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VISÃO GERALPovos Indígenas no Século 21Wilma MankillerWilma Mankiller é ex-cacique <strong>da</strong> nação cheroqui, primeiramulher a ocupar essa posição. Autora publica<strong>da</strong> e ativista <strong>dos</strong>direitos <strong>dos</strong> indígenas de longa <strong>da</strong>ta, Wilma foi condecora<strong>da</strong>com a Me<strong>da</strong>lha Presidencial <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de em 1998.Oque o futuro reserva aos povos indígenas emtodo o mundo e o que significa ser indígenano século 21?A resposta a essas perguntas irão variar muito entre os250 a 300 milhões de indígenas existentes em praticamenteto<strong>da</strong>s as regiões do mundo. Há enorme diversi<strong>da</strong>de entre oscerca de 5 mil grupos distintos de indígenas, ca<strong>da</strong> um <strong>dos</strong>quais com história, língua, cultura, sistema de governançae modo de vi<strong>da</strong> singulares. Embora alguns povos indígenascontinuem a subsistir <strong>da</strong> pesca, caça e coleta de alimentos,outros administram empresas multifaceta<strong>da</strong>s.Os grupos indígenas do mundo todo realmente enfrentamalguns desafios comuns na luta para proteger suas terras,seus recursos naturais e suas práticas culturais. A batalha paraproteger os direitos humanos e os direitos à terra <strong>dos</strong> povosindígenas torna-se bem mais difícil por tão poucas pessoasconhecerem a fundo a história ou a vi<strong>da</strong> contemporânea <strong>dos</strong>indígenas. E sem nenhum contexto histórico ou cultural, équase impossível entender as questões indígenas atuais.Pr o b l e m a s têm r a í z e s n o Co l o n i a l i s m oAo contemplar os desafios enfrenta<strong>dos</strong> pelos povosindígenas em todo o mundo, é importante lembrar que asraízes de muitos problemas sociais, econômicos e políticospodem ser encontra<strong>da</strong>s nas políticas coloniais. Os povosindígenas do mundo todo estão liga<strong>dos</strong> pela experiênciacomum de terem sido “descobertos” e submeti<strong>dos</strong> àexpansão colonial em seus territórios, o que causou aper<strong>da</strong> de um número incalculável de vi<strong>da</strong>s e de milhõesde hectares de terra e de recursos. Os direitos mais básicos<strong>dos</strong> povos indígenas foram desrespeita<strong>dos</strong>, e eles foramsubmeti<strong>dos</strong> a uma série de políticas elabora<strong>da</strong>s para integrálosna socie<strong>da</strong>de e na cultura coloniais. Com demasia<strong>da</strong>frequência o legado dessas políticas era pobreza, altamortali<strong>da</strong>de infantil, desemprego generalizado e abuso desubstâncias, com to<strong>dos</strong> os problemas decorrentes.O antigo encontra-se com o moderno. Índio americanotrajando roupas de <strong>da</strong>nça tradicionais desce uma esca<strong>da</strong>rolanteComo resultado do trabalho de muitos povos indígenase grupos defensores de causas específicas, a AssembléiaGeral <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s colocou em votação a Declaraçãode Direitos <strong>dos</strong> Povos Indígenas em 13 de setembro de2007. Embora a grande maioria tenha votado a favor© Ernie PanicciolieJournal USA 4


Tradições Vivas <strong>dos</strong> Indígenas AmericanosGabrielle TayacTapete de contas <strong>dos</strong> sioux de Sisseton, de 1877 aproxima<strong>da</strong>mente. Contas de vidro, tecido de lã, algodão e fio de lãCortesia: Museu Nacional do Índio Americano, Instituto SmithsoanianoA historiadora Gabrielle Tayac é curadora do Museu Nacional doÍndio Americano (NMAI) em Washington, D.C. e descendente<strong>da</strong> tribo piscataway, que habitava a área <strong>da</strong> Baía de Chesapeake.Seu avô, o cacique Turkey Tayac (1895-1978), foi um curandeirotradicional. Aqui, ela fala sobre a importância de um retratopreciso <strong>da</strong> história e <strong>da</strong> cultura <strong>dos</strong> povos indígenas.“A Terra e eu somos um só espírito”.— Cacique JosephOcacique Joseph (1840-1904) do grupo nimipu<strong>dos</strong> nez perces viveu grande parte de sua vi<strong>da</strong>em meio a invasões de colonizadores brancosatraí<strong>dos</strong> pela Corri<strong>da</strong> do Ouro no oeste <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.O governo americano prometeu reservar terra para os nezperces, incluindo sua terra natal, atualmente os esta<strong>dos</strong> deOregon, Washington e I<strong>da</strong>ho. Entretanto, em 1863 a terrahavia sido reduzi<strong>da</strong> a um décimo do seu tamanho original,perdendo 2,4 milhões de hectares. O cacique Joseph relutou,mas concordou em mu<strong>da</strong>r para a reserva. Porém, uma reaçãoviolenta <strong>dos</strong> jovens guerreiros levou o Exército <strong>dos</strong> EUA aperseguir os nez perces. Apesar de sua brilhante estratégiamilitar, o cacique Joseph foi forçado a se render em 1877,devido ao enfraquecimento de seu povo pela fome, pelo frio epela doença. Ele pronunciou as palavras cita<strong>da</strong>s acima durantesua rendição. Nunca mais pôde retornar ao vale Wallowa,sua ama<strong>da</strong> terra natal. Os nimipus não apenas sobreviveramcomo também participam de uma economia moderna pormeio <strong>da</strong> pesca, <strong>da</strong> extração de madeira, <strong>da</strong> educação e docomércio. Um grupo nosso que trabalha no Museu Nacionaldo Índio Americano (NMAI) em Washington, D.C.acreditava que a história do cacique Joseph e seu sentimentocom relação à terra deveriam estar logo na entra<strong>da</strong> do museu,bem em frente para os visitantes que entram no nosso prédio.Quatro ideias principais aju<strong>da</strong>m a entender o passado ea situação atual <strong>dos</strong> povos indígenas. Primeira, eles possuemculturas diferentes que se unem no conceito de que os sereshumanos devem ser os administradores de um mundo vivo.Segun<strong>da</strong>, as pessoas são defini<strong>da</strong>s por suas comuni<strong>da</strong>destribais e são responsáveis por elas. Terceira, o trauma <strong>dos</strong>encontros destrutivos com os colonizadores europeusmol<strong>da</strong>ram o que somos atualmente. Finalmente, asexpressões criativas passa<strong>da</strong>s e presentes <strong>dos</strong> povos indígenascontinuam a contribuir para a cultura e a ciência globais.A América indígena, para ser entendi<strong>da</strong> como omundo descrito pelo curador do NMAI, Paul Chaat Smith(comanche), é “antiga e moderna e está em constantemu<strong>da</strong>nça”.Cerca de 4 milhões de pessoas identificam-se comoíndio americano ou seu descendente. Os índios americanoseJournal USA 7


podem ser encontra<strong>dos</strong> em todo o país e 70%deles não vivem nas reservas, que são as terrasdesigna<strong>da</strong>s para as tribos pelos trata<strong>dos</strong>. Muitos sãocasa<strong>dos</strong> com pessoas descendentes de outras etniase raças, a maior taxa de miscigenação entre to<strong>dos</strong>os grupos étnicos <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. Apesar <strong>dos</strong>recentes ganhos econômicos, em especial por meiode jogos de cassino permiti<strong>dos</strong> devido à soberaniajurisdicional <strong>da</strong>s tribos, os índios americanos,mais do que qualquer outro setor <strong>da</strong> populaçãoamericana, ain<strong>da</strong> sofrem de saúde frágil, alta taxa depobreza e baixo grau de instrução.As tribos são muito diferentes, ca<strong>da</strong> uma comsua própria cultura, língua, história e governotradicionais. A maioria <strong>dos</strong> povos nativos busca oequilíbrio entre a manutenção <strong>da</strong>s culturas ancestraise a participação em um cenário ca<strong>da</strong> vez mais global.Durante muitos anos, devido à discriminaçãoe aos mal-entendi<strong>dos</strong> na socie<strong>da</strong>de em geral, os indígenasamericanos não foram valoriza<strong>dos</strong>, e nossas culturas pareciamestar morrendo. Porém nos últimos 30 anos, graças aosesforços coletivos de pessoas de to<strong>da</strong>s as origens, uma novavi<strong>da</strong> se acerca <strong>da</strong>s tribos em uma era de crescente liber<strong>da</strong>dede expressão. Nosso museu, inaugurado em 2004, é umresultado desse esforço. Criado por uma lei do Congresso em1989, o NMAI trouxe uma coleção priva<strong>da</strong> importante, demais de 800 mil objetos, para a administração pública soba responsabili<strong>da</strong>de do Instituto Smithsoniano. Talvez ain<strong>da</strong>mais importante, o NMAI permite que o povo indígena falepor si próprio na interpretação de suas histórias, filosofias eidenti<strong>da</strong>des para um público global.O NMAI representa uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong> navalorização <strong>da</strong>s culturas indígenas. Um papel fun<strong>da</strong>mentaldesempenhado pelo museu é a instrução do público sobreos povos indígenas a partir de seu próprio ponto de vista.Embora seja difícil li<strong>da</strong>r com estereótipos entre adultos,nossa esperança real está em formar a opinião <strong>da</strong>s crianças.As crianças em i<strong>da</strong>de escolar são um público fun<strong>da</strong>mentalpara a nossa instituição, e nosso departamento de educaçãotrabalha com estudiosos tribais para desenvolver o materialcerto para uso em salas de aula. Uma vez que muitaspessoas no país não terão a oportuni<strong>da</strong>de de visitar omuseu, recursos de internet também estão disponíveis,mostrando uma diversi<strong>da</strong>de de culturas nativas emtópicos <strong>da</strong>s artes e ciências. Por exemplo, muitas pessoasconhecedoras <strong>da</strong> cultura americana devem saber que atradição de Ação de Graças de realizar um jantar especialem novembro baseia-se em uma troca pacífica entre índiosamericanos e colonizadores puritanos no século 17. NoHistoriadora Gabrielle Tayacentanto, mesmo nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, poucas pessoassabem que a ideia <strong>da</strong> ação de graças teve origem em umacerimônia indígena tradicional pratica<strong>da</strong> diariamente parademonstrar gratidão e responsabili<strong>da</strong>de pela abundânciano mundo. Diferentes estações trazem diferentes ações degraças, tais como a “ação de graça do morango”, pratica<strong>da</strong>todo mês de junho pelas tribos do nordeste.Mu n d o s Vi v o s“Com beleza eu falo, estou em paz e em harmonia”.— Benção navajoEnsinamentos profun<strong>dos</strong> de várias culturas indígenassão muitas vezes conheci<strong>dos</strong> como “instruções originais”,significando que as formas de estar no mundo forampassa<strong>da</strong>s para os humanos por um Criador ou outros seresespirituais. Essas ideias foram transmiti<strong>da</strong>s oralmente,incorpora<strong>da</strong>s em histórias, músicas e <strong>da</strong>nças, uma vez queos índios americanos do norte do México não possuíamsistemas de escrita até que as formas europeias forama<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s pelas tribos. Não há uma filosofia indígena— há centenas delas. Viver em equilíbrio com os reinosnatural e espiritual, respeitar nosso papel no mundo comoseres humanos e aceitar a responsabili<strong>da</strong>de pela famíliae pela comuni<strong>da</strong>de são valores culturais compartilha<strong>dos</strong>,destina<strong>dos</strong> a guiar nossos povos no mundo de hoje.Um exemplo, os navajos, cuja benção é cita<strong>da</strong> acima, seautodenominam dinés ou o povo. Eles vivem em uma reservaque se estende por cerca de 7 milhões de hectares nas terrasári<strong>da</strong>s que abrangem as fronteiras do Arizona, do NovoCortesia: Museu Nacional do Índio Americano, Instituto SmithsoanianoeJournal USA 8


México e de Utah. Sua população atual de aproxima<strong>da</strong>mente300 mil pessoas representa a maior tribo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.Os dinés são tradicionalmente pastores de ovelhas e tecelões,embora atualmente possam ser encontra<strong>dos</strong> em to<strong>da</strong>s asprofissões e em to<strong>dos</strong> os continentes. Um princípio básico<strong>da</strong> filosofia diné é o hozho, termo que foi simplificado como“beleza” em inglês. Mas hozho é mais complexo do queisso. Exprime valores de plenitude, equilíbrio e restauração.Muitas cerimônias e práticas <strong>dos</strong> dinés são devota<strong>da</strong>s arestaurar a harmonia nas pessoas, nas comuni<strong>da</strong>des e nomundo. Então, quando uma pessoa diz, “com beleza eufalo”, ela está exprimindo uma ideia muito mais complexa— a de que os seus pensamentos devem ser restaurativos,holísticos e equilibra<strong>dos</strong>. Com a retoma<strong>da</strong> do controle deseus sistemas educacionais e governamentais durante asúltimas déca<strong>da</strong>s, os dinés estão inserindo essa filosofia do quedeve guiar suas escolas, seus tribunais e sua economia.As filosofias indígenas são ricas e varia<strong>da</strong>s. Pessoasde to<strong>da</strong>s as origens estão ca<strong>da</strong> vez mais interessa<strong>da</strong>s emaprender sobre esses antigossistemas, ain<strong>da</strong> relevantes.Na maior parte <strong>da</strong> históriaamericana, infelizmente,as religiões e filosofiasindígenas foram no mínimomal-entendi<strong>da</strong>s e, na pior<strong>da</strong>s hipóteses, declara<strong>da</strong>sproibi<strong>da</strong>s. Várias naçõesindígenas estão trabalhandomuito agora para recuperartradições que foram perdi<strong>da</strong>se preservar as que ain<strong>da</strong>possuem.Co m u n i d a d e“Ser índio não é ser alguma coisa que tem partes; é serparte de alguma coisa.” — Angela Gonzales, 2007Viver em equilíbrio com os reinosnatural e espiritual, respeitar nossopapel no mundo como seres humanose aceitar a responsabili<strong>da</strong>de pelafamília e pela comuni<strong>da</strong>de são valoresculturais compartilha<strong>dos</strong>, destina<strong>dos</strong> aguiar nossos povos no mundo de hoje.início do século 20. Ca<strong>da</strong> tribo é única.Como objeto de políticas raciais discriminatórias,os indígenas americanos e os afroamericanos têm muitoem comum. Tanto os nativos americanos como osafroamericanos foram vistos como biológica e culturalmenteinferiores por muitos euroamericanos durante séculos. Havialeis proibindo os brancos de se casarem com eles, leis queeram mais rigorosamente aplica<strong>da</strong>s para os afroamericanos.É interessante notar que tanto os nativos americanos comoos africanos compartilhavam estilos de vi<strong>da</strong> indígenas, o quelhes permitia relacionarem-se uns com os outros a partir doprimeiro contato. Na história colonial antiga, encontramosum bom número de casamentos entre eles na costa atlântica.Seus esforços de combate à discriminação também eramvincula<strong>dos</strong>. Estimula<strong>dos</strong> pelo movimento pelos direitoscivis <strong>dos</strong> anos 1960, muitos indígenas americanos iniciaramseu próprio movimento social com o propósito de reaverdireitos. A identi<strong>da</strong>de indígena americana é talvez um<strong>dos</strong> tópicos mais comenta<strong>dos</strong> entre os próprios índiosamericanos. As tensõesentre as obrigações paracom a comuni<strong>da</strong>de tribale a vi<strong>da</strong> em uma era deglobalização em rápi<strong>da</strong>mu<strong>da</strong>nça fazem muitaspessoas sentir que estãoem constante malabarismoentre “dois mun<strong>dos</strong>”. Noentanto, como as políticase as atitudes sociais sobre ovalor <strong>da</strong>s culturas indígenasamericanas mu<strong>da</strong>ram,alguns jovens indígenas estão explorando a ideia de quevivem em um único mundo como to<strong>da</strong>s as outras pessoas,com uma identi<strong>da</strong>de tribal que pode se a<strong>da</strong>ptar a qualquercircunstância.ExpressãoOs relacionamentos estão no âmago <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>deindígena. O sentido de família é geralmente mais amplodo que o que vemos nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> contemporâneo,no qual a maior parte <strong>da</strong>s famílias é nuclear, compostaprincipalmente de pais e filhos. Nas culturas indígenasamericanas, a família inclui não apenas os parentesconsanguíneos como também os relacionamentos de clã ousocie<strong>da</strong>de. Ser membro de uma tribo é também uma chavepara a identi<strong>da</strong>de, que é determina<strong>da</strong> pelo grau de herançaindígena, ou o “quantum de sangue”, aceitável para sermembro <strong>da</strong> tribo. Ser índio americano não é meramenteser membro de um grupo étnico ou racial mais amplo, étambém pertencer à uma comuni<strong>da</strong>de específica que defineseus próprios membros. Algumas tribos traçam sua linhade descendência pela mãe, outras pelo pai e outras ain<strong>da</strong>adotaram as regras estabeleci<strong>da</strong>s pelo governo <strong>dos</strong> EUA no“O jeito indígena é uma tradição sábia”.— John Mohawk, cerca de 1990O brilho <strong>da</strong>s culturas indígenas é multíplo. Podeseobservar o gênio criativo em antigas inovaçõesagriculturais, na arte contemporânea, nos conceitos degovernança pré-contato ou nas tradições de preservaçãoambiental. Os povos indígenas têm muito a oferecer aomundo, mesmo quando trazem sua identi<strong>da</strong>de tribal ereali<strong>da</strong>de contemporânea global para o mundo. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 9


RELAÇÃO COM A TERRAMeu lugar, Minha Identi<strong>da</strong>deAngayuqaq Oscar KawagleyAngayuqaq Oscar Kawagley éprofessor emérito de educação naUniversi<strong>da</strong>de do Alasca, Fairbanks,e há muito demonstra interessepelas ciências biológicas . Nasceuem uma família tradicional deíndios iupiaques, no Alasca, ondefoi criado por sua avó desde os 2anos de i<strong>da</strong>de, após a morte <strong>dos</strong> pais.Ela falava apenas iupiaque, e porisso essa foi sua primeira língua e acultura tribal, sua primeira cultura.Os iupiaques estão entre as váriastribos do Ártico, também conheci<strong>da</strong>scomo esquimós. Kawagley ocupou ocargo de diretor executivo em diversasorganizações sem fins lucrativosvolta<strong>da</strong>s para a ciência, a educaçãoe a saúde. Atualmente faz parte doGrupo de Trabalho sobre Mu<strong>da</strong>nçasClimáticas para Índios Americanos eNativos do Alasca <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Haskell.Recentemente vi um programa de televisão intitulado“You Own Alaska” [O Alasca lhe pertence]. Minha primeirareação foi de que essa expressão era motiva<strong>da</strong> por interessespolíticos e econômicos. Mas quanto mais eu pensava sobre oassunto, mas isso se chocava com a minha visão de mundo.Como o Alasca poderia “pertencer” a alguém? De acordocom as minhas tradições ancestrais, eu pertenço à terra!Assim, comecei a refletir sobre como minha visão iupiaquedo mundo difere <strong>da</strong>quela <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de dominante.O frio define meu lugar. Mamterilleq (hoje conhecidocomo Betel, Alasca) fez de mim o que sou. O frio moldouminha língua, minha visão de mundo, minha culturae tecnologia. Agora, o frio está enfraquecendo muitorapi<strong>da</strong>mente e, como resultado, outra paisagem começaa aparecer. A paisagem em mutação, por sua vez, estáconfundindo a imagem mental <strong>dos</strong> iupiaques, assim comoa de outros povos indígenas. Alguns <strong>dos</strong> criadores deA erosão causa estragos na aldeia de Newtok, onde os habitantes consultam os anciãos <strong>da</strong> tribo eos geólogos sobre a melhor forma de se a<strong>da</strong>ptar aos efeitos do aquecimento globalsentido natural <strong>da</strong> Mãe Natureza estão fora de sincroniacom a flora e a fauna.Nós, os iupiates do Rio Kuskokwim, usávamos folhasde amieiros para saber quando os peixes eperlanos iniciariamseu trajeto rio acima e poderíamos começar a pescá-los comrede. Quando as folhas <strong>dos</strong> amieiros floresciam, era hora de osalmão real aparecer, e assim acontecia. Mas esses indicadoresdeixam de ser confiáveis quando a primavera chega duas aquatro semanas mais cedo do que o normal. Esse é apenasum exemplo <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que estão ocorrendo no delta doRio Yukon-Kuskokwim.Pa i s a g e m e Id e n t i d a d eEm tempos passa<strong>dos</strong>, a paisagem construía nossaimagem mental que, por sua vez, formava nossasidenti<strong>da</strong>des. Cresci como parte inseparável <strong>da</strong> Natureza.Não era minha função ser “dono” <strong>da</strong> terra, nemdomesticar plantas ou animais, que geralmente têm maispoder do que eu como ser humano.© Al Grillo/AP ImageseJournal USA 10


