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amazônica caderno da região hidrográfica - UNIPAC Bom Despacho

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AMAZÔNICACADERNO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA


MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTESECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOSCADERNO DA REGIÃOHIDROGRÁFICAAMAZÔNICABRASÍLIA – DF


CADERNO DA REGIÃOHIDROGRÁFICAAMAZÔNICANOVEMBRO | 2006


Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio AmbienteSGAN 601 – Lote 1 – Edifício Sede <strong>da</strong> Codevasf – 4 o an<strong>da</strong>r70830-901 – Brasília-DFTelefones (61) 4009-1291/1292 – Fax (61) 4009-1820www.mma.gov.br – srh@mma.gov.brhttp://pnrh.cnrh-srh.gov.br – pnrh@mma.gov.brC122Catalogação na FonteInstituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisCaderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de RecursosHídricos. – Brasília: MMA, 2006.124 p. : il. color. ; 27cmBibliografiaISBN 85-7738-065-31. Brasil - Recursos hídricos. 2. Hidrografia. 3. Região <strong>hidrográfica</strong> Amazônica. I. Ministério do MeioAmbiente. II. Secretaria de Recursos Hídricos. III. Título.CDU(2.ed.)556.18


República Federativa do BrasilPresidente: Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> SilvaVice-Presidente: José Alencar Gomes <strong>da</strong> SilvaMinistério do Meio AmbienteMinistra: Marina SilvaSecretário-Executivo: Cláudio Roberto Bertoldo LangoneSecretaria de Recursos HídricosSecretário: João Bosco SenraChefe de Gabinete: Moacir Moreira <strong>da</strong> AssunçãoDiretoria de Programa de EstruturaçãoDiretor: Márley Caetano de MendonçaDiretoria de Programa de ImplementaçãoDiretor: Júlio Thadeu Silva KettelhutGerência de Apoio à Formulação <strong>da</strong> PolíticaGerente: Luiz Augusto BronzattoGerência de Apoio à Estruturação do SistemaGerente: Rogério Soares BigioGerência de Planejamento e CoordenaçãoGerente: Gilberto Duarte XavierGerência de Apoio ao Conselho Nacional deRecursos HídricosGerente: Franklin de Paula JúniorGerência de Gestão de Projetos de ÁguaGerente: Renato Saraiva FerreiraCoordenação Técnica de Combate à DesertificaçãoCoordenador: José Roberto de LimaCOORDENAÇÃO DA ELABORAÇÃO DO PLANO NACIONAL DERECURSOS HÍDRICOS (SRH/MMA)Diretor de Programa de EstruturaçãoMárley Caetano de MendonçaGerente de Apoio à Formulação <strong>da</strong> PolíticaLuiz Augusto BronzattoEquipe TécnicaAdelmo de Oliveira Teixeira MarinhoAndré do Vale AbreuAndré PolAdriana Lustosa <strong>da</strong> CostaDaniella Azevêdo de Albuquerque CostaDanielle Bastos Serra de Alencar RamosFlávio Soares do NascimentoGustavo Henrique de Araujo EccardGustavo MeyerHugo do Vale ChristofidisJaciara Apareci<strong>da</strong> RezendeMarco Alexandro Silva AndréMarco José Melo NevesPercy Baptista Soares NetoRoberto Moreira CoimbraRodrigo Laborne MattioliRoseli dos Santos SouzaSimone VendruscoloValdemir de Macedo VieiraViviani Pineli AlvesEquipe de ApoioLucimar Cantanhede VeranoMarcus Vinícios Teixeira MendonçaRosângela de Souza SantosProjetos de ApoioProjeto BID/MMA (Coordenador: Rodrigo Speziali de Carvalho)Projeto TAL AMBIENTAL (Coordenador: Fabrício Barreto)Projeto BRA/OEA 01/002 (Coordenador: Moacir Moreira <strong>da</strong>Assunção)ConsultorNaziano Pantoja Filizola Júnior


Ficha TécnicaProjeto Gráfico / Programação VisualProjects Brasil MultimídiaCapaArte: Projects Brasil MultimídiaFoto: Fernando Rezende (Rio Negro - Manaus - AM)RevisãoProjects Brasil MultimídiaEdiçãoProjects Brasil MultimídiaMyrian Luiz Alves (SRH/MMA)Priscila Maria Wanderley Pereira (SRH/MMA)ImpressãoGrafimaq


PrefácioO Brasil é um país megadiverso e privilegiado em termos de disponibili<strong>da</strong>de hídrica, abrigando cerca de 12% <strong>da</strong>s reservasmundiais de água doce, sendo que, se considerarmos as águas provenientes de outros países, esse índice se aproxima de 18%.No entanto, apresenta situações contrastantes de abundância e escassez de água, o que exige dos governos, dos usuários e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil, cui<strong>da</strong>dos especiais, organização e planejamento na gestão de sua utilização.Neste sentido, a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos – PNRH configura importante marco para a consoli<strong>da</strong>çãodo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e, conseqüentemente, para a gestão sustentável de nossas águas.Ademais, seu estabelecimento atende aos compromissos assumidos pelo Brasil na Cúpula Mundial de Joanesburgo (Rio+10), queapontou para a necessi<strong>da</strong>de dos países elaborarem seus planos de gestão integra<strong>da</strong> de recursos hídricos até 2005.A construção do PNRH contou com a participação de todos os segmentos envolvidos na utilização de recursos hídricos e tevecomo pressupostos a busca do fortalecimento <strong>da</strong> Política Nacional de Recursos Hídricos, a promoção de um amplo processo deenvolvimento e participação social, além <strong>da</strong> elaboração de uma base técnica consistente.Para subsidiar o processo de elaboração do PNRH, foram desenvolvidos diversos estudos, dentre eles documentos de caracterizaçãodenominados Cadernos Regionais para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s 12 Regiões Hidrográficas, defini<strong>da</strong>s pela Resolução do Conselho Nacionalde Recursos Hídricos n.º 32/2003, que configuram a base físico-territorial para elaboração e implementação do Plano.É importante ressaltar a efetiva colaboração <strong>da</strong>s Comissões Executivas Regionais - CERs, instituí<strong>da</strong>s por meio <strong>da</strong> Portarian.º 274/2004, integra<strong>da</strong>s por representantes <strong>da</strong> União, dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, dos usuários e organizaçõescivis de recursos hídricos.Neste contexto, a ampla divulgação do CADERNO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA AMAZÔNICA visa contribuir para a socializaçãode informações, bem como para o aperfeiçoamento do PNRH, cujo processo é contínuo, dinâmico e participativo.Marina SilvaMinistra do Meio Ambiente


SumárioApresentação ........................................................................................................................................................................131 | Plano Nacional de Recursos Hídricos .....................................................................................................................................152 | Concepção Geral ................................................................................................................................................................173 | Água: Desafios Regionais ....................................................................................................................................................194 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica .................................................................................................234.1 | Caracterização Geral <strong>da</strong> Região Hidrográfica ....................................................................................................................244.2 | Caracterização <strong>da</strong>s Disponibili<strong>da</strong>des Hídricas ...................................................................................................................344.3 | Principais Biomas e Ecossistemas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ...................................................................................464.4 | Caracterização do Uso e Ocupação do Solo ......................................................................................................................594.5 | Evolução Sociocultural ................................................................................................................................................684.6 | Desenvolvimento Econômico Regional e os Usos <strong>da</strong> Água ..................................................................................................744.7 | Implementação <strong>da</strong> Política de Recursos Hídricos e <strong>da</strong> Política Ambiental .............................................................................904.8 | Abrangência <strong>da</strong> Região Hidrográfica com o Paraguai e a Bolívia .........................................................................................965 | Análise de Conjuntura ......................................................................................................................................................1075.1 | Principais Problemas de Eventuais Usos Hegemônicos <strong>da</strong> Água .........................................................................................1085.2 | Principais Problemas e Conflitos pelo Uso <strong>da</strong> Água .........................................................................................................1095.3 | Vocações Regionais e seus Reflexos sobre os Recursos Hídricos ........................................................................................1096 | Conclusões .....................................................................................................................................................................113Referências .........................................................................................................................................................................119


Lista de FigurasFigura 1 – A Região Hidrográfica Amazônica (linha vermelha) no quadro <strong>da</strong> América do Sul ...............................................................20Figura 2 – Paisagem Amazônica e a interação: água, floresta e homem ...........................................................................................21Figura 3 – Caracterização <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica .........................................................................................................25Figura 4 – Diferenciação entre os limites <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica e <strong>da</strong> Amazônia Legal .......................................................26Figura 5 – Distribuição <strong>da</strong>s chuvas médias anuais na <strong>região</strong> Amazônica ..........................................................................................28Figura 6 – Hipsometria (e relevo) <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ..............................................................................................30Figura 7 – Geologia (períodos) <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ..................................................................................................31Figura 8 – Densi<strong>da</strong>de Populacional <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica .............................................................................................33Figura 9 – Disponibili<strong>da</strong>de Hídrica superficial (em m 3 hab -1 ano -1 ) na Região Hidrográfica Amazônica .....................................................36Figura 10 – Aspectos <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas na Região Hidrográfica Amazônica ..............................................................................39Figura 11 – Áreas desmata<strong>da</strong>s (km²) nos Municípios <strong>da</strong> Amazônia em 2002 .....................................................................................40Figura 12 – Terrenos sedimentares brasileiros onde há condições para existência de aqüíferos ............................................................42Figura 13 – Sistemas Aqüíferos na Região Hidrográfica Amazônica .................................................................................................43Figura 14 – Ecorregiões do Bioma Amazônico .............................................................................................................................47Figura 15 – Cobertura vegetal na Região Hidrográfica Amazônica ...................................................................................................49Figura 16 – Uni<strong>da</strong>des de Conservação na Região Hidrográfica Amazônica .........................................................................................52Figura 17 – Áreas prioritárias para conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de ..................................................................................................53Figura 18 – Ecorregiões Aquáticas na Região Hidrográfica Amazônica .............................................................................................55Figura 19 – Expansão antrópica na Região Hidrográfica Amazônica no período 1971-1991 .................................................................61Figura 20 – Série histórica de desflorestamento monitorado pelo programa Prodes/Inpe ....................................................................65Figura 21 – Terras indígenas na Região Hidrográfica Amazônica .....................................................................................................67Figura 22 – Índice de Desenvolvimento Humano - IDH <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica para o ano 2000 ..........................................73Figura 23 – Principais eixos de ligação na Região Hidrográfica Amazônica ......................................................................................77Figura 24 – Balanço entre oferta e deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica ..................................................................87Figura 25 – Participação na deman<strong>da</strong> de água (%) por setor consumidor na Região Hidrográfica Amazônica .........................................88Figura 26 – Deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica face aos principais usos consuntivos ...............................................89Figura 27 – Competição pela ocupação do espaço à margem de rio em ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Amazônia entre residências (palafitas), áreas de lazer,construção naval e transporte/beneficiamento de madeira ............................................................................................................95Figura 28 – Resumo dos aspectos institucionais relevantes no tocante à implantação <strong>da</strong>s políticas Ambiental e de Recursos Hídricos nosEstados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ...............................................................................................................................106


Lista de QuadrosQuadro 1 – Participação <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação (em %) na composição <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> Bacia Amazônica ......................................27Quadro 2 – Área e população residente nas Sub-regiões Hidrográficas componentes <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, bem como o totalpara a Região Hidrográfica Amazônica .......................................................................................................................................32Quadro 3 – Aspectos gerais <strong>da</strong>s águas superficiais na Região Hidrográfica Amazônica ........................................................................34Quadro 4 – Valores médios de vazões para as Sub-regiões Hidrográficas <strong>da</strong> Região Amazônica utiliza<strong>da</strong> para calcular a disponibili<strong>da</strong>de deágua superficial por habitante, de acordo com a classificação <strong>da</strong> Unesco .........................................................................................35Quadro 5 – Tipologia <strong>da</strong>s águas <strong>amazônica</strong>s e suas principais características de diferenciação tal qual como são encontra<strong>da</strong>s em seu estadonatural .................................................................................................................................................................................37Quadro 6. Características gerais dos principais Sistemas Aqüíferos <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica em termos de suas possibili<strong>da</strong>des deexplotação ............................................................................................................................................................................44Quadro 7 – Tabela de nomes para identificação <strong>da</strong>s ecorregiões do Bioma Amazônico correspondentes à numeração <strong>da</strong><strong>da</strong> na Figura 13 .....47Quadro 8 – Percentual <strong>da</strong> área <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica comprometi<strong>da</strong>s pelo processo de expansãode ativi<strong>da</strong>des antrópicas no período 1971-1991 ..........................................................................................................................62Quadro 9 – Fatores favoráveis e desfavoráveis à vi<strong>da</strong> do ribeirinho nas áreas de várzea <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica (caso do RioSolimões/Amazonas), condicionados pelo atual regime hidrológico ................................................................................................71Quadro 10 – Resumo <strong>da</strong> dieta alimentar do ribeirinho ao longo de trechos <strong>da</strong> calha do rio Solimões/Amazonas, perpassando áreas dealgumas Sub-regiões Hidrográficas ............................................................................................................................................72Quadro 11 – Valores de IDH médio, calculados para as Sub-regiões Hidrográficas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ..............................74Quadro 12 – Relação entre desmatamento em longo prazo e Índice de Desenvolvimento Humano - IDH ...............................................74Quadro 13 – Características <strong>da</strong>s principais hidrovias <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica Hidrográfica Amazônica ....................................79Quadro 14 – Perfil dos principais portos e terminais portuários <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ......................................................79Quadro 15 – Pólos de ecoturismo divulgados pela ADA como de relevante interesse para o desenvolvimento na Região Hidrográfica ...........Amazônica ............................................................................................................................................................................81Quadro 16 – Principais aproveitamentos hidrelétricos (AHEs) na Região Hidrográfica Amazônica ........................................................82Quadro 17 – Principais aproveitamentos hidrelétricos (AHEs) projetados para a Região Hidrográfica Amazônica ....................................82Quadro 18 – Quadro <strong>da</strong> situação <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica com relação a saneamento básico, especialmente abastecimento deágua e esgotamento sanitário ..................................................................................................................................................83Quadro 19 – Quantitativo do balanço entre oferta e deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica em m³.s -1 ..............................88Quadro 20 – Aspecto geral <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> política ambiental nos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ...............................98Quadro 21 – Evolução <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> política de Recursos Hídricos nos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, por meio <strong>da</strong>aprovação e publicação de legislação específica, bem como <strong>da</strong> atribuição de função executiva a órgão estadual competente ..................99


