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elder yanaze oda prevalência de sintomas depressivos em ... - UFSC

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ELDER YANAZE ODAPREVALÊNCIA DE SINTOMAS DEPRESSIVOS EMPACIENTES COM HISTÓRIA PRÉVIA DE ACIDENTEVASCULAR ENCEFÁLICO INTERNADOS NASENFERMARIAS DE CLÍNICA MÉDICA DO HU-<strong>UFSC</strong>Trabalho apresentado à Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, para a conclusãodo Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Medicina.FLORIANÓPOLISUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA2005


ELDER YANAZE ODAPREVALÊNCIA DE SINTOMAS DEPRESSIVOS EMPACIENTES COM HISTÓRIA PRÉVIA DE ACIDENTEVASCULAR ENCEFÁLICO INTERNADOS NASENFERMARIAS DE CLÍNICA MÉDICA DO HU-<strong>UFSC</strong>Trabalho apresentado à Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, para a conclusãodo Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Medicina.Presi<strong>de</strong>nte do Colegiado: Prof. Dr. Ernani Lange <strong>de</strong> S. ThiagoProfessora Orientadora: Prof a . Dra. Letícia Maria FurlanettoFLORIANÓPOLISUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA2005


Oda, El<strong>de</strong>r Yanaze.Prevalência <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> pacientes com história prévia<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte Vascular Encefálico, internados nas enfermarias <strong>de</strong> clínicamédica do HU-<strong>UFSC</strong> / El<strong>de</strong>r Yanaze Oda. – Florianópolis, 2005.28p.Monografia (Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Santa Catarina - Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Medicina.1. Sintomas Depressivos 2. Aci<strong>de</strong>nte Cerebrovascular 3. PacientesInternados 4. Hospitais Gerais I. Título


“T<strong>oda</strong>s as doenças têm seu princípio <strong>em</strong> algumas das três substâncias: Sal, Enxofre ouMercúrio; isto quer dizer que po<strong>de</strong>m ter sua orig<strong>em</strong> no domínio da matéria, na esfera daalma, ou no reino do espírito. Se o corpo, a alma e a mente estão <strong>em</strong> perfeita harmonia, unscom os outros, não existe nenhuma discordância; mas se se origina uma causa <strong>de</strong>discordância <strong>em</strong> um <strong>de</strong>stes três planos, isto se comunica aos <strong>de</strong>mais."(Paracelso)iii


AGRADECIMENTOSAos meus pais, Paulo e Cecilia, que através <strong>de</strong> seus esforços tornaram meus sonhos<strong>em</strong> reais possibilida<strong>de</strong>s, que agora começam a se concretizar. Minha gratidão expressa <strong>em</strong>poucas linhas não é capaz <strong>de</strong> dizer o quanto os admiro.Ao meu irmão, Aldo, por conseguir tornar as coisas mais simples e pelo seuconstante otimismo.À minha orientadora, professora Letícia Maria Furlanetto. Sua presença durantetodos esses anos no LETH foi fundamental para minha formação acadêmica. Sua paciência,sensibilida<strong>de</strong> e <strong>em</strong>penho tornaram esse trabalho viável.Aos meus amigos da Med 99-2, principalmente a Kelly, Daniela e Roberta, que serãopresenças indispensáveis pelo resto da minha vida. Durante esses anos da faculda<strong>de</strong>, nãopo<strong>de</strong>ria ter tido melhor companhia.A minha gran<strong>de</strong> família (tios, tias, primos, primas) e, especialmente, ao meu avôIsao. Obrigado pelo apoio incondicional <strong>de</strong> todos. Tê-los por perto me traz segurança etranqüilida<strong>de</strong>.A Beatriz, que nos últimos anos, t<strong>em</strong> sido uma companhia muito agradável eindispensável <strong>em</strong> t<strong>oda</strong>s as horas. Sua presença é s<strong>em</strong>pre uma alegria para mim, “meu riso étão feliz contigo”.A todos os pacientes e familiares que tiveram a boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar dapesquisa, <strong>de</strong> conversar comigo sobre assuntos tão pessoais, principalmente durante umperíodo difícil, que é a hospitalização.iv


RESUMOObjetivo: Verificar a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> pacientes com história prévia<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte Vascular Encefálico (AVE) internados nas Enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica doHospital Universitário da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (HU-<strong>UFSC</strong>), através daaplicação do Inventário Beck <strong>de</strong> Depressão (BDI).Método: Todos os pacientes consecutivamente internados, entre outubro <strong>de</strong> 2004 a fevereiro<strong>de</strong> 2005, foram questionados na primeira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> internação sobre história prévia <strong>de</strong> AVEe tiveram seus prontuários revisados. Dos 41 pacientes com história positiva para tal doença,excluíram-se 17 que não conseguiram respon<strong>de</strong>r às perguntas por prejuízo cognitivo ouincapacida<strong>de</strong> física (<strong>de</strong>corrente ou não do AVE). Foram colhidos dados socio<strong>de</strong>mográficos eclíncos e aplicado o BDI. Foi <strong>de</strong>scrita a freqüência <strong>de</strong> todos os <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos (21 itensdo BDI), mas para o cálculo da <strong>prevalência</strong>, foi utilizada a sub-escala cognitivo-afetiva (13primeiros itens do BDI), com ponto <strong>de</strong> corte acima <strong>de</strong> 10 pontos.Resultados: A amostra (N = 24) foi composta predominant<strong>em</strong>ente por mulheres (70,8%),brancas (95,8%), casadas/amasiadas (58,3%) e com renda familiar <strong>de</strong> até dois saláriosmínimos (50%). A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ± <strong>de</strong>svio padrão (DP) foi <strong>de</strong> 52,3 ± 12,9 anos. Dospacientes entrevistados, 25% apresentaram <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos mo<strong>de</strong>rados a graves (BDI-13>10 pontos). Os <strong>sintomas</strong> cognitivo-afetivos mais prevalentes foram irritabilida<strong>de</strong> (33,3%),in<strong>de</strong>cisão (33,3%), choro fácil (29,2%), anedonia (25%) e autopunição (25%).Conclusão: Um <strong>em</strong> cada quatro pacientes com história prévia <strong>de</strong> AVE apresentou <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos mo<strong>de</strong>rados a grave.Palavras-chave: Sintomas Depressivos; Aci<strong>de</strong>nte Cerebrovascular; Hospitais Gerais;Pacientes Internados.v


