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Dissertação Rodrigo Borges - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica TropicalEstu<strong>do</strong>s Etnobotânicos na Comunida<strong>de</strong> Caiçara Martim <strong>de</strong> Sá,APA <strong>de</strong> Cairuçu, Paraty, RJ.<strong>Rodrigo</strong> <strong>Borges</strong>2007


<strong>Borges</strong>, <strong>Rodrigo</strong>B732a Estu<strong>do</strong>s Etnobotânicos na Comunida<strong>de</strong> Caiçara Martim <strong>de</strong> Sá,APA <strong>de</strong> Cairuçu, Paraty, RJ / <strong>Rodrigo</strong> <strong>Borges</strong>. – <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, 2007.xvi, 51 f. : il.Dissertação (mestra<strong>do</strong>) – Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>/Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica Tropical, 2007.Orienta<strong>do</strong>ra: Ariane Luna Peixoto.Bibliografia.1. Etnobotânica. 2. Plantas úteis. 3. Conservação da natureza.4.Mata Atlântica. 5. Conhecimento Caiçara. 6. Parati (RJ). 7. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><strong>Janeiro</strong> (Esta<strong>do</strong>). I. Título. II. Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica Tropical.CDD 581.63


Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica TropicalEstu<strong>do</strong>s Etnobotânicos na Comunida<strong>de</strong> Caiçara Martim <strong>de</strong> Sá,APA <strong>de</strong> Cairuçu, Paraty, RJ.<strong>Rodrigo</strong> <strong>Borges</strong>Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong>Pós-Graduação em Botânica da EscolaNacional <strong>de</strong> Botânica Tropical, <strong>do</strong>Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong><strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, como parte <strong>do</strong>s requisitosnecessários para a obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong>Mestre em Botânica.Orienta<strong>do</strong>ra: Ariane Luna Peixoto<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>2007


Estu<strong>do</strong>s Etnobotânicos na Comunida<strong>de</strong> Caiçara Martim <strong>de</strong> Sá,APA <strong>de</strong> Cairuçu, Paraty, RJ.<strong>Rodrigo</strong> <strong>Borges</strong>Dissertação submetida ao corpo <strong>do</strong>cente da Escola Nacional <strong>de</strong> BotânicaTropical, Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> - JBRJ, comoparte <strong>do</strong>s requisitos necessários para a obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> Mestre.Aprovada por:Prof. Drª. Ariane Luna Peixoto (orienta<strong>do</strong>ra)Prof. Drª. Margarete EmmerichProf. Drª. Regina Helena Posch Andreataem 27/02/ 2007.<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>2007


“O problema não é apenas proteger recursos e lugares, mas valorizar a essência <strong>do</strong> homem”Milton Santos.“No fun<strong>do</strong>, os múltiplos problemas da ciência são problemas <strong>do</strong> homem.”David Hume.


Agra<strong>de</strong>cimentosÀ Drª. Ariane Luna Peixoto, minha orienta<strong>do</strong>ra, pela generosida<strong>de</strong>, estímulo ao trabalhoe sabe<strong>do</strong>ria com que me acompanhou no percurso da pesquisa;Aos professores da Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica Tropical, <strong>do</strong>s quais tive o privilégio <strong>de</strong>ter si<strong>do</strong> aluno;Ao programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Botânica da Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica Tropical,Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização<strong>do</strong> trabalho;À Secretaria da ENBT, em especial a Abílio e Márcia por to<strong>do</strong> o apoio logístico nessesanos;À comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá: Seu Maneco, Dona Lourença, DonaCapitulina, Paulo Henrique, Zani, Pedro, Joelma, Marcos, Cidinalva, Cláudio, Luciana eLílian, que me acolheram e compartilharam comigo momentos <strong>de</strong> suas vidas naquelecenário esplêndi<strong>do</strong>;À Professora Drª. Luci <strong>de</strong> Senna-Valle, <strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> botânica <strong>do</strong> MuseuNacional, UFRJ, por me auxiliar durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoamento em etnobotânica noano <strong>de</strong> 2004;À Professora Drª. Regina Helena Postch Andreata pelas valiosas sugestões durante aavaliação da pré-dissertação;Aos companheiros <strong>do</strong> Museu Nacional: Ivone, Débora, Maria, Mono, Bárbara,Rosângela, Marcelo, Monique, Verinha, Margarete, Eugênia, Ivete, Agnal<strong>do</strong> e Luís;Ao Marcelo da Costa Souza (Marcelinho) pela incalculável ajuda na marcação daparcela, coleta e i<strong>de</strong>ntificação das plantas. Valeu irmão!Aos especialistas <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> que i<strong>de</strong>ntificaram o materialbotânico: Adriana Quintella Lobão, Alexandre Quinet, Ângela Studart da Fonseca Vaz,Ariane Luna Peixoto, Bruno C. Kurtz, Cyl Farney C. <strong>de</strong> Sá, Elsie Franklin Guimarães, InêsMachline Silva, José Fernan<strong>do</strong> Baumgratz, Luciana F. G. Silva, Marcelo da Costa Souza eRonal<strong>do</strong> Marquete;Aos professores da graduação Marisa Boscacci Marques, Domingos Sávio Nunes,Rosemeri S. Moro, A<strong>de</strong>mir J. Rosso e Olavo M. Ayres pelos ensinamentos;


Aos funcionários <strong>do</strong> IBAMA em Paraty, Ney, Júlio, Tani, Seu Luís, Pedro, Zezé eRegina por facilitarem minhas estadas em Paraty ao ce<strong>de</strong>r o alojamento.Aos companheiros <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> e <strong>de</strong> laboratório em especial Arno e Mônica, Felipe,Inês e Rúbia pelos bons momentos <strong>de</strong> <strong>Jardim</strong> Botânico...À sangha <strong>do</strong> Templo Zen <strong>de</strong> Copacabana por momentos marcantes da vida emcomunida<strong>de</strong>: Célio e Cíntia, Sérgio Amaral, Artur e Jaquinha, Fabiana, Casaver<strong>de</strong> eMarcos;Ao Artur Amaral pela companhia na casa Zen e por toda a ajuda na edição das imagens<strong>do</strong> trabalho;Aos meus queri<strong>do</strong>s pais Antonio e Odaniza, por sempre terem me apoia<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s;Ao Rafael, meu irmão e amigo em todas as horas;À toda minha família: Alécio, Tereza, Marize, Altair, Edson, Magnólia, Michele eAn<strong>de</strong>rson pelo carinho e afeto, mesmo que <strong>de</strong> longe;Aos amigos distantes: Marcio, Átila, Pablo, Romil<strong>do</strong>, Murilo, Ióris, Ju Fabris e Margotpelo incentivo e tantas histórias na época da graduação na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> PontaGrossa, Paraná;À Maria Otávia S. Crepaldi, minha amiga e parceira, pela leitura crítica <strong>do</strong> texto,sugestões, por compartilhar experiências, i<strong>de</strong>ais e amor.


ResumoA praia Martim <strong>de</strong> Sá localiza-se na Reserva Ecológica da Juatinga e na APA <strong>de</strong> Cairuçu,município <strong>de</strong> Paraty, RJ. Nessa praia <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 m <strong>de</strong> extensão moram 30 pessoas emoito casas. Vivem <strong>de</strong> pesca artesanal, agricultura <strong>de</strong> subsistência, coleta <strong>de</strong> frutos nosecossistemas locais e, mais recentemente, <strong>do</strong> turismo. São to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> alguma maneira,aparenta<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> o Sr. Manoel <strong>do</strong>s Remédios (Seu Maneco) como patriarca. Afirmam-secaiçaras e, nas palavras <strong>de</strong>les caiçaras são “os que sabem caçar, pescar e roçar”. Na áreaon<strong>de</strong> vivem não há luz elétrica, nem telefonia fixa ou móvel. Não há escola ou igreja. Nãohá recolhimento <strong>de</strong> lixo. Uma pequena mercearia para venda <strong>de</strong> utensílios e alimentos foiaberta em 2005 junto à casa <strong>de</strong> Seu Maneco. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi estudar oconhecimento etnobotânico <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res locais, tentan<strong>do</strong> respon<strong>de</strong>r as seguintesquestões: a comunida<strong>de</strong> caiçara Martim <strong>de</strong> Sá <strong>de</strong>tém informações sobre as plantas locais?Quais plantas são utilizadas pela comunida<strong>de</strong>? Como o conhecimento tradicional estádistribuí<strong>do</strong> entre os mora<strong>do</strong>res em relação à ida<strong>de</strong> e gênero? O trabalho <strong>de</strong> campo foi<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005 a maio <strong>de</strong> 2006, quan<strong>do</strong> foram realizadas entrevistas semiestruturadascom 10 pessoas (cinco homens e cinco mulheres) com ida<strong>de</strong>s entre 21 e 63anos. Utilizou-se também a técnica “caminhan<strong>do</strong> na floresta” com os homens. Nessascaminhadas eles foram entrevista<strong>do</strong>s sobre os nomes e os usos das espécies. Os informantesforam entrevista<strong>do</strong>s individualmente para evitar que as suas respostas fossem influenciadaspelas respostas <strong>de</strong> outro informante. As mesmas plantas foram mostradas para to<strong>do</strong>s osinformantes. Coletou-se 73 espécies pertencentes a 30 famílias botânicas que foramor<strong>de</strong>nadas nas seguintes categorias <strong>de</strong> uso: construção (40), alimentar (24), medicinal (11)ornamental (2) e lenha (1). As três espécies mais citadas foram: Sloanea obtusifolia(Moric.) K. Schum. (Sapopema), Scherolobium <strong>de</strong>nudatum Vogel (Ingá-ferro) e Baliziapedicelaris (DC.) Barneby & Grimes (Timbuíba), com 13, 12 e 11 citaçõesrespectivamente. Os homens fizeram mais citações <strong>de</strong> espécies e <strong>de</strong> usos nas categoriasconstrução e alimentar; já as mulheres nas categorias medicinal e alimentar. Entre osinformantes <strong>do</strong> gênero masculino observa-se que os mais i<strong>do</strong>sos (35 – 65 anos) citarammaior número <strong>de</strong> espécies e usos para as plantas <strong>do</strong> que os mais jovens (20 – 34 anos) àexceção <strong>de</strong> Paulo Henrique com 26 anos e 71 citações. Entre as mulheres ocorreu fatosemelhante: as mais i<strong>do</strong>sas têm maior conhecimento sobre as plantas <strong>do</strong> local com exceção<strong>de</strong> Zani com 21 anos e 26 citações. Os mora<strong>do</strong>res ainda empregam o conhecimentotradicional em ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> seu cotidiano, como o cultivo <strong>de</strong> mandioca, cultivo e coleta <strong>de</strong>frutos e fabricação <strong>de</strong> utensílios e canoas para a pesca. Em feria<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s trabalhamno atendimento aos turistas que procuram o lugar para acampar, e estão obten<strong>do</strong> algumganho econômico com isso. Aparentemente estão conseguin<strong>do</strong> aliar as ativida<strong>de</strong>stradicionais à nova ativida<strong>de</strong>. Tentam cuidar <strong>do</strong> lixo <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> pelos “visitantes”, etransportam até Paraty, o lixo reciclável para <strong>de</strong>spejo. Como a área ainda não tem plano <strong>de</strong>manejo implementa<strong>do</strong>, ficam <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s legalmente e questões como limitação <strong>do</strong>número <strong>de</strong> turistas que freqüentam o local e mesmo a segurança <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res ficafragilizada. Embora haja um forte sentimento verbaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> diferentes maneiras sobre aimportância <strong>de</strong> conservar o ambiente on<strong>de</strong> vivem a noção <strong>do</strong> compromisso <strong>de</strong> governo comas UCs não parece compreendida por eles. É importante que o saber <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res sejaincorpora<strong>do</strong> na elaboração <strong>do</strong>s planos <strong>de</strong> manejo e estratégias <strong>de</strong> conservação dabiodiversida<strong>de</strong> in situ das UCs e da cultura tradicional caiçara, já que as diversida<strong>de</strong>sbiológica e cultural estão ameaçadas na região da Floresta Atlântica pela redução das


ativida<strong>de</strong>s em agricultura e crescimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao turismo. Mas éimportante também que os mora<strong>do</strong>res se apropriem <strong>do</strong> conhecimento sobre as UCs na qualvivem e ajudam a preservá-las.Palavras-chave: Etnobotânica, Plantas Úteis, Conservação da Natureza, Mata Atlântica,Conhecimento Caiçara.


AbstractMartim <strong>de</strong> Sá beach is located in the Ecological Reserve of Juatinga and in APA ofCairuçu, municipal district of Paraty, RJ. In that beach about 500 m of extension 30 peoplelive in eight homes. They live of craft fishing, subsistence agriculture, collection of fruits inthe local ecosystems and, more recently, of the tourism. All are, somehow, kindred, tendsMr. Manoel <strong>do</strong>s Remédios (Mr. Maneco) as patriarch. They are affirmed caiçaras and, intheir words caiçaras are "the one that know hunt, to fish and to clear." In the area wherethey live there is no electric light, nor telephony fastens or piece of furniture. There is noschool or church. There is no garbage withdrawal. A small grocery store for sale of utensilsand foods was opened in 2005 close to the house of Mr. Maneco. The objective of thiswork was to study the local resi<strong>de</strong>nts' ethnobotanical knowledge, trying to answer thefollowing subjects: Does the caiçaras of Martim <strong>de</strong> Sá stops information on the localplants? Which plants are used by the community? How is the traditional knowledgedistributed among the resi<strong>de</strong>nts in relation to the age and gen<strong>de</strong>r? The field work was<strong>de</strong>veloped of May 2005 to May 2006, when semi-structured interviews were accomplishedwith 10 people (five men and five women) with ages between 21 and 63 years. It was alsoused the technique "walking in the woods" with the men. In those walks they wereinterviewed on the names and the uses of the species. The informers were interviewedindividually to avoid that their answers were influenced by the answers of another informer.The same plants were shown for all the informers. It was collected 73 species belonging to30 botanical families that were or<strong>de</strong>red in the following use categories: construction (40),food (24), medicinal (11) ornamental (2) and firewood (1). The three species morementioned were: Sloanea obtusifolia (Moric.) K. Schum. (Sapopema), Scherolobium<strong>de</strong>nudatum Vogel (Ingá-ferro) and Balizia pedicelaris (DC.) Barneby & Grimes(Timbuíba), with 13, 12 and 11 citations respectively. The men ma<strong>de</strong> more citations ofspecies and of uses in the categories construction and food; already the women in themedicinal and food categories. Among the informers of the masculine gen<strong>de</strong>r it is observedthat the more seniors (35 – 65 years) mentioned larger number of species and uses for theplants than the more youths (20 – 34 years) except Paulo Henrique with 26 years and 71citations. Enter the women happened similar fact: the more seniors have larger knowledgeon the plants of the place except for Zani with 21 years and 26 citations. The resi<strong>de</strong>nts stilluse the traditional knowledge in activities of they daily one, as the cassava cultivation,cultivation and collection of fruits and production of utensils and canoes for the fishing. Inlingering holidays they work in the service to the tourists that seek the place to camp, andthey are obtaining some economical earnings with that. Seemingly they are getting to allythe traditional activities to the new activity. They try to take care of the garbage left by the"visitors", and they transport Paraty even, the recyclable garbage for spilling. As the areastill <strong>do</strong>esn't have management plan implemented, they are aban<strong>do</strong>ned legally and subjectsas limitation of the number of tourists that frequent the place and even the resi<strong>de</strong>nts' safetyis threatened. Although there is a fort verbalized feeling in different ways on theimportance of conserving the environment where they live, the notion of government'scommitment with UCs is not un<strong>de</strong>rstood by them. It is important that the resi<strong>de</strong>nts'knowledge be incorporated in the elaboration of the management plans and strategies ofconservation of the biodiversity in situ of UCs and of the caiçaras traditional culture, sincethe biological and cultural diversities are threatened in the area of the Atlantic Forest by thereduction of the activities in agriculture and growth of activities related to the tourism. But


it is important also that the resi<strong>de</strong>nts appropriate of the knowledge on UCs in the whichthey live and help to preserve them.Key-words: Ethnobotanic, Useful plants, Nature conservation, Atlantic Rain Forest,Caiçara knowledge.


