LER E ESCREVER: UM OLHAR DUAL SOBRE CAETÉS, DE ...

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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41288Talvez esse desejo aspirado por João Valério seja o mesmo aspirado porleitores que sentem prazer na leitura literária. Essa ideia de prazer do texto estárelacionada com as ideias de Roland Barthes em seu livro O prazer do texto (2008,p.20), pois segundo ele, “o texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia;aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortávelda leitura”. Identificamos que as palavras de Barthes estão diretamente relacionadascom a teoria de João Valério. Porém, devemos reconhecer que esse personagemqueria na verdade ser reconhecido e não ter somente seu texto admirado, em todo ocaso isso não inviabiliza o compartilhar da leitura.Wolfgang Iser (1979) nos mostra que, “o próprio texto é o resultado de umato intencional pelo qual um autor se refere e intervém em um mundo existente, masconquanto o ato seja intencional, visa a algo que ainda não é acessível à consciência”.(ISER, 1979, p. 107). Percebemos assim, que não importa a intenção do autor, o queimporta é o que essa leitura pode proporcionar àqueles que leem.Outro ponto que se pode abordar aqui é a questão da leitura coletiva dentroda obra, pois podemos identificar que, além de João Valério, Luísa é umapersonagem leitora. Essa constatação pode ser feita logo no primeiro capítulo,quando,Adrião, arrastando a perna, tinha-se recolhido ao quarto, queixandosede uma forte dor de cabeça. Fui colocar a xícara na bandeja. Edispunham-me a sair, porque sentia acanhamento e não encontravaassunto para conversar. Luísa quis mostrar-me uma passagem nolivro que lia. Curvou-se. (RAMOS, s.d., p. 07).Segundo Hans Robert Jauss (1979, p. 73 -74), a leitura coletiva estádiretamente ligada ao conceito de horizonte de expectativa, que consiste em umconjunto de hipóteses compartilhadas que se pode atribuir a uma geração de leitores,para ele, existe uma “sociedade de leitores” em um tempo histórico determinado.Assim, o sentido do texto se realiza na junção de dois fatores: o repertório daobra em si e o trazido pelo leitor de uma determinada sociedade. Jauss procuradiscernir como expectativa e experiências se encadeiam, pois são esses os motores do

Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41289processo de significação e como a leitura compartilhada é um fator de grandeinfluência para a (re) atualização da obra literária, isso depende tão somente dopúblico leitor. Assim, Zilberman (2008) nos diz que:A Estética da Recepção assume a perspectiva do leitor, portanto,conforme sua denominação sugere, ao considerar que é ele quemgarante a historicidade das obras literárias. Em decorrência do fato deo leitor não deixar de consumir criações artísticas de outros períodos,essas se atualizam permanentemente. Conforme Jauss anota, umaobra "só se converte em acontecimento literário para seu leitor";portanto, é esse sujeito que afiança a vitalidade e continuidade doprocesso literário. (Zilberman, 2008, p. 05)A partir do trecho da obra em que Luísa pretende compartilhar sua leituracom João Valério, podemos pressupor que eles há muito já faziam isso. Essahabilidade em compartilhar leitura é um forte influenciador para a disseminação daliteratura, pois é um instrumento capaz de atrair outros leitores, pois não é algoimposto (como em um ambiente escolar, por exemplo) é apenas algo que dá prazerpara alguém e que pode suscitar o prazer em outra pessoa.Em contrapartida, João Valério influenciado por essa sociedade acaba porceder às “pressões”, após muito lutar para escrever um romance, acaba abandonandosuas ideias:Abandonei definitivamente os caetés: um negociante não se devemeter em coisas de arte. Às vezes desenterro-os da gaveta, revejopedaços da ocara, a matança dos portugueses, o morubixaba deenduape (ou canitar) na cabeça, os destroços do galeão de dom Pero.Vem-me de longe em longe o desejo de retomar aquilo, mascontenho-me. E perco o hábito. (RAMOS, s.d., p. 223.)Vemos que ele se deixou levar por aquilo que repudiava, o seu interesse pelaarte foi totalmente desfeito. Após a morte de Adrião Teixeira, seu ex-patrão e esposode Luísa, João Valério consegue ser sócio de seu armazém. Isso motiva suadesistência em escrever uma obra literária, pois nesse caso, as necessidades que sãoimpostas por uma sociedade capitalista estavam mais evidentes do que qualqueroutra coisa. Para além disso, temos as implicaturas sociais, que pudemos identificar

Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41289processo de significação e como a leitura compartilhada é um fator de grandeinfluência para a (re) atualização da obra literária, isso depende tão somente dopúblico leitor. Assim, Zilberman (2008) nos diz que:A Estética da Recepção assume a perspectiva do leitor, portanto,conforme sua denominação sugere, ao considerar que é ele quemgarante a historicidade das obras literárias. Em decorrência do fato deo leitor não deixar de consumir criações artísticas de outros períodos,essas se atualizam permanentemente. Conforme Jauss anota, umaobra "só se converte em acontecimento literário para seu leitor";portanto, é esse sujeito que afiança a vitalidade e continuidade doprocesso literário. (Zilberman, 2008, p. 05)A partir do trecho da obra em que Luísa pretende compartilhar sua leituracom João Valério, podemos pressupor que eles há muito já faziam isso. Essahabilidade em compartilhar leitura é um forte influenciador para a disseminação daliteratura, pois é um instrumento capaz de atrair outros leitores, pois não é algoimposto (como em um ambiente escolar, por exemplo) é apenas algo que dá prazerpara alguém e que pode suscitar o prazer em outra pessoa.Em contrapartida, João Valério influenciado por essa sociedade acaba porceder às “pressões”, após muito lutar para escrever um romance, acaba abandonandosuas ideias:Abandonei definitivamente os caetés: um negociante não se devemeter em coisas de arte. Às vezes desenterro-os da gaveta, revejopedaços da ocara, a matança dos portugueses, o morubixaba deenduape (ou canitar) na cabeça, os destroços do galeão de dom Pero.Vem-me de longe em longe o desejo de retomar aquilo, mascontenho-me. E perco o hábito. (RAMOS, s.d., p. 223.)Vemos que ele se deixou levar por aquilo que repudiava, o seu interesse pelaarte foi totalmente desfeito. Após a morte de Adrião Teixeira, seu ex-patrão e esposode Luísa, João Valério consegue ser sócio de seu armazém. Isso motiva suadesistência em escrever uma obra literária, pois nesse caso, as necessidades que sãoimpostas por uma sociedade capitalista estavam mais evidentes do que qualqueroutra coisa. Para além disso, temos as implicaturas sociais, que pudemos identificar

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