12.07.2015 Views

Descarregar PDF - Jornal de Leiria

Descarregar PDF - Jornal de Leiria

Descarregar PDF - Jornal de Leiria

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Opinião<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013 19O que se espera do papa FranciscoA MoralMoisésEspíritoSantoHá momentos em que a História parece virar<strong>de</strong> página. Com a Europa em crise, comguerras numa gran<strong>de</strong> franja do mundoislâmico, com perseguições religiosas emÁfrica, eis que aparecem boas notícias: a resignação<strong>de</strong> Bento XVI e a eleição do papa Francisco.Bento XVI, conhecido por «papa alemão», foi um<strong>de</strong>sses pontífices que a posterida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>rá aesquecer, por inutilida<strong>de</strong>. Só o salvaram algumastentativas para combater a «pedofilia». Mas euescrevo a palavra entre aspas porque a relativizo: apedofilia é uma acusação fácil, na maior parte dasvezes caluniosa vinda <strong>de</strong> gente com tendênciassexuais recalcadas; mesmo que se <strong>de</strong>monstre seruma mentira, produz sempre os efeitos <strong>de</strong>sejadospor quem a inventa: banir o visado. É como aacusação <strong>de</strong> bruxaria na Ida<strong>de</strong> Média ou <strong>de</strong>judaísmo durante a Inquisição: qualquer um podiaganhar protagonismo se dissesse ao inquisidor quetal vizinha tinha jeitos <strong>de</strong> bruxa ou que fulano sópodia ser ju<strong>de</strong>u porque se vestia <strong>de</strong> lavado aosábado. Resultava sempre. Assim Bento XVI incitoua <strong>de</strong>nunciar os clérigos «pedófilos» mas <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>lado os dossiês <strong>de</strong> comprovados tráficos <strong>de</strong>dinheiro no Vaticano. No seu fausto papal eprincipesco pouco ou nada disse em favor do i<strong>de</strong>al<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> justiça entre o género humano.Este Bento XVI ficará na memória, aqui sim, portentar dividir a socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> certos paísescristãos quanto aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> família e quanto aocasamento civil. Quem é que imaginava um papa aincitar os clérigos a encabeçar manifestações (emEspanha, em França e nas Américas) contra oEstado que se dispunha a legalizar o casamento(civil) entre pessoas do mesmo sexo? Asconcordatas e as encíclicas não estabelecem oprincípio da separação Estado-Igreja? Quando é queParadigmáticoAcabamos <strong>de</strong> saber que o Tribunal Cível doPorto <strong>de</strong>cidiu que Luís Filipe Meneses nãopo<strong>de</strong>rá candidatar-se à Câmara Municipal doPorto. Em Lisboa tinha já sucedido algo <strong>de</strong>idêntico à candidatura <strong>de</strong> Fernando Seara.Sendo estes os dois casos mais mediáticos, não seesgota neles a lista <strong>de</strong> candidaturas autárquicas quepreten<strong>de</strong>m fintar a lei. E que levou à emergência <strong>de</strong>um movimento cívico – Movimento RevoluçãoBranca – que em boa hora <strong>de</strong>cidiu apresentarprovidências cautelares nos concelhos on<strong>de</strong> essascandidaturas surgiram.Tenho por certas duas coisas: que nem em todos osconcelhos as <strong>de</strong>cisões dos tribunais serão conformescom as <strong>de</strong> Lisboa e Porto, isto é, que nem todos ostribunais farão a mesma - correcta, a meu ver, comohá muito aqui expressei - interpretação da lei; e queestas <strong>de</strong>cisões sobre as duas mais importantescâmaras do país, como <strong>de</strong> outras no mesmo sentido,serão objecto <strong>de</strong> recurso e acabarão eventualmentepor não vingar. Mas isso não me impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> saudar ainiciativa cívica <strong>de</strong>ste movimento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar –<strong>de</strong>sejar profundamente – que crie raízes <strong>de</strong>cidadania <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> portuguesa é tãocarenciada.Esta lei da limitação <strong>de</strong> mandatos, e o que <strong>de</strong>la está aclasse política a fazer, é o espelho fiel dofuncionamento da estrutura política em Portugal:uma lei que surge <strong>de</strong> um espírito claro – impedir quese perpetuem pessoas e interesses no po<strong>de</strong>r -, que<strong>de</strong>pois é redigida <strong>de</strong> forma dúbia para, como todas,ser discutível e, por fim, aprisionável por interesses.Na circunstância, os dos partidos!Partidos que, em vez <strong>de</strong> evitar apresentarClarisseLouroum <strong>de</strong>sses estados se manifestou contra ocasamento católico?Bento XVI até veio a Espanha para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r omo<strong>de</strong>lo da família tradicional: casamentoindissolúvel, legitimida<strong>de</strong> biológica dos filhos;relações conjugais exclusivamente com vistas àprocriação sem meios contraceptivos neminterrupção da gravi<strong>de</strong>z. Um papa assim até pareceum extraterrestre. Com que fundamentosevangélicos? Nenhum. E para dizer isto não énecessário ser-se crente nem teólogo, basta ler osEvangelhos Se a Igreja tivesse investido na lutacontra a pobreza os esforços que faz contra asexualida<strong>de</strong>, já não haveria pobreza no mundo. Jáo papa Francisco fez mais num mês pelos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong>solidarieda<strong>de</strong> humana - o genuíno fundamento docristianismo fundador - do que uma série <strong>de</strong> seusantecessores. Falta saber se o «aparelho» vaticano o<strong>de</strong>ixa continuar.O entusiasmo pela nova imagem do papa Franciscoé a prova <strong>de</strong> que o que se espera da Igreja Católicanão é uma cruzada contra