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representações do batuque em relatos de viajantes (brasil ... - Uem

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Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________América Portuguesa ten<strong>do</strong> esta marca si<strong>do</strong> superada <strong>em</strong> pouco mais <strong>de</strong> cinqüenta anosapós a abertura <strong>do</strong>s portos. Segun<strong>do</strong> Luiz Lima Vailati, após a entrada no Brasil ter si<strong>do</strong>franqueada por D. João VI,os <strong>viajantes</strong> passaram a vir “com uma persistência que seprolongou até os estertores <strong>do</strong> século e da qual resultou uma exaustiva literaturaconstituída <strong>de</strong> <strong>relatos</strong> e m<strong>em</strong>órias”. (VAILATI, 2010, p. 18).A conformação <strong>de</strong>sse grupo composto por <strong>viajantes</strong> é muito variada e englobaindivíduos oriun<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> sua maior parte, da Europa Central Setentrional e Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s, in<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitães <strong>de</strong> navios a naturalistas, passan<strong>do</strong> por marinheiros,comerciantes, aventureiros, prisioneiros, mercenários, contrabandistas e religiosos. Ouseja, este é um conjunto composto por indivíduos <strong>de</strong> diferentes origens nacionais, queforam movi<strong>do</strong>s por diferentes motivos para viajar, exerceram diferentes ocupações epossuíam pontos <strong>de</strong> vistas políticos e culturais diferentes. Foram estes <strong>viajantes</strong> quedirecionaram seus olhares para um espaço novo e <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, que lhes permitiuexercitar suas formas <strong>de</strong> observar e interpretar o universo cultural estranho com que se<strong>de</strong>frontavam e com o qual começaram a manter um contato mais estreito.Os <strong>relatos</strong> <strong>viajantes</strong> utiliza<strong>do</strong>s neste artigo são <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Spix e Martius,Ferdinand Denis, Carl Seidler, Johann Moritz Rugendas, Zacharias Wagener , JohanEmanuel Pohl, Thomas Lindley, G. W. Freyreiss, Ludwig von Rango, Auguste <strong>de</strong> SaintHilaire, Charles Expilly,Graham.Luiz e Elisabeth Agassiz, Charles Ribeyrolles e MariaOs <strong>do</strong>is naturalistas al<strong>em</strong>ães Spix e Martius vieram para o Brasil <strong>em</strong> 1817 e aquipermaneceram até 1821 percorren<strong>do</strong> diferentes províncias e aten<strong>do</strong>-se, sobretu<strong>do</strong>, àflora, <strong>em</strong>bora o povo e seus costumes não tivess<strong>em</strong> escapa<strong>do</strong> a seus olhares. O francêsFerdinand Denis esteve no Brasil <strong>de</strong> 1816 a 1819 e <strong>de</strong>dicou uma quantida<strong>de</strong>significativa <strong>do</strong> seu trabalho à apresentação <strong>do</strong> Brasil aos franceses. O al<strong>em</strong>ão CarlSeidler chegou ao Brasil com pretensões cientificas <strong>em</strong> 1825, e aqui passou <strong>de</strong>z anosdurante os quais se tornou oficial <strong>do</strong> exército imperial. O também al<strong>em</strong>ão JohannMoritz Rugendas permaneceu no Brasil <strong>de</strong> 1821 a 1835 a fim <strong>de</strong> coletar material parapinturas e <strong>de</strong>senhos, e foi m<strong>em</strong>bro da expedição científica chefiada pelo naturalista ediplomata russo Langs<strong>do</strong>rff. Zacharias Wagener chegou ao Brasil <strong>em</strong> 1637, quan<strong>do</strong>João Maurício <strong>de</strong> Nassau assumiu o cargo <strong>de</strong> Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil holandês e opromoveu a um cargo administrativo, no qual se manteve até 1641, perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> queproduziu <strong>de</strong>senhos e pinturas. O médico, geólogo e botânico austríaco Johan Emanuel57


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Pohl integrou a Missão Austríaca ao Brasil <strong>em</strong> 1817, na qual foi primeiramenteencarrega<strong>do</strong> da parte <strong>de</strong> mineralogia e <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong> botânica. Desligan<strong>do</strong>-se da missão,Pohl manteve-se no Brasil por mais quatro anos durante os quais <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>u umaviag<strong>em</strong> pelo interior <strong>do</strong> país. O contrabandista inglês Thomas Lindley viveu no Brasilentre 1802 e 1803. O principal objetivo da viag<strong>em</strong> <strong>em</strong>preendida pelo al<strong>em</strong>ão G. W.Freyreiss foi percorrer as províncias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e a <strong>de</strong> Minas Gerais, o que fezentre 1813 e 1814 da qual <strong>em</strong>ergiu um estu<strong>do</strong> da flora e da fauna <strong>de</strong>stas regiões. Onaturalista francês Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire chegou ao Rio <strong>em</strong> 1816, <strong>de</strong> lá partin<strong>do</strong> com<strong>de</strong>stino à província <strong>de</strong> Minas Gerais a convite <strong>de</strong> um amigo, Antônio Il<strong>de</strong>fonso Gomes,para passar uma t<strong>em</strong>porada na fazenda <strong>de</strong> sua família. Os prussianos Theo<strong>do</strong>r VonLeithold e seu sobrinho Ludwig von Rango chegaram ao Brasil <strong>em</strong> 1819, o primeiro<strong>de</strong>les com pretensões <strong>de</strong> aqui se estabelecer como fazen<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> café, aquipermanecen<strong>do</strong> ambos apenas quatro meses, quan<strong>do</strong> voltaram para a Europa. O casal <strong>de</strong>naturalistas Luiz e Elisabeth Agassiz veio para o Brasil na Expedição Thayer, realizada<strong>em</strong> 1865-66, com o objetivo <strong>de</strong> realizar pesquisas na Amazônia. O escritor francêsCharles Expilly chegou com sua esposa ao Brasil <strong>em</strong> 1853. O jornalista e políticofrancês Charles Ribeyrolles foi exila<strong>do</strong> da França por Napoleão III e viajou para oBrasil <strong>em</strong> 1858. E, por fim, a inglesa Maria Graham que chegou ao Brasil pela primeiravez <strong>em</strong> 1821, aqui permanecen<strong>do</strong> até 1822, quan<strong>do</strong> voltou à Europa, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> retornouao Brasil, <strong>em</strong> 1823, para trabalhar como preceptora <strong>de</strong> D. Maria da Glória, filha <strong>de</strong> D.Pedro I.Dentre os t<strong>em</strong>as que eles registraram, <strong>do</strong>is parec<strong>em</strong> ter exerci<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong>po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração sobre seus olhares: a exuberância da natureza e a presença daescravidão. Esta atração, por sua vez, foi fruto da significativa presença africana noBrasil, país que abrigou uma das maiores concentrações escravas das Américas,sobretu<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, inicialmente se<strong>de</strong> <strong>do</strong> império português e <strong>de</strong>poisse<strong>de</strong> <strong>do</strong> império <strong>brasil</strong>eiro.O tráfico, que cresceu <strong>de</strong> maneira significativa após o século XVIII, trouxe umamultidão <strong>de</strong> africanos <strong>de</strong> diversas regiões <strong>do</strong> continente, <strong>em</strong> particular para regiãosu<strong>de</strong>ste, na qual se concentraram as fazendas produtoras <strong>de</strong> café a partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>século XIX. Foi pelo porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro que estes homens e mulheres arranca<strong>do</strong>scompulsoriamente da África a<strong>de</strong>ntraram a esta parte da América, sen<strong>do</strong> que parte <strong>de</strong>lesficou na própria corte dan<strong>do</strong> a ela o aspecto <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> africana. Esta aparência58