SumárioPágina1. Introdução...................................................................................................................... 012. Material e Méto<strong>do</strong>s........................................................................................................ 082.1 Área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.................................................................................................. 082.2 A Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá...................................................................... 132.3 Etnobotânica..................................................................................................... 163. Resulta<strong>do</strong>s e discussão.................................................................................................. 193.1 Histórico da Comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá.......................................................... 193.2 Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida e economia <strong>de</strong> subsistência....................................................... 233.3 Os informantes e seu saber sobre as plantas.................................................... 253.4 Os hábitos e as partes vegetais mais utilizadas................................................ 313.5 Origem e localização das plantas na comunida<strong>de</strong>............................................ 323.6 Categorias <strong>de</strong> uso............................................................................................. 333.7 Valor <strong>de</strong> uso (VU)........................................................................................... 363.8 Índice <strong>de</strong> Shannon-Wiever.............................................................................. 374. Conclusões..................................................................................................................... 405. Referências Bibliográficas............................................................................................. 42


Índice <strong>de</strong> figurasPáginaFigura 1: Mapa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a região <strong>de</strong> Paraty....................... 9Figura 2: Mapa <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Paraty, RJ, ressaltan<strong>do</strong> as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservaçãolocais: o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Cairuçu ea Reserva Ecológica da Juatinga. O círculo preto <strong>de</strong>staca a praia Martim <strong>de</strong>Sá.......................................................................................................................................... 9Figura 3: Vista panorâmica da praia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ......................................... 10Figura 4: Exemplo <strong>de</strong> placa encontrada na área <strong>de</strong> camping em Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty,RJ........................................................................................................................................ 11Figura 5: Croqui da praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ, assinalan<strong>do</strong> o porto na localida<strong>de</strong>Saco das Anchovas, as casas <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res locais, as casas <strong>de</strong> farinha e a área on<strong>de</strong> foiefetua<strong>do</strong> o inventário florístico.......................................................................................... 15Figura 6 (a-homens; b-mulheres): Distribuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> citações, ida<strong>de</strong> e gênero porinformante na comunida<strong>de</strong> caiçara da Praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty,RJ....................................................................................................................................... 26Figura 7: Distribuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> citações das espécies mais representativas indicadaspelos caiçaras da Praia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.............................................................. 31Figura 8: Hábitos <strong>de</strong> plantas utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem............................................................................................... 31Figura 9: Partes das plantas utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem............................................................................................... 32


Figura 10: Origem das plantas utilizadas na comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem............................................................................................... 33Figura 11: Localização das plantas utilizadas na comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem............................................................................................... 33Figura 12: Distribuição das etnoespécies nas cinco categorias <strong>de</strong> uso para os caiçaras dapraia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ........................................................................................... 35Figura 13: Distribuição <strong>do</strong>s valores <strong>de</strong> uso (VU) para as 73 espécies citadas como úteispelos caiçaras da Praia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.............................................................. 36


Índice <strong>de</strong> tabelas e AnexosPáginaTabela 1. Relação das espécies vegetais utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong>Sá, Paraty, RJ, em or<strong>de</strong>m alfabética <strong>de</strong> famílias botânicas acompanhadas pelos nomespopulares, categorias <strong>de</strong> uso (cat), valores <strong>de</strong> uso (VU), origem e local <strong>de</strong> coleta (O/loc) eparte utilizada (par). (al = alimentar, co = construção/tecnologia, le = lenha, me = medicinale or = ornamental, hábito (hab) ab = arbusto, av = árvore, hb = herbácea e li = liana, m =mata, q = quintal e r = restinga, cau = caule, cas = casca, esp = espata, fo = folhas, fr = frutoe ra = raiz). * = vi <strong>de</strong> vivo. (?) = plantas cuja origem não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada.............. 27Tabela 2: Famílias botânicas com maiores números <strong>de</strong> espécies citadas como úteis para acomunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.............................................................. 30Tabela 3: Categorias <strong>de</strong> usos das espécies <strong>de</strong> plantas indicadas como úteis pela comunida<strong>de</strong>Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.................................................................................................... 34Tabela 4. Comparação <strong>de</strong> informações compiladas <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em ecossistemascosteiros brasileiros indican<strong>do</strong> fonte, local <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, Veg=tipo <strong>de</strong> vegetação,Abr=abrangência <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> (número <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> uso), N. Inf.=número <strong>de</strong> informantes,N. Esp=número <strong>de</strong> espécies citadas, N. cit=número <strong>de</strong> citações, H´- Índice <strong>de</strong> Shannon-Wiever (B.10 – base 10, B.e-base. ( R - restinga; Ma - mata atlântica; C - áreas cultivadasou roças; (-) indica ausência <strong>de</strong> informação)..................................................................... 38AnexosAnexo 1 – Questionário preliminar para obtenção <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s etnobotânicos.......... 47Anexo 2 – Registros fotográficos <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ............................. 49Anexo 3 – Registros fotográficos <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ............................. 50Anexo 4 – Registros fotográficos na comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ........ 51


IntroduçãoA partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX surge uma ciência interdisciplinar que combinaBotânica e a Antropologia, a qual se nomeou Etnobotânica. O termo foi cunha<strong>do</strong> pelonorte-americano J.W. Harshberger com a publicação, em 1896, <strong>do</strong> artigo intitula<strong>do</strong> Thepurposes of ethno-botany e era inicialmente compreendida apenas como o uso <strong>de</strong>plantas pelo homem “primitivo” (Albuquerque, 2002).A etnobotânica se estabelece no escopo mais amplo da etnobiologia quecompreen<strong>de</strong> o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> classificação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vivo por qualquer culturacomo afirma Posey (1987): “a etnobiologia é essencialmente o estu<strong>do</strong> das conceituações<strong>de</strong>senvolvidas por qualquer socieda<strong>de</strong> a respeito da biologia. Em outras palavras, é oestu<strong>do</strong> <strong>do</strong> papel da natureza no sistema <strong>de</strong> crenças e <strong>de</strong> adaptação <strong>do</strong> homem a<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s ambientes”. Dessa forma, a etnobotânica tem como objetivo a busca <strong>do</strong> saberbotânico tradicional relaciona<strong>do</strong> aos recursos da flora (Guarim Neto et al. 2000).Os etnobotânicos em seus primeiros estu<strong>do</strong>s catalogaram as formas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>plantas pelas pessoas (Prance, 1991). Berlin (1973) <strong>de</strong>fine três áreas <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> daetnobotânica: a da classificação, que se preocupa em estudar os princípios que divi<strong>de</strong>mos organismos em classes, a da nomenclatura, em que são estuda<strong>do</strong>s os princípioslingüísticos para nomear as classes folk e a da i<strong>de</strong>ntificação, que estuda a relação entrecaracteres <strong>do</strong>s organismos e sua classificação.Os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> etnobotânica em geral incluem levantamentos <strong>de</strong> espécies e“etnoespécies” e têm contribuí<strong>do</strong> para planos <strong>de</strong> conservação e manejo <strong>de</strong> ecossistemas(Prance, 1995). Segun<strong>do</strong> Begossi (1993) a área <strong>de</strong> etnobotânica é aquela que seconcentra o maior número <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> etnociência, especialmente aetnofarmacologia que estuda os remédios usa<strong>do</strong>s pelas populações tradicionais. É sensocomum na literatura conservacionista que os povos indígenas e comunida<strong>de</strong>stradicionais têm conhecimento <strong>do</strong>s usos para quase todas as plantas da floresta e queesse é um caminho para enten<strong>de</strong>r quão proveitoso po<strong>de</strong> ser a conservação das florestastropicais (Prance, 1991). Diegues & Arruda (2001) salientam a importância dacontribuição que os estu<strong>do</strong>s em etnobotânica têm trazi<strong>do</strong> na medida em que buscam<strong>de</strong>scobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural, astaxonomias e as classificações totaliza<strong>do</strong>ras. Para esses autores conhecimentotradicional po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como “o saber e o saber-fazer a respeito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>natural e sobrenatural gera<strong>do</strong>s no âmbito da socieda<strong>de</strong> não-urbana/industrial etransmiti<strong>do</strong> oralmente <strong>de</strong> geração a geração”.1


A coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s etnobotânicos envolve uma gama <strong>de</strong> informações a respeito <strong>de</strong>como as comunida<strong>de</strong>s locais se relacionam com o meio ambiente. São obti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> muitasformas: coleta <strong>de</strong> plantas, execução <strong>de</strong> entrevistas, análises <strong>de</strong> laboratório, registrosfotográficos, <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> vida, entre outros (Martin, 1995). Para Prance, 1991 oinventário florístico é um estágio básico necessário para fornecer informações quesustentam o <strong>de</strong>senvolvimento da análise etnobotânica. É importante obter tanto da<strong>do</strong>squantitativos quanto qualitativos para se estudar o conhecimento etnobotânico e utilizarse<strong>de</strong>les no manejo e conservação <strong>do</strong>s recursos naturais, principalmente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>remanescentes florestais importantes para a conservação (Hanazaki et al. 2000).O território brasileiro apresenta uma das maiores diversida<strong>de</strong>s biológica ecultural <strong>do</strong> planeta. Conta com mais <strong>de</strong> 500 áreas indígenas reconhecidas pelo Esta<strong>do</strong>,além <strong>de</strong> diversos grupos <strong>de</strong> populações rurais não-indígenas espalhadas pelo litoral epelo interior, incluin<strong>do</strong> caiçaras, ribeirinhos, caboclos, quilombolas, agricultoresmigrantes, entre outros (Diegues & Arruda, 2001).O termo caiçara tem origem no vocábulo tupi-guarani caá-içara (Sampaio apudAdams, 2000), primeiramente utiliza<strong>do</strong> para <strong>de</strong>signar as estacas colocadas em torno dastabas ou al<strong>de</strong>ias e o cerco feito com galhos <strong>de</strong> árvores finca<strong>do</strong>s no chão para cercar opeixe <strong>de</strong>ntro da água. Com o passar <strong>do</strong>s anos passou a ser o nome da<strong>do</strong> às palhoçasconstruídas nas praias para abrigar canoas e utensílios <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res e, maisrecentemente, para i<strong>de</strong>ntificar os indivíduos e/ou comunida<strong>de</strong>s das áreas costeiras <strong>do</strong>satuais Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, São Paulo, Paraná e norte <strong>de</strong> Santa Catarina. Têmmo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida baseada no extrativismo vegetal, na agricultura itinerante, pesca e noartesanato (Diegues & Arruda, 2001).A literatura sobre comunida<strong>de</strong>s caiçaras é extensa. Adams (2000) em suadissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> levantou 180 publicações sobre comunida<strong>de</strong>s caiçaras <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1943 até 2000, sen<strong>do</strong> que 35 % <strong>de</strong>sses estu<strong>do</strong>s foram publica<strong>do</strong>s na década <strong>de</strong> 90.Diegues & Arruda (2001) mostram, em seu levantamento <strong>de</strong> referênciasbibliográficas sobre os caiçaras, que o extrativismo é a ativida<strong>de</strong> mais realizada poressas comunida<strong>de</strong>s sen<strong>do</strong> assinala<strong>do</strong> em 63% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> 104 trabalhos publica<strong>do</strong>s. Oextrativismo caiçara é feito no mar e estuários, on<strong>de</strong> se pesca e coleta crustáceos e moluscos, enas restingas e matas on<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> plantas é utiliza<strong>do</strong> para uso<strong>do</strong>méstico e comercial. Entre os trabalhos cita<strong>do</strong>s acima apenas 15% foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s noEsta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (Diegues, 2003).2


Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s no litoral <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>nos últimos <strong>de</strong>z anos foram seleciona<strong>do</strong>s para o estabelecimento <strong>de</strong> comparações sobreo conhecimento e as formas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> plantas por comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res, bemcomo as espécies vegetais comuns ao presente estu<strong>do</strong>. Algumas consi<strong>de</strong>rações sobreesses trabalhos são feitas abaixo.Figueire<strong>do</strong> et al. (1997) trabalharam com a comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Calhaus (ilha<strong>de</strong> Jaguanum) localizada na baía <strong>de</strong> Sepetiba, RJ. Conduziram entrevistas com osadultos sobre os usos <strong>de</strong> plantas e compararam a diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> plantasmedicinais com a <strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s insulares da baía <strong>de</strong> Sepetiba.Rossato et al. (1999) estudaram o uso <strong>de</strong> plantas em cinco comunida<strong>de</strong>s caiçarasno litoral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (Praia <strong>do</strong> Puruba, Sertão <strong>do</strong> Puruba, Casa <strong>de</strong> Farinha,Picinguaba e Ilha Vitória) e compararam as citações <strong>de</strong> plantas medicinais entre ascomunida<strong>de</strong>s da costa e das ilhas.Hanazaki et al. (2000), conduziram estu<strong>do</strong>s etnobotânicos em duas comunida<strong>de</strong>scaiçaras no litoral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (Ponta <strong>do</strong> Almada e Praia <strong>de</strong> Camburí)focalizan<strong>do</strong> nos usos <strong>de</strong> plantas. Os mora<strong>do</strong>res das comunida<strong>de</strong>s estudadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mda vegetação nativa em mais da meta<strong>de</strong> das espécies conhecidas e usadas.Na faixa terrestre da Reserva Extrativista Marinha <strong>de</strong> Arraial <strong>do</strong> Cabo (RESEX)localizada no município <strong>de</strong> Arraial <strong>do</strong> Cabo, região <strong>de</strong> Cabo Frio, RJ, Fonseca-Kruel &Peixoto (2004) inventariaram as espécies vegetais usadas, associan<strong>do</strong> este conhecimentoàs tradições locais.Garrote (2004) caracterizou e analisou 19 quintais caiçaras na comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>Saco <strong>do</strong> Mamanguá, Paraty, RJ, <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> vista social, econômico e etnoecológico.Nesses quintais foram encontradas 347 espécies <strong>de</strong> plantas, com uma média <strong>de</strong> 64espécies por quintal distribuídas em três estratos: o estrato herbáceo com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong>plantas ornamentais; o estrato arbustivo com espécies <strong>de</strong>stinadas principalmente aalimentação e o estrato arbóreo, composto por espécies frutíferas e nativas.A comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, na qual se realizou a presente pesquisafoi estudada por duas pesquisa<strong>do</strong>ras: Sinay (2002) buscou compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong>adaptação da comunida<strong>de</strong> ao ecoturismo e compreen<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural dacomunida<strong>de</strong> como bem patrimonial e como elemento <strong>de</strong> risco no planejamento <strong>de</strong>ssaativida<strong>de</strong>. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá foi escolhida por residir em um local on<strong>de</strong> oecoturismo estava apenas começan<strong>do</strong>. Esse fato permitiu à autora refletir sobre asconseqüências <strong>de</strong> tal ativida<strong>de</strong>. Utilizou-se <strong>de</strong> técnicas como a observação participante e3