Sabemos que a Mãe Natureza tem uma culturaprópria, nativa.É por isso que nós, como povos nativos, temos deimitá-la. Sabemos que Ellam Yua, Pessoa ou Espírito doUniverso, vive nela. É por isso que ela serve como nossaguia, mestra e mentora.Precisamos passar muito tempo na Natureza paracomungar com a Grande Consciência. Isso dá equilíbrioao nativo. Ela nos estimula a ser altruístas, tratando com omáximo respeito tudo ao nosso redor, incluindo a flora, afauna e to<strong>dos</strong> os elementos <strong>da</strong> Mãe Terra — ventos, rios,lagos, montanhas, nuvens, estrelas, a Via Láctea, o sol, alua e as correntes do oceano. A Mãe Terra me dá tudo oque preciso saber para poder resolver problemas. Mas ostempos mu<strong>da</strong>ram, fazendo com que viver uma vi<strong>da</strong> emharmonia com a Mãe Terra seja mais difícil.Os missionários e o sistema educacional causaramo primeiro impacto. No final do século 19 e início <strong>dos</strong>éculo 20, foi a vez do povo iupiate conhecer as escolas<strong>da</strong>s igrejas cristãs sob contrato com o governo <strong>dos</strong> EUA.Internatos foram cria<strong>dos</strong> para os jovens nativos do Alasca.A educação foi organiza<strong>da</strong> para os povos indígenas assimilarema visão de mundo tecno-mecanicista e consumista. Era umaeducação que oprimia e suprimia a língua e cultura indígenas.Naquela época, os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> haviam se tornado muitohabili<strong>dos</strong>os em organizar e administrar internatos para osindígenas americanos. As crianças indígenas eram tira<strong>da</strong>s deseus pais e suas aldeias por longos perío<strong>dos</strong>. Ao voltarempara as aldeias, não conseguiam mais se a<strong>da</strong>ptar.As necessi<strong>da</strong>des e os desejos delas eram o oposto <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> na aldeia. A educação por assimilação era eficaz aponto de fazer com que a maioria <strong>dos</strong> jovens indígenassuprimissem seu próprio modo de ser.Angayuqaq Oscar Kawagley, ancião iupiaque e professor emérito <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de do Alasca, Fairbanks.Cortesia: Angayuqaq Oscar Kawagley/Foto: Sean TopkokA partir do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960 até o presente,os povos indígenas têm trabalhado diligentemente paramu<strong>da</strong>r a educação, de modo que ela acomode suaslínguas, visões de mundo, cultura e tecnologia. Esse éum processo lento de cura para as aldeias. Nossa missãoeducacional é produzir seres humanos que estão em casa,em seu lugar, seu ambiente e seu mundo. Isso está sendofeito lentamente por meio <strong>dos</strong> esforços <strong>dos</strong> própriospovos indígenas com o apoio de outros que pensam demaneira similar.Un i n d o Sa b e d o r i a Tr a d i c i o n a l e Te c n o l o g i aOs iupiates têm sido proativos ao redirecionar osistema educacional para seus filhos e têm mostradoa mesma atitude ao li<strong>da</strong>r com os efeitos <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nçaclimática. Eles olham para a forma como seus ancestraisli<strong>da</strong>ram esse assunto no passado e aplicam o queaprenderam no presente. Uma vez sabendo o quedeve ser feito, elaboram um plano e pedem auxíliotécnico de engenheiros, hidrólogos, geógrafos e outroscientistas cujos conhecimentos e habili<strong>da</strong>des fornecerão aorientação necessária.Por exemplo, os habitantes <strong>da</strong> aldeia de Newtok, quesofreu grande erosão, assumiram papéis de liderança aoplanejar a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> aldeia. Isso significa a busca derecursos financeiros, a análise de um possível novo localpara a aldeia e o envolvimento <strong>dos</strong> anciãos e geólogospara que avaliem se as escolhas estão corretas. Esse é umprojeto liderado e organizado pela aldeia para a mu<strong>da</strong>nçade tudo: casas, aeródromo, poços de água e outrasinstalações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Os iupiates também são proativos na limpeza <strong>da</strong>sáreas de desova para os salmões. Eles têm encontrosperiódicos com especialistas <strong>da</strong> indústria pesqueira doestado para expor suas preocupações e tratar de problemaspara os quais precisam de aju<strong>da</strong> técnica.Os povos indígenas se dão conta de que o saber eo fazer tradicionais podem se beneficiar <strong>da</strong> assistênciatécnica forneci<strong>da</strong> por várias ciências disciplinares parafortalecer seus planos e seu trabalho. Juntar os doistipos de saber resulta em muito mais poder e, espera-se,contribui para que se faça o que é certo. É por meio detais colaborações que o choque histórico <strong>da</strong>s visões demundo, refletido na frase “O Alasca lhe pertence”, podese tornar uma força para novos entendimentos e soluçõespara os muitos desafios que enfrentamos juntos. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 11


VALORES DEMOCRÁTICOS INDÍGENAS E GOVERNANÇAIdeias de Governança <strong>dos</strong> Indígenas Americanose a Constituição <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>Bruce E. JohansenCinto wampum. Contas de conchas brancas, ou “wampum” na língua narragansett, eram enfia<strong>da</strong>s ou teci<strong>da</strong>s nos cintos usa<strong>dos</strong>pelos iroqueses para registrar a história, fazer contratos, marcar eventos especiais ou presentear. Acredita-se que este cintoregistrou a visita de um cacique ojíbua ocidental ao rei inglês George IIICortesia: Museu Nacional do Índio Americano,Instituto SmithsonianoBruce E. Johansen é professor <strong>da</strong> cátedra Frederick W. Kayserna Escola de Comunicação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Nebraska, emOmaha. Em coautoria com Donald A. Grinde Jr., foi pioneiro<strong>da</strong> pesquisa antes controversa e agora amplamente aceita sobrea expressiva influência <strong>da</strong>s práticas de governo <strong>dos</strong> indígenasamericanos na Constituição <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.Além <strong>dos</strong> já conheci<strong>dos</strong> precedentes europeus — <strong>da</strong>Grécia, de Roma, e <strong>da</strong> common law inglesa, entreoutros — as ideias de democracia <strong>dos</strong> indígenasamericanos modelaram o governo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. Osimigrantes viajaram para a América colonial em busca deliber<strong>da</strong>de e a encontraram nas confederações <strong>dos</strong> iroquesese de outras nações indígenas. Na época <strong>da</strong> ConvençãoConstitucional de 1787, essas ideias eram comuns nasantigas colônias, ilustra<strong>da</strong>s em debates envolvendoBenjamin Franklin, Thomas Jefferson e John A<strong>da</strong>ms. Maistarde, durante o século 19, as concepções <strong>dos</strong> iroquesessobre relações de gênero causaram impacto considerável nosprincipais arquitetos do feminismo americano. Essas ideiasiluminam hoje os debates políticos.Em to<strong>da</strong> a parte oriental <strong>da</strong> América do Norte, asnações indígenas tinham formado confederações quandoencontraram os imigrantes europeus: os semínolas ondehoje é a Flori<strong>da</strong>, os cheroquis e choctaws nas Carolinas e osiroqueses e seus alia<strong>dos</strong>, os wyandots (hurons), no interiorde Nova York e no vale Saint Lawrence.O sistema de confederação <strong>dos</strong> iroqueses era o maisconhecido <strong>dos</strong> colonos, em grande parte devido ao fato deos iroqueses ocuparem uma posição decisiva na diplomacia,não só entre ingleses e franceses mas também entre outrasconfederações indígenas. Chama<strong>dos</strong> de iroqueses pelosfranceses e de cinco nações (mais tarde seis) pelos ingleses,os povos iroqueses, que se autointitulavam haudenosaunee,“povo <strong>da</strong> casa comunitária (longhouse)”, controlavama única passagem de terra relativamente plana entre ascolonias inglesas na costa oriental e os assentamentosfranceses no vale Saint Lawrence.A confederação <strong>dos</strong> iroqueses era forma<strong>da</strong> pelo líderhuron Deganawi<strong>da</strong>h, “ o pacificador” na tradição oralhaudenosaunee, que conseguiu aju<strong>da</strong> de Aiowantha (àsvezes chamado de Hiawatha) para difundir sua visão deuma confederação para controlar as rivali<strong>da</strong>des sangrentas.A confederação incluía originalmente os mohawks, onei<strong>da</strong>s,onon<strong>da</strong>gas, cayugas, e senecas. Os tuscaroras, a sexta nação,migraram para o país <strong>dos</strong> iroqueses no início do século 18e foram aceitos. A confederação <strong>da</strong>ta provavelmente <strong>dos</strong>éculo 12 <strong>da</strong> Era Comum, de acordo com pesquisas feitaspor Barbara A. Mann e Jerry Fields <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deToledo.eJournal USA 12


A principal lei <strong>dos</strong> hudenosaunee (iroqueses), aGrande Lei <strong>da</strong> Paz , estabelece até hoje que os caciques(sachem) devem ser insensíveis para resistir às críticasde seus constituintes: os caciques devem esforçar-se pormanter a calma quando as pessoas observam sua condutanos assuntos governamentais. Esse ponto de vista permeiaos escritos de Jefferson e Franklin, apesar de só ter sidototalmente codificado em lei nos EUA por ocasião <strong>da</strong>decisão <strong>da</strong> Suprema Corte no caso New York Times v.Sullivan (1964), que tornou praticamente impossível aosagentes do governo abrir processos por crime de imprensa.A Grande Lei <strong>da</strong> Paz também estabelece a remoção<strong>dos</strong> chefes que não estejam mais aptos a trabalhar nocargo, medi<strong>da</strong> notavelmente semelhante a uma emen<strong>da</strong>constitucional adota<strong>da</strong> nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> no fim <strong>dos</strong>éculo 20 determinando a remoção de um presidenteincapacitado. A Grande Lei inclui cláusulas garantindoliber<strong>da</strong>de de religião e direito de reparação perante oGrande Conselho. Proíbe a entra<strong>da</strong> em domicílios semautorização — medi<strong>da</strong>s essas familiares aos ci<strong>da</strong>dãos <strong>dos</strong>EUA pela Declaração de Direitos Humanos.O procedimento de debater as políticas <strong>da</strong>confederação começa com os mohawks e os senecas,chama<strong>dos</strong> “irmãos mais velhos”. Depois de debati<strong>da</strong> pelosGuardiões <strong>da</strong> Porta Oriental (mohawks) e pelos Guardiões<strong>da</strong> Porta Ocidental (senecas), a questão é atira<strong>da</strong> “através dofogo” para os estadistas onei<strong>da</strong>s e cayugas, os “irmãos maisnovos”, para discussão. Após atingido o consenso entre osonei<strong>da</strong>s e os cayugas, a questão volta para os senecas e osmohawks para confirmação. Em segui<strong>da</strong>, é coloca<strong>da</strong> diante<strong>dos</strong> onon<strong>da</strong>gas, que tentam resolveros conflitos remanescentes.Nesse estágio, os onon<strong>da</strong>gasexercem um poder semelhante àrevisão judicial e às funções cria<strong>da</strong>snos comitês de sistematização doCongresso <strong>dos</strong> EUA. Eles podemlevantar objeções sobre as propostasse as considerarem inconsistentescom a Grande Lei. Principalmente,o conselho pode reescrever a leiproposta de modo a deixá-la deacordo com a constituição <strong>dos</strong>iroqueses. Quando os onon<strong>da</strong>gaschegam ao consenso, o Tado<strong>da</strong>ho,diretor executivo do GrandeConselho, confirma a decisão.Esse processo reflete a ênfase nasverificações e avaliações, no debatepúblico e no consenso. A intençãogeral desse procedimento parlamentar é encorajar a uni<strong>da</strong>deem ca<strong>da</strong> passo.A Co n f e d e r a ç ã o d o s Ir o q u e s e s e a FederalEm 1744, em Lancaster, Pensilvânia, Canassatego, oiroquês Tado<strong>da</strong>ho, transmitiu aos representantes coloniaisos conceitos de uni<strong>da</strong>de:Nossos sábios antepassa<strong>dos</strong> estabelecerama união e a amizade entre as cinco nações.Isso nos fez grandes, nos deu grande pesoe autori<strong>da</strong>de sobre as nações vizinhas.Somos uma confederação poderosa; se vocêsseguirem os mesmos méto<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> nossosantepassa<strong>dos</strong>, adquirirão igual força e poder.Portanto, aconteça o que acontecer, nunca sedesenten<strong>da</strong>m uns com os outros.Benjamin Franklin provavelmente ouviu o conselhode Canassatego às colônias quando publicou as palavras docacique. Franklin publicou trata<strong>dos</strong> indígenas em pequenoslivretos, com ven<strong>da</strong> ativa em to<strong>da</strong>s as colônias, de 1736 a1762. Mesmo antes do Congresso de Albany, a primeiratentativa para unificar as colônias, Benjamin Franklin andourefletindo sobre as palavras de Canassatego. Utilizando osexemplos de uni<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> iroqueses, em 1751 Franklinprocurou humilhar os colonos relutantes em alguma formade união ao aplicar-lhes uma repreensão racial exagera<strong>da</strong>:“Seria uma coisa estranha … se seis nações de selvagensIndígenas americanos colhendo milho. Xilogravura colori<strong>da</strong> a mão com leve cama<strong>da</strong> de aquarela© Arquivos North Wind PictureeJournal USA 13


ignorantes fossem capazes de formar uma união e pudessemrealizá-lo de tal modo a subsistir por anos e parecerindissolúvel e, ain<strong>da</strong>, que uma união semelhante fosseimpraticável para dez ou doze colônias inglesas, a quem émais necessária e provavelmente mais vantajosa.” Realmente,as evidências subsequentes mostram que Franklin tinhaum respeito saudável pelos iroqueses. Começou sua ilustrecarreira diplomática representando a Pensilvânia em trata<strong>dos</strong>com os iroqueses e seus alia<strong>dos</strong>, quando tornou-se fortedefensor <strong>da</strong> união colonial.Em 10 de julho de 1754, Franklin propôs formalmenteseu plano de união diante do Congresso de Albany. Franklinescreveu que os debates sobre o plano de Albany “...eram diários, lado a lado com os negócios indígenas”. Ocacique iroquês Tiyanoga não somente falou para os quase200 indígenas presentes no Congresso de Albany comotambém instruiu os delega<strong>dos</strong> coloniais sobre os sistemaspolíticos iroqueses, mais do queCanassatego tinha feito 10 anosantes.Ao preparar o esboço finaldo plano de Albany para aunificação colonial, Franklinencontrou diversos pedi<strong>dos</strong>diplomáticos: <strong>dos</strong> britânicos,solicitação de controle; <strong>da</strong>scolônias, autonomia em uma confederação livre; e <strong>dos</strong>iroqueses, uma união colonial semelhante à deles própriosem forma e função. Para os britânicos, o plano estipulou ogoverno por um presidente geral indicado pela Inglaterra.Às colônias individuais foi permitido manter suas própriasconstituições, com exceção <strong>da</strong>s excluí<strong>da</strong>s pelo plano. Aretenção <strong>da</strong> soberania interna nas colônias individuaislembrava bem de perto o sistema iroquês e não tinhaprecedente na Europa.Th o m a s Jefferson e o s Co n c e i t o s In d í g e n a sAm e r i c a n o s d e Go v e r n a n ç aEmbora Franklin e Jefferson fossem muito pragmáticospara acreditar que podiam copiar o “estado natural”, suasimagens foram logo liga<strong>da</strong>s ao sistema ideológico nacional<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. Jefferson escreveu: “A única condiçãona terra a ser compara<strong>da</strong> às nossas, em minha opinião, éa <strong>dos</strong> indígenas, que têm ain<strong>da</strong> menos leis do que nós.”Quando Thomas Paine escreveu, na primeira página deseu influente panfleto Common Sense, que o “governo, domesmo modo que o vestuário, é o distintivo <strong>da</strong> inocênciaperdi<strong>da</strong>”, ele estava recapitulando observações <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>desindígenas americanas.A retenção <strong>da</strong> soberania internanas colônias individuaislembrava bem de perto o sistemairoquês e não tinha precedentena Europa.Em correspondência a Edward Carrington em 1787,Jefferson ligou liber<strong>da</strong>de de expressão a opinião pública efelici<strong>da</strong>de, citando as socie<strong>da</strong>des de indígenas americanoscomo exemplo:Sendo a opinião do povo a base de nossogoverno, nosso principal objetivo deve ser o deconservá-la bem, e se couber a mim decidir sedevemos ter um governo sem jornais ou jornaissem um governo, não hesitarei um momentoem preferir o último. … Estou convencido deque essas socie<strong>da</strong>des [como as <strong>dos</strong> indígenas]que vivem sem governo possuem, em suamaioria, grau infinitamente maior de felici<strong>da</strong>dedo que aquelas que vivem sob governoseuropeus.“Sem governo”provavelmente não era omesmo que “sem ordem social”para Jefferson. Ele, Frankline Paine, to<strong>dos</strong> conheciammuito bem as socie<strong>da</strong>desindígenas para argumentarque os indígenas americanosfuncionavam sem coesãosocial. Era evidente que os iroqueses, por exemplo, nãoorganizaram uma confederação com alianças espalha<strong>da</strong>smuito além do nordeste <strong>da</strong> América do Norte “semgoverno.” Eles fizeram isso, contudo, com uma concepçãonão europeia de governo, uma que os estu<strong>da</strong>ntes Jefferson,Paine e Franklin apreciavam e procuravam decompor em“leis naturais” e “direitos naturais” em seus projetos para osEsta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> durante a era revolucionária.De b at e a Respeito e Federalismo n aCo n v e n ç ã o Co n s t i t u c i o n a lEm junho de 1787, os delega<strong>dos</strong> para a ConvençãoConstitucional estavam envolvi<strong>dos</strong> em um debate sobrea natureza fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> União. Muitos delega<strong>dos</strong>pareciam concor<strong>da</strong>r com James Wilson quando eledeclarou, em 1 de junho de 1787, que não seria“governado pelo modelo britânico que não era aplicávelpara ... este país”. Wilson acreditava que os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>eram um país tão grande e seus ideais tão “republicanosque na<strong>da</strong>, a não ser uma grande república confedera<strong>da</strong>,seria adequado”.Em 1787, às vésperas <strong>da</strong> Convenção Constitucional,John A<strong>da</strong>ms publicou seu A Defence of the ConstitutionseJournal USA 14


