12.07.2015 Views

Baixe aqui a versão em PDF da RBO - Sociedade Brasileira de ...

Baixe aqui a versão em PDF da RBO - Sociedade Brasileira de ...

Baixe aqui a versão em PDF da RBO - Sociedade Brasileira de ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

88Monte FQ, Stadtherr NMINTRODUÇÃOAceratite micótica tinha características pouco atraentespara os centros <strong>de</strong> pesquisas porque além <strong>de</strong> ser maisfrequentes nas regiões <strong>de</strong> clima quente, composta <strong>de</strong>países que <strong>de</strong>spend<strong>em</strong> pouco recurso <strong>em</strong> pesquisa. Por outro lado,acometia populações rurais que vêm <strong>de</strong>crescendo nos últimosséculos <strong>de</strong>vido à urbanização inicia<strong>da</strong> após a revolução industrial.Entretanto a sua <strong>de</strong>finição foi feita num país <strong>de</strong> clima t<strong>em</strong>perado,on<strong>de</strong> os casos são raros. Foi <strong>de</strong>scrita pela primeira vez porLeber, <strong>em</strong> 1879, um camponês, <strong>de</strong> 54 anos, que trabalhando numamáquina trituradora (Dreschmaschine) recebeu um leve traumana córnea por um fragmento <strong>de</strong> aveia (haferspelze) (1) . Já <strong>em</strong>1907, Za<strong>de</strong> apresentou o caso <strong>de</strong> uma camponesa <strong>de</strong> 44 anos eao fazer o levantamento na literatura, encontrou 22 casos <strong>de</strong>ceratite micótica. Anexo ao texto apresentou o <strong>de</strong>senho <strong>da</strong> formaencontra<strong>da</strong> no laboratório, mostrando o aspecto <strong>de</strong>Aspergillus (2) .Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XX houve um aumentocrescente no número <strong>de</strong> casos, sobretudo pela generalização douso <strong>de</strong> antibióticos e corticosterói<strong>de</strong>s tópicos e ao aumento donúmero <strong>de</strong> transplantes e <strong>de</strong> pacientes imuno<strong>de</strong>primidos, o quefez nascer um relativo interesse, pois passou a acometer pessoas<strong>da</strong>s áreas urbanas.Poucos foram os artigos publicados <strong>em</strong> que se estu<strong>da</strong>va ahistopatologia <strong>da</strong> córnea nas infecções fúngicas. O artigo maisamplo que tiv<strong>em</strong>os acesso foi o <strong>de</strong> Naumann et al. (3) os quaisapresentaram casos recebidos pelo Armed Forces Laboratory ofOcular Pathology, que recebeu casos do sul dos Estados Unidos<strong>da</strong> America e <strong>de</strong> países <strong>da</strong> África e América do Sul. Antes,Zimmerman, usando a mesma amostra, havia mostrado imagens<strong>de</strong> tecido corneano <strong>de</strong> 7 casos (4) .Existe uma explicação prática para o pouco interesse <strong>da</strong>histopatologia para esses casos, acrescenta<strong>da</strong> as que colocamosacima, é <strong>de</strong> que através <strong>de</strong>la não se po<strong>de</strong>rá chegar ao diagnósticoetiológico que t<strong>em</strong> um interesse mais direto para o tratamento,segundo o pensamento ontogênico predominante na medicina.Entretanto, ao dispor <strong>de</strong> uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> satisfatória <strong>de</strong> casos,resolv<strong>em</strong>os tirar proveito dos achados para refletir sobre adoença e oferecer sugestões que sirvam para minimizar os efeitos<strong>da</strong>nosos <strong>de</strong>la. Fomos movidos pela curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o quepassa no tecido corneano nessa infecção. Os casos examinadosnão tinham nenhum resultado <strong>de</strong> exame microbiológico e parcasinformações o que nos permitiu explorar ao máximo o que sevisualizava nas lâminas e procuramos tirar as lições que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>ter um interesse prático.MÉTODOSEstudo realizado no Banco <strong>de</strong> Olhos <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do Estado do Ceará, que, para controlar melhor os casos <strong>de</strong>urgência, exigiu que foss<strong>em</strong> envia<strong>da</strong>s as córneas dos receptorespara que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser submeti<strong>da</strong>s a exame histopatológico. Oscasos que não foss<strong>em</strong> <strong>de</strong> urgência po<strong>de</strong>riam ter o material examinadose o cirurgião <strong>de</strong>sejasse obter algum esclarecimento sobreeles.O material enviado vinha apenas com o formulário padrãopreenchido com <strong>da</strong>dos sumários sobre o caso, não havendo informaçõesadicionais. Não havia história clínica <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> dos sinaisclínicos somente os que po<strong>de</strong>riam servir como justificativa, mass<strong>em</strong> <strong>da</strong>dos cronológicos <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>.O material recebido era encaminhado para o Laboratório<strong>de</strong> Anatomia Patológica do Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza on<strong>de</strong> oBanco <strong>de</strong> Olhos é sediado. O exame macroscópico dos botõescorneanos foi realizado pelo