ABSTRACTObjective: To <strong>de</strong>termine the prevalence of <strong>de</strong>pressive symptoms in medical inpatients withprevious history of stroke at the University Hospital of Fe<strong>de</strong>ral University of Santa Catarina(HU-<strong>UFSC</strong>), using the Beck Depressive Inventory (BDI).Method: In a transversal study, at the general medical wards of the HU-<strong>UFSC</strong>, we accessedall consecutive inpatients with previous history of stroke during their first week of admission,between October/2004 and February/2005. Of the 41 patients with previous history of stroke,17 were exclu<strong>de</strong>d because of cognitive or physical impairment (due or not to the stroke) thatdisabled th<strong>em</strong> to answer the questions. Socio<strong>de</strong>mographic and clinical data were collected byinterview and by chart. We <strong>de</strong>scribed the frequencies of the 21 it<strong>em</strong>s of the BDI. In or<strong>de</strong>r to<strong>de</strong>termine the prevalence, we used the cognitive-affective subscale (first 13 it<strong>em</strong>s of the BDI),with a cutoff point > 10.Results: The sample was composed by 24 patients, predominately women (70.8%), white(95.8%), married (58.3%), with a familiar income less or equal than 2 minimum wage. Th<strong>em</strong>ean age ± Standard Deviation (SD) was 52,3 ± 12,9 years. Twenty-five percent of thepatients presented mo<strong>de</strong>rate to severe <strong>de</strong>pressive symptoms (BDI-13>10 points). The morefrequent symptoms were irritability (33,3%), in<strong>de</strong>cision (33,3%), easy crying (29,2%), lack ofpleasure (25%), and self-punishment (25%).Conclusion: One in four patients with previous history of stroke presented mo<strong>de</strong>rate to severe<strong>de</strong>pressive symptoms.Key-words: Depressive Symptoms; Stroke; Medical Inpatients; General Hospital.vi


SUMÁRIORESUMO...................................................................................................................................vABSTRACT..............................................................................................................................viSUMÁRIO...............................................................................................................................vii1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................12 OBJETIVO.............................................................................................................................43 METODOLOGIA..................................................................................................................53.1 Desenho................................................................................................................................53.2 Local.....................................................................................................................................53.3 Amostra................................................................................................................................53.3.1. Critérios <strong>de</strong> inclusão.......................................................................................................53.3.2. Critérios <strong>de</strong> exclusão.......................................................................................................53.4 Procedimentos.....................................................................................................................53.5 Instrumento.........................................................................................................................63.6 Análise Estatística...............................................................................................................73.7 Aspectos Éticos....................................................................................................................74 RESULTADOS.......................................................................................................................84.1 Descrição da amostra..........................................................................................................84.2 Prevalência <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos...............................................................................105 DISCUSSÃO.........................................................................................................................126 CONCLUSÃO......................................................................................................................15NORMAS ADOTADAS.........................................................................................................16REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................17APÊNDICE..............................................................................................................................19vii


25%. 2, 3 Tão importante quanto a mortalida<strong>de</strong>, é a sua morbida<strong>de</strong>, uma vez que as seqüelas da1 INTRODUÇÃODoenças cerebrovasculares são aquelas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> distúrbios dos sist<strong>em</strong>ascirculatórios arterial ou venoso ou <strong>de</strong> seu conteúdo que resultam <strong>em</strong> lesões no sist<strong>em</strong>anervoso central. O termo aci<strong>de</strong>nte vascular encefálico (AVE) <strong>de</strong>screve a lesão neurológicafuncional, que se expressa através <strong>de</strong> sinais e <strong>sintomas</strong> cerebrais focais, <strong>de</strong> forma aguda eprolongada, durando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> dias a t<strong>oda</strong> vida. 1Sabe-se que é uma doença com alta taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e constitui hoje a terceiracausa <strong>de</strong> morte no mundo, ficando atrás apenas da doença cardiovascular e do câncer, <strong>de</strong>modo que no primeiro ano após o evento, a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> está estimada entre 15% edoença po<strong>de</strong>m limitar <strong>de</strong> modo significativo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho funcional do paciente. Cerca <strong>de</strong>21% a 54% <strong>de</strong> seus sobreviventes mantêm algum grau <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> após o evento. Essaincapacida<strong>de</strong> repercute negativamente nas suas relações pessoais, familiares, sociais e,sobretudo, no seu modo <strong>de</strong> viver, o que resulta numa pior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, além <strong>de</strong> geraruma grave repercussão social e econômica. 4Essas limitações não são <strong>de</strong>terminadas apenas pelo déficit neurológico <strong>em</strong> si; sabe-sehoje que o AVE implica também <strong>em</strong> alterações neuropsiquiátricas como a <strong>de</strong>pressão pós-AVE, distúrbios <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, psicose, além <strong>de</strong> alterações na expressão do humor (reaçãocatastrófica e afeto patológico). 5 Dentre esses agravos, a <strong>de</strong>pressão é consi<strong>de</strong>rada acomplicação pós-AVE mais prevalente. 6Assim, é freqüente que o paciente que sofreu AVE venha a apresentar <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos. Estes po<strong>de</strong>m ser caracterizados como sentimentos psicopatológicos <strong>de</strong> tristeza,com ou s<strong>em</strong> repercussão no humor (<strong>em</strong>oção difusa e prolongada, subjetivamenteexperimentada e relatada pelo paciente). Po<strong>de</strong> também fazer parte <strong>de</strong> uma síndrome maiscomplexa (síndrome <strong>de</strong>pressiva) e até <strong>de</strong> uma doença (transtorno do humor) ou, então,apresentar-se isoladamente, como uma reação a uma situação adversa (transtorno <strong>de</strong>ajustamento). Geralmente, o paciente po<strong>de</strong> expressá-los como um sentimento <strong>de</strong> tristeza,solidão, auto-reprovação, culpa, baixa concentração, in<strong>de</strong>cisão e baixa auto-estima, associadoa sinais que inclu<strong>em</strong> retardo psico-motor ou, menos freqüente, agitação, afastamento docontato social, perda/aumento do apetite e/ou insônia/hipersonia. 7Numa tentativa <strong>de</strong> esclarecer a orig<strong>em</strong> dos <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos, alguns autoressuger<strong>em</strong> que transtornos <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> pacientes que sofreram AVE são uma reação


