Importância <strong>da</strong> radiofrequência na oftalmologia143INTRODUÇÃOOs conhecimentos iniciais sobre radiofrequência <strong>da</strong>tam<strong>de</strong> 1864, quando o cientista escocês James ClerkMaxwell, observando os experimentos <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y, conseguiuproduzir uma radiação eletromagnética que se propagavacom características <strong>de</strong> on<strong>da</strong> pelo espaço, e calculou que estason<strong>da</strong>s propagavam-se com a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> luz. (1-4)Estas características eletromagnéticas foram confirma<strong>da</strong>scom os experimentos <strong>de</strong> Heinrich Hertz <strong>em</strong> 1888, que com cargasoscilantes, conseguiu produzir pela primeira vez frequênciasaltas, ao redor <strong>de</strong> 500 Mc/s. Graças à importância <strong>de</strong> seus experimentosa uni<strong>da</strong><strong>de</strong> c/s (ciclos por segundo) acabou recebendoseu nome (Hz).Com um maior <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico tornou-se possívela produção <strong>de</strong> frequências mais altas, até 300 GHz (300x106kHz). Estas frequências, classifica<strong>da</strong>s como SHF (Super HighFrequency) e EHF (Extr<strong>em</strong>ely High Frequency) possu<strong>em</strong>, além<strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação, a característica <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> absorvi<strong>da</strong>spor moléculas <strong>de</strong> água ou oxigênio. (3,4)Estu<strong>da</strong>ndo esta absorção <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s eletromagnéticas pelasmoléculas <strong>de</strong> água (H2O) e oxigênio (O2), <strong>de</strong>scobriu-se queas on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> menor comprimento e maior frequência levavam aum aquecimento do foco irradiado.Na oftalmologia a radiofrequência foi, inicialmente, utiliza<strong>da</strong>para fins cirúrgicos refrativos, com os trabalhos <strong>de</strong> Rowsey etal. e Doss&Rowsey, <strong>em</strong> 1980, para o tratamento <strong>em</strong> ceratocone,sendo posteriormente aplica<strong>da</strong> também <strong>em</strong> várias condiçõescomo, plástica ocular, cirurgias <strong>da</strong> conjuntiva, cirurgia para otratamento do glaucoma e complicações <strong>da</strong> cirurgia <strong>de</strong> catarata.(5-18)Radiofrequência no tratamento refrativoNos Estados Unidos <strong>da</strong> América foi lançado no mercado,após aprovação pela Fe<strong>de</strong>ral Drug Administration (FDA), <strong>em</strong> 11<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2002, o aparelho <strong>de</strong>nominado “ViewPoint tm CKSyst<strong>em</strong>” <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa Refractec, Inc. <strong>da</strong> Califórnia. Este sist<strong>em</strong>a,seguindo os conceitos <strong>da</strong> termoceratoplastia, utiliza aplicações<strong>de</strong> corrente elétrica <strong>de</strong> alta frequência e baixa energia no estromacorneano, obtendo uma t<strong>em</strong>peratura suficiente para causar oencolhimento <strong>da</strong>s fibras <strong>de</strong> colágeno (Figura 1). Este aparelhorecebeu a aprovação <strong>da</strong> FDA com a recomen<strong>da</strong>ção para uso <strong>em</strong>hipermetropias <strong>de</strong> +0.75D a +3.25D com astigmatismo< - 0,75D,que possuíss<strong>em</strong> variação menor ou igual a 0.50D entre a refraçãocom e s<strong>em</strong> cicloplegia, <strong>em</strong> indivíduos com mais <strong>de</strong> 40 anos<strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> (19-31) .Em 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2004, a FDA aprovou a cirurgia paracorreção <strong>da</strong> presbiopia usando a mesma tecnologia e objetivandouma visão balancea<strong>da</strong>.Para a aprovação <strong>de</strong>sta tecnologia no Brasil, foi realizadopela Disciplina <strong>de</strong> Oftalmologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina doABC com aprovação do Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, um ProtocoloNacional <strong>de</strong> Estudo <strong>da</strong> Radiofrequência <strong>em</strong> Oftalmologia. EsteProtocolo iniciou-se <strong>em</strong> 2002, com a realização <strong>de</strong> 300 