entrevistas estruturadas com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracterizar a comunida<strong>de</strong> local e osturistas. A autora argumenta que apesar <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá estar inserida nos limites <strong>de</strong>duas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (UC), está sobre forte ameaça <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a especulação imobiliária incentivada pelo crescimento <strong>do</strong> fluxo turístico semplanejamento e facilita<strong>do</strong> pela falta <strong>de</strong> fiscalização <strong>do</strong>s órgãos ambientais responsáveispor essas áreas.Cavalieri (2003) trabalhou o processo <strong>de</strong> reclassificação da Reserva Ecológicada Juatinga prevista pela lei que instituiu o Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Conservação (SNUC) em 2000. Segun<strong>do</strong> a autora, as comunida<strong>de</strong>s da REJ vivenciaram,da década <strong>de</strong> 50 até a década <strong>de</strong> 80, uma forte especulação imobiliária e a chegada <strong>de</strong>grileiros. A partir da década <strong>de</strong> 90, soma<strong>do</strong>s aos problemas fundiários surgiramconflitos ambientais <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à criação <strong>de</strong>ssa UC <strong>de</strong> natureza non edificandi. Atualmente,além <strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos da chegada <strong>do</strong>s grileiros, <strong>do</strong>s turistas e da UC, os mora<strong>do</strong>resenfrentam o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> continuar na sua terra por meio da reclassificação da REJ.A Floresta Atlântica brasileira é um <strong>do</strong>s ambientes naturais mais ameaça<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. Esta floresta cobre as terras altas e baixas ao longo da costa brasileira tornan<strong>do</strong>ao quarto hotspot mais importante em termos <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (Myers etal., 2000). Foi explorada primeiramente para a extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lei, <strong>de</strong>pois paraagricultura, especialmente para as culturas <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e café e, maisrecentemente, muitas áreas foram convertidas em pasto (Moraes et al., 2002).As interferências e modificações realizadas na Floresta Atlântica ao longo <strong>do</strong>sanos repercutiram <strong>de</strong> maneira drástica em sua riqueza e diversida<strong>de</strong> florística,promoven<strong>do</strong> o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> inúmeras espécies e ambientes sem iguais (Lima et.al., 2002). A vegetação remanescente representa cerca <strong>de</strong> 7,5% da floresta original, quefoi estimada em aproximadamente 1.227.600 km 2 (Myers et al., 2000).Durante a década <strong>de</strong> 1950 começam a surgir no Brasil alguns movimentossociais e organizações voltadas para a conservação, como a Fundação Brasileira para aConservação da Natureza (FBCN) composta por profissionais pre<strong>do</strong>minantemente dasCiências Naturais influencia<strong>do</strong>s pela idéia preservacionista norte-americana vigente naépoca para a criação <strong>de</strong> parques e reservas. Essa idéia abrangia três objetivos principais:recreação e <strong>de</strong>leite das populações urbanas, educação ambiental e pesquisa (Diegues,2001).4


Ao final da década <strong>de</strong> 60 o governo militar, por conta <strong>de</strong> políticas autoritárias emo<strong>de</strong>rnizantes <strong>de</strong>cidiu estabelecer uma indústria pesqueira mo<strong>de</strong>rna que superasse,naquela época, a participação da pesca artesanal. Essas empresas estavam interessadasna exploração <strong>de</strong> produtos nobres para a exportação, como o camarão e a lagosta, poishaviam recebi<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos provenientes <strong>do</strong>s incentivos fiscais eprecisavam <strong>de</strong> retorno rápi<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>vastação <strong>do</strong>s recursos pela pesca industrial gerouconflitos com as embarcações da pesca artesanal e seus sistemas <strong>de</strong> manejo tradicional,provocan<strong>do</strong> em muitos casos perda <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> pesca e mortes (Diegues, 2001).Associa<strong>do</strong> a isso ocorreu uma forte expansão turística e imobiliária no Esta<strong>do</strong><strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, em gran<strong>de</strong> parte pela abertura e pavimentação da estrada BR-101, notrecho <strong>Rio</strong>-Santos. A estrada não alcançou todas as localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paraty, mas a vinda<strong>do</strong>s turistas e grileiros lançou as comunida<strong>de</strong>s tradicionais num universo distintodaquele vivi<strong>do</strong> pelas gerações anteriores. Os mora<strong>do</strong>res que trabalhavam na terrautilizan<strong>do</strong>-a como espaços <strong>de</strong> recursos naturais <strong>de</strong> uso comum conheceram nessa épocaos processos <strong>de</strong> reintegração <strong>de</strong> posse, as ações <strong>de</strong>marcatórias e as frau<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cartóriopara consolidar a proprieda<strong>de</strong> da terra. Tais processos foram e continuam sen<strong>do</strong>movi<strong>do</strong>s pelos recém-chega<strong>do</strong>s proprietários (Cavalieri, 2003). Garrote (2004) verificouque os grupos familiares <strong>de</strong> Saco <strong>do</strong> Mamanguá, Paraty, RJ per<strong>de</strong>ram a mobilida<strong>de</strong>interna e os territórios comuns da região e associou esse fato ao processo <strong>de</strong> abertura daestrada BR-101(<strong>Rio</strong>-Santos) e à criação <strong>de</strong> UCs na região como medida <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>local.Muitos conflitos foram gera<strong>do</strong>s pela “compra” <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> terra. Umexemplo foi a aquisição da Praia <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong>, Paraty, RJ por uma empresa cana<strong>de</strong>nsecom o objetivo <strong>de</strong> instalar um complexo turístico no local. O estabelecimento seconcretizou, mesmo com a mobilização <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res locais não favoráveis a talempreendimento, que hoje se encontram em uma pequena região <strong>do</strong> seu territóriotradicional (Diegues, 2001).Outro exemplo aconteceu na Praia <strong>do</strong> Sono, Paraty, RJ, on<strong>de</strong> se encontra ocon<strong>do</strong>mínio Laranjeiras, um <strong>do</strong>s mais ricos <strong>do</strong> país (Cavalieri, 2003). Para acessar oantigo cais tradicional <strong>de</strong> cinco comunida<strong>de</strong>s costeiras, os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> entorno sãoobriga<strong>do</strong>s a portar crachá <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e só po<strong>de</strong>m acessá-lo com a presença <strong>do</strong>grupo <strong>de</strong> seguranças <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio. Os mora<strong>do</strong>res são leva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> carro da portaria <strong>do</strong>con<strong>do</strong>mínio até o cais apenas quan<strong>do</strong> os seguranças se certificam, por rádio, que o barcousa<strong>do</strong> em seu transporte até Paraty se encontra ancora<strong>do</strong>. Portanto o acesso marítimo é5


igorosamente controla<strong>do</strong>. Uma caminhada até Paraty por terra implica em uma a cincohoras conforme a localização da comunida<strong>de</strong> (Cavalieri, 2003).As Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação, no âmbito <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio fe<strong>de</strong>ral, sãoregulamentadas pela lei 9.985 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2000 que instituiu o Sistema Nacional<strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação. A maior parte das UCs brasileiras (fe<strong>de</strong>rais, estaduais oumunicipais) foram selecionadas com o interesse em preservar áreas <strong>de</strong> notável belezacênica, proteger animais ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção, proteger mananciais hídricos, entreoutros. O processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> UCs no Brasil ainda é realiza<strong>do</strong> através <strong>de</strong> ações<strong>de</strong>sconectadas entre as administrações municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>rais (Lima et al.,2002).A maior parte das UCs criadas no país é <strong>de</strong> proteção integral e exclui aparticipação das populações que ali vivem na gestão das unida<strong>de</strong>s. Isso se reflete naestratégia <strong>de</strong> conservação utilizada pelas instituições oficiais no Brasil, que aindaprioriza atitu<strong>de</strong>s influenciadas por idéias preservacionistas norte-americanas (partin<strong>do</strong>da premissa que a natureza selvagem é intocada e intocável e é impensável que umaunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação pu<strong>de</strong>sse proteger além da diversida<strong>de</strong> biológica, a diversida<strong>de</strong>cultural) sem consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> manejo sustenta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos florestaiscomo forma <strong>de</strong> valorizar e conservar tais recursos. Em conseqüência, o conhecimento<strong>de</strong>ssas populações fica <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> embora seja <strong>de</strong> fundamental importância para omanejo <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s (Diegues, 2001).O território <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> ocupa uma área <strong>de</strong> 43.650 km 2 . Estimaseque à época <strong>do</strong> <strong>de</strong>scobrimento, a Mata Atlântica cobria cerca <strong>de</strong> 98% <strong>do</strong> seu território(Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas, 2006). Segun<strong>do</strong> a mesma fonte, estu<strong>do</strong> da Comissãopara o Tombamento <strong>do</strong> Sistema Serra <strong>do</strong> Mar/Mata Atlântica em 1990 estimou acobertura florestal em 6.907 km 2 , ou seja, 15,95% da área <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.O conhecimento tradicional po<strong>de</strong> fornecer informações muito úteis noplanejamento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento participativo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação comsustentabilida<strong>de</strong> (Hanazaki, 2002). Alguns autores argumentam que o conhecimentotradicional po<strong>de</strong> complementar o conhecimento científico ao fornecer experiênciaspráticas pela vivência nos ecossistemas e, por conseguinte, respon<strong>de</strong>r a mudanças nestesecossistemas (Berkes et al. 1998, Hanazaki, 2002).As diversida<strong>de</strong>s biológica e cultural estão geralmente combinadas. Nas áreastropicais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> on<strong>de</strong> há gran<strong>de</strong>s concentrações <strong>de</strong> espécies, encontra-se comfreqüência uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural. O isolamento geográfico por complexos6


sistemas fluviais e ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> montanhas que propiciam a especiação biológica tambémfavorece a diferenciação <strong>de</strong> culturas humanas (Primack & Rodrigues, 2001). Oresguar<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas culturas tradicionais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu ambiente natural ofereceoportunida<strong>de</strong> para se alcançar o duplo objetivo <strong>de</strong> proteger a diversida<strong>de</strong> biológica epreservar a diversida<strong>de</strong> cultural, que representam um <strong>do</strong>s mais valiosos recursos dacivilização humana ao fornecer uma visão singular <strong>de</strong> filosofia, religião, arte, manejo <strong>de</strong>recursos e psicologia (Denslow & Pa<strong>do</strong>ch, 1988 apud Primack & Rodrigues, 2001).Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá habita uma UC <strong>de</strong> usosustentável e apresenta conflito na questão da posse <strong>de</strong> terra; vive numa região apontadacomo <strong>de</strong> alta diversida<strong>de</strong> biológica; encontra-se afastada <strong>de</strong> um centro urbano, cujo<strong>de</strong>slocamento até ele é dificulta<strong>do</strong> por longas caminhadas ou uso <strong>de</strong> barcos, o estu<strong>do</strong>proposto partiu da hipótese <strong>de</strong> encontrar na comunida<strong>de</strong> um eleva<strong>do</strong> conhecimentosobre as plantas locais.As perguntas que orientaram esse estu<strong>do</strong> foram: a comunida<strong>de</strong> caiçara Martim<strong>de</strong> Sá <strong>de</strong>tém informações sobre as plantas locais? Quais plantas são utilizadas pelacomunida<strong>de</strong>? Como o conhecimento tradicional está distribuí<strong>do</strong> entre os mora<strong>do</strong>res emrelação à ida<strong>de</strong> e gênero? Qual é o sentimento da comunida<strong>de</strong> em relação à UC? E àconservação da biodiversida<strong>de</strong>?7


Material e Méto<strong>do</strong>sÁrea <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>Esse estu<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, no litoralsul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A Praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá localiza-se na região da Área<strong>de</strong> Proteção Ambiental (APA) <strong>de</strong> Cairuçu, nos limites da Reserva Ecológica daJuatinga. A APA <strong>de</strong> Cairuçu está localizada no extremo sul <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Paraty-RJentre as coor<strong>de</strong>nadas 23º22’04” - 23º13’30" latitu<strong>de</strong> Sul e 45º43’24" - 44º42’34’longitu<strong>de</strong> Oeste (Figuras 1 e 2). Ocupa na parte continental uma área <strong>de</strong> 33,800 ha, além<strong>de</strong> uma parte insular com 63 ilhas. Seus limites a noroeste são o afluente <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Coriscoe o <strong>Rio</strong> Mateus Nunes até a sua foz junto à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraty; ao norte, a leste e ao sul élimitada pela baía da Ilha Gran<strong>de</strong> e Oceano Atlântico e a oeste pela Serra <strong>do</strong> Mar(Marques et al., 1997). Sobrepõe-se parcialmente ao Parque Nacional da Serra daBocaina, e abrange totalmente a Reserva Ecológica da Juatinga que tem uma área <strong>de</strong>8.000 ha e está incluída no bioma Mata Atlântica.Existem <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> rios na área: os <strong>de</strong> planície que penetram relativamentepouco na serra e os da faixa serrana que <strong>de</strong>senvolvem seus cursos em gran<strong>de</strong> parte namontanha. De mo<strong>do</strong> geral os cursos são <strong>de</strong> pequena extensão em virtu<strong>de</strong> das condições<strong>de</strong> saltos e corre<strong>de</strong>iras <strong>do</strong> relevo. Os rios da APA que se <strong>de</strong>stacam são o Perequê-Açú, Parati-Mirim, Corisco e Mambucaba (o mais extenso). Há quedas d'águas com mais <strong>de</strong> 15 metros <strong>de</strong>altura como a <strong>de</strong> Bananal situada no curso <strong>do</strong> Perequê-Açu. As linhas <strong>de</strong> cumeadapre<strong>do</strong>minante, os cursos <strong>do</strong>s rios, as amplas enseadas e as principais escarpas litorâneas estãoorientadas segun<strong>do</strong> a estrutura geológica da região SW – NE (Marques, 1997).A parte da Serra <strong>do</strong> Mar que forma o bor<strong>do</strong> oci<strong>de</strong>ntal apresenta altitu<strong>de</strong>svariáveis entre 800 a 1.200 metros, atingin<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> 2.000 metros nos pontosculminantes (Marques, 1997). Seu aspecto é <strong>de</strong> uma imponente barreira montanhosa,disposta <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> aparentemente paralelo à linha da costa e com acentuada <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>.De acor<strong>do</strong> com a carta geológica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> - DRM-RJ,pre<strong>do</strong>minam solos <strong>do</strong> tipo podzólico com suas variantes nas áreas <strong>de</strong> maiores altitu<strong>de</strong>s eencostas, sen<strong>do</strong> mais observa<strong>do</strong> o tipo latossolo amarelo-litossol. Na faixa litorâneapre<strong>do</strong>minam os solos hidromórficos.O clima da região tem características tropicais úmi<strong>do</strong>s (superúmi<strong>do</strong>), Af naClassificação <strong>de</strong> Köppen, com pouco ou nenhum déficit <strong>de</strong> água, mesotérmico, comtemperaturas médias anuais à volta <strong>de</strong> 26ºC e 27ºC. Não há perío<strong>do</strong> seco <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> e aumida<strong>de</strong> relativa <strong>do</strong> ar permanece em torno <strong>de</strong> 80% durante o ano to<strong>do</strong> (FIDERJ, 1978).8