Historiador Bruce E. Johansenof Government of the United States of America [UmaDefesa <strong>da</strong>s Constituições do Governo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> <strong>da</strong>América]. Embora tivesse sido escolhido como delegadopor Massachusetts para a Convenção Constitucional,preferiu não atender e, em vez disso, publicou seu longoensaio. O Defence de A<strong>da</strong>ms é um levantamento críticode governos mundiais que incluiu uma descrição <strong>dos</strong>iroqueses e de outros governos indígenas americanose exemplos históricos deconfederações na Europa e naÁsia.O Defence de A<strong>da</strong>msnão é um en<strong>dos</strong>so claro aosmodelos indígenas de governo.Ele refuta os argumentos deFranklin, que defendia umalegislatura única semelhante ao Grande Conselho <strong>dos</strong>iroqueses, modelo que foi usado no plano de Albanye nos artigos <strong>da</strong> confederação. A<strong>da</strong>ms não confiava nomodelo de consenso que parecia favorecer os iroqueses.A<strong>da</strong>ms acreditava que sem as verificações e avaliaçõesaplica<strong>da</strong>s às duas casas, o sistema sucumbiria aos interessese se transformaria em anarquia ou despotismo. QuandoA<strong>da</strong>ms descreveu a independência <strong>dos</strong> mohawks, ele foicrítico, ao passo que Franklin escreveu sobre os governosindígenas de modo mais aprovativo.Cortesia: Bruce E. Johansen, foto por Michelle BishopO papel <strong>da</strong> mulher em uma socie<strong>da</strong>deiroquês inspirou alguns <strong>dos</strong> maisinfluentes defensores do feminismomoderno <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.As Id e i a s Do s In d í g e n a s e a s Or i g e n s d oFe m i n i s m o Am e r i c a n oUm aspecto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> indígenas americanos quealterna<strong>da</strong>mente intrigou, desnorteou e algumas vezesalarmou os observadores europeus e europeus-americanos,a maioria <strong>dos</strong> quais homens, durante os séculos 17 e18, foi o papel influente <strong>da</strong> mulher. Em muitos casos,elas ocupavam posições decisivas nos sistemas políticosindígenas. As mulheres iroqueses, por exemplo, indicamhomens para posições de liderança e podem “tirar-lhes oschifres”, ou afastá-los, por má conduta. As mulheres emgeral têm poder de veto nos planos <strong>dos</strong> homens para asguerras. Em uma socie<strong>da</strong>de matrilinear — e quase to<strong>da</strong>s asconfederações que faziam fronteira com as colônias erammatrilineares — as mulheres eram proprietárias de to<strong>dos</strong>os utensílios domésticos, exceto as roupas masculinas,as armas e os implementos de caça. Eram também asprincipais transmissoras <strong>da</strong> cultura de geração para geração.O papel <strong>da</strong> mulher em uma socie<strong>da</strong>de iroquês inspiroualguns <strong>dos</strong> mais influentes defensores do feminismomoderno nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. O exemplo iroquês queSally R. Wagner chama de “a primeira on<strong>da</strong> de feminismo”figura em destaque em um livro inspirador, Woman,Church, and State (1893), deMatil<strong>da</strong> Joslyn Gage. Nesselivro, Gage admite, de acordocom pesquisas de Wagnerque “o mundo moderno [é]devedor [<strong>dos</strong> iroqueses] porsua primeira concepção dedireitos inerentes, igual<strong>da</strong>denatural de condições e estabelecimento de um governocivilizado sobre essas bases”.Gage foi uma <strong>da</strong>s três feministas americanas maisinfluentes do século 19, juntamente com Elizabeth CadyStanton e Susan B. Anthony. A própria Gage foi admiti<strong>da</strong>no Conselho Iroquês de Matronas e aceita no Clã <strong>dos</strong> Loboscom o nome de Karonienhawi, “a que sustenta o céu”. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente os pontos devista ou políticas do governo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.eJournal USA 15


O Vaivém <strong>da</strong> Política IndigenistaJace WeaverJace Weaver é professor de Religião e Estu<strong>dos</strong> sobre osIndígenas Americanos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Franklin, professor deDireito e diretor do Programa do Instituto de Estu<strong>dos</strong> sobreos Indígenas Americanos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Geórgia emAtenas, na Geórgia. Com diploma em Ciências Políticas,Teologia e Direito, seu trabalho é interdisciplinar. Escreveuou editou nove livros e está trabalhando atualmente com suaesposa, Laura A<strong>da</strong>ms Weaver, em umlivro sobre a remoção <strong>dos</strong> cheroquis.Em 2009 foi consultor <strong>da</strong> série dedocumentários We Shall Remain[Nós Permaneceremos] <strong>da</strong> PBS,Episódio 3, “Trail of Tears” [Trilha<strong>da</strong>s Lágrimas], que apresenta ahistória sob a perspectiva <strong>dos</strong> índios.Tem ascendência cheroqui.Quando os americanosassistiram ao noticiárionoturno na televisãoem 21 de novembro de 1969, amaioria ficou choca<strong>da</strong> ao saberque índios haviam ocupadoa prisão federal abandona<strong>da</strong><strong>da</strong> Ilha de Alcatraz na Baíade São Francisco. A surpresaresultava não tanto do atode ativismo radical — em1969 os americanos tinhamse acostumado a ver protestosna TV — mas do fato deain<strong>da</strong> existirem índios. Paramuitos americanos, os índios(ou ameríndios) não haviam sobrevivido ao século19. Eles esqueceram de sua existência desde adeclaração do fim <strong>da</strong>s guerras indígenas em 1890.A ignorância <strong>dos</strong> americanos comuns deve serperdoa<strong>da</strong>. A mídia pouco fez para cobrir assuntosenvolvendo os habitantes indígenas <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.Henry Luce não era diferente. O poderoso editor-chefe<strong>da</strong>s revistas Time e Life tinha “uma política absoluta eostensivamente inviolável contra publicar histórias sobreíndios em qualquer parte do país”. Luce considerava osíndios americanos contemporâneos “falsos”, segundoAlvin Josephy em “New England Indians: Then and Now”[“Índios <strong>da</strong> Nova Inglaterra: Ontem e Hoje”], capítulo dePágina de recibo <strong>dos</strong> pagamentos feitos aos chefes <strong>da</strong>tribo <strong>dos</strong> iroqueses pelas terras cedi<strong>da</strong>s à Grã-Bretanhano Tratado de Forte Stanwix (1789), um <strong>dos</strong> muitosdocumentos do mesmo tipo que definiram as relaçõesentre os colonizadores e as tribos indígenas. Os chefesassinaram mediante a inscrição de seus animais totemintrodução em The Pequots in Southern New England: TheFall and Rise of an American Indian Nation [Os Pequotsno Sul <strong>da</strong> Nova Inglaterra: Que<strong>da</strong> e Renascimento de umaNação Ameríndia] (1990).Os ocupantes indígenas de Alcatraz basearam suasações em uma noção vaga de que o Tratado de FortLaramie de 1868, que encerrou a guerra do chefe NuvemVermelha <strong>da</strong> tribo <strong>dos</strong> oglala lacotas contra os Esta<strong>dos</strong>Uni<strong>dos</strong>, permitia aos índiosreclamarem mais proprie<strong>da</strong>desfederais. A ilha ficou em poder<strong>dos</strong> índios durante 19 meses.Essa foi a primeira de váriasocupações e outros protestos domesmo tipo.Esses acontecimentos não sódespertaram a população geralpara a presença <strong>dos</strong> índios emtempos modernos como tambémnão passaram desapercebi<strong>dos</strong>nos corredores do poder. Emjulho de 1970, em mensagemespecial ao Congresso <strong>dos</strong> EUA,o presidente Richard Nixon(1969-1974) anunciou umanova orientação nas políticasindígenas, a autodeterminação.© North Wind Picture ArchivesAgora, as tribos indígenasseriam incentiva<strong>da</strong>s a li<strong>da</strong>r comseus próprios assuntos. Essapolítica veio substituir aquelaque predominou durante os25 anos anteriores, a políticade término (Termination), quepôs fim ao reconhecimento<strong>da</strong> soberania <strong>da</strong>s nações indígenas, suas leis tribais e aadministração <strong>da</strong>s próprias terras. Mediante assimilaçãoe legislação, os governos estaduais e federal procuraramencerrar o relacionamento especial entre as tribos e ogoverno, definido pelos trata<strong>dos</strong> e, essencialmente, apagara existência de culturas indígenas distintas.De fato, durante 233 anos, as políticas governamentaisem relação aos habitantes originais do país oscilaramcomo um pêndulo entre o incentivo à sobrevivênciacultural e a assimilação agressiva. À medi<strong>da</strong> que ca<strong>da</strong>era de políticas <strong>da</strong>va lugar à seguinte, o objetivo era,to<strong>da</strong>s as vezes, resolver o “problema indígena”. Paraos formuladores de políticas, o problema era o statuseJournal USA 16


especial <strong>dos</strong> índios e <strong>da</strong>s tribos indígenas, que no Canadá(onde a lei e as políticas igualam-se em grande parteàs <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>) é chamado de “citizenshipplus”(ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaespecial). As tribos indígenas são naçõessoberanas separa<strong>da</strong>s dentro do sistema federal. Elas são“nações dentro de uma nação”, status confirmado pelostrata<strong>dos</strong> e pela Constituição <strong>dos</strong> EUA. Membros detribos reconheci<strong>da</strong>s em âmbito federal são, dessa forma,ci<strong>da</strong>dãos tanto <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> quanto de sua naçãonativa. Em quase to<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça política, os legisladoresbuscaram tirar o governo federal “<strong>da</strong> questão indígena”.Au t o r i d a d e s o b r e o s Ín d i o sRealmente, para entender as políticas sobre os índiosamericanos e o seu lugar, devemos voltar no tempo atéantes do início do período colonial. Depois do fim <strong>da</strong>Guerra Franco-Indígena em 1763, a França cedeu aNova França (Canadá e as terras entre o Rio Mississippie as chama<strong>da</strong>s montanhas do leste) para a Grã-Bretanha.Para manter a ordem no território recém-adquirido, o reiGeorge III emitiu uma resolução real. Ela determinavaque nem os indivíduos nem os colonos podiam comprarou tirar terras <strong>dos</strong> índios. Assim, somente a Coroa poderiatirar as terras <strong>dos</strong> índios, e havia um único modo de obtêlas:um tratado pelo qual uma tribo cederia suas terras. Pelaresolução, deveria ser estabeleci<strong>da</strong> uma “linha permanentede assentamento de brancos” na América do Norte. Para as13 colônias americanas, essa era a cordilheira <strong>dos</strong> MontesApalaches, uma linha de demarcação que foi viola<strong>da</strong>mesmo antes de ser estabeleci<strong>da</strong>.Após a Revolução Americana (1775-1783), os Esta<strong>dos</strong>Uni<strong>dos</strong> assumiram o lugar <strong>da</strong> Grã-Bretanha. A Constituição<strong>dos</strong> EUA (artigo I, seção 8) deu ao Congresso o poder de“regular o comércio ... com as tribos indígenas”. Com opassar do tempo, isso foi interpretado como autori<strong>da</strong>deexclusiva e total do governo federal sobre os índios.Em 1790, o Congresso aprovou a Lei de Comércio eRelacionamento com Indígenas, que refletia a resolução real.Antes de se tornar presidente, George Washington escreveuque as políticas e a pratici<strong>da</strong>de apontam decisivamente para... a conveniência de comprar suas terras em lugarde tentar arrancá-los de seu território pela força <strong>da</strong>sarmas, fato que, conforme comprovado por nossaexperiência, é comparável a retirar feras <strong>da</strong> floresta,pois retornarão tão logo a perseguição termine e talvezataquem os que lá ficaram; já a ampliação gradual denossos assentamentos certamente fará os selvagensse retirarem, à semelhança <strong>dos</strong> lobos, já que ambossão animais de caça, embora de formatos diferentes.(George Washington, Carta para James Duane, 7 desetembro de 1783, citação em Francis Paul Prucha, ed.,Documents of United States Indian Policy (1990))O presidente Washington (1789-1797) seguiu umapolítica de assimilação in loco, “civilização” e incorporação<strong>dos</strong> índios à nova nação onde estavam localiza<strong>dos</strong>.Embora a posição de Washington tivesse continuadoa ser a política oficial durante 40 anos, na época em queThomas Jefferson presidiu o país (1801-1809), houvesinais de mu<strong>da</strong>nça. Imitando George Washington, masjá insinuando uma nova política, Jefferson escreveu:“Nossos assentamentos pouco a pouco envolverão eaproximarão os índios e, no momento certo, eles seunirão a nós como ci<strong>da</strong>dãos <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> ouserão removi<strong>dos</strong> para além do Mississippi. A primeiraalternativa certamente será o final de história mais felizpara eles” (Thomas Jefferson, carta para William HenryHarrison, 27 de fevereiro, 1803). Após a compra <strong>da</strong>Louisiana, ele até sugeriu definir o Rio Mississippi comoa nova linha permanente de assentamento de brancos naAmérica do Norte. Embora Jefferson tenha abandonadoa idéia rapi<strong>da</strong>mente, <strong>da</strong>li em diante a remoção <strong>dos</strong> índiospara o Oeste tornou-se parte do discurso público e umainevitabili<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez maior. Em 1830, o Congressoaprovou a Lei de Remoção <strong>dos</strong> Índios. De 1831 a 1839,as principais tribos do sudeste, as chama<strong>da</strong>s cinco tribosciviliza<strong>da</strong>s, foram desloca<strong>da</strong>s para o Território Indígena(atualmente Oklahoma). Essa medi<strong>da</strong> foi destina<strong>da</strong> aremover um obstáculo ao assentamento <strong>dos</strong> brancos,mas também tinha o objetivo de permitir que as naçõesindígenas mantivessem seus governos e suas culturas fora<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.O apoio à política de remoção diminuiu, em grandeparte, devido à brutali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> marcha força<strong>da</strong> <strong>dos</strong> cheroquispara o Oeste, uma viagem penosa conheci<strong>da</strong> como a Trilha<strong>da</strong>s Lágrimas. Após 1839, dissensões entre o Norte e oSul, que levariam à Guerra Civil Americana (1861-1865),dominaram a agen<strong>da</strong> política. Os índios foram ignora<strong>dos</strong>.Depois <strong>da</strong> Guerra Civil, contudo, a expansão para o Oestecomeçou novamente. Havia uma vez mais a necessi<strong>da</strong>de dedeslocar os índios que representavam impedimento para oassentamento de brancos. Isso marcou o início do período <strong>da</strong>política <strong>da</strong>s reservas.A política <strong>da</strong>s reservas foi prevista para ser umamedi<strong>da</strong> temporária enquanto os índios eram prepara<strong>dos</strong>para serem ci<strong>da</strong>dãos, mediante ensinamentos sobrecomo cui<strong>da</strong>r de plantações e artes mecânicas. As terras<strong>da</strong>s reservas eram manti<strong>da</strong>s pelo governo federal emsistema comunal e de fideicomisso com os índios quelá viviam. Em 1887, como mais uma ferramenta para“civilizar” os indígenas, o Congresso decidiu concederlhesa proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>. De acordo com a Lei Geralde Loteamento, as reservas foram desmembra<strong>da</strong>s empequenos lotes e <strong>da</strong><strong>dos</strong> a índios e a famílias indígenas.Com a política de loteamento, o pêndulo apontou denovo para a assimilação força<strong>da</strong>. Em 1901, o presidenteTheodore Roosevelt (1901-1909) chamou essa medi<strong>da</strong>de “poderoso motor pulverizador para destruir a massaeJournal USA 17


tribal” (Theodore Roosevolt, Primeira Mensagem Anualao Congresso, 3 de dezembro de 1901). Como resultado<strong>da</strong> política de loteamento, 65% <strong>da</strong>s terras indígenassaíram <strong>da</strong>s mãos <strong>dos</strong> índios entre 1887 e 1934.O New De a l d o s Ín d i o sComo to<strong>da</strong>s as outras políticas antes delas, as reservas eo loteamento não conseguiram atingir as metas pretendi<strong>da</strong>se solucionar a “questão indígena”. Os ventos <strong>da</strong> políticamu<strong>da</strong>ram de direção. Coube ao primo de TheodoreRoosevelt a tarefa de mu<strong>da</strong>r as políticas, encaminhando-asde novo para a preservação política e cultural. Durante oman<strong>da</strong>to de Franklin Roosevelt (1933-1945), o secretáriodo Interior Harold Ickes e o comissário para AssuntosIndígenas John Collier criaram o New Deal <strong>dos</strong> índios.O fun<strong>da</strong>mento do New Deal <strong>dos</strong> índios foi a Lei deReorganização Indígena (IRA) de 1934. Essa lei incentivouas tribos a escreverem constituições e se autogovernarem,embora sujeitas à supervisão do Bureau de AssuntosIndígenas. Embora algumas nações tribais resistissem à IRApor infringir a soberania nacional tribal inerente, a nova erade políticas representava uma mu<strong>da</strong>nça importante paramelhor. A lei também encerrou a política de loteamento elegalizou a prática de religiões indígenas tradicionais (quehaviam sido criminaliza<strong>da</strong>s durante o período <strong>da</strong>s reservas).Da mesma forma como os acontecimentos que levaramà Guerra Civil afastaram os índios <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> pública, assimtambém ocorreu com a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Nosanos seguintes à guerra, no entanto, as forças contráriasà soberania <strong>dos</strong> índios voltaram à carga e iniciaram atentativa de anular o New Deal <strong>dos</strong> índios. Em 1948,o Congresso criou uma comissão especial no governo,presidi<strong>da</strong> por Herbert Hoover. Como presidente (1929-1933), Hoover tinha já suspendido o loteamento, masna<strong>da</strong> havia feito para alterar as políticas. Apesar <strong>dos</strong> avançosobti<strong>dos</strong> por Franklin Roosevelt, o relatório <strong>da</strong> Comissãode Hoover foi encaminhado a Theodore Roosevelt, com aseguinte afirmação: “A base <strong>da</strong> cultura histórica indígena foielimina<strong>da</strong>. A organização tribal tradicional foi esmaga<strong>da</strong> háuma geração. ... A assimilação deve ser a meta <strong>da</strong>s políticaspúblicas” (Citação em Blood Struggle: The Rise of ModernIndian Nations [Luta Sangrenta: a Ascensão <strong>da</strong>s ModernasNações Indígenas] (2005)), de Charles F. Wilkinson. Apolítica de término, pela qual o governo federal tentouromper seu relacionamento governo a governo com asnações — na ver<strong>da</strong>de abolindo as tribos — tornou-se apolítica federal. Um componente crucial <strong>da</strong> política foi oremanejamento, programa destinado a atrair índios <strong>da</strong>sreservas para as ci<strong>da</strong>des, onde havia necessi<strong>da</strong>de de umagrande massa de trabalhadores. A pessoa que o presidenteHarry Truman (1945-1953) escolheu para administrar apolítica de término e o remanejamento como comissáriopara Assuntos Indígenas foi Dillon S. Myer. A experiênciaanterior de Myer com minorias americanas foi durante aSegun<strong>da</strong> Guerra Mundial, quando chefiou a Administraçãode Remanejamento de Guerra, agência que supervisionavaos campos de concentração <strong>dos</strong> nipoamericanos. Oloteamento levou à per<strong>da</strong> de 65% <strong>da</strong>s terras indígenas;devido principalmente às políticas de término e deremanejamento, hoje mais de 70% <strong>dos</strong> índios americanosvivem fora <strong>da</strong>s reservas.Au t o d e t e r m i n a ç ã oO presidente John F. Kennedy (1961-1963) deu fimà política de término, mas coube ao presidente Nixonanunciar a autodeterminação. Esta última continua a sera política oficial atual. Nos últimos 40 anos, as naçõesindígenas vêm assumindo controle ca<strong>da</strong> vez maior de seudestino, governando a si próprias e a seus ci<strong>da</strong>dãos.Atualmente há 562 tribos reconheci<strong>da</strong>s em âmbitofederal. Embora a pobreza e as dispari<strong>da</strong>des em saúdecontinuem sendo problemas críticos, graças à decisão <strong>da</strong>Suprema Corte no caso Califórnia versus Cabazon Bandof Mission Indians (1987), segundo a qual os esta<strong>dos</strong> nãopodem proibir o jogo em terras indígenas soberanas,algumas tribos conseguiram a independência econômica.As nações tribais aumentaram a zona de soberania tribal.Recentemente, em um livro importante, JeffCorntassel e Richard Witmer sustentaram que a era <strong>da</strong>spolíticas está de volta. Eles argumentam que vivemos naera de “federalismo forçado”, porque desde 1988, coma promulgação <strong>da</strong> Lei de Regulamentação <strong>dos</strong> JogosIndígenas (resposta à decisão de Cabazon), o Congressoexige que as nações indígenas negociem com governosestaduais o estabelecimento de cassinos.Isso representa uma intromissão <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> na soberaniatribal, fato não observado desde a época do término.Embora seja muito cedo para o governo do presidenteBarack Obama discernir que rumo tomará sua políticarelativa aos indígenas, há indícios de que continuará eaté fortalecerá a autodeterminação. Durante a campanhapresidencial de 2008, ele expressou opiniões decisivas afavor <strong>da</strong> soberania <strong>dos</strong> índios. Nomeou Larry Echohawk,um descendente pawnee, acadêmico <strong>da</strong> área jurídica eespecialista em Política e Direito Indígena, para chefiaro Bureau de Assuntos Indígenas. Apesar desses sinaispromissores, os índios americanos continuam cautelosos.A história mostrou-lhes que, se não atualmente, pelomenos em algum momento do futuro, o pêndulopoderá se afastar mais uma vez <strong>da</strong> política de soberania esobrevivência, oscilando para a assimilação e a extinção. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 18


