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OpiniãoJornal de Leiria 6 de Setembro de 2012 23Crónica de um Verão austeroTeorias ruraisAntónioLacerdaSalesO medoÉseguro dizer-se neste momento, que o períodode férias já passou e ao contrário de anosanteriores este foi particularmente pleno emactividade política. Em Leiria foram vários osassuntos que tiveram destaque junto da opiniãopública. O exemplo da discussão em torno da passagempelo concelho da Volta a Portugal, é o paradigma dealgo que se discute com precipitação e sem se estar emposse da informação correta. Muita ausência deinformação! Também o dossier relativo à Leirisport tevefortes repercussões, inclusivamente no ExecutivoCamarário e, não me querendo alongar nesta questão,gostaria apenas de dizer que a conclusão deste processoé o ponto mais destacado de uma profundaintervenção que visa o saneamento orçamental daCâmara de Leiria que neste capítulo fez o que lhecompetia, abordando o debate com seriedade contrauma Oposição que trata este assunto como arma dearremesso político. Porque será que se calaram após adecisão governamental? Mas talvez a matéria maisfracturante neste Verão “quente” seja a situação maisrecente, em que a Câmara se vê obrigada a romper coma Lei dos Compromissos para conseguir responder àsnecessidades inalienáveis de fornecer alimentação,transporte e actividades extra-curriculares às criançasdo Pré-Escolar e 1º ciclo no Concelho. Num ambientede rigor orçamental, cumprir esta obrigação representair contra as determinações ditadas pelo governo. Noentanto é sem dúvida a defesa do interesse público quenorteia este tour de force, deixando antever um cenárioincómodo em que no nosso país as Câmaras se vêmobrigadas a trabalhar como únicos defensores doscidadãos em matérias que deviam permanecerprioridades, mesmo em clima de contenção. Aeducação pública e livre constitui uma prioridade dessegénero e julgo que os governos deviam chamar a si aresponsabilidade e a defesa deste desígnio. No entanto,o desígnio governamental ou a ausência dele é claro:austeridade tem sido o caminho e é uma realidade navida dos portugueses. Mas com que rumo? Com quePara mim ser professora é ter uma das profissõesmais bonitas do mundo. É ter por obrigação, agostosa possibilidade de permanentemente meenvolver em atos criativos de uma beleza quaseinimaginável. Ser professor é afinal ser um criador, umfazedor de obras nascidas da combinação entre aintuição e a razão, tendo sempre em mente um objetivomuito claro e imprescindível à humanidade: o decontribuir para formar, através do conhecimento,pessoas livres e responsáveis! Talvez por pensar assim,no início de cada ano letivo, o reencontro com a escolae com os alunos foi sempre na minha vida ummomento de festa e de celebração! Não houve, até hoje,ministro algum, homem ou mulher, que me tivessebeliscado esta gostosa sensação. Como se os alunosfossem os fios coloridos e vivos de uma tela pronta a serpintada, jamais algum ministro ousou destruí-la.Apesar da insuficiência ou da má qualidade das tintas,dos pincéis, dos cavaletes, fornecidos aos criadores(alunos e professores) a tela intacta, toda ela cheia deluz, continuou lá! Mas eis que chega uma angustiante emaléfica sombra negra que me desconcentra e me tira aluz de que necessito para trabalhar, partes da tela vãoficar quase invisíveis … e eu fico sem paz para criar.Crianças de dez anos vão poder ser encaminhadas paravias alternativas de ensino, que dizem, as prepararãopara o mundo do trabalho. Com apenas dez anos,podem tomar elas próprias essa decisão (pasme-se!),perante as incapacidades dos alunos, podem ser osprofessores a tomá-la ou, pura e simplesmente, esseAméliado Valeobjetivo? Os dados do Eurostat do segundo trimestreconfirmam a retracção do PIB face ao períodohomólogo de 2011, (-3.3%). O quadro não melhoratendo em conta a crise espanhola que afectadirectamente a nossa balança comercial. A taxa dedesemprego (15%) atinge o seu maior nível de sempre.Sabemos hoje também, que a meta estipulada pelogoverno para o valor do défice (4,5%) vai mais uma vezsofrer derrapagem (situar-se-á no final do ano, semmanobras de engenharia financeira, entre os 5 e os6%)… Esta sim uma derrapagem Colossal. Todos estesfatores foram notícia durante o Verão, podendo assimconcluir que este clima de crise profunda não parou paraférias. Podemos somar a este cenário a clara falta devontade em discutir o Orçamento de Estado para 2013,deixando antever neste processo uma distribuição demedidas pré-eleitorais? Ou apenas mais