Laguncularia racemosa e Dalbergia ecastaphyllum.♦ Manguezais da Laguna da TijucaNesta laguna encontram-se duas das três formações de manguezal, mais representativasestruturalmente de todo complexo lagunar, situadas respectivamente, defronte aosempreendimentos Downtown - Bom Marchê - Porto dos Ca<strong>br</strong>itos e nas glebas E e F (Saco eSaquinho). Contudo esta exuberância residual, contrasta com a quase generalizada degradação eperturbação das comunidades vegetais de transição, como das próprias formações demanguezais, com claros reflexos na redução das suas complexidades biológicas e estruturais.As áreas foram divididas seguindo a distribuição das formações de manguezais na laguna daTijuca em:• Área 1 - Canal da Barra• Área 2 - Ilhas• Área 3 - Entorno 1• Área 4 - Downtown - Porto dos Ca<strong>br</strong>itos• Área 5 - Muzema• Área 6 - Ilha do Ribeiro - Camorim• Área 7 - Saco Grande e Saquinho• Área 8 - Entorno 2(a) Área 1 - Canal da BarraDescrição - A presença da vegetação de manguezal se dá atualmente em duas únicas áreas. Aprimeira situada frontalmente ao largo da Barrinha, onde a única espécie exclusiva identificada foiLaguncularia racemosa com uma altura avaliada entre três e quatro metros, e a segunda entre asduas pontes, onde foram identificadas Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Dalbergiaecastaphyllum. As demais presenças se dão na forma de pequeno número de mudas de mangue<strong>br</strong>anco, de reduzida altura (até dois metros e meio), associadas a espécies de transição/nãoexclusivas de manguezal (Hibiscus pernambucensis - algodoeiro de praia ) e de gramíneas(Paspalum vaginatum).76


Em conseqüência da intensa ocupação urbana que praticamente eliminou todas as margenspotencialmente colonizáveis, seja por meio de aterros visando edificações familiares e comerciaise da instalação de gabiões, a presença de manguezais nesta área apresenta-se reduzidíssima.(b) Área 2 - IlhasDescrição Geral - Representa as bordas das ilhas de origem natural, acrescidas das criadas emconseqüência das atividades de dragagem. São constituídas pelas ilhas dos Cavalos, MarinaBarra Clube, Gigóia, Pescadores, Primeira, Fantasia, Garças, Ipê e da Pesquisa. A maioria dasilhas sofreu e continua sofrendo profundas alterações em seu formato, apresentando funçãoresidencial, comercial e esportiva/lazer. Em nenhuma delas é observado o cumprimento dalegislação referente às faixas marginais de proteção, comunidades vegetais e espelho d’água. Ascaracterísticas mais marcantes são por um lado os aterros generalizados e por outro a tentativaem diversos pontos da recuperação natural dos manguezais, onde os aterros assim a permitem.Propágulos da espécie Rhizophora mangle, vem sendo utilizada na produção de mudas paraatividades de recuperação induzida na laguna da Tijuca.Os fatores negativos caracterizam-se pela intensa e generalizada ação de aterros <strong>so<strong>br</strong>e</strong> asmargens e o próp<strong>rio</strong> espelho d’água da laguna da Tijuca com a construção de muros decontenção. O objetivo geral é o da criação e ampliação de terrenos. Esta ação vem sendo aresponsável pela eliminação direta de aproximadamente 90% das margens insulares colonizadaspor manguezais. O lançamento de esgoto e resíduos sólidos somados a introdução de espéciesvegetais exóticas com grande poder de dispersão e som<strong>br</strong>eamento completam o quadro dedegradação que age <strong>so<strong>br</strong>e</strong> os manguezais.Ilha dos Cavalos: São encontradas as espécies exclusivas Rhizophora mangle, Lagunculariaracemosa e Avicennia schaueriana, sendo que as primeiras apresentam alturas que variam dos 6aos 8 metros de altura, e significativa produção de “raízes” escora, sendo que da última foiobservada uma única representante. Na porção da ilha dos Cavalos voltada para o Marina BarraClube, as formações vegetais de manguezal em geral são tem indivíduos de pequena altura, alémde uma significativa população de Dalbergia ecastaphyllum.Salienta-se que toda a ilha apresenta claros sinais de profundas intervenções, tais comodragagens, edificação de muros em suas margens e plantio de espécies exóticas (amendoeira ecasuarina). O crescimento destas espécies é extremamente prejudicial, como já comentado. Aredução da presença de manguezais vem proporcionando a remoção do substrato das margensda ilha em diversos pontos, havendo a exposição de sistemas radiculares.Ilha do Marina Barra Clube: Fruto de dragagens, a atual ilha apresenta margens com taludes dedeclividade acentuada (frontalmente à estrada da Barra da Tijuca) e em fase de suavizaçãonatural (frontalmente à Ilha da Gigoia). Em alguns pontos de suas margens, observa-se o iníciode colonização por Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa, Avicennia schaueriana, Dalbergiaecastaphyllum e Paspalum vaginatum. Salienta-se a presença de árvores jovens (três à trêsmetros e meio de altura) de Rhizophora mangle, com expressiva produção de propágulos; e deuma única árvore de Avicennia schaueriana com quatro à cinco metros de altura. A presença devárias árvores de casuarinas prejudicam a fixação da vegetação natural devido aosom<strong>br</strong>eamento.Em virtude dos inúmeros aterros e da eliminação da vegetação natural e ao intenso transito deembarcações, observa-se junto as margens situadas frontalmente a Ilha da Gigóia, odesbarrancamento do talude.77


Ilha da Gigóia: A mais densamente povoada e apresentado a mais completa descaracterizaçãode suas margens, inteiramente muradas. A comunidade vegetal de manguezal é restrita a árvoresisoladas de Laguncularia racemosa e Rhizophora mangle, “so<strong>br</strong>as” da formação original ou namaioria das vezes resultado de fixação recente. Salienta-se a presença de duas árvores deRhizophora mangle, presentes no meio de um jardim, resultado de extenso aterro <strong>so<strong>br</strong>e</strong>manguezais.Ilha da Fantasia: Apresenta uma representativa formação de Rhizophora mangle, um bosquepraticamente monoespecífico. Salienta-se que as árvores apresentam desenvolvimento estruturalque indicam preliminarmente fixação numa estreita faixa das margens da ilha, em períodorelativamente recente (10-15 anos). O único trecho degradado localiza-se numa das extremidadesda ilha voltada para o continente, onde um muro inviabiliza qualquer tipo de fixação.Ilha das Garças: Com um quadro de descaracterização bastante intenso, a maioria das faixasmarginais é ocupada por muros, manguezais removidos, com o plantio generalizado decasuarinas e amendoeiras. A formação mais representativa de manguezais está localizadafrontalmente a foz do <strong>rio</strong> Cachoeira, constituída por Languncularia racemosa, sendo que tambémela, tanto pelas chuvas de fevereiro de 1996 como por ação antrópica (aterros e corte) vemsendo reduzida. Visando mascarar os aterros e a construção de muros, alguns moradores temsem sucesso plantado mudas de Laguncularia racemosa.Ilha Primeira: As margens voltadas para a Ilha da Gigóia estão completamentedescaracterizadas por muros, diques, jardins e recentes edificações. Foi observada uma pequenaformação de manguezal constituída por indivíduos de Rhizophora mangle com alturas entre 1-3metros, situada frontalmente a Ilha da Gigóia. A margem da ilha voltada para o Itanhangá GolfClub, ainda apresenta representativa formação de manguezal constituída por Rhizophora mangle.Contudo, chama-se a atenção para a intensa atividade de aterros e construção de muros quevêm ocasionando a expansão de residências e a redução da presença de manguezais.Ilha do Ipê: Apresentando nas margens voltadas ao empreendimento Downtown, a espécieLaguncularia racemosa com uma altura estimada de 4 metros, muitas delas apresentamtombamento em resposta ao intenso som<strong>br</strong>eamento produzido por Casuarinas e amendoeiras.Em suas margens voltadas à Ilha da Pesquisa, há predominância de Rhizophora manglejuntamente com Laguncularia racemosa, estas com alturas entre 4 - 5 metros. São observadospequenos aterros junto a diversos pontos das margens.Ilha da Pesquisa: As margens voltadas à Ilha do Ipê também apresentam Rhizophora mangle eLaguncularia racemosa com uma altura de aproximadamente entre 4-5 metros.Ilha dos Pescadores: Casa noturna completamente murada.(c) Área 3 - Entorno 1Esta área é composta de três sub-áreas: entono a, b e c.Entorno a: Situada paralelamente a estrada da Barra da Tijuca, apresenta formações naturaiscom Laguncularia racemosa e Dalbergia ecastaphyllum, onde em diversas delas é observada,<strong>so<strong>br</strong>e</strong> área aterrada e não submetida às variações de maré a presença de Leucaenaleucocephala. A maior parte da área é desprovida de vegetação, sendo em alguns pontosutilizada como área de despejo de resíduos sólidos. Salienta-se que boa parte de suas margensapresentam condições para atividades de replantio.78


Entorno b: Situada paralelamente ao Itanhangá Golf Clube, apresenta uma significativa formaçãode manguezais, constituída de Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa. A média de alturada formação mais desenvolvida apresenta 6-8 metros, sendo que o restante da área sofreurecentemente (1993) atividades de replantio, e por isso apresenta uma média de 3-3.5 metros.Outra representativa formação de manguezal está localizada junto ao <strong>rio</strong> Itanhangá, onde numadas margens há predominância de Rhizophora mangle e, na outra, Laguncularia racemosa.Entorno c: Situada paralelamente a estrada Armando Lombardi, apresenta junto a ponte, situadafrontalmente a Ilha dos Cavalos, formação de manguezais com significativo desenvolvimentoestrutural, constituído principalmente por Rhizophora mangle com altura entre 6-8 metros,também sendo observada Laguncularia racemosa de porte arbóreo. Esta área sofre processo deaterramento em sua porção poste<strong>rio</strong>r. Nas demais áreas situadas deste ponto até o contato como canal de Marapendi, são encontradas de forma escassa, árvores e arbustos de Lagunculariaracemosa, Rhizophora mangle, Schinus terebentifolius, Dalbergia acastaphyllum e Hibiscuspernambucensis.Os aterros e possibilitaram a fixação, em praticamente toda faixa marginal de proteção, junto dasformações residuais de manguezal, de espécies completamente estranhas as formações naturais,que muitas, ao <strong>so<strong>br</strong>e</strong>arem o mangue, concorreram para sua eliminação. Salientam-se a situaçãode duas áreas: a primeira, situada lateralmente ao empreendimento Point da Barra, com árvoresde manguezal ainda vivas, situadas no inte<strong>rio</strong>r de uma área cercada por muro e a segunda, emárea também situada lateralmente ao Point da Barra, que apresenta no entanto todas ascondições necessárias para atividades de recuperação.(d) Área 4 - Downtown - Porto dos Ca<strong>br</strong>itosDescrição - Esta área é uma das três mais importantes formações estruturais de manguezal detodo complexo lagunar. A espécie exclusiva de manguezal predominante é Rhizophora mangle,apresentando numeroso e excepcional desenvolvimento de caules de sustentação. Estima-se quea altura das árvores de Rhizophora mangle alcancem os doze metros de altura, estando tambémpresente, principalmente em sua porção poste<strong>rio</strong>r, Laguncularia racemosa, com uma alturaestimada em 8 metros. Poste<strong>rio</strong>rmente a franja de espécies exclusivas, podem ser observadas apresença de espécies de transição, principalmente Acrosthicum aureum, Hibiscuspernambucensis e Dalbergia ecastaphyllum.Toda a área está submetida a tensores crônicos associados a alteração da topografia edrenagem a montante das comunidades perilagunares, como também diretamente <strong>so<strong>br</strong>e</strong> ascomunidades vegetais observadas. Os aterros visam a instalação de empreendimentoscomerciais, residências unifamiliares, aberturas de vias para veículos e, em escala reduzida,depósito de resíduos vegetais e lixo doméstico proveniente das ilhas. Os novos padrões dedrenagens são produzidos em virtude do rebaixamento do lençol freático e o escoamento daságuas superficiais oriundas da impermeabilização dos terrenos situados a montante. Esteconjunto de ações age de três formas diferenciadas segundo seu grau de intensidade: (i)diretamente eliminando as comunidades vegetais naturais; (ii) possibilitando a alteração dospadrões de zonação (mistura de espécies exclusivas e de transição; (iii) invasão de espéciesexóticas, principalmente casuarinas, leucenas, amendoeiras e capim colonião. Estima-se quenum futuro bastante próximo, somado ao conjunto de tensores citados, haverá ocomprometimento adicional da qualidade do corpo d’água local, pelo lançamento de águasservidas, associadas a drenagem de águas pluviais.(e) Área 5 - Muzema79