As Pessoas e as Art e s© George LongfishGeorge Longfish. As Above, So Below [Tanto acima como abaixo], 1998. Acrílico sobre tela.Nascido no Canadá, de descendência seneca e tuscarora, a arte versátil de Longfish costuma refletir sobretemas de justiça social e cultura nativaeJournal USA 19


AS PESSOASAs últimas déca<strong>da</strong>s testemunharam o reconhecimento <strong>da</strong> importância <strong>dos</strong> povos indígenas e suascontribuições culturais, não só historicamente, mas também na atuali<strong>da</strong>de. Eles são encontra<strong>dos</strong> em to<strong>da</strong>sas profissões, sendo que muitos trabalham para conservar seu patrimônio e também para representar eeducar as minorias. Esta galeria de fotos destaca apenas alguns indivíduos extraordinários e a nova arte dediferentes comuni<strong>da</strong>des indígenas.Buffy Sainte-Marie, compositora e música.Desde os anos 1960, esta cantora, compositora e música de origemcree, nasci<strong>da</strong> no Canadá, leva sua mensagem de justiça social ao públicode todo o mundo. Sua canção Up Where We Belong ganhou um Oscar© Mike Deal/Winnipeg Free Press/AP ImagesAlejandro Toledo, presidente do Peru.Filho de camponeses de língua quíchua, tornouseem 2001 o primeiro presidente indígenade um país latino-americano, permanecendono poder até 2006. Foi trabalhador infantil e,quando cresceu, continuou seus estu<strong>dos</strong> noPeru e nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>© John Moore/AP Images© Kim Shiflett, NASA/AP ImagesJohn Herrington, astronauta.Índio chickasaw, Herrington foi o primeiro astronautaindígena americano. Voou no ônibus espacialEndeavour em 2002, levando com ele artefatossagra<strong>dos</strong> indígenas e bênçãos tribaisRigoberta Menchú, Prêmio Nobel, Guatemala.Índia quiche (maia), Rigoberta colhia café junto com sua famíliade camponeses antes de tornar-se reformista social. A defesa<strong>dos</strong> direitos indígenas promovi<strong>da</strong> por sua família levou à mortede seu pai, sua mãe, seu irmão, bem como a seu próprio exíliovoluntário. Seu trabalho pelos direitos indígenas e pelo diálogointerétnico recebeu o Prêmio Nobel <strong>da</strong> Paz em 1992© Dado Galdieri/AP ImageseJournal USA 20


O lacrosse é atualmente um esporte popular, mas tem suas raízes finca<strong>da</strong>s nosindígenas <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. Era normalmente praticado com fins rituais, envolvendocentenas de jogadores e espaços gigantescos© Leah Bluntschli/The Denver Post/AP Images© Jeff Geissler/AP ImagesChris Eyre, diretor de cinema.Adotado e criado por uma família branca,mas de descendência cheiene e arapaho,Chris voltou a suas raízes indígenas nai<strong>da</strong>de adulta. Seus filmes, tais como “Sinaisde Fumaça” para o qual o escritor nativoamericano, Sherman Alexie, escreveuo roteiro, exploram aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>indígena nos EUA© Erik Hill/Anchorage Daily News/AP ImagesWes Studi, ator.Conhecido por seus personagens Magua em O Último <strong>dos</strong> Moicanos (1992) eGerônimo em Gerônimo: Uma Len<strong>da</strong> Americana (1993), está entre os atores indígenasque conquistaram um nome na indústria do cinema desde que os diretores deelenco começaram a escalar indígenas autênticos para os papéis de índioeJournal USA 21


AS ARTES© Jim DenomieJim Denomie. Edward Curtis Paparazzi – Black Hills Golf and Country Club [Os Paparazzi de EdwardCurtis -- Clube de Campo e de Golfe Black Hills], 2007. Óleo sobre tela. O acerto de contas<strong>da</strong> cultura nativa com a cultura americana dominante é tema recorrente na obra deste artistaradicado em MinnesotaRoxanne Swentzell. The Emergence of Clowns [O Surgimento <strong>dos</strong> Palhaços], 1988.Esculturas de barro, técnica mista. A cerâmica é uma arte nobre na tribo deSanta Clara Pueblo de onde provém Roxanne. Aqui ela descreve os palhaçossagra<strong>dos</strong>, ou “koshares”, que tradicionalmente zombam <strong>da</strong> loucura e maucomportamento <strong>dos</strong> humanos para incitar as pessoas a se comportarem melhorMuseu Heard, Phoenix, ArizonaJames Luna. Two Worlds War Dance Technology[Tecnologia na Dança de Guerra, DoisMun<strong>dos</strong>], 1990.Técnica mista. Índio luisenho <strong>da</strong> Califórnia,James Luna é um artista de performance einstalação, gênero que, segundo ele, “ofereceuma oportuni<strong>da</strong>de sem igual para queos povos indígenas possam se expressarnas formas de arte tradicional indígena <strong>da</strong>cerimônia, <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, <strong>da</strong>s tradições orais e dopensamento contemporâneo”© James LunaeJournal USA 22eJournal USA 22


© Marcelo Hernandez/ AP ImagesO mercado de teci<strong>dos</strong> andinos feitos à mo<strong>da</strong> antiga, como os que são teci<strong>dos</strong> poresta mulher aimará perto do Lago Titicaca, na Bolívia, sustenta as indústrias caseirasnas economias indígenasFancy Dancing (<strong>da</strong>nça luxuosa e capricha<strong>da</strong> exibi<strong>da</strong> nas reservas indígenas). Osíndios <strong>da</strong>s planícies de Dakota estão entre os que recuperaram a cultura <strong>da</strong> <strong>da</strong>nçacerimonial. Esta Men’s Fancy Feather Dance (elabora<strong>da</strong> <strong>da</strong>nça masculina com trajede penas) foi apresenta<strong>da</strong> em um pow wow (reunião de povos nativos) no Museudo Índio Americano em Washington, DCKenneth White/Departamento de Estado <strong>dos</strong> EUAJolene Nenibah Yazzie. Protector ofInnocence [Protetora <strong>da</strong> Inocência]. Assuper-heroínas indígenas americanas <strong>dos</strong>desenhos <strong>da</strong> ilustradora navajo de históriasem quadrinhos Jolene Nenibah Yazzieforam cria<strong>da</strong>s para “mostrar às mulherescomo reconhecer e apreciar a força queexiste no interior de ca<strong>da</strong> uma delas”,declarou elaCortesia: Jolene Nenibah Yazzie/Museu Nacional do Índio Americano, Instituto SmithsonianoeJournal USA 23eJournal USA 23


Bunky Echo-Hawk. HE WHO[Quem É Ele], 2008.Em maio de 2008, no estadode Montana, Barack Obamafoi adotado pela nação crow,tendo recebido um nome crowque significa “aquele que aju<strong>da</strong>a to<strong>dos</strong> <strong>da</strong> terra”. Black Eagle(Águia Negra) é o sobrenomedo casal de anciãos crow quese tornou seus pais adotivos.O artista Bunky Echo-Hawk(pawnee/Yakima) pintou oretrato em um evento de arteao vivo no Museu de Arte deDenver durante a ConvençãoNacional Democrata de 2008© Bunky Echo-HawkFritz Scholder. Indian No. 16 [Índio No16], 1967. Óleo sobre tela. Parte <strong>da</strong>exposição indígena não indígena noNMAI, 1 de novembro de 2008 – 16de agosto de 2009. Scholder (1937-2005) tinha um quarto de sangueíndio luisenho e lutou com sua origemameríndia em sua arte influentee polêmica. Rejeitou as imagenssentimentais e idealiza<strong>da</strong>s e descreveu amuitas vezes difícil reali<strong>da</strong>de e o conflitointerior vivencia<strong>dos</strong> pelos indígenasamericanos nos dias de hojeCortesia: Museu Nacional do Índio Americano, Instituto Smithsoniano, Coleção deRobert E. HerzsteineJournal USA 24


Com o Lema <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de, Jornal IndígenaVence BatalhaTim Giago é um jornalista e editoroglala lacota que fundou o Lakota Times nareserva Pine Ridge em Dakota do Sul, em1981, o qual mais tarde passou a chamarseIndian Country To<strong>da</strong>y e tornou-se omaior jornal indígena independente dopaís. Giago treinou e orientou inúmerosjornalistas indígenas americanos . Jornalistapremiado, foi o fun<strong>da</strong>dor e primeiropresidente <strong>da</strong> Associação de JornalistasAmeríndios, trabalhou nas mídias impressae fala<strong>da</strong>, é autor de vários livros e redige acoluna semanal “Notes on Indian Country”[Observações sobre o Território Indígena],distribuí<strong>da</strong> em âmbito nacional. Saindo<strong>da</strong> aposentadoria, em abril de 2009 Giagoiniciou o semanário Native Sun News para“voltar à forma tradicional de fornecernotícias para o território indígena” porescrito, e não on-line, escreveu ele em seublogue Huffington Post.Em 1980, 29 anos atrás, não havia nos Esta<strong>dos</strong>Uni<strong>dos</strong> um único jornal semanal independentede proprie<strong>da</strong>de de um indígena americano. Eunão sabia disso quando decidi criar um jornal semanal nareserva indígena Pine Ridge no segundo trimestre de 1981.Um plano de negócios? O que era isso? Não conseguiaentender — até ir ao banco em Rushville, Nebraska,ci<strong>da</strong>de que faz divisa com a reserva — que a taxa de jurosna ocasião girava em torno de 20%. O Censo de 1980<strong>dos</strong> EUA tinha terminado há pouco e denominava ocon<strong>da</strong>do de Shannon, o coração <strong>da</strong> reserva Pine Ridge, deo “con<strong>da</strong>do mais pobre <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>”.Em vista de to<strong>dos</strong> esses fatores negativos, criei umsemanário. Fundei o jornal porque era uma necessi<strong>da</strong>devital. Boatos, fofocas e mentiras corriam soltos, e euacreditava que as pessoas mereciam saber a ver<strong>da</strong>de. Aver<strong>da</strong>de era o meu lema, e foi a ver<strong>da</strong>de que fez dessepequeno novo jornal um sucesso. Em dois anos, nossacirculação espalhou-se por to<strong>da</strong>s as nove reservas dentro<strong>da</strong>s fronteiras de Dakota do Sul. Nos primeiros três anos,passamos de 3 mil para quase 12 mil exemplares semanais.Tim GiagoEditor e jornalista Tim GiagoAr m a s Ve r s u s Pa l av r a sHouve muita violência na reserva depois <strong>da</strong> ocupaçãode Wounded Knee (toma<strong>da</strong> do poder <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de deWonded Knee, Dakota do Sul, por ativistas arma<strong>dos</strong> em1973, que durou 71 dias e atraiu agentes de segurança,publici<strong>da</strong>de e atenção para os problemas <strong>dos</strong> indígenasamericanos). Facções lutaram contra facções; foi uma faseterrível na nossa história. O assassinato de dois agentesdo FBI na nação oglala <strong>da</strong> reserva Pine Ridge em 1978exacerbou a situação. Decidi que meu jornal, o LakotaTimes, devia denunciar essa violência contínua e condenála.O jornal cobriu os incidentes de violência em detalhes.A ver<strong>da</strong>de aborreceu os violentos. Começaram os ataquesao Lakota Times. As janelas do escritório foram estilhaça<strong>da</strong>spor tiros em três ocasiões. O jornal foi bombardeado comcoquetéis molotov em 1981, logo após o Natal.Em uma noite escura e chuvosa, depois de ter postoo jornal no prelo, caminhado na chuva e entrado no meucarro, o para-brisa foi estraçalhado por uma bala quepassou raspando pela minha cabeça. Eu, minha esposa emeus filhos recebemos ameaças de morte por telefone.Cortesia: Native Sun NewseJournal USA 25


O cacique <strong>da</strong> tribo oglala sioux, Joe American Horse,pediu uma sessão especial ao conselho tribal depois dobombardeio ao meu escritório. American Horse declarou:“A partir de agora, quaisquer ataques ao Lakota Timesserão considera<strong>dos</strong> ataques à tribo oglala sioux.” Osataques cessaram.Somente um editor de jornal em todo o estadode Dakota do Sul teve coragem de falar abertamentesobre os ataques a mim e ao meu jornal. Chamava-seJim Carrier e era editor-gerente do Rapid City Journal.Embora eu fosse colega de jornalismo, editor e donode jornal no estado e ain<strong>da</strong> que os ataques fossempublica<strong>dos</strong> na primeira página do meu jornal, to<strong>dos</strong> osdemais editores não indígenas ignoraram totalmenteo que se passava com um de seus colegas. Carrier foidespedido poucodepois de sair emminha defesa.Nós enfrentamosessa terríveltempestade, e osataques só nosfortaleceram, porém,mais do que isso, elestrouxeram o povolacota para o nossolado. Isso acalmouum pouco do medoque se espalhou pelareserva no começo<strong>dos</strong> anos 1980. Noinício, as pessoasreceavam escreveruma carta para oeditor, até que umacorajosa mulherlacota do distrito de Pejuta Haka (Medicine Root), meudistrito de origem, escreveu uma carta para o nossojornal repudiando a violência. Em suas palavras, “Se TimGiago, um homen lacota que conheço desde menino,pode se erguer e lutar contra essa violência, nós, winyan[mulheres] lacotas, devemos fazer o mesmo.”to<strong>da</strong>s essas questões que afligiram nosso governo tribaldurante anos. Finalmente as pessoas tinham um fórumpor meio do qual podiam expressar suas opiniões.Por mais de 100 anos, to<strong>dos</strong> os jornais de Dakotado Sul tiveram a oportuni<strong>da</strong>de ou, diria eu, a obrigação,de cobrir a mais ampla minoria em seu estado, os índiosamericanos. Escolheram não fazê-lo, e assim meu pequenosemanário, iniciado com mingua<strong>dos</strong> recursos, logo setornou o jornal mais importante <strong>da</strong> história de Dakotado Sul. Isso aconteceu porque o jornal preencheu umalacuna e abriu as portas para os indígenas americanos, quefinalmente chegaram à mídia do século 20.O Lakota Times tornou-se o guardião do povoindígena. Quando vimos a dispari<strong>da</strong>de na Justiça, umapara brancos e outra para índios, refutamos isso. Quandonos manifestamospor meio deeditorias, pedindoaos legisladoresestaduais e aogoverno quecriassem umferiado oficialdo Dia do ÍndioAmericano noestado, nósvencemos.Dakota do Sultornou-se o únicoestado <strong>da</strong> União acelebrar o Dia doÍndio Americano,e isso nunca teriaacontecido se umpequeno jornalindependente deproprie<strong>da</strong>de de um indígena, o Lakota Times, não tivesselutado para que isso acontecesse.Vencemos muitas batalhas sem usar armas eprovamos de modo indubitável que “a caneta é maispoderosa do que a espa<strong>da</strong>”. Primórdios do jornalismo. Newspaper Rock, um petróglifo de arenito, registra diferenteseras <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana, possivelmente no decorrer de 2 mil anos. Embora seu significadonão seja claro, os símbolos podem representar as culturas fremonte, anasazi e angloDe: Wikimedia Commons, http://en.wikipedia.org/wiki/File:Newspaper rock.jpgA Ca n e ta é Ma i s Po d e r o s a d o q u e a Es pa d aDepois <strong>da</strong> sua carta, parecia que as comportas tinhamse aberto: jorraram cartas em nosso jornal falando sobreAs opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 26


LÍNGUA E CULTURADuas Línguas na Mente, mas ApenasUma no CoraçãoAutora de mais de uma dúzia de romances,um livro de memórias, poesias e livrosinfantis, Louise Erdrich é descendente <strong>dos</strong>ojíbuas <strong>da</strong> reserva Turtle Mountain e uma<strong>da</strong>s principais escritoras indígenas americanas.Seu primeiro contato com a fama veiocom o premiado romance Feitiço de Amor(1984). É proprietária <strong>da</strong> Birchbark Books,uma pequena livraria independente emMineápolis, Minnesota. Aqui ela escreve sobrea inspiração proporciona<strong>da</strong> pela língua nativaojibwemowin, fala<strong>da</strong> pelos chipevas (ojíbuas).Há anos estou apaixona<strong>da</strong> por outralíngua que não o inglês no qualescrevo; é o que se pode chamarde um caso complicado. A ca<strong>da</strong> dia quepassa, procuro aprender um pouco mais doidioma ojíbua. Habituei-me a carregar naminha bolsa quadros com a conjugação <strong>dos</strong>verbos, junto com o notebook minúsculono qual costumo anotar ideias para livros,conversas ouvi<strong>da</strong>s por acaso, fragmentos delíngua, frases que surgem na mente. Agoraesse mini computador portátil contém umnúmero ca<strong>da</strong> vez maior de palavras na linguagem ojíbua.Meu inglês é ciumento; meu ojíbua esquivo. Como umaamante infiel sem direito a trégua, tento apaziguar ambos.A língua ojibwemowin, ou anishinaabemowin,ou ain<strong>da</strong> chipeva, foi fala<strong>da</strong> pela última vez na minhafamília por Patrick Gourneau, meu avô materno, ojíbuade Turtle Mountain que a usava em suas orações. Comocresci fora <strong>da</strong> reserva, pensava que o ojibwemowin erauma língua especialmente adequa<strong>da</strong> para a oração, comoo latim na liturgia católica. Durante muitos anos não tiveconsciência de que o ojibwemowin era falado no Canadá,nos esta<strong>dos</strong> de Minnesota e Wisconsin, embora por umnúmero ca<strong>da</strong> vez menor de pessoas. Na época em quecomecei a estu<strong>da</strong>r a língua, eu vivia em New Hampshire,razão pela qual usei fitas nos primeiros anos.Nunca consegui aprender mais do que algumasfrases poli<strong>da</strong>s desse modo, mas o som <strong>da</strong> língua na vozLouise ErdrichA romancista Louise Erdrich em sua livraria, Birchbark Books, em Mineápolis. A vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>família indígena americana moderna é fonte de temas para sua obraanishinaabe calma e imponente do autor Basil Johnsonserviu-me de sustentação nas crises de nostalgia. Eu falavao ojíbua básico no isolamento do meu carro viajando <strong>da</strong>quipara lá, nas curvas <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Nova Inglaterra. Naquelaépoca, como agora, levava minhas fitas para todo lugar.A língua penetrava fundo no meu coração, mas eraum desejo não realizado. Não tinha ninguém com quemconversar em ojíbua, ninguém que se lembrasse do meuavô em pé com seu cachimbo sagrado na floresta perto deuma árvore Acer negundo, conversando com os espíritos.Só encontrei um compatriota ojibweg com quem pudesseaprender e um professor depois que voltei para o MeioOeste e me estabeleci em Mineápolis.Mestre In s p i r a d o rO ancião ojíbua Jim Clark de Mille Lac —Naawi-giizis, ou Centro do Dia — é um agradável e© Dawn Villella/AP ImageseJournal USA 27