A vegetação pre<strong>do</strong>minante da região pertence ao <strong>do</strong>mínio da Floresta OmbrófilaDensa (Veloso et al., 1991). Na região ocorrem subtipos vegetacionais como a floresta <strong>de</strong>restinga e manguezais. A floresta chega em vários pontos até próximo à estreita faixa arenosada praia caracterizan<strong>do</strong> a típica vegetação <strong>de</strong> influência marinha. Por toda região encontra-setambém vegetação antropicamente alterada em diferentes estágios sucessionais como campos<strong>de</strong> ocupação agropecuária, capoeiras e vegetação secundária (Marques et al., 1997).A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá localiza-se em uma pequena praia <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500m <strong>de</strong> extensão, numa região <strong>de</strong>clarada em 1991 como Patrimônio Natural da Humanida<strong>de</strong>e, mais tar<strong>de</strong>, Reserva da Biosfera (Figuras 3 e 4).Figura 3: Vista panorâmica da praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.A região on<strong>de</strong> se localiza a comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá possui relevo bastanteaci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong> e é circundada por montanhas. O litoral é rochoso e favorece a chegada dafloresta até o limite com o mar.10


Figura 4: Exemplo <strong>de</strong> placa encontrada na área <strong>de</strong> camping em Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.A praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, com cerca <strong>de</strong> 500 m <strong>de</strong> comprimento, é precedida por umtrecho <strong>de</strong> restinga em processo <strong>de</strong> regeneração. Entre a restinga e a ca<strong>de</strong>ia montanhosaexiste uma área plana on<strong>de</strong> estão construídas quatro residências próximas umas das outras.O espaço entre elas é manti<strong>do</strong> limpo pelos mora<strong>do</strong>res.Caminhan<strong>do</strong> aproximadamente meia hora no senti<strong>do</strong> SW encontram-se as outrasquatro residências no local <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pelos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Saco das Anchovas. É nesselugar que os mora<strong>do</strong>res da comunida<strong>de</strong> têm um píer para atracar os barcos e canoas. Essascasas são construídas em uma encosta íngreme, diferente <strong>do</strong> que se encontra no outro la<strong>do</strong>da comunida<strong>de</strong>. Ambos grupos <strong>de</strong> casas ficam contorna<strong>do</strong>s por vegetação arbórea.A APA <strong>de</strong> Cairuçu é uma UC fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> uso sustentável criada pelo <strong>de</strong>creto nº.89.242 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1983 que tem como principal objetivo “assegurar a proteção<strong>do</strong> ambiente natural, que abriga espécies raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção, paisagens <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> beleza cênica, sistemas hidrológicos da região e as comunida<strong>de</strong>s caiçaras integradasnesse ecossistema”.A Reserva Ecológica da Juatinga (REJ) é uma UC estadual, criada pelo <strong>de</strong>creto nº.17.981 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1992 e tem como objetivo “preservar o ecossistema local,composto por costões rochosos, remanescentes florestais <strong>de</strong> Mata Atlântica, restingas emangues que, em conjunto com o mar, ao fun<strong>do</strong>, forma cenário <strong>de</strong> notável beleza,11


apresentan<strong>do</strong> peculiarida<strong>de</strong>s não encontradas em outras regiões <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, além <strong>de</strong>fomentar a cultura caiçara local, compatibilizan<strong>do</strong> a utilização <strong>do</strong>s recursos naturais com ospreceitos conservacionistas estabeleci<strong>do</strong>s neste Decreto através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>programa <strong>de</strong> Educação Ambiental específico através da Fundação Instituto Estadual <strong>de</strong>Florestas.” (grifo nosso).O Instituto Estadual <strong>de</strong> Floresta (IEF) é o órgão responsável pela gestão da REJ e sefez presente em Paraty a partir da meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 90, dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> um funcionário. AREJ abrange uma área <strong>de</strong> 8.000 ha. Abriga <strong>do</strong>ze núcleos <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s caiçarasnas seguintes localida<strong>de</strong>s: Saco <strong>do</strong> Mamanguá, Praia Gran<strong>de</strong> da Cajaíba, Martim <strong>de</strong> Sá, Itaoca,Calhaus, Pouso, Juatinga, Cairuçu das Pedras, Ponta Negra, Sono, Antigos e Antiguinhos. Osmora<strong>do</strong>res são em sua maioria aparentada, distribuem-se em trechos ao longo <strong>do</strong> litoral e vivem<strong>de</strong> pesca artesanal, agricultura <strong>de</strong> subsistência e mais recentemente <strong>do</strong> turismo que vem sen<strong>do</strong> ocausa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterização cultural (Garrote, 2004). Os núcleos serelacionam entre si e usam a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraty como centro <strong>de</strong> comércio e serviços, apesarda precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso — a pé por trilhas ou barcos.Em 1998 foi assina<strong>do</strong> um convênio pelo Instituto Brasileiro <strong>do</strong> Meio Ambiente e<strong>do</strong>s Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela Prefeitura <strong>de</strong> Paraty, o IEF/RJ e a ONGSOS Mata Atlântica para a elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> gestão emergencial para a APA e aREJ. Durante a elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão pela SOS Mata Atlântica e seus parceirosgovernamentais o Congresso Nacional votou a lei fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> SNUC, aprovada em 2000.Nesse momento surgiu um novo problema: a Reserva Ecológica da Juatinga precisaria serreclassificada por não constar no SNUC. Iniciou-se então um <strong>de</strong>bate envolven<strong>do</strong> muitossujeitos com percepções e interesses diferentes e por muitas vezes antagônicos. A ReservaEcológica virou palco das mais acirradas discussões ambientalistas contan<strong>do</strong> com apresença <strong>de</strong> proprietários (entre eles alguns reconheci<strong>do</strong>s como grileiros pelo MinistérioPúblico), ONGs, Po<strong>de</strong>r Público (representa<strong>do</strong> por diversas secretarias), comunida<strong>de</strong> local,socieda<strong>de</strong> civil interessada na exploração turística e Universida<strong>de</strong>s (Laboratório <strong>de</strong>Geografia Agrária da USP, Nupaub, Lastrop / Esalq e UFRJ ) (Cavalieri, 2003).Em abril <strong>de</strong> 2001 foi realizada a “Oficina <strong>de</strong> Planejamento Participativo” na IgrejaSanta Rita em Paraty, promovida pela SOS Mata Atlântica, com o intuito <strong>de</strong> discutir areclassificação da Reserva. O grupo era composto pelos mora<strong>do</strong>res da Juatinga e por12


alguns membros <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong>s e ONGs. Nesta reunião o grupo optou pela categoriaReserva <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável levan<strong>do</strong> em conta ser <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> usosustentável, ter conselho <strong>de</strong>liberativo, ter um mosaico <strong>de</strong> terras e a forma como osmora<strong>do</strong>res são apresenta<strong>do</strong>s no texto <strong>do</strong> SNUC. Esta resolução tomada pelo grupo foiincorporada numa versão <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo. Esta reunião contou também com apresença <strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r da Reserva da Juatinga (Cavalieri, 2003).De acor<strong>do</strong> com o art. 27 <strong>do</strong> SNUC (2000) todas as UCs <strong>de</strong>vem preparar um Plano<strong>de</strong> Manejo que é “um <strong>do</strong>cumento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivosgerais <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que<strong>de</strong>vem presidir o uso da área e o manejo <strong>do</strong>s recursos naturais, inclusive a implantação dasestruturas físicas necessárias à gestão da unida<strong>de</strong>”.De acor<strong>do</strong> com o parágrafo 2º., na elaboração, atualização e implementação <strong>do</strong>Plano <strong>de</strong> Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável,das Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental e, quan<strong>do</strong> couber, das Florestas Nacionais e das Áreas <strong>de</strong>Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população resi<strong>de</strong>nte(grifo nosso) (SNUC, 2004). Em outras palavras, o plano <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> uma UC <strong>de</strong> usosustentável <strong>de</strong>ve ser elabora<strong>do</strong> em parceria com as populações resi<strong>de</strong>ntes no local <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>a assegurar sua participação na gestão, conservação e benefícios <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ssas áreasprotegidas.A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> SáAntes <strong>de</strong> iniciar-se a pesquisa conversou-se com o diretor da APA <strong>de</strong> Cairuçu –IBAMA em Paraty, Dr. Ney Pinto França, a respeito das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se trabalhar cometnobotânica em uma comunida<strong>de</strong> daquele litoral. Dr. Ney mostrou nessa conversa ummapa da APA <strong>de</strong> Cairuçu e <strong>de</strong>stacou as comunida<strong>de</strong>s mais interessantes para um estu<strong>do</strong><strong>de</strong>sse tipo. Buscan<strong>do</strong> encontrar um eleva<strong>do</strong> conhecimento etnobotânico, optou-se pelacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, já que esta se acha bem afastada <strong>do</strong> principal centro urbano(Paraty) e em uma região apontada como <strong>de</strong> alta diversida<strong>de</strong> biológica (Marques, 1997).Após essa etapa planejou-se uma visita à comunida<strong>de</strong> para explicitar as intenções <strong>de</strong>trabalho naquele lugar. No dia 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005 partiu-se <strong>do</strong> cais <strong>de</strong> Paraty utilizan<strong>do</strong> comomeio <strong>de</strong> transporte um barco e após duas horas, <strong>de</strong>sembarcou-se na praia Pouso da Cajaíba.13


Dessa praia, seguiu-se caminhan<strong>do</strong> em direção a Martim <strong>de</strong> Sá, por uma hora e meia, emtrilha, e chegou-se à casa <strong>do</strong> Sr. Manoel <strong>do</strong>s Remédios (Seu Maneco), aponta<strong>do</strong> como lí<strong>de</strong>rlocal, pelo diretor da APA <strong>de</strong> Cairuçu. Depois <strong>de</strong> instala<strong>do</strong> em uma barraca <strong>de</strong> acampamento,com a permissão <strong>do</strong> Seu Maneco, conversou-se com ele a respeito da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa envolven<strong>do</strong> a comunida<strong>de</strong> e uma área <strong>de</strong> floresta próxima assuas casas.No dia 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005 foi possível reunir os mora<strong>do</strong>res locais na casa <strong>do</strong> SeuManeco e fazer uma apresentação oral sobre a intenção da pesquisa. A apresentação foi feitaem linguagem clara e acessível sobre o objetivo da pesquisa, a meto<strong>do</strong>logia a ser utilizada, asua duração e o tempo que o pesquisa<strong>do</strong>r permaneceria ali em cada visita. Esclareceu-setambém o vínculo <strong>de</strong> estudante <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> junto à Escola Nacional <strong>de</strong> Botânica Tropical <strong>do</strong>Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.A comunida<strong>de</strong> foi informada que o conhecimento obti<strong>do</strong> na floresta e junto àcomunida<strong>de</strong> seria organiza<strong>do</strong> em forma <strong>de</strong> uma dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> e, possivelmente,publica<strong>do</strong> em uma revista científica. Que se pretendia também levar para a comunida<strong>de</strong> estemesmo conhecimento sistematiza<strong>do</strong> para com ela compartilhar. A pesquisa envolveria apenasa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá e um trecho <strong>de</strong> floresta atlântica utiliza<strong>do</strong> pelos mora<strong>do</strong>res.Foi informada também sobre o orçamento que se dispunha para a execução da pesquisa e quenão se pretendia obter nenhum lucro econômico. Foi esclareci<strong>do</strong> com veemência, o direito dacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não partilhar o seu saber em caso <strong>de</strong> não querer compartilhá-lo.No dia 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 foi apresenta<strong>do</strong> à comunida<strong>de</strong> um termo <strong>de</strong> anuênciapara a realização da pesquisa que foi firma<strong>do</strong> <strong>de</strong> livre vonta<strong>de</strong> pelo Sr. Manoel, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> eaceito como li<strong>de</strong>rança local, e pelo pesquisa<strong>do</strong>r <strong>Rodrigo</strong> <strong>Borges</strong>, biólogo e responsáveltécnico pela pesquisa, com concordância verbal <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res locais. Esse termo <strong>de</strong>anuência juntamente com o projeto <strong>de</strong> pesquisa e outros <strong>do</strong>cumentos foram encaminha<strong>do</strong>s aoConselho <strong>de</strong> Gestão <strong>do</strong> Patrimônio Genético (CGEN) e ao IBAMA, órgãos <strong>do</strong>s quais seobteve as licenças para pesquisa com comunida<strong>de</strong> tradicional e coleta <strong>de</strong> exemplares.Os mora<strong>do</strong>res se afirmam caiçaras ou “aqueles que sabem caçar, pescar e roçar”(palavras <strong>de</strong> Seu Maneco), e admitem que a <strong>de</strong>nominação foi trazida pelas “pessoas <strong>de</strong>fora”. A comunida<strong>de</strong> engloba 30 pessoas que resi<strong>de</strong>m em oito casas, sen<strong>do</strong> que quatro casaslocalizam-se na praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá e as outras quatro em Saco das Anchovas, a próxima14


localida<strong>de</strong> no senti<strong>do</strong> SW a aproximadamente meia hora <strong>de</strong> caminhada. Segun<strong>do</strong> osmora<strong>do</strong>res Saco das Anchovas pertence a Martim <strong>de</strong> Sá. Não existem cercas ao re<strong>do</strong>r dascasas e as trilhas abertas na mata permitem o acesso a elas. Todas as casas são construídascom a frente voltada para o mar e protegidas <strong>do</strong> vento pela vegetação da orla da praia(Figura 5).A organização social da comunida<strong>de</strong> é baseada no grupo familiar, unida<strong>de</strong> básica evital <strong>de</strong> existência. As mulheres são mães <strong>de</strong> família, trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> lar e da roça. Opapel <strong>de</strong>las é <strong>de</strong> extrema importância para a manutenção <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico, suareprodução, produção e sobrevivência. São responsáveis pelo preparo <strong>do</strong>s alimentos,produção <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca, abastecimento <strong>de</strong> lenha, cuida<strong>do</strong> com pequenos animais<strong>de</strong> criação (patos, galinhas) e a criação <strong>do</strong>s filhos. Os homens são encarrega<strong>do</strong>s dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caça e pesca, <strong>de</strong>rrubada e queimada da mata para o estabelecimento <strong>de</strong> roças,construção das moradias, construção e condução <strong>de</strong> canoas e barcos, e manutenção da15


