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26 <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013Economia OpiniãoAs Invasões Bárbaras: San AntonioO <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro soproMariaMiguelFerreiraNem só <strong>de</strong> cowboys vive o Texas. Fui lá emJaneiro e não vi um único vaqueiro. Em vezdisso, vi muita gente ocupada a ajudar novosnegócios a sobreviver. Nesta série <strong>de</strong> artigosque <strong>de</strong>dico às lições norte-americanas sobre oempreen<strong>de</strong>dorismo, hoje paramos em San Antonio. Noséc. XIX, foi palco <strong>de</strong> sangrentas batalhas entremexicanos e texanos, que John Wayne mitificou no seuwestern <strong>de</strong> 1960, O Álamo (quem não se lembra <strong>de</strong> DavyCrockett, com o seu chapéu <strong>de</strong> castor e espingarda aoombro?!). Hoje, San Antonio é a 7ª maior cida<strong>de</strong> dosEUA e tem um dos mais jovens presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> câmarado país. O mayor Castro, um <strong>de</strong>mocrata latino <strong>de</strong> 38anos, foi reeleito em 2011 muito <strong>de</strong>vido ao sucesso doseu plano lançado em 2009 para atrair para a cida<strong>de</strong>empregos bem pagos em sectores ligados à inovação e,assim, promover prosperida<strong>de</strong> sócio-económica. Ecomo está ele a fazer isso?... Os 130km da estrada queliga Austin, capital do Texas, a San Antonio sãoincrivelmente parecidos com a nossa Nacional nº1, comos seus stands <strong>de</strong> automóveis e restaurantes cheios <strong>de</strong>camionistas. O meu <strong>de</strong>stino final era a Incubadora <strong>de</strong>Energias Limpas <strong>de</strong> San Antonio, criada em 2011, frutoda colaboração do governo estatal, da Universida<strong>de</strong> doTexas, <strong>de</strong> vários centros <strong>de</strong> investigação,<strong>de</strong> associações sectoriais e <strong>de</strong> outras incubadorasdo Texas. Uma bela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s erecursos, para começar. Juntos, alguns <strong>de</strong>stes interlocutoresexplicaram-me o tal plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoque a cida<strong>de</strong> está a tentar pôr <strong>de</strong> pé. Ecomeçaram pelas más notícias: “San Antonio não éAustin, mas o importante é adaptarmo-nos”. Asdificulda<strong>de</strong>s eram duas: a cultura avessa ao empreen<strong>de</strong>dorismo- em San Antonio há poucas famíliasprósperas, que têm tradicionalmente maior capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> correr riscos e geram mais empreen<strong>de</strong>dores - e umdéfice crónico <strong>de</strong> água, que no passado dificultou oO mundo do faz <strong>de</strong> contaEnquanto a Europa vive uma das maiorescrises <strong>de</strong>s<strong>de</strong> da 2ª gran<strong>de</strong> guerra osescândalos dos seus responsáveis continuama vir a publico diariamente. Ainda estasemana o presi<strong>de</strong>nte do Eurogrupo, JeroenDijsselbloem, foi obrigado a retirar do seu currículoum mestrado em Economia Empresarial uma vezque o mesmo nunca existiu na instituição on<strong>de</strong>mencionava ter estudado. Substituiu o referidomestrado por "investigação em EconomiaEmpresarial com vista à obtenção <strong>de</strong> um mestradona University College Cork"…e mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser“apanhado” continua a fazer <strong>de</strong> conta que nada sepassou e que é normal “aldrabar” o currículo.A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou queaceitou a <strong>de</strong>missão da ministra da Educação e Ciênciada Alemanha, Annette Schavan, <strong>de</strong>vido à polémicaem torno do plágio na sua tese <strong>de</strong> doutoramento eteve o <strong>de</strong>scaramento <strong>de</strong> afirmar que a antiga ministraAnnette Schavan foi a mais reconhecida e prestigiadaministra da Educação e Ciência na história daAlemanha…isto <strong>de</strong>pois do Conselho