Descrição - Situada frontalmente aos morros do Itanhangá e Muzema. As duas formaçõesestruturalmente mais significativas localizam-se, respectivamente, ao lado da favela da Muzema ejunto a Ilha do Ribeiro. Ambas as áreas apresentam a presença de Laguncularia racemosa,Rhizophora mangle (3 - 4 metros) e Paspalum vaginatum. O restante das margens,principalmente junto a Pedra do Itanhangá, apresentam-se completamente alteradas por aterros econstrução de muros na faixa marginal de proteção. As formações de manguezais que sãoencontradas, fora das já destacadas, apresentam as espécies arbóreas mencionadas,estruturalmente pouco desenvolvidas (1-2 metros), conseqüência da recente fixação das mesmas(1-3 anos).A primeira formação significativa, acha-se parcialmente aterrada pela favela da Muzema, sendoinclusive identificadas árvores de mangue (Rhizophora mangle) cercadas pelas residências. Nasegunda, o aporte de resíduos sólidos trazidos pela rede de drenagem natural e depositadofrontalmente ao manguezal, soma-se aos aterros que ocorrem em sua parte poste<strong>rio</strong>r, visando ainstalação de residências ou apenas terreno para despejo de entulho e lixo, com visível produçãode líquidos, talvez chorume. Chama-se a atenção que as demais margens apresentam-setotalmente aterradas ou em processo de aterro.Em conseqüência do assoreamento que ocorre em todo o complexo lagunar, as margens estãoavançando para dentro do espelho d’ água, propiciando a fixação de espécies de manguezal.Inicialmente colonizadas por gramíneas (Paspalum vaginatum), seguida das arbóreas(Laguncularia racemosa e Rhizophora mangle). Dando continuidade ao processo de ocupaçãonatural (vegetação) e antrópico (aterros), estimo que o espelho d’água sofrerá uma constanteredução de sua superfície (junto das margens), sendo poste<strong>rio</strong>rmente aterrado visando suautilização residencial.(f) Área 6 - Ilha do Ribeiro - CamorimDescrição - Situada entre a Ilha do Ribeiro e a laguna do Camorim, esta margem da laguna daTijuca apresenta-se dominada frontalmente por gramíneas (Paspalum vaginatum) tendo sidoidentificada em sua parte poste<strong>rio</strong>r Rhizophora mangle, Avicennia schaueriana, Lagunculariaracemosa e Dalbergia ecastaphyllum. Os comprimentos observados variam do arbustivo aoarbóreo (2-5 metros).Nesta área é observado o grande aporte e depósito de Eichhornia crassipes, que aumenta acapacidade de retenção de sedimentos e consequentemente o problema de assoreamento doespelho d’água. Não foi observada nenhuma significativa intervenção antrópica mais recente emsua porção poste<strong>rio</strong>r.(g) Área 7 - Saco Grande e SaquinhoDescrição - Situada próxima ao empreendimento Barra Shopping e nas gleba E e F, apresenta amais contínua e densa formação de manguezais de todo o sistema lagunar da Baixada deJacarepaguá. Podem ser encontradas todas as espécies exclusivas de manguezal (Rhizophoramangle, Avicennia schaueriana, Laguncularia racemosa), apresentando porte arbóreo (5-12metros) bem como exuberantes e extensas formações de espécies de transição (Hibiscuspernambucensis, Acrosthicum aureum, Sporobulos virginicum e Paspalum vaginatum). As duasprimeiras (Hibiscus pernambucensis, Acrosthicum aureum) de alturas (2-3 metros), atípicas parao estado de degradação e perturbação observados regionalmente.Apesar das recentes intervenções que restabeleceram parcialmente as formações demanguezais, que vinham sendo aterradas pela expansão da comunidade Via Parque, a aberturade pistas de rolamento <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a área do parque, pouco depois de sua inauguração, comprometem80


não só a existência das comunidades vegetais recém recuperadas, como os esforços derecuperação das áreas preteritamente degradadas pelas edificações. Outro grande perigo é a daprovável utilização imobiliária da gleba F, com o comprometimento da única formação aindaconstituída pelo mosaico de ecossistemas característicos da região lagunar. Salienta-se tambémo despejo de claros sinais de esgoto proveniente da rede de drenagem recém instalada.(h) Área 8 - Entorno 2Descrição - Situada entre as Áreas 7 e 4, esta área apresenta suas comunidades perilagunaresbastante homogêneas. Predominam em suas margens Typha domingensis associadas agramíneas, provavelmente Paspalum vaginatum, intercaladas por algumas poucas formações demanguezais, representadas por Laguncularia racemosa e Rhizophora mangle (em menor número)de altura variando entre 3 - 4 metros, associadas a Dalbergia ecastaphyllum e Hibiscuspernambucensis.Toda a área sofreu uma intensa ação de aterros, reduzindo drasticamente as áreas passíveis defixação das comunidades vegetais perilagunares. Praticamente toda a faixa correspondente azona de transição, representada principalmente por Acrosthicum aureum, Hibiscuspernambucensis e Sporobulos virginicum, desapareceu. Atualmente os tensores continuamagindo pontualmente em diversos pontos das margens, associados ao lançamento de resíduossólidos ou pelos loteamentos ou pelos empreendimentos comerciais. Também o lançamentos deesgotos foram observados em diversos pontos, acarretando a eutrofização adicional da região.♦ Manguezais da Laguna do CamorimNesta laguna são encontradas significativas formações de manguezal com indivíduos deRhizophora mangle de até 7 metros de altura associadas a indivíduos de Laguncularia racemosa,em menor número e porte. Na parte poste<strong>rio</strong>r do manguezal encontram-se Hibiscuspernambucensis, Acrosticum aureum, Paspalum vaginatum, Dalbergia ecastaphyllum e Typhadomingensis. Flutuando em imensas quantidades, muitas vezes depositando-se <strong>so<strong>br</strong>e</strong> osmanguezais, encontra-se Eichhornia crassipes.Em virtude tanto do grande volume de resíduos sólidos (lixo) e sedimentos que são lançados edepositados nesta outrora laguna, atualmente um canal de passagem entre as lagunas deJacarepaguá e Tijuca, bem como as interferências produzidas pela construção da linha Amarela,que por sua vez suprimiu mais uma faixa de manguezal em ambas as margens da laguna.♦ Manguezais da Laguna de JacarepaguáA laguna de Jacarepaguá apresenta significativas formações de manguezais junto a AvenidaAyrton Sena, com a presença de Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa associadas aAcrostichum aureum, Hibiscus pernambucensis, Dalbergia ecastaphyllum e Typha domingensis.Os mangues vem sofrendo desmatamento em sua parte posteior provavelmente visando ainstalação de alguma atividade comercial, frontalmente ao aeroporto de Jacarepaguá e ao Clubede Aeronáutica.As demais margens são dominadas por Typha domingensis, associadas em alguns pontos comAcrostichum aureum (junto ao Laborató<strong>rio</strong> da FEEMA), Hibiscus pernambucensis e Dalbergiaecastaphyllum. Salienta-se a volumosa produção de Eichhornia crassipes que durante osperíodos de chuvas são levadas em direção ao mar atingindo as praias da Barra e até Leblon.A laguna de Jacarepaguá recebe significativa carga de variados tipos de esgotos, que somadostanto a lenta renovação de suas águas como a sua natureza normalmente eutrofizada, cria uma81


situação de desequilíb<strong>rio</strong> refletida inicialmente em periódicos “bloom (s)” de algas, muitas vezespertencentes a grupos fitotóxicos, bem como a produção exagerada da macrófita Eichhorniacrassipes, que estendendo-se por centenas de metros quadrados do espelho d’água da laguna. Aocupação desordenada, praticamente uma regra ao redor de todo o complexo lagunar, é fatordecisivo para o quadro ilustrado acima.3.3.3.4 Comunidades de Afloramento RochosoAs comunidades vegetais <strong>so<strong>br</strong>e</strong> afloramentos rochosos se caracterizam por serem formaçõespredominantemente xerófitas rupestres, uma vez que a forte declividade aliada a poucaespessura do manto de intemperismo não permite o desenvolvimento de sistemas radicularesmais profundos.Muito comum na bacia de Jacarepaguá, ocorrem tanto nas vertentes próximas ao mar, acima dalinha de maré alta, quanto nas mais inte<strong>rio</strong>ranas.A flora dos paredões rochosos é integrada pela orquídea Cleístes liboníí, os epidendrosEpidendrum ellípticum e as veloziáceas Barbacenía gaveensis e Vellozia candida. So<strong>br</strong>essaem-seainda gramíneas e ciperáceas como Bulbostylis capíllaris, Paspalum dasytríchum, sendo umaendêmica, restringindo-se à Mesa da Pedra da Gávea, Panicum carautae. Em paredões verticaisàs vezes podem ser vistas diminutas samambaias Psilotum triquetum. Certos paredões ostentama intensa coloração alaranjada, causada pela presença de uma alga Trentepohlía sp.Espécies comuns nas vertentes próximas ao mar são cactus (Opuntia vulgaris, Cereusperuvianus), <strong>br</strong>omeliáceas (Vriesia gigantea), aráceas, orquideas (Lelia purpurata, Cattleya sp),Hipperastrum sp, Discorea sp, Stygmatophollum sp, e a piteita (Forcroya gigantea).Onde a topografia permite certa acumulação de solos aparecem arbustos como Coussapoaschotii, Ceiba rivieri, Clusia fluminensis, aroeiras (Schinus terebinthifolius), a palmeira baba-de-boi(Areacastrum romanzoffianun) e o cacto Opuntia <strong>br</strong>asiliensis.3.3.3.5 Comunidades de Ervas Invasoras (Ruderais)Os campos de ervas invasoras ou ruderais estão presentes em profusão na bacia, tanto nabaixada quanto nas áreas serranas. Estas comunidades são essencialmente de origem antrópica,e sua flora tem habilidade em colonizar rapidamente áreas desmatadas.Nas áreas desmatadas onde a degradação foi mais recente, ou que, por diversos fatores, nãoocorreu a regeneração, predomina o capim-colonião (Panicum maximum), além de outrasherbáceas de menor importância como o capim-gordura (Melinis minutiflora) sapê (Imperata<strong>br</strong>asiliensis) e barba-de-bode (Aristida paelens). A samambaia-de-campo Pteridium aquilinum var.arachnoideum, também, é muito comum nas áreas devastadas.Estabeleceu-se <strong>so<strong>br</strong>e</strong> as colinas e encostas um ciclo vicioso, em que as ervas, ao formarempalhas após os períodos vegetativos, são favorecidas pelas queimadas, que recriam as condiçõesótimas para uma nova colonização. A eliminação total do capim colonião é um tarefa praticamenteimpossível, pois ficará sempre na dependência de sua erradicação em todas as áreas contíguasa bacia, tarefa dificultada pelos incêndios que preparam um amplo habitat para essa gramínea.3.3.3.6 Culturas e Pastagens82