40%. 13-15 Estes números <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> alguns fatores, que po<strong>de</strong>m ser agrupados como: 1)2adaptativa à nova realida<strong>de</strong>, como por ex<strong>em</strong>plo a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s diárias ea <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> cuidadores para estas tarefas, ou seja, relacionada à incapacida<strong>de</strong> funcional<strong>de</strong>corrente da doença neurológica. 8, 9 Outros acreditam haver uma causa orgânica subjacente.Este segundo mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong>fendido por Folstein et al. 10 <strong>em</strong> um estudo que mostrou que a<strong>de</strong>pressão é mais comum <strong>em</strong> pacientes pós-AVE que <strong>em</strong> pacientes ortopédicos com limitaçãofísica s<strong>em</strong>elhante. 10Além <strong>de</strong> ser uma comorbida<strong>de</strong> muito freqüente no período pós-AVE, a <strong>de</strong>pressãotambém é relacionada a um pior prognóstico. 6 Ch<strong>em</strong>erinski et al. evi<strong>de</strong>nciaram que, numgrupo <strong>de</strong> pacientes vítimas <strong>de</strong> AVE que tinham <strong>de</strong>pressão (maior ou menor) no início doseguimento, aqueles que apresentaram r<strong>em</strong>issão da sintomatologia <strong>de</strong>pressiva nos primeirosmeses tinham uma melhor recuperação nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária. 11Desse modo, a <strong>de</strong>terminação da <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos nos pacientesque sofreram AVE t<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertado cada vez mais o interesse <strong>de</strong> pesquisadores, uma vez queela ainda não foi b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada. Estudos recentes <strong>de</strong>senvolvidos mundialmente,<strong>de</strong>monstram que a incidência <strong>de</strong> distúrbios <strong>de</strong>pressivos pós-AVE variam <strong>de</strong> 6% 12 a cerca <strong>de</strong>aqueles relacionados a doença <strong>em</strong> si e 2) aqueles relacionados a heterogeneida<strong>de</strong>metodológica adotada nesses trabalhos. Dentre os fatores relacionados a doença, po<strong>de</strong>moscitar: a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> executar ativida<strong>de</strong>s diárias e sociais, 16 especialmente capacida<strong>de</strong>s como<strong>de</strong>ambulação e fonação, 17 história prévia <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, 13 ida<strong>de</strong>, 13, 18 acesso a programas <strong>de</strong>reabilitação. 19 Dentre os fatores relacionados ao <strong>de</strong>senho do estudo, observa-se que a<strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão varia <strong>de</strong> acordo com o instrumento utilizado para aferição ou o queestá se consi<strong>de</strong>rando <strong>de</strong>pressão (<strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos, transtorno <strong>de</strong>pressivo maior oumenor). Além disso, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>corrente após o AVE e o tipo <strong>de</strong> amostra (população geral,hospitalizada, <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> reabilitação) influenciam na presença ou não <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos nesses pacientes. 20Corroborando com o que foi dito acima, uma revisão sist<strong>em</strong>ática realizada porRobinson mostrou que <strong>de</strong> acordo com a população estudada (pacientes da comunida<strong>de</strong>,internados na fase aguda do AVE, <strong>em</strong> hospital <strong>de</strong> reabilitação ou ambulatório), a <strong>prevalência</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão variou <strong>de</strong> 16 a 72%. 21 Quando analisada uma população <strong>de</strong> característicass<strong>em</strong>elhantes, a <strong>prevalência</strong> também variou sobr<strong>em</strong>aneira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do instrumentoutilizado. Por ex<strong>em</strong>plo, na população <strong>de</strong> pacientes internados na fase aguda do AVE, essenúmero variou <strong>de</strong> 21%, quando utilizado a Escala <strong>de</strong> Hamilton para Depressão (HAM-D), a


347%, ao ser usado os critérios do Manual Estatístico e Diagnóstico para Doenças Mentais(DSM-III) para <strong>de</strong>pressão maior ou menor. 21Apesar <strong>de</strong> existir<strong>em</strong> vários trabalhos realizados mundialmente, não foramencontrados artigos realizados no Brasil que analisass<strong>em</strong> a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos ou <strong>de</strong>pressão <strong>em</strong> pacientes que sofreram AVE.Portanto, as evidências presentes indicam que o AVE é uma doença muitoprevalente, t<strong>em</strong> como conseqüência uma alta morbi-mortalida<strong>de</strong> e que a presença <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão influi <strong>em</strong> muito na recuperação do paciente. Somado ao fato <strong>de</strong> que são escassosos estudos realizados no Brasil que <strong>de</strong>screvam a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos nessegrupo <strong>de</strong> paciente, é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor que se <strong>de</strong>termine a sua <strong>prevalência</strong> <strong>em</strong> nosso meio.