limpeza <strong>do</strong>s quintais para recepção <strong>de</strong> turistas, comumente exercida em Martim <strong>de</strong> Sá.Essas características estão, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> Adams (2000)para as comunida<strong>de</strong>s caiçaras presentes na Mata Atlântica.EtnobotânicaOs trabalhos <strong>de</strong> campo foram realiza<strong>do</strong>s entre maio <strong>de</strong> 2005 e maio <strong>de</strong> 2006 emcinco viagens à praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá. Cada viagem teve a duração <strong>de</strong> sete dias, soman<strong>do</strong>35 dias em campo para coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s espécimes vegetais. Foram realizadasentrevistas semi-estruturadas com <strong>de</strong>z informantes, sen<strong>do</strong> cinco homens e cinco mulheres,utilizan<strong>do</strong> um elenco básico <strong>de</strong> perguntas (Anexo 1) com cada informante em suasresidências. De cada unida<strong>de</strong> familiar entrevistou-se pelo menos um adulto.Para elaboração <strong>do</strong> questionário várias literaturas foram consultadas e optou-se porfazer uma adaptação das questões presentes nos trabalhos <strong>de</strong> Camargo (2003) eCunningham (2000), <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a interligá-los. A primeira autora trata <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> plantasmedicinais e exibe um maior refinamento nessas questões, enquanto o segun<strong>do</strong> autor<strong>de</strong>talha melhor os da<strong>do</strong>s pessoais e <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> recursos ma<strong>de</strong>iráveis.Para obtenção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s etnobotânicos <strong>do</strong>s usos das espécies empregou-se a técnica“caminhan<strong>do</strong> na floresta” (Alexia<strong>de</strong>s, 1996), contan<strong>do</strong> para tal com a colaboração <strong>de</strong> cincohomens. Tal méto<strong>do</strong> foi aplica<strong>do</strong> em um trecho <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> da floresta, on<strong>de</strong> se realizou uminventário florístico e fitossociológico, visan<strong>do</strong> conhecer parte da flora local e no trecho <strong>de</strong>floresta que liga Martim <strong>de</strong> Sá a Saco das Anchovas. Esta técnica consiste em entrevistasrealizadas no campo com um informante, coletan<strong>do</strong> amostras botânicas e informações sobreos diferentes usos das plantas. Nestas caminhadas os informantes foram entrevista<strong>do</strong>s e asmesmas plantas foram mostradas para outros informantes (Alexia<strong>de</strong>s, 1996).Os informantes foram entrevista<strong>do</strong>s individualmente como recomenda<strong>do</strong> porPhillips & Gentry (1993a) para evitar que as respostas fossem influenciadas por outroinformante. As plantas citadas nas entrevistas foram coletadas na floresta, nos quintais aore<strong>do</strong>r das residências <strong>do</strong>s informantes e duas espécies na restinga limítrofe aos quintais naPraia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá.Empregou-se ainda a técnica “artefato-entrevista” (Albuquerque & Lucena, 2004),na qual se coletam informações sobre o material vegetal <strong>do</strong> qual são feitos diferentes16


objetos encontra<strong>do</strong>s na comunida<strong>de</strong> e, conhecen<strong>do</strong>-se o nome vulgar, coleta-se a amostrabotânica e após confirmá-la com os informantes, a i<strong>de</strong>ntifica. Esta técnica foi empregadaindividualmente com to<strong>do</strong>s os informantes.As amostras botânicas coletadas foram prensadas e or<strong>de</strong>nadas em jornais, epreservadas com álcool 92,8º em sacos plásticos veda<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> permanênciano campo (Mori et al., 1989). Após cada um <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s no campo as amostras foramsecas em estufa <strong>de</strong> lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes no Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong><strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. A i<strong>de</strong>ntificação botânica até o nível hierárquico mais exclu<strong>de</strong>nte foirealizada utilizan<strong>do</strong>-se literatura especializada e comparan<strong>do</strong>-se as amostras com as<strong>de</strong>positadas no herbário <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Paraalgumas famílias, a i<strong>de</strong>ntificação taxonômica foi feita ou confirmada pelos especialistas <strong>do</strong>Instituto <strong>de</strong> Pesquisas JBRJ e <strong>de</strong> outras instituições sediadas no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Osexemplares herboriza<strong>do</strong>s, férteis ou com pouca representação na coleção, foram<strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s no herbário <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Pesquisas <strong>Jardim</strong> Botânico <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (RB).As plantas foram classificadas seguin<strong>do</strong>-se o APG II (2003). A grafia <strong>do</strong>s binômioscientíficos foi conferida em revisões taxonômicas recentes e/ou utilizan<strong>do</strong> a base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>sTrópicos, versão on line. Os nomes <strong>do</strong>s autores <strong>do</strong>s táxons encontram-se abrevia<strong>do</strong>ssegun<strong>do</strong> Brummitt & Powel (1992).Além <strong>do</strong>s questionários e das planilhas para anotação <strong>do</strong> inventário, a ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong>coleta e o diário <strong>de</strong> campo foram utiliza<strong>do</strong>s para anotações diversas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a evitar perda<strong>de</strong> informações. Utilizou-se câmara digital Sony DSC P-72 para registros visuais. Optou-sepor não se gravar as entrevistas já que uma tentativa foi feita e o informante se sentiu<strong>de</strong>sconfortável com o uso <strong>do</strong> equipamento. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em campo foram sintetiza<strong>do</strong>sem planilhas e a partir da or<strong>de</strong>nação <strong>do</strong>s mesmos proce<strong>de</strong>ram-se diferentes análises.Para <strong>de</strong>terminar as espécies mais importantes foram calcula<strong>do</strong>s o Valor <strong>de</strong> Uso paraEspécie (Phillips & Gentry 1993a e 1993b), através da qual se obtém um valor <strong>de</strong> uso daespécie por cada informante (a), e posteriormente o valor <strong>de</strong> uso da espécie (b):a) VU is = ∑U is / n is , on<strong>de</strong> U is é o número <strong>de</strong> usos menciona<strong>do</strong>s em cada evento peloinformante i para a espécie s e n is é o numero <strong>de</strong> eventos por espécie s com o informante i.b) VU s = ∑UV is / n sOn<strong>de</strong> n s é igual ao número <strong>de</strong> informantes entrevista<strong>do</strong>s para a espécie s.17


Calculou-se também o índice <strong>de</strong> Shannon-Wiever com intuito <strong>de</strong> comparar os da<strong>do</strong>s<strong>de</strong>ssa pesquisa com resulta<strong>do</strong>s oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisas etnobotânicas realizadas em diferentescomunida<strong>de</strong>s costeiras <strong>do</strong> litoral su<strong>de</strong>ste brasileiro (Figueire<strong>do</strong> et al., 1997; Rossato et al.,1999; Hanazaki et al., 2000; Fonserca-Kruel & Peixoto, 2004). Esse índice é basea<strong>do</strong> naidéia <strong>de</strong> que a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema natural po<strong>de</strong> ser medida como informação contidaem uma mensagem (Begossi, 1996). O cálculo foi feito através da fórmula H’= - ∑ pi log pi(base 10 e base e), sen<strong>do</strong> pi a proporção <strong>de</strong> indivíduos das i espécies, ou seja, o número <strong>de</strong>citações ou informantes por espécie (Magurran, 1988).18


Resulta<strong>do</strong>s e discussãoHistórico da Comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> SáO relato <strong>do</strong> histórico da comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá foi embasa<strong>do</strong> nas anotações <strong>de</strong>relatos orais feitos diretamente pelos membros da comunida<strong>de</strong> ao pesquisa<strong>do</strong>r e nostrabalhos <strong>de</strong> Cavalieri (2002) e Sinay (2002).O Seu Maneco mora na da praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá há gerações e ele tem satisfaçãoem falar sobre esse assunto. Os <strong>de</strong>mais membros da comunida<strong>de</strong>, a maior parte aparentada,<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral repetem esse comportamento. A esse respeito ele comenta em entrevista aCavalieri (2002) (manteve-se a formatação da autora):Lúcia: – Em toda área, o senhor é o único mora<strong>do</strong>r daqui?Maneco: – É, em toda área <strong>do</strong> Martim <strong>de</strong> Sá. Lá no Cairuçu é tu<strong>do</strong> da família,meus filho mora na Anchova, tu<strong>do</strong> da família.Lúcia: – O seu avô é daqui, seu pai, o senhor, seus filhos...Maneco: – To<strong>do</strong>s, meu avô morreu com 95 anos, alcancei ele moran<strong>do</strong> emMartim <strong>de</strong> Sá. Quan<strong>do</strong> me entendi por gente, ele estava moran<strong>do</strong> ali <strong>do</strong> la<strong>do</strong> daminha casa (...). Naquela época era incomoda<strong>do</strong> pelo serviço <strong>de</strong>le mesmo(risadas), que mais nada ele era incomoda<strong>do</strong>. Num vinha ninguém, não chegavaninguém, o velho se quisesse ver alguém tinha que ir pro Pouso, Ponta Negra,Sono. [praias próximas]Lúcia: – O que vocês compravam, Seu Maneco; o que o avô <strong>de</strong> vocêscomprava?Maneco: – Ele, mala pena, comprava o sabão, a querosene e o sal, que o restoele colhia da roça e o vestuário que <strong>de</strong> primeira custava a estragar, né? E ovestuário, duas mudas <strong>de</strong> roupa, já tinha roupa <strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Hoje a pessoa com<strong>de</strong>z, 12 diz que não têm roupa [risadas]. Naquele tempo duas mudas <strong>de</strong> roupa,uma limpa e outra no corpo, já tinha roupa.Em 1998, uma família fluminense (os Pacheco) entrou com uma ação possessóriacontra Seu Maneco no Fórum <strong>de</strong> Paraty. Foi apenas uma notificação judicial num primeiromomento. Seu Maneco não tinha advoga<strong>do</strong> e per<strong>de</strong>u o prazo da contra-notificação. Após19


um ano e um dia a família pediu a reintegração <strong>de</strong> posse da área através <strong>do</strong> processo nº4782/99 (Cavalieri, 2003). Essa história é antiga e remonta aos tempos <strong>do</strong> pai <strong>do</strong> SeuManeco, Seu Roque Fermiano. De maneira muito resumida, Seu Maneco e Dona Lourença(sua esposa) contaram como tu<strong>do</strong> começou a Lúcia Cavalieri, que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao iletramento <strong>do</strong>casal escreveu o texto que se segue. De igual forma essa história foi contada durante opresente estu<strong>do</strong>.O Pacheco chegou turistan<strong>do</strong> e perguntou quem era o <strong>do</strong>no. O pai <strong>do</strong> seuManeco, conheci<strong>do</strong> como seu Roque Caça<strong>do</strong>r, disse que era <strong>de</strong> uma viúva <strong>do</strong><strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>.Após mais ou menos duas semanas voltou o Pacheco, dizen<strong>do</strong> que haviacompra<strong>do</strong> as terras e pediu para que seu Roque mostrasse os rumos [os limites]da Fazenda. Seu Roque mostrou: <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Valo com divisa no <strong>Rio</strong> Bullé(meio da Sumaca) até a vertente <strong>do</strong> Diogo.Pacheco diz ao seu Roque que ele po<strong>de</strong>ria ficar na terra tranqüilo e trouxe umpessoal <strong>de</strong> fora, <strong>de</strong> Minas, <strong>de</strong> Nova Iguaçu para trabalhar. Ele enganava opessoal dizen<strong>do</strong> que era uma fazenda bem bonita, perto da cida<strong>de</strong>, que era sóatravessar um rio que era cheio <strong>de</strong> peixe. Os camaradas chegavam em Paraty<strong>de</strong> noite e pegavam o barco, o mais barato já trata<strong>do</strong> pelo Pacheco, e eramtrazi<strong>do</strong>s para Martim <strong>de</strong> Sá. Eles chegavam putos da vida, se tivessem pistolaatiravam no Pacheco.Em Martim <strong>de</strong> Sá, a fazenda começou a se <strong>de</strong>senvolver ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> carvão ema<strong>de</strong>ira para Paraty e Mangaratiba. Eles <strong>de</strong>smatavam tu<strong>do</strong>. Eram <strong>de</strong> 15 a 25homens que ganhavam o suficiente para pagar a cachaça e o ranchinho[comida e outras necessida<strong>de</strong>s básicas] no armazém [hoje, casa <strong>do</strong> seu Maneco].Seu Roque trabalhou por mais ou menos 20 anos toman<strong>do</strong> conta da fazenda.Antes da chegada <strong>do</strong>s Pachecos, Seu Roque e sua família plantavam banana na20


vargem, faziam farinha para ven<strong>de</strong>r no Pouso - vila bem povoada na época - ecriavam porcos e galinhas que também vendiam.Seu Maneco foi nasci<strong>do</strong> nos Antigos, porque não havia parteira no local, veiomaman<strong>do</strong> ainda para Martim <strong>de</strong> Sá assim que D. Capitulina, sua mãe, saiu <strong>do</strong>resguar<strong>do</strong>. Casou-se e trouxe a mulher, D. Lorença, para morar lá e tiveram osseis primeiros filhos [Camuzinho, Pedro, Paulinho, já morto pica<strong>do</strong> por cobra,Marco, Cida e Teresa].O trabalho na fazenda era difícil. Os camaradas trabalhavam o dia inteirofuran<strong>do</strong> pedra, se fosse dura eram três palmos, três palmos e meio, se fossetábua mole era quatro palmos e meio, <strong>de</strong>rrubavam mato, faziam carvão eserravam ma<strong>de</strong>ira. O Pacheco não se ausentava mais <strong>de</strong> uma semana, contavaquanto cada um tinha trabalha<strong>do</strong> e pagava por quinzena, acertava a conta,<strong>de</strong>scontava a comida e a cachaça <strong>do</strong> armazém. Os barracos para morar, oscamaradas que faziam.“De primeiro” havia um feitor que andava arma<strong>do</strong> e era muito sisu<strong>do</strong>, vigiava,era o administra<strong>do</strong>r. Depois, seu Maneco passou a tomar conta <strong>do</strong> serviço.To<strong>do</strong>s os camaradas se davam bem com ele por conta da sua serieda<strong>de</strong> eeducação.A comida era preparada por D. Capitulina, esposa <strong>de</strong> seu Roque. Quan<strong>do</strong> oPacheco estava na fazenda, ele mesmo colocava a comida numa lata <strong>de</strong> banha<strong>de</strong> côco, marmita <strong>de</strong> levar na roça. As porções eram bem tabeladas[controladas]. Seu Roque e a família sentiam pena <strong>de</strong> tão pouca comida.Quan<strong>do</strong> Pacheco estava ausente, D. Capitulina enchia as marmitas oferecen<strong>do</strong>farinha e peixe. Estes eram oferta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> coração por seu Roque, que fazia afarinha e pegava peixe na praia e não era pago por isso pelo Pacheco. Faziamesmo por costume e por pena <strong>do</strong> pessoal. Seu Maneco trabalhava das sete às16 horas no serviço da ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong>pois abria o armazém e trabalhava até as23 horas ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> comida e cachaça para os trabalha<strong>do</strong>res e mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>Pouso e <strong>do</strong> Cairuçu. Os trabalha<strong>do</strong>res gastavam to<strong>do</strong> o salário no armazém.21