Lista de SiglasADA – Agência de Desenvolvimento <strong>da</strong> AmazôniaAHE – Aproveitamento HidrelétricoANA – Agência Nacional de ÁguasBID – Banco Interamericano de DesenvolvimentoCDS – Centro de Desenvolvimento SustentávelCelpa – Companhia de Eletrici<strong>da</strong>de do ParáCEM – Companhia de Eletrici<strong>da</strong>de de ManausCER – Comissão Executiva RegionalCiesin – Center for International Earth Science Information NetworkCMA – Comando Militar <strong>da</strong> AmazôniaCNBB – Conferência Nacional dos Bispos do BrasilCNRH – Conselho Nacional de Recursos HídricosCOPPE-UFRJ – Coordenação dos Programas de Pós-graduação deEngenharia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de JaneiroConama – Conselho Nacional de Meio AmbienteCPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais/ServiçoGeológico do BrasilCPT – Comissão Pastoral <strong>da</strong> TerraCAMREX – Carbon in the Amazon River ExperimentDNAEE– – Departamento Nacional de Água e Energia ElétricaEletronorte – Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/AEmbratel – Empresa Brasileira de TelecomunicaçõesFGV – Fun<strong>da</strong>ção Getúlio VargasGEE – Gases de Efeito Estu<strong>da</strong>GEF – Global Environmental Fund/Fundo Mundial para o Meio AmbienteGeipot – Empresa Brasileira de Planejamento de TransportesGIWA – Global International Water AssessmentGTA – Grupo de Trabalho AmazônicoHIBAM – Hidrologia e Geodinâmica <strong>da</strong> Bacia AmazônicaIbama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais RenováveisIBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento FlorestalIBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIDH – Índice de Desenvolvimento HumanoIepa – Instituto Estadual de Proteção Ambiental (Amapá)Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma AgráriaInpa – Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> AmazôniaInpe – Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisLBA – Experimento de Grande Escala <strong>da</strong> Biosfera-Atmosfera naAmazôniaMAB – Movimento dos Atingidos por BarragensMeta – Programa de Monitoramento Estratégico <strong>da</strong>sTransformações AmbientaisMPA – Movimento dos Pequenos AgricultoresMPEG – Museu Paraense Emilio GoeldiMMA – Ministério do Meio AmbienteMNHN – Museu Nacional de História NaturalMST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem TerraMZUSP – Museu de Zoologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São PauloOEA – Organização dos Estados AmericanosOEMA – Organismos Estaduais de Meio AmbienteOTCA – Organização do Tratado de Cooperação AmazônicaPCH – Pequena Central HidrelétricaPCN – Programa Calha NortePetrobras – Petróleo Brasileiro S/APiatam – Potenciais Impactos e Riscos ambientais <strong>da</strong> Indústria doPetróleo e Gás no AmazonasPIB – Produto Interno BrutoPIM – Pólo Industrial de ManausPND – Plano Nacional de DesenvolvimentoPNRH – Plano Nacional de Recursos HídricosPPG7 – Programa Piloto para a Proteção <strong>da</strong>s Florestas Tropicaisdo BrasilProdes – Projeto de Monitoramento <strong>da</strong> Floresta Amazônicapor SatéliteRa<strong>da</strong>m – Projeto Ra<strong>da</strong>r na AmazôniaRDS – Reserva de Desenvolvimento SustentávelRH – Região HidrográficaSDS –Secretaria de Estado do Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável (AM)Sectam – Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambientedo Estado do ParáSe<strong>da</strong>m – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (RO)SEARH – Secretaria Executiva Adjunta de Recursos Hídricos do Estadodo AmazonasSiagas – Sistema de Informações em Águas SubterrâneasSipam – Sistema de Proteção <strong>da</strong> AmazôniaSivam – Sistema de Vigilância <strong>da</strong> AmazôniaSOTER/LAC – Soil and Terrain Database/Latin America and CaribbeanSPVA – Superintendência de Valorização Econômica <strong>da</strong> AmazôniaSRH/MMA – Secretaria de Recursos Hídricos do ministério do MeioAmbienteSudepe – Superintendência de Desenvolvimento <strong>da</strong> PesaSUDHEVEA – Superintendência para o Desenvolvimento <strong>da</strong> BorrachaSuframa – Superintendência de Desenvolvimento <strong>da</strong> Zona Franca deManausTDR – Termo de ReferênciaUC – Uni<strong>da</strong>de de ConservaçãoUFAM – Universi<strong>da</strong>de Federal do AmazonasUHE – Usina HidrelétricaUnesco – Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Educação, Ciência eCulturaUNEP – Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o Meio AmbienteUnB – Universi<strong>da</strong>de de BrasíliaWWF – World Wildlife Fund (Fundo Mundial para a Vi<strong>da</strong> Selvagem)TNC – The Nature ConservancyZEE – Zoneamento Econômico-Ecológico


Foto: Eduardo Junqueira Santos (Rio Tapajós - Alter do Chão - PA)


ApresentaçãoEste documento tem por base os estudos regionais desenvolvidospara subsidiar a elaboração do Plano Nacional deRecursos Hídricos - PNRH.Os Cadernos <strong>da</strong>s Regiões Hidrográficas são estudos voltadospara o estabelecimento de um Diagnóstico Básico e deuma Visão Regional dos Recursos Hídricos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s12 Regiões Hidrográficas Brasileiras, destacando-se seu fortecaráter estratégico.Dentro dos trabalhos do PNRH, ca<strong>da</strong> Caderno de Região Hidrográficaapresenta estudos retrospectivos, avaliação de conjuntura,e uma proposição de diretrizes e priori<strong>da</strong>des regionais. Paraconsubstanciar estes produtos, os documentos trazem uma análisede aspectos pertinentes à inserção macrorregional <strong>da</strong> <strong>região</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong>,em vista <strong>da</strong>s possíveis articulações com regiões vizinhas.O presente documento constitui o Caderno <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica. O Caderno é parte integrante<strong>da</strong> estratégia para a construção do PNRH, instrumento<strong>da</strong> Política Nacional de Recursos Hídricos previsto naLei n.º 9.433/1997. Este <strong>caderno</strong> encontra-se divididoem três partes, conforme descrito a seguir.Primeiramente são apresentados os objetivos do trabalhoquanto ao Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica e suainserção no processo de desenvolvimento do PNRH. Tem estaparte do documento, caráter introdutório aos tópicos correspondentesà contextualização do Caderno na elaboração doPlano Nacional de Recursos Hídricos.Ain<strong>da</strong> na primeira parte, são apresentados aspectos relativosà concepção geral e quanto ao processo de preparação do<strong>caderno</strong>. Abor<strong>da</strong> esta etapa, em seu término o tema: Águas– Desafios Regionais, ressaltando em linhas gerais as principaisquestões a serem respondi<strong>da</strong>s na <strong>região</strong> para a implementaçãodo Plano Nacional de Recursos Hídricos.Dando seqüência, na segun<strong>da</strong> parte, o documento se desenvolveno sentido de apresentar uma análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>região</strong> em apreço. Deste modo, o documento apresenta itensquanto à caracterização e análise retrospectiva <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica finalizando com uma análise de conjuntura.A segun<strong>da</strong> parte do Caderno foi detalha<strong>da</strong> em oito tópicos.Seguindo esta subdivisão, o texto, de caracterização regional,concentra-se inicialmente em alguns estudos anteriores, nosaspectos físicos e ambientais, comentando disponibili<strong>da</strong>deshídricas. Apresenta uma visão geral dos principais biomas eecossistemas <strong>da</strong> Região Hidrográfica e uma caracterizaçãodo uso e ocupação do solo.Continuando, ain<strong>da</strong> sobre a reali<strong>da</strong>de regional, o textoapresenta aspectos socioambientais relacionados à evoluçãosociocultural <strong>da</strong> <strong>região</strong>, bem como, ao desenvolvimento econômicoregional e os usos <strong>da</strong> água. A análise retrospectiva éfinaliza<strong>da</strong>, com um histórico dos conflitos pelo uso <strong>da</strong> água,além de comentar sobre a implementação <strong>da</strong>s políticas derecursos hídricos e ambiental.Em relação à análise de conjuntura, este discorre sobrealguns eventuais usos hegemônicos <strong>da</strong> água, aos problemase conflitos pelo uso <strong>da</strong> água, terminando por abor<strong>da</strong>raspectos <strong>da</strong>s vocações regionais e seus reflexos sobre osrecursos hídricos.Finalmente, na terceira parte do documento, são apresenta<strong>da</strong>sas conclusões e as referências consulta<strong>da</strong>s.Conforme as diretrizes para a elaboração do PlanoNacional de Recursos Hídricos (CNRH, 2000), “maisimportante do que se contar imediatamente com to<strong>da</strong>s asinformações necessárias ao PNRH, com o nível de precisãodesejável, é programar a sua elaboração de formaa obter aperfeiçoamentos progressivos, indicando-se semprea necessi<strong>da</strong>de de obtenção de melhores <strong>da</strong>dos”. Nessecontexto, os Cadernos Regionais apresentam informaçõesmais detalha<strong>da</strong>s do que aquelas constantes <strong>da</strong> primeiraversão do PNRH (2006), que servirão de subsídio às revisõesperiódicas do Plano, previstas na resolução CNRHn. o 58/2006. Também a integração de bancos de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>sdiversas instituições geradoras de informações, conformesuas respectivas competências, conduzirá a um progressivorefinamento e harmonização dessas informações, aserem incorporados nas sucessivas reedições do PNRH.13


Foto: Fernando Rezende (Cachoeira do Araribóia - Presidente Figueiredo - AM)


1 | Plano Nacional de Recursos HídricosA Lei nº 9.433/1997 criou o Sistema Nacional de Gerenciamentode Recursos Hídricos – SINGREH e estabeleceuos instrumentos <strong>da</strong> Política Nacional de Recursos Hídricos,entre os quais se destacam os Planos de Recursos Hídricos,definidos como planos diretores que visam a fun<strong>da</strong>mentare orientar a implementação <strong>da</strong> Política Nacional de RecursosHídricos e o Gerenciamento dos recursos hídricos (art.6º), devendo ser elaborados por bacia <strong>hidrográfica</strong> (Planode Bacia), por Estado (Planos Estaduais) e para o País (PlanoNacional), conforme o art. 8 o <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> lei. O PlanoNacional de Recursos Hídricos – PNRH, constitui-se emum planejamento estratégico para o período de 2005-2020,que estabelece diretrizes, metas e programas, pactuados socialmentepor meio de um amplo processo de discussão,que visam assegurar às atuais e futuras gerações a necessáriadisponibili<strong>da</strong>de de água, em padrões de quali<strong>da</strong>de adequadosaos respectivos usos, com base no manejo integradodos Recursos Hídricos.O PNRH deverá orientar a implementação <strong>da</strong> PolíticaNacional de Recursos Hídricos, bem como o Gerenciamentodos Recursos Hídricos no País, apontando os caminhospara o uso <strong>da</strong> água no Brasil. Da<strong>da</strong> a natureza do PNRH,coube à SRH/MMA, a coordenação para a sua elaboração(Decreto nº 4.755 de 20 de junho de 2003, substituído peloDecreto n. o 5776, de 12 de maio de 2006).O Plano encontra-se inserido no PPA 2004-2007 e configura-secomo uma <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong>des do Ministério do MeioAmbiente e do Governo Federal. Cabe ressaltar o carátercontinuado que deve ser conferido a esse Plano Nacional deRecursos Hídricos, incorporando o progresso ocorrido e asnovas perspectivas e decisões que se apresentarem.Com a atribuição de acompanhar, analisar e emitir parecersobre o Plano Nacional de Recursos Hídricos, foi cria<strong>da</strong>,no âmbito do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, aCâmara Técnica do PNRH – CTPNRH/CNRH, por meio <strong>da</strong>Resolução CNRH nº 4, de 10 de junho de 1999. Para provera necessária função executiva de elaboração do PNRH, aCTPNRH/ CNRH criou o Grupo Técnico de Coordenaçãoe Elaboração do Plano – GTCE/PNRH, composto pela Secretariade Recursos Hídricos – SRH/MMA e pela AgênciaNacional de Águas – ANA. O GTCE/PNRH configura-se,portanto, como o Núcleo Executor do PNRH, assumindo afunção de suporte à sua execução técnica.A base físico-territorial utiliza<strong>da</strong> pelo PNRH segue as diretrizesestabeleci<strong>da</strong>s pela Resolução CNRH nº 30, de 11 dedezembro de 2002, adota como recorte geográfico para seunível 1 a Divisão Hidrográfica Nacional, estabeleci<strong>da</strong> pelaResolução CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003, quedefine 12 regiões <strong>hidrográfica</strong>s para o País.No âmbito <strong>da</strong>s 12 Regiões Hidrográficas Nacionais foiestabelecido um processo de discussão regional do PNRH.Essa etapa é fun<strong>da</strong>mentalmente basea<strong>da</strong> na estruturação de12 Comissões Executivas Regionais – CERs, na realizaçãode 12 Seminários Regionais de Prospectiva e de 27 EncontrosPúblicos Estaduais. As CERs, instituí<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> PortariaMinisterial nº 274, de 4 de novembro de 2004, têm afunção de auxiliar regionalmente na elaboração do PNRH,bem como participar em suas diversas etapas.Sua composição obedece a um equilíbrio entre representantesdos Sistemas Estaduais de Gerenciamento de RecursosHídricos, dos segmentos usuários <strong>da</strong> água, <strong>da</strong>s organizações<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e <strong>da</strong> União.O processo de elaboração do PNRH baseou-se num conjuntode discussões, informações técnicas que amparam oprocesso de articulação política, proporcionando a consoli<strong>da</strong>çãoe a difusão do conhecimento existente nas diversasorganizações que atuam no Sistema Nacional e nos SistemasEstaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos.15


Foto: Eduardo Junqueira Santos (Rio Tapajós - Alter do Chão - PA)


2 | Concepção GeralO estudo apresentado neste Caderno teve o objetivode fornecer subsídios aos trabalhos de elaboração dosdocumentos básicos do Plano Nacional de Recursos Hídricosnesta porção do território nacional. O Cadernoinsere-se no processo de elaboração do PNRH, buscandoir ao encontro dos desafios regionais no tema água com<strong>da</strong>dos e informações sobre a situação atual dos recursoshídricos na Região Hidrográfica Amazônica. O texto nãotem a pretensão de exaurir o tema, e sim colaborar cominformações pertinentes e úteis para técnicos planejadorese o público em geral.Dentro <strong>da</strong> metodologia adota<strong>da</strong> na elaboração do Caderno,merece destaque a participação dos membros <strong>da</strong> ComissãoExecutiva Regional - CER <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica. A CER contribuiu com o levantamento básicode informações, com sugestões e correções quanto ao textoe aos <strong>da</strong>dos utilizados. Este conteúdo, fornecido pela CER,foi então a<strong>da</strong>ptado, de forma a se incorporar ao texto finalvalorizando o Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica.Contudo, não foram realiza<strong>da</strong>s pesquisas específicas com oobjetivo de produzir novos <strong>da</strong>dos e gerar informações inéditas,estando o levantamento de <strong>da</strong>dos, em sua maioria, pautadoem fontes de informação secundárias. Assim, uma vezsistematiza<strong>da</strong>s, as informações obti<strong>da</strong>s de diferentes fontesbibliográficas e sítios na Internet, realizou-se a compilaçãodos <strong>da</strong>dos, ain<strong>da</strong> que muitas vezes incongruentes entre si.A solução <strong>da</strong>s incongruências deu-se com a escolha deuma visão em escala mais ampla <strong>da</strong> <strong>região</strong> e de uma seleçãode referências bibliográficas preferencialmente oriun<strong>da</strong>s deinstituições oficiais (Ibama, Inpe, ANA, SRH/MMA/PNRH,IBGE, entre outros.) e também de artigos científicos relevantes,produzidos por diferentes grupos de estudiosos <strong>da</strong>academia ou de ONGs com destaca<strong>da</strong> experiência na abor<strong>da</strong>gem<strong>da</strong>s questões Amazônicas.O material de referência utilizado foi complementadopor notas <strong>da</strong> imprensa, mas sempre atrela<strong>da</strong>s a uma <strong>da</strong>quelasinstituições supracita<strong>da</strong>s. Desta forma, na bibliografiado Caderno estão algumas <strong>da</strong>s publicações mais recentese relevantes, em relação aos temas tratados no texto. Esteconjunto de <strong>da</strong>dos e informações permitiu por meio destetrabalho, apresentar um panorama conciso <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deatual <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica.Ain<strong>da</strong> assim, incongruências podem ter persistido notexto final deste Caderno, sendo justifica<strong>da</strong>s em face <strong>da</strong>sdificul<strong>da</strong>des naturais do contexto regional e <strong>da</strong> grandemassa difusa de informações sobre esta vasta Região Hidrográficaque, por vezes, não permitiram selecionar naprópria <strong>região</strong> informações recentes em fontes oficiaislocais. Finalmente, merece destaque o esforço e dedicaçãocom que se empenhou a equipe do GTCE/PNRH,cuja atuação se mostrou imprescindível e fun<strong>da</strong>mentalna revisão e finalização deste trabalho.17


Foto: Fernando Rezende (Represa Hidrelétrica de Balbina - AM)