da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Filosofia consi<strong>de</strong>rar provado que Annette Schavanincluiu "<strong>de</strong> forma sistemática e premeditada" na suatese <strong>de</strong> doutoramento um trabalho intelectual quenão é seu."Tirei o curso <strong>de</strong> Ciência Política e RelaçõesInternacionais na Universida<strong>de</strong> Lusófona <strong>de</strong>Humanida<strong>de</strong>s e Tecnologias, em Lisboa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terfrequentado, na década <strong>de</strong> 80, os cursos <strong>de</strong> Direito eHistória", <strong>de</strong>clarou o antigo ministro Miguel Relvas aojornal i em 2012. Importa recordar que Miguel Relvasfrequentou os referidos cursos mas apenas teve aJoãoCarvalhoSantos<strong>de</strong>senvolvimento da região. Para ultrapassar a questão<strong>de</strong> água, as entida<strong>de</strong>s oficiais focaram-se em apoiar o<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico aplicado às energias“ver<strong>de</strong>s”, dotando as universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> equipamentos,programas e bolsas nessa área. Em poucos anos, jásurgiram inovações aplicadas que reduzem o<strong>de</strong>sperdício na captação e abastecimento <strong>de</strong> energia. Afraca iniciativa empresarial foi abordada <strong>de</strong> formamenos romântica: não po<strong>de</strong>ndo dar-se ao luxo <strong>de</strong>esperar por uma mudança cultural que tardaria umageração, os promotores do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> SanAntonio estão a procurar start-ups <strong>de</strong> todo o Estado,dando-lhes razões para se instalarem em San Antonio,como o forte pólo universitário e os <strong>de</strong>correntesrecursos qualificados, as rendas baixas face a SiliconValley e a relativa proximida<strong>de</strong> à vibrante Califórnia.Também visitaram gran<strong>de</strong>s empresas da costa Este dosEstados Unidos, que prestam serviços ao sector do Oil& Gas (fortíssimo no Texas) tentado influenciá-las ainstalar as suas filiais a oeste em San Antonio. E aindaforam mais além: a países on<strong>de</strong> as energias limpasestão a crescer, como a Holanda, procurando convenceras gran<strong>de</strong>s empresas a se<strong>de</strong>arem a sua presençaamericana nesta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido às condições óptimaspara a inovação e <strong>de</strong>senvolvimento nesses sectores.Nos EUA, as empresas com menos <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>criam, por ano, em média, 3 milhões <strong>de</strong> novosempregos. Mas não é preciso ir tão longe para vercida<strong>de</strong>s apostar no empreen<strong>de</strong>dorismo como ângulo <strong>de</strong>combate ao fraco crescimento interno. Em Portugal,cito a re<strong>de</strong> da AITEC Oeiras e as campanhas da InvestLisboa. A título <strong>de</strong> ilustração, escrevam-se no Google aspalavras “Lisboa startup city” e veja-se o ví<strong>de</strong>o feitopara ajudar a atrair empreen<strong>de</strong>dores estrangeiros. Já foivisto por <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares.mariamiguel.ferreira@TooSmallToFailPR.comaprovação a uma ca<strong>de</strong>ira, com a classificação <strong>de</strong> 10valores. Importa recordar que foi Miguel Relvas,antigo ministro Adjunto e dos AssuntosParlamentares do Governo <strong>de</strong> Portugal, que apenasconcluiu 4 das 36 ca<strong>de</strong>iras do curso da licenciaturaque afirma ter. De acordo com a Universida<strong>de</strong>Lusófona o currículo profissional permitiu a MiguelRelvas terminar o curso superior num ano, evitando88 por cento do total das ca<strong>de</strong>iras prevista paraaquela licenciatura.Estes três exemplos, aos quais se po<strong>de</strong>ria juntar afamosa licenciatura do antigo primeiro-ministro JoséSócrates reflectem bem a crise <strong>de</strong> valores da Europa.Infelizmente não é um problema português mas simeuropeu. Quando não se dá valor à educação o futuronão