a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, asliberda<strong>de</strong>s sexuais ou os variadíssimos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>família que existem nas múltiplas culturas. O quese espera é uma visão humanista com reflexo nocatolicismo. Tentar perpetuar a moral sexual efamiliar dos séculos passados é como bradar contrao mar bravo para que se acalme. O que o mundooci<strong>de</strong>ntal e africano espera da Igreja Católica - e queo entusiasmo pelo papa Francisco revela - é que aIgreja esteja na vanguarda da luta contra as<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, pela dignificação <strong>de</strong> todos osfilhos <strong>de</strong> Deus, e que ela <strong>de</strong>fenda, à luz dosprincípios evangélicos, a não-discriminação social atodos os níveis como Jesus apregoou.Professor universitáriocandidaturas que chocassem com a lei, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>mantes ignorá-la, bem como ao seu espírito. Comoignoram o estado a que chegaram e a que fizeramchegar o país… E <strong>de</strong>sataram a apresentarcandidaturas à revelia da lei só porque favoreciam osseus projectos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Não se julgue que há algumtipo <strong>de</strong> questões i<strong>de</strong>ológicas, ou qualquer traço <strong>de</strong>direita ou esquerda a balizar a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadapartido. Nada disso. É por acaso que os maus da fitaneste filme são o PSD e o PCP: o mero e simples acaso<strong>de</strong> circunstancialmente serem eles a tirar proveito dasituação. Tudo isto se passaria – como sempre tudose passou – sem gran<strong>de</strong>s ondas, se ninguém ousasselevantar questões.Levantadas, surgiria o lado hilariante, sempre parteintegrante da política que por cá se faz. Da Presidênciada República vinha a <strong>de</strong>scoberta da pólvora: oproblema era o da contracção. Se para Shakspeare odilema era to be or not to be, aqui era <strong>de</strong> ou da!De nada valeu que <strong>de</strong>putados legisladores <strong>de</strong> entãoconfirmassem o espírito da lei. Logo surgia umiluminado a contraditá-lo, a trocar o <strong>de</strong> por da.A Assembleia da República acabaria por fugir doproblema, enten<strong>de</strong>r que não lhe cabia explicitar ainterpretação da lei. Que isso caberia aos tribunais –em Portugal tudo se chuta para os tribunais - sealguém se <strong>de</strong>sse a tal…Paradigmático. É isto a política em Portugal e é distoque por cá se faz a governação…E é por aqui que<strong>de</strong>viam começar as famosas reformas estruturais.Mas como isso já não cabe à troika…Professora da Escola Superior <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>ClaraLeãoRespondi há dias a uminquérito elaborado paraum estudo cujo objectivoserá compreen<strong>de</strong>r os juízosque os indivíduos fazem sobre asacções dos outros. Baseadas numcurtíssimo texto on<strong>de</strong> era retratadauma situação do quotidiano, asperguntas abarcavam um semnúmero <strong>de</strong> hipóteses <strong>de</strong> observação e entendimento doacontecido e com elas outras tantaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> opinião sobre oque se consi<strong>de</strong>re ser certo ou errado,bom ou mau, muito ou poucotolerável, mais ou menos aceitável,etc., obrigando-me a um cuidado naavaliação das variáveis e a umaconstatação <strong>de</strong> ambigui-da<strong>de</strong>s queme fez pensar. Creio que todosconsi<strong>de</strong>ramos ter i<strong>de</strong>ias muitoclaras sobre o que sejamcomportamentos correctos e acerteza <strong>de</strong> conhecer as regras <strong>de</strong>conduta mais ou menos absolutas ecomummente aceites que nosregem, fruto <strong>de</strong> todo um conjunto<strong>de</strong> costumes, opiniões e princípiosinquestionáveis. Por isso mesurpreen<strong>de</strong>u reconhecer que umamesma atitu<strong>de</strong> possa serdiferentemente avaliada por nósconforme o lugar que ocupemos emrelação a ela, isto é, conforme comela exerçamos domínio, <strong>de</strong>la nossintamos alvo ou apenas aobservemos como merosespectadores. A certeza <strong>de</strong> termosrazões que nos assistem, acompreensão dos nossos estados <strong>de</strong>alma e alguma dose <strong>de</strong>complacência, po<strong>de</strong>m fazer-nosavaliar o nosso comportamentocom benevolência e atribuir-lheuma razoabilida<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong>que dificilmente conce<strong>de</strong>remos aidêntico comportamento novizinho. Creio que por vezes serátentador e fácil confundir liberda<strong>de</strong><strong>de</strong> espírito e <strong>de</strong> acção com unsquantos pontapés na gramática daconduta, permitindo-nos veleida<strong>de</strong>sque pronta e inflamadamente<strong>de</strong>nunciaríamos, se astivessem connosco ou com quemnos é próximo. O conjunto <strong>de</strong> regrasque nos valida a conduta é a“moral”, cuja origem latina, morale,significa relativo aos costumes enão, como muitos erradamentesupõem, relativa a coisas <strong>de</strong> igrejaou à contenção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s comcariz sexual. Antes da moral, fundamentando-a,está a Ética, comorigem no grego ethos que, significandocarácter, estuda osprincípios do comportamento.Moral não é uma coisa da ida<strong>de</strong>, umtravão social usado por regimespolíticos in<strong>de</strong>sejáveis, um moforeligioso ou uma forma antiquada<strong>de</strong> estar na vida. A moral temorigem no pensamento e o uso que<strong>de</strong>la fazemos revela como somostodos os dias. Era bom que apalavra fosse recuperada porquenão é coisa que se <strong>de</strong>va <strong>de</strong>itar fora.Professora <strong>de</strong>Dança

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!