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<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013 9RICARDO GRAÇAPerfilEducadorapara a inclusãoLicenciada em Línguas eLiteraturas Mo<strong>de</strong>rnas pelaUniversida<strong>de</strong> do Porto, JoséliaNeves lecciona no InstitutoPolitécnico <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995,on<strong>de</strong> é também a coor<strong>de</strong>nadora daUnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Investigação Inclusão eAcessibilida<strong>de</strong> em Acção. Des<strong>de</strong>2000 que tem vindo a <strong>de</strong>senvolverprojectos na área da comunicaçãoacessível com diferentes parceirosnos domínios da comunicaçãosocial, produção fílmica, artesperformativas, turismo,museologia e educação. Um <strong>de</strong>ssesprojectos foi tornar o Museu daComunida<strong>de</strong> Concelhia da Batalhanum dos primeiros museus,acessível a todos. Terminourecentemente o pós-doutoramentosobre Comunicação Inclusiva emContexto Museológico no ImperialCollege London e na Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> Aveiro. Já publicou dois guiaspráticos para a criação <strong>de</strong> materiaisacessíveis: Vozes que se Vêem, Guia<strong>de</strong> Legendagem para Surdos eImagens que se Ouvem e Guia <strong>de</strong>Audio<strong>de</strong>scrição.Em <strong>de</strong>staqueAs vibrações quese geram nãoentram apenaspelos ouvidos,por isso é que sejustifica que numconcerto, comoos The Gift,possamos ter50 surdos a pular,a cantar, a baterpalmase tudo <strong>de</strong>ntrodo ritmoria <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do acordo com as televisões,nem <strong>de</strong> verbas ou condiçõestecnológicas. Se temos um telejornalcom um ticker com as notíciasa correr por baixo, qual o problema<strong>de</strong> termos também a legendagem?Em termos tecnológicostudo é possível. A RTP tem feito umpercurso admirável. As outras televisõesestão um pouco adormecidas.Com o novo protocolo, queestá para breve, estou em crer quea SIC e a TVI estarão agora mais receptivaspara passar estes serviços.Até aqui falava-se que a audiodiscriçãosaía muito cara e que não tínhamosmeios. Com a televisão digitalnada disso é problema. Se astelevisões se juntassem para partilharos custos e os recursos dacriação da acessibilida<strong>de</strong> tinhamtodos a ganhar. É uma questão <strong>de</strong>vonta<strong>de</strong>.Há pouco material lúdico ou didácticopara pessoas com necessida<strong>de</strong>sespeciais. Não será umaoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio numaaltura <strong>de</strong> crise?Tudo na acessibilida<strong>de</strong> é uma oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> negócio se não forvisto como exclusivamente parapessoas com <strong>de</strong>ficiência. Essa é agran<strong>de</strong> diferença entre inclusão eacessibilida<strong>de</strong>. A acessibilida<strong>de</strong> éum pouco direccionada para solucionarum problema <strong>de</strong> certas pessoas.A inclusão é vista como criarcondições para que qualquer pessoapossa fazer, usar ou fruir. Secriarmos materiais inclusivos, emmultiformato, estamos a potenciara sua utilização. A partir domomento em que nós, enquantopaís, nos prepararmos com a criação<strong>de</strong> comunicação multiformatoe em condições <strong>de</strong> acesso plenas,iremos ter um potencial <strong>de</strong> atracçãoturística incrível, por exemplo.Defen<strong>de</strong>-se muito o fim das barreirasarquitectónicas, mas ouve--se pouco falar das <strong>de</strong>ficiênciasmultissensoriais.O espaço físico é mais fácil <strong>de</strong> ver.Se formos à i<strong>de</strong>ia do universal,quem mais usa as rampas não sãoas pessoas em ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda,mas as mamãs com os carrinhos <strong>de</strong>bebés, os senhores das mercadorias...e é mais fácil arrumar esseproblema. Quando falamos em <strong>de</strong>ficiênciassensoriais é mais complexoporque algumas não se vêem– a sur<strong>de</strong>z não se vê – e se pensarmosbem, em Portugal, os nossos<strong>de</strong>ficientes não se vêem. Em algunspaíses, as famílias saem ao fim-<strong>de</strong>--semana e, naturalmente, com elassaem todas estas