3 | Água: Desafios RegionaisA Região Hidrográfica Amazônica representa cercade 40% do território brasileiro e possui mais de 60% deto<strong>da</strong> a disponibili<strong>da</strong>de hídrica do País. Os recursos hídricosdesta <strong>região</strong>, abun<strong>da</strong>ntes e até hoje pouco explorados,constituem um patrimônio nacional para o qual a naçãobrasileira não pode voltar as costas. Região de grandes contrastesnaturais e humanos, a Região Hidrográfica Amazônica(Figura 1) tem na gestão de seus recursos naturais, na qualse inclui a água e o processo de implementação de sua gestão,um grande desafio.Em várias escalas do espaço geográfico Amazônico, percebem-sequestões vincula<strong>da</strong>s à água. Na escala regional,têm-se problemas vinculados aos regimes dos grandesrios, sua tipologia e disponibili<strong>da</strong>de hídrica, afeta<strong>da</strong>s porquestões relaciona<strong>da</strong>s com a expansão <strong>da</strong>s ações antrópicascomo: o desmatamento, a mineração, e a monoculturade grãos, dentre outras.Na escala de detalhe e/ou local, os problemas principaisenvolvem o saneamento, em especial nas áreas urbanas, aquestão fundiária, os conflitos em relação aos usos preponderantes<strong>da</strong> água (irrigação, consumo humano, etc.) e o usoindiscriminado <strong>da</strong> água subterrânea. Essa pressão antrópica,que a <strong>região</strong> vem sofrendo, ain<strong>da</strong> não compromete a grandeabundância de água existente na Amazônia. Porém, as pressões,acontecendo em uma veloci<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez maior emum ecossistema sensível e vulnerável, repleto de desafiose esperanças, preenchem o imaginário nacional quanto àssuas perspectivas de desenvolvimento e sustentabili<strong>da</strong>de.No contexto <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de, algumas alternativas dedesenvolvimento podem ser vistas como vocações regionais,dentre as quais se destacam: a indústria do eco-turismo,a aqüicultura, o uso <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de para produçãode fármacos e a indústria de transformação de baixo impacto(eletro-eletrônica, por exemplo). Sendo que hoje, muitasdessas ativi<strong>da</strong>des, já ocorrem na RH, de maneira independentedo estabelecimento de políticas públicas específicas.O que preocupa, a médio e longo prazo, a questão <strong>da</strong> gestãodos seus recursos naturais.Assim, a Região Hidrográfica Amazônica tem passadopor grandes transformações, fruto de um desenvolvimentoque se dá de forma aleatória apresentando dificul<strong>da</strong>despara a efetiva implementação de políticas públicas. Asustentabili<strong>da</strong>de dessas políticas na Região Hidrográficatem se mostrado frágil. Tal fragili<strong>da</strong>de tem bases tanto nasidiossincrasias <strong>da</strong>s diferentes esferas de governo, quantonas dificul<strong>da</strong>des naturais <strong>da</strong> administração pública em caminharà frente de um processo de ocupação, que seguemais rápido do que sua capaci<strong>da</strong>de de planejamento.A ação <strong>da</strong>s instituições públicas, de um modo geral, na<strong>região</strong> (nas várias esferas de poder) é ain<strong>da</strong> bastante frágil.Isso ocorre especialmente naqueles setores onde háforte interação com o meio ambiente, como é o caso dosrecursos hídricos. As iniciativas públicas estão muitas vezesbasea<strong>da</strong>s em uma agen<strong>da</strong> que nem sempre reflete apolítica do Estado, mas a de governos temporários. Carece,portanto, a Região Hidrográfica Amazônica, de umavisão sistêmica, onde as instituições dos setores público eprivado possam trabalhar de forma integra<strong>da</strong> em busca <strong>da</strong>consoli<strong>da</strong>ção de um projeto regional comum.Diante <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de institucional, o estabelecimento demarcos legais, de forma a regular as ações de vários setoreseconômicos é uma necessi<strong>da</strong>de e um desafio na Amazônia.E, embora dificultoso e, muitas vezes lento, percebe-se <strong>da</strong>parte do Governo Brasileiro um efetivo empenho na tentativade desenvolver de forma compartilha<strong>da</strong>, alternativascom foco na definição e implantação de políticas públicaspara a Região Hidrográfica.Além dos esforços brasileiros, movimentos direcionadospara integrar as “Amazônias” dos diferentes países que compõema <strong>região</strong> em âmbito continental, têm sido realizados,19


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicacomo a criação <strong>da</strong> Organização do Tratado de CooperaçãoAmazônica – OTCA.O desafio <strong>da</strong> gestão compartilha<strong>da</strong> dos recursos hídricos,utilizando a Bacia Hidrográfica como uni<strong>da</strong>de integradora deações, tem um largo espectro de importância no contexto <strong>da</strong>Região Hidrográfica Amazônica. Dentro desse espectro, que,sem a gestão, a médio e longo prazo, apresenta forte tendênciaà geração e/ou ampliação de conflitos, se situa a possibili<strong>da</strong>dede integrar de maneira mais harmônica e sustentávelas ações de vários e poderosos atores econômicos. Atores esses,que hoje atuam de forma independente e exploratória,comprometendo a sustentabili<strong>da</strong>de do ecossistema como umtodo, em detrimento de interesses individuais. Assim, há necessi<strong>da</strong>dede uma nova ordem para direcionar as ações dessesatores, volta<strong>da</strong> à sustentabili<strong>da</strong>de regional dos recursos naturais,incluindo aí certamente a água.Em síntese, a Amazônia é um sistema complexo. Estudálapor setor, é uma alternativa extremamente váli<strong>da</strong> e, que,sem dúvi<strong>da</strong> pode aju<strong>da</strong>r muito a entendê-la. Porém essaabor<strong>da</strong>gem limita a compreensão de sua essência. E, é exatamenteatravés <strong>da</strong> essência, inerente ao sistema Amazônicoem sua totali<strong>da</strong>de, que se poderá garantir um desenvolvimentoharmônico, integrado e sustentado.Na busca dessas garantias está a perspectiva <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>Região Hidrográfica, a partir do conceito de Bacia Hidrográfica;uma visão transversal e não mais apenas setorial e por vezesexcessivamente tecnicista. A reali<strong>da</strong>de aponta, portanto,para uma visão sistêmica <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica20Fonte: Bases do PNRH (2005)Figura 1 – A Região Hidrográfica Amazônica (linha vermelha) no quadro <strong>da</strong> América do Sul


3 | Água: Desafios Regionaise para isso se faz necessário uma abor<strong>da</strong>gem nova e independente.Neste sentido o maior desafio a ser enfrentado noque diz respeito à água na <strong>região</strong> é o de como incluir definitivamentee de maneira responsável, a água e os atores, queatuam em estreita relação com ela (Figura 2), num contextode uma uni<strong>da</strong>de integradora do bioma Amazônico.21Foto: Naziano FilizolaFigura 2 – Paisagem Amazônica e a interação: água, floresta e homem


Foto: Eduardo Junqueira Santos (Rio Tapajós - Alter do Chão - PA)


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> RegiãoHidrográficaDesde o período entre os anos 1970 e 1980 o ecossistemaamazônico vem sendo um tema de estudo bastante presenteno seio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científica internacional, principalmentepor conter grande apelo <strong>da</strong> mídia, muito foca<strong>da</strong> naquestão ambiental. Assim, o contexto que envolvia a <strong>região</strong>àquela época contribuiu muito para a formação de equipese projetos de pesquisas multidisciplinares.Os resultados <strong>da</strong>queles estudos produziram publicaçõesde grande importância para o avanço do conhecimento <strong>da</strong><strong>região</strong>, como a de Sioli (1984), intitula<strong>da</strong> “The Amazon:Limnology and Landscape Ecology of a Mighty Tropical Riverand its Basin (Monographiae Biologicae)”, que constituiuma coletânea de artigos de diversos autores, sendo uma<strong>da</strong>s referências mais importantes de caráter multidisciplinar<strong>da</strong>s pesquisas sobre a Amazônia.Além <strong>da</strong> referência de Sioli, outras publicações importantese também de cunho científico merecem destaque:The Amazon River of Brazil (STERNBERG, 1975), Keyenvironments: Amazonia (PRANCE & LOVEJOY, 1985);Biogeography and Quaternary History in Tropical America(WHITMORE & PRANCE, 1987) e Amazonian floodplains:their ecology, present and potential use (JUNK, 1982).Os resultados destas pesquisas científicas tiveram grandeimpacto sobre a política socioeconômica dos países amazônicos,em especial na Amazônia brasileira. Esses resultadosfavoreceram também um forte engajamento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deinternacional na temática <strong>da</strong>s águas na Amazônia resultandona ampliação dos projetos de pesquisa, muitos dos quaiscoordenados e/ou com expressiva participação de instituiçõese de pesquisadores brasileiros.Dentre os trabalhos já executados e/ou em execução, naescala <strong>da</strong> grande Bacia merecem destaque, pela expressivarelevância técnica de seus resultados, os projetos: Alpha-Helix, Camrex, Hibam, Lba, e Piatam, dentre outros, comenvolvimento de várias instituições nacionais (INPA, ANA,INPE, Petrobras, UFAM, USP, UnB, UFRJ, MPEG, UFPA,etc.) e internacionais (NASA, IRD, USGS, Inst. Max Planck,Univ. Washington, Univ. Maryland, Univ. Toulouse, etc.).Até o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, os projetos de pesquisade cunho primordialmente científico, interessavam-se,principalmente, em estu<strong>da</strong>r as interações entre terra (meiobiótico), água (rios) e ar (atmosfera), envolvendo por vezes,também aspectos de clima, de ativi<strong>da</strong>des humanas e de suasrelações com o meio ambiente amazônico. Não havia ain<strong>da</strong>,especialmente no Brasil, o foco na gestão dos recursos hídricos.Portanto, no atual momento histórico, o salto necessárioconsiste em incorporar aquele conhecimento científicocomo subsídio que contribua para o estabelecimento depolíticas públicas quanto à gestão <strong>da</strong>s águas na Amazônia.Um primeiro trabalho com este intuito, buscando montar ummosaico <strong>da</strong> <strong>região</strong>, fazendo uma avaliação dos recursos hídricose sugerindo a aplicação de políticas públicas, foi realizado dentrodo escopo do Global International Water Assessment - GIWA.Este trabalho (UNEP, 2004), foi realizado pela Universi<strong>da</strong>de deKalmar, <strong>da</strong> Suécia, para o Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para oMeio Ambiente com financiamento do Fundo Mundial para oMeio Ambiente - Global Environmental Fund – GEF.No escopo <strong>da</strong> publicação GIWA-Amazon basin 40b (UNEP,2004), foram analisados alguns aspectos relevantes <strong>da</strong> <strong>região</strong>Amazônica continental considerando os quantitativos deágua, a poluição, questões socioeconômicas e ambientais.Além disso, a temática <strong>da</strong> pesca e demais recursos vivos e <strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças climática globais também foram coloca<strong>da</strong>s.O GIWA realizou um estudo mais aprofun<strong>da</strong>do, utilizandointeressante metodologia de análise causal, na Bacia do RioMadeira, considera<strong>da</strong> como uma Bacia que sintetiza diversostemas Amazônicos, aliados à questão de sua importância socioeconômicae o ao fato de ser uma Bacia transfronteiriça.23


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica24Ain<strong>da</strong> a respeito do GIWA, dentre os tópicos estu<strong>da</strong>dos,mereceram destaque, quanto aos impactos que geram emrelação aos sistemas aquáticos, aqueles relacionados com asinterferências humanas na paisagem, no habitat de seres vivos,bem como na modificação dos padrões de organização<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des. Tais modificações foram considera<strong>da</strong>scomo as mais significativas para a gestão e relacionam-se aquestões de ordem econômica, social e de saúde na BaciaAmazônica. O relatório do projeto para a Bacia Amazônicapode ser acessado via Internet, no endereço: http://www.GIWA.net/publications/r40b.phtml.Importante, também, têm sido as ações desencadea<strong>da</strong>spelo Programa de Proteção <strong>da</strong>s Florestas Tropicais Brasileiras(conhecido como PPG7). Apesar de não ter uma relaçãodireta com os recursos hídricos, esse tema, com sua característicade transversali<strong>da</strong>de certamente encontra um lugarna pauta de definições <strong>da</strong>quele Programa.O PPG7, definido como uma iniciativa do governo e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de brasileira, em parceria com a comuni<strong>da</strong>de internacional,tem como objetivos desenvolver estratégiasinovadoras para a proteção e uso sustentável <strong>da</strong>s florestasbrasileiras, recurso diretamente dependente <strong>da</strong> água, porrazões óbvias. Dentre essas florestas inclui-se a Amazônica,onde também são busca<strong>da</strong>s ações volta<strong>da</strong>s para o desenvolvimentoe melhoria na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populaçõeslocais (ver: www.mma.gov.br).Sendo assim, as ações do PPG7, têm conseqüências importantespara futuras iniciativas de gestão integra<strong>da</strong> dos recursoshídricos. Atualmente, frutos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desse programa dãosuporte e orientação à política ambiental brasileira, como porexemplo, o Programa de Áreas Protegi<strong>da</strong>s. Tal programa, naAmazônia, tem servido de base para a política de preservaçãoambiental, apesar <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de adequações, em muitosaspectos, como fiscalização, recursos humanos, entre outros.Recentemente, outra proposta envolvendo a Amazônia,desta vez com o respaldo <strong>da</strong> OTCA, a Organizaçãodo Tratado de Cooperação Amazônica, está em fase deinicialização. A OTCA busca, pela primeira vez, umaperspectiva de gerenciamento e integração <strong>da</strong> <strong>região</strong>,envolvendo todos os países Amazônicos, tendo a águacomo fio condutor. Esta iniciativa foi formata<strong>da</strong> comoprojeto, acor<strong>da</strong>do entre a Secretaria Geral <strong>da</strong> Organizaçãodos Estados Americanos (OEA) e a Secretaria Permanente<strong>da</strong> OTCA. O objetivo do projeto é, utilizandorecursos do GEF, propor alternativas de manejo integradoe sustentável dos recursos hídricos transfronteiriçosna Bacia Amazônica.4.1 | Caracterização Geral <strong>da</strong> Região HidrográficaA Amazônia é conheci<strong>da</strong> por sua grande disponibili<strong>da</strong>dehídrica, o que se dá por uma densa rede de drenagem entrecortandouma vasta <strong>região</strong> geográfica com rios, lagos eigarapés com grande variabili<strong>da</strong>de tanto na extensão, quantona largura dos rios, bem como no volume de água poreles transportado.A Região Hidrográfica Amazônica, na forma como étrata<strong>da</strong> neste Caderno (Figura 3), está inseri<strong>da</strong> no quadrantedefinido pelas coordena<strong>da</strong>s: 05º20’N/048°20’W e16°20’S/074°00W, sendo que o rio Amazonas lança suaságuas no Oceano Atlântico aproxima<strong>da</strong>mente ao nível <strong>da</strong>linha do Equador, na altura dos 50°W de longitude.Ocupando uma área total de 6.925.674 km², desde asnascentes do rio Amazonas nos Andes Peruanos até suafoz no Oceano Atlântico, a Região Hidrográfica Amazônica,tem no Brasil 63,88% do seu território. Nos demaispaíses que a compõem, numa visão continental,portanto, além do mostrado na Figura 3, a <strong>região</strong> temrespectivamente: 16,14% na Colômbia, 15,61% na Bolívia,2,31 % no Equador, 1,35 % na Guiana, 0,60 % noPeru e 0,11% na Venezuela, de participação em sua áreatotal (FILIZOLA et al., 2002).Em território brasileiro, a superfície <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica, conforme definição <strong>da</strong> Resolução n. o 32 doConselho Nacional de Recursos Hídricos, de 15 de outubrode 2003, compreende áreas pertencentes a sete Estados <strong>da</strong>Federação (Quadro 1) e ocupa, aproxima<strong>da</strong>mente, 3,8 milhõesde km 2 do território nacional. Neste sentido, a RegiãoHidrográfica Amazônica é menor do que a área defini<strong>da</strong> doponto de vista de desenvolvimento regional, como Amazônia-Legal,sendo ain<strong>da</strong>, que as duas regiões apresentamlimites distintos, como apresentado na Figura 3.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica25Fonte: Bases do PNHR (2005)Figura 3 – Caracterização <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica26Para fins de gestão dos recursos hídricos e estudo, maisaprofun<strong>da</strong>do, a Região Hidrográfica Amazônica é ain<strong>da</strong> dividi<strong>da</strong>,em primeiro nível (Sub 1), num total dez Sub-regiõesHidrográficas, ou Sub-regiões Hidrográficas (Figura 4). Esseprimeiro nível, em que foi dividi<strong>da</strong> a Região HidrográficaAmazônica, tem sido utilizado como uma cama<strong>da</strong> principal,sobre a qual a Secretaria de Recursos Hídricos do Ministériode Meio Ambiente - SRH/MMA tem avaliado, no escopodos trabalhos de elaboração do Plano Nacional de RecursosHídricos - PNRH, a proposta de se estabelecer um segundonível de divisão (Sub 2).Na proposta de Sub 2, pretende-se gerar um total de 49Sub-regiões Hidrográficas inclusas nas de nível 1 e por issoditas de nível 2. O objetivo desta segun<strong>da</strong> divisão é partede uma estratégia para facilitar as futuras ações de gestãona Bacia de forma mais dinâmica. No entanto, para efeitode análise e comentário, no presente documento, a escalade trabalho está restrita à primeira subdivisão, ou Sub 1,porém as coleta<strong>da</strong>s de <strong>da</strong>dos se deram preferencialmente aonível <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> divisão, ou Sub 2.Ain<strong>da</strong> com relação à escala de trabalho e sua relaçãocom os <strong>da</strong>dos e informações aqui apresentados, é precisodizer que, por vezes, algumas análises são referencia<strong>da</strong>s àAmazônia, entendi<strong>da</strong> como Bioma, e/ou ain<strong>da</strong> no sentido<strong>da</strong> Amazônia-Legal. No entanto, a devi<strong>da</strong> ressalva é indica<strong>da</strong>no texto sempre que necessário. Assim se procedeu,em virtude <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des de se obter <strong>da</strong>dos congruentesentre as diferentes fontes consulta<strong>da</strong>s, mesmo que oficiais.Sempre que possível, o conjunto de <strong>da</strong>dos e informaçõesserá a<strong>da</strong>ptado à área defini<strong>da</strong> pelo CNRH como a RegiãoHidrográfica Amazônica.HidrografiaA hidrografia <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica apresenta,além do curso principal, o rio Solimões/Amazonas, comdimensões únicas no globo (mais de 6.000 km <strong>da</strong> nascenteaté a foz e a maior descarga de água doce lança<strong>da</strong> aos oceanos),tributários, também, de grande monta. Assim, umvasto e denso conjunto de rios e cursos de água de menorextensão e volume, constituem uma grande rede naturalapta ao transporte fluvial, que se estende por to<strong>da</strong> a RegiãoHidrográfica com mais de 50 mil km de trechos navegáveis.Dentre os principais e maiores cursos de água, tributáriosdo Amazonas, destacam-se, pela margem direita, osrios Javarí, Juruá, Jutaí, Purús, Madeira, Tapajós e Xingue, pela margem esquer<strong>da</strong>, os rios Iça, Japurá, Negro, Uatumã,Nhamundá, Trombetas e Jari.Indo além dos grandes tributários, incluindo algunsoutros rios de referência na Bacia, se pode utilizar <strong>da</strong> hidrografiae <strong>da</strong>s respectivas áreas de drenagem dos rios assimconsiderados, para melhor identificar e caracterizar ocontexto <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas de nível 1. Assim,Região Hidrográfica AmazônicaAmazônia LegalFonte: Bases do PNRH (2005)Figura 4 – Diferenciação entre os limites <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica e <strong>da</strong> Amazônia Legal


