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<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013 41OlharArquitectura Arte que presta um serviçoO belo e a funçãoDRPedro Cor<strong>de</strong>iropedrolcor<strong>de</strong>iro@hotmail.com❚ Para quem anda nesta coisa das obras, da construção<strong>de</strong> edifícios, do espaço publico, da intervençãourbana e da paisagem, entre a reabilitação e areorganização <strong>de</strong> apartamentos e o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> mobiliário,familiariza-se indubitavelmente com frasescomo “é bonito mas funciona mal”.Mais coisa menos coisa, a expressão regista-se vezessem conta, como uma parangona do senso comum,apontando à circunstância o sentido paraum lapso profissional hereditário. Por isso, talvez sejaimportante ir um pouco mais ao fundo do problemae questionar o contexto <strong>de</strong>ssa mesma utilida<strong>de</strong> nasactivida<strong>de</strong>s profissionais da arquitectura. A pré--história diz-nos que a mesma está para a sobrevivênciahumana como as peles que cobriam o corpodos antepassados, no entanto, todos sabemos que estesnão necessitaram <strong>de</strong> frequentar aulas para escolheruma caverna como abrigo – essas, são hoje famosassobretudo pelas pinturas, apesar da sua redobrada(in) utilida<strong>de</strong>.Para não começarmos pelas pirâmi<strong>de</strong>s do Egipto,um verda<strong>de</strong>iro símbolo da megalomania do inútil, po<strong>de</strong>mostalvez encontrar no império romano ummais claro vínculo ao pragmatismo do <strong>de</strong>senho da cida<strong>de</strong>e dos seus edifícios, ainda que <strong>de</strong> um modo inevitavelmentepoético, como é o exemplo <strong>de</strong>scrito nacarta <strong>de</strong> Plínio a seu caro Gallus (século I):”A vivenda é suficientemente gran<strong>de</strong> para ser cómoda,<strong>de</strong> manutenção pouco dispendiosa. A sua entradadá sobre um átrio simples, mas não sem elegância;a seguir uma colunata em forma <strong>de</strong> D, à volta<strong>de</strong> um pátio pequeno mas charmoso. O conjuntooferece um abrigo maravilhoso para os dias <strong>de</strong> mautempo, porque estamos aí protegidos pelos vidros esobretudo pelo avançado do telhado.”Nesta citação, com cerca <strong>de</strong> dois mil anos, reconhecemosa consciência dos problemas mais comunsda actualida<strong>de</strong> relativamente ao seu exercício profissional.São assim, consi<strong>de</strong>rações sobre a dimensão,o conforto, os custos, a materialida<strong>de</strong> mas tambéme sempre a beleza, sem ser pura como o Caetano acanta, mas associada a um conjunto <strong>de</strong> valências evalores que representam um sistema complexo <strong>de</strong>mais (in) utilida<strong>de</strong>s.Bem mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois da ida<strong>de</strong> média e <strong>de</strong> correntesartísticas quase exclusivas da igreja como o românicoe o gótico, <strong>de</strong>pois da luz do renascimento, daintelectualida<strong>de</strong> maneirista, da sensualida<strong>de</strong> dobarroco, do eventual exagero rococó, do volver neoclássico,do sonho romântico e dos ecletismos <strong>de</strong> todosos estilos e nenhum, surge a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> cortarcom um passado que se supõe po<strong>de</strong>r distinguir porpouco mais que as diferenças ornamentais. Agora éque seria mesmo diferente!Na arquitectura como no urbanismo o chamadomovimento mo<strong>de</strong>rno (século XX) radicaliza o discurso,primeiro em teoria e <strong>de</strong>pois na sua aplicaçãomais abstracta.O mo<strong>de</strong>rnismo começa por se caracterizar pelo <strong>de</strong>-O objecto <strong>de</strong>arte naarquitecturanão o éin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente doserviço quepresta, esta éumaconsi<strong>de</strong>raçãoque isola aarquitecturadas outrasartes. Destemodo, o belonaarquitectura,enquantocategorizaçãoartística,também<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dasuaoptimizaçãofuncionalpuramento da forma, tornando-a mais simples, eliminandoos motivos ornamentais/<strong>de</strong>corativos. Assima função, no sentido do cumprimento do programapreestabelecido, emancipa-se do a<strong>de</strong>reço, libertandotodo o potencial espacial em prole da utilida<strong>de</strong>.Impõe-se, por isso, a gran<strong>de</strong> máxima mo<strong>de</strong>rnistaque <strong>de</strong>signa que “a forma segue a função”,ou se quisermos que o <strong>de</strong>senho da cida<strong>de</strong> como doobjecto arquitectónico está ao serviço da sua melhorutilização. Não como um mero aspecto do útil mascomo algo inerente à sua essência e qualida<strong>de</strong>.Assim, nos tempos que correm, ainda no rescaldo<strong>de</strong>sta história recente, não po<strong>de</strong> fazer qualquersentido para o arquitecto, paisagista ou urbanistaprojectar negligenciando a função, pois a mesma éparte essencial da disciplina.O objecto <strong>de</strong> arte na arquitectura não o é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementedo serviço que presta, esta é umaconsi<strong>de</strong>ração que isola a arquitectura das outras artes.Deste modo, o belo na arquitectura, enquanto categorizaçãoartística, também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da sua optimizaçãofuncional sendo, por isso, uma característica<strong>de</strong> valor com presença incondicional, <strong>de</strong> outromodo seria uma outra coisa, diferente <strong>de</strong> arquitectura.As imagens correspon<strong>de</strong>m à Biblioteca <strong>de</strong> livros rarosda Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale, edifício projectado peloarquitecto Gordon Bunshaft em New Haven, Connecticut.

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