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________africana da cida<strong>de</strong> foi reiterada por vários <strong>viajantes</strong> que estiveram no Rio no séculoXIX, <strong>de</strong>nte eles o militar al<strong>em</strong>ão Kotzebue, que nos legou um test<strong>em</strong>unho sugestivo aosublinhar que “um rosto branco é raro <strong>de</strong> ser visto nas ruas, mas pretos são tãonumerosos, que se po<strong>de</strong> imaginar estan<strong>do</strong> na África”. (IDEM, p. 214).Do contraste entre a exuberância da natureza e a presença da escravidão, àsquais nos referimos anteriormente, <strong>em</strong>ergiram duas gran<strong>de</strong>s matrizes <strong>de</strong> registros queapontavam, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, para uma natureza pródiga, pitoresca e impactante e, <strong>de</strong> outrola<strong>do</strong>, para a presença da escravidão como contraponto incômo<strong>do</strong> àquela. Isto levou àcristalização <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> concepções sobre os africanos na experiência daescravidão, a começar por suas próprias expressões culturais <strong>de</strong>ntre elas as músicas e asdanças. (IDEM, p. 161).Como sublinha<strong>do</strong> por Eneida Sela, no que diz respeito aos africanos trazi<strong>do</strong>scomo escravos para o Brasil, “a música e a dança são, s<strong>em</strong> dúvida, as tópicas mais longae <strong>de</strong>talhadamente acionadas pela literatura <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> para ilustrar o estranhamentocausa<strong>do</strong> por algumas manifestações”. (IDEM, p. 263).Os registros referentes à música e à dança entre a população escrava foramrecorrentes entre <strong>viajantes</strong> e neles é praticamente consensual a constatação <strong>do</strong> gosto <strong>do</strong>safricanos pela música a qual, nas suas visões, eles se entregariam com paixão, ainda quea forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir este gosto quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong>ergisse <strong>de</strong> suas narrativas permeada porexpressões pejorativas. J. Pohl se referiu ao canto entoa<strong>do</strong> pelos africanos como uma“gritaria monótona <strong>de</strong> um entoa<strong>do</strong>r, cujo estribilho é segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o coro <strong>de</strong> maneiraigualmente monótona”. (POHL, 1952, p. 85-6).Neste mesmo diapasão, von Rango observou que <strong>em</strong>bora a música fosseapreciada tanto pela “gente educada” quanto pelos escravos, era entre estes últimos queela assumia características peculiares. Segun<strong>do</strong> ele, no cotidiano <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,“ouve-se to<strong>do</strong> o t<strong>em</strong>po o canto monótono <strong>do</strong>s negros acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> instrumentos queeles próprios constro<strong>em</strong> e quan<strong>do</strong> três <strong>de</strong>les se reún<strong>em</strong> mesmo nos mais ru<strong>de</strong>s trabalhos,s<strong>em</strong>pre há um que canta ou faz soar as cordas”. (LEITHOLD; RANGO, 1966, p. 151).Embora os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s pelos africanos na execução <strong>de</strong> suas cançõesfoss<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>scritos como grosseiros, primitivos e selvagens, como no relato<strong>de</strong> von Rango, houve discordância na avaliação <strong>do</strong>s <strong>viajantes</strong> sobre os sons <strong>de</strong>lesobti<strong>do</strong>s. Maria Graham, por ex<strong>em</strong>plo, mencionou que os escravos utilizavam porinstrumentos “as coisas mais rudimentares que já produziram sons musicais”, <strong>em</strong>bora59


