Daiane Solange Stoeberl da Cunha - Programa de Pós-Graduação ...
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69Observa-se a preocupação de Adorno em relação ao estado em que a músicase encontrava e, mais ainda, à postura das pessoas diante da música. Queixas queainda nos trazem inquietações, pois a audição tornara-se algo mecânico, a música –massificada – é, ainda hoje, ouvida com desatenção. Tal crítica nos permite inferirque somente por meio da educação se pode despertar os indivíduos a uma audiçãomais atenta, de modo que ela própria não reproduza os mecanismos desseprocesso de deterioração.O educador musical tem sob sua responsabilidade a formação musical doaluno, e é através dele que as práticas comuns da sociedade, como a falta dereflexão e a audição musical inconsciente, podem ser transformadas emesclarecimento e criticidade. Entretanto, a mera transmissão de conhecimento detécnica musical não garante o esclarecimento: saber tocar um instrumento musicalou ler partitura não significa ser esclarecido, pois até mesmo as aulas de artesvoltadas para os produtos da Indústria Cultural, podem se tornar um ambienteemancipatório. Salienta-se que o determinante aqui é a atuação do professor.A prática docente com o propósito de esclarecer deve estar permeada poratitudes que promovam o esclarecimento, levar os alunos a refletir sobre as músicasque ouvem, conhecendo outros estilos musicais, tornando-os capazes de agir por sipróprios, saindo de sua menoridade e passando a uma maioridade, em que a escutamusical seja seletiva e que haja a compreensão dos artifícios da indústriafonográfica usados para manipulação dos gostos musicais, tendo assim, o educandoindependência para distinguir entre a verdadeira e a falsa obra de arte, isso é umaprática docente emancipatória.Entretanto, a prática docente é reflexo da formação docente, ou seja,primeiramente, é necessário que haja esclarecimento por parte do próprio professore, conseqüentemente, ele será agente de esclarecimento em sua prática educativa.Ao contrário, como poderá um educador proporcionar aos seus alunos um ambienteesclarecedor se nem mesmo ele chegou à maioridade, como define Kant.A formação docente centrada na transmissão de conhecimento, sempretensões críticas, acaba por formar educadores não-críticos e incapazes de agirassim na sociedade, portanto, impossibilitados de formar cidadãos críticos. Por isso,a grande preocupação com a formação do educador musical.
70A educação crítica, portanto, deve visar a autonomia, nela, o aluno não sóaprende a teoria, mas, junto dela, também a prática. No entanto, o que há derelevante nessa afirmação é que mesmo que o professor ensine o conteúdo,relacionando-o sempre com a prática, a educação emancipatória só irá seconcretizar, realmente, quando o aluno souber servir-se de seu próprioconhecimento, colocando-o em prática.A ação educativa do professor poderá instigar à emancipação, quando elepossibilitar ao aluno a ação individual e consciente, de tal forma que o aluno tenhaconhecimento e aptidão para agir independentemente.O professor se posiciona diante desse desafio como autoridade e essarelação com a autoridade situa-se no processo de socialização da criança ainda naprimeira infância, quando a figura ideal é internalizada pela criança, comoautoridade, e, posteriormente, essa figura ideal é desconstruída na compreensão dareal, pois não corresponde ao eu ideal internalizado, nessa desconstrução, a criançatorna-se consciente, emancipada.A relação com a autoridade se dá na família mediante a figura paterna ematerna e, posteriormente, com outras autoridades, tornando possível aidentificação. “Penso que o momento da autoridade seja pressuposto como ummomento genético pelo processo de emancipação”. (ADORNO, 2000, p.177)Dessa forma, as posições assumidas pelo professor perante o aluno e arelação estabelecida entre ambos, são fatores determinantes no processo formativo.Isso nos remete à idéia mestra de todo o projeto moderno: formar o homem cidadão,livre e auto-determinado, para isso, é preciso livrar o homem de sua menoridade,como já vimos nos estudos de Kant, livrar o homem da falta de esclarecimento, daincapacidade de fazer bom uso da razão.A possibilidade de caminhar por novos caminhos existe, a práxis pedagógicaemancipatória dos educadores musicais, como atividade plausível, traz apossibilidades de conversão da semiformação em formação, da pseudoindividualidadeem individualidade, e portanto a emancipação, o esclarecimento, acultura. Como afirma (ZUIN,1999, p. 158):É verdade que o resgate das potencialidades emancipatórias da formação não égarantido, como bem disse Adorno, através da mera freqüência em cursos de cultura
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70A educação crítica, portanto, <strong>de</strong>ve visar a autonomia, nela, o aluno não sóapren<strong>de</strong> a teoria, mas, junto <strong>de</strong>la, também a prática. No entanto, o que há <strong>de</strong>relevante nessa afirmação é que mesmo que o professor ensine o conteúdo,relacionando-o sempre com a prática, a educação emancipatória só irá seconcretizar, realmente, quando o aluno souber servir-se <strong>de</strong> seu próprioconhecimento, colocando-o em prática.A ação educativa do professor po<strong>de</strong>rá instigar à emancipação, quando elepossibilitar ao aluno a ação individual e consciente, <strong>de</strong> tal forma que o aluno tenhaconhecimento e aptidão para agir in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente.O professor se posiciona diante <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio como autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e essarelação com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> situa-se no processo <strong>de</strong> socialização <strong>da</strong> criança ain<strong>da</strong> naprimeira infância, quando a figura i<strong>de</strong>al é internaliza<strong>da</strong> pela criança, comoautori<strong>da</strong><strong>de</strong>, e, posteriormente, essa figura i<strong>de</strong>al é <strong>de</strong>sconstruí<strong>da</strong> na compreensão <strong>da</strong>real, pois não correspon<strong>de</strong> ao eu i<strong>de</strong>al internalizado, nessa <strong>de</strong>sconstrução, a criançatorna-se consciente, emancipa<strong>da</strong>.A relação com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> se dá na família mediante a figura paterna ematerna e, posteriormente, com outras autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, tornando possível ai<strong>de</strong>ntificação. “Penso que o momento <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> seja pressuposto como ummomento genético pelo processo <strong>de</strong> emancipação”. (ADORNO, 2000, p.177)Dessa forma, as posições assumi<strong>da</strong>s pelo professor perante o aluno e arelação estabeleci<strong>da</strong> entre ambos, são fatores <strong>de</strong>terminantes no processo formativo.Isso nos remete à idéia mestra <strong>de</strong> todo o projeto mo<strong>de</strong>rno: formar o homem ci<strong>da</strong>dão,livre e auto-<strong>de</strong>terminado, para isso, é preciso livrar o homem <strong>de</strong> sua menori<strong>da</strong><strong>de</strong>,como já vimos nos estudos <strong>de</strong> Kant, livrar o homem <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> esclarecimento, <strong>da</strong>incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer bom uso <strong>da</strong> razão.A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> caminhar por novos caminhos existe, a práxis pe<strong>da</strong>gógicaemancipatória dos educadores musicais, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> plausível, traz apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conversão <strong>da</strong> semiformação em formação, <strong>da</strong> pseudoindividuali<strong>da</strong><strong>de</strong>em individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e portanto a emancipação, o esclarecimento, acultura. Como afirma (ZUIN,1999, p. 158):É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o resgate <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s emancipatórias <strong>da</strong> formação não égarantido, como bem disse Adorno, através <strong>da</strong> mera freqüência em cursos <strong>de</strong> cultura