Alunos em escola de imersão em ojíbua, no estado de Wisconsin. Os programas de imersão estão sendousa<strong>dos</strong> para ensinar línguas indígenas a uma nova geração, preservando idiomas que de outra formapoderiam desaparecer com a geração mais antiga de falantes fluentesbronzeado veterano <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial cheiode magnetismo, com cabelo cortado à escovinha e umamisteriosa bon<strong>da</strong>de que se revela nos menores gestos.Quando sorri, tudo ao seu redor parece sorrir também equando está sério, seus olhos ficam redon<strong>dos</strong> como os deum menino.Foi Naawi-giizis quem me introduziu à profun<strong>da</strong>inteligência <strong>da</strong> língua e me fez embarcar para sempre emuma cruza<strong>da</strong> para falar o idioma por uma razão: queroaprender as pia<strong>da</strong>s. Também quero entender as oraçõese as histórias sagra<strong>da</strong>s conheci<strong>da</strong>s como adisookaanug,mas, para mim, a parte irresistível do idioma é a explosãode riso que ocorre a ca<strong>da</strong> dois minutos de duração deuma visita ojíbua. Como a maioria <strong>dos</strong> falantes agoraé bilíngue, a língua está rechea<strong>da</strong> de trocadilhos tantoem inglês quanto em ojíbua, a maioria deles girando emtorno <strong>da</strong> estranheza de gichi-mookomaan, isto é, grandefaca ou americano, com seus comportamentos e hábitos.Esse desejo de aprofun<strong>da</strong>r o conhecimento <strong>da</strong> minhalíngua alternativa acabou criando um relacionamentoestranho entre mim e meu primeiro amor, o inglês. Elaé, afinal de contas, a língua que recheou as bocas <strong>dos</strong>ancestrais de minha mãe. O inglês é a razão de ela nãofalar sua língua nativa e o porquê de eu mal conseguir meexpressar na minha. O inglês é uma língua totalmentedevoradora que se espalhou pela América do Norte comoas pragas fabulosas de gafanhotos que escureciam o céue devoravam até mesmo os cabos de ancinhos e enxa<strong>da</strong>s.No entanto, a natureza onívora <strong>da</strong> língua colonial é uma© Joseph W. Jackson III/Wisconsin State Journal/AP Imagesdádiva do escritor. Cria<strong>da</strong>falando a língua inglesa,eu participo de uma festahíbri<strong>da</strong>.Há cem anos a maioriado povo ojíbua falavaojibwemowin, mas o Bureaude Assuntos Indígenas e osinternatos religiosos puniame humilhavam as criançasque falavam línguas nativas.O programa funcionou, eatualmente não há quasenenhum falante fluente deojíbua nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>com menos de 30 anos.Falantes como Naawi-giizisvalorizam a língua, emparte porque ela tem sidoconfisca<strong>da</strong>, fisicamente, detantas pessoas. Os falantesfluentes tiveram de lutar porela com sua própria família,suportaram a exposição aoridículo e à humilhação e seempenharam, obstina<strong>da</strong>mente, a continuar falando oidioma.O Gr a n d e MistérioMinha relação é, naturalmente, muito diferente.Como se volta para um idioma que nunca foi seu? Porque um escritor que ama sua primeira língua julgarianecessário e fun<strong>da</strong>mental complicar sua vi<strong>da</strong> com ainclusão de outra? As razões pessoais e impessoais sãosimples. Descobri não faz muitos anos que só consigofalar com Deus nessa língua, que seu uso por meu avô meimpregnou de alguma forma. O som me traz conforto.O que os ojíbuas chamam de Gizhe Manidoo, ogrande e bon<strong>dos</strong>o espírito que mora em tudo o que vive,e os lacotas intitulam de Grande Mistério, é associado pormim à fluidez do ojibwemowin. Minha educação católicateve um efeito intelectual e simbólico sobre mim, masparece nunca ter conquistado o meu coração.Também há isto: o ojibwemowin é uma <strong>da</strong>s poucaslínguas remanescentes que evoluíram até agora aqui naAmérica do Norte. A inteligência <strong>da</strong> língua a<strong>da</strong>pta-secomo nenhuma outra à filosofia vincula<strong>da</strong> à terra donorte, a lagos, rios, florestas e planícies ári<strong>da</strong>s, aos animaise seus hábitos particulares e às nuances de significado nopróprio ato de colocar pedras. Como escritora americana,é fun<strong>da</strong>mental que eu procure entender nossas relaçõeshumanas com o lugar, <strong>da</strong> forma mais profun<strong>da</strong> possível,eJournal USA 28


que se casaram com europeus.) O Atlas identifica 86línguas indígenas ameaça<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s quais estima-se queapenas três, cree, inuktitut e anishinaabe, permanecerãoe prosperarão nas comuni<strong>da</strong>des aborígenes. Em 1998,o governo introduziu a Iniciativa em Prol <strong>da</strong>s LínguasIndígenas, que dá apoio a projetos de preservação <strong>da</strong>slínguas de comuni<strong>da</strong>des indígenas. O Dia Nacional <strong>da</strong>Língua Indígena foi declarado em 1989. Em 2008, oprimeiro-ministro canadense Stephen Harper desculpousecom as primeiras nações e os povos inuíte pelos abusosnos internatos, para onde as crianças indígenas eramobriga<strong>da</strong>s a ir após serem retira<strong>da</strong>s à força de suas famílias.Na Austrália, o Atlas identifica 102 línguas indígenasameaça<strong>da</strong>s. Atualmente a situação é crítica, já que quaseto<strong>dos</strong> os falantes que restam são i<strong>dos</strong>os e há pouca ounenhuma transmissão <strong>da</strong> língua para as gerações maisjovens. Nova Gales do Sul (NGS) adotou a Política deEducação Indígena, defendendo que as línguas indígenassejam manti<strong>da</strong>s, revivi<strong>da</strong>s e reivindica<strong>da</strong>s. Isso é reforçadopela Declaração de Compromisso com os Povos Indígenasdo governo de NGS, que estabelece que “A língua éum componente importante do patrimônio cultural e<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de ... a importância de aprender as línguasindígenas é reconheci<strong>da</strong> como vital para a experiência <strong>dos</strong>estu<strong>da</strong>ntes aborígenes”. O primeiro-ministro Kevin Rudddesculpou-se formalmente com os aborígenes em 2008pelas injustiças do passado.Estima-se que cerca de 24 mil aborígenes do povoaino ain<strong>da</strong> vivam em Hokkaido, ilha no extremo nortedo Japão, embora esse número possa ser maior, se foremincluí<strong>dos</strong> os que se recusam a revelar sua identi<strong>da</strong>deétnica por medo de discriminação. Há possivelmente 40Jovem descendente <strong>dos</strong> índios walla walla estu<strong>da</strong> a língua tribal com ancião <strong>da</strong> tribo nareserva indígena Umatilla no Oregon. Essa é em geral a melhor forma de salvar umalíngua indígena quando ela é fala<strong>da</strong> fluentemente só pela geração mais velhafalantes fluentes e um número crescente de aprendizesdo idioma como segun<strong>da</strong> língua. Em 1869, após arestauração Meiji, começou a assimilação força<strong>da</strong> <strong>dos</strong>aino, quando o governo determinou que a Kaitakushi (acomissão de desenvolvimento) controlasse e desenvolvesseHokkaido. A promoção <strong>da</strong> língua japonesa pelo governoresultou em rápido declínio <strong>da</strong> língua aino. Em junho de2008, uma resolução sem precedentes foi adota<strong>da</strong> pelaDieta do Japão (órgão legislativo japonês) reconhecendoos problemas <strong>dos</strong> ainos e apoiando os esforços <strong>dos</strong>grupos populares de revitalização <strong>da</strong> língua e <strong>da</strong> culturaautóctone.O México é um país multicultural e multilinguístico,com 144 línguas indígenas ameaça<strong>da</strong>s segundo asestimativas. Em 2001, os direitos e as comuni<strong>da</strong>desindígenas foram reconheci<strong>dos</strong> por meio de sua inclusãona constituição mexicana. Em 2003, a Lei Geral para osDireitos Linguísticos <strong>dos</strong> Povos Indígenas foi publica<strong>da</strong>como decreto. Organizações populares indígenas estãotrabalhando em estreita colaboração com acadêmicosna documentação e revitalização de suas línguas. Ummovimento de alfabetização indígena está ganhandoímpeto em várias comuni<strong>da</strong>des linguísticas.Papua-Nova Guiné (PNG) é a nação com a maiordiversi<strong>da</strong>de linguística do mundo, com 823 línguas vivasfala<strong>da</strong>s por uma população de 5,2 milhões de pessoas(Censo PNG 2000). Entre 1870 e os anos 1950, amaioria <strong>da</strong>s escolas de PNG estabeleceu-se nas missões.As línguas vernáculas eram usa<strong>da</strong>s como a língua deinstrução. Uma política de exclusivi<strong>da</strong>de de uso doidioma inglês foi adota<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 1950, porémreforma<strong>da</strong> após a independência de PNG em 1975.Entre 1979 e 1995 os programas préescolaresde língua vernácula espalharamseinformalmente e em 1995 a políticagovernamental exigiu a inclusão doaprendizado <strong>da</strong> língua vernácula nosprimeiros anos de educação infantil,com uma transição gradual para o uso deinglês como uma <strong>da</strong>s línguas de instrução.A Venezuela tem 34 línguas indígenasameaça<strong>da</strong>s. A constituição atual,adota<strong>da</strong> em 1999, declara o espanhole as línguas indígenas como línguasoficiais <strong>da</strong> Venezuela. Alguns acadêmicosestão trabalhando intensamente com© Don Ryan/AP Imagesas comuni<strong>da</strong>des indígenas para adocumentação e a revitalização de suaslínguas.eJournal USA 32


e, ain<strong>da</strong> assim, continuamrepresentando uma grandediversi<strong>da</strong>de de famílias linguísticas.Quase metade <strong>da</strong>s línguas nativas<strong>da</strong> Califórnia desapareceu desdeos anos 1950, restando 30 línguascom um ou mais falantes.Akira Y. Yamamoto e o ancião índio yavapai Ted Vaughn em Prescott, Arizona, trabalham nodicionário de VaughnSo b r e a s Lí n g u a s In d í g e n a sn o s Es ta d o s Un i d o sNa época do contato inicial com a Europa, estimaseque havia 300 línguas indígenas, correspondentes amais de 50 famílias linguísticas na América do Norte.A primeira classificação importante <strong>da</strong>s línguas nativasnorte-americanas, feita por John Wesley Powell (1891),identificou 58 famílias linguísticas. Conforme o Atlas,antes de 1950 havia 192 línguas nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>;desde então, 53 se extinguiram, restando 139 línguas comum ou mais falantes. Onze estão classifica<strong>da</strong>s como “emperigo”; são línguas que a maior parte <strong>da</strong>s crianças fala,mas cujo uso é restrito a certos âmbitos, como o de casa.Vinte e cinco línguas estão efetivamente ameaça<strong>da</strong>s, oque significa que as crianças já não aprendem esse idiomacomo língua materna. Trinta e duas estão seriamenteameaça<strong>da</strong>s e são fala<strong>da</strong>s principalmente pelas geraçõesmais velhas. Setenta e uma línguas estão classifica<strong>da</strong>scomo “em estado crítico”, porque os falantes mais jovenssão i<strong>dos</strong>os.Nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, to<strong>da</strong>s as línguas indígenas estãoameaça<strong>da</strong>s. No Alasca, onde havia 21 línguas com um oumais falantes, o eyak perdeu seu último falante em 2008.O estado com maior diversi<strong>da</strong>de linguística é a Califórnia.Das 58 famílias classifica<strong>da</strong>s por Powell, 22 estavam naCalifórnia. As línguas <strong>da</strong> Califórnia sofreram amplamenteCortesia: Ted Vaughn e Akira YamamotoEs f o r ç o s d e Pr e s e rva ç ã od o s EUAProfissionais <strong>da</strong> língua, líderescomunitários e membros decomuni<strong>da</strong>des indígenas continuama promover a conscientizaçãosobre o rápido declínio <strong>da</strong>s línguasindígenas entre seus povos, osformuladores de políticas e opúblico em geral. O líder <strong>da</strong> naçãoojibwe, Floyd Jour<strong>da</strong>in Jr., disserecentemente à nação ojibwe deRed Lake: “Nossa língua ojibweestá oficialmente em situaçãode crise. ... Calculamos que restam apenas 300 falantesfluentes <strong>da</strong> língua na nossa tribo. O número oficial demembros <strong>da</strong> nossa tribo é 9.397” (The Bemidji Pioneer, 6de abril de 2009).A última falante de eyak, Mary Smith, que faleceuem janeiro de 2008, fez este apelo: “É triste ser a últimapessoa que fala sua língua. Por favor, volte-se para suasraízes e apren<strong>da</strong> sua língua, assim você não vai estarsozinho como eu” (Kodiak Daily Mirror, 20 de agosto de2006).Indivíduos e comuni<strong>da</strong>des linguísticas têm dirigidoprogramas para revitalizar seu patrimônio linguístico emcasas, comuni<strong>da</strong>des e escolas desde os anos 1970. Comohá diversas comuni<strong>da</strong>des, há diferentes programas. Alguns“revivem” línguas não fala<strong>da</strong>s durante déca<strong>da</strong>s, combase em material de documentação; alguns utilizam atransmissão de pessoa a pessoa, especialmente quando osfalantes que ain<strong>da</strong> restam são i<strong>dos</strong>os; alguns reintroduzema língua para crianças em i<strong>da</strong>de escolar e seus pais; algunssão programas intermediários de línguas nativas; e muitosensinam a língua como uma matéria acadêmica. Osprogramas visam alunos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des.Líderes indígenas, membros de comuni<strong>da</strong>deslinguísticas, educadores e linguístas reuniram-se naConferência sobre a Questão <strong>da</strong>s Línguas IndígenasAmericanas (Nali, na sigla em inglês) de 1988 em Tempe,Arizona. Na conferência, os participantes esboçaram,eJournal USA 33


discutiram e aprovaram resoluções sobre os direitoslinguísticos <strong>dos</strong> indígenas. As resoluções foram envia<strong>da</strong>sà Comissão Especial do Senado para Assuntos Indígenas.Isso resultou na aprovação <strong>da</strong> Lei de Línguas Indígenas de1990, que trata oficialmente <strong>dos</strong> direitos fun<strong>da</strong>mentais<strong>dos</strong> indígenas, destacando a singulari<strong>da</strong>de de suasculturas e línguas, bem como a responsabili<strong>da</strong>de dogoverno de trabalhar junto aos seus povos para preserválas.A lei reconhece que as línguas tradicionais são umaparte integral <strong>da</strong>s culturas e identi<strong>da</strong>des indígenas paraa transmissão <strong>da</strong> literatura, história, religião e outrosvalores necessários à sobrevivência de sua integri<strong>da</strong>decultural e política. Reconhece que a língua fornecemeios diretos e poderosos de promover a comunicaçãointernacional entre pessoas que a compartilham. Desdesua promulgação, as comuni<strong>da</strong>des linguísticas motiva<strong>da</strong>stêm recebido apoio legal e econômico, embora a quantiade apoio financeiro seja limita<strong>da</strong>. A Socie<strong>da</strong>de Linguística<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> (LSA) liderou as campanhas paradocumentação, revitalização e conscientização públicaentre os profissionais.On d e Es ta m o s e pa r a On d e Va m o s?Nos últimos anos, temos visto uma mu<strong>da</strong>nça gradualnas atitudes em relação ao bilinguismo: pelo menos umavalorização, se não o incentivo <strong>da</strong> educação bilíngue.As mu<strong>da</strong>nças mais notáveis são as atitudes dentro <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong>des indígenas. A vergonha de usar a língua deherança transformou-se em orgulho. Os mais jovens estãoativamente interessa<strong>dos</strong> na revitalização <strong>da</strong> língua, e estãosurgindo mais programas para o seu ensino.No âmbito institucional, há ca<strong>da</strong> vez mais esforçosativos para promover o ensino <strong>da</strong>s línguas indígenas.Organizações como o Instituto de Línguas Indígenasdão assistência a comuni<strong>da</strong>des linguísticas e indivíduosem seus esforços para a documentação e a revitalização,por meio de subsídios e apoio técnico de organizaçõesgovernamentais, não governamentais e internacionais(veja a lista de organizações em Recursos Adicionais).To<strong>da</strong>s as línguas são preciosas. Por meio <strong>da</strong> língua,os indivíduos formam um grupo. Por meio <strong>da</strong> língua, osseres humanos criam um mundo no qual a relação com oambiente é estabeleci<strong>da</strong>, alimenta<strong>da</strong> e manti<strong>da</strong>. Quandoperdemos uma língua, perdemos uma visão do mundo,uma identi<strong>da</strong>de única e um depósito de conhecimento.Perdemos diversi<strong>da</strong>de e direitos humanos.Um ancião navajo disse:Se você não abre seus olhos,não há céu.Se não escuta,não há ancestrais.Se não respira,não há ar.Se não caminha,não há terra.Se não fala,não há mundo.(Parafraseado por Yamamoto <strong>da</strong>s palavras de um ancião navajo, TribalWisdom and the Modern World [Sabedoria Tribal e o Mundo Moderno],série Millennium <strong>da</strong> PBS-TV.) As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 34


EXCERTOO Universo <strong>dos</strong> EspíritosVine Deloria Jr.O falecido Vine Deloria Jr. foi um líder indígena americano, historiador e comentarista do século passado© Cyrus McCrimmon/The Denver Post/AP ImagesMuitos consideram Vine Deloria Jr. (1933-2005), umsioux <strong>da</strong>cota (<strong>da</strong> reserva Standing Rock), o principalacadêmico indígena americano do século passado. Suaspesquisas ecléticas, seu trabalho literário e seus ensinamentoscontinuam a influenciar tanto indígenas quanto nãoindígenas americanos. Quase sempre instigantes, suas obrassobre história, lei, religião e ciência política aju<strong>da</strong>rama formar opiniões sobre os indígenas americanos e apromover seus direitos. Seu primeiro livro, Custer Diedfor Your Sins [Custer Morreu por Teus Peca<strong>dos</strong>],deu-lhe reconhecimento, e a gama de livros que escreveusubseqüentemente procurou reconduzir a cultura indígena aum lugar de honra. Prestou depoimento perante o Congresso<strong>dos</strong> EUA sobre os problemas <strong>dos</strong> indígenas e pertenceu aocorpo docente <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des do Colorado e do Arizona.Discutia com humor e determinação. Citação famosa deDeloria: “Quando um antropólogo perguntou como os índioschamavam os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> do homembranco, um indígena respondeu simplesmente, ‘Nosso’.”De: God Is Red [Deus É Vermelho]Quando eu era bem pequeno e viajava commeu pai em Dakota do Sul, ele quase sempreapontava para montanhas, desfiladeiros,interseções de rios e velhas estra<strong>da</strong>s e me contavasuas histórias. Naquele tempo, antes <strong>da</strong>s rodoviasinterestaduais, quando as estra<strong>da</strong>s eram geralmente doissulcos ao longo de uma cerca, podia-se observar os lugaresde perto, o que criava lembranças indeléveis de certascaracterísticas <strong>da</strong> paisagem por causa <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>dedo lugar e de suas histórias. Ele parecia lembrar dedetalhes que outras pessoas tinham esquecido ou jamaisconheceram. Era capaz de indicar os montes onde serealizavam as buscas de visão [ritos de passagem], a colinapróxima a Standing Rock onde uma mulher conviveucom lobos e locais de obscuros desembarques ao longodo Missouri onde as pessoas atravessavam ou Jack Sully,parente distante e bandido famoso, escapou de umdestacamento policial.eJournal USA 35