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________concluísse que “ainda assim[eles] não têm um efeito <strong>de</strong>sagradável”. (GRAHAM, 1824,p.199).Nesta mesma chave, Henry Chamberlain diria que a música produzida pelosafricanos, as quais ele <strong>de</strong>nominou “árias nativas”, não era “<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> algum<strong>de</strong>sagradável”. (Apud SELA, op cit, p. 264). J. Pohl, no entanto, diria que o sominstrumental <strong>de</strong> suas músicas era retira<strong>do</strong> <strong>de</strong>(...) uma corda retesada num pequeno arco, num simples instrumentoque <strong>de</strong>scansa sobre uma cabaça esvaziada e dá, no máximo, três tons:ou <strong>do</strong> débil ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma varinha <strong>de</strong> ferro fixada numa pequena tábuae que, ao contato com o polegar, <strong>de</strong>ixa ouvir o seu pobre som. [grifomeu] (IDEM, p.266).Em relação às danças, os <strong>viajantes</strong> também foram pródigos <strong>em</strong> seus <strong>relatos</strong> aindaque tenham manti<strong>do</strong> seus olhares tolda<strong>do</strong>s para suas diferenças, tanto que utilizaram asexpressões <strong>batuque</strong> ou “dança <strong>de</strong> negros” para <strong>de</strong>nominar todas danças <strong>de</strong> “pretos” quetiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistir. Nelas também i<strong>de</strong>ntificaram a mesma preferência <strong>do</strong>africano anteriormente mencionada <strong>em</strong> relação à música também para a dança, tantoque o francês Charles Expilly, ao narrar um acontecimento que teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>presenciar no Campo da Aclamação, <strong>em</strong> 1853, diria que, ao <strong>de</strong>parar-se com um grupo<strong>de</strong> “negros <strong>de</strong> ganho” que cantava ao som <strong>de</strong> uma “harmonia selvag<strong>em</strong>”, uma negra foracapaz <strong>de</strong> largar a lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> roupa <strong>de</strong> seus senhores para se por a dançar. (EXPILLY,1862, p. 52).Ribeyrolles, por sua vez, <strong>de</strong>screveria os <strong>batuque</strong>s que assistiu como “alegriasgrosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tu<strong>do</strong> isso é abjeto e triste; porém, osnegros apreciam essas bacanais, e outros tiram <strong>de</strong>la proveito. Não será isso um meio <strong>de</strong><strong>em</strong>brutecimento?” (Apud SOIHET, 2003, p. 4).O holandês Zacharias Wagener, escrivão <strong>de</strong> Maurício <strong>de</strong> Nassau, registrou noséculo XVII, <strong>em</strong> <strong>de</strong>senho e por escrito, uma “dança <strong>de</strong> negros”. De acors<strong>do</strong> com ele,esta dança acontecia após os escravos executar<strong>em</strong> sua penosa tarefa durante toda as<strong>em</strong>ana, quan<strong>do</strong> então lhes eraconcedi<strong>do</strong> passar<strong>em</strong> os <strong>do</strong>mingos como melhor lhes apraz; <strong>de</strong>ordinário reún<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> certos lugares e, ao som <strong>de</strong> pífanos etambores, levam to<strong>do</strong> o dia a dançar <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente entre si,homens e mulheres, crianças e velhos, <strong>em</strong> meio <strong>de</strong> freqüentes libaçõesduma bebida muito açucarada, a que chama Grape(garapa);consom<strong>em</strong> assim o dia santo dançan<strong>do</strong> s<strong>em</strong> cessar, a ponto <strong>de</strong> muitas60


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________vezes não se reconhecer<strong>em</strong>, tão sur<strong>do</strong>s e ébrios que ficam. (DIAS,2001, p. 860).seguir.O registro iconográfico que acompanha este relato encontra-se reproduzi<strong>do</strong> aEscravos africanos dançan<strong>do</strong> ao som <strong>de</strong> tambores e instrumentos <strong>de</strong> cordas.Zacharias Wagener (1614-1668)Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/revista/instrumentos.htmNele, Wagener retratou os tambores e as “libações” com garapa, sublinha<strong>do</strong>s noseu relato, <strong>em</strong>bora nele e no <strong>de</strong>senho não mencione n<strong>em</strong> explique a presença <strong>de</strong> umamulher <strong>de</strong> pele mais clara no meio da roda composta por negros. Difícil saber o motivo<strong>de</strong>sta omissão; todavia, ela nos oferece indícios para sugerir, com outros autores, que os<strong>batuque</strong>s não foram diversões restritas apenas aos escravos e que eles parec<strong>em</strong> terfascina<strong>do</strong> mais <strong>do</strong> que a eles. Regina Horta, por ex<strong>em</strong>plo, observou que umm<strong>em</strong>orialista oitocentista <strong>de</strong> Campanha registrou que o <strong>batuque</strong> (<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> cateretê<strong>em</strong> Minas Gerais) era também pratica<strong>do</strong> por “gente <strong>de</strong> b<strong>em</strong>”, tanto que certos padres odançavam. É Duarte ainda qu<strong>em</strong> informa que um <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>, que recebera uma <strong>de</strong>núnciasobre existência <strong>de</strong> um <strong>batuque</strong> ao qual <strong>de</strong>veria dispersar, chegou ao local com aintenção <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r os dançantes, mas acabou participan<strong>do</strong> da festa, ali passan<strong>do</strong> anoite. (DUARTE, 1995, p.94).De acor<strong>do</strong> com Paulo Dias, a falta <strong>de</strong> opções <strong>de</strong> lazer para as elites das áreasrurais acabava por intensificar as trocas culturais, escandalizan<strong>do</strong> alguns <strong>viajantes</strong>, talcomo ocorreu com <strong>brasil</strong>eiro Freire Al<strong>em</strong>ão (1859), que num <strong>batuque</strong> que assistiu <strong>em</strong>Paracatu (Ceará) disse que as “senhoras chegavam muitas vezes para a roda, assimcomo os homens, e assistiam com prazer as danças híbridas <strong>do</strong>s pretos, e os saltos61