cirurgias<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>lo animal. Este trabalho estabeleceu os critérios parapotência e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> aplicação i<strong>de</strong>ais para se obter o melhorefeito no estroma corneano. O resultado foi uma potência <strong>de</strong>0.6W por 0.60 segundos por aplicação (Figuras 1, 2 e 3).Na segun<strong>da</strong> fase do Protocolo foram selecionados 40 voluntários,sendo 20 hipermétropes e 20 présbitas submetidos aoprocedimento <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> radiofrequência no centro cirúrgicodo Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABC.Figura 1: Encolhimento do colágenoFigura 2: Aplicação <strong>de</strong> soro fisiológicoFigura 3: Topografia <strong>da</strong> córneaRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 142-7
144Reh<strong>de</strong>r JRCL, Paulino LV, Paulino EGráfico 1Ceratometria médiaFigura 4: Mapa topográfico <strong>da</strong> córneaGráfico 2Dias 0 1 7 14 21 28 60 90 180 270 360Média 43,81 46,41 46,04 45,71 45,21 45,42 45,28 44,92 44,44 44,58 44,79Desv. Pad. 1,54 1,91 1,84 1,74 2,65 1,64 1,51 1,69 1,66 1,49 1,78N 159 115 127 114 103 109 88 84 71 34 19Gráfico 3FrequênciaFrequênciaApós a fase experimental, tendo sido estabelecidos osparâmetros i<strong>de</strong>ais para a utilização <strong>da</strong> radiofrequência para finsrefrativos, iniciou-se um estudo multicêntrico para o tratamento<strong>da</strong> presbiopia, com 45 centros <strong>de</strong> referência <strong>em</strong> oftalmologia distribuídospelo Brasil (27,28,32) .Este estudo multicêntrico, finalizado <strong>em</strong> 2010 analisou osresultados obtidos <strong>em</strong> 258 pacientes e mostrou, <strong>em</strong> relação aocomportamento anatômico <strong>da</strong> córnea que após a aplicação <strong>da</strong>radiofrequência <strong>em</strong> todos os casos houve um aumento abrupto<strong>da</strong> curvatura (Gráfico 1). Esta curvatura após um pico <strong>de</strong> aumentoinicial vai diminuindo ao longo do t<strong>em</strong>po d<strong>em</strong>onstrandouma per<strong>da</strong> do efeito. Esta diminuição <strong>de</strong> curvatura condiz com adiminuição do efeito cirúrgico ao longo do t<strong>em</strong>po.A análise <strong>da</strong> eficácia d<strong>em</strong>onstra que o efeito <strong>de</strong>sejado d<strong>em</strong>elhora <strong>da</strong> visão para perto no olho operado acontece <strong>em</strong> 88%dos casos com 90 dias e se mantém <strong>em</strong> 70% dos casos com 360dias <strong>de</strong> pós-operatório(Gráficos 2 e 3).Na análise <strong>da</strong> segurança observa-se que 96,8% dos pacientesavaliados mantiveram a visão binocular pré-operatória paralonge após 90 dias, e 88% após 360 dias (Gráficos 4 e 5).Em alguns casos (26,5%) houve melhora <strong>da</strong> visão paralonge s<strong>em</strong> correção. É importante salientar que a visão <strong>de</strong> longeno olho operado apresenta <strong>em</strong> todos os casos uma que<strong>da</strong> abruptano pós-operatório imediato, mas a medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a curvaturacorneana vai diminuindo, ocorre uma melhora progressiva <strong>da</strong>visão <strong>de</strong> longe s<strong>em</strong> a per<strong>da</strong> espera<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> perto.Foi observado que os casos que apresentaram uma per<strong>da</strong><strong>da</strong> visão para longe possuíam graus <strong>de</strong> hipermetropia latent<strong>em</strong>aiores que os pacientes que obtiveram melhores resultados.No gráfico <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> perto (Gráfico 6), as porcentagens<strong>de</strong> pacientes com visão entre J1 e J3, durante o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> análise,se mantiveram altas.Concluiu-se, assim que o tratamento <strong>da</strong> presbiopia comradiofrequência é um procedimento seguro, eficaz e com efeitot<strong>em</strong>porário.Com relação à técnica cirúrgica ficou evi<strong>de</strong>nte que osmelhores resultados são obtidos quando a superfície corneana émanti<strong>da</strong> seca durante o procedimento e que centralização eRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 142-7
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