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficatêm-se para a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões, as áreas emterritório nacional correspondente às Bacias dos rios Içá,Japurá, Javari, Juruá e do Alto-Solimões. Para a Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Negro têm-se como principais drenagens, asáreas do próprio Rio Negro, mas também do rio Branco, seuprincipal tributário.Na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Madeira, têm-se a área correspondenteà Bacia do rio de mesmo nome, em territóriobrasileiro, o que inclui por sua vez a Bacia do Rio Aripuanãe Ji-Paraná, seus tributários. Da mesma forma ocorrecom o rio Purus em relação à Sub-<strong>região</strong> HidrográficaPurus, incorporando tributários importantes como o rioAcre, por exemplo.A Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Tapajós inclui as Bacias dos riosTeles Pires e Juruena, principais formadores do rio que dánome à Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica, o Tapajós. Os rios Iriri eXingu são aqueles cujas Bacias dão forma à Sub-<strong>região</strong> HidrográficaXingu. Os rios Uatumã, Trombetas e Mapueralocalizam-se, por sua vez na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Trombetas.Já próximo à foz, a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Paru é demarca<strong>da</strong>pela área de drenagem em território brasileiro do riode mesmo nome. Já a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Foz do Amazonascompreende o rio Jarí, que demarca a fronteira entreos Estados do Amapá e do Pará.Finalmente, a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Amapá Litoral éaquela que compreende os rios que fluem diretamente parao mar, a partir do território amapaense, como o rio Araguari,por exemplo, conhecido pelo fenômeno <strong>da</strong> Pororoca,que nele ocorre com grande intensi<strong>da</strong>de.ClimaGenericamente, o clima <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,no Brasil, é classificado como variando de úmido asuper-úmido, isso devido a características muito próprias,como as advin<strong>da</strong>s do fato de a <strong>região</strong> receber uma intensi<strong>da</strong>demédia anual de chuvas <strong>da</strong> ordem de 2.460mm. Naporção brasileira <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica as temperaturasmédias anuais situam-se entre 25º e 29ºCelsiusem contraste com temperaturas médias anuais próximas dezero na cordilheira dos Andes (MOLINIER et al., 1996).As chuvas na Amazônia, considera<strong>da</strong>s como provin<strong>da</strong>sessencialmente do Oceano Atlântico, apresentam, no entanto,uma forte reciclagem (cerca de 50%) principalmentena porção central <strong>da</strong> calha do Amazonas, por evapo-transpiração<strong>da</strong> própria floresta (SALATI e MARQUES, 1984).A distribuição sazonal <strong>da</strong>s precipitações regionais individuaisse dá segundo regimes diferenciados com característicabimo<strong>da</strong>l (Figura 5). Na porção meridional <strong>da</strong> Baciao regime pluviométrico é marcado por uma estação seca,ocorrendo normalmente na metade do ano civil, em contraposiçãoa uma estação chuvosa na porção setentrional<strong>da</strong> Bacia no mesmo período do ano. (RATISBONA, 1976;NIMER, 1991; SALATI, 1978; HIEZ, 1992).Na porção sul <strong>da</strong> Bacia o máximo pluviométrico ocorrede dezembro a março (Bacia do Rio Madeira). Já ao norte(Bacia do Rio Negro), o máximo pluviométrico é observadode maio a julho, com uma leve variação na porçãonordeste (Bacia do Rio Jari), no sentido <strong>da</strong> foz (SALATI,1978 e HIEZ, 1992).27Quadro 1 – Participação <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação (em %) na composição <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> Bacia AmazônicaEstado Área na Região Hidrográfica Amazônica (%)Acre 3,41Amapá 3,19Amazonas 35,07Mato Grosso 20,17Pará 27,86Rondônia 5,30Roraima 5,01Fonte: Bases do PNRH (2005)


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaNa Figura 5, encontram-se marca<strong>da</strong>s as observações supracita<strong>da</strong>sde modo esquemático, ou seja:• A pluviosi<strong>da</strong>de média na <strong>região</strong> Amazônica (a corazul mais escura indica <strong>região</strong> de maior pluviosi<strong>da</strong>demédia anual);• A linha vermelha dividindo a figura praticamente aomeio e que representa de forma aproxima<strong>da</strong> os regimesdiferenciados de característica bimo<strong>da</strong>l, com uma linhatambém vermelha, porém mais fina, indicando a zonaintermediária a nordeste, supracita<strong>da</strong>;• Os retângulos de cor branca e laranja, representando avariação sazonal média, para o ano civil, dos regimes<strong>da</strong>s chuvas registra<strong>da</strong>s nas diferentes estações pluviométricas<strong>da</strong> ANA, principalmente, e de outras enti<strong>da</strong>des,existentes na <strong>região</strong>. Através deles se percebe claramentea diferenciação entre as estações úmi<strong>da</strong> e seca esua diferenciação sazonal a norte e a sul <strong>da</strong> Bacia.Relevo e GeologiaVista no contexto <strong>da</strong> América do Sul, a Região HidrográficaAmazônica, encontra-se estrutura<strong>da</strong> segundoquatro uni<strong>da</strong>des morfológicas: ao norte, o cráton ouescudo <strong>da</strong>s Guianas (Bacias dos rios Trombetas e Branco);ao sul, o escudo Brasileiro (Bacias dos rios Tapajóse Xingu); a oeste, a Cadeia Andina (nascentes do Solimões/Amazonas);e entre essas uni<strong>da</strong>des anteriores, agrande planície fluvial cujos limites a leste são <strong>da</strong>dospelo Oceano Atlântico (Figura 6).Em termos geológicos (Figura 7), o substrato <strong>da</strong> Baciaprovavelmente é constituído por rochas antigas(pré-cambrianas, ou seja, com mais de 500 milhões deanos de formação) cobertas por sedimentos marinhos econtinentais de i<strong>da</strong>des que variam desde o Paleozóico,período Siluriano-Ordoviciano (a partir de 500 milhõesde anos), até o Mesozóico, períodos Terciário-Cretáceo(aproxima<strong>da</strong>mente 65 milhões de anos). Sendo que osistema de drenagem transcontinental <strong>da</strong> Bacia Amazônica,tal qual o conhecemos hoje, teria se formadohá aproxima<strong>da</strong>mente 10 milhões de anos, no Mioceno(HOORN et al., 1995).28SolosEm relação aos solos, praticamente 80% <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica, no Brasil, é coberta por solo laterítico. Essessolos são caracterizados, por uma composição mineralógicarelativamente simples (quartzo, caolinita, oxi-hidróxidos deFonte: A<strong>da</strong>ptado de Molinier et al. (1997), citando Salati (1978) e Hiez (1992)Figura 5 – Distribuição <strong>da</strong>s chuvas médias anuais na <strong>região</strong> Amazônica


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficaferro e de alumínio), porém apresentam uma extrema diversi<strong>da</strong>deno que diz respeito à sua organização e estruturação.Ain<strong>da</strong> em relação aos solos, existe na <strong>região</strong> uma distribuiçãoordena<strong>da</strong> de coberturas pedológicas relaciona<strong>da</strong> àevolução geoquímica geral, traduzi<strong>da</strong> por uma degra<strong>da</strong>ção<strong>da</strong>s lateritas ocasiona<strong>da</strong>s por três processos maiores: hidromorfismo,eluviação e podzolização (MELFI et al., 1996).Cobertura vegetalNo que diz respeito à cobertura vegetal, há grande varie<strong>da</strong>dede formações florestais e de campos. A Amazônia éconheci<strong>da</strong> como a <strong>região</strong> que abriga a maior biodiversi<strong>da</strong>dedo planeta e a sua vegetação varia de uma cobertura baixaem altitude (na porção andina) até a floresta tropical úmi<strong>da</strong>Amazônica, ou Hylea. Esta cobertura se estende por cercade 5.000.000 km 2 , perfazendo aproxima<strong>da</strong>mente 70% <strong>da</strong>totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Bacia Hidrográfica continental (KOHLHEPP,1978), portanto indo além <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Região Hidrográfica.No contexto <strong>da</strong> densa floresta tropical Amazônica, destacam-seas matas de terra firme, florestas inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s, várzeas,igapós, campos abertos e cerrados, em função de característicaspeculiares que apresentam. As áreas de cerrado eoutras variações como as campinas e campinaranas estãorepresenta<strong>da</strong>s de maneira esparsa. Os cerrados apresentamalguma particulari<strong>da</strong>de espacial <strong>da</strong><strong>da</strong> à sua ocorrência nasregiões norte/nordeste de Roraima e na fronteira sul <strong>da</strong> <strong>região</strong>,com o planalto central do Brasil.A Floresta Amazônica cresce sobre o solo e não do solo(SIOLI, 1991), o que significa dizer que a floresta utilizao solo apenas como fixação mecânica e não como fonteprincipal de nutrientes. Isso devido a um sistema radicularsuperficial e denso que age como filtro reabsorvendo e reconduzindoa substância viva <strong>da</strong> e para a floresta.O monitoramento do Inpe, focado na derruba<strong>da</strong> de florestaem pé, mostra, que até janeiro de 1978, um total de85.100 km 2 <strong>da</strong> floresta haviam sido desmatados, resultado<strong>da</strong>s ações humanas na Bacia ao longo de mais de quatroséculos. Os <strong>da</strong>dos mais recentes dão conta de que, um percentual<strong>da</strong> ordem de 15% <strong>da</strong> floresta já tenha sido derrubado(RELATÓRIO PRODES, 2001).As ações humanas ti<strong>da</strong>s como nocivas ao meio ambiente,são conseqüência do modo de ocupação <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica. Nesse sentido, os rios tiveram e ain<strong>da</strong> têmpapel significante tanto no aspecto econômico e eco-social,quanto no processo de ocupação regional (BEICHIMOL,1999). Esse papel, tanto positivo, quanto negativo, pode serexemplificado pelo transporte de cargas e passageiros, executadona grande maioria através dos rios <strong>da</strong> <strong>região</strong> – estra<strong>da</strong>snaturais – e pela mineração em garimpos, onde a contaminaçãodos cursos de água e a erosão de suas margens são asprincipais conseqüências negativas.O papel dos rios na ocupação humana na Região HidrográficaAmazônica vem evoluindo desde o período Colonial.No entanto, hoje, devido ao avanço <strong>da</strong> fronteira agrícola sepassou a perceber uma mu<strong>da</strong>nça no padrão <strong>da</strong> distribuiçãopopulacional, tendo os rios um caráter menos determinante,em favor do poder de penetração <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, conseqüência,principalmente, <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, sobretudo econômicas, que a<strong>região</strong> vem sofrendo.29Presença humana e suas principais ativi<strong>da</strong>des naRegião Hidrográfica AmazônicaAin<strong>da</strong> em relação à floresta, porém relaciona<strong>da</strong>s àsativi<strong>da</strong>des antrópicas, imagens de satélite trata<strong>da</strong>s peloInpe têm mostrado feições que vêm modificando a paisagem<strong>da</strong> cobertura vegetal <strong>amazônica</strong>, principalmenteem função dos avanços do desmatamento.


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica30Fonte: Base IBGE/ANEEL/ANA (2003); Bases do PNHR (2005)Figura 6 – Hipsometria (e relevo) <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica31Fonte: Geologia – Serviço Geológico do Brasil/CPRM (2005); Bases do PNHR (2005)Figura 7 – Geologia (períodos) <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica32Em termos econômicos, apesar de a <strong>região</strong> ocupar 60%<strong>da</strong> superfície do Brasil, o PIB não representa mais de 5% doPIB nacional e nesta <strong>região</strong> está cerca de 10% <strong>da</strong> populaçãourbana do País. Enquanto a densi<strong>da</strong>de populacional médiabrasileira é de 20 hab/km 2 , na Região Hidrográfica Amazônicaeste parâmetro gira, atualmente, em torno de 10% <strong>da</strong>média do País (THÉRY, 2004). Portanto, apesar <strong>da</strong> grandeextensão e grande disponibili<strong>da</strong>de hídrica, a ocupação populacional<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica é ain<strong>da</strong> muitobaixa (Quadro 2). A densi<strong>da</strong>de populacional média paraa <strong>região</strong> (Figura 8) é de pouco mais de 2 hab/km 2 (PNRH,2005 e IBGE, 2003).Os principais setores econômicos presentes na RegiãoHidrográfica Amazônica, com expressão nacional e comforte influência polarizadora regional são: a indústria detransformação, principalmente a eletro-eletrônica, a agroindústria,a pecuária, a exploração mineral, a exploraçãomadeireira e a exploração de gás e petróleo. Em menorescala está o extrativismo vegetal, marca<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> castanha,andiroba e dendê, além <strong>da</strong> caça e <strong>da</strong> pesca que tambémmerecem destaque.Os centros polarizadores mais importantes <strong>da</strong> <strong>região</strong> são,em geral, representados pelas capitais dos Estados que seencontram no contexto <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica(Manaus, Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista e Macapá), issotanto no aspecto de desenvolvimento econômico, quanto noaspecto de densi<strong>da</strong>de populacional e nível de urbanização.No entanto, algumas outras ci<strong>da</strong>des se destacam, devidoà existência de alguma área econômica específica mais proeminente.Assim, também tem papel polarizador, por exemplo:Santarém (PA) – mineração, infra-estrutura portuária,turismo, etc.; Itacoatiara (AM) – infra-estrutura portuária,madeira; Coari (AM) – produção de óleo e gás; Vilhena,Pimenta Bueno e Ji-Paraná (RO) – agricultura e pecuária,infra-estrutura de transporte; Santana (AP) – infra-estruturaportuária, minério.Quadro 2 – Área e população residente nas Sub-regiões Hidrográficas componentes <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, bem como o total para aRegião Hidrográfica AmazônicaSub-<strong>região</strong> Hidrográfica (Nível 1) Área (km 2 ) PopulaçãoAmapá Litoral 81.740 58.862Foz Amazonas 154.895 690.272Madeira 601.025 2.238.499Negro 576.655 1.820.924Paru 112.378 382.532Purus 376.112 442.270Solimões 574.884 669.966Tapajós 492.207 820.228Trombetas 366.935 678.523Xingu 508.046 372.209Total 3.844.877 8.174.285Fonte: Bases do PNRH (2005)