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________grotescos <strong>do</strong>s negros”. (DIAS, op. cit.,, p. 862).No século XIX, Freycinet já havia expressa<strong>do</strong> esta mesma impressão a elaacrescentan<strong>do</strong> outros el<strong>em</strong>entos:são ordinariamente as danças francesas e inglesas que se executam nossalões. As classes menos cultas prefer<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre as dançaslascivas nacionais, muito variadas e aproximan<strong>do</strong>-se das <strong>do</strong>s negros daÁfrica. Cinco ou seis são muito características; o landum (sic) é amais in<strong>de</strong>cente; vêm <strong>em</strong> seguida o caranguejo e los fa<strong>do</strong>s (sic), <strong>em</strong>número <strong>de</strong> cinco: estas se dançam a quatro, seis, oito, até 16 pessoas;às vezes são entr<strong>em</strong>eadas <strong>de</strong> cantos livres; há figuras variadas, todasmuito volutuosas (...) (Apud, LEITÃO, 1934 p.. 121-2).Além <strong>de</strong> procurar estabelecer uma diferenciação entre danças européias,executadas nos salões, e danças africanas, que aconteciam <strong>em</strong> terreiros, Freycinetconstrói uma hierarquia entre elas toman<strong>do</strong> como pressuposto julgamentos morais e <strong>de</strong>classe. Desta maneira, ficava-lhe permiti<strong>do</strong> <strong>de</strong>finir quais seriam as danças mais ou asmenos “in<strong>de</strong>centes” relacionan<strong>do</strong>-as às classes mais ou menos “cultas” <strong>de</strong>notan<strong>do</strong>,adicionalmente que, na sua visão, o diferente era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> inferior o que, todavia,não foi suficiente para impedi-lo <strong>de</strong> acompanhar um festejo que ele próprio <strong>de</strong>finiucomo imoral.Os <strong>batuque</strong>s parec<strong>em</strong> também ter si<strong>do</strong> parte <strong>do</strong>s entretenimentos das camadaspopulares na São João <strong>de</strong>l Rei <strong>de</strong> final <strong>do</strong> oitocentos. Pelo menos é isto que sugere o“Folhetim” <strong>do</strong> jornal O Arauto <strong>de</strong> Minas. 3 Nele seu autor relatava as com<strong>em</strong>orações <strong>do</strong>sfestejos natalinos sanjoanenses, com base <strong>em</strong> um contraste entre classes, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> asdiferenças entre os folgue<strong>do</strong>s das “classes menos favorecidas da fortuna” e asfestivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “gente r<strong>em</strong>ediada” sublinhan<strong>do</strong> que: “À noite, nas casas <strong>de</strong> genter<strong>em</strong>ediada ou <strong>de</strong> haveres, reúne-se seleta socieda<strong>de</strong>, toca-se piano, canta-se umamodinha <strong>brasil</strong>eira, um romance francês, um trecho <strong>do</strong> Trova<strong>do</strong>r da Traviata, formamsepares e dança-se (...)”. 4Antes mesmo <strong>de</strong>sta data, <strong>em</strong> 1786, a Décima Primeira Carta Chilena <strong>de</strong> TomásAntônio Gonzaga intitulada “Em que se contam as brejeirices <strong>de</strong> Fanfarrão”, apresentavestígios <strong>de</strong>sta “mistura” proporcionada pelo <strong>batuque</strong> e a crítica <strong>de</strong> seu autor à mesma:Ó dança venturosa! Tu entravasNas humil<strong>de</strong>s choupanas, on<strong>de</strong> as negras,3 O Arauto <strong>de</strong> Minas, 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1880.4 Id<strong>em</strong>.62


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Aon<strong>de</strong> as vis mulatas, apertan<strong>do</strong>Por baixo <strong>do</strong> bandulho a larga cinta,Te honravam, c'os marotos e brejeiros,Baten<strong>do</strong> sobre o chão o pé <strong>de</strong>scalço.Agora já consegues ter entradaNas casas mais honestas e palácios! (GONZAGA, disponível <strong>em</strong>www.biblio.com.br/.../TomasAntonioGonzaga/mcartas.htm).Voltan<strong>do</strong> ao século XIX, mais especificamente ao ano <strong>de</strong> 1816, pod<strong>em</strong>osconstatar que Saint Hilaire, nas suas andanças pela província <strong>de</strong> Minas, diria <strong>de</strong> seushabitantes quecom exceção <strong>do</strong>s torneios (cavalhada) que às vezes celebram pelaépoca <strong>de</strong> Pentecostes, não conhec<strong>em</strong> outra espécie <strong>de</strong> divertimentoalém <strong>de</strong> uma dança que a <strong>de</strong>cência mal permite mencionar, e que,noentanto, se tornou quase nacional (o <strong>batuque</strong>). (SAINT HILAIRE,1975, p. 137).A expressão “quase nacional”, por ele utilizada, aponta mais uma vez para aatração que o <strong>batuque</strong> exerceu não apenas entre os escravos, mas entre outrossegmentos da população.Rugendas foi <strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> uma expedição científica nos anos 1820 e teveoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistir a um <strong>batuque</strong> no interior da província <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, queregistrou no <strong>de</strong>senho que reproduzimos a seguir, acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição naqual ressaltava a presença <strong>de</strong>certos movimentos <strong>do</strong> corpo que talvez se pareçam d<strong>em</strong>asia<strong>do</strong>expressivos; são, principalmente as ancas que se agitam, enquanto odançarino faz estalar a língua e os <strong>de</strong><strong>do</strong>s, acompanhan<strong>do</strong> um cantomonótono, os outros faz<strong>em</strong> círculo <strong>em</strong> volta <strong>de</strong>le e repet<strong>em</strong> o refrão.(RUGENDAS,1998, p.157)..63