Des<strong>de</strong> garotinho seu Maneco trabalhava, não tinha escola, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que começoua andar já ia buscar água, carregar lenha. Segun<strong>do</strong> ele: “um bom pai colocano serviço ce<strong>do</strong> e não <strong>de</strong>ixa à rola” [solto].A pressão para seu Roque sair aumentou, ele ficou “imprensa<strong>do</strong>” [semcondições <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida]. O Pacheco exigiu a meia, “naentrada eles não fizeram isto”. Seu Roque se aborreceu e seu Maneco com penaacompanhou “o coroa” para o Cairuçu. A fazenda ficou aban<strong>do</strong>nada. Antes <strong>de</strong>morrer, Pacheco procurou no Saco das Anchovas e pediu pro seu Roque e seuManeco voltarem para Martim já que eles que eram os mora<strong>do</strong>res quan<strong>do</strong> elecomprou e eles não aceitaram. Por to<strong>do</strong> o tempo continuaram cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pés<strong>de</strong> fruta que estavam ali planta<strong>do</strong>s.Passou muito tempo no Cairuçu até que Seu Maneco, ouvin<strong>do</strong> a insistência daD. Lorença, que pedia para a família voltar para Martim - ali eles tinham casa,eles tinham ti<strong>do</strong> os primeiros filhos, tinham roça – ce<strong>de</strong>u. Seu Maneco e afamília voltaram então com o casal <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, Paulo Henrique e Bia.Nesse tempo o Clóvis [um <strong>do</strong>s filhos <strong>do</strong> Pacheco que havia faleci<strong>do</strong>] foi emMartim três vezes quan<strong>do</strong> seu Maneco já tinha limpa<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, por duas vezesconversou que não tinha como pagar o salário, mas que ele podia morar otempo da vida que quisesse, por ele estava bem coloca<strong>do</strong>. “Ele queria fazer comnós o mesmo que o pai <strong>de</strong>les havia feito com meu pai”.Seu Maneco reformou a casa, fez mais um quarto, banheiro, um puxa<strong>do</strong>,cozinha, casa <strong>de</strong> farinha, chão, as telhas foram lavadas uma por uma, comproutelha nova para o quarto, construiu banheiro, abriu o caminho pro mar queestava fecha<strong>do</strong>. Plantou mandioca na vargem, abacaxi, banana, abacatelaranja, construiu a pinguela, plantou batata <strong>do</strong>ce e inhame.22


E assim estavam viven<strong>do</strong> com o trabalho da roça e da pesca até que os filhos <strong>do</strong>Pacheco reapareceram (1998), agra<strong>de</strong>ceram Seu Maneco por ter cuida<strong>do</strong> dafazenda e solicitaram que ele e a família saíssem <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá.Após várias batalhas judiciais no processo n° 1999.041.000015-3 (possível <strong>de</strong> seracessa<strong>do</strong> via internet através <strong>de</strong>sse número), tanto em primeira quanto em segundainstâncias, bem como junto aos Tribunais Superiores, foi confirmada em to<strong>do</strong>s os graus <strong>de</strong>jurisdição a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> manter liminarmente Seu Maneco na posse da terra enquanto não háuma <strong>de</strong>cisão final (Cavalieri, 2003).Para Adams (2002) a única forma <strong>de</strong> contribuir para que os caiçaras construam suaprópria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e garantam seus direitos é <strong>de</strong>volven<strong>do</strong> a eles sua história, não só comoforma <strong>de</strong> protegê-los da manipulação externa, mas como forma <strong>de</strong> ressaltar sua importânciana construção da paisagem natural.Seu Maneco participou em 2003 da mesa re<strong>do</strong>nda “Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida tradicionais” noII Simpósio Nacional <strong>de</strong> Geografia Agrária / I Simpósio Internacional <strong>de</strong> Geografia Agráriarealiza<strong>do</strong> na Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho” (UNESP -Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte), promovi<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s Programas <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia<strong>de</strong>ssa instituição e Pós-Graduação em Geografia Humana da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,fornecen<strong>do</strong> o <strong>de</strong>poimento “O mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida tradicional <strong>do</strong> caiçara”, on<strong>de</strong> conta, <strong>de</strong> maneiraanáloga à entrevista acima, sua história <strong>de</strong> vida em Martim <strong>de</strong> Sá e os problemasenfrenta<strong>do</strong>s em relação à posse <strong>de</strong> terra. Tal <strong>de</strong>poimento encontra-se publica<strong>do</strong> no livro: OCampo no Século XXI: território <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> construção da justiça social.Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida e economia <strong>de</strong> subsistênciaNa área on<strong>de</strong> vive a comunida<strong>de</strong> caiçara Martim <strong>de</strong> Sá não há luz elétrica nemtelefonia fixa ou móvel. Não há escola e igreja. O pequeno turismo que ocorre a partir dadécada <strong>de</strong> 90, impôs adaptações ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res em épocas <strong>de</strong> feria<strong>do</strong>sprolonga<strong>do</strong>s. Uma pequena mercearia foi aberta no ano <strong>de</strong> 2005, junto à casa <strong>do</strong> SeuManeco, para venda <strong>de</strong> utensílios e alimentos aos turistas que freqüentam a área paraacampar. Não há recolhimento <strong>de</strong> lixo por parte da prefeitura <strong>de</strong> Paraty nem pelos órgãos23


gestores da área. Atualmente vivem nesse local 30 pessoas entre homens, mulheres, jovense crianças.A agricultura <strong>de</strong> subsistência realizada pelos atuais mora<strong>do</strong>res da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Martim <strong>de</strong> Sá foi <strong>de</strong>sestimulada com a criação da REJ, manten<strong>do</strong>-se apenas o cultivo <strong>de</strong>roças <strong>de</strong> mandioca. As roças estão localizadas próximas as suas casas e são mantidascomunitariamente. Sinay (2002) em seu estu<strong>do</strong>, verificou que <strong>do</strong> início da década <strong>de</strong> 90 atéo carnaval <strong>de</strong> 1999 o número <strong>de</strong> turistas nas altas temporadas não era gran<strong>de</strong> nessa praia,influencia<strong>do</strong> pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao local, que é feito por barcos sain<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paraty eParaty-Mirim com <strong>de</strong>stino à Praia <strong>de</strong> Pouso da Cajaíba, on<strong>de</strong> começa a trilha <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>uma hora <strong>de</strong> caminhada com <strong>de</strong>stino a essa praia, ou <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio Laranjeiras que temacesso restrito, como menciona<strong>do</strong> anteriormente. Além da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso, a autoratambém constatou que o fluxo turístico foi pequeno naquele perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao tipo <strong>de</strong>propaganda sobre o local que acontece pre<strong>do</strong>minantemente boca-a-boca (98 % <strong>do</strong>s casos).A partir <strong>de</strong> 2000, em feria<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s, houve um aumento <strong>de</strong> 200 % no fluxo<strong>de</strong> turistas que procuram a praia para acampar chegan<strong>do</strong> ao limite máximo <strong>de</strong> 240 barracasno carnaval <strong>de</strong> 2001. Ao caracterizar o turista que freqüenta o local a autora expõe que afaixa etária está concentrada entre 15 e 30 anos e são, pre<strong>do</strong>minantemente, estudantes <strong>do</strong>sEsta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> (72%), São Paulo (17 %) e outros (11%), com ida<strong>de</strong>s entre 15 e30 anos e pouca renda. Entre os entrevista<strong>do</strong>s, 42% são estudantes <strong>de</strong> graduação.O aumento <strong>do</strong> turismo na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá provocou mudanças no seucotidiano, nas relações familiares, notadamente no que diz respeito às funções relacionadasaos papéis <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong>s por homens e mulheres, em sua economia e nas representaçõesreferentes à natureza (Sinay, 2002).Nas viagens <strong>de</strong> campo realizadas em janeiro e março <strong>de</strong> 2006, observaram-seturistas acampa<strong>do</strong>s em área próxima às casas <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá.Nesses perío<strong>do</strong>s, além das suas tarefas <strong>do</strong> cotidiano, as mulheres serviram refeições aalguns turistas enquanto os homens aumentavam a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong> para fazer partedas refeições. No final <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>, o lixo reciclável <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> pelos turistas foi recolhi<strong>do</strong>pelos membros da comunida<strong>de</strong>, e leva<strong>do</strong> <strong>de</strong> barco para Paraty pelo Seu Maneco. O lixoorgânico foi recolhi<strong>do</strong> e enterra<strong>do</strong> em local próprio.24


Embora o turismo tenha aumenta<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong>, Saco das Anchovas não é olugar mais procura<strong>do</strong> pelos excursionistas. Como o local tem porto e é passagem paraoutras localida<strong>de</strong>s da REJ, os caminhantes permanecem apenas algumas horas nessalocalida<strong>de</strong> para pedir informações referentes às trilhas existentes aos mora<strong>do</strong>res locais(informantes <strong>de</strong>sse estu<strong>do</strong>).Os informantes e seu saber sobre as plantasForam entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>z informantes sen<strong>do</strong> cinco homens e cinco mulheres comida<strong>de</strong>s entre 21 e 63 anos. A Figura 6 (a, b) apresenta a distribuição <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e gêneros enúmero <strong>de</strong> citações <strong>de</strong> usos <strong>de</strong> plantas por cada informante. Entre os informantes <strong>do</strong> gêneromasculino (Figura 6 a) observa-se que os mais i<strong>do</strong>sos (40 – 65 anos) citaram maior número<strong>de</strong> espécies e usos para as plantas <strong>do</strong> que os mais jovens (20 – 39 anos), à exceção <strong>de</strong> PauloHenrique com 26 anos e 70 citações.Entre as mulheres (Figura 6 b) ocorreu fato semelhante: as mais i<strong>do</strong>sas têm maiorconhecimento sobre as plantas <strong>do</strong> local à exceção <strong>de</strong> Zani (com 21 anos) esposa <strong>de</strong> PauloHenrique. Po<strong>de</strong>-se inferir que Paulo Henrique e Zani embora sejam os informantes maisnovos a participarem das entrevistas, <strong>de</strong>stacaram-se no conhecimento <strong>de</strong> plantas emrelação aos outros informantes por residirem próximo à casa <strong>de</strong> Seu Maneco e DonaLourença, os que <strong>de</strong>monstraram <strong>de</strong>ter maior saber sobre as plantas e seus usos.As entrevistas com os mora<strong>do</strong>res mais i<strong>do</strong>sos revelaram que eles têm um vastosaber sobre plantas tais como épocas <strong>de</strong> floração e frutificação, vinculação <strong>de</strong>las a um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> típico fisionômico (restinga, floresta, roça/quintal) e também sobre outrosfenômenos da natureza tais como direção <strong>do</strong>s ventos, marés, localização <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntesgeográficos e este saber é vivencia<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong>.Phillips & Gentry (1993a) e Hanazaki et al. (2000) informam que <strong>de</strong> maneira geralos mais i<strong>do</strong>sos conhecem uma diversida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> plantas úteis, saber que foi acumula<strong>do</strong>ao longo <strong>de</strong> suas vidas. Hanazaki et al. (2000) afirmam que os homens ten<strong>de</strong>m a conhecermais plantas nativas utilizadas para construções/tecnologias e as mulheres a ter umconhecimento maior sobre plantas medicinais em termos da quantida<strong>de</strong> e da multiplicida<strong>de</strong><strong>de</strong> citações. A pesquisa realizada na comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá confirmou essasinformações.25


100806040200M anoelPauloHenriqueP edro M arcos Cláudioanúmero <strong>de</strong> citaçõesida<strong>de</strong> (homens)100806040200Lourença Zani Joelma Cidinalva Lucianabnúmero <strong>de</strong> citaçõesida<strong>de</strong> (mulheres)Figura 6 (a-homens; b-mulheres): Distribuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> citações, ida<strong>de</strong> e gênero porinformante na comunida<strong>de</strong> caiçara da Praia <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.Os caiçaras usam plantas nativas e exóticas para alimentação, construção <strong>de</strong> casas ecanoas, para medicamentos, ornamentação e lenha. As entrevistas revelaram um total <strong>de</strong> 73espécies citadas como úteis pelos informantes, pertencentes a 57 gêneros e 30 famíliasbotânicas. Os respectivos nomes científicos e locais, bem como as categorias <strong>de</strong> uso, osvalores <strong>de</strong> uso, o local on<strong>de</strong> foram coletadas e a parte utilizada encontram-se na Tabela 1.26


Tabela 1. Relação das espécies vegetais utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em or<strong>de</strong>m alfabética <strong>de</strong> famílias botânicas acompanhadas pelos nomes populares,categorias <strong>de</strong> uso (cat), hábito (hab), valores <strong>de</strong> uso (VU), origem e local <strong>de</strong> coleta (O/loc) e parteutilizada (par). (al = alimentar, co = construção/tecnologia, le = lenha, me = medicinal e or =ornamental, ab = arbusto, av = árvore, hb = herbácea e li = liana, n = nativa, e = exótica, m = mata,q = quintal e r = restinga, cau = caule, cas = casca, esp = espata, fo = folhas, fr = fruto e ra = raiz). *= vi <strong>de</strong> vivo. (?) = plantas cuja origem não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada.Família/Nome científico Nome popular Cat Hab VU O/Loc ParAMARANTHACEAEAlternanthera brasiliana (L.) KuntzePfaffia paniculata (Mart.) O. KuntzeANACARDIACEAEEstomalinaTerranicinaMangifera indica L. Manga al av 0,1 eq frANNONACEAERollinea sericea R.E.Fr. Casca-preta co av 0,2 nm cauAPOCYNACEAEAspi<strong>do</strong>sperma polyneuron Mull. Arg. Peroba co av 0,7 nm cauARACEAEHeteropsis cf. rigidifolia Engl. Cipó-timupeba-chato co li 0,2 nm cauARECACEAEAstrocaryum aculeatissimum (Schott) BurretAttalea dubia (Mart.) BurretCocos nucifera L.Euterpe edulis Mart.Syagrus pseu<strong>do</strong>cocus (Raddi) GlassmanASTERACEAEAirí*Indaiá*Côco*Palmito-jussara*Pati*Vernonia con<strong>de</strong>nsata Baker Bol<strong>do</strong>-folha-fina me hb 0,6 eq foBIGNONIACEAEJacaranda caroba DC.Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s (Lam.) DC.Tabebuia heptaphylla (Vell.) Tole<strong>do</strong>Tabebuia serratifolia (Vahl.) NicholsonBROMELIACEAECarobinhaCachetaIpê-roxoIpê-amarelomemealoralalorcocome/coAnanas comusus (L.) Merr. Abacaxi* al hb 0,4 nq frCARICACEAECarica papaya L. Mamão al ab 0,2 eq frCHENOPODIACEAEChenopodium ambrosioi<strong>de</strong>s L. Erva-<strong>de</strong>-santa-maria me hb 0,7 eq focohbhbabababavavavavavav0,30,70,40,20,41,00,20,20,50,80,5eqeqnmnmeqnmnmnmnmnmnmfofocauespfrcauespcaucaucas/caucau27