Ver descrição no volume 3 do Diagnóstico Ambiental dedicado aos aspectos socio-econômicos(JAC-70-0004 RE).3.3.3.7 Solos ExpostosConstituem áreas decapeadas, sem qualquer tipo de cobertura vegetal, seja por ocorrência deterraplanagens, deslizamentos ou outras causas e as áreas de mineração-pedreiras e sai<strong>br</strong>eiras.Ocorrem em profusão tanto nas encostas dos maciços da Tijica e da Pedra Branca, quanto naregião plana da bacia. Nesta última, podem ser vistas grandes superfícies de solos expostos nolado leste da Av. Ayrton Senna, ao longo da Av. das Américas.3.3.3.8 Áreas urbanasConstituem as áreas urbanizadas, com maior concentração na parte central da bacia(Jacarepaguá e arredores), Barra da Tijuca e Recreiro dos Bandeirantes.3.3.4 Aspectos Fitoecológicos, Florísticos e FenológicosSão analisados neste item os aspectos relativos à composição florística, sucessão vegetal e aospadrões de floração e frutificação.3.3.4.1 Composição FlorísticaA relação da flora da restinga e das florestas de encosta encontra-se nos Quadros II.2 e QuadroII.3, em anexo. De acordo com IBAMA (1991), em que pese a literatura registrar a ocorrência,somente no Parque Nacional da Tijuca, de pelo menos 450 diferentes espécies fanerogâmicas,este número é uma estimativa conservadora da diversidade existente, que, na realidade deveexceder a 1.200 espécies.As principais famílias encontradas no maciço da Tijuca são (Bandeira, 1994; Coelho Neto, 1992):Acanthaceae, Amaryllidaceae, Anacardiaceae, Annonaceae, Apocynaceae, Aquifoliaceae, Araliaceae,Asclepiadaceae, Begoniaceae, Bignoniaceae, Bixaceae, Bombacaceae, Boraginaceae,Bromeliaceae, Cactaceae, Cannaceae, Caricaceae, Clethraceae, Com<strong>br</strong>etaceae, Compositae,Cunoniaceae; Dillenniaceae, Dioscoreaceae, Elaeocarpaceae, Ericaceae, Erythroxilaceae,Estiracaceae, Euphorbiaceae, Flacourtiaceae, Gentianaceae, Gleicheniaceae, Gramineae,Guttiferae, Iridaceae, Labiatae, Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae- Caesaupinioideae,Leguminosae-Fabiodeae, Leguminosae-Mimosoideae, Liliaceae, Loganiaceae, Loranthaceae,Lythraceae, Magnoliaceae, Malpighiaceae, Malvaceae, Melastomataceae, Meliaceae,Marantaceae, Monimiaceae, Moraceae, Myristicacaceae, Myrtaceae, Olacaceae, Orchidaceae,Ochnaceae, Palmae, Piperaceae, Polypodiaceae, Polygaceae, Polygonacea, Proteaceae,Ranunculaceae, Rosaceae, Rubiaceae, Rutaceae, Sapindaceae, Sapotaceae, Schizaeaceae,Simplocaceae, Solanaceae, Sterculiaceae, Thymelaeaceae, Trigoniaceae, Urticaceae,Vochysiaceae e Violaceae.As espécies vegetais assinaladas nos Quadros II.2 e II.3 do Anexo II foram classificadas deacordo com os seguintes atributos:• EXO – Espécie Exótica;83


• EOR – Espécie Ornamental;• EPI – Espécie Pioneira;• EDP – Espécie que Desperta Preocupação Preservacionista ( Decreto Municipal N nº 15.793de 04/07/97)3.3.4.2 Sucessão VegetalA sucessão vegetal consiste em um processo natural de transformação de uma comunidadevegetal de uma dada área. Isto de dá através de uma série de estágios que se sucedem notempo e espaço, caracterizados por uma alternância de espécies vegetais, que vão preparando ohabitat para aquelas que irão lhe suceder-lhe.Alguns autores chamam o fenômeno de "florística de revezamento" (Odum, 1985). Ao longo dasucessão ocorre uma acúmulo progressivo de biomassa vegetal e um aumento da diversidade deespécies. Se a sucessão opera em uma área desmatada situada em um zona originalmenteflorestal, ela tenderá a restabelecer a mata, pois esta é a comunidade clímax.Na bacia de Jacarepaguá são praticamente inexistentes os estudos <strong>so<strong>br</strong>e</strong> sucessão das florestas,mas é indubitável que existam diversos padrões devido a variabilidade das condições ambientais.Observa-se que extensas áreas <strong>so<strong>br</strong>e</strong> as montanhas na bacia, de tão degradadas, perderam acapacidade de autoregeneração. Apresentam portanto baixa resíliência, isto é, seu retorno aoestado ante<strong>rio</strong>r pode não ocorrer ou ser extremamente lento.As razões que concorrem para este fato são:− foram eliminados os bancos de semente no solo, o banco de plântulas, as chuvas de sementese re<strong>br</strong>ota;− a presença de espécies invasoras de rápido crescimento, como o capim colonião e outrasgramíneas, é um dos principais problemas pois propicia a ocorrência de incêndios. Afrequência constante deste evento praticamente inviabiliza a colonização vegetal que dá inicioa sucessão, pois incinera as plântulas e sementes;− para que ocorra a colonização vegetal é necessá<strong>rio</strong> uma disponibilidade de nutrientes eumidade no solo, fatores que normalmente acham-se em níveis insuficientes em áreaerodidas, ou de exposição de horizonte C, que apresenta além de problemas químicos,também impecilhos de ordem física;− consumo de plântulas por animais domésticos (bois e ca<strong>br</strong>as) ou morte por pisoteio;− competição com ervas invasoras.Dentre as espécies florestais pioneiras na bacia de Jacarepaguá destacam-se: crindiúva (Tremamícrantha), quaresmeira (Tibouchina granulosa), aleluia ou canudeiro (Cassia multijuga), otangará (Miconia guianensis), açoita-cavalo (Luehea divaricata), quaresmeira (Tibouchinaqranulosa) e as imbaúbas (Cecropia adenopus e C. hololeuca). Nos terrenos mais degradadosdestaca-se a candeia (Vaniliosmopsis erythropappa). Podem ser assinaladas ainda o ipê-felpudo(Zeyheria tuberculata), o camará (Gochnatia polymorpha), jacarés (Piptadenia gonoachanta),aroeiras (Schinus terbenthifolius), unhas-de-vaca (Bauhinia forficata) e tamanqueiras (Aegiphyllasellowiana).84


As espécies pioneiras mais encontradas pertencem, em sua grande maioria,, às famíliasCompositae, Boraginaceae, Solanaceae, Leguminosae, Cyperaceae, Gramineae e Clethraceae.Na restinga, uma das plantas pioneiras de comunidades arbustivas-arbóreas é a <strong>br</strong>oméliaNoeregelia cruenta , que não tolera som<strong>br</strong>eamento. Em Maricá, Rizzini (1979) cita as seguintesespécies: Aechemea nudicalis, Pilocereus arrabidae, Pithecolobium tortum e Eugeniarotundifolium. Associadas a elas num segundo momento, surgem os arbustos Myrciariratolypantha, Erythroxylum ovalifolum, Tocoyena bullata, Ocotea notata e Maytenus obtusifolia. Apalmeira guriri parece ser também uma espécie pioneira, conforme comprovam sua resistência erecuperação frente aso incêndios sucessivos na praia do Sossego, em Niterói (Primo eRodrigues, 1992).No caso dos manguezais o processo de colonização se inicia por gramíneas (Paspalumvaginatum), seguida das arbóreas (Laguncularia racemosa e Rhizophora mangle).3.3.4.3 Padrões de Floração, Frutificação e Quedas de FolhasComposta por plantas na sua grande maioria lenhosas, das mais variadas formas vegetativas, defolhagem predominantemente verde e uniforme, o aspecto da vegetação das florestas da baciacausa à primeira vista uma impressão de monotonia. Como nesta latitude não existem mudançassensíveis de estações, o aspecto é quase sempre o mesmo em qualquer fase do ano.Há todavia, épocas de maior floração, quando muitas das espécies se co<strong>br</strong>em de flores,conferindo à mata uma variação mais cromática. Muitas são as árvores que perdem as folhasdurante o ano, geralmente entre maio e setem<strong>br</strong>o, mas essa caducidade não é total, nem mesmocoincidentes em árvores da mesma espécie.Há floradas marcantes na paisagem, pois podem ser notadas de longe. No fim do verãocomeçam a florescer as quaresmeiras Tibouchina granulosa, florada roxa que se prolonga pelooutono, porém mesmo em outras estações vê-se, aqui e ali, um ou outro exemplar em flor. Emjaneiro e fevereiro tem-se a floração amarelada da aleluia ou canudeiro (Cassia multijuga).Há, também, outras, que apresentam o mesmo colorido, embora menos numerosas, como porexemplo os ipês amarelos Tabebuía umbellata, a canela-santa Vochysia laurifolía, o fedegosoCassia macranthera e a sibipiruna Caesalpinia peltophoroides.85


Floradas de destaque são ainda os do rabo-de-tucano Vochysia oppugnata, nas encostas maisbaixas voltadas para o mar e da sete-sangrias Cibistax thisyphylitica. Uma outra cor, o vermelhovioláceo,enfeita as copas das sapucaias (Lecythis pisonis) em determinadas épocas. Neste casonão são as flores e sim a foliação nova.Com efeito, na literatura analisada não foram encontrados dados mais consistentes <strong>so<strong>br</strong>e</strong> oassunto, apenas menções <strong>so<strong>br</strong>e</strong> casos isolados como os acima comentados. Pesquisas na MataAtlântica de Tabuleiro do sul da Bahia, realizadas por Mori et al. (1983) indicaram um pico defloração nos meses de setem<strong>br</strong>o, outu<strong>br</strong>o e novem<strong>br</strong>o (primavera) e logo a seguir no verão. Foiconstatado também que não há qualquer correlação entre a quantidade de chuva e os padrões defrutificação e floração.A queda e produção de novas folhas ocorrem simultaneamente, sendo a queda mais freqüentenos meses de agosto, setem<strong>br</strong>o, outu<strong>br</strong>o e a emissão de novas folhas em setem<strong>br</strong>o, outu<strong>br</strong>o enovem<strong>br</strong>o.Nenhuma correlação foi verificada entre a queda de folhas e o regime pluviométrico, mas aemissão de folhas foi positivamente correlacionada com o aumento de temperatura e o aumentoda duração dos dias. O mais provável é que tais eventos sejam influenciados pelo aumento deduração do dia (fotoperíodo). É provável que este padrão seja comum as florestas da faixatropical, observado na área de estudo.Nas comunidades herbáceas e arbustivas de restinga podem ser vistas plantas frutificando eflorindo o ano inteiro, mas há um nítido pico no verão.No caso dos manguezais são registrados três padrões. O mangue vermelho (Rhizophoramangle) produz propágulos somente de dezem<strong>br</strong>o a março. O mangue-preto ou siriúba(Avicennia schaueriana) mostra uma alta produção no verão, decrescendo significativamente norestante do ano. Já o mangue <strong>br</strong>anco (Laguncularia racemosa) tem uma produção intensa nodecorrer do ano, que se vê incrementada no verão.3.3.5 Análise Fitoconservacionista3.3.5.1 Estado Geral de ConservaçãoO estado de conservação da cobertura vegetal nativa na bacia é bom no caso dos afloramentosrochosos, razoável para as florestas e crítico para as comunidades de restinga e os manguezais.As florestas nas bacias raramente alcançam as margens dos <strong>rio</strong>s no trecho plano. Somente emtrechos montanhosos pode-se observar matas adjacentes aos cursos de água.3.3.5.2 Plantas Apropriadas para RevegetaçãoMuitas espécies nativas da bacia de Jacarepaguá são apropriadas para a revegetação de áreasdegradadas. Os quadros em seqüência relacionam as espécies mais promissoras.86