42 OBJETIVOSDescrever a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> pacientes internados nasenfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica do Hospital Universitário da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SantaCatarina, que tenham história prévia <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte Vascular Encefálico (AVE), através daaplicação do Inventário Beck <strong>de</strong> Depressão (BDI)


53 METODOLOGIA3.1 DesenhoFoi realizado um estudo observacional transversal.3.2 LocalEste estudo foi feito nas Enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica do Hospital UniversitárioProfessor Polydoro Ernani <strong>de</strong> São Thiago da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (HU-<strong>UFSC</strong>). A enfermaria <strong>de</strong> adultos é constituída pelas Clínicas Médicas 1, 2 e 3, e aten<strong>de</strong>pacientes provenientes da gran<strong>de</strong> Florianópolis e também <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s do estado <strong>de</strong>Santa Catarina.3.3 AmostraA amostra foi composta por pacientes adultos internados nas enfermarias <strong>de</strong> ClínicaMédica do HU-<strong>UFSC</strong>, selecionados <strong>de</strong> acordo com os critérios abaixo:3.3.1 Critérios <strong>de</strong> inclusãoTodos os pacientes consecutivamente internados nas enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médicado HU-<strong>UFSC</strong> no período compreendido entre outubro <strong>de</strong> 2004 a fevereiro <strong>de</strong> 2005 foramquestionados na primeira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> internação sobre a presença ou não <strong>de</strong> história prévia <strong>de</strong>AVE e tinham seu prontuário revisado, buscando-se tal dado. Caso houvesse história positivapara AVE, o paciente era convidado para participar da pesquisa.3.3.2 Critérios <strong>de</strong> exclusão- Paciente com ida<strong>de</strong> inferior a 18 anos;- Pacientes que não conseguiram participar da entrevista <strong>de</strong>vido a alguma condiçãofísica, <strong>de</strong>corrente ou não do AVE (por ex<strong>em</strong>plo: afasia, sur<strong>de</strong>z, dispnéia intensa,prejuízo cognitivo)- Paciente que recusaram <strong>em</strong> participar3.4 Procedimentos


6Foram selecionados para a pesquisa todos os pacientes internados consecutivamente<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2004 a fevereiro <strong>de</strong> 2005 nas enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica do HU-<strong>UFSC</strong>,que tinham história prévia <strong>de</strong> AVE e que não preenchiam nenhum critério <strong>de</strong> exclusão.Para <strong>de</strong>tectar os casos <strong>de</strong> história <strong>de</strong> AVE, foram revisados todos os prontuários assimcomo os pacientes foram questionados através <strong>de</strong> perguntas diretas se sabiam o quesignificava o termo “<strong>de</strong>rrame”. Caso a resposta fosse positiva, era perguntado se o paciente játeve tal condição e era pedido para que ele explicasse melhor o acontecido. O primeiro autorusou julgamento clínico associado às informações do prontuário para consi<strong>de</strong>rar se o caso era<strong>de</strong> historia prévia <strong>de</strong> AVE ou não.Os pacientes eram então esclarecidos sobre a natureza e objetivos da pesquisa econvidados para <strong>de</strong>la participar. Aqueles que aceitavam, assinavam o consentimentoesclarecido e foram entrevistados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> internação. Na entrevista foramquestionados sobre dados sócio<strong>de</strong>mográficos e história clínica e, então, aplicado o BDI.3.5 InstrumentoO Inventário Beck <strong>de</strong> Depressão (BDI) foi elaborado com o intuito <strong>de</strong> medir os<strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> adolescentes e adultos, tornando possível quantificar e comparar onível dos <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> diversos estudos realizados ao redor do mundo. 22O questionário é composto <strong>de</strong> 21 itens referentes a alterações relacionadas à<strong>de</strong>pressão, tanto no campo cognitivo-afetivo (itens 1 a 13), quanto no somático (14 a 21). Sãoavaliados, então, os seguintes parâmetros: tristeza, <strong>de</strong>sesperança, sensação <strong>de</strong> fracasso,anedonia * , sensação <strong>de</strong> culpa, sensação <strong>de</strong> punição, auto<strong>de</strong>preciação, auto-acusações, idéiassuicidas, crises <strong>de</strong> choro, irritabilida<strong>de</strong>, retração social, in<strong>de</strong>cisão, distorção da imag<strong>em</strong>corporal, inibição para o trabalho, distúrbio <strong>de</strong> sono, fadiga, perda <strong>de</strong> apetite, perda <strong>de</strong> peso,preocupação somática e diminuição <strong>de</strong> libido. Em cada um <strong>de</strong>sses itens, o paciente po<strong>de</strong>pontuar <strong>de</strong> 0 a 3 pontos, <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> do sintoma, po<strong>de</strong>ndo ao final do testefazer <strong>de</strong> 0 a 63 pontos, sendo 0 a ausência <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> e 63 o grau máximo <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos. 22Além <strong>de</strong> ser usado para <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos, o BDI v<strong>em</strong> sendousado também como rastreamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão. A versão <strong>em</strong> português mostrou-se válidaquando utilizada <strong>em</strong> sujeitos brasileiros 23 e também na amostra específica <strong>de</strong> pacientesbrasileiros internados <strong>em</strong> enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica. 24