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica33Fonte: Base IBGE (2004); Bases do PNRH (2005)Figura 8 – Densi<strong>da</strong>de Populacional <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica344.2 | Caracterização <strong>da</strong>s disponibili<strong>da</strong>des hídricasDisponibili<strong>da</strong>de hídrica superficialO volume de água doce aportado pelo rio Amazonas aoOceano Atlântico é calculado como sendo <strong>da</strong> ordem de 15%a 16% do somatório de todos os aportes de água dos riosdo mundo aos oceanos (MILLIMAN e MEADE, 1983). Avazão média de longo período estima<strong>da</strong> para o rio Amazonasé de 133.861 m 3 .s -1 (68% do total vertido pelos rios dopaís), considerando-se apenas as contribuições brasileiras.A contribuição de territórios estrangeiros para as vazões <strong>da</strong>Região Hidrográfica é de 71.527 m 3 s -1 (ANA, 2002), perfazendoum total de mais de 200 mil m³s -1 .De acordo com critérios puramente hidrológicos (MO-LINIER et al., 1995), a Bacia do Rio Solimões representacerca de 36% <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> Bacia Amazônica continental,segui<strong>da</strong> pelas Bacias dos rios Madeira, com 23% e do RioNegro, com 11% <strong>da</strong> superfície total. Merecem ain<strong>da</strong> destaqueas participações dos rios Tapajós e Xingu, cujo percentualagrupado em termos de área dessas Bacias em relaçãoà área total <strong>da</strong> Bacia representa 16% e 8% respectivamente.No entanto, a participação <strong>da</strong>s descargas médias de ca<strong>da</strong>tributário na descarga média total do rio Amazonas na foz(estima<strong>da</strong> em 209.000 m 3 s -1 ), considerando-se os valoresde Molinier et al. (1995), mostra uma participação de 49%<strong>da</strong> Bacia do Solimões e uma quase igual<strong>da</strong>de entre os riosNegro (14%) e Madeira (15%). Complementando o valortotal, cerca de 6% correspondem às águas do Tapajós, 5%do Xingu, 1% do Jarí, 1% do Trombetas. Os 9% restantes,correspondem aos demais rios <strong>da</strong> Bacia (Quadro 3).Em termos de variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vazões, a regulari<strong>da</strong>de dos fluxoslíquidos calcula<strong>da</strong> através <strong>da</strong> relação (Rme), entre as vazõesmédias mensais extremas (Qmm), <strong>da</strong><strong>da</strong> por Rme=QmmMax./QmmMin, é relativamente eleva<strong>da</strong> para os tributários meridionaisdo Amazonas, variando de 5 a 15. A variabili<strong>da</strong>de anual domesmo parâmetro, também é relativamente eleva<strong>da</strong> para os tributáriosna <strong>região</strong> setentrional <strong>da</strong> Bacia (rios Negro, Trombetas,Branco, etc.), onde a Rme varia de 3 a 8. Já no curso principal aRme varia de 1,7 a 2,5 (Quadro 3).Portanto, pode-se afirmar que a tendência de regulari<strong>da</strong>denas vazões é maior no curso principal e menor à medi<strong>da</strong>que se caminha para o norte e principalmente para o sul,Quadro 3 – Aspectos gerais <strong>da</strong>s águas superficiais na Região Hidrográfica AmazônicaBacia do Rio Área de drenagem 1 (km²) Vazão 2 (m³s -1 ) Vazão específica 3 (Ls -1 .km -2 ) RmeSolimões (SP de Olivença) 990.780 46.500 46,9 2Purus 370.000 11.000 29,7 13Solimões (Manacapuru) 2.147.740 103.000 48 2Negro 696.810 28.400 40,8 3 a 8Amazonas (Jusante Manaus) 2.854.300 131.600 46,1 2Madeira 1.420.000 31.200 22 5 a 15Amazonas (Óbidos) 4.618.750 168.700 35,5 2Tapajós 490.000 13.500 27,6 5 a 15Xingu 504.300 9.700 19,2 5 a 15Amazonas 6.112.000 209.000 34,2 -Japurá 248.000 18.620 75,1 1,7 a 2,5Içá 143.760 8.800 61,2 1,7 a 2,5Jutaí 77.280 3.020 39,1 5 a 15Juruá 185.000 8.440 45,6 5 a 15Jari 58.000 1.880 32,4 3 a 8Trombetas 128.000 2.555 20 3 a 8Fonte: Filizola, 1999 e Molinier et al.,1995Obs.: 1 Quando não indica<strong>da</strong>, a locali<strong>da</strong>de de referência <strong>da</strong> área de contribuição, entre “( )”, a área corresponde àquela controla<strong>da</strong> por estação hidrológica na foz do rio, oupróximo a ela. 2 Vazão média de longo período (inter-anual), calcula<strong>da</strong> na estação de controle toma<strong>da</strong> como citado no item 1. 3 Vazões específicas calcula<strong>da</strong>s utilizando-se áreasde drenagem <strong>da</strong>s estações cita<strong>da</strong>s. As estações hidrológicas utiliza<strong>da</strong>s são aquelas <strong>da</strong> rede hidrométrica nacional sob a gerência <strong>da</strong> Agência Nacional de Águas - ANA. Áreas dedrenagem toma<strong>da</strong>s segundo divisão <strong>hidrográfica</strong> do extinto DNAEE.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficamais especificamente na Bacia do Rio Madeira (Quadro 3).Com base nos valores de Rme, pode-se afirmar que ascheias na Amazônia brasileira, apesar de serem de grandeamplitude, variando regionalmente de 2 a quase 20 metros(FILIZOLA et al., 2002), são regulares e persistentes. Oseventos apresentam em geral baixo potencial de torrenciali<strong>da</strong>de<strong>da</strong><strong>da</strong>s às características <strong>da</strong> Bacia Amazônica, defini<strong>da</strong>pelos hidrólogos como uma Bacia de resposta lenta a eventosextremos (enchentes em especial). Secas também são registra<strong>da</strong>sna <strong>região</strong>, ocorrendo de forma regular, porém comuma persistência e intensi<strong>da</strong>de menores do que as cheias.A<strong>da</strong>ptando-se os valores médios de vazão de longo períodoe de áreas, calculando-os para a divisão <strong>hidrográfica</strong> como indicadono Quadro 4 e adota<strong>da</strong> no Plano Nacional de RecursosHídricos, têm-se a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica do Solimõescorrespondendo a 15 % do total <strong>da</strong> área Bacia, valor praticamentesemelhante aos encontrados para as Sub-regiõesHidrográficas do Rio Negro (15%) e Madeira (15,6%). Naseqüência destacam-se, ain<strong>da</strong> quanto às suas áreas, as SubregiõesHidrográficas Xingu (13,2%) e Tapajós (12,8%), segui<strong>da</strong>spor Purus (9,8%) e Trombetas (9,5%).Tomando-se ain<strong>da</strong> a mesma divisão <strong>da</strong>s Sub Regiões Hidrográficas,porém considerando agora as vazões médias delongo período se percebe que, neste formato, a Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica do Rio Negro, responde por praticamente 27%<strong>da</strong>s vazões, segui<strong>da</strong> pelas Sub Regiões Hidrográficas: Solimõescom 19,2%; Madeira com 11,1% e Tapajós com 10,9%. As demaisSub Regiões Hidrográficas apresentam, individualmente,percentuais de contribuição na vazão total <strong>da</strong> Região Hidrográfica,em território nacional, sempre inferiores a 10%.Assim, calculando-se a disponibili<strong>da</strong>de de água porSub-<strong>região</strong> Hidrográfica, a partir dos <strong>da</strong>dos listadosno Quadro 4, obtêm-se valores sempre superiores a1.700m -3 hab -1 ano -1 . Esses valores estão situados bem acimado valor de referência (120 vezes mais) consideradocomo excelente pela classificação <strong>da</strong> Unesco (2003). Issoreflete na Região Hidrográfica Amazônica uma situação deplena capaci<strong>da</strong>de de uso em to<strong>da</strong>s as Sub-regiões Hidrográficasnão se identificando, pelo menos no nível 1, situaçãode estresse a ser reporta<strong>da</strong>.Nesse contexto, conforme ilustrado na Figura 9, merecemdestaque quanto à disponibili<strong>da</strong>de hídrica superficial total(em m 3 .hab -1 .ano -1 ), as Sub-regiões Hidrográficas AmapáLitoral e Solimões, ambas correspondendo, respectivamente,a 27% e 17% <strong>da</strong>quela disponibili<strong>da</strong>de hídrica total. Naseqüência, vêm as Sub-regiões Hidrográficas Xingu e Purus,representando, por sua vez, 12% e 11%. A Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica do Negro, destaca<strong>da</strong> anteriormente no tópicovazão, representa em termos de disponibili<strong>da</strong>de hídrica superficial,apenas 9% do total, em conseqüência <strong>da</strong> maiordensi<strong>da</strong>de populacional, e a do Tapajós com 8%. As demaisestão to<strong>da</strong>s a abaixo desse valor, ou seja, Trombetascom 7%, Foz do Amazonas com 4%, finalizando com Parue Madeira, ambas com 3% do total dos recursos hídricossuperficiais disponíveis por habitante e por ano na RegiãoHidrográfica Amazônica.35Quadro 4 – Valores médios de vazões para as Sub-regiões <strong>hidrográfica</strong>s <strong>da</strong> Região Amazônica utiliza<strong>da</strong> para calcular a disponibili<strong>da</strong>de deágua superficial por habitante, de acordo com a classificação <strong>da</strong> UnescoSub-<strong>região</strong> Hidrográfica Qmédio (m -3 s- 1 ) Área (km 2 ) População Disponibili<strong>da</strong>de (m -3 hab -1 .ano -1 )Amapá Litoral 3.533 81.740 58.862 1.897.812Foz Amazonas 5.477 154.895 690.272 250.906Madeira 14.606 601.025 2.238.499 206.336Negro 35.353 576.655 1.820.924 613.942Paru 2.684 112.378 382.532 221.864Purus 10.305 376.112 442.270 736.808Solimões 25.251 574.884 669.966 1.191.866Tapajós 14.346 492.207 820.228 553.077Trombetas 10.690 366.935 678.523 498.224Xingu 9.701 508.046 372.209 824.223Fonte: Bases do PNRH (2005)Obs.: Q médio– Refere-se às vazões médias de longo período.


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica36Fonte: Base integra<strong>da</strong> do Brasil ao Milionésimo – IBGE (2003)Dados de disponibili<strong>da</strong>de hídrica – ANA; Bases do PNRH (2005); Dados de garimpo, Base Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2005); Bases do PNRH (2005)Figura 9 – Disponibili<strong>da</strong>de Hídrica superficial (em m 3 hab -1 ano -1 ) na Região Hidrográfica Amazônica


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaQuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas superficiaisAs águas Amazônicas foram originalmente classifica<strong>da</strong>sde acordo com sua coloração, pelo renomado naturalistaAlfred Russel Wallace, em brancas, claras e negras, pormeio de suas publicações: Journey to Explore the NaturalHistory of the Amazon River, de 1950 e On the Rio Negro,de 1953. Essa classificação, considera<strong>da</strong> historicamenteimportante, hoje é questiona<strong>da</strong> quanto ao seu uso em escalade detalhe.No entanto, a classificação de Wallace, ain<strong>da</strong> pode serutiliza<strong>da</strong> quando são considerados apenas os grandesrios <strong>da</strong> Região Hidrográfica. Deste modo, tal classificaçãofaz sentido mesmo do ponto de vista físico-químicopelo fato de, regionalmente, as características serembem distintas quando associa<strong>da</strong>s às cores dos grandesrios (SIOLI, 1967 e SIOLI, 1975).Portanto, em termos qualitativos e em escala regional, aságuas <strong>amazônica</strong>s podem ser classifica<strong>da</strong>s de forma resumi<strong>da</strong>por sua coloração, tendo, ain<strong>da</strong> alguns outros fatoresassociados, como suas áreas-fonte, as características morfo-estruturaisdessas áreas, as características físico-químicasgerais <strong>da</strong>s águas, levando em consideração também algumasespecifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas drena<strong>da</strong>s pelos grandes rios(Quadro 5).Portanto, os rios de águas brancas têm alta turbidez ecarregam grandes quanti<strong>da</strong>des de matéria em suspensão(MES) em conseqüência <strong>da</strong> intensa erosão resultante, e entreoutros fatores, <strong>da</strong> forte declivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Bacia na porçãoAndina e sub-Andina.Os rios de águas claras, como a própria denominação permitededuzir, apresentam, geralmente, baixa turbidez. Sãooriginados em terrenos cristalinos, antigos, principalmenteaqueles dos escudos guianense e brasileiro, onde o processoerosivo comparativamente àquele em ativi<strong>da</strong>de na <strong>região</strong>andina e sub-andina, desfavorece o transporte de grandesmassas de matéria em suspensão.Já os rios denominados de águas pretas ou negras, têmna grande quanti<strong>da</strong>de de ácidos húmicos em suas águas aresponsabili<strong>da</strong>de por sua coloração peculiar. As proprie<strong>da</strong>desquímicas destas águas são determina<strong>da</strong>s pelos solosarenosos e pela vegetação característica que neles ocorre,conheci<strong>da</strong> como Campinarana (JUNK, 1997).A Campinarana está dispersa, especialmente nas zonas<strong>da</strong>s cabeceiras onde nascem os rios de águas pretas.A matéria orgânica lava<strong>da</strong> e deposita<strong>da</strong> nos solos não écompletamente decomposta e a porosi<strong>da</strong>de dos solos favorecea percolação dos ácidos húmicos e dos colóidespara os rios, reduzindo o pH <strong>da</strong>s águas para uma faixaentre 4 e 5,5, além de <strong>da</strong>rem a cor característica àquelaságuas (JUNK, 1997).Em escala regional, os rios <strong>da</strong> Bacia Amazônica são relativamentelivres de contaminações oriun<strong>da</strong>s de fontes tantodomésticas, quanto industriais e agrícolas. Isto graças àconsiderável magnitude dos volumes de água do rio Amazonase de seus maiores tributários, com grande poder dediluição (Seyler e Boaventura, 2003).37Quadro 5 – Tipologia <strong>da</strong>s águas <strong>amazônica</strong>s e suas principais características de diferenciação tal qual como são encontra<strong>da</strong>s em seu estado naturalTipo de água Rio típico Origem <strong>da</strong>s águasCondutivi<strong>da</strong>deElétrica (µS.cm-1)Branca Solimões, Madeira, Juruá e Purus Andina e sub-andina > 60 6,5 a 7 >100pHCarga deMES*(mg.l-1)Clara Trombetas, Tapajós e Xingu Escudos 6 a 5 5 a 6