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Rugendas, Batuque , ca. 1835Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Moritz_RugendasNa sua <strong>de</strong>scrição, Rugendas, como outros <strong>viajantes</strong>, <strong>de</strong>stacou o que maisincomo<strong>do</strong>u seu olhar europeu – os movimentos <strong>do</strong> corpo e a agitação das ancas, por eleconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s d<strong>em</strong>asia<strong>do</strong>s –, reiteran<strong>do</strong> estereótipos e <strong>representações</strong> sobre os costumes<strong>do</strong>s africanos. Mas o que suas observações revelam também, ainda que esta não fossesua intenção, é que parte <strong>do</strong> seu estranhamento com o que via era um estranhamento <strong>de</strong>si mesmo, na medida <strong>em</strong> que era <strong>em</strong> relação a seus próprios valores que seus juízos ecomparações eram estabeleci<strong>do</strong>s.Corroboran<strong>do</strong> a visão <strong>de</strong> Rugendas, Carl Seidler diria <strong>de</strong> um <strong>batuque</strong> que assistiudurante os festejos <strong>de</strong> um casamento entre negros, no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,Mal era meio dia, surgiram os espera<strong>do</strong>s hóspe<strong>de</strong>s, na maioria negrose mulatos, <strong>em</strong> geral enfeita<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trapos multicores e toda espécie <strong>de</strong>bugigangas, além disso trazen<strong>do</strong> máscaras negras, <strong>de</strong> papel, queaplicavam ao rosto, apenas com aberturas para os olhos e o nariz (...)Acompanhava a música um berreiro <strong>de</strong> alegria, muito pior que o d<strong>em</strong>il papagaios na floresta virg<strong>em</strong> <strong>brasil</strong>eira e ameaçava romper-nos oaliás rijo tímpano <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>.Começou <strong>de</strong>pois ao ar livre um baile, que regulava com a música e acantoria. Imagin<strong>em</strong>-se as mais <strong>de</strong>testáveis contorções musculares, s<strong>em</strong>cadência, os mais inocentes requebros das pernas e braços s<strong>em</strong>inus, osmais ousa<strong>do</strong>s saltos, as saias esvoaçantes, a mímica mais nojenta, <strong>em</strong>que se revelava a mais crua volúpia carnal – tal era a dança <strong>em</strong> que,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo as graças se transmudavam <strong>em</strong> bacantes fúrias. (ApudSCHWARCZ, op. cit., p. 613).Berreiro “pior <strong>do</strong> que o <strong>de</strong> mil papagaios”, “contorções s<strong>em</strong> cadência”, “mímicanojenta” e “volúpia carnal” são adjetivações que <strong>de</strong>stilam os preconceitos <strong>de</strong> Seidlercom o que via como sensualida<strong>de</strong> exagerada, indícios <strong>de</strong> animalida<strong>de</strong> e falta <strong>de</strong>civilida<strong>de</strong>, atributos que relacionava aos negros.Spix e Martius admiraram-se com a facilida<strong>de</strong> como os negros, que dançavamum <strong>batuque</strong> <strong>em</strong> São Paulo <strong>em</strong> 1817, manifestavam-se com gestos e contornos“sensuais” na sua forma <strong>de</strong> dançar. Pródigos <strong>em</strong> adjetivações <strong>de</strong>preciativas, estes <strong>do</strong>is<strong>viajantes</strong> sublinharam o que viam como movimentos dissolutos, pantomimas e aobscenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dança que, apesar disto e tal como apontara Saint Hileire, estava“espalhada <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o Brasil e por toda parte é a preferida da classe inferior <strong>do</strong> povo,que <strong>de</strong>la não se priva, n<strong>em</strong> por proibição da Igreja”. (SPIX; MARTIUS, op. cit, p. 180).64


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Baducca.Completan<strong>do</strong> sua <strong>de</strong>scrição, a ela eles acrescentaram a litografia intitulada DueDue BaduccaFonte: SPIX, Johann Baptiste Von e MARTIUS, Karl Friedrich P. Von, Viag<strong>em</strong> pelo Brasil: 1817-1820,Belo Horizonte/ São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1981.A ve<strong>em</strong>ência das suas <strong>de</strong>scrições escritas é compl<strong>em</strong>entada e pela <strong>de</strong>scriçãovisual que, repleta <strong>de</strong> figuras caricatas, parece querer provar ao leitor o quão “imoral” e“in<strong>de</strong>cente” fora o que os <strong>do</strong>is <strong>viajantes</strong> viram e registraram. O ambíguo, no caso <strong>de</strong>Spix e Martius e <strong>de</strong> outros <strong>viajantes</strong>, é que, apesar <strong>do</strong>s seus olhares moralistas, elestenham si<strong>do</strong> tão pródigos <strong>em</strong> referenciar minúcias acerca da exposição <strong>do</strong>s corpos,centran<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes que eles mesmos procuravam reprovar, o que aponta para opo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração que tais danças exercia sobre eles.Mas foi o francês Ferdinand Denis um <strong>do</strong>s <strong>viajantes</strong> que produziu uma das<strong>de</strong>scrições mais ambivalentes sobre o <strong>batuque</strong>. Segun<strong>do</strong> ele,Não sei qual o viajante, é Golbery, creio, que disse que a certa hora danoite toda a África estava <strong>em</strong> dança, e (...) os negros dançavam atémesmo entre as sepulturas. Passan<strong>do</strong> à América, suportan<strong>do</strong> a dura leida escravidão, os negros nada per<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> seu amor por seu exercício<strong>de</strong> predileção; conservavam o uso <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os instrumentos próprios<strong>de</strong> sua nação (...) Suas danças nacionais se improvisam <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s oslugares on<strong>de</strong> estejam seguros <strong>de</strong> que não serão interrompi<strong>do</strong>s. O<strong>batuque</strong>, que alternativamente exprime as repulsas e os prazeres <strong>do</strong>amor; a capoeira <strong>em</strong> que finge o combate; o lundu, que mesmo noteatro se dança, e cuja graça consiste principalmente num movimentoparticular das partes inferiores <strong>do</strong> corpo, (...), todas essas dançasapaixonantes que mil vezes têm si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scritas pelos <strong>viajantes</strong> (...)[grifo nosso] (DENIS, 1980, p.. 156-8).65