Quadro 3.12 – Espécies para recuperação deterrenos úmidos e pantanososNOME POPULAR NOME CIENTÍFICO EMPREGOAlmecegueira Protium heptaphyllum ARI, TABAroeira-do-<strong>br</strong>ejo Schinus terebinthifolius AIPBicuíba Virola gardneri AIPCaixeta Tabebuia cassinoides ARI, TABCamboatá Tapirira guianensis ARI, TABCapororoca Rapanea guianensis AIPEmbaúba Cecropia pachystachya ARI, TABGuanandi Callophyllum <strong>br</strong>asiliensis ARI, AIP, TABGuanandi Symphonia globulifera ARI, TABGuaxuma-do-mangue Hybiscus tiliaceus AIPIngá-quatro-quinas Inga uruguensis AIPPindaíba Xylopia <strong>br</strong>asiliensis ARI, TABPindaíba-vermelha Xylopia sericea ARI, TABCapinxigui Croton floribundus ARI, TABUrucurana Hieronyma alcorneoides AIPFonte: Lorenzi (1992); Carvalho (1994); De Paula (1997) e CSMJEmprego: ARI - Áreas Raramente Sujeitas a Inundações; AIP - Áreas Inundadas Pe<strong>rio</strong>dicamente;TAB - Terrenos Alagadiços e BrejososQuadro 3.13 – Espécies para recuperação de terrenossecos e pedregososNOME POPULAR NOME CIENTÍFICOCaroba-do-campo Jacaranda puberulaCaviúna-violeta Machaerium scleroxylonCoco-de-espinho Astrocarium aculeatissimumJacarandá-caviúna Dalbergia nigraJacarandá-de-espinho Machaerium aculeatumLouro Cordia cf. taguahyensisMolulo Aegiphylla sellowianaMonjoleiro Acacia polyphyllaPau-de-tucano Qualea cryptanthaPau-jacaré Piptadenia gonoacanthaTambetari Zanthoxylum rhoifoliumVinhático Plathymenia foliolosaFonte: Lorenzi (1992) e Carvalho (1994)87


Quadro 3.14 – Espécies pioneiras para recuperaçãode encostasNOME POPULAR NOME CIENTÍFICOAraribáCentrolobium tomentosumAçoita-cavaloLuehea grandifloraAleleuia Senna multijigaAmendoim <strong>br</strong>avo Pterogyne nitensAnda-assu Joannesia princepsAroeira Schinus terebinthifoliusBabosa-<strong>br</strong>anca Cordia superbaCafezinho-do-mato Casearia sylvestrisCambará Gochnatia polymorphaCrindiúva Trema micranthaCajá-mirim Spondias luteaCanafístula Peltophorum dubiumCanela-amarela Ocotea velutinaCaroba-do-campo Jacaranda puberulaCoco-de-espinho Astrocarium aculeatissimumEmbaúba Cecropia pachystachyaEmbiraçu Pseudobombax grandflorumGoiabeira Psidium guajavaGuapuruvú Schizolobium parahybaIngá Inga uruguensisIpê-cinco-folhas Sparattosperma leucanthumIpê-roxo Tabebuia heptaphyllaJacarandá-de-espinho Machaerium aculeatumJatobá Hymenaea coubarilLeiteira Peschierea laetaMamão-do-mato Jacaratia spinosaMaricá Mimosa bimucronataFedegoso Senna macrantheraTamanqueira Aegiphylla sellowianaMonjoleiro Acacia polyphyllaPalmeira-indaiá Attalea humilisUnha-de-vaca Bauhinia forficataOrelha-de-negro Enterolobium contortisiliquumPau-de-tucano Vochysia bifalcataPaineiraChorisia speciosaPindaíba Xylopia <strong>br</strong>asiliensisPindaíba-vermelha Xylopia sericeaQuaresmeira Tibouchina granulosaSibipiruna Caesalpinia peltophoroidesCapixingui Croton floribundusTanheiro Alchornea triplinerviaTarumã Cytharexylum mirianthumVassourão Vernonia polyanthesFonte: Lorenzi (1992); Carvalho (1994), e SMAC (sd).88


3.3.5.3 Plantas Indicadores de Qualidade AmbientalPode-se citar como espécies indicadoras de áreas desmatadas mais recente o capim-colonião(Panicum maximum), e de áreas degradadas com solos esgotados o capim-gordura (Melinisminutiflora), o sapê (Imperata <strong>br</strong>asiliensis), o barba-de-bode (Aristida paelens) e a samambaia-decampo(Pteridium aquilinum var. arachnoideum).A embaúba (Cecropia sp.) é uma boa indicadora de matas em estágio de sucessão, por serfacilmente reconhecida no campo.3.3.5.4 Eventos Responsáveis pela Redução da Cobertura Vegetal ou Retardo daSucessãoOs principais eventos responsáveis pela redução da cobertura vegetal ou retardo na sucessãosão os seguintes:♦ HabitaçãoA utilização das encostas como alternativa de moradia de baixo custo para a população carente,causou danos significativos a sua cobertura florestal, não apenas pela área que ocupa, comotambém pelos seus efeitos <strong>so<strong>br</strong>e</strong> as matas remanescentes, como queimadas, depredações eextrações de madeira e lenha. O avanço dos condomínios, loteamentos e residências nabaixada vem comprometendo também séria e irreparavelmente a qualidade ambiental onde seinserem, promovendo aterros nas lagoas e desmatando restingas e manguezais.♦ Pedreiras e sai<strong>br</strong>eirasA exploração mineral nas encostas, representada pelas pedreiras de <strong>br</strong>ita, granito ornamental esai<strong>br</strong>eiras, causam diversos efeitos, a saber:− o desmatamento das áreas a serem exploradas;− a construção de vias de acesso às jazidas em locais de forte declividade, desprovidos depavimentação e drenagem, desprezando a estabilidade dos taludes e a hidrografia;− a alteração da estabilidade das encostas, através de escavações e explosões sem crité<strong>rio</strong>s;− a descaracterização ambiental e paisagistica da área explorada, sem poste<strong>rio</strong>r recomposição.♦ BananaisA expansão dos bananais é uma das atividades responsáveis pelo desmatamento. A retirada damata é lenta, difícil de ser detectada. Primeiro é feito o raleamento e, em seguida, processa-se ocorte ou a queima gradativa das árvores. Em geral os bananais iniciam-se nos grotões maisúmidos das serras. Os grande bananais situam-se nas vertentes do maciço da Pedra Branca.89


♦ Criação de animais domésticos em encostas íngremes e topos de morrosOs animais criados nestes locais, que não são permitidos por lei, matam por pisoteio ouconsomem as plântulas, impedindo a regeneração da mata. Além disso, provocam condiçõespropícias para a erosão de vertentes.♦ Esgotamento dos solosO esgotamento dos solos retarda ou impede o processo de sucessão devido a poucadisponibilidade de nutrientes.♦ QueimadasAs queimadas promovem desmatamentos e impedem a sucessão pois eliminam as plântulas.Serviços de reflorestamento que duram 3 anos podem ser totalmente perdidos em apenas um diadevido a incêndios. Os prejuízos causados alcançam no mínimo R$ 7.000,00 por hectare, que é asoma investida pela Prefeitura do Rio de Janeiro em seus projetos de reflorestamento.As queimadas são causadas pelos seguintes agentes.(a) BalõesComuns no meio do ano, entre maio e setem<strong>br</strong>o, devido as festas juninas, a queda de balõescom mechas e lanternas acesas são as principais causas de incêndios florestais. O fogo podeatingir áreas revestidas por capim colonião, alastrando-se por <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a mata, ou iniciar no inte<strong>rio</strong>rda mesma, dependendo do local onde houve a queda do balão. Um dos incêndios mais gravesocorreu em 1980 no alto da Pedra da Gávea, onde o fogo destruiu grande parte da mata de suavertente oriental, sem que fosse possível nem mesmo aos bombeiros combatê-lo. O quadroabaixo ilustra o problema.Quadro 3.15 – Incêndios provocados por balões noEstado do Rio de JaneiroANO NÚMERO DEINCÊNDIOSÁREA QUEIMADA(ha)1993 2.757 1.7501994 2.415 1.5601995 2.567 1.4661996 2.450 1.4801997 3.822 1.7201998 932120(até 15 de maio)Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Corpo de BombeirosMilitar do Estado do Rio de Janeiro, 1998.(b) Agricultores e Criadores de AnimaisAteiam fogo para desmatar ou promover a renovação do pasto90


(c) Fogo imotivado, por razões “estéticas” ou para limpeza de terrenoNos meses de menor precipitação, a partir de a<strong>br</strong>il, moradores em diversos bairros ateiam fogosem qualquer motivo ou por razões “estéticas”, como por exemplo para baixar o capim-coloniãoem terrenos baldios. É comum ainda o uso do fogo para limpeza de terrenos. O fogo se alastra eelimina capoeiras e matas remanescentes, podendo em certos casos destruir trabalhos dereflorestamento.(d) Queima de LixoA queima de lixo em terrenos baldios faz com que o fogo alastre-se pelo capinzal e penetre emmatas adjacentes(e) Velas acesas colocadas em oferendas religiosasTambém uma frequente causa de incêndios.♦ Colonização de ervas invasorasAlgumas ervas invasoras como o capim-colonião, impedem que a sucessão ocorra, pelo fatos dastouceiras serem adensadas, formando um manto praticamente inpenetrável à germinação ecrescimento de espécies pioneiras. Os campos de ervas invasoras representam riscos deincêndio, <strong>so<strong>br</strong>e</strong>tudo onde há capim-colonião, pois ressecam anualmente.♦ Escassa valorização das florestasAs florestas não são valorizadas socialmente na bacia. Apenas uma minoria da população temconsciência de sua importância♦ Fiscalização florestal precáriaA falta de equipamentos, recursos e pessoal torna a fiscalização florestal precária, incentivando aprática de delitos, embora seja impossível que ela se faça um dia de forma onipresente.♦ Linhas de transmissãoProvocam desmatamentos lineares, fragmentando matas e capoeiras. Os serviços demanutenção da faixa de servidão impedem que a mata se restabeleça por baixo da linha.♦ Retirada de plantas ornamentaisA preferência deste tipo de extrativismo se dá em plantas epífitas, herbáceas do chão da mata erupículas (habitam as escarpas rochosas). As mais retiradas são as helicônias, orquideas,araceas e <strong>br</strong>omélias. Os samambaiaçus são retirados para feitura de xaxins.As orquídeas Laelía lobata e Cattleya guttata, já estão praticamente extintas, devido à suaexploração intensa por coletores e vendedores. Espécies raras, como a das microorquideastambém estão desaparecendo rapidamente das trilhas.As plantas extraídas são comercializadas na rua por ambulantes ou, é provável, até em casasespecializadas. É uma atividade ilegal que ocorre com frequência nas matas remanescentes,91