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica38No entanto, em escala local, são importantes as contaminaçõesdecorrentes <strong>da</strong> urbanização (Figura 10), jáque nas ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>região</strong> norte do Brasil apenas 4,5 %<strong>da</strong>s águas servi<strong>da</strong>s à população são trata<strong>da</strong>s. Ademais,muitas destas ci<strong>da</strong>des concentram populações iguais oumesmo superiores a 500 mil habitantes e ain<strong>da</strong> com fortetendência de crescimento (IBGE, 2003), têm-se, portanto,um problema crônico de falta de saneamento a sersolucionado.É comum, em muitas ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Amazônia o lançamentodireto nos rios, de águas servi<strong>da</strong>s, sem o tratamento adequado.Assim também acontece, com a contaminação <strong>da</strong>ságuas subterrâneas como conseqüência <strong>da</strong> existência defossas negras e a inexistência de aterros sanitários adequados.Essas situações indicam que a poluição dos recursoshídricos na <strong>região</strong> ocorre de maneira localiza<strong>da</strong>, próximaaos centros urbanos, onde há baixas percentagens de coleta(10,4 % <strong>da</strong> população urbana) e tratamento de esgotosdomésticos (2,3 % <strong>da</strong> população urbana), fazendo com quesejam relativamente significativas as cargas poluidoras domésticas(ANA, 2005).A carga orgânica doméstica remanescente é de, aproxima<strong>da</strong>mente,270 tonela<strong>da</strong>s de DBO 5,20por dia, ou seja4% do total do País (ANA, 2005) e se concentra principalmentena Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica do Rio Negro, ondeestá situa<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de de Manaus e nos principais afluentes<strong>da</strong> margem direita do Amazonas correspondente às Sub<strong>região</strong>Hidrográfica Purus, Madeira (onde situa-se a ci<strong>da</strong>dede Porto Velho), Tapajós, (onde situa-se a ci<strong>da</strong>de deSantarém) e Xingu (onde situa-se a ci<strong>da</strong>de de Altamira),conforme pode ser visualizado na Figura 10.Em vista destes fatos e em contraste com a baixa contaminaçãoem escala regional, percebe-se que a questão<strong>da</strong> poluição <strong>da</strong>s águas superficiais na Região HidrográficaAmazônica tem, portanto, um caráter pontual. Assim, apoluição dos recursos hídricos está vincula<strong>da</strong> e reforça<strong>da</strong>nas aglomerações urbanas, principalmente naquelas ondeas condições de saneamento são mínimas, com forte relaçãocom um quadro crescente de doenças de veiculaçãohídrica (NEVES et al., 2005). Portanto, a melhoria <strong>da</strong>scondições de saneamento é fator importante a ser consideradona gestão dos recursos hídricos, numa interface como setor de saúde, em especial nas áreas urbanas <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica.Principalmente em vista dos problemas de quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s águas supracitados, é importante ressaltar que omonitoramento desses aspectos na <strong>região</strong> ain<strong>da</strong> é esparso(Figura 10). A distribuição <strong>da</strong>s estações é vista de formaregional e nem sempre se concentra nas áreas de maiorproblema marca<strong>da</strong>s pelos aglomerados urbanos mais significativos.Ocorre atualmente, apenas nas proximi<strong>da</strong>des<strong>da</strong> foz (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Foz do Amazonas) ondesão publica<strong>da</strong>s informações relativas ao Índice de Quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s Águas (IQA), seguindo normas internacionais(PNRH/SRH, 2005). Esta deficiência, quanto ao monitoramento,dificulta ain<strong>da</strong> mais o avanço crítico e planejadode políticas públicas de saneamento.Aspecto também preocupante, em relação à quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s águas <strong>amazônica</strong>s é a contaminação dos rios por mercúrio.Este elemento é um metal de alta toxici<strong>da</strong>de quandoencontrado na cadeia trófica. Encontra-se disseminado emrios e solos <strong>da</strong> Amazônia, em grande parte devido à suautilização na recuperação do ouro em garimpos mais concentradosnas Sub-regiões Hidrográficas Madeira, Tapajós eXingu (Figura 10), apesar de ocorrerem também em outrasáreas mais ao norte. Ain<strong>da</strong> sobre o mercúrio, <strong>da</strong>dos de pesquisasno tema também dão conta <strong>da</strong> ocorrência naturalde mercúrio em níveis bastante significativos nos solos <strong>da</strong>Amazônia (BORGOIN, 2003 e FORSBERG, inf. pessoal).Estimativas oficiais indicam entre 100 a 130ton.ano -1 omontante de mercúrio introduzido na Amazônia nos últimosanos pela ativi<strong>da</strong>de garimpeira. Deste total, estimaseque 40% foram lançados diretamente nos rios e 60%dispersos na atmosfera e transportado a longas distâncias(ANA, 2005).Outro fator que contribui para a deterioração <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s águas superficiais <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica é o desmatamento, cuja principal e mais diretaconseqüência parece estar no aumento <strong>da</strong> erosão,trazendo modificações estéticas (inicialmente) e assoreamentodos cursos de água.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica39Fonte: Base integra<strong>da</strong> do Brasil ao Milionésimo – IBGE (2003)Dados de DBO, rede de monitoramento e IQA, Base ANA (2005)Figura 10 – Aspectos <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaNo período de 2000-2001, aproxima<strong>da</strong>mente 70% dodesmatamento na Amazônia Legal ocorreu em cerca de 50Municípios nos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia(Figura 11), que representam em torno de 15,7% <strong>da</strong> áreatotal <strong>da</strong> <strong>região</strong>, correspondendo às Sub-regiões Hidrográficas:Madeira, Tapajós e Xingu. Entre alguns Municípiosnessas sub-regiões, a área desmata<strong>da</strong> chega a 80-90% desua superfície total (BRASIL, 2004, In: ANA, 2005).O desmatamento pode ter sérias conseqüências ain<strong>da</strong>pouco avalia<strong>da</strong>s em termos <strong>da</strong> erosão em escala regional,apesar de se saber hoje que o fluxo de matéria emsuspensão transporta<strong>da</strong> pelo rio Amazonas até o Oceanoé <strong>da</strong> ordem de 800 milhões de tonela<strong>da</strong>s por ano. Nestetotal, a contribuição dos escudos guianense e brasileirorepresentam no máximo 5%. Sendo a carga total bastanteinfluencia<strong>da</strong> pelas contribuições andinas e transporta<strong>da</strong>principalmente pelos rios Solimões e Madeira (FILIZO-LA, 2003 e MEADE et al.,1985).Estima-se que volume igual ou maior de matéria em suspensãodo que o acima reportado, entre no sistema hídricooriundo <strong>da</strong>s contribuições laterais, devido principalmenteà erosão <strong>da</strong>s margens e às oscilações hidrológicas sazonais(DUNNE et al., 1988). Neste sentido, o desmatamento <strong>da</strong>smargens, em especial nas áreas de várzea, pode levar a umsério comprometimento ambiental, muito provavelmentenecessitando de um monitoramento específico.Associe-se às áreas de várzea a existência de grandes zonasnaturais de sedimentação na Bacia, em especial na porção central,com taxas de deposição <strong>da</strong> ordem de 200 milhões de tonela<strong>da</strong>spor ano (FILIZOLA, 2003 e MEADE et al.,1985), têm-seentão comprometimentos, potenciais, ain<strong>da</strong> maiores no tocanteà navegação, etc., em algumas áreas <strong>da</strong> Região Hidrográfica.Essas áreas potencialmente destaca<strong>da</strong>s como de sedimentaçãolocalizam-se, em especial, nas Sub-regiões Hidrográficas: Solimões,Purus, Madeira, Tapajós e Xingu, mais especificamentena calha dos rios principais <strong>da</strong>quelas sub-regiões.40Fonte: ANA (2005); Bases do PNRH (2005)Figura 11 – Áreas desmata<strong>da</strong>s (km²) nos Municípios <strong>da</strong> Amazônia em 2002


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaAssim, em diversas regiões <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,o fruto do desmatamento pode gerar efeitos <strong>da</strong>nososao meio aquático, ligados à erosão, assoreamento,mu<strong>da</strong>nças drásticas na geomorfologia fluvial, entre outrosproblemas ambientais. Esta temática encontra-se em estudono Laboratório de Sensoriamento Remoto e de Sistemade Informações Geográficas (SIGLAB) do INPA (Informaçãopessoal do Dr. Arnaldo Carneiro).Disponibili<strong>da</strong>de hídrica subterrâneaO crescimento descontrolado <strong>da</strong> perfuração de poços tubularese <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des antrópicas, tem contribuído paraaumentar a contaminação dos aqüíferos no Brasil. Nessesentido, a questão <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água subterrânea vemse tornando ca<strong>da</strong> vez mais importante para o gerenciamentodos recursos hídricos no país (ANA, 2005). Esta éuma reali<strong>da</strong>de iminente, também <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica, fruto <strong>da</strong> dinâmica populacional crescente nosprincipais centros urbanos.Na Região Hidrográfica Amazônica, a água subterrâneaé utiliza<strong>da</strong> quase que exclusivamente para o abastecimentohumano. Embora não dispondo de informaçõesprecisas, pode-se dizer, com certa segurança, queo volume de água destinado a outros usos (irrigação,pecuária, indústria, etc.) é inferior a 10% do total. Ouso industrial é concentrado nas maiores ci<strong>da</strong>des, Manaus,em especial (LEAL, 1999).Respondem pelo maior uso <strong>da</strong> água subterrânea na RegiãoHidrográfica Amazônica, as Sub-regiões Hidrográficas:Madeira, Negro, Tapajós e Trombetas. Nesse contexto, pesquisarealiza<strong>da</strong> no ano de 1995, em 352 locali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> RegiãoNorte do Brasil, com sistema de distribuição de água,mostrou que 169 utilizam água subterrânea, correspondenteem volume a 40% dos cerca de 1,2.10 6 m³ disponibilizadospor dia (LEAL, 1999).Em alguns estados, a contribuição subterrânea, quantoao consumo, ain<strong>da</strong> é relativamente pequena, se leva<strong>da</strong>s emconsideração as grandes possibili<strong>da</strong>des regionais. Segundoaqueles resultados, acima mencionados, no Estado do Acre18,7% <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong>des utilizam água subterrânea e em Rondônia25%, porém não chegando a comprometer percentuaissignificativos do volume total disponível na Bacia.No Estado do Pará (considerando inclusive área fora <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica), 79,4% <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong>des, e no Amapá 64%,mostram o predomínio <strong>da</strong>s águas subterrâneas no abastecimentopúblico. No entanto, é o Estado do Amazonas, que utilizamaior volume de água subterrânea, com cerca de 25% dototal global disponibilizado em to<strong>da</strong> a Região Hidrográfica.Principais características hidrogeológicas <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica AmazônicaA disponibili<strong>da</strong>de hídrica subterrânea e a produtivi<strong>da</strong>dede poços são geralmente os principais fatores determinantesna explotação dos aqüíferos. Existem basicamentetrês formas em que a água ocorre no subsolo:• Terrenos fraturados, em descontinui<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s rochas,como falhas e fraturas. Corresponde às rochas ígneas emetamórficas;• Terrenos fraturados – cársticos, onde além <strong>da</strong>sdescontinui<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s rochas, ocorre também a dissoluçãoao longo dos planos de fraturas, devido àpresença de minerais solúveis nas rochas calcárias;• Terrenos sedimentares (de origem pelítica), onde aágua é armazena<strong>da</strong> no espaço entre os grãos <strong>da</strong>s rochassedimentares.De forma geral, os terrenos sedimentares apresentam osmelhores aqüíferos, e no caso brasileiro ocupam cerca de4.130.000 km 2 , o que corresponde a aproxima<strong>da</strong>mente48% do território nacional. Os demais terrenos ocupam os52% restantes, correspondentes a cerca de 4.380.000 km 2 ,do território do País (Figura 12).No entanto, o conhecimento do potencial hídrico dosaqüíferos brasileiros, de seu estágio de explotação e a quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s suas águas ain<strong>da</strong> é deficiente. Os estudos regionaissão poucos e encontram-se defasados. A maior parte dosmais recentes estudos sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água subterrânea,por exemplo, são de escala local. Assim, a questão <strong>da</strong>vulnerabili<strong>da</strong>de e proteção dos aqüíferos é ain<strong>da</strong> um temapouco explorado, necessitando ser incorporado à gestão<strong>da</strong>s águas subterrâneas e ao planejamento do uso e ocupaçãoterritorial (ANA, 2005).41


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaA Região Hidrográfica Amazônica, com seus mais de trêsmilhões de km², apresenta, em mais <strong>da</strong> metade de seu território,depósitos sedimentares de litologia variável. Nessesterrenos, ocorrem horizontes de eleva<strong>da</strong> permeabili<strong>da</strong>de efreqüentes condições de artesianismo. Portanto, <strong>da</strong><strong>da</strong>s asdimensões <strong>da</strong> <strong>região</strong>, a mesma pode ser vista como bastantepromissora, em termos hidrogeológicos.Além dos depósitos sedimentares, tem-se na Região HidrográficaAmazônica o domínio dos sistemas aqüíferosfissurados. Em geral, são sistemas de baixa produtivi<strong>da</strong>dequando aflorantes. No entanto, podem ter suas característicasmelhora<strong>da</strong>s pela presença, em superfície, de sedimentosinconsoli<strong>da</strong>dos, com espessuras, que por vezes ultrapassamos 40 metros. Estas áreas <strong>da</strong>s coberturas constituem reservatórioshídricos de boa potenciali<strong>da</strong>de. Constituem, também,um meio permeável que permite a recarga contínuado sistema fissurado subjacente.Aqueles dois domínios hidrogeológicos, regionalmenteexplotados de forma diferencia<strong>da</strong>, estão concentradospredominantemente em três grandes áreas; duas representa<strong>da</strong>spelos sistemas aqüíferos fissurados <strong>da</strong>s provínciashidrogeológicas do escudo Setentrional, ocupando a faixanorte <strong>da</strong> <strong>região</strong> (maior parte dos Estados do Amapá e Roraimae algumas áreas nos Estados do Amazonas e Pará) edo Escudo Central, correspondente, especialmente, a grandessuperfícies de Rondônia; e porções ao norte de MatoGrosso (Figura 13). Esses sistemas têm recarga facilita<strong>da</strong> peloelevado índice pluviométrico dessas áreas, pela presença decoberturas cenozóicas e pela abundância de água superficial(Quadro 6).42Fonte: ANA (2005)Figura 12 – Terrenos sedimentares brasileiros onde há condições para existência de aqüíferos