patologista do Banco <strong>de</strong> Olhosque, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>screvê-lo recortava o material e colocava paraser incluído <strong>de</strong> forma que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser examina<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s ascama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> córnea. A inclusão foi feita <strong>em</strong> parafina, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>qual o material foi cortado com espessura <strong>de</strong> 5µ. Todo materialfoi corado por H<strong>em</strong>atoxilina-eosina, nos casos <strong>em</strong> que haviadúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção do diagnóstico <strong>de</strong> ceratite fúngica foramrealiza<strong>da</strong>s as colorações <strong>de</strong> PAS (Periodic Acid of Schiff reaction),<strong>de</strong> Prata metanamina, na reação <strong>de</strong> Gomori, e a coloração <strong>de</strong>Masson. Na maioria dos casos não houve dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para odiagnóstico com a coloração <strong>de</strong> rotina (H<strong>em</strong>atoxilina-Eosina) eas poucas dúvi<strong>da</strong>s foram tira<strong>da</strong>s com o auxílio <strong>de</strong> outras colorações.Enfim, a H<strong>em</strong>atoxilina-Eosina foi utiliza<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>mente<strong>em</strong> 30 casos (79%), associa<strong>da</strong> à Prata metanamina, <strong>em</strong> 3 casos(7,9%); as duas colorações acrescenta<strong>da</strong> o PAS foram realiza<strong>da</strong>s<strong>em</strong> 4 (10.5%) casos; e a tripla associação, com a substituição doPAS pelo Masson, <strong>em</strong> 1 (2,6%) caso.O levantamento teve início <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2006 e foi concluído<strong>em</strong> junho <strong>de</strong> 2011. Foram examinados retrospectivamente,597 casos <strong>de</strong> um total 2310 transplantes realizados no período,dos quais 38 exames tiveram o diagnóstico histopatológico <strong>de</strong>ceratite fúngica.No protocolo <strong>da</strong> pesquisa foram obtidos os <strong>da</strong>dos do prontuáriodo paciente <strong>em</strong> que eram colhi<strong>da</strong>s as informações do cirurgiãosobre o transplante constante na solicitação <strong>da</strong> córneapara a cirurgia.Para o preenchimento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s lâminas foram consi<strong>de</strong>radosos seguintes <strong>da</strong>dos: colorações usa<strong>da</strong>s, morfologia dosfungos, aspecto geral <strong>da</strong> córnea, localização do parasita, aspecto<strong>da</strong> cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Desc<strong>em</strong>et e <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> infiltrado inflamatóriona córnea. Os <strong>da</strong>dos foram tabulados, para apresentação dosresultados.RESULTADOSA composição <strong>da</strong> amostra quanto ao gênero foi <strong>de</strong> 20 homense 15 mulheres acometidos, como houve três casos <strong>de</strong> recidiva,essas ocorreram <strong>em</strong> dois homens e uma mulher.Quanto à faixa etária dos pacientes, observamos que nãohouve casos <strong>da</strong> doença antes dos 20 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> e o mais idosotinha 81 anos. Entre os 20 e 29 anos, houve 3 (8,5%) casos; na <strong>de</strong>30 a 39, 8 (23%) casos; já entre 40-49, foram 6 (17%) casos;enquanto na faixa <strong>de</strong> 50-59, ocorreram 5 (14%) casos; entretantoo maior número <strong>de</strong> casos ocorreu acima <strong>de</strong> 60 anos, queconcentrou 11 (31,5%) casos.Nos <strong>da</strong>dos gerais <strong>da</strong> amostra constam a distribuição anual<strong>de</strong> material vindo <strong>de</strong> botões corneanos obtidos através <strong>de</strong> transplante<strong>em</strong> 35 pacientes on<strong>de</strong> foram diagnosticados 38 casos <strong>de</strong>ceratite fúngica, nos cinco anos e meio <strong>em</strong> que foram enviados.Na tabela 1 estão expostos os casos <strong>de</strong> ceratite fúngica paraca<strong>da</strong> ano, compara<strong>da</strong> ao número <strong>de</strong> córneas envia<strong>da</strong>s ao Banco<strong>de</strong> Olhos para a comprovação <strong>da</strong> urgência do caso sendo <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>a taxa <strong>de</strong> frequência <strong>da</strong> doença naquela amostra; constam,ain<strong>da</strong>, o número <strong>de</strong> transplantes realizados no período comcórneas forneci<strong>da</strong>s pelo Banco <strong>de</strong> Olhos e a taxa anual para aceratite fúngica.As informações ofereci<strong>da</strong>s pelos cirurgiões, para justificara priori<strong>da</strong><strong>de</strong> dos transplantes propostos, estão alinha<strong>da</strong>s na tabela2.Houve um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> ceratites fúngicasque pud<strong>em</strong>os acompanhar a sua evolução do quadro sob o as-Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 87-94

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!