Revista Espírita (FEB) - 1860 - Autores Espíritas Clássicos

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REVISTA ESPÍRITAnão se recordem de algum fato dessa natureza e que não podempôr em dúvida. É preferível, portanto, que nos esclareçamos sobreo que há de verdadeiro ou de falso, de possível ou de impossível nasnarrativas desse gênero. É explicando uma coisa, raciocinando, quenos premunimos contra o medo pueril. Conhecemos muitaspessoas que tinham pavor dos fantasmas. Hoje, graças aoEspiritismo sabem o que é isto, e seu maior desejo é ver um.Conhecemos outras que tiveram visões que as terrificaram; agora,que as compreendem, não mais se inquietam. Conhecem-se osperigos do mal do medo para os cérebros fracos. Ora, um dosresultados do conhecimento do Espiritismo esclarecido éprecisamente curar esse mal, e não é esse um dos seus menoresbenefícios.Lembrança de uma Existência Anterior306(Sociedade, 25 de maio de 1860)Um dos nossos assinantes nos envia uma carta de umde seus amigos, da qual extraímos o seguinte trecho:“Perguntastes a minha opinião, ou melhor, a minhacrença, na presença ou não, junto a nós, das almas dos que amamos.Pedis, também, algumas explicações relativas à minha convicção deque nossas almas mudam de envoltório com muita rapidez.“Por mais ridículo que pareça, direi que guardo asincera convicção de ter sido assassinado durante os massacres deSão Bartolomeu. Eu era muito criança quando tal lembrança veioferir a minha imaginação. Mais tarde, ao ler essa triste página denossa História, pareceu que muitos detalhes me eram conhecidos,e ainda creio que, se a velha Paris pudesse ser reconstruída, eureconheceria aquela alameda sombria, onde, fugindo, senti o frio detrês punhaladas nas costas. Há detalhes desta cena sangrenta que se

JULHO DE 1860conservam na minha memória e que jamais desapareceram. Por quetinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido a noite deSão Bartolomeu? Por que, ao ler o relato desse massacre, pergunteia mim mesmo: é meu sonho, esse sonho desagradável que tive emcriança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quisconsultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobrelouco ao qual surge uma idéia e que parece lutar para lhe descobrira razão? Por quê? Nada sei. Por certo me achareis ridículo, mas nempor isso guardarei menos a lembrança, a convicção.“Se vos dissesse que eu tinha sete anos quando tive umsonho assim: Eu tinha vinte anos, era jovial, bem-posto, e pensoque rico. Vim bater-me em duelo e fui morto. Se dissesse que asaudação feita com a arma, antes de me bater, eu a fiz pela primeiravez que tive um florete na mão; se dissesse que cada preliminarmais ou menos graciosa que a educação ou a civilização pôs na artede se matar me era desconhecida antes de minha educação nasarmas, diríeis, sem dúvida, que sou louco ou maníaco. Bem podeser; mas às vezes me parece que um clarão penetra nesse nevoeiroe tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabeleceem minha alma.“Se me perguntásseis se creio na simpatia entre asalmas, em seu poder de se porem em contato entre elas, malgradoa distância, apesar da morte, eu vos responderia: Sim; e este simseria pronunciado com toda a força de minha convicção.Aconteceu encontrar-me a vinte e cinco léguas de Lima, apósoitenta e seis dias de viagem, e despertar em lágrimas, com umaverdadeira dor no coração; uma tristeza mortal apoderou-se demim durante todo o dia. Anotei o fato em meu diário. Àquela hora,na mesma noite, meu irmão foi acometido por um ataque deapoplexia, que comprometeu gravemente a sua vida. Confrontei odia, o instante: tudo era exato. Eis um fato; as pessoas existem.Direis que sou louco?307

JULHO DE <strong>1860</strong>conservam na minha memória e que jamais desapareceram. Por quetinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido a noite deSão Bartolomeu? Por que, ao ler o relato desse massacre, pergunteia mim mesmo: é meu sonho, esse sonho desagradável que tive emcriança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quisconsultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobrelouco ao qual surge uma idéia e que parece lutar para lhe descobrira razão? Por quê? Nada sei. Por certo me achareis ridículo, mas nempor isso guardarei menos a lembrança, a convicção.“Se vos dissesse que eu tinha sete anos quando tive umsonho assim: Eu tinha vinte anos, era jovial, bem-posto, e pensoque rico. Vim bater-me em duelo e fui morto. Se dissesse que asaudação feita com a arma, antes de me bater, eu a fiz pela primeiravez que tive um florete na mão; se dissesse que cada preliminarmais ou menos graciosa que a educação ou a civilização pôs na artede se matar me era desconhecida antes de minha educação nasarmas, diríeis, sem dúvida, que sou louco ou maníaco. Bem podeser; mas às vezes me parece que um clarão penetra nesse nevoeiroe tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabeleceem minha alma.“Se me perguntásseis se creio na simpatia entre asalmas, em seu poder de se porem em contato entre elas, malgradoa distância, apesar da morte, eu vos responderia: Sim; e este simseria pronunciado com toda a força de minha convicção.Aconteceu encontrar-me a vinte e cinco léguas de Lima, apósoitenta e seis dias de viagem, e despertar em lágrimas, com umaverdadeira dor no coração; uma tristeza mortal apoderou-se demim durante todo o dia. Anotei o fato em meu diário. Àquela hora,na mesma noite, meu irmão foi acometido por um ataque deapoplexia, que comprometeu gravemente a sua vida. Confrontei odia, o instante: tudo era exato. Eis um fato; as pessoas existem.Direis que sou louco?307

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