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Além <strong>de</strong> expressar uma visão européia <strong>de</strong>preciativa da forma como a dançasupostamente seria utilizada pelos africanos na África, Denis associa seus folgue<strong>do</strong>s aoconsumo <strong>de</strong> álcool, à sensualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s movimentos das “partes inferiores <strong>do</strong> corpo” e,no caso <strong>do</strong> <strong>batuque</strong>, à expressão das “repulsas e os prazeres <strong>do</strong> amor”. E mesmo que aoassim se expressar ele estivesse procuran<strong>do</strong> sublinhar o que consi<strong>de</strong>rava “primitivismo”e “imoralida<strong>de</strong>” por parte <strong>do</strong>s dançantes, este movimento não foi suficiente para anulara sensação <strong>de</strong> admiração nele provocada por tais danças que ele consi<strong>de</strong>rou“apaixonantes”.Tal sensação, por sua vez, não esteve restrita ao caso <strong>de</strong> Denis e foi partilhadapor outro viajante, o inglês Thomas Lindley que, nas suas Narrativas <strong>de</strong> uma viag<strong>em</strong> aoBrasil, ao relatar um <strong>batuque</strong> que assistiu <strong>de</strong>nominou-o “atraente dança <strong>de</strong> negros”. 5(LINDLEY, 1969, p. 106). Mas, a levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a dúvida <strong>de</strong> Denis aomencionar não se l<strong>em</strong>brar <strong>de</strong> qual viajante recolhera a informação <strong>de</strong> que “a certa horada noite toda a África estava <strong>em</strong> dança”, esta sensação <strong>de</strong>ve ter si<strong>do</strong> mais recorrente <strong>do</strong>que os parcos test<strong>em</strong>unhos que nos foram lega<strong>do</strong>s sobre ela.A predileção pela dança, transposta pelos africanos <strong>de</strong> sua terra para o Brasil,presente no relato <strong>de</strong> Denis, reaparece na narrativa <strong>de</strong> Rugendas. Para ele o <strong>batuque</strong> éconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um divertimento habitual <strong>do</strong>s negros que varavam a noite dançan<strong>do</strong> apósuma jornada <strong>de</strong> trabalho estafante. (RUGENDAS, 1949, p.197). Já para Spix e Martiusesta predileção teria tal força que contagiara o <strong>brasil</strong>eiro, o qual estaria s<strong>em</strong>pre “pronto adivertir-se”. (SPIX; MARTIUS, 1981, p. 197).Johan Emanuel Pohl mencionou “o canto singularíssimo” por ele escuta<strong>do</strong> no<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um <strong>batuque</strong> dizen<strong>do</strong> ser ele composto por “duas palavras que eram repetidaspor to<strong>do</strong> o grupo com a voz cada vez mais forte” até que o “uivo monótono erainterrompi<strong>do</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos pelo não menos dissonante bater <strong>de</strong> uma mona”.(Apud RIBEIRO, 1984, p. 16-17). Robert Avé-Lall<strong>em</strong>ant teria fica<strong>do</strong> impressiona<strong>do</strong>com a música estri<strong>de</strong>nte tocada pelos negros nestas ocasiões “na qual cada um faz ostrejeitos mais <strong>de</strong>spu<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>s possíveis”. 6 Já Luiz e Elizabeth Agassiz, assim <strong>de</strong>finiramuma “dança <strong>de</strong> negros”:Um grupo <strong>de</strong> escravos, pretos como azeviche, estava a cantar e5 Lindley esteve no Brasil entre 1802 e 1803.6 FREYCINET, Louis Clau<strong>de</strong> Desaulces, Voyage au tour du mon<strong>de</strong>...pendant lês années 1817, 1818 e1820, Paris, Imprimeur Libraire, 1825, vol. 1 e AVÉ LALLEMANT, Robert, Viag<strong>em</strong> pelo Norte <strong>do</strong> Brasilno ano <strong>de</strong> 1859, Rio <strong>de</strong> Janeiro, INL, 1959, vol.1, p. 59.66


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________dançar o fandango. Tanto quanto pu<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r, uma corifeu abriaa dança cantan<strong>do</strong> uma espécie <strong>de</strong> copla, dirigida a to<strong>do</strong>s os assistentes,um após outro, cada vez que completava a volta da roda, e <strong>em</strong> seguidato<strong>do</strong>s a repetiam <strong>em</strong> coro, com intervalos regulares. Com acontinuação, a excitação aumentou e a dança se tornou como que umaexaltação selvag<strong>em</strong> acompanhada <strong>de</strong> exclamações e gritos estri<strong>de</strong>ntes.Os movimentos <strong>do</strong> corpo l<strong>em</strong>bram, numa singular combinação, adança <strong>do</strong>s nossos negros e <strong>do</strong>s espanhóis. Dos pés até à cintura, eramaqueles movimentos curtos, sacudi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros e essa torsão <strong>de</strong>pernas, próprios <strong>do</strong>s negros das nossas plantações, enquanto que otronco e os braços oscilavam ca<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s no ritmo tão característico<strong>do</strong> fandango espanhol. (AGASSIZ; AGASSIZ, 1937, p. 71-3).Foi também a partir <strong>de</strong> suas “lentes européias” que o casal Agassiz captou osatributos “negativos” da dança, atributos estes que ficavam ainda mais reforça<strong>do</strong>s pelapercepção <strong>de</strong> diferenças <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> explicitadas a partir da associação por elesestabelecida entre a dança africana e o fandango espanhol. Neste último, e para eles, osbraços oscilavam “ca<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s no ritmo” enquanto naquela, <strong>do</strong>s pés à cinturaimperavam movimentos sacudi<strong>do</strong>s e torções, o que <strong>de</strong>notava a sua supostainferiorida<strong>de</strong>.Em consenso com seus pares, Freyreiss registrou o som estri<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s <strong>batuque</strong>sque o incomo<strong>do</strong>u quan<strong>do</strong>, às três horas da tar<strong>de</strong> chegara aSanta Rita, uma al<strong>de</strong>ia a 5 léguas <strong>de</strong> Santana e a uma da mata <strong>do</strong>sPuris. Aí estavam todas as casas cheias <strong>de</strong> gente que tinham vin<strong>do</strong>assistir à festa, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que só havia o meio <strong>de</strong> dirigirmo-nos à casa<strong>do</strong> padre, na esperança <strong>de</strong> encontrar abrigo, porém, isso não foipossível. Tiv<strong>em</strong>os, pois, <strong>de</strong> continuar o nosso caminho até umafazenda a um quarto <strong>de</strong> légua mais adiante. Fomos muito b<strong>em</strong>recebi<strong>do</strong>s, porém, não tiv<strong>em</strong>os <strong>de</strong>scanso por causa <strong>do</strong>s muitosescravos que se tinham reuni<strong>do</strong> no terreiro da casa, on<strong>de</strong> dançaram anoite toda, com uma música infernal e uma gritaria insuportável, talqual Langs<strong>do</strong>rff o tinha <strong>de</strong>scrito <strong>em</strong> Santa Catarina. (FREYREISS,1982, p. 80).Seria possível alongarmos a lista <strong>de</strong>stes ex<strong>em</strong>plos, mas os apresenta<strong>do</strong>s nosparec<strong>em</strong> suficientes para revelar como o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “<strong>batuque</strong>” ou “dança <strong>de</strong> pretos”neles <strong>em</strong>erge relaciona<strong>do</strong> a africanos e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes “inciviliza<strong>do</strong>s”, assim comoestes <strong>relatos</strong> nos permit<strong>em</strong> vislumbrar a reação <strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>res brancos aos <strong>batuque</strong>sque assistiram, os quais não perceberam tal prática senão como um <strong>em</strong>aranha<strong>do</strong> <strong>de</strong>gestos e danças sensuais e lascivas, se compara<strong>do</strong>s aos seus próprios divertimentos.Foi esta visão parcial que os levou a assumir<strong>em</strong> uma atitu<strong>de</strong> ambivalente <strong>em</strong>relação aos <strong>batuque</strong>s, pois se, por um la<strong>do</strong>, eles <strong>do</strong>cumentaram, <strong>de</strong>screveram e/ou67


