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LER E ESCREVER: UM OLHAR DUAL SOBRE CAETÉS, DE ...

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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41285Ora ali estava aquela viúva antipática, podre de rica, morando numacasa grande como convento, só se ocupando em ouvir missa,comungar e rezar o terço, aumentando a fortuna com avareza para afilha de Nicolau Varejão. E eu, em mangas de camisa, a estragar-meno escritório dos Teixeira, eu, moço que sabia metrificação, vantajosaprenda, colaborava na Semana de Padre Atanásio e tinha umromance começado na gaveta. (RAMOS, s.d., p. 12)Podemos identificar nesse excerto a indignação de João Valério para comaquela sociedade, onde o ter significa bem mais do que o saber. Outro exemplodentro da própria ficção é seu patrão, Adrião Teixeira, o qual não é um homem culto,porém é constituído de bens, e isso o faz ser conhecido e aceito. Vejamos um trechoque demarca muito bem essa posição:Às quintas e aos domingos ia aos chás de Adrião. Ficávamos tempoestirado cavaqueando – e era para mim verdadeiro prazer tomarparte em duas conversações cruzadas sobre moda e câmbio. Algumasvezes Luísa falava de contos, versos, novelas. O marido ferrava nosono. Ou então, com enormes bocejos, lá ia se claudicando, a lamentarque a enxaqueca não lhe permitisse saborear um enredo tão filosófico.Ele entendia bem de comércio; o resto era filosofia. (RAMOS, s.d., p.08)Percebemos com a citação acima que a literatura se apresenta para JoãoValério como distinção social, pois embora sua posição seja de leitor e apreciador deliteratura, ele identifica que para a maioria dos que lhe cercam esse atributo é vistocomo um mero passatempo. O saber servia apenas para produção, visão altamentecapitalista. Isso pode ser constatado quando João Valério é incumbido de fazer umartigo para publicação em um jornal local em prol das “virtudes” do Mesquita(prefeito do município de Caetés). Essa proposta é feita por Evaristo Barroca,personagem esperto, que visava ao cargo de Deputado Estadual. Vejamos: “Eu iadesculpar-me, recusar, mas o bacharel prosseguiu: - Escrevi os artigos de um fôlego.Têm imperfeições, evidentemente. Não me sobra tempo para cultivar a línguavernácula. Aí só se aproveita a idéia, a forma é incorreta.” (RAMOS, s.d., p. 23). A

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