73.6 Análise estatísticaPara a análise estatística, foi utilizado como ponto <strong>de</strong> corte pontuações maiores que10, quando analisados somente os 13 primeiros itens do BDI (BDI-13), correspon<strong>de</strong>ntes asub-escala cognitivo-afetiva. Quando utilizados todos os 21 itens da escala (BDI-21), queinclu<strong>em</strong> <strong>sintomas</strong> somáticos, utilizou-se >14 como ponto <strong>de</strong> corte.Para a análise <strong>de</strong>scritiva dos dados foram <strong>em</strong>pregados freqüências, porcentagens,médias e <strong>de</strong>svios-padrão.Utilizou-se para a análise estatística o programa SPSS 10.0 para Windows.3.7 Aspectos éticosO estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética para Pesquisas com SeresHumanos da <strong>UFSC</strong>. Os pacientes foram esclarecidos sobre o estudo, sendo informados que<strong>em</strong> nada seria alterado seu tratamento, caso a <strong>de</strong>cisão fosse a <strong>de</strong> não participar. Aqueles queconcordaram <strong>em</strong> participar assinaram o termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido. Osmédicos assistentes foram avisados quando houve diagnóstico <strong>de</strong> sofrimento psíquico quepu<strong>de</strong>sse ser reduzido através <strong>de</strong> tratamento específico.* Anedonia; perda do interesse e prazer <strong>em</strong> tudo ou quase tudo.


84 RESULTADOS4.1 Descrição da amostraA amostra total <strong>de</strong> pacientes com história <strong>de</strong> AVE foi composta por 41 pacientes.Desses, 17 preenchiam algum critério <strong>de</strong> exclusão: 12 pacientes estavam afásicos nomomento da entrevista (70,6%), 3 apresentavam algum grau <strong>de</strong> déficit cognitivo (17,6%), 1estava <strong>em</strong> coma (5,9%) e 1 era portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência auditiva (5,9%).A amostra <strong>de</strong> pacientes incluídos no estudo foi composta por 24 pacientes. Desses, agran<strong>de</strong> parte era do sexo f<strong>em</strong>inino (17 pacientes, equivalendo a 70,8% do total), com média<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ± <strong>de</strong>svio padrão (DP) <strong>de</strong> 52,6 ± 12,9 anos, ida<strong>de</strong> mínima 31 anos e máxima <strong>de</strong> 73anos. Quanto a etnia, 23 consi<strong>de</strong>ravam-se brancos e apenas um, pardo. A maioria <strong>de</strong>les eramcasados ou viviam uma união estável, somando 14 pacientes (58,3%). O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>correntedo AVE variou <strong>de</strong> 1 a 173 meses, com média ± <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 32,4 ± 49,7 meses <strong>em</strong>ediana <strong>de</strong> 5 meses. Dos 24 pacientes, a maioria (62,5%) teve o evento há menos <strong>de</strong> 1 ano.As características da amostra po<strong>de</strong>m ser vistas <strong>de</strong>talhadamente na Tabela 1.


9Tabela 1 - Características socio<strong>de</strong>mográficas da amostra incluída (N = 24)Características N (24) %SexoMasculinoF<strong>em</strong>ininoIda<strong>de</strong> (anos)30 a 60> 60Estado CivilCasado (a)/ união estávelSolteiro (a)Separado (a)Viúvo (a)Renda familiar (salários mínimos)6Não sabe/omitiu informação7171591443312231629,270,862,537,558,316,712,512,5508,312,54,225Escolarida<strong>de</strong> (anos)01 a 56 a 10>10T<strong>em</strong>po do AVE (meses)≤12>12114541594,258,320,816,762,537,5


104.2 Prevalência dos <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivosDos 24 pacientes entrevistados, 6 (25%) apresentaram BDI-13 acima <strong>de</strong> 10 pontos,configurando então, sintomatologia <strong>de</strong>pressiva mo<strong>de</strong>rada a grave. Ao utilizar o BDI-21, queinclui as manifestações somáticas da <strong>de</strong>pressão, e tomando 14 como ponto <strong>de</strong> corte, 11pacientes (45,8%) mostraram <strong>sintomas</strong> significativos.Quando analisado cada it<strong>em</strong> separadamente, po<strong>de</strong>mos observar que, na sub-escalacognitivo-afetivo, houve uma maior <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> respostas condizentes a <strong>sintomas</strong>mo<strong>de</strong>rados a grave nos itens que correspon<strong>de</strong>m a irritabilida<strong>de</strong> (33%), in<strong>de</strong>cisão (33%),choro fácil (33,3%), autopunição (25%) e anedonia (25%), como po<strong>de</strong> ser visto na Tabela 2.Já dos <strong>sintomas</strong> somáticos, dificulda<strong>de</strong> no trabalho (41,7%), falta <strong>de</strong> energia (37,5%), falta <strong>de</strong>apetite (37,5%) e preocupação somática (37,5%) foram os mais freqüentes (Tabela 2).


11Tabela 2: Presença <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos <strong>de</strong> acordo com o BDI*Sintomas Ausente a leve †n (%)Mo<strong>de</strong>rado a grave ‡n (%)Cognitivo-afetivosTristeza 22 (91,7) 2 (8,3)Desesperança 22 (91,7) 2 (8,3)Sensação <strong>de</strong> fracasso 20 (83,3) 4 (16,7)Anedonia 18 (75,0) 6 (25,0)Culpa 22 (91,7) 2 (8,3)Sentimento <strong>de</strong> punição 20 (83,3) 4 (16,7)Auto<strong>de</strong>preciação 22 (91,7) 2 (8,3)Autopunição 18 (75,0) 6 (25,0)I<strong>de</strong>ação suicida 24 (100) 0 (0,0)Choro fácil 17 (70,8) 7 (29,2)Irritabilida<strong>de</strong> 16 (66,7) 8 (33,3)Retração social 19 (79,2) 5 (20,8)In<strong>de</strong>cisão 16 (66,7) 8 (33,3)SomáticosMudança na imag<strong>em</strong> corporal 19 (79,2) 5 (20,8)Dificulda<strong>de</strong> no trabalho 14 (58,3) 10 (41,7)Distúrbio do sono 19 (79,2) 5 (20,8)Falta <strong>de</strong> energia 15 (62,5) 9 (37,5)Falta <strong>de</strong> apetite 15 (62,5) 9 (37,5)Perda <strong>de</strong> peso 19 (79,2) 5 (20,8)Preocupação somática 15 (62,5) 9 (37,5)Perda da libido 17 (70,8) 7 (29,2)*BDI: Inventário Beck <strong>de</strong> Depressão† Ausente a leve: pontuação <strong>de</strong> 0 ou 1 no it<strong>em</strong> <strong>em</strong> questão‡Mo<strong>de</strong>rado a grave: pontuação <strong>de</strong> 2 ou 3 no it<strong>em</strong> <strong>em</strong> questão