casca. 7 Por fim, mas não <strong>em</strong> último lugar, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar que a con<strong>de</strong>nação àsRevista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________<strong>de</strong>senharam o que viram, por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sautorizaram o que eles mesmos registraram,ao explicitar seu menosprezo por algo que, no mínimo, os impactou.Para além disto, é possível i<strong>de</strong>ntificar alguns pontos s<strong>em</strong>elhantes e dissonantesnas suas <strong>de</strong>scrições. Um primeiro <strong>de</strong>les, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s <strong>batuque</strong>s com a populaçãonegra, muito <strong>em</strong>bora alguns <strong>do</strong>s <strong>relatos</strong> aqui reproduzi<strong>do</strong>s tenham d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong> que acomunhão entre dançantes <strong>de</strong> diferentes origens étnicas foi mais recorrente <strong>do</strong> queaqueles <strong>viajantes</strong> pu<strong>de</strong>ram (ou quiseram) reconhecer.Um segun<strong>do</strong> ponto , que é a con<strong>de</strong>nação praticamente consensual ao“barbarismo” <strong>do</strong> canto entoa<strong>do</strong>, assim como ao espetáculo propicia<strong>do</strong> por uma dança<strong>de</strong>finida como “<strong>de</strong>sonesta” e “licenciosa” que, no entanto, não se transformou <strong>em</strong><strong>em</strong>pecilho para que muitos <strong>de</strong>les se sentiss<strong>em</strong> atraí<strong>do</strong>s pelo espetáculo por elaofereci<strong>do</strong>. Como observa<strong>do</strong> por Martha Abreu e Hebe Mattos, os <strong>batuque</strong>s funcionavamcomo um espetáculo para os visitantes ao passo que os escravos guardavam para si “ossignifica<strong>do</strong>s mais profun<strong>do</strong>s daqueles cantos e danças”, <strong>de</strong>les apresentan<strong>do</strong> somente aexageradas sensualida<strong>de</strong> e lascivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s corpos nas danças, sublinhadas (mas, aindaassim admiradas) pelos <strong>viajantes</strong>, passaram a compor um quadro <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático repleto<strong>de</strong> estereótipos, que cristalizou uma série <strong>de</strong> concepções sobre os africanos e seuscorpos, notadamente <strong>em</strong> relação à mulher negra.Estas visões foram reforçadas pelo i<strong>de</strong>ário cientificista e racista, importa<strong>do</strong> daEuropa, e espraiaram-se a ponto <strong>de</strong>, entre o final <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> XX,reforçan<strong>do</strong> preconceitos <strong>em</strong> torno da população liberta encontran<strong>do</strong> a<strong>de</strong>ptos noparlamento, na imprensa e até mesmo entre os abolicionistas. “contribuin<strong>do</strong> parareeditar, <strong>em</strong> novos termos, as antigas hierarquias sociais, raciais e <strong>de</strong> gênero”. (ABREU,7 ABREU, Martha e MATTOS, HEBE, “Jongo, registros <strong>de</strong> uma história”, obra citada, p. 77. Hoje váriosestu<strong>do</strong>s vêm procuran<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>r justamente os conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes encontros para os escravos, conteú<strong>do</strong>sestes que não foram compreendi<strong>do</strong>s por aqueles que os assistiram e registraram no século XIX. Ver paraeste assunto, <strong>de</strong>ntre outros, Stanley Stein, Vassouras: um município <strong>brasil</strong>eiro <strong>do</strong> café (1850-1900),Rio <strong>de</strong>Janeiro, Nova Fronteira, 1990; Silvia Hunold Lara e Gustavo Pacheco (orgs.), M<strong>em</strong>ória o Jongo: asgravações históricas <strong>de</strong> Stanley J. Stein (Vassouras, 1949), Rio <strong>de</strong> Janeiro, Folha Seca, 2007; WilsonRogério Pentea<strong>do</strong> Júnior, Jongueiros <strong>do</strong> Tamandaré: um estu<strong>do</strong> antropológico da prática <strong>do</strong> jongo no vale<strong>do</strong> Paraíba paulista (Guaratinguetá – SP), Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas,2004; Camila Agostini, Africanos no cativeiro e a construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s no além mar (Vale <strong>do</strong>Paraíba, século XIX),Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas 2002; Maria <strong>de</strong>Lour<strong>de</strong>s Borges Ribeiro, O jongo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Funarte, 1984; Adailton Silva, Relatos <strong>do</strong> jongo:reflexões e episódios <strong>de</strong> um pesquisa<strong>do</strong>r negro, Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2006;Patrícia Lage <strong>de</strong> Almeida, Ecos <strong>de</strong> permanência, Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SãoJoão Del Rey, 2006 e o Dossiê Jongo <strong>do</strong> Su<strong>de</strong>ste (http://portal.iphan.gov.br.patrimonioimaterial).68