Comecei a respeitar certos lugares e a divulgar ashistórias o melhor que podia, embora as visitas a esseslocais fossem poucas e espaça<strong>da</strong>s. Parecia-me que alembrança <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des humanas em determina<strong>dos</strong>lugares lhes atribuía um tipo de santi<strong>da</strong>de que de outromodo não teriam. Gradualmente comecei a perceberuma distinção na santi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> lugares. Alguns eramsagra<strong>dos</strong> em si próprios, outros tinham sido preserva<strong>dos</strong>por gerações e agora faziam parte <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s pessoase, desse modo, eram reverencia<strong>dos</strong> por elas e parte <strong>da</strong>sua ver<strong>da</strong>deira natureza. À medi<strong>da</strong> que o movimento decontestação indígena ganhou impulso e atraiu muitosjovens para suas ativi<strong>da</strong>des, grande parte <strong>da</strong> energiaconcentra<strong>da</strong> foi dedica<strong>da</strong> à recuperação <strong>dos</strong> locaissagra<strong>dos</strong> e à retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cerimônias locais.Refletindo sobre os anciãos que observei quandogaroto e sobre a absoluta sinceri<strong>da</strong>de de suas crenças, ahumil<strong>da</strong>de e a hesitação em correr em busca de respostaspara questões importantes, ao escrever God Is Red fuireconduzido a uma grande apreciação <strong>da</strong>s nossas tradiçõesreligiosas. Desde que escrevi o livro, comecei a acreditarca<strong>da</strong> vez mais que as histórias antigas devem ser manti<strong>da</strong>scom o máximo de literali<strong>da</strong>de, que profun<strong>dos</strong> segre<strong>dos</strong>e uma maior consciência <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de do nossouniverso foram vivencia<strong>dos</strong> por nossos ancestrais e quealgumas de suas crenças e experiências podem voltar a sernossas.Em sua visão, Black Elk [Alce Negro, o homem santo<strong>dos</strong> oglala lacotas] observou muitos círculos de povos, enós sempre reconhecemos que existem outras tradiçõesem suas cerimônias, portanto, o sagrado não se restringiua nenhum grupo de pessoas em particular e suas crenças.Contudo, um estudo <strong>da</strong>s tradições tribais mostrará queos caminhos indígenas para encontrar o Grande Mistério<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> eram geralmente diretos e satisfatórios. Quaseto<strong>da</strong>s as tribos podem ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, e o resultado será umgrande número de histórias sobre o modo como os povosusavam os poderes espirituais para viver, poderes essesque estão muitas vezes à nossa disposição em um lugarsagrado onde o tempo e o espaço não definem os termos<strong>da</strong> experiência.God Is Red: A Native View of Religion [Deus É Vermelho: Uma VisãoIndígena <strong>da</strong> Religião], Copyright ©1972, Fulcrum Publishing. To<strong>dos</strong>os direitos reserva<strong>dos</strong>.De: The World We Used to Live in [O Mundo em queVivíamos]Ca<strong>da</strong> tribo indígena tem uma herança espiritual quea distingue de to<strong>dos</strong> os outros povos. De fato, no passado,reconhecendo seu relacionamento único com o mundoe suas criaturas, muitas tribos se descreveram como “opovo” ou “o povo genuíno”. Considerando-se únicos, elesseguiam rigorosamente os coman<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> espíritos, poistinham convivido com eles durante incontáveis gerações,e reconheciam que os outros povos tinham os mesmosdireitos e as mesmas condições que eles. Assim, a ideia dedesentendimentos por causa <strong>da</strong>s tradições que cultivavamera absur<strong>da</strong>. Desse modo, as guerras religiosas eramconsidera<strong>da</strong>s simplesmente inconcebíveis e embora elespossam ter lutado ferozmente por áreas de caça e pesca oulançado hostili<strong>da</strong>des por vingança, o mais próximo quechegaram de guerrear sobre crenças e práticas foi procurarremédios — poderes — que pudessem neutralizar osremédios e os poderes que outros povos possuíam.Muitas linhas de expressão espiritual parecem tersido compartilha<strong>da</strong>s pelas tribos. Várias tribos praticavama <strong>da</strong>nça do sol, a mora<strong>da</strong> do espírito, a busca de visão,a cerimônia <strong>da</strong> sauna, o uso de pedras sagra<strong>da</strong>s e outrosrituais, com pequenas variações em relação à formaoriginal do passado. Certos pássaros e animais ofereciamsua aju<strong>da</strong> aos povos com algum grau de semelhança. Ourso, o lobo, a águia, o búfalo e a cobra emprestavam seuspoderes aos povos de muitas tribos, embora suas funções,tais como curar, fazer profecias ou oferecer proteçãocontra perigos, fossem muitas vezes semelhantes.Criado em Bennett County, Dakota do Sul, ouvindohistórias <strong>dos</strong> velhos tempos e tomando conhecimento, detempos em tempos, de coisas incomuns que ain<strong>da</strong> eramfeitas por líderes espirituais, nunca questionei emocionalou intelectualmente a veraci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s histórias antigas.Durante anos ouvi histórias conta<strong>da</strong>s por outros ouacidentalmente deparei-me com narrativas de incidentesque demonstravam poderes espirituais incríveis. Nossosancestrais invocavam a aju<strong>da</strong> de enti<strong>da</strong>des espirituais maiseleva<strong>da</strong>s para resolver problemas prementes, tais comoencontrar caça, fazer previsões do futuro, aprender sobremedicamentos, participar de curas, conversar com outrascriaturas, encontrar objetos perdi<strong>dos</strong> e mu<strong>da</strong>r o curso deeventos físicos por meio do relacionamento com espíritosmais eleva<strong>dos</strong> que controlavam os ventos, as nuvens, asmontanhas, os trovões e outros fenômenos do mundonatural. Sabendo que existe um pouco de superstiçãonas comuni<strong>da</strong>des indígenas, sempre considerei essesrelatos como lembranças ver<strong>da</strong>deiras de eventos passa<strong>dos</strong>.Em geral os pajés realizavam suas curas e faziam suasprevisões diante de grandes públicos indígenas, queficavam repetindo “Show Me (mostre-me)” bem antes deo Missouri adotar esse slogan para si. The World We Used to Live In: Remembering the Powers of the MedicineMen [O Mundo em Que Vivíamos: Recor<strong>da</strong>ndo os Poderes <strong>dos</strong> Pajés].Copyright ©2006, Fulcrum Publishing. To<strong>dos</strong> os direitos reserva<strong>dos</strong>.eJournal USA 36


EXCERTOA descendência <strong>dos</strong> índios abenaquisinspirou Joseph Bruchac a tornar-se umindígena americano contador de históriase dedicar sua vi<strong>da</strong> a iluminar as tradiçõesde diversas tribos do país. Os abenaquissão uma <strong>da</strong>s cinco tribos que formarama Confederação Wabanaki do Leste <strong>da</strong>América do Norte. Bruchac é autor demais de 70 livros de poesia, ficção e nãoficção para adultos e crianças e recebeudiversos prêmios, entre eles o AmericanBook Award, o Prêmio ScientificAmerican de Livro Infantil, o PrêmioNação Cheroqui de Prosa e o Prêmio HopeS. Dean por Desempenho Notável emLiteratura Infantil. É fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> editoraGreenfield Review e tem trabalhadointensamente como contador de históriasnos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e no exterior.Eu caminho com a beleza à minha frenteeu caminho com a beleza abaixo de mimeu caminho com a beleza ao meu redortudo se restaura na belezatudo fica inteiro na beleza…— extraído de “Nightway”[“Caminho<strong>da</strong> Noite”] <strong>dos</strong> dinés (navajos)“To<strong>da</strong> manhã, ao acor<strong>da</strong>r para tomar água <strong>da</strong>torneira, sempre me lembro de agradecer à água.” Ouviessas palavras há 30 anos de Dewasentah, uma matriarcado clã onon<strong>da</strong>ga que sempre me lembrava <strong>da</strong> relaçãosagra<strong>da</strong> existente entre to<strong>da</strong>s as coisas e a responsabili<strong>da</strong>deque nós, humanos, temos de reconhecer essa relação.Uma <strong>da</strong>s formas de expressão dessa relação na vi<strong>da</strong>americana é por meio do que os europeus chamam decerimônia. O dicionário define cerimônia como um atoou uma série de atos formais realiza<strong>dos</strong> de modo soleneconforme estabelecido nos procedimentos rituais ouCerimôniaJoseph BruchacGrandes <strong>da</strong>nças cerimoniais, como o pow wow anual de encontro <strong>da</strong>s naçõesrealizado em Albuquerque, Novo México, dá aos anciãos <strong>da</strong> tribo a oportuni<strong>da</strong>dede passar as tradições para as novas gerações e fazer com que se familiarizem comos costumes de outras tribostribais. Embora isso seja certamente ver<strong>da</strong>deiro, pode-sedizer também que, para os povos indígenas americanos,cerimônia é a própria vi<strong>da</strong>. Tom Porter, um anciãomohawk, disse-me que umas <strong>da</strong>s razões para termostantas cerimônias é que os seres humanos esquecemfacilmente. Se conseguíssemos nos lembrar, to<strong>dos</strong> os dias,de agradecer e nos comportar com gratidão e respeito,isso seria suficiente. Mas a ca<strong>da</strong> vez que esquecemos,precisamos de mais cerimônias para nos aju<strong>da</strong>r a lembrar.As práticas cerimoniais <strong>dos</strong> indígenas americanospodem ser tão simples como oferecer tabaco com umaoração ou tão complexas como as tradições de cura <strong>dos</strong>dinés. Essas tradições, conheci<strong>da</strong>s como “caminhos”,envolvem um hataaXii ou “chantre” [cantor] altamentecapacitado, alguém que passou anos memorizandoas palavras e o protocolo para um ou mais desses“caminhos”, ca<strong>da</strong> um utilizado para um propósitoespecífico de cura. O mais comum, o Caminho <strong>da</strong>Bênção, é geralmente usado para restabelecer o equilíbriofísico e espiritual de um indivíduo. O Caminho do© Paul Bearce/Albuquerque Journal/AP ImageeJournal USA 37


Inimigo é usado para uma pessoa diné que esteve embatalha e tocou o inimigo em uma luta, provocando umdesequilíbrio espiritual. Para a cura, uma pintura seca écria<strong>da</strong> no chão usando areia colori<strong>da</strong> e pe<strong>da</strong>ços de cascade árvore tritura<strong>da</strong>. Essa pintura de areia é uma man<strong>da</strong>laque descreve algum evento <strong>da</strong> história <strong>da</strong> criação <strong>dos</strong>índios dinés (navajos), possivelmente uma vitória <strong>dos</strong>heróis gêmeos sobre um monstro. A pessoa a ser cura<strong>da</strong>é coloca<strong>da</strong> senta<strong>da</strong> sobre a pintura, enquanto o hataaXiicanta o Caminho <strong>da</strong> Cura específico. Podem ser necessáriosvários dias para concluir os “caminhos”. Muitas pessoassão convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a assistir a cerimônia porque a presençade to<strong>dos</strong> que desejam oferecer apoio contribui para que oCaminho <strong>da</strong> Cura obtenha melhores resulta<strong>dos</strong>.Mesmo os acontecimentos vistos apenas comojogos e na<strong>da</strong> mais são, com frequência, parte <strong>da</strong> práticacerimonial indígena. Um exemplo disso é o jogo de campo<strong>dos</strong> indígenas americanos, hoje conhecido como lacrosse.Chamado de Tewaarathon em mohawk, é o “grande jogo”,ou o “jogo do criador”. Quando era jogado, exigia umcampo com quilômetros de comprimento e a participaçãode to<strong>da</strong> a população de uma ou mais aldeias. Tais jogostinham geralmente a função de aju<strong>da</strong>r a restabelecer asaúde <strong>da</strong> pessoa a quem o jogo era dedicado. Quando oprofeta iroquês Lago Formoso adoeceu durante sua últimavisita à nação onon<strong>da</strong>ga em 1815, um jogo de lacrossefoi imediatamente planejado e realizado na tentativa decurar o ancião doente. (Apesar de não ter sido curado, elerespondeu à honra concedi<strong>da</strong> dizendo: “Logo irei para aminha nova casa. Logo adentrarei um novo mundo, pois háum caminho plano que me conduz até lá”.)Algumas <strong>da</strong>s cerimônias mais conheci<strong>da</strong>s entre ospovos indígenas ou foram divulga<strong>da</strong>s com sensacionalismoou mal interpreta<strong>da</strong>s. As cerimônias potlatch (festa <strong>dos</strong>índios americanos com grande distribuição e destruição depresentes), encontra<strong>da</strong>s entre muitos povos indígenas donoroeste do Pacífico, foram cita<strong>da</strong>s como uma “luta coma riqueza” por antropólogos que as descreveram como umritual em que uma figura proeminente tenta superar o rivalofertando ou destruindo uma grande quanti<strong>da</strong>de de benspessoais. O governo canadense e o Bureau de AssuntosIndígenas <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> ficaram tão alarma<strong>dos</strong> coma ideia de que potlatches eram um desperdício que essasfestas foram declara<strong>da</strong>s ilegais durante boa parte do século20. Embora fossem, na ver<strong>da</strong>de, ocasiões festivas cheias deostentação usa<strong>da</strong>s para conseguir ou restabelecer prestígio,havia algo a mais nelas que escapava à compreensão <strong>dos</strong>europeus. O termo potlatch vem <strong>da</strong> palavra nootka patshatl,que significa “<strong>da</strong>r”. Pode-se dizer que enquanto o acúmulode riqueza pessoal é uma norma social desejável na culturaamericana dominante, nas culturas indígenas americanasvale exatamente o oposto.Touro Sentado, o grande líder <strong>dos</strong> lacotas, disse certavez que seu povo o amava porque ele era muito pobre.A tradição <strong>da</strong> distribuição de bens como umacerimônia de agradecimento pela demonstração degrande generosi<strong>da</strong>de é muito difundi<strong>da</strong> entre os indígenas<strong>da</strong> América do Norte. Conheço uma família cheieneem Montana que prometeu renunciar a uma grandequanti<strong>da</strong>de de bens se seu filho voltasse são e salvo doVietnã. Enquanto ele estava fora, os pais acumularam umgrande número de coisas para <strong>da</strong>r — cobertores, comi<strong>da</strong>enlata<strong>da</strong>, objetos de to<strong>dos</strong> os tipos. Quando o filhoretornou ileso, aconteceu a cerimônia de entrega. Não sóderam tudo o que tinham juntado mas estavam tão felizesque fizeram o mesmo com a geladeira, a televisão, o tocadiscos,o rádio, a picape e to<strong>da</strong>s as suas roupas. No final,cederam a escritura <strong>da</strong> própria casa. Não apenas mostraramo quão grande era o amor pelo filho mas também comoestavam gratos a Maheo, o Grande Mistério, além deconseguir grande prestígio na comuni<strong>da</strong>de. Apesar de teremficado pobres, eles eram ricos aos olhos de seu povo.Na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, o potlatch é uma formade redistribuir riquezas materiais em vez de deixá-lasnas mãos de poucos. O desequilíbrio provocado pelospotlatches no fim do século 19, em que cobertores eoutros bens não foram apenas <strong>da</strong><strong>dos</strong> mas queima<strong>dos</strong>,parece ter sido resultado do afluxo de bens europeuse do potencial para acumular riquezas em excesso porparte <strong>da</strong>queles que negociavam com os brancos. Hojeo potlatch foi resgatado em muitas nações tribais donoroeste americano como uma cerimônia para <strong>da</strong>rgraças e ser reconhecido pelo desapego aos seus bens.A cerimônia nos lembra, por intermédio <strong>da</strong> música,<strong>da</strong> história, <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça e <strong>da</strong> indumentária e por meio decomportamentos e sacrifícios rituais, que estamos emuníssono com tudo o que nos cerca. Estar em equilíbriocom nós mesmos e com o mundo ao redor é a formacorreta e natural de ser. Por intermédio <strong>da</strong> cerimônia,podemos tanto reconhecer quanto restabelecer esseequilíbrio. Our Stories Remember [Nossas Histórias Lembram], de Joseph Bruchac.Copyright ©2003, Fulcrum Publishing. To<strong>dos</strong> os direitos reserva<strong>dos</strong>.eJournal USA 38


MÃOS QUE CRUZAM FRONTEIRASConversa GlobalEntrevista com José BarreiroO estudioso José Barreiro é diretor do escritório para a AméricaLatina e diretor adjunto para pesquisa do Museu Nacionaldo Índio Americano (NMAI) em Washington, D.C. Nascidoem Cuba, é de origem taino, trabalhou com pesquisa de povosindígenas <strong>da</strong> América Latina e do Caribe e é um <strong>dos</strong> maioresespecialistas na área. Antes de entrar para o NMAI, Barreirofoi professor de Estu<strong>dos</strong> sobre os Indígenas Americanos naUniversi<strong>da</strong>de de Cornell. Além de suas numerosas publicaçõesacadêmicas, foi jornalista, re<strong>da</strong>tor e romancista.Pergunta: Quão estreitos são os laços entre os povosindígenas do mundo?José Barreiro: Uma de minhas experiências maisinstrutivas aconteceu quando eu era um jovem repórter eparticipava de uma delegação que foi a um encontro naComissão de Direitos Humanos <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s emGenebra, Suíça, em 1977. Fui com a delegação <strong>da</strong> naçãomohawk, para a qual trabalhava na época, como repórterdo jornal Akwesasne Notes. Minha esposa é uma mohawk, evivíamos em sua reserva. Foi uma pequena conferência nocontexto <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, mas, para os povos indígenas,reunir-se pela primeira vez e conhecer uns aos outrosfoi um evento colossal. Muitas tribos vieram de lugaresbastante remotos. Nos primeiros dias, o discurso versousobre os problemas de direitos humanos que os povosestavam tendo em diferentes países. O consenso era o queestavam sofrendo: per<strong>da</strong> de terras, problemas de memóriacultural e outros tipos de violência. Lembro de um velhocacique <strong>dos</strong> senecas, Corbett Sundown, que tentava falarcom um ancião mapuche do Chile. Como falo espanhol,estava traduzindo. O ancião mapuche disse a ele, “Por quenão estamos falando sobre nós como índios?” A respostade Corbett foi convidá-lo para uma queima de tabaco nocomeço <strong>da</strong> manhã — sua própria cerimônia, uma versãodo discurso de ação de graças <strong>dos</strong> iroqueses. A notícia seespalhou, de modo que vieram muitos outros povos. Essaé uma oração bela e abrangente, uma expressão de respeitopelo mundo natural, que coloca o ser humano no círculo<strong>da</strong> criação e dá graças ao mundo <strong>dos</strong> mortos, à Mãe Terrae a to<strong>da</strong> a criação. Diz-se, “Em agradecimento, juntamosnossos espíritos”, depois joga-se tabaco no fogo, e a fumaçaleva a oração para to<strong>da</strong> a criação, para o mundo. OsJosé Barreiro, um <strong>dos</strong> maiores especialistas em povosindígenas <strong>da</strong> América Latina e do Caribe, é descendente<strong>dos</strong> tainos. Os tainos foram os primeiros a encontraros exploradores europeus do século 15 no ContinenteAmericanomapuches, os maias, os hopis, os maquiritares, os aimaráse os quíchuas, to<strong>dos</strong> puderam fazer eco a ela. É isso,disseram. É por isso que estamos aqui. Nossa uni<strong>da</strong>de estárealmente no fato de termos coisas similares a expressar.P: Quais são as dificul<strong>da</strong>des compartilha<strong>da</strong>s por to<strong>dos</strong>?Barreiro: Há a introdução força<strong>da</strong> de uma culturaestranha e a tentativa de destruição <strong>da</strong>s culturas indígenas.Os internatos tinham uma mentali<strong>da</strong>de de “matar oíndio e salvar o homem”. [No começo e em mea<strong>dos</strong> <strong>dos</strong>éculo 20 nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, bem como no Canadá e naAustrália, as crianças de tribos indígenas eram leva<strong>da</strong>s àforça para os internatos para receber educação ocidental.Eram proibi<strong>da</strong>s de falar sua língua nativa e, muitas vezes,de ver seus parentes.] Existe uma patologia social —pobreza, alcolismo —, pior em alguns lugares que emoutros, mas ela é real e precisa ser combati<strong>da</strong>, e há muitoativismo nesse sentido, de educadores a agentes de saúde.Quando as tecnologias modernas chegam comforça, ocorre uma clara per<strong>da</strong> <strong>da</strong> outra cultura, e às vezesCortesia: Museu Nacional do Índio Americano, Instituto SmithsonianoeJournal USA 39