po<strong>de</strong> ser auspicioso. Os políticos <strong>de</strong>veriam ser oexemplo para a socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veriam incutir noscidadãos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar e procuraremapren<strong>de</strong>r sempre mais como única forma <strong>de</strong>ultrapassar as dificulda<strong>de</strong>s cada vez mais complexas<strong>de</strong> um mundo em constante mutação.Importa recordar o que o Governo da Finlândia fez nadécada <strong>de</strong> 90 do passado século aquando o fim daUnião Soviética, que representava mais <strong>de</strong> 90% domercado das suas exportações. Apenas tinha acesso aapoios sociais quem estivesse inscrito em instituições<strong>de</strong> ensino em licenciaturas, mestrados oudoutoramentos e as propinas foram suspensasdurante a crise…Finlândia é hoje um paíssub<strong>de</strong>senvolvido?Professor <strong>de</strong> Estratégia e Gestão Internacional naESTG e investigador do globADVANTAGE – Center ofResearch in International Business & StrategyVítorHugoFerreiraOempreen<strong>de</strong>dor “procurasempre a mudança,respon<strong>de</strong> a ela, explora-acomo uma oportunida<strong>de</strong>.”Peter Drucker“Crise” é, nos dias <strong>de</strong> hoje, umapalavra omnipresente, que nosinva<strong>de</strong> no dia-a-dia e, não rarasvezes, nos tolda a visão, como umnevoeiro que nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver ofuturo, levantando sérias dúvidassobre o presente. Mas crise significatambém, como dizia Peter Drucker,tempo <strong>de</strong> mudança e <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong>. Tempo em que osempreen<strong>de</strong>dores lançam novosnegócios, explorando gaps <strong>de</strong>mercado e novos conhecimentos(nunca como agora tantos novoslicenciados procuram implementarprojetos empreen<strong>de</strong>dores). Tempoem que as empresas procuramdiversificar e explorar novosmercados internacionais. Tempo emque as organizações procuram essasempre tão difícil tarefa <strong>de</strong> perseguira mudança, inovando em produtos eformas organizacionais (veja-se aelevada procura <strong>de</strong> projetos QRENna área da Inovação e I&DT). Estaspequenas mudanças, ainda poucopercetíveis ao comum cidadão,fazem parte da “<strong>de</strong>struição criativa”que Schumpeter <strong>de</strong>finiu, assistindo--se à substituição dos velhos setoresmenos competitivos, por novasempresas e inovadores eixosempresariais. Infelizmente, osritmos <strong>de</strong> mudança social einstitucional são mais lentos que osda economia e, sobretudo, datecnologia. Razão pela qual, estasalterações, que se vão avolumando,tardam em aparecer por entre onevoeiro, mas são elas asresponsáveis pela transformação daeconomia, tornando-a mais ágil,baseada no conhecimento e viradapara o exterior, sendo estas astransformações a estimular. Osapoios a esta mudança passarão,inevitavelmente, pela promoção doconhecimento em áreas como aformulação estratégica ou a internacionalização(áreas em queorganizações como a D. DinisBusiness School e a ESTG/IP<strong>Leiria</strong>servem <strong>de</strong> apoio). Fundamentaisserão também os processos <strong>de</strong>investigação, levados a cabo através<strong>de</strong> parcerias com instituições <strong>de</strong> I&D<strong>de</strong> elevado mérito, como o CDRsp naMarinha Gran<strong>de</strong>. Finalmente,também os incentivos fiscais eeconómicos são necessários (mastardam em ser anunciados). Esta éuma nova oportunida<strong>de</strong>, num paíshabituado a enfrentar crises cíclicas.Uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinvenção,que, pelo menos na nossa região,parece estar a ter lugar, faltando o<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro sopro, que afaste <strong>de</strong>forma <strong>de</strong>finitiva o ainda cerradonevoeiro instalado.Membro do Conselho <strong>de</strong>Administração da D. Dinis BusinessSchool e docente do IP<strong>Leiria</strong>

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