Tabela 1 – continuaçãoFamília/Nome científico Nome popular Cat Hab VU O/Loc ParCRASSULACEAEKalanchoe brasiliensis Camb. Saião me hb 0,2 eq foELAEOCARPACEAESloanea monosperma Vell. Sapopema co av 1,3 nm cauERYTRHXYLACEAEErythroxylum vacciniifolium Mart. Pimentinha le av 0,2 nm cauEUPHORBIACEAEHyeronima alchorneoi<strong>de</strong>s AllemãoJatropha sp.Manihot esculenta CrantzPausandra morisiana (Casar.) Radlk.AricuranaNograMandioca*Guacácocoalcoavavhbav0,70,21,00,5nm?qeqnmcaucauracauFABACEAEBalizia pedicelaris (DC.) Barneby & GrimesHymenaea courbaril L.Inga laurina (Sw.) Willd.Inga sessilis (Vell.) Mart.Machaerium nictitans (Vell.) Benth.Sclerolobium <strong>de</strong>nudatum VogelStryphno<strong>de</strong>ndron polyphyllum Mart.TimbuíbaJataíIngá-macacoIngá-da-capoeiraBico-<strong>de</strong>-patoIngá-ferroCanafixacococoalcococoavavavavavavav1,10,30,60,40,31,20,2nmnmnmnqnmnmnmcaucaucaufrcaucaucauLAURACEAEAniba firmula (Nees et Mart.) MezOcotea sp.Ocotea elegans MezPersea americana Mill.Urbano<strong>de</strong>ndron bahiense (Meisn.) RohwerCanela-amarelaCanela-pretaCanelaAbacateCanela-folha-miúdacococoalcoavavavavav0,20,20,21,00,2nm?mnmeqnmcaucaucaufrcauLECYTHIDACEAECariniana estrellensis (Raddi) KuntzeCouratari pyramidata (Vell.) R. KnuthLecythis pisonis Camb.JequitibáCanu<strong>do</strong>-<strong>de</strong>-pitoSapucaiacococoavavav0,70,20,3nmnmnmcaucaucauMELASTOMATACEAEMiconia albicans (Sw.) TrianaMiconia cinnamomifolia (Jacq.) TrianaTibouchina sp.ChorãoJacatirãoTingicuiacococoabavav0,20,30,4nmnm?mcaucaucauMELIACEAECedrela fissilis Vell. Cedro co av 0,7 nm cau28


Tabela 1 – continuaçãoFamília/Nome científico Nome popular Cat Hab VU O/Loc ParMORACEAEArtocarpus integrifolia Lf. Jaca al av 0,4 eq frMUSACEAEMusa sp. Banana* al ab 1,0 eq frMYRISTICACEAEVirola bicuhyba (Schott) Warb.Virola oleifera (Schott) A.C.Sm.Bicuíba-folha-largaBicuíba-folha-em-ramococoavav0,20,2nmnmcaucauMYRSINACEAERapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez Capororoca co av 0,2 nm cauMYRTACEAECalyptranthes clusiifolia (Miq.) O. BergEugenia brasiliensis Lam.Eugenia sulcata Spring et MartiusEugenia uniflora L.Plinia edulis (Vell.) SobralPlinia glomerata (O. Berg) AmshoffPlinia trunciflora (O. Berg) KauselPsidium cattleianum SabinePsidium guajava L.Syzygium cumini (L.) SkeelsAraçarana-folha-miúdaGrumixama-folha-largaGrumixama-folha-miúdaPitangaAraçarana-folha-largaCambucáJaboticabaAraçáGoiabaJamelãocococoal/mecoalalalalalavavavavabavavababav0,30,20,20,70,20,40,40,40,30,4nmnmnqnqnmnrnqnrnqeqcaucaucaufr/focaufrfrfrfrfrPOACEAECymbopogon citratus (DC.) Stapf.Imperata brasiliensis Trin.Merostachys ternata NeesCapim-limãoSapêBambu-taquaramecocohbhbab0,70,10,7eqnqnqfofocauRUTACEAECitrus aurantium L.Citrus limon (L.) Burm. f.Citrus sinensis (L.) OsbeckCitrus sp.Laranja-da-terraLimãoLaranjaLimaal/mealal/mealavavavav0,90,30,90,3eqeqeqeqfr/fofrfr/fofrSAPINDACEAECupania vernalis Cambess Arco-<strong>de</strong>-peneira co av 0,2 nm cauSOLANACEAECapsicum baccatum L.Capsicum baccatum L.Capsicum chinense Jacq.Pimenta-comariPimenta-unha-<strong>de</strong>-velhaPimenta-<strong>de</strong>-cheiroalalalhbhbhb0,60,20,6eqeqeqfrfrfr29


Tabela 1 – continuaçãoFamília/Nome científico Nome popular Cat Hab VU O/Loc ParVERBENACEAEAloysia gratissima (Gillies & Hook) Tronc.Citharexylum myrianthum Cham.Novalgina-em-folhasTarumãmecohbav0,60,1eqnmfocauA comunida<strong>de</strong> fez 331 citações das 73 espécies úteis durante as entrevistas,englobadas em 30 famílias. As espécies mais citadas e os respectivos números <strong>de</strong> citaçõesestão <strong>de</strong>stacadas na Figura 7. As famílias botânicas com maior número <strong>de</strong> espécies citadascomo úteis foram Myrtaceae (10 espécies), Fabaceae (7 espécies), Arecaceae (5 espécies),Lauraceae (5 espécies), Euphobiaceae (4 espécies), Rutaceae (4 espécies) e Bignoniaceae(4 espécies). Foram indicadas pela maioria <strong>do</strong>s informantes nas entrevistas e apresentamusos múltiplos (Tabela 2).Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) também encontraram o maior número <strong>de</strong> citaçõespertencentes à família Myrtaceae. As <strong>de</strong>z espécies mais citadas e os respectivos números<strong>de</strong> citações estão <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s na Figura 7Tabela 2: Famílias botânicas com maiores números <strong>de</strong> espécies citadas como úteis para acomunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.FamíliaNº <strong>de</strong>espéciesFamíliaNº <strong>de</strong>espéciesMyrtaceae 10 Anacardiaceae 1Fabaceae 7 Caricaceae 1Arecaceae 5 Annonaceae 1Lauraceae 5 Araceae 1Euphorbiaceae 4 Bromeliaceae 1Rutaceae 4 Chenopodiaceae 1Bignoniaceae 4 Crassulaceae 1Melastomataceae 3 Elaeocarpaceae 1Poaceae 3 Meliaceae 1Solanaceae 3 Moraceae 1Asteraceae 2 Musaceae 1Erythroxylaceae 2 Myrsinaceae 1Lecythidaceae 2 Rubiaceae 1Myristicaceae 2 Sapindaceae 1Verbenaceae 2 Amaranthaceae 130


Tabebuia heptaphyllaCitrus aurantiumCitrus sinensisMusa sp.Persea americanaManihot esculentaEuterpe edulisBalizia pedicellarisSclerolobium <strong>de</strong>nudatumSloanea obtusifolia899101010101112130 5 10 15Figura 7: Distribuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> citações das espécies mais representativas indicadaspelos caiçaras da Praia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.Os hábitos e as partes vegetais mais utilizadasAs árvores são os recursos vegetais mais conheci<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s pela comunida<strong>de</strong><strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá, perfazen<strong>do</strong> um total <strong>de</strong> 48 espécies correspon<strong>de</strong>ntes a 67,5% das plantascitadas (Figura 8). A comunida<strong>de</strong> utiliza os caules para construções, fabricação <strong>de</strong> canoas eremos e muitas espécies com esse hábito são utilizadas em sua alimentação (Figura 9).17,51,3513,65arbóreoarbustivoherbáceoliana67,5%Figura 8: Hábitos <strong>de</strong> plantas utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem.31


1% 1%31%13%52%cascacauleespatafolhasfrutoraiz2%Figura 9: Partes das plantas utilizadas pela comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem.Entre as partes mais utilizadas <strong>do</strong>s vegetais pela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacam-se os caulescom 52% (38 espécies), os frutos com 31 % (23 espécies), as folhas com 13% (11espécies), a espata com 2% (2 espécies), a casca com 1% (1 espécie) e a raiz com 1% (1espécie). Embora alguns itens alimentares como arroz e feijão sejam adquiri<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Paraty, a comunida<strong>de</strong> ainda <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das plantas nativas locais e daquelas <strong>do</strong>s quintais eroças como fonte <strong>de</strong> alimentação. Garrote (2004) em seu estu<strong>do</strong> no Saco <strong>do</strong> Mamanguáverificou que o aumento da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> itens alimentícios compra<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong> somou60,2% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> alimentos cita<strong>do</strong>s nas entrevistas que realizou embora os quintais dacomunida<strong>de</strong> sejam ricos em diversida<strong>de</strong>.Origem e localização das plantas na comunida<strong>de</strong>A maioria das plantas citadas como úteis é nativa, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a 74% <strong>do</strong> total(Figura 10). As plantas exóticas correspon<strong>de</strong>m a 23% e 3% estão i<strong>de</strong>ntificadas em nível <strong>de</strong>gênero (4 espécies) o que impossibilitou a busca da procedência. Com relação àlocalização das plantas os informantes citaram e reconheceram 42 espécies úteis na mataadjacente às suas casas; 28 espécies no quintal em re<strong>do</strong>r <strong>de</strong> suas casas e três espécies narestinga <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá (Figura 11).32


3%23%exóticasnativassem <strong>de</strong>terminaçãoespecífica74%Figura 10: Origem das plantas utilizadas na comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong> Sá,Paraty, RJ, em porcentagem.3%42%55%mataquintalrestingaFigura 11: Localização das plantas utilizadas na comunida<strong>de</strong> caiçara da praia Martim <strong>de</strong>Sá, Paraty, RJ, em porcentagem.Categorias <strong>de</strong> usoDurante as entrevistas foram levanta<strong>do</strong>s 29 usos diferentes para as espécies queforam or<strong>de</strong>nadas em cinco categorias <strong>de</strong> uso distintas: alimentar, construção/tecnologia,lenha, medicinal e ornamental (Tabela 3). A Figura 12 mostra que 40 etnoespécies (51,2%)estão na categoria construção/tecnologia, seguida por 24 (30,7%) na categoria alimentar,11 (14,1%) na categoria medicinal, duas na categoria ornamental (2,5%) e uma (1,5%) nacategoria lenha.A categoria <strong>de</strong> uso com o maior número <strong>de</strong> citações é construção com <strong>de</strong>staque parasapopema (Sloanea obtusifolia), ingá-ferro (Sclerolobium <strong>de</strong>nudatum) e timbuíba (Balizia33


pedicelaris) com 13, 12 e 11 citações, respectivamente. As três espécies são utilizadas paraa fabricação <strong>de</strong> canoas e no esteio <strong>de</strong> construções. O cedro (Cedrela fissilis) e o jequitibá(Cariniana estrellensis) também são utiliza<strong>do</strong>s na construção <strong>de</strong> canoas. Ainda em relaçãoàs espécies utilizadas para a construção <strong>de</strong> canoas e utensílios para a pesca, o ipê-roxo(Tabebuia heptaphylla) e o ipê-amarelo (Tabebuia serratifolia) são utiliza<strong>do</strong>s no <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bro<strong>de</strong> tábuas para barcos, pois “po<strong>de</strong> molhar”.Tabela 3: Categorias <strong>de</strong> usos das espécies <strong>de</strong> plantas indicadas como úteis pela comunida<strong>de</strong>Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.Alimentarcondimento alimentar;palmito comi<strong>do</strong> cru ou cozi<strong>do</strong>;frutos comi<strong>do</strong>s crus;raiz alimentar.Lenhama<strong>de</strong>ira forte para lenha.Medicinalchá calmante;chá para diarréia;chá para <strong>do</strong>r <strong>de</strong> cabeça;chá para febre;chá para gripes e resfria<strong>do</strong>s;macera<strong>do</strong> para <strong>do</strong>r <strong>de</strong>estômago;macera<strong>do</strong> para o fíga<strong>do</strong>;macera<strong>do</strong> com sal paravermes.Ornamentalornamento <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>.Construção/tecnologiaarmação das pare<strong>de</strong>s dacasa;caibros para telha<strong>do</strong>s;cobertura em geral;construção <strong>de</strong> cabos <strong>de</strong>ferramentas;construção <strong>de</strong> canoas;construção <strong>de</strong> cercas;esteio;fabricação <strong>de</strong> remos;fabricação <strong>de</strong> tipiti;tábuas para barcos;tábuas para pare<strong>de</strong>s;tábuas para portas;tintura e verniz para re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pesca;troncos usa<strong>do</strong>s na construção<strong>do</strong> porto (píer);varal para escorrer água dasre<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca.34