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________2003, p. 4).Naquele contexto, elas apareceram vinculadas à noção <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> <strong>do</strong>snegros/as e mestiços/as e à sua suposta inclinação à perversão <strong>do</strong>s costumes, reforçan<strong>do</strong>uma representação da mulata como cobiça<strong>do</strong> objeto <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo baseada na coisificaçãoda mulher escrava e mestiça e na sua suposta propensão a uma sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senfreadae <strong>de</strong>generada. 8No segun<strong>do</strong> quartel <strong>do</strong> século XX, a busca por traços culturais quecaracterizass<strong>em</strong> um i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> “caráter <strong>brasil</strong>eiro” fez com esta imag<strong>em</strong> sofressealterações passan<strong>do</strong> a ser vista <strong>de</strong> forma, por assim dizer, mais simpática e menos<strong>de</strong>saprova<strong>do</strong>ra. Neste novo contexto, a imag<strong>em</strong> da mulata passou a ser revestida <strong>do</strong>papel <strong>de</strong> prova da mestiçag<strong>em</strong> civilizatória e “d<strong>em</strong>ocratizante” e, como tal, comosímbolo <strong>do</strong> que seria mais aprecia<strong>do</strong> pelo ethos nacional. Mas isto já é uma outrahistória!REFERÊNCIASABREU, Martha e MATTOS, HEBE, Jongo, registros <strong>de</strong> uma história in LARA, SilviaH. e PACHECO, Gustavo (orgs.), M<strong>em</strong>ória o Jongo: as gravações históricas <strong>de</strong>Stanley J. Stein (Vassouras, 1949), Rio <strong>de</strong> Janeiro, Folha Seca, 2007.ABREU, Martha, Sobre Mulatas Orgulhosas e Crioulos Atrevi<strong>do</strong>s: conflitos raciais,gênero e nação nas canções populares (Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil, 1890-1920) in T<strong>em</strong>po, Rio <strong>de</strong>Janeiro, nº 16, 2003AGASSIZ, L. e AGASSIZ, E.C., Viag<strong>em</strong> ao Brasil, 1865-1866, 1937, p.p. 71-3.Disponível <strong>em</strong> http://www.<strong>brasil</strong>iana.com.br/<strong>brasil</strong>iana/colecaoAVÉ LALLEMANT, Robert, Viag<strong>em</strong> pelo Norte <strong>do</strong> Brasil no ano <strong>de</strong> 1859. Rio <strong>de</strong>Janeiro, INL, 1959.BELUZZO, Ana Maria, O Brasil <strong>do</strong>s <strong>viajantes</strong>, Salva<strong>do</strong>r, O<strong>de</strong>rbrecht, 1995, vol. 1.CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz <strong>de</strong> e NORONHA, Nelson Matos <strong>de</strong> (orgs), AAmazônia <strong>do</strong>s <strong>viajantes</strong>: história e ciência, Manaus, EDUA, 2011.DENIS, Ferdinand, Brasil, Belo Horizonte, Itatiaia, São Paulo, Edusp, 1980.DIAS, Paulo, A outra festa in JANCSÓ, István e KANTOR, Íris (orgs), Festa: cultura esociabilida<strong>de</strong> na América Portuguesa. São Paulo Edusp, Fapesp, 2001, vol. II.DUARTE, Regina Horta. Noites Circenses: espetáculos <strong>de</strong> circo e teatro <strong>em</strong> Minas8 Para uma discussão sobre este assunto ver ABREU, Martha, Sobre Mulatas Orgulhosas e CrioulosAtrevi<strong>do</strong>s: conflitos raciais, gênero e nação nas canções populares (Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil, 1890-1920) inT<strong>em</strong>po, Rio <strong>de</strong> Janeiro, nº 16, 2003.69


Revista Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 11, Set<strong>em</strong>bro 2011 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.u<strong>em</strong>.br/gtreligiao /in<strong>de</strong>x.htmlARTIGOS_________________________________________________________________________________Gerais no século XIX,, Campinas, Unicamp, 1995.FREYCINET, Louis Clau<strong>de</strong> Desaulces, Voyage au tour du mon<strong>de</strong>...pendant lêsannées 1817, 1818 e 1820, Paris, Imprimeur Libraire, 1825, vol. 1FREYREISS, Georg Wilhelm, Viag<strong>em</strong> ao interior <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte/ SãoPaulo, Itatiaia/Edus, 1982.GONZAGA, Tomás Antônio, Cartas Chilenas, São Paulo, Companhia das Letras,2006.LEITÃO, Candi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Melo, Visitantes <strong>do</strong> Primeiro Império, 1934http://www.<strong>brasil</strong>iana.com.br/<strong>brasil</strong>iana/colecaoLEITHOLD, Theo<strong>do</strong>r von; RANGO, Ludwing von, O Rio <strong>de</strong> Janeiro visto por <strong>do</strong>isprussianos <strong>em</strong> 1819, São Paulo, Brasiliana, 1966.LINDLEY, Thomas, Narrativas <strong>de</strong> uma viag<strong>em</strong> ao Brasil, São Paulo, CompanhiaEditora Nacional, 1969, p. 106. Lindley esteve no Brasil entre 1802 e 1803.MANTHORME, Katherine E., O imaginário <strong>brasil</strong>eiro para o publico norte americano<strong>do</strong> século XIX in Revista USP, n. 30, junho/agosto <strong>de</strong> 1996.MATOS, Maria Izilda S. <strong>de</strong>; SOIHET, Rachel Soihet (orgs), O Corpo f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong><strong>de</strong>bate, São Paulo, UNESP, 2003.PEREZ, Léa F, Festas e <strong>viajantes</strong> nas Minas oitocentistas, segunda aproximação inRevista <strong>de</strong> Antropologia, v.52, n.1, São Paulo, 2009.RIBEIRO, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Borges, O jongo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, FUNARTE, 1984.RUGENDAS, J.M., Viag<strong>em</strong> pitoresca através <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte, Itatiaia,1998.SCHWARCZ, Lilia M., Viajantes <strong>em</strong> meio ao império das festas in JANCSÓ, István eKANTOR, Íris (orgs), Festa: cultura e sociabilida<strong>de</strong> na América Portuguesa, SãoPaulo, Hucitec, 2001.SELA, Eneida, Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ser, mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ver: <strong>viajantes</strong> europeus e escravos africanosno Rio <strong>de</strong> Janeiro (1808-1850). Campinas, Unicamp, 2008.SLENES, Robert, Na senzala, uma flor. Esperanças e recordações na formação dafamília escrava – Brasil,século XIX. Rio <strong>de</strong> Janeiro,Nova Fronteira, 1999.SPIX, J.B.; MARTIUS, C.F.P. Von, Viag<strong>em</strong> pelo Brasil, Belo Horizonte/São Paulo,Itatiaia/Edusp, 1981, vol. 1.Recebi<strong>do</strong> <strong>em</strong> 07/08/2011Aprova<strong>do</strong> <strong>em</strong> 20/09/201170

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