125 DISCUSSÃOCerca <strong>de</strong> 25% dos pacientes com história <strong>de</strong> AVE apresentaram algum grau <strong>de</strong>sintomatologia <strong>de</strong>pressiva mo<strong>de</strong>rada a grave, isto é, alcançaram uma pontuação no BDI-13acima <strong>de</strong> 10. Comparando esse número com os presentes na literatura recente, observamosque está <strong>de</strong>ntro do esperado, uma vez que Robinson <strong>em</strong> sua revisão encontrou uma<strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> 21 a 47% <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão ou <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos entre pacientes internados porAVE. 21 Dois estudos utilizando o BDI encontraram valores <strong>de</strong> <strong>prevalência</strong> próximos donosso. Em 1999, Kellermann et al. realizaram um trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos <strong>em</strong> pacientes com história <strong>de</strong> AVE ocorrido há menos <strong>de</strong> 1 s<strong>em</strong>ana. Nessecontexto, utilizando os 13 primeiros itens do BDI, cerca <strong>de</strong> 20% dos pacientes apresentaramBDI>10 e 5%, acima <strong>de</strong> 15. Ainda, observaram que o BDI era mais alto naqueles pacientesincapacitados para andar e nos afásicos. 17Do mesmo modo, <strong>em</strong> 2003, Berg et al. ao fazer o seguimento <strong>de</strong> 100 pacientes após oprimeiro episódio <strong>de</strong> AVE isquêmico, viram que a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivosmedidos através do BDI variou da seguinte maneira: 27% na fase aguda, 29% aos 2 meses,23% aos 6 meses, 24% aos 12 meses e 24% aos 18 meses. Vale l<strong>em</strong>brar que da amostrainicial, foram excluídos aqueles com ida<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> 70 anos, história <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> álcool,<strong>de</strong>mência, psicose, terapia anti<strong>de</strong>pressiva atual ou doença severa concomitante, o que po<strong>de</strong>interferir significativamente nos resultados alcançados. 25Por sua vez, Kim et al. utilizando também o BDI viram que dos 148 pacientes,avaliados num período que variou <strong>de</strong> 2 a 4 meses após o AVE, apenas 15% apresentavamsintomatologia <strong>de</strong>pressiva significativa (BDI-21>14). 4 Esse baixo percentual po<strong>de</strong> seratribuído ao fato <strong>de</strong> que foram excluídos <strong>de</strong>ssa amostra pacientes com história prévia <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão, uma vez que, história positiva para esse distúrbio do humor t<strong>em</strong> sido relacionada a6, 13um risco 2,3 vezes maior <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>pressão pós-AVE.Quando avaliados através <strong>de</strong> outros instrumentos, a presença ou não <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos po<strong>de</strong> ter valores um pouco diferentes do que o nosso. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> 2000,Singh et al. analisaram pacientes internados com AVE na fase aguda e encontraram umíndice <strong>de</strong> aproximadamente 36%. Porém, foi utilizado neste estudo a combinação <strong>de</strong> duasescalas: uma <strong>de</strong> avaliação objetiva, o Montgomery-Asberg Depression Rating Scale


