Revista Espírita (FEB) - 1860 - Autores Espíritas Clássicos

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12.07.2015 Views

REVISTA ESPÍRITAmédiuns entre os tibetanos? Que os havia entre os assírios, osgregos e os egípcios? Que todos os princípios fundamentais doEspiritismo se acham na filosofia sânscrita? Assim sendo, é falsoavançar que tais manifestações são inteiramente modernas. Osmodernos nada inventaram a respeito e os espíritas se apóiam naancianidade e na universalidade de sua doutrina, o que deveria tersabido o Sr. Figuier, antes de pretender fazer sobre ele um tratadoex-professo. Nem por isso sua obra deixou de receber as honras daimprensa, que se apressou em homenagear esse campeão das idéiasmaterialistas.Aqui se apresenta uma reflexão cujo alcance nãoescapará a ninguém. Diz-se que nada é tão brutal quanto um fato.Ora, eis um que tem bem o seu valor: é o extraordinário progressodas idéias espíritas, às quais nenhuma imprensa, nem pequena nemgrande, prestou o seu concurso. Quando ela se dignou falar dessespobres imbecis que pensam ter uma alma, e que essa alma, após amorte, ainda se ocupa dos vivos, não foi senão para gritar socorro!contra eles, e os enviar aos manicômios, perspectiva poucoencorajadora para o público ignorante do assunto. O Espiritismonão entoou a trombeta da publicidade; não encheu os jornais deanúncios pomposos. Como é, então, que, sem barulho, semestardalhaço, sem apoio dos que se arvoram em árbitros da opinião,ele se infiltra nas massas e, segundo a graciosa expressão de umcrítico, cujo nome não lembramos, depois de ter infestado as classesesclarecidas, agora penetra nas classes laboriosas? Que nos digam deque maneira, sem a utilização dos meios ordinários de propaganda,pôde a segunda edição de O Livro dos Espíritos esgotar-se emquatro meses? Diz-se que o povo se entusiasma com as coisas maisridículas. Seja; mas a gente se entusiasma com o que diverte, umahistória, um romance. Ora, O Livro dos Espíritos não tem,absolutamente, a pretensão de ser divertido. Não será porque aopinião geral encontra, nessas crenças, algo que desafia à crítica?O Sr. Figuier encontrou a solução do problema: é, dizele, o amor do maravilhoso; e tem razão. Tomemos a palavra536

D EZEMBRO DE 1860maravilhoso na acepção que ele lhe empresta e estaremos deacordo. Em sua opinião, estando a Natureza contida inteiramentena matéria, todo fenômeno extramaterial se deve ao maravilhoso:fora da matéria não há salvação. Conseqüentemente a alma e tudoquanto lhe atribuem, seu estado após a morte, tudo isso pertenceao maravilhoso. Como ele, chamemo-lo maravilhoso. A questão ésaber se esse maravilhoso existe ou não. O Sr. Figuier, que nãogosta do maravilhoso e só o admite nos contos da carochinha, dizque não. Mas se o Sr. Figuier não faz questão de sobreviver ao seucorpo; se despreza sua alma e a vida futura, nem todos partilhamseus gostos e não é preciso, por isto, que ele desgoste os outros. Hámuitas pessoas para as quais a perspectiva do nada encanta muitopouco e que esperam encontrar lá em cima, ou acolá, pai, mãe,filhos ou amigos. O Sr. Figuier não dá importância para isto.Gostos não se discutem.Por instinto o homem tem horror à morte.Convenhamos que o desejo de não morrer completamente é muitonatural. Pode-se mesmo dizer que essa fraqueza é geral. Ora, comosobreviver ao corpo, se não possuímos esse maravilhoso que sechama alma? Se temos uma alma, ela há de ter algumaspropriedades, porquanto sem propriedades não seria coisa alguma.Infelizmente, para certas pessoas, não são propriedades químicas; aalma não pode ser introduzida num vidro para ser conservada nosmuseus de anatomia, como se conserva um crânio; nisto, o GrandeObreiro certamente errou, por não havê-la feito mais palpável;provavelmente Ele não pensou no Sr. Figuier...Seja como for, de duas uma: essa alma, se existir, viveou não vive após a morte do corpo; é alguma coisa ou é o nada: nãohá meio-termo. Vive sempre ou por algum tempo? Se devedesaparecer em dado momento, pouco importaria se fosseimediatamente; um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, nempor isso o homem seria mais avançado. Se vive, faz algo ou nadafaz. Mas como admitir um ser inteligente que nada faz, e isto por537

D EZEMBRO DE <strong>1860</strong>maravilhoso na acepção que ele lhe empresta e estaremos deacordo. Em sua opinião, estando a Natureza contida inteiramentena matéria, todo fenômeno extramaterial se deve ao maravilhoso:fora da matéria não há salvação. Conseqüentemente a alma e tudoquanto lhe atribuem, seu estado após a morte, tudo isso pertenceao maravilhoso. Como ele, chamemo-lo maravilhoso. A questão ésaber se esse maravilhoso existe ou não. O Sr. Figuier, que nãogosta do maravilhoso e só o admite nos contos da carochinha, dizque não. Mas se o Sr. Figuier não faz questão de sobreviver ao seucorpo; se despreza sua alma e a vida futura, nem todos partilhamseus gostos e não é preciso, por isto, que ele desgoste os outros. Hámuitas pessoas para as quais a perspectiva do nada encanta muitopouco e que esperam encontrar lá em cima, ou acolá, pai, mãe,filhos ou amigos. O Sr. Figuier não dá importância para isto.Gostos não se discutem.Por instinto o homem tem horror à morte.Convenhamos que o desejo de não morrer completamente é muitonatural. Pode-se mesmo dizer que essa fraqueza é geral. Ora, comosobreviver ao corpo, se não possuímos esse maravilhoso que sechama alma? Se temos uma alma, ela há de ter algumaspropriedades, porquanto sem propriedades não seria coisa alguma.Infelizmente, para certas pessoas, não são propriedades químicas; aalma não pode ser introduzida num vidro para ser conservada nosmuseus de anatomia, como se conserva um crânio; nisto, o GrandeObreiro certamente errou, por não havê-la feito mais palpável;provavelmente Ele não pensou no Sr. Figuier...Seja como for, de duas uma: essa alma, se existir, viveou não vive após a morte do corpo; é alguma coisa ou é o nada: nãohá meio-termo. Vive sempre ou por algum tempo? Se devedesaparecer em dado momento, pouco importaria se fosseimediatamente; um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, nempor isso o homem seria mais avançado. Se vive, faz algo ou nadafaz. Mas como admitir um ser inteligente que nada faz, e isto por537

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