é essa a intenção. Esse foi o problema com a educação<strong>dos</strong> internatos no passado. Ela não admitia que houvessealguma coisa naquelas crianças. Era como se as criançasfossem vazias e nós estivéssemos despejando civilizaçãoem seus cérebros e criando novas pessoas. Isso nuncafuncionou. Acabou criando uma patologia social. Dizema você que tudo sobre o seu povo é errado. Você não podeter seu povo como modelo. Isso cria uma grave disfunçãona mente de uma pessoa jovem.Mas se o povo é relativamente forte, quando chegamas antenas parabólicas, o carro ou qualquer outra coisa,a a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de se impõe. Você caça com um rifle, nãocom arco e flecha. Dirige um carro em vez de usar umcavalo, muitas vezes sem desistir completamente doúltimo. Ou então ele se torna um ícone ou um símbolocultural. Se você for à feira <strong>da</strong> tribo crow, que acontecetodo mês de agosto, verá um número enorme de índios<strong>da</strong>s planícies em cerca de 1.500 ten<strong>da</strong>s, com um rebanhode cinco a oito mil cavalos. Para<strong>da</strong>s, rodeio, pow wow(reunião de povos nativos). Isso não é para turistas, épara as tribos. O turista é bem-vindo, mas irrelevante. Ocavalo é a atração central. As artes são ricas — o modocomo eles enfeitam aqueles cavalos, o bor<strong>da</strong>do de contas.Isso ocorre com muitos povos indígenas. Estive no topo<strong>da</strong>s altas montanhas <strong>da</strong> Guatemala onde os índios quichestêm coisas semelhantes. Os povos, quando se reúnemem seu próprio contexto cultural, querem as suas antigastradições. Isso ocorre em todo o hemisfério.P: Como vai a sua tribo taino?Barreiro: No começo houve muita miscigenação com osespanhóis e a população de africanos que vieram comoescravos. Tivemos grandes per<strong>da</strong>s por causa <strong>da</strong> guerra e<strong>da</strong>s doenças, mas também séculos de relativo isolamentocomo guajiro, agricultores <strong>da</strong>s planícies e <strong>da</strong>s montanhas.Portanto o conhecimento familiar, que em grande parteé o conhecimento indígena, teve continui<strong>da</strong>de. A culturafamiliar, as tradições médicas, a herbologia, a vi<strong>da</strong> naterra, a identificação <strong>dos</strong> espíritos <strong>da</strong> Natureza — to<strong>dos</strong>permaneceram. Hoje, 50 anos após o sistema socialista,que se presume ser completamente ateísta, Cuba temmais elementos espirituais que qualquer outro lugar nohemisfério. É incrível como os povos preservaram essascoisas, agora em muitas manifestações diferentes. Issoacontece também em Porto Rico, na República Dominicanae, em termos <strong>da</strong> base taino, nas Grandes Antilhas, as maioresilhas, mas muito menos na Jamaica e no Haiti. Ocorre noslares <strong>da</strong> área rural, na agricultura, nos medicamentos à basede ervas, nas orações e em muitas outras coisas.P: Quais são os principais problemas <strong>da</strong> AméricaLatina e do Caribe atualmente?Barreiro: De modo geral, as questões econômicas sãomuito fortes. Houve uma ruptura. A moderni<strong>da</strong>de,as novas comunicações — rápi<strong>da</strong>s e furiosas — e ostransportes entraram nessas comuni<strong>da</strong>des. A rupturamais importante ocorreu na agricultura local. Lembro<strong>dos</strong> merca<strong>dos</strong> indígenas no sul do México e naGuatemala no começo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 — você podiaestar no lugar mais remoto <strong>da</strong>s montanhas e encontrarum mercado indígena que, pelo menos, era abun<strong>da</strong>nteem alimentos locais. As pessoas podiam comer.Na maioria <strong>da</strong>s vezes, as comuni<strong>da</strong>des indígenastêm grande apego ao lugar em que vivem. Quando adepre<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s florestas e o escoamento <strong>da</strong> produçãolocal de alimentos começam a acontecer, as pessoascomeçam a migrar. Não há empregos. Alguém vem com aideia de que se você plantar aspargos aqui para o mercado<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, <strong>da</strong> Europa ou qualquer outro,você fará dinheiro, e as pessoas poderão se empregarcomo trabalhadores rurais. Mas esse processo destróia produção local de alimentos, aqueles que as pessoasrealmente comem. Ele cria um produto que é vendi<strong>dos</strong>omente fora do local onde as pessoas vivem. Elas nãotêm condições de comprar comi<strong>da</strong> enlata<strong>da</strong> de fora. Osíndios que vêm do México, <strong>da</strong> Guatemala e de Hondurassão índios de aldeias, povos que não deixariam suas terrasa não ser por condições econômicas desesperadoras.Eu simplifiquei um pouco a história, mas geralmentequando a agricultura local é forte, a cultura tradicionalé forte, os casamentos duram mais, as crianças não têmas patologias decorrentes <strong>da</strong> pobreza e a vi<strong>da</strong> é melhor.A partir <strong>da</strong>í, as pessoas podem estu<strong>da</strong>r para ser o quequiserem, mas a maior parte delas ain<strong>da</strong> fará algumacoisa relaciona<strong>da</strong> com a terra. O sonho <strong>da</strong> terra ain<strong>da</strong> éforte. É o sonho de poder viver <strong>da</strong> interação direta coma terra. De certa forma, é isso que define o primitivo. Oadjetivo “primitivo” é usado com sentido pejorativo, mastudo o que ele realmente significa é uma relação primáriado homem com a terra. Eles sabem a diferença entreessa árvore e aquela árvore. Ca<strong>da</strong> uma tem sua própriafinali<strong>da</strong>de. Existe um nível de conhecimento <strong>da</strong> ecologiae <strong>da</strong> geografia local que leva a uma vi<strong>da</strong> bem-sucedi<strong>da</strong>. Éisso que a cultura tradicional criou, uma vi<strong>da</strong> de sucesso.É assim que ela é lembra<strong>da</strong>.P: Os povos indígenas têm uma conexão espiritualcom a terra, que é uma perspectiva diferente <strong>da</strong>quelado Ocidente, não é?eJournal USA 40


Barreiro: Há uma diferença em termos de visão domundo, com dois elementos centrais. Um é que tudo nestemundo tem repercussão espiritual, até mesmo aquelascoisas que consideramos mortas, inanima<strong>da</strong>s ou fabrica<strong>da</strong>s.A terra em si é viva. É a fonte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Tudo nesta terratem um espírito comunicativo que pode estar dormente oudesperto. Esse é o princípio supremo <strong>da</strong> filosofia indígena.O segundo é que tudo neste mundo precisa servalorizado, seja a lua, um pequeno inseto ou uma árvore.Isso por certo também vale para os seres humanos,basta ver as tradições cerimoniais. São cerimônias deagradecimento, de reconhecimento. E na graditão existereciproci<strong>da</strong>de. Reciproci<strong>da</strong>de é a base do respeito. Quemdá, recebe. Um presente gera outro presente. Respeitogera respeito. E a reciproci<strong>da</strong>de é estendi<strong>da</strong> não somenteaos outros seres humanos como também àqueles outroselementos do mundo que mantêm as nossas vi<strong>da</strong>s, que aMãe Terra nos dá como presente. Nós trabalhamos comela. O sol aju<strong>da</strong>. A chuva aju<strong>da</strong>. E a Mãe Terra provêalimentos para seus filhos.P: A comuni<strong>da</strong>de tribal tem um vínculo profundo,não tem?Barreiro: Os povos indígenas estão sempre se perguntando“onde me encaixo”? Indivíduos na ver<strong>da</strong>de não existem.Somos animais sociais, comuni<strong>da</strong>des conecta<strong>da</strong>sespiritualmente. Esse é um elemento central. É por issoque os negócios são difíceis nas reservas. O primo Joe abreum posto de gasolina, mas tem muitos parentes pobres enão pode recusar-lhes um tanque de gasolina, de modoque seu negócio vai à falência. Essa é uma história real quesempre se repete. Você dá algo hoje e, duas semanas depois,quando o primo retorna de uma caça<strong>da</strong> bem-sucedi<strong>da</strong>, vocêganha parte de um veado. Quando funciona corretamente,a reciproci<strong>da</strong>de é parte <strong>da</strong> equação. E sempre se aprendealguma coisa. Também há aquelas pessoas que querem levarvantagem, mas elas ganham a reputação de serem desse jeito.P: Instituições como o museu e outras organizaçõespromovem diálogos e parcerias efetivos?Barreiro: Aqui no Instituto Smithsoniano germinou oNMAI, um museu dirigido por indígenas que significamuito para os povos nativos do hemisfério. Eles gostamde saber que há um museu indígena aqui no meio <strong>dos</strong>hopping, há 300 metros do Congresso <strong>dos</strong> EUA. Umainstituição como essa tem muita força. Há um elemento denossa cultura e identi<strong>da</strong>de que pode superar os problemasque atravessam o caminho do discurso real. Depois detanto conflito e tanta hostili<strong>da</strong>de, talvez estejamos entrandoem uma era, para o país e para o mundo, em que possahaver um meio de atingir esse objetivo nas tradiçõesindígenas de conciliação e pacificação.Acredito que, se encontrarmos a base adequa<strong>da</strong> paraestabelecer esse diálogo, ele poderá ser um diálogo central,essencial no mundo. Não é somente nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>;existem povos indígenas no mundo todo e culturas muitoantigas que preservaram fortes características de sua própria“indigenei<strong>da</strong>de” como ela se manifestou em seu padrãocivilizacional. Eles são como os anciãos de uma famíliahumana. Esses garotos <strong>da</strong> Wall Street não são anciãos. Sãojovens guia<strong>dos</strong> por uma visão muito limita<strong>da</strong>. A vi<strong>da</strong> é maisque isso. Eu sei porque já estive em lugares extremamentepobres no meio do na<strong>da</strong>, uma cabana com uma mulheri<strong>dos</strong>a ou um homem velho que poderiam impressionálocom o que sabem e com seu nível de inteligência ecapaci<strong>da</strong>de humana. Esses são ver<strong>da</strong>deiros professores. Sãoos meus professores. E há pessoas como essas que tambémensinam — não é como a educação formal, que tentaarrancar as coisas de dentro de você. Por fim, acho que éisso que estamos querendo dizer.Na criação desse museu, houve um processo deconstrução de parceria. Nesses 30 e tantos anos, nasNações Uni<strong>da</strong>s e em to<strong>da</strong> a nação, a coisa mais valiosapara os indígenas foram as redes de relacionamento— comuni<strong>da</strong>des muito remotas enviando duas ou trêspessoas para Nova York, Genebra ou Washington. E,nesse movimento, eles conheceram os advoga<strong>dos</strong> dedireitos humanos. Conheceram pessoas <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção,conheceram uns aos outros — ativistas ambientais ede direitos humanos, pessoas com ideias comerciaisjudiciosas, organizações educacionais — e desse trabalhosurgiu uma tremen<strong>da</strong> energia de parceria. A própriaparceria do público americano foi muito importante. Astribos não teriam sobrevivido sem o forte setor do públicoamericano, que continou demonstrando simpatia com oque acontecia e um certo bom senso. Atualmente há todoum leque de parceiros ativos e potenciais. Esperamos queo museu possa ser um ponto central de discussão globale de discurso indígena. O povo indígena precisa disso e omundo, mais ain<strong>da</strong>. José Barreiro foi entrevistado por Lea Terhune, editoragerentedesta eJournal USA.As opiniões expressas nesta entrevista não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 41


A CGNet e o Jornalismo Ci<strong>da</strong>dão na ÍndiaShubhranshu Choudhary é um jornalista indiano quetrabalhou no The Guardian e na BBC, sendo cofun<strong>da</strong>dor<strong>da</strong> CGnet, projeto de jornalismo ci<strong>da</strong>dão que foi objeto deseu ensaio. Neste ano, recebeu o prestigioso prêmio KnightFellowship para jornalistas internacionais por seu trabalhoinovador e, às vezes, arriscado.Shubhranshu ChoudharyAlista de jornalistas publica<strong>da</strong> pelo Sindicato <strong>dos</strong>Jornalistas no estado tribal de Chhattisgarhcontém somente um nome adivasi — o deKamlesh Painkra — que, no entanto, não é maisjornalista.Chhattisgarh (CG) é um pequeno estado <strong>da</strong> regiãocentral <strong>da</strong> Índia, criado em 2000 por causa de suapopulação predominantemente indígena chama<strong>da</strong> deadivasis (habitantes originais). A constituição indianarelaciona essas tribos como “cataloga<strong>da</strong>s”, as quaisconstituem 8% <strong>da</strong> população. Setenta e cinco por cento<strong>dos</strong> habitantes tribais vivem na região central <strong>da</strong> Índia.Os adivasis são a parcela mais desprovi<strong>da</strong> <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de indiana, ocupando o degrau inferior na escala<strong>dos</strong> indicadores sociais. Eles estão em situação pior queos ex-intocáveis (<strong>da</strong>lits). Sua voz política é insignificanteou inexistente. A CGnet foi lança<strong>da</strong> para ajudá-los afazer suas vozes serem ouvi<strong>da</strong>s. A CGnet é o site do povode Chhattisgarh, onde to<strong>dos</strong> os ci<strong>da</strong>dãos são jornalistas.É um fórum que tem por missão a democratização dojornalismo, que não fica restrito apenas aos jornalistas.Kamlesh Painkra diz: “Se a CGNet não existisse,eu teria tido duas escolhas como consequência de fazerjornalismo em Chhattisgarh. A primeira, eu poderia terme suici<strong>da</strong>do; a outra opção seria juntar-me aos maoístas.Eu não tinha uma terceira escolha.” O suicídio é umaopção de desespero, não incomum entre os pobres <strong>da</strong> árearural <strong>da</strong> Índia.Os maoístas são indianos extremistas de esquer<strong>da</strong> quelideram uma rebelião sangrenta <strong>dos</strong> adivasis. Incapazesde progredir nas ci<strong>da</strong>des, fizeram <strong>da</strong>s florestas sua casadurante as três últimas déca<strong>da</strong>s. A situação é tão críticaque o primeiro-ministro indiano declarou a insurgênciainicia<strong>da</strong> pelos maoístas (também conheci<strong>dos</strong> comonaxalitas) como a maior ameaça interna à segurança <strong>da</strong>Índia.Shubhranshu Choudhary é um jornalista que aju<strong>da</strong> a treinar os povostribais <strong>da</strong> Índia no jornalismo ci<strong>da</strong>dãoAu s ê n c i a d e Co m u n i c a ç ã oAtualmente, não apenas não existem jornalistastribais profissionais como também não há jornalistas quepossam comunicar-se diretamente com os grupos tribais.As taxas de analfabetismo são deploráveis, porque nãohá estabelecimento de ensino que lecione em idiomatribal, a despeito <strong>da</strong>s disposições na constituição indianapara ações favoráveis aos grupos tribais no que se refere aempregos, educação e questões fundiárias. Isso resultouem uma socie<strong>da</strong>de dividi<strong>da</strong> e ausência de diálogo entre ascomuni<strong>da</strong>des tribais e as não tribais.A radio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de poderia complementaros tambores tribais, ain<strong>da</strong> usa<strong>dos</strong> como meio decomunicação, mas a única estação de rádio é agovernamental All India Radio, que não transmitenenhum boletim em idioma tribal.As regulamentações indianas não permitem estações deCortesia: Shubhranshu Choudhary, foto de Bren<strong>da</strong>n Hoffman, ICFJeJournal USA 42


ádio pertencentes a comuni<strong>da</strong>des. A opinião e as questõestribais recebem pouca atenção <strong>da</strong> grande imprensa .De acordo com levantamento realizado pelaorganização de mídia alternativa Charkha, sedia<strong>da</strong> emDélhi, na época do início <strong>da</strong> CGnet, há cinco anos, aporcentagem de reportagens sobre problemas de pessoascomuns nos jornais locais era espantosamente baixa, 2%.Kamlesh Painkra entrou em contato pela primeiravez com a CGnet quando foi exilado de casa por escreversobre as atroci<strong>da</strong>des cometi<strong>da</strong>s pela milícia Salwa Judum,ou “marcha <strong>da</strong> paz”, patrocina<strong>da</strong> pelo estado. O chefede polícia pediu-lhe para apresentar por escrito umpedido de desculpas pelo que escrevera, dizendo tersido um engano. Painkra recusou. Seu irmão foi entãoaprisionado por abrigar maoístas em casa, embora umde seus locatários fosse diretor <strong>da</strong> Força Policial <strong>da</strong>Reserva Central, organização paramilitar indiana, quetentou intervir em seu nome. Um amigo de Painkraque era policial lhe disse que havia um plano <strong>da</strong> políciapara matá-lo e o alertou para que fosse embora. Painkramudou-se para Dantewa<strong>da</strong>, mas não conseguiu encontrartrabalho como jornalista. Os jornalistas ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong>CGnet não somente aju<strong>da</strong>ram Painkra como tambémcontinuaram o seu trabalho.Os jornalistas ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> CGnet aju<strong>da</strong>ram aexpor as violações <strong>dos</strong> direitos humanos que a grandeimprensa havia ignorado. Alguns <strong>dos</strong> artigos haviam sidoencampa<strong>dos</strong> pela grande imprensa e atraído a atenção deativistas de direitos humanos.Os adivasis têm uma tradição oral rica. To<strong>da</strong> suapoesia e suas canções passam de uma geração a outraoralmente. A CGnet pretende digitalizar esses tesourosorais para salvar seus ricos idiomas e culturas tribais.A CGnet treinou alguns jovens adivasis em truquessimples do jornalismo ci<strong>da</strong>dão, como registrar e transmitirseus assuntos por telefone celular usando a câmeraembuti<strong>da</strong>. Essas imagens são em segui<strong>da</strong> carrega<strong>da</strong>s nosite e discuti<strong>da</strong>s no fórum por e-mail.Vo z Pa r a Qu e m Nã o TemEm abril de 2007, a emissora de televisão noticioua morte de meia dúzia de adivasis em uma aldeiachama<strong>da</strong> Santoshpur. As autori<strong>da</strong>des policiais nãodemoraram a emitir uma declaração dizendo que osadivasis haviam morrido em um tiroteio entre a políciae os maoístas. Então um jornalista ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> CGnetregistrou secretamente uma entrevista com o chefe dodestacamento policial que matara os aldeões, o qualforneceu detalhes gráficos <strong>da</strong> operação. Isso forçou oestado a reabrir o caso, que foi levado à alta corte deChhattisgarh por ativistas de direitos humanos.A força crescente do grupo, em termos de númerose <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do debate, é tão animadora que a CGnetespera agora expandir sua área de influência às populaçõestribais de quatro esta<strong>dos</strong> vizinhos. Isso reunirá grupostribais que foram dividi<strong>dos</strong> por fronteiras administrativas,embora tenham idioma e cultura comuns, e forneceráum centro onde comuni<strong>da</strong>des semelhantes possamcompartilhar suas histórias e construir um diálogo com oque eles veem como o “mundo exterior”.Samad Mohapatra, jornalista veterano do estadovizinho de Orissa, diz: “Gostaria que meu estado tivesseuma plataforma semelhante e espero que to<strong>dos</strong> essesfuturos protegi<strong>dos</strong> <strong>da</strong> CGnet criem uma plataforma maisampla de mídia alternativa.”As reuniões anuais <strong>da</strong> CGnet permitem que pessoasde ideologias diferentes se encontrem e conversem cara acara. Na última reunião anual <strong>da</strong> CGnet, representantes<strong>da</strong>s indústrias de mineração e grupos tribais oponentescompartilharam suas preocupações na mesa de reunião.Quarenta e quatro por cento de Chhattisgarh é compostopor florestas onde vivem os grupos tribais. Essas áreasflorestais também abrigam depósitos minerais ricos. Coma nova política econômica, o ritmo de industrializaçãoaumentou. Agora essas áreas florestais ricas em recursosnaturais estão sob o escrutínio de empresas indianas emultinacionais, que pretendem usar esses minerais.Como os grupos tribais não recebem educaçãoformal, temem ser excluí<strong>dos</strong> desse loteamento. A grandeimprensa, cujos proprietários são principalmente grandesempresas ou dependem muito delas, não reserva espaçoadequado para as preocupações tribais.A CGnet tenta preencher essa lacuna. Seus membrostrabalham para complementar a grande imprensaconcentrando-se nos assuntos que ela não cobre ou nãopode cobrir.Quando as autori<strong>da</strong>des indianas permitirem a rádiocomunitária nessa região atribula<strong>da</strong>, os adivasis treina<strong>dos</strong>pela CGnet poderão ter sua própria rede, que será ummeio de comunicação para o povo, pelo povo e do povo,com apenas uma pequena aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> tecnologia e de unspoucos voluntários.O Centro Internacional de Jornalistas sediado emWashington também está aju<strong>da</strong>ndo a concretizar esse sonho.Himanshu Kumar <strong>da</strong> Vanvasi Chetna Ashram, quetrabalhou com os adivasis de Chhattisgarh durante muitotempo, diz: “Os adivasis estão em má situação porquejamais delataram as atroci<strong>da</strong>des cometi<strong>da</strong>s contra eles.Agora a CGnet deu voz a quem não tinha.” As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 43