sendo retiradas principalmente plantas das famílias Araceae, Begoniaceae, Btromeliaceae,Cactaceae, Gesneriaceae, Maranthaceae e Orchidaceae.Embora não configure um desmatamento propriamente dito, pois a retirada é seletiva, a perdadessas plantas acaba por afetar a mata. Coim<strong>br</strong>a Filho (1984) cita que as epífitas são de grandesignificado biológico na Mata Atlântica, constituindo comunidades de suma importância para afauna. O epifitismo é uma das características da Mata Atlântica. Este fato, por si, indica queimportantes papéis nos mecanismos ecológicos de interrelação devem ser desempenhados porestas plantas. É possível, por exemplo, que agentes polinizadores de árvores dependam dasepífitas durante uma fase de seu ciclo biológico.♦ Profusão de espécies exóticas arbóreasNa bacia há uma profusão de espécies arbóreas exóticas como amendoeiras (Terminaliacattapa), casuarinas (Casuarina equisitifiolia) e leucenas (Leucaena leucocephala), queapresentam grande resistência e adaptação às condições ambientais locais, grande capacidadede dispersão e som<strong>br</strong>eamento, além de crescimento acelerado. O plantio destes vegetais nabeira das lagoas vem eliminando os mangues por som<strong>br</strong>eamento. Além disso, há um colonizaçãoexpontânea em unidades de conservação.Outra espécie arbórea invasora de destaque na bacia é o sabiá (Mimosa caesalpinifolia), naturaldesde o Maranhão até a Bahia. É uma árvore pequena, alcançando até 7-8 metros, decrescimento rápido e com lenho duro, pesado e compacto. Encontra-se em profusão na bacia, emparticular na beira de estradas asfaltadas e de terra e campos abandonados. É heliófila e re<strong>br</strong>otaquando cortada. As maiores quantidades ocorrem na parte oeste da bacia, sendo facilmentedistinguíveis pela floração <strong>br</strong>anca.♦ Espaços territorais protegidos não implantadosA não implantação de unidades de conservação, como é o caso do Parque Estadual da PedraBranca, impede que elas desempenhem a missão para o qual foram criadas, de preservar abiodiversidade da bacia e incrementar o turismo. Como a população não vê os benefícios, há umdescrédito neste tipo de empreendimento público de grande alcance social.3.3.5.5 Aparato Fiscalizador EstatalA fiscalização florestal na área da bacia de Jacarepaguá é realizada pelo IEF, IBAMA e Batalhão<strong>Floresta</strong>l, sendo que nenhum deles possui unidades sediadas na bacia. A Prefeitura do Rio deJaneiro conta com efetivos da Guarda Municipal que realizam o serviço de fiscalização ambientalem seu territó<strong>rio</strong>.3.3.5.6 Entidades de Manejo da Flora NativaA principal entidade que vem implementando o manejo da flora nativa na bacia é a Secretaria deMeio Ambiente – SMAC, que conta com experiência, tecnologia e centros de produção de mudas.Através da Coordenadoria de Recuperação Ambiental, a SMAC executa o reflorestamento deáreas degradadas em morros desde 1987, no âmbito do Projeto Mutirão Reflorestamento.O serviço é feito em comunidades carentes ameaçadas com riscos de deslizamentos erolamentos de pedras, sendo identificadas, demarcadas e recuperadas as microbacias92


hidrográficas suscetíveis de sofrerem erosão ou em franco processo de degradação. A mão-deo<strong>br</strong>autilizada é a dos próp<strong>rio</strong>s moradores. A metodologia do trabalho foi apresentada no relató<strong>rio</strong>“Descrição do Empreendimento”, parte integrante deste estudo de impacto ambiental.Ao final do ano de 1997, a SMAC já havia reflorestado uma área de 630 hectares, totalizandocerca de 1.220 mil mudas, atendendo 57 comunidades com população estimada de 140.000pessoas. Na bacia, estão em curso ou já foram concluídos os reflorestamentos relacionados noquadro a seguir.Quadro 3.16 – Reflorestamentos concluídos e em execução na bacia de JacarepaguáCOMUNIDADEDATADEINÍCIOLOCALIZAÇÃOÁREATOTAL DEPLANTIO(HA)TOTAL DEMUDASPREVISTAS OUPLANTADASCONCLUSÃOPREVISTASão José Operá<strong>rio</strong> – Jacarepaguá fev/87 Maciço da Pedra 11,7 15.000 ConcluídoBrancaRio Pequenoout/92 Maciço da Pedra 4,0 8.000 ConcluídoBrancaMorro do Focinho do Cavalo – 1991 Maciço da Tijuca 8,0 13.500 ConcluídoItanhangáMorro Nossa Senhora da Pena 1989 Morro Isolado 2,0 5.000 ConcluídoBarra de Guaratiba jun/95 Barra de Guaratiba 35,5 100.625 Jul 98Fonte: SMAC – Projeto Mutirão Reflorestamento – 1998.Entre 1987 a 1996, registrou-se em todo o município uma média anual de 52,2 ha reflorestados.O custo médio do hectare reflorestado é de R$ 7.000,00 considerando-se a relação 1/3, isto é, 1ano de plantio e 3 anos de manutenção. Neste custo, incluem-se também algumas o<strong>br</strong>as,serviços e atividades abaixo comentadas:− Recuperação de Estradas – Algumas áreas permitem o acesso através de estradas que, namaioria dos casos, necessitam de melhorias para serem utilizadas pelos caminhões para otransporte de mudas e adubo. Consiste basicamente na regularização e compactação dasestradas.− Desmonte Manual de Blocos Rochosos – É frequente a ocorrência de pequenos blocos emsituação instável, sendo recomendável o seu desmonte. As pedras de mão resultantes destaoperações podem ser utilizadas na construção de pequenos muros de contenção e canais dedrenagem, em alvenaria de pedra.− Construção de Valetas de Drenagem com Revestimento Vegetal – São utilizadas para aproteção de taludes instáveis e para desvio das águas que ocasionam o descalçamento deblocos rochosos.− Instalação de Sistema de Drenagem Superficial – Empregado em locais onde é necessáriaa eliminação do escoamento superficial, impedindo o movimento de grande massa de água<strong>so<strong>br</strong>e</strong> o solo. Este sistema é integrado por calhas de concreto, interligadas por caixas coletorasàs canaletas de alvenaria de pedra em degraus posicionadas no sentido de maior declive.93


− Construção de Muretas de Contenção em Gabiões – São utilizadas em áreas onde énecessária a construção de terraços em nível e a contenção de taludes instáveis.− Confinamento de Caprinos – A ser implantado em áreas onde a presença dos animais,criados extensivamente pelos moradores, inviabiliza o reflorestamento. Existe um projeto-pilotoem andamento no Morro da Formiga, localizado no Maciço da Tijuca.As o<strong>br</strong>as e atividades complementares são realizadas por empreiteiras especializadas, comexceção do confinamento de caprinos e as valetas de drenagem, feitos com mão-de-o<strong>br</strong>a local.A Fundação Parques e Jardins – FPJ, também vinculada a SMAC é a única no Estado que possuitecnologia de revegetação empregando plantas de restinga, serviço que executa no âmbito doProjeto Flora Litoral, que conta com o horto Carlos Toledo Rizzini, no Bosque da Barra. O viveirotem capacidade para produzir 25.000 mudas/ano. No campo da contenção física de encostas, abacia conta com a experiência comprovada da GEORIO.Cumpre assinalar que no século XIX, o maciço da Tijuca foi palco de uma iniciativa pioneira demanejo da flora da América Latina, pois a necessidade de se assegurar a manutenção do sistemade abastecimento d’água fez com que a atenção do Governo, à época, se voltasse para as áreasmontanhosas.Destas, a mais importante – por sua proximidade com a área urbana – era a do Maciço da Tijuca,cuja exuberante vegetação original encontrava-se muito danificada pelo plantio do café e pelaexploração do carvão e da lenha. A devastação da mata resultara em menor capacidade deretenção de água nas nascentes, e a solução encontrada e urgentemente executada foi oreflorestamento. O texto abaixo foi elaborado essencialmente com base em Scheiner (1976),complementada por A<strong>br</strong>eu (1992) e IBAMA (1991).As desapropriações de áreas em torno das nascentes, já propostas desde 1818, tornaram-seefetivas a partir de 1844, posto que a seca do ano inte<strong>rio</strong>r foi catastrófica. Neste ano, o Ministrodo Impé<strong>rio</strong>, Almeida Torres, ao ver a cidade assolada pela seca, solicitou medidas urgentes deconservação e restauração de matas nas bacias dos <strong>rio</strong>s Ca<strong>rio</strong>ca e Maracanã. Foi criada umacomissão que, dentre outros aspectos, recomendou a “conservação das matas, tanto dasPaineiras com da Tijuca, em toda a extensão das cabeceiras, e vertentes do <strong>rio</strong> Maracanã”. Asrecomendações da comissão criada em 1843 foram implementadas no ano seguinte.Em relató<strong>rio</strong> de andamento das atividades, era anunciado que “mandou abastecer com novasplantações as matas existentes, que estão desfalcadas, e ampliá-las com outras artificiais,alternando nestas as árvores de pronto crescimento e de pouca duração, com as de grandeduração e crescimento tardio, a fim de que, quando perecerem as primeiras, achem-se assegundas em estado de suprir a sua falta”. A iniciativa revela uma surpreendente aplicação deconhecimento de sucessão vegetal ao reflorestamento, indicando claramente a alternância de usode espécies pioneiras e secundárias.Alguns trabalhos foram realizados entre 1845 a 1848 quando o mesmo Ministro, em relató<strong>rio</strong>,declarou Ter aumentado o volume das águas da Ca<strong>rio</strong>ca em 744 barris – 15.840 litros emconsequência de ... “três anos de práticas florestais junto às nascentes”.De 1850 a 1858 vá<strong>rio</strong>s atos do Governo Imperial referiram-se à desapropriação e guarda dosterrenos de nascentes, principalmente na serra da Tijuca. Em 1856 passaram efetivamente àsmãos do Governo sítios e casas pertencentes a várias famílias. Mas como ainda restassemalguns terrenos em mãos de particulares, a 27 de setem<strong>br</strong>o de 1860 aprovou-se uma lei onde semandava ... “desapropriar as nascentes de água que forem necessárias para o abastecimento da94