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica43Fonte: Base integra<strong>da</strong> do Brasil ao Milionésimo – IBGE (2003); Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2005); Bases do PNRH (2005)Figura 13 – Sistemas Aqüíferos na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaQuadro 6. Características gerais dos principais Sistemas Aqüíferos <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica em termos de suas possibili<strong>da</strong>des deexplotaçãoSistemasAqüíferosTipo 1Área de Recarga(km²)Espessuramédia (m)Precipitação média(mm.ano -1 )Reserva Renovável(m 3 .s -1 )Reserva Explotável(m 3 .s -1 )Boa Vista P,L 457.664 DI 2.206 4.481 896Alter do Chão P,L 312.574 DI 2.098 1.247 249Solimões P,L 14.888 DI 2.450 162 32Parecis P,L 88.157 150 1.890 2.324 464Fonte: ANA, 20051-P-Poroso e L-Livre. DI – Dado indisponível44O Escudo Setentrional é constituído por rochas cratônicasdo complexo guianense e por coberturas de plataformado grupo Roraima (arenitos, orto-quartzitos, arcósios, conglomeradosetc.). Os clásticos de granulação fina a grosseira<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des Roraima, Prosperança e Takutu apresentamas melhores possibili<strong>da</strong>des de ocorrência <strong>da</strong> água subterrânea<strong>da</strong> província. As demais associações rochosas do escudoapresentam aqüíferos locais associados a zonas fratura<strong>da</strong>s eoutras descontinui<strong>da</strong>des geológicas.Ocupando to<strong>da</strong> a porção central <strong>da</strong> Bacia sedimentarAmazônica, tem-se o principal domínio <strong>da</strong>s rochas porosas,a província hidrogeológica do Amazonas. Esta provínciaocorre separando as duas províncias cita<strong>da</strong>s anteriormente.Desenvolve-se dos limites do Brasil com o Peru para o nordesteaté o litoral, ocupando uma área de mais de 50% <strong>da</strong>extensão territorial <strong>da</strong> Região Hidrográfica. É constituí<strong>da</strong> porseqüências sedimentares que vão do Paleozóico, aflorante nasmargens <strong>da</strong> Bacia Amazônica, ao Cenozóico, ocupando to<strong>da</strong>a porção central <strong>da</strong> Bacia (PEDROSA e CAETANO, 2002).De um modo geral, as informações sobre a hidrogeologia<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica são genéricas e/ou esparsas,carecendo de compilações mais completas. Em escalaregional há poucos <strong>da</strong>dos. As informações mais precisas serestringem aos aqüíferos dos depósitos arenosos do Cenozóico(Solimões e Alter do Chão), que apresentam bons índicesde produtivi<strong>da</strong>de em diversas áreas (Ilha de Marajó,Macapá, Santana, Santarém e Manaus). Complementandoos sistemas aqüíferos <strong>da</strong> Região Hidrográfica têm-se ain<strong>da</strong>os sistemas: Boa Vista e Parecis. A captação, em geral,é efetua<strong>da</strong> tanto por poços tubulares (com profundi<strong>da</strong>dede 60m a 250m), como por sistemas de ponteiras e poçosamazonas (PEDROSA e CAETANO, 2002).Sistema Aqüífero Alter do ChãoO Sistema Aqüífero Alter do Chão é do tipo livre e fazparte <strong>da</strong> Bacia Sedimentar do Amazonas. Ocorre na <strong>região</strong>centro-norte do Pará e leste do Amazonas, ocupando área de312.574 km². No contexto <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicaele é explotado principalmente nas ci<strong>da</strong>des de Manaus(Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Rio Negro), Santana, Macapá e naIlha de Marajó (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Foz do Amazonas)e Santarém (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Tapajós).A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água do aqüífero é boa, apresentandopH em torno de 4,8 e sólidos totais dissolvidos inferioresa 100 mg.l -1 . Porém, as concentrações de ferroalcançam algumas vezes 15 mg.l -1 (FGV, 1998). O problemamais freqüente está associado à presença de ferrona água com a formação de manchas em instalações sanitáriase roupas, incrustação em tubulações e filtros empoços e mu<strong>da</strong>nça no gosto <strong>da</strong> água.Na <strong>região</strong> de Manaus, por exemplo, as águas apresentam pHmédio variando de 4,1 a 5,4, são fracamente mineraliza<strong>da</strong>s,com condutivi<strong>da</strong>de elétrica variando entre 15,1 a 82,9 µS.cm -1 ,e são predominantemente cloreta<strong>da</strong>s, sódicas ou potássicas. Emrelação à dureza, são classifica<strong>da</strong>s como moles com valores entre0,36 e 28,03 mg.l -1 de CaCO 3(Silva e BONOTTO, 2000).1 – IBGE, 2006. Mapa de biomas do Brasil (1:5.000.000). In:www.ibge.gov.br/biomas2/viewer.htm2 – A definição de ecorregiões que vem sendo utiliza<strong>da</strong> é a proposta por Dinnerstein et al. (1995): “um conjunto de comuni<strong>da</strong>des naturais, geograficamente distintas, que compartilham amaioria <strong>da</strong>s suas espécies, dinâmicas e processos ecológicos, e condições ambientais similares, que são fatores críticos para a manutenção de sua viabili<strong>da</strong>de em longo prazo”.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaSistema Aqüífero SolimõesO Sistema Aqüífero Solimões é representado pelos sedimentoslocalizados no topo <strong>da</strong> seqüência sedimentar <strong>da</strong> Baciado Amazonas. A sua área de recarga é de 457.664 km², correspondente ao Estado do Acre e à parte do oeste doEstado do Amazonas (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões eSub-<strong>região</strong> Hidrográfica Purus).Em Rio Branco, por exemplo, este sistema representaimportante manancial hídrico para abastecimento <strong>da</strong> população.A quali<strong>da</strong>de química <strong>da</strong>s águas é boa. Entretanto,em termos microbiológicos há limitações nas áreas urbanas,devido à eleva<strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de natural (aqüífero freáticocom nível <strong>da</strong> água raso, próximo à superfície) e elevadopotencial de contaminação devido a poços mal construídos,ausência/inadequação de proteção sanitária e carência desaneamento básico (ANA, 2005).Quanto à província do escudo central (porções a sul <strong>da</strong>sSub-regiões Hidrográficas Madeira e Tapajós), estima-se queos aqüíferos mais promissores correspondem aos arenitos proterozóicos(Beneficente e Pacaás Novas). As rochas fratura<strong>da</strong>sdo embasamento devem apresentar, também, razoáveis possibili<strong>da</strong>deshídricas devido aos altos índices pluviométricos <strong>da</strong>área. Os outros sistemas aqüíferos são classificados como pequenosquanto à sua importância hidrogeológica relativa, tendoem vista a litologia, com predominância de folhelhos e/ousiltitos sobre areias e/ou arenitos, ou então devido às áreas deocorrência restrita (PEDROSA e CAETANO, 2002).Sistema Aqüífero Boa VistaSão sedimentos cenozóicos (65 Ma.), especialmente arenitosconglomeráticos e arcoseanos, ocorrendo na porçãonordeste do estado de Roraima (Sub-<strong>região</strong> HidrográficaNegro). Este sistema aflora por aproxima<strong>da</strong>mente 14.800km². Sua espessura máxima é estima<strong>da</strong>, em 120 m. Sua disponibili<strong>da</strong>dehídrica (reserva explotável) é de aproxima<strong>da</strong>mente32 m³.s -1 . É importante fonte de abastecimento paraa ci<strong>da</strong>de de Boa Vista (ANA, 2005).Sistema Aqüífero ParecisArenitos com intercalações de níveis de conglomeradoe lentes pelíticas, constituem este aqüífero onde as rochaspossuem i<strong>da</strong>de cretácea (145 Ma.). O sistema aflora no oestede Mato Grosso e na extremi<strong>da</strong>de leste do Estado de Rondônia(<strong>região</strong> limítrofe entre as Sub-regiões HidrográficasTapajós e Madeira), ocupando cerca de 88.157 km². Temespessura média de 150 m e reserva explotável estima<strong>da</strong> <strong>da</strong>ordem de 464 m³.s -1 . Apresenta eleva<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de comvazões específicas de 10 a 15m³.h -1 .m -1 (ANA, 2005).Merece comentário, apesar de espacialmente pouco representativa,a província Costeira, representa<strong>da</strong> pela sub-provínciado Amapá (sedimentos inconsoli<strong>da</strong>dos e o aqüíferoAlter do Chão), correspondente às Sub-regiões HidrográficasAmapá Litoral e Foz do Amazonas.Uso <strong>da</strong>s águas subterrâneas na Região HidrográficaAmazônicaO uso <strong>da</strong> água subterrânea na Região Hidrográfica Amazônicatem sido conduzido de forma indiscrimina<strong>da</strong>, buscandouma alternativa à precária distribuição de água potável em muitosMunicípios <strong>da</strong> <strong>região</strong>. Isso tem se <strong>da</strong>do de forma expressivanas zonas urbanas. Essa exploração é realiza<strong>da</strong> por meio<strong>da</strong> perfuração de poços: tubulares ou escavados (conhecidoscomo “poços amazonas”). Existe na <strong>região</strong> um número muitogrande de poços rasos, ditos de “fundo de quintal”, que, peladeficiência <strong>da</strong> construção e falta de conservação, constituemna ver<strong>da</strong>de os veios por onde se dá a poluição dos aqüíferos.Uma amostra de onde estes usos são mais intensos, emescala regional, pode ser visualiza<strong>da</strong> através <strong>da</strong> espacialização<strong>da</strong>s áreas com grandes concentrações de poços perfuradoscatalogados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM),conforme poderá ser visualizado na Figura 13. Regionalmentehá uma explotação e uso do recurso concentrado nasprincipais ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>região</strong> (Manaus, Santarém, Boa Vista,e Porto Velho), bem como ao longo dos principais eixos deligação (Calha do rio Amazonas no trecho Manaus – Santarém,ao longo <strong>da</strong> Rodovia Cuiabá Porto – Velho).Paradoxalmente, o cenário tem se agravado com a expansãodos serviços públicos de abastecimento de água.Isto porque, após a desativação dos poços, esses, em geral,permanecem abertos, expondo o aqüífero ao meio externo.Há ain<strong>da</strong> casos mais graves, em que os poços, depois dedesativados, passam a ser utilizados como fossas ou lixeiras,45


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica46atingindo diretamente o aqüífero com agentes contaminantes,como reportado por Costa et al. (2003) no Municípiode Santana, no Estado do Amapá.Portanto, a existência de níveis de água rasos, somadosà carência de saneamento básico nas áreas urbanas, ondeproliferam habitações com grande quanti<strong>da</strong>de de fossas epoços construídos sem requisitos mínimos de proteção sanitária,favorecem a contaminação do aqüífero. Corroboramessa afirmação, por exemplo, análises de amostras de águade poços tubulares <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Manaus, com expressivacontaminação por coliformes termo-tolerantes em 60,5%dos poços ca<strong>da</strong>strados (COSTA et al., 2004).No caso <strong>da</strong> capital do Amazonas, o aqüífero, representadopelos sedimentos cenozóicos <strong>da</strong> província do Amazonas, éexplorado através de poços tubulares com até 250 metrosde profundi<strong>da</strong>de. Porém, e com maior freqüência, por poçosescavados de grande diâmetro e ponteiras. Em Manaus, háhoje mais de oito dezenas de poços tubulares utilizados parao abastecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Em média, tem profundi<strong>da</strong>de de160 metros e captam água do aqüífero Alter do Chão, comuma vazão média de 78m³.h -1 (COSTA et al., 2004).Portanto, não parece ser a quali<strong>da</strong>de natural <strong>da</strong> água doaqüífero a responsável pelo problema encontrado em Manaus.Na ver<strong>da</strong>de, na <strong>região</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong>quela zona urbana,apenas 21,4% <strong>da</strong>s residências estavam liga<strong>da</strong>s à redede esgoto. Apresentavam proximi<strong>da</strong>de “poço-fossa” inferiora 20 metros e má construção dos poços. Os problemas dequali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água subterrânea de Manaus foram então relacionadosà falta de saneamento (COSTA et al., 2004).Outro caso que merece destaque é o do Aqüífero Jaciparaná,constituído por sedimentos de origem fluvial e colúvio-aluvial,com intercalações de areia, argila e silte de i<strong>da</strong>de tércio-quaternária,utilizado para abastecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Velho.Nele, também foram constatados níveis importantes de contaminação.Em amostras coleta<strong>da</strong>s de 30 poços tubulares, osteores de nitrato variaram de 0,64 a 26,43 mg.l -1 . Em 23% <strong>da</strong>samostras, foram apresentados valores acima do padrão de 10mg.l -1 . A contaminação foi atribuí<strong>da</strong> à eleva<strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de populacionalassocia<strong>da</strong> ao uso de fossas (CAMPOS et al., 2004).Além dos casos acima citados, o problema de poluiçãodo aqüífero freático na Amazônia já tem sido constatadoinclusive em ci<strong>da</strong>des menores, como em Rolim deMoura (RO), com problemas de contaminação do lençolfreático provocado pelo mal uso de uma termoelétrica(CER – INF. PESSOAL).Estudos, no Brasil, mostrando as relações entre ativi<strong>da</strong>deshumanas e seus efeitos na água subterrânea, ain<strong>da</strong> são poucos.Porém, sabe-se de experiências realiza<strong>da</strong>s, tanto no País, quantono exterior, que as principais ativi<strong>da</strong>des contaminantes sãoas relaciona<strong>da</strong>s com práticas agrícolas, industriais, de mineração,instalações de postos de gasolina e também <strong>da</strong> instalaçãode cemitérios. Na Amazônia, em especial, não há <strong>da</strong>dos a esserespeito que permitam avaliar a dimensão do impacto dessasativi<strong>da</strong>des nos recursos hídricos (ANA, 2005).Para uso como água mineral, ou então como água potávelde mesa, em vista de seu potencial, na <strong>região</strong> Amazônica,ain<strong>da</strong> se explora muito pouco a água subterrânea. Dadoscompilados pela ANA (2005), mostram que o consumo deáguas minerais e/ou potáveis de mesa é bastante baixo. Sendoque esta pode vir a ser uma vocação importante para a<strong>região</strong>, em futuro próximo, <strong>da</strong> mesma forma como hoje seconsidera sua água superficial.4.3 | Principais Biomas e Ecossistemas <strong>da</strong> RegiãoHidrográficaO bioma AmazônicoA Amazônia, como bioma, representa o equivalente à 1/3<strong>da</strong>s reservas de florestas tropicais úmi<strong>da</strong>s e o maior bancogenético do planeta (IBAMA, 2005). Em território brasileiro,o bioma Amazônia ocupa uma superfície de 4.196.943km 2 (IBGE, 2006 1 ), abrangendo os Estados do Acre, Amapá,Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e pequena partedos Estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.Por sua vez, o Bioma Amazônico é composto por 23 ecorregiões2 que representam os mais diversos tipos de habitats,contendo diferentes fisionomias, estruturas e tipos de vegetação(Figura 14 e Quadro 7).A porcentagem de área ocupa<strong>da</strong> por ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s 23ecorregiões do Bioma Amazônico varia de 0,02% (tepuís)a 16% (interflúvio Madeira – Tapajós). Contudo, a maioriadestas ecorregiões (cerca de 65%), ocupa ca<strong>da</strong> uma, menos


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaFonte: Ferreira et al. (2001)Figura 14 – Ecorregiões do Bioma AmazônicoQuadro 7 – Tabela de nomes para identificação <strong>da</strong>s ecorregiões do Bioma Amazônico correspondentes à numeração <strong>da</strong><strong>da</strong> na Figura 1347Número <strong>da</strong> Ecor<strong>região</strong> Denominação <strong>da</strong> Ecor<strong>região</strong>1 Florestas de Caqueta2 Florestas de altitude <strong>da</strong>s Guianas3 Florestas tropicais <strong>da</strong>s Guianas4 Várzeas de Guarupá5 Savanas <strong>da</strong>s Guianas6 Várzeas de Iquitos7 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Japurá/Solimões-Negro8 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Juruá/Purus9 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Madeira/Tapajós10 Várzeas do Marajó11 Florestas secas do Mato Grosso12 Várzeas do Monte Alegre13 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Negro/Branco14 Várzeas do Purus15 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Purus/Madeira16 Campinarana do Alto Rio Negro17 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Solimões/Japurá18 Sudoeste <strong>da</strong> Amazônia19 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Tapajós/Xingu20 Tepuís21 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Tocantins-Araguaia/Maranhão22 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Uatumã-Trombetas23 Florestas úmi<strong>da</strong>s do Xingu/Tocantins-Araguaia


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica48de 5% <strong>da</strong> área e, apenas três ecorregiões ocupam mais de10% do bioma (FERREIRA et al., 2001).A cobertura vegetalNo que diz respeito à cobertura vegetal, são reconhecidos70 tipos de vegetação natural, ditos: não antropizados, eseis tipos, ditos: antropizados, no bioma Amazônico (IBGE,1992 e FERREIRA et al., 2001). Estes grupos de vegetaçãoforam definidos de acordo com sua estrutura, fisionomia,topografia, altitude e composição florística como:• Campinaranas, compostas por cinco tipos e um ecótoncom as florestas ombrófilas, ocupando cerca de 4% e distribuí<strong>da</strong>sentre três e 12 ecorregiões do bioma Amazônico;• Florestas estacionais deciduais e semideciduais,compostas por seis tipos ca<strong>da</strong> uma, ocupando cerca de5% e distribuí<strong>da</strong>s entre uma e seis ecorregiões do biomaAmazônico;• Florestas ombrófilas abertas, compostas por 11 tipos,ocupando cerca de 25% e distribuí<strong>da</strong>s entre dois e 18ecorregiões do Bioma Amazônico;• Florestas ombrófilas densas, compostas por 12 tipos,ocupando cerca de 53% e distribuí<strong>da</strong>s entre uma e 23ecorregiões do Bioma Amazônico;• Formações pioneiras com influência fluvial e/ou marinha,compostas por nove tipos, ocupando cerca de2% e distribuí<strong>da</strong>s entre uma e 12 ecorregiões do BiomaAmazônico;• Refúgios montanos, compostos por quatro tipos, ocupandomenos de 0,03% e distribuídos entre uma e quatroecorregiões do bioma Amazônico;• Savanas <strong>amazônica</strong>s, compostas por 15 tipos e doisecótons com florestas ombrófilas e estacionais, ocupandocerca de 6% e distribuí<strong>da</strong>s entre uma e dez ecorregiõesdo bioma Amazônico.Considerando a área total <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,menor se compara<strong>da</strong> à do bioma Amazônico, têmseque, pouco mais de 80% <strong>da</strong> <strong>região</strong> (Figura 15) estárecoberta por vegetação de Florestas. As savanas correspondema praticamente 10% do total e os restantes, quase8%, são divididos entre as ativi<strong>da</strong>des agropastoris, água,vegetação secundária, áreas de refúgios montanos e reflorestamento,terminando pelas formações ou áreas pioneiras,estas ocupando cerca de 2% <strong>da</strong> área total.Analisando-se em maior detalhe a Região Hidrográfica everificando-se a distribuição dos principais tipos de vegetação,segundo as áreas <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas, tem-se:• Em média de 10% a 13% do território <strong>da</strong>s sete maioresSub-regiões Hidrográficas, cobertos pelas formaçõesflorestais (densas, ombrófilas, deciduais, etc.), nasoutras três Sub-regiões Hidrográficas Amapá Litoral,Paru e <strong>da</strong> Foz do Amazonas, esta média cai para aproxima<strong>da</strong>mente2,5%.• Em relação às áreas de Campinaranas, estas estão emsua quase totali<strong>da</strong>de na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro(95% <strong>da</strong>s áreas existentes na Região Hidrográfica total),<strong>da</strong>s sub-regiões restantes, destaca-se apenas a Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Solimões com pouco mais de 4%.• Quanto às áreas de savanas, estão mais concentra<strong>da</strong>snas Sub-regiões Hidrográficas Tapajós, Xingu, Madeirae Negro, onde ocupam 40%, 20%, 14% e 11% <strong>da</strong> áreade ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s respectivas Sub-regiões Hidrográficas.• A vegetação secundária, por sua vez, concentra-se maisna Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Trombetas, onde está cercade 40% do universo identificado como tal, na RegiãoHidrográfica Amazônica.• Das demais áreas (refúgios montanos, reflorestamento,formações ou áreas pioneiras, etc.), merecem destaque asSub-regiões Hidrográficas: Negro, Madeira e Xingu, quesão responsáveis, em média, por 12%, ca<strong>da</strong> uma, em relaçãoàquele universo, na Região Hidrográfica total.A Amazônia abriga ain<strong>da</strong>, uma imensa diversi<strong>da</strong>de biológicaassocia<strong>da</strong> a sua extraordinária riqueza de ecossistemas.Estudo do MMA/SBF (2002), sobre a biodiversi<strong>da</strong>de brasileira,mostra em relação à Amazônia Brasileira, que:• A riqueza <strong>da</strong> flora é estima<strong>da</strong> em aproxima<strong>da</strong>mente21.000 espécies;• Os animais invertebrados constituem mais de 95%<strong>da</strong>s espécies existentes na <strong>região</strong> e se distribuem entre20 a 30 filos;