austeridade…. Asprivatizações continuam, e a pressão sobre sectoresestratégicos torna-se insustentável, parecendo cada vezmais certo o panorama de alienação total de sectoresimportantes como a TAP ou a RTP de maneira aremendar as contas do Estado, significando maisencargos para as famílias portuguesas a longo prazo.Com este cenário a resposta das instituiçõesgovernamentais é uma política de “corte a direito”, umapolítica que não contempla estratégia, uma política emque o governo dita um rumo legitimado por umprograma não sufragado. Falta um desígnio nacional. Asinstituições democráticas estão mais frágeis. Olhamoshoje para a Assembleia da República e vemos o seu poderlimitado pelas exigências de cumprimento autista quenão deixam antever solução. Na “Casa Presidencial” oscidadãos mais uma vez encontram uma resposta que nãocondiz com o cenário que parece fatalmente traçado.Falta uma ideia estratégica! Quem defende hoje ointeresse do cidadão português numa U.E. que quandocresce, nós ficamos na cauda e quando retrai, estamos nopelotão da frente? ….Presidente da C. Política Concelhia do PS-Leiriaencaminhamento pode ser decidido como um castigopara os alunos que não cumprem os seus deveres.Curiosamente esses alunos (na sombra) podem voltar àvia normal (à luz) no final do 9º ano, se tiveremaprovação em exames feitos às disciplinas em queobtiveram o insucesso responsável pelo seu ingressonas vias alternativas de ensino! Estas viasprecocemente introduzidas, na vida de cada aluno, têma intenção criminosa de direcionar as crianças, pobres,de famílias com problemas ou, as crianças comdificuldades de aprendizagem, para o trabalho braçal“purificando” o grupo dos outros, a elite!“Decididamente, o futuro da Nação, não resideapenas em elites fechadas e diminutas” disse VeigaSimão, dois anos antes do 25 de Abril. Sendo aindahoje consensual esta afirmação, não entendo comopodem os futuros eletricistas ou agricultoresentendidos aos 10 anos como incapazes, vir a serelite no futuro. Não duvido que esta exclusão dosalunos-problema das turmas seja apreciada poralguns pais e professores. É um facto que todo otrabalho de transmissão dos conhecimentos setornará mais fácil, assim como mais fácil se tornaráouvir as preleções dos “mestres”... E à repulsa que jásinto vem juntar-se o medo. Um medo atroz que medeixa triste e revoltada. Um medo que me vaiimpedir de sorrir quando de novo regressar à escola ereencontrar o futuro em todos os meus alunos.ProfessoraFranciscoFreireAterra ficou cheia e alegreoutra vez, passaram osemigrantes! Toda a honrae toda a glória, lá vãoelas, e ninguém lhes passacartão. É disto que a casa gasta.Custa a acreditar, mas ouvidizer que viver aqui na serraainda é pior do que andar naSuíça a trabalhar. E de facto,quem os ouve imagina que sãoturistas brasileiros, que andampor lá a ver monumentos e acomprar vinho.Uma região com tantascatedrais, museus com quadrospintados. Coisas lindas,provavelmente.Os patrões não devem sermaus, e até me contaram quealguns são melhores do que nós.Quem sabe? Mas porque é quehavemos de ser piores? Temos obacalhau, o arroz doce e asbananas. Temos muitas coisasboas, não sabemos é dar-lhes odevido valor. É verdade que ovinho deles é fraco. Um brancoque não enche nada, sabe a geloe a rio. Só por causa disso, jámuitas vezes considerei pôr-mea andar dali para baixo. Há trintaanos que não vejo uma vindimacomo deve ser. Punha-mesossegado a trabalhar numapedreira ou num barracão eaproveitava melhor a vida. Masquem me mandou para láavisou-me destes perigos. Afome ia apertar, e eu deviamanter-me calado naquelasparagens. Lá estamos, no meioda neve e das vacas. Os senhoresnão olham sequer para nós, enós repetimos comiserados ogesto. Eles imaginam que opessoal não percebe, mas agente sabe tudo, e alguns atétêm conta no banco. Fazemos asnossas festas para eles pensaremque andamos contentes. Não seise sabem, mas eles lá têm amania das festas, e nósimitamos.Andam bem enganados, esomos nós que os enganamos.Se é verdade que as nossasmulheres não são grandeespingarda, as louras não devemser melhores. Aquilo não deveprestar para nada. Um tipo quecasou com uma, anda cada vezmais esquisito. Até dizem que amulher lhe faz mal. Ele andapela Europa de camião, e pensaque é comandante de umtrirreme no mediterrâneocentral, a escrever versos solarese a pescar cavalas. Passados osPirenéus nunca há chatices.Depois de feitas as visitas,executa-se uma delicadamanobra circular e recolhe-separa nordeste, sempre a direito.Adeus silvas, adeus caneiros.Antropólogo, CRIA/FCSH-UNL