cidade do Rio de Janeiro e assim se fez, conforme consta de dois documentos encontrados nosarquivos do Parque, ordenando a desapropriação de terreno pertencente a José Maciel, na Tijuca. “necessá<strong>rio</strong> para a conservação das águas do <strong>rio</strong> São João” (Dec. 3.762, de 06 de julho de1866) e mandando desapropriar o sítio Taquara que foi declarado de utilidade pública (Decreto3.910 de 17 de julho de 1867).Com a criação, em 22 de julho de 1860, de uma Secretaria de Estado dos Negócios daAgricultura, Comércio e O<strong>br</strong>as Públicas, a questão de replantio e proteção das matas junto àsnascentes ganhou especial atenção. Em 1861, a Decisão 577 da nova Secretaria baixou as“Instruções Provisórias para o Plantio e Conservação das <strong>Floresta</strong>s da Tijuca e Paineiras”, dandocunho oficial ao termo “floresta” para designar as áreas citadas. Estava neste ato criada aprimeira unidade de conservação do Brasil.Estas “Instruções” determinavam também que se plantasse “arvoredos do País”, pelo sistema demudas, em linha reta, começando de ambas as margens das nascentes. A distância entre asmudas fixadas foi de cerca de 2,5 metros. Em cada floresta, o serviço teria a supervisão de umAdministrador e seria executado por um feitor e vá<strong>rio</strong>s serventes, que teriam também comoencargo conservar e guardar os caminhos que atravessavam as ditas áreas. Cada administradordeveria enviar ao Governo relató<strong>rio</strong>s mensais das tarefas realizadas.Em Portaria de 18 de dezem<strong>br</strong>o do mesmo ano foi escolhido e nomeado para a tarefa derecuperação da cobertura vegetal na Tijuca o major Manuel Gomes Archer que, instalando-secom seis escravos no sítio do Midosi, iniciou, a 4 de janeiro do ano seguinte, um árduo trabalhode reflorestamento que durou 13 anos.As primeiras mudas foram trazidas das Paineiras, o que prova que deveria realmente haver naárea um remanescente de floresta. O próp<strong>rio</strong> major trouxe de sua propriedade (fazendaIndependência, em Guaratiba) e das matas que lhe eram vizinhas inúmeras sementes e mudas.Enfrentando dificuldades de verba e de pessoal, Archer comandou durante os anos de suaadministração o plantio de mais de 60.000 árvores de várias espécies, numa área de cerca de1.600 ha. O plantio foi feito sem obedecer a grupamentos definido, e embora de modo geralfossem seguidas as regras constantes das Instruções, dezenas de espécies exóticas e umgrande número de espécies nativas estranhas as florestas da Tijuca foram introduzidas na área.Este fato ocorreu desde os primeiros tempos da administração de Archer e intensificou-se com aintrodução de sementes de Eucaliptus spp., Pandanus spp. E outras, nascidas no JardimBotânico do Rio de Janeiro e doadas à <strong>Floresta</strong>. Restaurou-se assim a flora na bacia do <strong>rio</strong>Cachoeira. A área recuperada passou para a administração da Repartição de Águas comoreserva florestal, sendo em 1874 – por ato de D. Pedro II – entregue aos cuidados do Barãod’Escragnolle.Este, completando o trabalho iniciado por Archer, transformou o local em um passeio público,contando para tanto com a colaboração do paisagista Glaziou, além de promover o plantio de30.000 árvores até o final de suas administração. Foram abertas picadas na mata, sendo a áreaembelezada com pontes, mirantes e lagos. Ao final da administração de Escragnolle (1887), a<strong>Floresta</strong> da Tijuca contava com cerca de 90.000 árvores plantadas e em crescimento e havia setransformado em um dos mais agradáveis recantos da cidade.O administrador designado para as Paineiras foi Tomás Nogueira da Gama, também nomeado a18 de dezem<strong>br</strong>o de 1861. Não há contudo documentos atestando o trabalho que teriadesempenhado, nem a área exata onde teria sido feito o reflorestamento.95


Como resultado destas práticas cresceu na bacia do Cachoeira uma vegetação variada e bela,com as características de floresta secundária. As bacias dos <strong>rio</strong>s Ca<strong>rio</strong>ca e Trapicheirosencontram-se também recobertas por mata secundária, embora não seja possível afirmar em queextensão foram reflorestadas. Quanto ao restante da área do Parque, não há informaçõessuficientes para reconstituir as etapas do crescimento da floresta, mas supõe-se Ter ocorrido umprocesso natural de regeneração da mata, em áreas antes usadas para extração e plantio decafé, associado ao replantio de mudas em locais esparsos (principalmente em torno dasnascentes). O resultado é a mescla de espécies reflorestadas com a capoeira crescidaespontaneamente. Apenas nos grotões e nos vales mais inacessíveis é que a mata evoluiu comelementos que se supõe sejam pertencentes à vegetação primitiva.A transição do Impé<strong>rio</strong> para a República em 1889 e o conseqüente impacto trazido à vida políticado País desviaram a atenção do Governo do problema de preservação florestal. Ficou assim aárea da <strong>Floresta</strong> da Tijuca praticamente sem cuidado por um período de quase cinqüenta anos,sendo poucas as referências <strong>so<strong>br</strong>e</strong> a mesma durante esta época”.Dada a importância histórica deste manejo da flora, apresenta-se abaixo a íntegra do texto dodecreto que ordenou o reflorestamento e c<strong>rio</strong>u a primeira unidade de conservação do Brasil.DECRETO 577, NA SUA INTEGRIDADE E ESTYLOAGRICULTURA, COMMERCIO E OBRAS PÚBLICASPortaria de 11 de Dezem<strong>br</strong>o de 1861Dá instrucções provisorias para o plantio e conservação das florestas da Tijuca e Paineiras.Sua Magestade o Imperador ha por bem approvar as seguintes Instrucções provisorias para oplantio e conservação das florestas da Tijuca e das Paineiras.Art. 1° Nos terrenos nacionaes sitos no Tijuca e Paineiras estabelecer-se-ha uma plantaçãoregular de arvoredo do paiz.Art. 2° Esta plantação se fará especialmente nos claros das florestas existentes nos ditos lugarespelo systema de mudas, devendo-se estabelecer, nos pontos que forem para isso escolhidos,sementeiras ou viveiros de novas plantas.Art. 3° A plantação se fará em linhas rectas parallelas entre si, sendo as de uma direcçãoperpendiculares ás das outras. O trabalho começará das margens das nascentes para um e outrolado, com a distância de 25 palmos entre umas e outras arvores.Art. 4° As mudas que se empregarem não terão menos de três annos, nem mais de 15 de idade,e poderão ser colligidas nos matos das Paineiras, devendo a plantação Ter lugar na estaçãopropria.Art.5° Para dirigir este serviço haverá um Administrador no floresta da Tijuca e outro na dasPaineiras, com o vencimento mensal de 90$000.Art. 6° Além destes empregados haverá um feitor em cada floresta, encarregado especialmenteda plantação e escolha dos mudas, com o vencimento diá<strong>rio</strong> de 2$000, e tantos serventesquantos forem julgados necessa<strong>rio</strong>s, conforme o desenvolvimento do serviço com o vencimentotambem dia<strong>rio</strong> de 1$500.96


Art. 7° O Inspector Geral das O<strong>br</strong>as Publicas poderá empregar neste serviço, como serventes,alguns dos escravos do nação que se achão à sua disposição, com a gratificação de 100 réisdia<strong>rio</strong>s, além do sustento e roupa.Art. 8° Aos Administradores, feitores e serventes das florestas, incumbe impedir a damnificaçãodas arvores, devendo prender e remetter à autoridade policial mais vizinha para ser processada apessoa que for encontrada em flagrante delicto.Art.9° Empregarão todo o zelo na conservação das estradas que atravessão ou atravessarem asflorestas; não admittindo dentro das ultimas indivíduo algum que não esteja competentementeautorísado com a necessária portaria de licença, quer seja ou não para caçar e inspeccionandoasde modo que não sirvão de asylo a mal feitores.Art. 10. Os Administradores serão de nomeação do Ministro e Secreta<strong>rio</strong> de Estado dos Negóciosda Agricultura, Commércio e O<strong>br</strong>as Publicas; os outros empregados serão nomeados peloInspector Geral das O<strong>br</strong>as Publicas do município da Côrte, e por elle despedidos conforme asexigências do serviço.Art. 11. Os Administradores receberão os seus vencimentos à vista de um attestado do InspectorGeral, os outros empregados por via de uma feria quinzenal, organizada e assignada pelorespectivo Administrador, no qual porá o Engenheiro do districto a nota de – confere – e ru<strong>br</strong>icará.Esta feria, depois de ru<strong>br</strong>icada pelo Inspector Geral, na fôrma actualmente em pratica, seráremettida ao Thesouro para se proceder ao pagamento.Art. 12. Nos dias 1 e 16 de cada mez os Administradores entregarão ao Engenheiro do Districto oponto geral do quinzena o qual depois de o ru<strong>br</strong>icar remette-lo-ha à Repartição Geral das O<strong>br</strong>asPublicas, para à vista delle se proceder à conferencia da feria.Art. 13. Quando houver necessidade de qualquer material, os Administradores farão um pedidona forma do estylo actualmente em pratica.Art.14. Os guardas das matas coutadas e encanamentos coadjuvarão os Administradores emtudo que fôr relativo ao serviço das florestas e em harmonia com as suas respectivas o<strong>br</strong>igações,prestando-se ás suas requisições sempre que as necessidades do mesmo serviço exigirem.Art. 15. Os Administradores e mais empregados serão o<strong>br</strong>igados a residir nos lugares que lhesforem designados para o trabalho ordina<strong>rio</strong> de todos os dias, podendo ser transferidostemporariamente de um ponto para outro sempre que fôr isso necessa<strong>rio</strong>.Art. 16. He expressamente prohibido o córte de madeiras de qualquer qualidade, ficando por issoresponsaveis os Administradores, guardas das matas e mais empregados.Art.17. No principio de cada mez até o dia 8 fará o Administrador o relató<strong>rio</strong> do estado do serviçomencionando o numero de arvores plantadas, sua qualidade e idade provavel, e o numero de<strong>br</strong>aços empregados, informando <strong>so<strong>br</strong>e</strong> o estado da floresta, e se as novas plantações prosperão,e descrevendo qualquer outro serviço que se houver feito durante o mez. Este relato<strong>rio</strong> seráenviado ao Engenheiro do districto, que o remeterá à Inspecção Geral das O<strong>br</strong>as Publicas, depoisde fazer <strong>so<strong>br</strong>e</strong> elle as considerações que julgar convenientes.Art.18. O Inspector Geral das O<strong>br</strong>as Publicas e os Engenheiros dos districtos quecomprehenderem as florestas das Paineiras e Tijuca, inspeccionarão os trabalhos das mesmas, edarão mensalmente conta do que nellas observarem.97


Palácio do Rio de Janeiro em 1 1 de Dezem<strong>br</strong>o de 1861.Manuel Felizardo de Souza e MelloMinistro da Agricultura do Impé<strong>rio</strong>3.4 FAUNA SILVESTREOriginalmente, na bacia de Jacarepaguá podiam ser reconhecidos 6 grandes macrohabitats(Figura 3.31): a restinga, o mangue, o apicum, a mata paludosa, a mata de planície, a mata deencosta baixa e a mata de encosta alta (mapa de cobertura vegetal e isso do solo, em anexo).As transformações sofridas da bacia no decorrer de mais de 4 séculos, processo abordado noitem ante<strong>rio</strong>r, reduziu significativamente o contingente populacional da fauna silvestre, além deacarretar uma perda parcial da diversidade biológica. O grupo faunístico mais afetado foi o dasespécies om<strong>br</strong>ófilas de baixa altitude, por não possuírem capacidade de adaptação a outrasfisionomias vegetacionais.A fauna encontra-se intimamente relacionada aos tipos de habitat presentes em uma determinadaregião. Em áreas bem estudadas, é possível determinar-se as espécies da fauna de provávelocorrência através da análise dos habitats (tipo de vegetação, condicionantes físicos - clima,topografia, altitude, corpos de água, etc), conjugada com inspeções de campo e sistematizaçãode dados secundá<strong>rio</strong>s.O Rio de Janeiro tem sido alvo de estudos da fauna desde o Brasil colônia, sendo que a grandemaioria dos trabalhos enfocou os verte<strong>br</strong>ados.Por este motivo, este diagnóstico p<strong>rio</strong>rizou o grupo de animais silvestres verte<strong>br</strong>ados.Inicialmente, foi elaborada uma listagem básica compilando-se a literatura, que resultou em 53espécies de anfíbios, 32 de répteis, 490 de aves e 107 de mamíferos (Sick,1985; Pacheco,1988;Maciel,1984; Araujo,1984; Lutz, 1952; Iplan,1993). A lista foi confrontada com dados obtidos nasinspeções de campo de campo e com a análise do mapa de cobertura vegetal e uso da terra(SMAC, 1997), chegando-se a uma relação final de 51 anfíbios, 24 répteis, 384 aves e 91mamíferos efetiva ou potencialmente presentes na bacia (Quadro II.4 do Anexo II).As espécies que compõe a lista, apresentadas no Quadro II.4 do Anexo II, foram classificadasutilizando-se os seguintes parâmetros:− EEF - ESPÉCIE EXCLUSIVAMENTE FLORESTAL (Habitat preferencial)− EMI - ESPÉCIE MIGRATÓRIA (migrantes meridionais e setent<strong>rio</strong>nais)− ECI - ESPÉCIE CINEGÉTICA− EXE - ANIMAL DE ESTIMAÇÃO (XERIMBABO)− EXO - ESPÉCIE EXÓTICA− ERA - ESPÉCIE RARA (na bacia)− EDP - ESPÉCIE QUE DESPERTA PREOCUPAÇÃO PRESERVACIONISTA (SegundoDecreto Municipal N nº 15.793 de 04/07/97)− EEN - ESPÉCIE ENDÊMICA (da bacia)3.4.1 Habitats e Fauna Associada98