454040Nº <strong>de</strong> espécies353025201510241152 10ConstruçãotecnologiaAlimentar Medicinal Ornamental LenhaFigura 12: Distribuição das etnoespécies nas cinco categorias <strong>de</strong> uso para os caiçaras dapraia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.Para a fabricação <strong>de</strong> remos as espécies preferidas são o guacá (Pausandramorisiana) e a cacheta (Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s). A quaresma ou tingicuia (Tibouchina sp.) éempregada para tingir e impermeabilizar re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca e melhorar a resistência ao ataque<strong>do</strong>s peixes quan<strong>do</strong> utilizadas. Essas plantas são importantes na cultura e tradição dacomunida<strong>de</strong> caiçara <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá e os processos <strong>de</strong> uso popular estão difundi<strong>do</strong>s entreto<strong>do</strong>s os homens.A categoria <strong>de</strong> uso que teve o segun<strong>do</strong> maior número <strong>de</strong> citações foi alimentar com<strong>de</strong>staque para abacate (Persea americana), banana (Musa sp.), mandioca (Manihotesculenta) e palmito (Euterpe edulis), menciona<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>s. Nessacategoria os recursos mais utiliza<strong>do</strong>s são frutos (85,7%), palmito (9,5%) e uma raiz, amandioca (4,7%).A mandioca (Manihot esculenta) foi citada em todas as entrevistas. Três áreas nacomunida<strong>de</strong> são <strong>de</strong>stinadas para seu cultivo, realiza<strong>do</strong> no regime roça <strong>de</strong> coivara, nomeregional da<strong>do</strong> à prática agrícola constituída <strong>de</strong> roça e queima. A mandioca é usadaprincipalmente na fabricação <strong>de</strong> farinha nas chamadas casas <strong>de</strong> farinha, locais on<strong>de</strong> seprocessa o produto com mão <strong>de</strong> obra <strong>de</strong> toda unida<strong>de</strong> familiar.Na categoria medicinal as folhas são os recursos mais utiliza<strong>do</strong>s. As plantasmedicinais são importantes para os mora<strong>do</strong>res embora não tenham si<strong>do</strong>s relata<strong>do</strong>s muitoscasos <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença nas entrevistas. As folhas da pitanga (Eugenia uniflora), da laranja (Citrussinensis) e da laranja-da-terra (Citrus aurantium) são utilizadas na forma <strong>de</strong> chá, separadas35


ou combinadas, para gripes, resfria<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>res <strong>de</strong> garganta principalmente para as criançasque são, na comunida<strong>de</strong>, as mais suscetíveis a essas enfermida<strong>de</strong>s. A erva-<strong>de</strong>-santa-maria(Chenopodium ambrosioi<strong>de</strong>s) é empregada como vermífugo também, pre<strong>do</strong>minantemente,para as crianças. As folhas da novalgina-em-folhas (Aloysia gratissima) são usadas para“qualquer <strong>do</strong>r no corpo, febre e <strong>do</strong>r <strong>de</strong> cabeça”.Apenas a espécie pimentinha (Erythroxylum vacciniifolium) foi citada pelosinformantes da comunida<strong>de</strong> para uso como lenha.Valor <strong>de</strong> uso (VU)A maioria das espécies (50%) apresenta VU entre 0,1 e 0,3 (Figura 13). Valoresaltos estão concentra<strong>do</strong>s em poucas espécies. O VU médio é <strong>de</strong> 0,45. As espécies commaiores VUs são Sloanea obtusifolia (sapopema) seguida por Sclerolobium <strong>de</strong>nudatum(ingá-ferro), Balizia pedicelaris (timbuíba), Euterpe edulis (palmito), Manihot esculenta(mandioca), Persea americana (abacate) e Musa sp (banana).Porcentagem das spp. úteis60%50%40%30%20%10%0%0,1 - 0,3 0,31 - 0,6 0,61 - 0,9 0,91 - 1,2 1,21 - 1,5Figura 13: Distribuição <strong>do</strong>s valores <strong>de</strong> uso (VU) para as 73 espécies indicadas como úteispelos caiçaras da Praia Martim <strong>de</strong> Sá, Paraty, RJ.36


Índice <strong>de</strong> Shannon-WieverO índice <strong>de</strong> Shannon (H’) obti<strong>do</strong> a partir das entrevistas na comunida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 1.79(base 10) e 4.12 (base e), mostran<strong>do</strong> que os mora<strong>do</strong>res da região ainda possuemconhecimento da biodiversida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus recursos (Tabela 4). Alguns estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>etnobotânica no litoral su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil realiza<strong>do</strong>s nos últimos <strong>de</strong>z anos vêm<strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que comunida<strong>de</strong>s locais <strong>de</strong>têm um conhecimento que <strong>de</strong>ve ser estuda<strong>do</strong> evaloriza<strong>do</strong>. A tabela 4 mostra a compilação <strong>de</strong> informações obtidas em alguns <strong>de</strong>ssesestu<strong>do</strong>s com <strong>de</strong>staque para o índice <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Shannon-Wiever.O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> et al. (1997) compara o conhecimento sobre a diversida<strong>de</strong><strong>do</strong> uso <strong>de</strong> plantas medicinais da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Calhaus (Ilha <strong>de</strong> Jaguanum) localizada naBaía <strong>de</strong> Sepetiba, RJ com as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gamboa (também localizada na Baía <strong>de</strong>Sepetiba e da Ilha <strong>de</strong> Búzios. Encontraram resulta<strong>do</strong>s semelhantes entre os índices <strong>de</strong>diversida<strong>de</strong> para essas comunida<strong>de</strong>s e concluíram que comunida<strong>de</strong>s que vivem empequenas ilhas e em ilhas distantes da costa usam pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas.O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Rossato et al. (1999) apresenta informações sobre o uso <strong>de</strong> plantas emcinco comunida<strong>de</strong>s caiçaras no litoral norte <strong>de</strong> São Paulo. Usaram índices <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>para comparar as comunida<strong>de</strong>s. Encontraram uma alta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas usadas nacosta da Mata Atlântica: 276 plantas usadas para alimentação, medicina e construção. Deacor<strong>do</strong> com os autores os caiçaras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da medicina tradicional e plantas medicinaisforam especialmente citadas nas entrevistas. Apontaram uma diversida<strong>de</strong> menor <strong>de</strong> plantasmedicinais citadas nas ilhas quan<strong>do</strong> comparadas às comunida<strong>de</strong>s continentais.O trabalho <strong>de</strong> Hanazaki et al. (2000) mostra informações sobre o uso <strong>de</strong> plantas emduas comunida<strong>de</strong>s caiçaras da mata atlântica localizadas no litoral <strong>de</strong> São Paulo – Ponta <strong>do</strong>Almada e praia <strong>de</strong> Camburí. Os autores utilizaram índices <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> para comparar osusos <strong>de</strong> plantas entre as comunida<strong>de</strong>s e entre as categorias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e gênero <strong>de</strong> cadacomunida<strong>de</strong>. Encontraram diferenças quantitativas no conhecimento sobre plantas entre osgêneros para cada uso (medicinal, alimentação e artesanato). Informantes i<strong>do</strong>sos e jovenstambém mostraram diferenças no conhecimento sobre plantas para artesanato e medicinal,mas não para plantas comestíveis. Obtiveram da<strong>do</strong>s referentes a 227 etnoespécies em 102entrevistas realizadas. Das espécies i<strong>de</strong>ntificadas, 30 são comuns ao presente estu<strong>do</strong>.37


Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) apresentam informações sobre o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong>restinga em uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res artesanais localizada em Arraial <strong>do</strong> Cabo, naregião <strong>do</strong>s lagos, RJ. Utilizaram técnicas como a observação participante e entrevistasestruturadas com os pesca<strong>do</strong>res artesanais para a obtenção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s etnobotânicos.Obtiveram 444 citações <strong>de</strong> uso das 68 espécies citadas, distribuídas entre 61 gêneros e 42famílias. Empregaram o índice <strong>de</strong> Shannon para análise da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies econcluíram que os pesca<strong>do</strong>res possuem bom conhecimento da biodiversida<strong>de</strong> local quan<strong>do</strong>compara<strong>do</strong> a outros estu<strong>do</strong>s da costa brasileira.Figuere<strong>do</strong> et al. (1997), Rossato et al. (1999), Hanazaki et al. (2000) e Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) utilizaram o índice <strong>de</strong> Shannon-Wiever (H’) para estabelecercomparações entre os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em seus trabalhos com outros estu<strong>do</strong>setnobotânicos. Os quatro trabalhos cita<strong>do</strong>s anteriormente utilizaram o índice na avaliaçãoda diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conhecimento tradicional (Tabela 4).Tabela 4. Comparação <strong>de</strong> informações compiladas <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em ecossistemascosteiros brasileiros indican<strong>do</strong> fonte, local <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, Veg=tipo <strong>de</strong> vegetação,Abr=abrangência <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> (número <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> uso), N. Inf.=número <strong>de</strong> informantes,N. Esp=número <strong>de</strong> espécies citadas, N. cit=número <strong>de</strong> citações, H´- Índice <strong>de</strong> Shannon-Wiever (B.10 – base 10, B.e-base. ( R - restinga; Ma - mata atlântica; C - áreas cultivadasou roças; (-) indica ausência <strong>de</strong> informação).Fonte Local Veg Abr N. inf N. esp N. cit H´ B.10 B.eFigueire<strong>do</strong> et al., Praia Calhaus (Ilha Ma 3 42 75 482 1.53 -1997<strong>de</strong> Jaguanum), RJRossato et al., 1999 SP Ma - 162 277 3.109 2.06 -Hanazaki et al., Ponta <strong>do</strong> Almada, SP Ma 3 - 227 - 1.99 4.592000Fonseca-Kruel & Arraial <strong>do</strong> Cabo, RJ R 6 15 68 444 1.78 4.10Peixoto, 2004Este trabalho Paraty, RJ Ma, R 5 10 73 331 1.79 4.12As análises quantitativas empregadas mostram sua utilida<strong>de</strong> em avaliar os da<strong>do</strong>setnobotânicos oriun<strong>do</strong>s das entrevistas ao permitir comparações entre comunida<strong>de</strong>sdistantes umas das outras, mas que compartilham mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida semelhantes entre si.É importante utilizar méto<strong>do</strong>s qualitativos e quantitativos combina<strong>do</strong>s para estudar oconhecimento etnobotânico e tornar esses da<strong>do</strong>s favoráveis ao manejo e conservação<strong>do</strong>s recursos naturais (Hanazaki et al., 2000).38


O índice <strong>de</strong> Shannon obti<strong>do</strong> para a comunida<strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá mostra um valorintermediário quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com os <strong>de</strong> outros estu<strong>do</strong>s. Os trabalhos <strong>de</strong> Rossato etal. (1999), realiza<strong>do</strong> com cinco comunida<strong>de</strong>s caiçaras e o <strong>de</strong> Hanazaki et al. (2000),realiza<strong>do</strong> com duas comunida<strong>de</strong>s caiçaras apresentam valores mais altos. Figuere<strong>do</strong> etal. (1997) e Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) enfocaram uma só comunida<strong>de</strong> eencontraram valores mais baixos <strong>do</strong> índice e muito próximo <strong>do</strong> obti<strong>do</strong> neste trabalho. Aanálise <strong>do</strong>s índices <strong>de</strong>monstra que existe uma coerência entre o saber sobre as plantas eseus usos pelas comunida<strong>de</strong>s caiçaras <strong>do</strong> litoral su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil.39


ConclusõesOs caiçaras da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martim <strong>de</strong> Sá possuem um amplo conhecimento dasplantas <strong>do</strong> local. As entrevistas revelaram que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m para a sua subsistência davegetação nativa <strong>do</strong> bioma Mata Atlântica em 74%. Isto po<strong>de</strong> estar relaciona<strong>do</strong> àlocalização da comunida<strong>de</strong> em região <strong>de</strong> alta diversida<strong>de</strong> biológica e ao isolamento <strong>do</strong>principal centro urbano da região (Paraty). To<strong>do</strong>s os mora<strong>do</strong>res incorporam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>caiçaras. Mantém técnicas e práticas <strong>de</strong> produção e processamento <strong>de</strong> mandioca, cultivo ecoleta <strong>de</strong> frutos e fabricação <strong>de</strong> utensílios e canoas para a pesca.Homens e mulheres têm conhecimentos diferentes sobre as plantas, principalmentecom relação às plantas para construção/tecnologia, que são <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio masculino.Informantes jovens e i<strong>do</strong>sos também mostraram diferenças no conhecimento sobre asplantas úteis, embora <strong>do</strong>is informantes jovens tenham se <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> com conhecimentomuito próximo <strong>do</strong>s mais sábios em todas as categorias. As entrevistas com os mora<strong>do</strong>resmais i<strong>do</strong>sos revelam que eles têm um vasto saber sobre a natureza (direção <strong>do</strong>s ventos,localização geográfica, uso <strong>de</strong> espécies, épocas <strong>de</strong> floração) e este saber vem sen<strong>do</strong>vivencia<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong>.Em feria<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s trabalham no atendimento aos turistas que procuram olugar para acampar, e estão obten<strong>do</strong> algum ganho econômico com isso. Aparentementeestão conseguin<strong>do</strong> aliar as ativida<strong>de</strong>s tradicionais à nova ativida<strong>de</strong>. Como a área ainda nãotem plano <strong>de</strong> manejo ou plano diretor instituí<strong>do</strong>, ficam <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s legalmente e questõescomo limitação <strong>do</strong> número <strong>de</strong> turistas que freqüentam o local e mesmo a segurança <strong>do</strong>smora<strong>do</strong>res fica fragilizada. Embora haja um forte sentimento verbaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> diferentesmaneiras sobre a importância <strong>de</strong> conservar o ambiente on<strong>de</strong> vivem, a noção <strong>do</strong>compromisso <strong>de</strong> governo com as UCs não parece compreendida por eles.É importante que o saber <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res seja incorpora<strong>do</strong> na elaboração <strong>do</strong>s planos<strong>de</strong> manejo e estratégias <strong>de</strong> conservação da biodiversida<strong>de</strong> in situ das UCs e da culturatradicional caiçara, já que as diversida<strong>de</strong>s biológica e cultural estão ameaçadas na região daFloresta Atlântica pela redução das ativida<strong>de</strong>s em agricultura e crescimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>srelacionadas ao turismo. Mas é importante também que os mora<strong>do</strong>res se apropriem <strong>do</strong>conhecimento sobre as UCs na qual vivem e ajudam a preservar.40


O registro sobre o uso <strong>de</strong> recursos vegetais na comunida<strong>de</strong> estudada forneceinformações que po<strong>de</strong>m ser utilizadas para o <strong>de</strong>senvolvimento e conservação, baseadas noconhecimento local <strong>do</strong> ambiente.A categoria Reserva Extrativista é corroborada neste trabalho e po<strong>de</strong> ser a soluçãopara a conservação <strong>do</strong> território da Reserva Ecológica da Juatinga através da associação <strong>do</strong>uso <strong>de</strong> recursos por caiçaras e as propostas conservacionistas. A partir da regulamentação<strong>de</strong> tal UC po<strong>de</strong>m ser instituídas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca, extrativismo e turismo visan<strong>do</strong> àconservação e subsistência da Mata Atlântica e da cultura caiçara, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a evitar aurbanização <strong>do</strong> local.41


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ANEXOS46


Anexo 1 – Questionário preliminar para obtenção <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s etnobotânicos. (Adapta<strong>do</strong> <strong>de</strong>Cunningham, 2000 e Camargo, 2003).Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Entrevista<strong>do</strong>:Data entrevista:Nome <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>:Apeli<strong>do</strong>:Sexo / ida<strong>de</strong>: ( ) masculino ( ) feminino / ____ anos.Ocupação:On<strong>de</strong> nasceu e foi cria<strong>do</strong> ?:Há quantos anos vive na comunida<strong>de</strong> ?: ____ anos.Religião:Da<strong>do</strong>s da Planta:Nome local:- Obtenção:Compra (<strong>de</strong> quem ?) / Ven<strong>de</strong> (para quem ?):Cultivada / Extrativismo:Coleta: como ?Época <strong>de</strong> coletaLocalida<strong>de</strong>:Ru<strong>de</strong>ral/<strong>do</strong>mestica/cultivada/selvagem:Facilida<strong>de</strong> com que é encontrada:Cultiva: como ?47


- Usos:Serve para que ?Parte usada: (casca /raiz /caule /folha /flor /fruto /semente /planta inteira / outra)Seca ou fresca ?:Como se prepara ?:É associada a outras plantas ?:Como é armazenada ?:Como é utilizada ?:Receita a alguém ?:Em que ocasiões se usa ?:Quan<strong>do</strong> não é usada ?:Como apren<strong>de</strong>u a usar a planta ?:Cuida<strong>do</strong>s especiais com a planta ?:Da<strong>do</strong>s preenchi<strong>do</strong>s pelo coletor:Família:Espécie:Coletor: nº <strong>de</strong> coleta: data: ___/___/_____.Habitat:Procedência:Observações:48

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