13(MADRS), e uma <strong>de</strong> avaliação subjetiva dos <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos, o Zung Self-RatedDepression Scale (SDS). 8Ao analisar separadamente cada it<strong>em</strong> do BDI-13, observou-se que as queixas maisprevalentes foram relacionadas a dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> tomar <strong>de</strong>cisões, irritabilida<strong>de</strong>, choro fácil,auto-punição e falta <strong>de</strong> prazer nas coisas. Este último it<strong>em</strong>, correspon<strong>de</strong>nte à anedonia, éconsi<strong>de</strong>rada um forte preditor para doença <strong>de</strong>pressiva, tanto que é consi<strong>de</strong>rado um critériomaior para diagnóstico <strong>de</strong> transtorno <strong>de</strong>pressivo pelo Manual <strong>de</strong> diagnóstico e estatística <strong>de</strong>doenças mentais (DSM-IV). 26 Dos 24 pacientes entrevistados, 25% <strong>de</strong>les tinham respostapositiva para esse it<strong>em</strong>, número que coinci<strong>de</strong> com o <strong>de</strong> pacientes com BDI-13>10.Curiosamente, nenhum paciente referiu i<strong>de</strong>ação suicida, talvez pelo aspecto cultural que esset<strong>em</strong>a carrega.No presente trabalho, algumas limitações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser mencionadas, principalmenteàquelas relacionadas com a seleção dos pacientes avaliados: 1) A história prévia <strong>de</strong> AVE foiconsi<strong>de</strong>rada positiva nos pacientes que tinham tal fato mencionado no prontuário ou quetivess<strong>em</strong> história clínica positiva para AVE, diferente <strong>de</strong> outros estudos, que <strong>de</strong>finiam oscasos <strong>de</strong> AVE através <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> imag<strong>em</strong>. Contudo, os pacientes só foram consi<strong>de</strong>radoscomo tendo história <strong>de</strong> AVE após ser feitos julgamento clínico com os dados obtidos; 2)Neste estudo, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>corrente do AVE não foi controlado, variando sobr<strong>em</strong>aneira.Apesar do estudo <strong>de</strong> Berg et al. mostrar que a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos varioupouco nos 18 meses <strong>de</strong> seguimento 25 , a revisão realizada por Terroni et al., mostrou que essenúmero varia significativamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do período pós-AVE. 6 Como a maior parte <strong>de</strong>nossos pacientes tinham menos <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> AVE, saber a <strong>prevalência</strong> nesse é muitoimportante para que sejam impl<strong>em</strong>entadas medidas precoces e, assim, evitar a cronificaçã<strong>oda</strong> <strong>de</strong>pressão; 3) A amostra foi composta por pacientes internados <strong>em</strong> enfermarias <strong>de</strong> ClínicaMédica, <strong>em</strong> sua primeira s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> ingresso no hospital. Alguns itens do BDI, comoalterações no padrão do sono, do apetite ou do peso, po<strong>de</strong>riam confundir com <strong>sintomas</strong> dadoença <strong>de</strong> base ou mesmo estar<strong>em</strong> presentes na fase <strong>de</strong> adaptação do paciente às rotinas dohospital. Por isso, assim como Kellermann, 17 <strong>em</strong> seu trabalho já citado, <strong>de</strong>mos ênfase aos 13primeiros itens da escala, que correspon<strong>de</strong>m a <strong>sintomas</strong> cognitivo-afetiva, excluindo portantoos <strong>sintomas</strong> somáticos (8 últimos itens). Se utilizada a escala completa, incluindo os <strong>sintomas</strong>somáticos, a <strong>prevalência</strong> encontrada foi <strong>de</strong> 45,8%, um número muito mais elevado que os25% encontrado ao usar o BDI-13; 4) Os critérios <strong>de</strong> exclusão utilizados po<strong>de</strong> ter alterado areal <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos nos pacientes pós-AVE, já que não entraram naamostra pacientes afásicos, que <strong>em</strong> outro estudo mostrou ter uma <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos maiores que nos não-afásicos. 17 Por isso, ressaltamos que os pacientes afásicos


14foram excluídos, não por <strong>de</strong>scartarmos a presença <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos nestes, mas simpela inviabilida<strong>de</strong> da aplicação do BDI. Caso foss<strong>em</strong> incluídos, talvez a <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong><strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos teria sido um pouco mais elevada. Vale ressaltar também que escalaspara avaliação psiquiátrica, tais como o BDI, não faz<strong>em</strong> diagnóstico <strong>de</strong> doença, uma vez queeste é <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente clínico. Essas escalas são úteis para rastreamento da doença e para seestimar sua <strong>prevalência</strong>, consi<strong>de</strong>rando-se s<strong>em</strong>pre que os números obtidos através <strong>de</strong>las sãomaiores que a freqüência real.A <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> 25% encontrada no presente estudo mostra que <strong>sintomas</strong><strong>de</strong>pressivos são comuns <strong>em</strong> pacientes que sofreram AVE. Por isso, profissionais da área dasaú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos para sinais ou <strong>sintomas</strong> sugestivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão nesses pacientes,para que um tratamento a<strong>de</strong>quado seja instituído, uma vez que a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão está9, 11relacionada a um pior prognóstico.Outros aspectos da associação entre AVE e <strong>de</strong>pressão ainda permanec<strong>em</strong> obscuros ecompõe um vasto campo <strong>de</strong> pesquisa. Por ex<strong>em</strong>plo, ainda é incerto se o diagnóstico precoceda <strong>de</strong>pressão melhora o prognóstico da recuperação do AVE e se existe alguma medida queprevina o aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão no período pós-AVE. Estudos sobre essa comorbida<strong>de</strong>são então necessários para que se haja progressos no ensino sobre o t<strong>em</strong>a e, principalmente,na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses pacientes.


156 CONCLUSÃOA <strong>prevalência</strong> <strong>de</strong> <strong>sintomas</strong> <strong>de</strong>pressivos mo<strong>de</strong>rados a graves avaliados através do BDI-13 <strong>em</strong> pacientes com história <strong>de</strong> AVE internados <strong>em</strong> enfermarias <strong>de</strong> Clínica Médica o HU-<strong>UFSC</strong> foi <strong>de</strong> 25%. Os <strong>sintomas</strong> cognitivo-afetivos mais prevalentes foram irritabilida<strong>de</strong>(33,3%), in<strong>de</strong>cisão (33,3%), anedonia (25%) e autopunição (25%).


16NORMAS ADOTADASEste trabalho foi realizado seguindo a normatização para trabalhos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> Medicina, resolução n° 001/2001, aprovada <strong>em</strong> reunião do Colegiadodo Curso <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina <strong>em</strong> 05 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001.


17REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Andreoli T, Bennet J, Carpenter C, Plum F. Cecil Medicina Interna Básica. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1997.2. Bays CL. Quality of life of stroke survivors: a research synthesis. J Neurosci Nurs2001;33(6):310-6.3. Carod-Artal J, Egido JA, Gonzalez JL, Varela <strong>de</strong> Seijas E. Quality of life amongstroke survivors evaluated 1 year after stroke: experience of a stroke unit. Stroke2000;31(12):2995-3000.4. Kim JS, Choi-Kwon S. Poststroke <strong>de</strong>pression and <strong>em</strong>otional incontinence: correlationwith lesion location. Neurology 2000;54(9):1805-10.5. Ch<strong>em</strong>erinski E, Robinson RG. The neuropsychiatry of stroke. Psychosomatics2000;41(1):5-14.6. Terroni L, Leite C, Tinone G, Fraguas R, Jr. Depressão pós-AVC: fatores <strong>de</strong> risco eterapêutica anti<strong>de</strong>pressiva. Rev Assoc Med Bras 2003;49(4):450-9.7. Kaplan H, Sadock B, Grebb J. Compêndio <strong>de</strong> Psiquiatria. 7th ed. Porto Alegre:ArtMed Editora; 1997.8. Singh A, Black SE, Herrmann N, Leibovitch FS, Ebert PL, Lawrence J, et al.Functional and neuroanatomic correlations in poststroke <strong>de</strong>pression: the SunnybrookStroke Study. Stroke 2000;31(3):637-44.9. Gainotti G, Marra C. Determinants and consequences of post-stroke <strong>de</strong>pression. CurrOpin Neurol 2002;15(1):85-9.10. Folstein MF, Maiberger R, McHugh PR. Mood disor<strong>de</strong>r as a specific complication ofstroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1977;40(10):1018-20.11. Ch<strong>em</strong>erinski E, Robinson RG, Kosier JT. Improved recovery in activities of dailyliving associated with r<strong>em</strong>ission of poststroke <strong>de</strong>pression. Stroke 2001;32(1):113-7.12. Palomaki H, Kaste M, Berg A, Lonnqvist R, Lonnqvist J, Lehtihalmes M, et al.Prevention of poststroke <strong>de</strong>pression: 1 year randomised placebo controlled doubleblind trial of mianserin with 6 month follow up after therapy. J Neurol NeurosurgPsychiatry 1999;66(4):490-4.13. Pohjasvaara T, Leppavuori A, Siira I, Vataja R, Kaste M, Erkinjuntti T. Frequencyand clinical <strong>de</strong>terminants of poststroke <strong>de</strong>pression. Stroke 1998;29(11):2311-7.


1814. Kauhanen ML, Korpelainen JT, Hiltunen P, Ni<strong>em</strong>inen P, Sotani<strong>em</strong>i KA, Myllyla VV.Domains and <strong>de</strong>terminants of quality of life after stroke caused by brain infarction.Arch Phys Med Rehabil 2000;81(12):1541-6.15. Tang WK, Chan SS, Chiu HF, Ungvari GS, Wong KS, Kwok TC, et al. PoststrokeDepression in Chinese Patients: Frequency, Psychosocial, Clinical, and RadiologicalDeterminants. J Geriatr Psychiatry Neurol 2005;18(1):45-51.16. Herrmann N, Black SE, Lawrence J, Szekely C, Szalai JP. The Sunnybrook StrokeStudy: a prospective study of <strong>de</strong>pressive symptoms and functional outcome. Stroke1998;29(3):618-24.17. Kellermann M, Fekete I, Gesztelyi R, Csiba L, Kollar J, Sikula J, et al. Screening for<strong>de</strong>pressive symptoms in the acute phase of stroke. Gen Hosp Psychiatry1999;21(2):116-21.18. MacHale SM, O'Rourke SJ, Wardlaw JM, Dennis MS. Depression and its relation tolesion location after stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1998;64(3):371-4.19. Kotila M, Numminen H, Waltimo O, Kaste M. Depression after stroke: results of theFINNSTROKE Study. Stroke 1998;29(2):368-72.20. Ramasubbu R, Patten SB. Effect of <strong>de</strong>pression on stroke morbidity and mortality. CanJ Psychiatry 2003;48(4):250-7.21. Robinson RG. Poststroke <strong>de</strong>pression: prevalence, diagnosis, treatment, and diseaseprogression. Biol Psychiatry 2003;54(3):376-87.22. Beck AT, Ward CH, Men<strong>de</strong>lson M, Mock J, Erbaugh J. An inventory for measuring<strong>de</strong>pression. Arch Gen Psychiatry 1961;4:561-71.23. Gorenstein D, Andra<strong>de</strong> L. Validation of a Portuguese version of the Beck DepressiveInventory and the State-Trait Anxiety Inventory in Brazilian subjects. Braz J MedBiol Res 1996;29:453-457.24. Furlanetto L, Mendlowicz M, Bueno J. The validity of Beck Depressive Inventory -Short Form as a screening and diagnostic instrument for mo<strong>de</strong>rate and severe<strong>de</strong>pression in medical inpatients. J Affect Disord. 2005. Aceito para publicação.25. Berg A, Palomaki H, Lehtihalmes M, Lonnqvist J, Kaste M. Poststroke <strong>de</strong>pression: an18-month follow-up. Stroke 2003;34(1):138-43.26. American Psychiatric Association., American Psychiatric Association. Task Force onDSM-IV. Diagnostic and statistical manual of mental disor<strong>de</strong>rs : DSM-IV. 4th ed.Washington, DC: American Psychiatric Association; 1994.


APÊNDICE19


20FICHA DE COLETA DE DADOS01- Nome:.............................................................................................…………………………………….. Pront.:..............End: .........................................................................................................................................N º. ......Apto:..............…Cida<strong>de</strong>:...............................................................UF:..........CEP:.....................Tel:........................Cel:..........................02- Sexo: □Masc □F<strong>em</strong> Ida<strong>de</strong>:........................ Data do Nasc.: ....../...../................03- Raça: □Branca □Parda □Negra □Amarela □Outras ............................04- Estado Civil: □Solteiro □Casado/Amasiado □Viúvo □Separado/Divorciado05- Escolarida<strong>de</strong>: .......anos Profissão:.............................................................. Aposentado? □não □sim06- Renda Familiar: ..................07- Quando teve o AVE: ...../....../.............123456789101112131415161718192021TOTALBDI

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