Neste ítem são abordados os habitats e a fauna silvestre associada, mencionando-se, para cadaum, as espécies destacáveis. As Figuras 3.32 e 3.33, a seguir, fornecem um perfil dos habitatsatuais e a as espécies destacáveis, respectivamente.3.4.1.1 Habitats <strong>Floresta</strong>isEstão incluidos nesta designação todos os tipos florestais como a mata de encosta alta, mata deencosta baixa, a mata paludosa e as matas secundárias. Este habitats a<strong>br</strong>igam a maiordiversidade faunística, em função de sua estratificação vertical (sinúsias). Outro fator importantepara a alta diversidade deste habitat é sua amplitude altitudinal, variando do nível do mar até1.000 metros na bacia de Jacarepaguá.Nas partes mais elevadas dos maciços estão presentes elementos da fauna montícola, como porexemplo o sapo dourado (Brachycephalum ephipiun) que, na bacia, ocorre na altitude mais baixade sua distribuição geográfica. Segundo Lutz (1952), a fauna anura da floresta de encosta altapossui menor número de espécies, tendo porem maior número de gêneros.Nos habitats florestais vivem no folhiço formas especializadas de anuros de desenvolvimentodireto (não produzem girinos), como as rãnzinhas (Eleutherodactylus sp) e o sapo dourado, alémdo predador sapo-intanha (Proceratophrys boiei), e répteis como a coral-verdadeira (Micrurusdecoratus) e o lagarto (Mabuya agilis). Perambulam pelo chão da mata os caititu (Tayassutajacu), o veado (Mazama sp) e a paca (Agouti paca), esta responsável pela dispersão da árvoreandá-assu (Joanesia princeps) no Camorim (Ribeiro, 1985). Diversas aves terrícolas forrageiamtambém neste ambiente atrás de insetos e frutos caidos como o uru (Odonthophorus capueira),Sabiá-coleira (Turdus albicollis), a tovaca (Chamaeza campanisona) e o Tovacuçu (Gralariavaria).Na segunda sinúsia composta por elementos herbáceos e sub-arbustivos, predominam as avesque caçam a pouca altura, como o vira-folhas (Sclerurus scansor), o chupa-dente (Conopophagalineata) e de <strong>br</strong>enhas ou macegas, como Drymophila e Myrmotherula.A terceira sinúsia é formada pelo ápice dos arbustos (Melastomataceas, Mirtaceas e Rubiaceasem geral) e troncos das árvores do dossel florestal. Os troncos desprovidos de galhos sãodominados por escansores de sub-bosque como o caxinguelê (Sciurus aestuans), o pica-pau(Piculus flavigula) e os arapaçus (Sittasomus griseicapillus e Dendrocolaptes platyrostris). Agrande produtividade de frutos na copa dos arbustos favorece frugívoros oportunistas como assairas (Tangara seledon) tiês (Tachyphonus cristatus e Tachyphonus coronatus) e sanhaços(Thraupis sayaca, Thraupis ornatus, Thraupis cyanoptera).Também os roedores Rhipidomys mastacalys e Coendou sp alimentam-se neste estrato, além domacaco prego (Cebus apella), que retira folhas em busca de insetos. A presença de luz fazcrescer nesta sinúsia uma grande quantidade de epífitas, onde vive o sapo-marsupial(Flectonotus similis).99


Figura 3.31 - Habitats originais


Figura 3.32- Habitats atuais


Figura 3.33 - Espécies Destacáveis


Na quarta sinúsia estão as copas das árvores do dossel. Neste local o domínio das aves éabsoluto e estão bem representados os frugívoros especialistas e pequenos rapinantes, àexceção de alguns mamíferos como o morcego-das-frutas (Artibeus obscuros). A quinta e últimasinúsia é representada pelas árvores emergentes do dossel. Em geral, elas são utilizadas comoponto de observação de grandes rapinantes como o gavião de cabeça cinza (Leptodoncayanensis) e cathartídeos em geral. Tambem utilizam este espaço grandes frugívoros como aaraponga (Procnias nudicollis), os tucanos (Ramphastos vitellinus) e o papagaio-chauá (Amazonarodochorytha)Muito comum nas matas, nas restingas arbóreas e é mico-de-tufo-<strong>br</strong>anco (Callithrix jacchus),espécie exótica proveniente do nordeste3.4.1.2 Habitats de RestingaApesar de intensamente estudada, a restinga carece de informações em relação a suacomposição primitiva, pois os coletores do século passado não a diferenciavam como tipovegetacional. Ainda assim, dados de localidade presentes nas etiquetas permitem inferirinúmeras espécies na restinga (Maciel, 1984). Grande parte do material colecionado pornaturalistas viajantes no Rio de Janeiro foi obtido em áreas de restinga (Sick e Pabst 1968).Correia (1936) em seu livro “Sertões Ca<strong>rio</strong>cas” relata que observou um total de 8 répteis, 64 avese 23 mamíferos na restinga da baixada de Jacarepaguá.Para alguns autores (Luna, 1992) a restinga faz parte do bioma da Mata Atlântica, devido assemelhanças florísticas. Vista como um mosaico de habitats, a restinga ocorre em variações quevão apenas estrato herbáceo aberto a fisionomias de florestas abertas. Do ponto de vistafaunístico é impossivel se dissociar a restinga da Mata Atlântica, uma vez que, salvo os escassosendemismos, as espécies são majoritariamente similares.Em estudo comparativo entre a restingas do sudeste do Brasil, Silva Porto e Teixeira (1984)relatam que: “.. a avifauna de restinga parece ser fruto do mosaico de ambientes que a compõe.”Citam ainda que há uma falta de endemismos de habitat entre as espécies de aves de restinga, àexceção do sabiá-da-praia (Mimus gilvus). Esta ave, que ocorria a alguns anos na Barra daTijuca, agora só pode ser encontrada em áreas menos ocupadas como a restinga da Marambaia.No caso específico da restinga da bacia de Jacarepaguá, no que concerne a avifauna, suacomposição assemelha-se a de uma área de floresta atlântica degradada, onde abundamespécies heliófilas. Ainda assim, a diversidade de aves na restinga é elevada, chegando a quaseuma centena de espécies. Nas áreas de restinga arbórea/arbustiva, como por exemplo o Bosqueda Barra, podem ser observados espécies notáveis, típicas destes habitats, como o tiê-sangue(Ramphocellus <strong>br</strong>esilius) e as sairas (Tangara peruviana e Tangara cayana).A restinga possui sua maior concentração de endemismos de habitat nos anfíbios. A grandequantidade de <strong>br</strong>omélias, tanto epífitas quanto as que de desenvolvem no solo, propiciou a ofertade um recurso localmente escasso (no caso a água doce), o que permitiu o desenvolvimento deespécies de anuros adaptadas a vida nestes vegetais.Estas espécies, além de utilizaram a água acumulada e a umidade presente entre as folhas das<strong>br</strong>omélias para evitar a dessecação, nela caçam odonatas, mosquitos e outras presas. Anurostípicos destes biótopos são Aparasphenodon <strong>br</strong>unoi e Trachycephalus nigromaculatus. Possemossificação dérmica completa do crânio, o que as permite fechar o completamente o tubo dosgravatás onde vivem, protegendo-as de predadores.103


A perereca Hyla truncata que vive dentro dos gravatás Neoregelia cruenta é outro anfíbioendêmico das restingas de Itaguaí a Maricá (incluindo o Rio de Janeiro). Este animal é a únicaespécie de anfíbio conhecida até o momento que é frugívora e dispersa sementes (Silva et alii,1989).Entre os répteis são frequentes nas áreas mais fechadas os grandes lagartos teiú (Tupinambisteguixin) e nas bordas junto a rochas e troncos o taraguira (Tropidurus torquatus). O lagartinhoda areia (Liolaemus lutzae), tambem endêmico das restingas do Estado do Rio de Janeiro, ocorreem Grumari.3.4.1.3 Habitats de Campos e PastagemOs campos de ervas invasoras, são formados basicamente por gramíneas e plantas sub-lenhosaspioneiras, apresentando por isto uma estratificação quase nula, uma vez que a vegetação sóatinge o nível sub-arbustivo.Incluem comunidades animais pouco exigentes em termos de habitas, invasores de outros tiposvegetacionais e espécies outrora especialistas em bordas e clareiras de mata. Entre os anfíbiosfiguram espécies insetívoras noturnas adaptadas a falta de água periódica, como o sapo-cururu(Bufo ictericus) e a rã (Leptodactyllus fuscus), a<strong>br</strong>igando-se em tocas e cavidades junto as moitasde capim. Desovam tanto em poças periódicas quanto em coleções de água mais profundas.São comuns os pequenos mamíferos que forrageiam no solo, ingerindo sementes ou caules efolhas de gramíneas, como os ratos (Akodon cursor e Oryzomys eliurus) e a preá ( Cavia aperea).Estes são predados por pequenos carnívoros noturnos como o furão (Gallictis vittata) e a corujade-orelha(Rhinoptynx clamator).Quanto a avifauna, as áreas mais abertas com solo exposto e pequenas moitas de gramíneassão ocupadas pelo caminheiro-zumbidor (Anthus lutescens), a coruja-buraqueira (Speotytocunicularia) e o quero-quero (Vanellus chilensis). Nas moitas de capim colonião podem serobservados granívoros como o tiziu (Volatinia jacarina), o coleirinho (Sporophila caerulescens) e obico-de-lacre (Astrilda astrid), este último espécie introduzida no Brasil desde o pe<strong>rio</strong>do colonial.A presença de lixo em algumas áreas provem os recursos necessá<strong>rio</strong>s à <strong>so<strong>br</strong>e</strong>vivência deespécies sinantrópicas como o gambá (Didelphis marsupialis), a ratazana (Rattus novergicus) e olagarto-verde (Ameiva ameiva). A presença de roedores fornece condições ideais para a jararacacomum(Bothrops jararaca).Adaptação recente aos habitats de campos de ervas invasoras foi a do gato-do-mato (Felistigrina) que o visita regularmente em busca de presas como o bacurau (Nyctidromus albicollis), oanu-preto (Crotophaga ani) e columbídeos de pequeno e médio porte (Columbina talpacoti eLeptotila verreauxi).Os frugívoros não se encontram bem representados neste ambiente, à exceção de locais onde jácomeçam a aparecer plantas ornitocóricas pioneiras, como as embaúbas (Cecrópia sp), as quaisatraem grande número de aves (sanhaços, Thraupis sayaca e sairas, Tangara cayana e Dacniscayana ) e morcegos (Artibeus jamaicensis, Vampyrops lineatus e Carollia perspicillata)3.4.1.4 Habitats de Mangue e Apicuns104