Rumo a uma Rede Indígena MundialJonathan HookEstu<strong>da</strong>ntes indígenas em Ufa-Shigiri, perto de Ekaterinburg, Rússia, em trajes cerimoniais típicos, comemoram evento deintercâmbio cultural organizado pelo autorCortesia: Jonathan B. Hook/UNTJonathan Hook é diretor de um novo programa naUniversi<strong>da</strong>de do Norte do Texas (UNT), a IniciativaIndígena Americana e Internacional. Hook, ci<strong>da</strong>dão<strong>da</strong> nação cheroqui, trabalhou intensamente com índiosamericanos e grupos indígenas no mundo inteiro. Antesdisso, foi diretor do escritório de Justiça Ambiental e AssuntosTribais <strong>da</strong> Agência de Proteção Ambiental <strong>dos</strong> EUA emDallas, Texas. Trabalhou também no Departamentode Estado <strong>dos</strong> EUA e na UNT em uma série devideoconferências internacionais de estu<strong>da</strong>ntes indígenas.Através <strong>da</strong>s janelas do salão de convenções vejoo raro sol de Anchorage <strong>da</strong>nçando nas encostasorientais de montanhas não muito longínquas.Dentro, ouvintes multinacionais em roupas típicasbrilhantemente colori<strong>da</strong>s ajustam os fones de ouvido <strong>da</strong>tradução e aplaudem. Nessa cúpula para discussão <strong>da</strong>sperspectivas internacionais <strong>dos</strong> indígenas sobre a reaçãoàs mu<strong>da</strong>nças climáticas e as ações paliativas <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s, as paixões correm soltas.Experiências Co m u n sLi g a m Os Po v o s TribaisHá muitas questões de interesse comum às comuni<strong>da</strong>desindígenas do mundo inteiro, a maioria <strong>da</strong>s quais resulta <strong>da</strong>expansão física e cultural européia durante os últimos 500anos. Inúmeras experiências pessoais semelhantes tecem ospadrões de tendências históricas que criam a tapeçaria dequem somos e do que somos hoje. Elas incluem: per<strong>da</strong> deterras e de linguagem, conservação <strong>da</strong> autonomia cultural,coexistência de visões de mundo conflitantes e o progressivoimpacto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas. Governos, ONGs,universi<strong>da</strong>des e grupos comunitários estão trabalhandodiligentemente para enfrentar esses temas, inclusive aUniversi<strong>da</strong>de do Norte do Texas. Minha jorna<strong>da</strong> pessoal seentrelaçou com processos históricos mais amplos, levando àcriação do programa de Iniciativas Indígenas Americanas eInternacionais <strong>da</strong> UNT, o primeiro do seu tipo no Texas.Sou ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> nação cheroqui, uma <strong>da</strong>s quase 600nações indígenas dentro <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. QuandoeJournal USA 44


criança, escutei repeti<strong>da</strong>s vezes histórias de deslocamentosforça<strong>dos</strong>, lutas e sobrevivência. Fui delegado naConvenção de Constituição <strong>da</strong> Nação Cheroqui, eas comuni<strong>da</strong>des indígenas e suas questões sempre meinteressaram.Há poucos anos, sentei com líderes do povo sutiava,no oeste <strong>da</strong> Nicarágua, escutando o aguaceiro de to<strong>da</strong>sas tardes. Eles me mostraram um pequeno dicionário elamentaram uma grande per<strong>da</strong> cultural e pessoal — amorte recente do último falante <strong>da</strong> língua deles. Talvez omaior indicador de identi<strong>da</strong>de cultural, a extinção de umalíngua é uma enorme preocupação para os indígenas dequalquer lugar.Viagens posteriores a comuni<strong>da</strong>des indígenasde Sarawak, Malásia, e montanhas Urais na Rússiaconfirmaram as mesmas preocupações sobre conservação<strong>da</strong> língua, continui<strong>da</strong>de cultural, proteção ambiental,preservação <strong>da</strong> terra e viabili<strong>da</strong>de econômica. Semprehouve muita necessi<strong>da</strong>de de discutir a experiênciado índio americano e o desejo de conhecer os povosindígenas <strong>da</strong>s Américas.Te c n o l o g i a Facilita o Di á l o g oO financiamento de viagens é sempre difícilde conseguir, por isso um anfitrião russo sugeriuque utilizássemos a tecnologia para realizar umavideoconferência. A ideia foi aceita e facilita<strong>da</strong> peloConsulado <strong>dos</strong> EUA em Ekaterinburg, Rússia, pelaEmbaixa<strong>da</strong> <strong>dos</strong> EUA na Malásia e pelo Departamentode Estado <strong>dos</strong> EUA, e realizamos nossa primeiravideoconferência de estu<strong>da</strong>ntes indígenas sobre culturae meio ambiente para jovens do ensino médio. Acomuni<strong>da</strong>de indígena americana foi representa<strong>da</strong> pelaci<strong>da</strong>de tribal de Kialegee Creek, por estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> naçãokiowa e pelo presidente do conselho <strong>da</strong> nação ponca. Aquestão levanta<strong>da</strong> como mais crítica do ponto de vistainternacional foi a <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas.A videoconferência levou a um convite paraque vários estu<strong>da</strong>ntes índios americanos visitassemAltai, na Sibéria. Dois estu<strong>da</strong>ntes e um ancião kiowame acompanharam à Sibéria, onde acampamos comestu<strong>da</strong>ntes e adultos altai ao longo do Rio Katun. Aochegarmos, formamos um círculo, senta<strong>dos</strong> em bancos.Um magnífico homem altai, vestindo um traje típicocompleto no estilo mongol, cavalgou para o centro,com o arco esticado. Desmontou e fez demonstraçõesde instrumentos de cor<strong>da</strong>s e canto altai “gutural”.Durante as noites frias, sentávamos em torno de fogueirascompartilhando histórias e canções de nossas respectivasJonathan Hook, diretor do programade Iniciativa Indígena Americana eInternacionalculturas. As chuvas <strong>da</strong> tarde nos encontravam tomandochá, abriga<strong>dos</strong> dentro <strong>da</strong> ten<strong>da</strong> yurta, redon<strong>da</strong> e quente,explorando as semelhanças culturais e compartilhandovisões do futuro. A ligação entre os kiowa e os altai foivisível e quase imediata.A isso seguiu-se, meses depois, uma visita de quatrojovens educadores altai a líderes e comuni<strong>da</strong>des de índiosamericanos no Oklahoma e no Novo México. Visitamoskeetoowahs e cheroquis no nordeste do Oklahoma ekiowas e comanches na região oeste desse estado. EmAlbuquerque, Novo México, os siberianos participaramde uma reunião do Conselho de To<strong>dos</strong> os Índios Puebloscom o governador Bill Richardson. Mais tarde, logo aonorte de Santa Fé, na casa de um líder pueblo de Tesuque,foi-lhes ofereci<strong>da</strong> uma refeição totalmente indígena,composta de milho, carne de veado e de alce, sal local,legumes <strong>da</strong> horta e frutas do pomar do nosso anfitrião.A Universi<strong>da</strong>de do Norte do Texas demonstrougrande interesse em nossa videoconferência e ativi<strong>da</strong>descorrelatas. Seu presidente ofereceu sediar nossa segun<strong>da</strong>videoconferência anual internacional de estu<strong>da</strong>ntesindígenas. Outros estu<strong>da</strong>ntes indígenas americanosparticiparam do evento e compartilharam espetáculosculturais de <strong>da</strong>nça com a comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de.Quando era diretor do Escritório de JustiçaAmbiental e Assuntos Tribais <strong>da</strong> Agência de ProteçãoAmbiental <strong>dos</strong> EUA em Dallas, Texas, trabalhei comlideranças tribais, diretores ambientais e comuni<strong>da</strong>desde 65 nações indígenas. A UNT fez parceria com meuescritório em algumas iniciativas, tais como obter umaavaliação <strong>dos</strong> riscos cumulativos na terra tribal pelosindígenas e apoiar as oportuni<strong>da</strong>des de educação <strong>dos</strong>índios americanos em colaboração com a Universi<strong>da</strong>deCortesia: Jonathan B. Hook/UNTeJournal USA 45


<strong>da</strong>s Nações Indígenas de Haskell. Comecei a trabalharcom a Universi<strong>da</strong>de do Norte do Texas em outrosprojetos relaciona<strong>dos</strong> com índios americanos, diversi<strong>da</strong>dee multiculturalismo.Programa In d í g e n a In t e r n a c i o n a lO estado do Texas tem a quarta maior populaçãode índios <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, porém não teminfraestrutura para apoiar essa população. Não existecoordenação estadual nem comissão indígena, e nenhumauniversi<strong>da</strong>de do estado tinha programas volta<strong>dos</strong> para oíndio americano até 2009, quando a UNT inaugurouseu programa de Iniciativas Indígenas Americanas eInternacionais (IIAII). Seu nome reflete a continui<strong>da</strong>dede questões compartilha<strong>da</strong>s entre os povos indígenas detodo o mundo. A visão desse novo programa é promovero crescimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des indígenas e institucionais,nacionais e internacionais, ouvindo-as, respondendo a elase colaborando com elas de forma não paternalista.Durante milênios, os povos indígenas valorizarama educação e a capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação criativa. Amor,cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> e instrução excepcionais foram <strong>da</strong><strong>dos</strong> às criançasíndias americanas em seu ambiente tribal de acordocom um modelo. Quinhentos anos de enfermi<strong>da</strong>des,genocídios e extermínio cultural privaram muitas geraçõesde índios <strong>da</strong>s ferramentas para a<strong>da</strong>ptação e superação <strong>dos</strong>obstáculos que enfrentavam nos sistemas educacional,empregatício e social do Ocidente. Caracteristicamente, asinstituições religiosas, políticas e educacionais ocidentaisimpunham seus paradigmas culturais às comuni<strong>da</strong>desindígenas de modo paternalista. Isso levou ao aumento<strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s culturais e a uma aversão <strong>dos</strong> índios pelosprogramas impostos. Atualmente a UNT tem um númerode estu<strong>da</strong>ntes índios americanos maior que o de qualqueroutra universi<strong>da</strong>de do estado.Os mecanismos para um envolvimento eficazincluem reuniões com nosso Conselho ConsultivoIndígena (IAC), criado recentemente, observaçõescui<strong>da</strong><strong>dos</strong>as durante as visitas locais às comuni<strong>da</strong>des,leitura de publicações indígenas ou não e atenção àssolicitações do governo tribal e <strong>da</strong> organização tribal. Oconselho consultivo compreende índios americanos doTexas e de Oklahoma. Ele abrange uma ampla faixa deespecialização, que vai de enfermagem, educação, direito,ativismo comunitário, governo tribal, meio ambiente enegócios a liderança espiritual. O IAC está bem preparadopara seu duplo papel de garantir a integri<strong>da</strong>de culturale identificar projetos de interesse para as comuni<strong>da</strong>des.Ser receptivo às comuni<strong>da</strong>des indígenas significa atenderde modo reativo às solicitações específicas e trabalhar demodo proativo para tornar-se uma instituição “amiga <strong>dos</strong>indígenas”. Nesse sentido, a UNT oferece:• Uma varie<strong>da</strong>de de cursos volta<strong>dos</strong> para o indígena;• Especialização/habilitação secundária em estu<strong>dos</strong>indígenas e presença significativa de indígenas nocorpo docente e quadro de pessoal em to<strong>dos</strong> osníveis;• Recrutamento e financiamento contínuos deestu<strong>da</strong>ntes indígenas;• Liderança na Lei de Repatriação e Proteção <strong>dos</strong>Túmulos de Indígenas Americanos;• Preservação <strong>da</strong> linguagem;• Biblioteca com significativo acervo gerado porindígenas;• Organização estu<strong>da</strong>ntil indígena viável;• Pesquisa liga<strong>da</strong> aos índios;• Orientação por profissionais indígenas;• Relações fortes com nações indígenas, facul<strong>da</strong>destribais e organizações de índios americanos.O enfoque internacional responde às preocupaçõescompartilha<strong>da</strong>s pelas comuni<strong>da</strong>des indígenas mundiaiscom relação aos impactos atuais e potenciais <strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças climáticas e à capaci<strong>da</strong>de ímpar <strong>da</strong> UNTde se ocupar do tema. O sucesso real do programaserá medido pelas mu<strong>da</strong>nças de vi<strong>da</strong> na universi<strong>da</strong>de eem comuni<strong>da</strong>des do mundo inteiro. Enquanto ouvia,no Alasca, notícias sobre os impactos <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas nas comuni<strong>da</strong>des indígenas, minha menteretrocedeu muitos anos para uma apresentação feita porminha filha. Ela fez com que crianças senta<strong>da</strong>s em círculojogassem uma bola de fios umas para as outras, criando oque parecia uma teia de aranha. Em segui<strong>da</strong>, pediu queca<strong>da</strong> criança sucessivamente puxasse seu pe<strong>da</strong>ço de fio.To<strong>da</strong>s conseguiram sentir os puxões, demonstrando oimpacto que ca<strong>da</strong> um de nós tem sobre o outro e sobreto<strong>da</strong>s as coisas vivas. Nosso novo programa existe paracelebrar, alimentar e apoiar esse círculo de vi<strong>da</strong> global. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posiçãonem as políticas do governo <strong>dos</strong> EUA.eJournal USA 46


Recursos AdicionaisLivros, artigos, sites e filmes sobre povos indígenasLIVROS E ARTIGOS“Climate Change and Indigenous Peoples” [“Mu<strong>da</strong>nçaClimática e Povos Indígenas”], Cultural SurvivalQuarterly, vol. 32, no 2 (Terceiro trimestre de 2008)http://www.culturalsurvival.org/publications/csq/32-2-summer-2008-climate-change-and-indigenous-peoplesAlvin Josephy. “New England Indians: Then and Now”[“Índios <strong>da</strong> Nova Inglaterra: Ontem e Hoje”], in LaurenceM. Hauptman e James D. Wherry, orgs., The Pequots inSouthern New England: The Fall and Rise of an AmericanIndian Nation [Os Pequots no Sul <strong>da</strong> Nova Inglaterra:Que<strong>da</strong> e Renascimento de uma Nação Ameríndia]. Norman,Oklahoma: University of Oklahoma Press, 1990.Anaya, S. James, org. International Law and IndigenousPeoples [Direito Internacional e os Povos Indígenas].Aldershot, Hants, Reino Unido; Burlington, VT: Ashgate/Dartmouth, 2003.Gordon, Raymond G., org. Ethnologue: Languages of theWorld [O Etnólogo: Línguas do Mundo]. 15 a edição. Dallas,Texas: SIL International (anteriormente conhecido comoInstituto de Linguística de Verão), 2005.http://www.ethnologue.comHall, Thomas D. e James V. Fenelon. Indigenous Peoplesand Globalization: Resistance and Revitalization [PovosIndígenas e a Globalização: Resistência e Revitalização].Boulder, Colorado: Paradigm Publishers, 2009.Howard, Bradley R. Indigenous Peoples and the State: TheStruggle for Native Rights [Povos Indígenas e o Estado: aLuta pelos Direitos Indígenas]. DeKalb, Illinois: NorthernIllinois University Press, 2003.Mithun, Marianne. The Languages of Native North America[As Línguas <strong>dos</strong> Indígenas <strong>da</strong> América do Norte]. Cambridge,Reino Unido: Cambridge University Press, 1999.Miyaoka, Osahito, Osamu Sakiyama e Michael Krauss,orgs. The Vanishing Languages of the Pacific Rim [AsLínguas em Extinção <strong>da</strong> Bacia do Pacífico] Oxford, ReinoUnido: Oxford University Press, 2007.Prucha, Francis Paul org. Documents of United StatesIndian Policy [Documentos <strong>da</strong> Política Indígena <strong>dos</strong>Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>], 2 a edição amplia<strong>da</strong>. Lincoln, Nebraska:University of Nebraska Press, 1990.Thornberry, Patrick. Indigenous Peoples and HumanRights [Povos Indígenas e os Direitos Humanos]. Nova York:Juris Publishers; Manchester, Reino Unido: ManchesterUniversity Press, 2002.Wilkinson, Charles F. Blood Struggle: The Rise of ModernIndian Nations [Luta Sangrenta: Ascensão <strong>da</strong>s ModernasNações Indígenas]. Nova York: W.W. Norton & Co., 2005.Autores ColaboradoresBarreiro, José e Tim Johnson, orgs. America Is IndianCountry: Opinions and Perspectives from Indian CountryTo<strong>da</strong>y [Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> são um País Indígena: Opiniõese Perspectivas do País Indígena Hoje]. Golden, Colorado:Fulcrum Publishing, 2005.Bruchac, Joseph. Our Stories Remember: American IndianHistory, Culture, and Values Through Storytelling [NossasHistórias Narra<strong>da</strong>s Lembram a História, a Cultura e osValores Indígenas Americanos]. Golden, Colorado: FulcrumPublishing, 2003.Deloria, Vine. God Is Red: A Native View of Religion [DeusÉ Vermelho: uma Visão Indígena <strong>da</strong> Religião]. Golden,Colorado: Fulcrum Publishing, 2003.Deloria, Vine. The World We Used to Live In:Remembering the Powers of the Medicine Men [O Mundoem Que Vivíamos: Recor<strong>da</strong>ndo os Poderes <strong>dos</strong> Pajés]. Golden,Colorado: Fulcrum Publishing, 2006.Giago, Tim A. Children Left Behind: Dark Legacy ofIndian Mission Boarding Schools [Crianças Esqueci<strong>da</strong>s:Legado Sombrio <strong>dos</strong> Internatos <strong>da</strong>s Missões Indígenas] [de]Tim Giago (Nanwica Kciji, Defen<strong>da</strong>-os). Santa Fé, NovoMéxico: Clear Light Publishers, 2006.eJournal USA 47


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O Último <strong>dos</strong> Moicanos (1992)Diretor: Michael Mannhttp://www.imdb.com/title/tt0104691/Filme ganhador de Oscar baseado no romance de JamesFennimore Cooper sobre caçadores de pele e índiosdurante a Guerra Franco-Indígena na América do Nortecolonial, estrelado por Daniel Day Lewis e os atoresindígenas Wes Studi e Russell Means.We Shall Remain [Nós Permaneceremos] (2009)http://www.pbs.org/wgbh/amex/weshallremain/Diretor: Chris EyreSérie de documentários do premiado programa <strong>da</strong> PBS,American Experience [Experiência Americana], “We ShallRemain” apresenta a história pós-colonial a partir <strong>da</strong>perspectiva <strong>dos</strong> indígenas americanos.eJournal USA 49

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