pessoas. Em Portugalelas não saem à rua, por isso,é mais difícil criarmos soluçõespara algo que <strong>de</strong>sconhecemos. Asbarreiras físicas são mais fáceis <strong>de</strong><strong>de</strong>rrubar porque a sua eliminaçãoé útil para além daquele nicho. Seentrarmos na tal política da inclusão,enquanto solução para todos,as barreiras começam a cair.Mas as pessoas também não saemporque, se calhar, não há nadaque lhes interesse.Estive em Lisboa a fazer audio<strong>de</strong>scriçãopara uma peça <strong>de</strong> teatro/bailadoe na primeira noite nãotivemos clientela com necessida<strong>de</strong>sespeciais. É a pescadinha <strong>de</strong> rabona boca. Se não oferecemos as pessoasnão vão porque não há oferta;há oferta as pessoas não vão ouporque não sabem que há ou se sabemnão criaram o hábito <strong>de</strong> ir. Épreciso manter a oferta, porque é oserviço constante e continuadoque vai fazer com que as pessoasusem.Porque nunca tiveram o hábito.É preciso criar hábitos, é precisoeducar e criar necessida<strong>de</strong>. Nuncativeram necessida<strong>de</strong>. Não apareceninguém? Não faz mal. Fez-se eamanhã volta-se a fazer. As pessoastêm <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e ser educadas,mas leva muito tempo mudar mentalida<strong>de</strong>s.As iniciativas, como exposiçõesmultissensoriais, não <strong>de</strong>veriamser pensadas para crianças?A gran<strong>de</strong> aposta tem <strong>de</strong> estar na intervençãoprecoce a todos os níveise já se começa a sentir essa mudança.Os filhos <strong>de</strong>sta geração <strong>de</strong>jovens já serão educados no berço,porque na escola já tiveram umcompanheiro com <strong>de</strong>ficiência.Quanto mais cedo se <strong>de</strong>r a educaçãopara a inclusão, melhor. Nestemomento, estamos a educar umageração <strong>de</strong> adultos, que já <strong>de</strong>veriater sido educada em criança. Vamosconseguir chegar à inclusãoquando esta geração infantil foradulta.Colaborou recentemente num projecto<strong>de</strong> inclusão com Boss AC eThe Gift. De que forma um surdoouve e sente um concerto?Por que razão vamos a um concerto?Se quero ouvir música em elevadaqualida<strong>de</strong> ponho uns belíssimosauscultadores estéreo e ficoem casa. Vou a um concerto parater uma experiência, para estarcom o meu grupo e me i<strong>de</strong>ntificarcom uma cultura. Vou para me divertir,<strong>de</strong>scontrair e para absorvera energia humana e física que existeno recinto. A energia vem com osom, mas também com a luz ecom todo o aparato. As vibraçõesque se geram não entram apenaspelos ouvidos, por isso é que se justificaque num concerto, como osThe Gift, possamos ter 50 surdos apular, a cantar, a bater palmas etudo <strong>de</strong>ntro do ritmo. Porquê? Nãoouvimos só com as orelhas, ouvimostambém com os olhos e com ocorpo. E quando temos <strong>de</strong>z milpessoas aos pulos a cantar e a vibrar,por muito surdo que se seja,essas vibrações entram. O que querum surdo? Quer no dia seguintesentar-se no café, conversar com osamigos e dizer: 'eu estive lá'.Que projectos tem no IPL?Neste momento estou a trabalharno projecto IPL (+) Inclusivo. Temsido uma experiência muito gratificantee muito difícil. Tem sidomais uma aprendizagem <strong>de</strong> que ainclusão não se impõe nem se ensina.A inclusão vive-se. Não valea pena criar projectos obrigando osoutros a integrar-se. O IPL (+) Inclusivoensinou-me que ninguémeduca para a cidadania. Educamo-nosna cidadania. O meu gran<strong>de</strong>projecto <strong>de</strong> futuro é parar osprojectos pontuais, afastar-me parareflectir e repensar as implicaçõesda educação para a cidadania.Por que diz que não se ensina paraa cidadania?Não há palestra, manual escolar ouprofessor que eduquem para a cidadania.Há condições para que apessoa cresça enquanto cidadã e seeduque a ela própria para a cidadania.Mas é preciso transmitir valores eensinar o correcto.É no berço, na escola primária, nojardim, no parque, na praia, nosupermercado... Isso não se ensina,vive-se. Se há área em que há oexemplo e não a palavra, é esta.Quando arrancámos para o projectoIPL (+) Inclusivo isto não estavanada claro.ENTREVISTA COM O APOIO DE:

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