Nas áreas de mangue, os répteis e anfíbios estão pouco representados, sendo este habitatdominado por aves e mamíferos. Grandes répteis como o jacaré-de-papo-amarelo (Caimanlatirostris), a jiboia (Boa constrictor) e o cágado (Acanthochelys radiolata), perambulam raramenteem manguezais. Quanto aos anfíbios, a água salgada e salo<strong>br</strong>a inviabiliza a <strong>so<strong>br</strong>e</strong>vivência daslarvas da maioria das espécies. A pouca diversidade de plantas dificulta a existência de animaisfrugívoros.Entre as aves, a dominância absoluta está entre os piscívoros, sendo comuns os martinspescadores(Ceryle torquata, Chloroceryle amazona e Chloroceryle americana), as grandes avespernaltas paludícolas (vadeadoras) como as garças (Casmerodius albus, Egretta thula e Egrettacaerulea). Três outras espécies adaptadas à vida no manguezal são o sovacu-de-coroa(Nycticorax violaceus), a saracura do mangue (Aramides mangle) e o gavião-do-mangue(Buteogallus aequinoctiallis).Também as aves insetívoras estão bem representadas no manguezal a exemplo dos tiranídeosde copa como o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), o suiriri (Tyrannus melancholicus) e um quaseendemismo de habitat, o sebite-do-manguezal (Conirostrun bicolor).Entre os mamíferos, a maioria é noturna, contabilizando-se os morcegos pescadores (Noctilioleporinus) e o guaxinim (Procyon cancrivorous). Gambás (Didelphis marsupialis) podem serencontrados forrageando crustáceos e peixes mortos. Outro predador de crustáceos e peixesencontrados no mangue é a lontra (Lutra longicaudis),Nos apicuns pode-se encontrar nos meses quentes diversas aves vadeadoras migratórias, comoas batuiras (Charadrius collaris e Charadrius semipalmatus), baituruçus (Pluvialis squatarola), emaçaricos (Tringa solitaria, Tringa flavipes, Calidris alba e Calidris melanotos). São em geralmigrantes do hemisfé<strong>rio</strong> norte, parando para descansar durante o deslocamento. No passado,como atestado por coletas, relatos de naturalistas viajantes e nomes de localidades, eramfrequentes os guarás (Eudocimus ruber), atualmente extintos na bacia.3.4.1.5 Habitats de Água Corrente e LagunasOs <strong>rio</strong>s do sudeste <strong>br</strong>asileiro são, em geral, excetuando-se peixes, po<strong>br</strong>es em representantes deoutros grupos de verte<strong>br</strong>ados. Mesmo os anfíbios possuem poucas espécies de desenvolvimentolarval em <strong>rio</strong>s, preferindo em sua maioria poças e outras pequenas coleções de águas maisprotegidas. Alguns anfíbios vivem nos altos cursos encachoeirados, como as pererecasCyclorhamphus fuliginosus e Hyla circundata. Neste mesmo habitat encontra-se as vezes ospredadores destes anfíbios, o cágado (Hydromedusa maximiliani) e a cuica-d’água (Chironectesminimus).Poucas aves colonizam estes ambientes, entre as quais está o capitão-da-porcaria (Lochmiasnematura), que se alimenta de insetos que captura debaixo de <strong>br</strong>iófitas <strong>so<strong>br</strong>e</strong> as pedrassubmersas.Nos baixos cursos dos <strong>rio</strong>s podem ser encontradas espécies noturnas e crípticas como acapivara (Hydrochaeris hydrochaeris), o guaxinim (Procyon cancrivorous) e o morcego-caçadorde-rãs(Trachops cihrrosus). Garças noturnas como o socó-dorminhoco (Nyctycorax nyctycorax)e o socó-boi (Tigrissoma lineatun) caçam durante a noite e se escondem de dia na vegetação dasmargens.Nas lagoas, longe das margens, são frequentes aves piscívoras e oportunistas como os biguás(Phalacrocorax olivaceus), tesourões (Fregata magnificens), gaivotas (Larus dominicanus), e105


migrantes como a águia-pescadora (Pandion haliaetus). Esta última nidifica na América do Nortee migra para o Brasil nos meses de inverno. Apenas os mais jovens, que ainda não estão emidade reprodutiva, permanecem aqui o ano inteiro Nas lagoas também costumavam ocorrergrandes concentrações de anatídeos como a marreca-toicinho (Anas bahamensis), a marrecapreta(Netta erythrophtalma) e paturis (Dendrocygna viduata) hoje em muito reduzidas. Na lagoada Tijuca, na ilha do Ipê, foi observado em 1996 um grupo de seis colhereiros (Ajaia ajaja), tendosido informado por moradores locais que anualmente esta espécie, durante o verão, costumafrequentá-la.Próximo as margens e canais, o acúmulo de vegetação flutuante como aguapés e alfaces d’águafornecem substrato para aves paludícolas como os frangos-d’água (Gallinula chloropus), frangosd’água-azuis(Porphyrula martinica), socozinhos (Butorides striatus), jaçanãs (Jacana jacana),pintos-d’água (Laterallus melanophaius), saracuras (Aramides cajanea) e garibaldis (Agelaiusruficapillus). Este ambiente é o local também onde o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)faz seu ninho, sendo frequentes na Lagoinha (Parque Chico Mendes) e em Marapendi. Sãocomuns também pererecas (Hyla anceps, Hyla minuta, Hyla bipunctata e Hyla humilis) Habitanteespecializado em lagoas profundas é a perereca Sphaenohynchus planicola. Serpentes piscívorascomo a co<strong>br</strong>a-d’água ( Liophis miliaris ) e o jararacussu-do-<strong>br</strong>ejo (Dryadophys bifossatus)tambem são frequentes na vegetação.3.4.1.6 Habitats UrbanosA construção de cidades forneceu um espaço a espécies oportunistas de grande plasticidade,algumas das quais vem acompanhando o homem a séculos. Estes animais, chamados desinantrópicos, podem ser divididos basicamente em dois grupos.O primeiro a<strong>br</strong>ange animais exóticos que mudaram seu modus vivendi a muito tempo, sendoexclusivos de espaços criados pelo homem e deste dependendo. Neste caso o pardal (Passerdomesticus), a largatixa (Hemidactyllus mabuya), o pombo (Columba livia), o rato (Rattus rattus),a ratazana (Rattus novergicus) e o comundongo .A Figura 3.34 ilustra os habitats e as espéciessinantrópicas.No segundo grupo estão animais nativos que, por terem maior adaptabilidade ou por semelhançade espaços urbanos com seus habitats originais, ocuparam habitats dentro de cidades. Nestecaso estão inúmeras aves, entre as quais o birro (Hirundinea ferruginea), que trocou as escarpasrochosas pelos beirais de edifícios. Também o bacurau (Caprimulgus longirostris) que até aprimeira metade deste século só era conhecido de campos de altitude, passou a morar nostelhados de residências. Muitas espécies de beija-flores tornaram-se urbanas, entre as quais otesourão (Eupetomena macroura) um dos mais frequentes nas garrafinhas de açúcar.106


O plantio de espécies frutíferas garante a <strong>so<strong>br</strong>e</strong>vivência de aves e morcegos nos centrosurbanos. A arborização com espécies de figueiras (Ficus sp) assegura alimento tanto parasanhaços (Thraupis sayaca) e sabiás (Turdus rufiventris) quanto para morcegos (Artibeuslituratus).Beiras de edifícios são frequentados por andorinhas (Progne chalybea), as chaminés pelosandorinhões (Chaetura andrei) e as juntas de dilatação pelos morcegos (Molossus molossus).Figura 3.34 - Espécies Sinantrópicas107


3.4.2 Análise Zooconservacionista3.4.2.1 Porte e Biomassa da FaunaO porte da maioria dos animais silvestres da bacia é de médio a pequeno. Os maiores animaissão os veados-mateiros (Mazama americana - 40 kg), as capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris -40 kg) e os caititús (Tayassu tajacu - 30 kg). A eles se seguem as pacas, macacos-pregos,quatis (Nasua nasua), cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) iraras (Eira barbara), preguiças(Bradypus torquatus) e mão-pelada (Procyon cancrivorus). Coletivamente, a maior biomassaprovavelmente seja representadas por pequenas aves e morcegos.3.4.2.2 Animais Importantes na Recuperação de Áreas DegradadasMorcegos e aves podem desempenhar papéis relevantes na recuperação de áreas degradadas,disseminando sementes e polinizando flores. Esta função pode ser potencializada desde quesejam empregadas nos serviços de reflorestamento, plantas pioneiras ornitocóricas ou que sejamdispersadas por morcegos. A colonização pela fauna seria gradativa e expontânea conformeatestam as áreas secundárias de baixa altitude da floresta da Tijuca.3.4.2.3 CaçaA caça restringe-se hoje a dois níveis. a caça de final de semana de animais cinegéticos como osurús (Odontophorus capueira), jacús (Penelope superciliaris), columbídeos, anatídeos etinamídeos em geral, mamíferos como a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), tatus (Dasypusnovencinctus e Euphractus sexcinctus), pacas (Agouti paca) e cutias (Dasyprocta aguti); e, a caçapara comércio de aves canoras, em especial os Emberizidae do gênero Sporophila .3.4.2.4 Animais de Interesse MédicoSão listados para a região 5 espécies de verte<strong>br</strong>ados peçonhentos dois da família Elapidae e trêsda família Viperidae.• Bothrops neuwied - Jararaca pintada - espécie de pequeno porte, noturna e incomum nasáreas de restinga e mata de encosta baixa. Vive na borda de mata em áreas ensolaradas comfolhiço seco se alimentando na idade adulta de roedores;• Bothrops jararacussu - Jararacussú - espécie de grande porte, noturna montícola, ocorrendoem borda de mata de encosta alta. Se alimenta preferencialmente de roedores na idade adulta;• Bothrops jararaca - Jararaca - Espécie de médio porte, noturna, ocorrendo preferencialmenteem áreas alteradas. Sinantrópica em algumas áreas devido a presença de roedores junto aolixo humano;• Micrurus decotatus - Coral-verdadeira - Especie de pequeno porte, noturna e semi-fossorialhabitando o folhiço das matas de encosta alta e baixa. É preferencialmente ofiófaga na idadeadulta;• Micrurus corallinus - Coral-verdadeira - Especie de pequeno porte, noturna e semi-fossorialhabitando o folhiço das matas de encosta baixa e restinga. É preferencialmente ofiófaga naidade adulta;108


3.4.2.5 Animais Oficialmente Ameaçados de Extinção Ocorrentes na BaciaAs espécies oficialmente ameaçadas de extinção na bacia são aquelas reconhecidas peloDecreto Municipal N nº 15.793 de 04/07/97 e indicadas no Quadro II.4 do Anexo II.3.4.2.6 Animais Extintos na BaciaDiversos relatos e documentos técnicos complidos e apresentados por Sick (1997), comprovamque estão extintos na bacia as aves relacionadas no Quadro 3.17, abaixoQuadro 3.17 – Aves extintas na baciaESPÉCIEEudocimus ruberPanyptila cayennensisGalbula ruficaudaMonasa morphoeusCyanocompsa <strong>br</strong>issoniiSporophila frontalisSporophila plumbeaSporophila bouvreuilOryzoborus angolensisOryzoborus maximilianiFonte: SONDOTECNICANOME POPULARGuaráAndorinhão-estofadorBico-de-agulha-de-rabo-vermelhoBico-de-<strong>br</strong>asa-de-testa-<strong>br</strong>ancaAzulãoPichochóPatativa-verdadeiraCaboclinhoCurióBicudoAlém deles, a fragmentação dos habitats e a urbanização contribuiram para a extinção local deespécies da fauna dependentes de grandes áreas, tais como a onça (Panthera onca), asussuarana (Felis concolor),a harpia (Harpia harpija) e a queixada (Tayassu pecari). Extinto nabacia é o mico-leão dourado (Leonthopithecus rosalia). Com populações muito baixas deve estaro jaguarundi (Felis yagouarundi)109

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