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica49Fonte: Dados <strong>da</strong> vegetacão – Base IBGE (2004); Bases do PNRH (2005)Figura 15 – Cobertura vegetal na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica50• A maior diversi<strong>da</strong>de de espécies de peixes do País estácentraliza<strong>da</strong> na Amazônia, onde se estima que o númerode espécies de peixes para to<strong>da</strong> a Bacia Hidrográficaseja maior que 1.300;• Um total de 163 registros de espécies de anfíbios foramencontrados na <strong>região</strong>;• Há cerca de 1.000 espécies de aves, <strong>da</strong>s quais 283 possuemdistribuição restrita ou são raras;• Atualmente, são 311 espécies de mamíferos cuja ocorrênciaé registra<strong>da</strong> na <strong>região</strong>; e• Existem 550 espécies de répteis registrados para a <strong>região</strong>,sendo que 62% destas espécies são endêmicas.Apesar de to<strong>da</strong> a sua riqueza de vi<strong>da</strong> selvagem e <strong>da</strong> exuberância<strong>da</strong>s florestas, o Bioma Amazônico apresenta condiçõespeculiares para a sua manutenção. Estas condiçõesestão alia<strong>da</strong>s à sua geologia, ao seu relevo e a existênciade solos diferenciados. Estes elementos, por sua vez, estãosob a influência de temperaturas e grandes taxas de precipitação,num ambiente de clima equatorial quente úmido asuper-úmido.Além disso, a Bacia Amazônica tem sido submeti<strong>da</strong> auma forte pressão antrópica: desmatamento, ativi<strong>da</strong>desagrícolas e de mineração e urbanização. Essas ativi<strong>da</strong>desse traduzem numa alteração <strong>da</strong> cobertura pedológica evegetal, que, por sua vez, induz a uma modificação doregime climático, sendo que os efeitos conjugados (climae cobertura – solo e vegetação) influem nos processos detransferência de matéria dentro <strong>da</strong> Bacia (STERNBERG,1995, SHUKLA et al., 1990).Existe, portanto, um equilíbrio nas relações <strong>da</strong>s populaçõesbiológicas, sensíveis a interferências antrópicas, comos diferentes processos naturais ocorrentes na Bacia quedão características únicas à Amazônia. Sendo assim, o BiomaAmazônico pode ser entendido como um sistema autosustentável,que se mantém com seus próprios nutrientesnum ciclo permanente (SIOLI, 1991), necessitando deações para sua conservação.Uni<strong>da</strong>des de ConservaçãoA criação de Uni<strong>da</strong>des de Conservação, ou simplesmenteUCs, tem sido utiliza<strong>da</strong> pelo Estado Brasileiro, em suasdiferentes esferas, como estratégia conservacionista. Nessecontexto, destaca-se a Região Hidrográfica Amazônica,com uma área total de pouco mais de 25 milhões de hectares,onde existem cerca de 170 Uni<strong>da</strong>des de Conservaçãoca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong>s, segundo informações compila<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s basesde <strong>da</strong>dos do IBGE (2006), SRH/MMA, PNRH (2005) eANEEL (1999) e intersecta<strong>da</strong>s, por técnicas de geoprocessamento,com a área <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica.Daquele total, a maioria são Reservas Extrativistas – RE-SEX, (24%) e Florestas Nacionais – FLONAS, (23%). Emmenor proporção vêm as Estações Ecológicas com 10% eas Áreas de Proteção Ambiental- APA, com 9%. ReservasBiológicas e Parques Nacionais, ca<strong>da</strong> uma dessas classesapresenta quantitativo de 7% do total de UCs, o que já representa80% <strong>da</strong> área total <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de conservaçãoexistentes na Região Hidrográfica Amazônica.Os restantes 20%, são partilhados entre Florestas Estaduais,Parques Estaduais, Reservas Particulares de Proteção <strong>da</strong>Natureza - as RPPN, Reservas Ecológicas, Reservas de DesenvolvimentoSustentável - as RDS e Áreas de RelevanteInteresse Ecológico - ARIE.Analisando-se no contexto <strong>da</strong> subdivisão <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica, verifica-se que a Região HidrográficaMadeira possui no seu território 33% <strong>da</strong>s UCs.Posteriormente, têm-se as Sub-regiões HidrográficasNegro e Purus, respectivamente, com 16% e 11% <strong>da</strong>suni<strong>da</strong>des. Em segui<strong>da</strong> vêm Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões,Foz do Amazonas e Tapajós, possuindo ca<strong>da</strong> uma,respectivamente, 9%, 8% e 7% <strong>da</strong>s UCs.No entanto, quando se mu<strong>da</strong> o critério <strong>da</strong> análise, donúmero de UCs, para o quantitativo de área <strong>da</strong>s UCs, emkm², a Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro apresenta-se bemsuperior às demais (Figura 16), onde merecem destaqueas áreas <strong>da</strong> “Cabeça do Cachorro” a noroeste do Estado doAmazonas, indo em direção ao norte do Estado de Roraima,e também o Corredor Mamirauá-Anamã-Jaú, na porçãocentral-oeste <strong>da</strong> Região Hidrográfica.Tomando por base as Uni<strong>da</strong>des de Conservação e as eventuaisnecessi<strong>da</strong>des de expansão no tocante à gestão dos recursoshídricos, a Figura 16-A indica, também, a atual redede monitoramento hidrológico <strong>da</strong> ANA, com mais de 300


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficaestações pluviométricas e fluviométricas. Naquelas estaçõessão realiza<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s diárias de pluviometria (intensi<strong>da</strong>dede chuvas) e fluviometria (níveis dos rios). Em cerca de50% <strong>da</strong>s estações fluviométricas também são realiza<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>sde vazão, nos respectivos cursos de água, porém comfreqüência trimestral.A rede de monitoramento hidrológico é parte de umainfra-estrutura existente em todo o território nacional. NaAmazônia existem atualmente mais de 300 estações, tantopluviométricas quanto fluviométricas, em operação. Dessetotal, um pequeno percentual é constituído de estaçõesautomáticas, enviando <strong>da</strong>dos de chuva e nível dos rios viasatélite, para os centros de monitoramento, tanto na ANA,quanto no Sipam.Durante muitos anos a rede hidrométrica nacional foiutiliza<strong>da</strong>, também na Amazônia, mais para fins de planejamentoenergético. Atualmente, sob a gestão <strong>da</strong> ANA/MMA, no escopo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des ambientais do governobrasileiro, esta rede passa por um processo de a<strong>da</strong>ptaçãode suas finali<strong>da</strong>des, deixando de voltar-se unicamenteao uso <strong>da</strong> água pelo setor elétrico, para também contemplaros usos múltiplos.Assim sendo, e em vista <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des ambientais <strong>da</strong>Região Hidrográfica Amazônica, essa a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> rede hidrométricaprecisaria contemplar aspectos voltados para amanutenção <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des de Conservação. Atualmente, arede apresenta uma boa distribuição espacial na Bacia, masseus quantitativos, visando os usos múltiplos dos recursoshídricos, incluindo-se também a questão <strong>da</strong>s UCs, ain<strong>da</strong> estãoaquém <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des reais para se realizar um efetivomonitoramento hidrológico na <strong>região</strong>.Em vista <strong>da</strong> interação gestão ambiental/gestão de recursoshídricos uma expansão <strong>da</strong> rede hidrométrica nacional pareceimportante. E, dentro <strong>da</strong>quele mesmo escopo integrador,perpassando por uma colaboração entre o governo federale os governos dos estados <strong>da</strong> <strong>região</strong>. Essa colaboração é importante,principalmente em vista dos custos e <strong>da</strong> logísticaenvolvi<strong>da</strong>s nos trabalhos de operação de campo.Ain<strong>da</strong> pela análise <strong>da</strong> Figura 16 e considerando-se a criaçãode UCs como estratégia <strong>da</strong> política pública de conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, percebe-se um vazio na porção sul<strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Tapajós e que corresponde àsnascentes dos rios Juruena e Teles-Pires, área que tem sidobastante afeta<strong>da</strong> pelo antropismo. Esse e outros vazios, quepodem ser de importância para os recursos hídricos, estãocontemplados no contexto <strong>da</strong>s áreas prioritárias para a conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (Figura 17).Cabe destacar, que a maior parte <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong> Figura 16,considera<strong>da</strong>s como de priori<strong>da</strong>de muito alta a extremamentealta, estão localiza<strong>da</strong>s tanto nas cabeceiras quanto ao longo<strong>da</strong>s calhas dos grandes rios Amazônicos. Desse modo, as áreasprioritárias para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de parecemrefletir, muito provavelmente, um contexto onde devem serprocura<strong>da</strong>s conexões nas ativi<strong>da</strong>des de gestão ambiental comas necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> gestão dos recursos hídricos. Conexõesestas, que devem existir, mesmo que de forma indireta, emespecial volta<strong>da</strong> para ambientes aquáticos, como as áreas devárzea, onde ativi<strong>da</strong>des como pesca e turismo ecológico têmse mostrado importantes.Ecorregiões AquáticasMetodologias basea<strong>da</strong>s na distribuição e subdivisão deecossistemas consistem em poderosas ferramentas para direcionaros esforços conservacionistas e o conceito de ecor<strong>região</strong>,acima mencionado, tem sido o mais indicado para estepropósito (MMA, 2002, HIGGINS et al., 2005).Iniciativa <strong>da</strong> Secretaria de Recursos Hídricos do Ministériodo Meio Ambiente - SRH/MMA, a proposta de criação <strong>da</strong>secorregiões aquáticas brasileiras surgiu do reconhecimento<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de maior integração entre a gestão ambientale a gestão de recursos hídricos (CD-ROM Ecorregiões AquáticasBrasileiras, vide MMA, 2006).Assim, como ação transversal envolvendo também as SecretariasExecutiva - Secex/MMA e de Biodiversi<strong>da</strong>de e Florestas- SBF/MMA, além <strong>da</strong> Agência Nacional de Águas - ANA, a SRH/MMA propôs o delineamento <strong>da</strong>s ecorregiões aquáticas brasileiras.Para sua viabilização, a proposta conta com recursos doFundo Setorial de Recursos Hídricos do Ministério <strong>da</strong> Ciência eTecnologia - CT-HIDRO, em conjunto com o Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.51


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica52Fonte: IBGE (2003); Ibama (2005); ANA (2005); Bases do PNRH (2005)Figura 16 – Uni<strong>da</strong>des de Conservação na Região Hidrográfica Amazônica


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica53Fonte: IBGE (2003); Ibama (2005); Bases do PNRH (2005)Figura 17 – Áreas prioritárias para conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica54O delineamento <strong>da</strong>s ecorregiões aquáticas brasileiras tevecomo ponto de parti<strong>da</strong> o estudo A Collaborative Approach toUnderstanding Regional Patterns of Freshwater Biodiversityin Latin America: A Framework for Setting Priorities, elaboradosob os auspícios <strong>da</strong>s organizações não governamentaisThe Nature Conservancy - TNC e World Wildlife Fund - WWFenvolvi<strong>da</strong>s no desenvolvimento <strong>da</strong> metodologia ecorregionalem diferentes partes do globo e que têm sido parceiras nasiniciativas brasileiras.Tomou-se por base o conceito de abor<strong>da</strong>gem ecorregionalcomo um sistema de classificação, regionalização e mapeamento,de modo a estratificar a superfície terrestre em áreasprogressivamente menores de homogenei<strong>da</strong>de progressivamentemaior. Os tipos ecológicos são classificados e as uni<strong>da</strong>desecológicas são mapea<strong>da</strong>s com base nas associações de fatoresambientais e bióticos que regulam a estrutura e funçõesdos ecossistemas (BAILEY, 1983). Portanto, essa abor<strong>da</strong>gemé diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong> Divisão Hidrográfica Regional.A metodologia para o delineamento <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des ecorregionaisvaria de acordo com o sistema a ser analisado, tendosempre como referência a biogeografia. A delimitação <strong>da</strong>secorregiões aquáticas é primariamente estabeleci<strong>da</strong> tendocomo base a zoogeografia de espécies obrigatoriamente aquáticas(ABELL, 2002).Assim, os resultados <strong>da</strong> iniciativa <strong>da</strong> SRH/MMA para acriação <strong>da</strong>s ecorregiões aquáticas brasileiras é hoje parte integrantedo Plano Nacional de Recursos Hídricos. Nesse sentidoe especificamente para o contexto Amazônico, findou-sepela proposição de oito ecorregiões aquáticas: Rio Branco,Rio Negro, Escudo <strong>da</strong>s Guianas, Planície Amazônica, Estuáriodo Amazonas, Xingu-Tapajós, Margem Direita do RioMadeira e Guaporé (Figura 18).A seguir encontram-se as descrições <strong>da</strong>s característicasutiliza<strong>da</strong>s como definidoras <strong>da</strong>s ecorregiões aquáticas <strong>da</strong>Região Hidrográfica Amazônica, conforme identifica<strong>da</strong>s naFigura 18 e de acordo com os resultados do grupo de trabalhoanteriormente citado.Ecor<strong>região</strong> Aquática – Rio BrancoExtensão e principais rios: abrange as porções mais altasdo Escudo <strong>da</strong>s Guianas em território brasileiro. Inclui aBacia de drenagem do alto e médio rio Branco, juntamentecom as drenagens do Mapulau que se torna afluente do RioNegro quando passa a ser chamado de Demeni. Inclui também,na margem esquer<strong>da</strong> do rio Branco, os rios Tacutu,Anauá, alto a médio Tapera e Jauaperi e na margem direitaos rios Surumu, Uraricoera, Mucataí e Catrimani. Essaecor<strong>região</strong> abrange as seguintes sedes: Caroebe, São João <strong>da</strong>Baliza, São Luiz, Rorainópolis, Caracarai, Iracema, Mucajai,Canta, Boa Vista, Alto Alegre, Bonfim, Amajari, Normandia,Pacaraima, Uiramatã.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: rio Mapuera, rio Trombetas (FER-REIRA, 1983; GOULDING et al., 2003; REVILLA et al., 1986).Lacunas de conhecimento: rio Branco, relativamentebem amostrado, rios Pa<strong>da</strong>uari e Demeni pouco conhecidos;rio Uatumã bem conhecido, rio Trombetas bem conhecidoaté Cachoeira Porteira e virtualmente desconhecido acimadesta; rios Jari, Nhamundá e Paru do Oeste muito poucoconhecidos.Espécies endêmicas: Chaetostoma jegui.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nenhuma conheci<strong>da</strong>Integri<strong>da</strong>de ambiental: ameaças por exploração de cassiterita,mineração em geral, potencial hidrelétrico, Projeto Jarí.Interesse biogeográfico: “intercâmbio faunístico” entreas cabeceiras dos rios do escudo guianense com os rios doSuriname e Guiana Francesa; contato entre o alto rio Brancoe o rio Rupununi (alto rio Essequibo – Guiana).Ecor<strong>região</strong> Aquática – Rio NegroExtensão e principais rios: inclui a Bacia de drenagemdo Rio Negro até a confluência com o rio Solimões. Essaárea estende-se desde os contrafortes orientais <strong>da</strong> Cordilheirados Andes, na Colômbia, até a ci<strong>da</strong>de de Manaus,correspondendo às drenagens de águas pretas e áci<strong>da</strong>s <strong>da</strong>Mata de Igapó, abrangendo: à margem esquer<strong>da</strong> do Rio Negro,os rios Cavaburi, Marauiá, médio a baixo Pa<strong>da</strong>uiri eAraçá, Demini, Jufari, médio a baixo Xeriuni e Tapera, baixorio Branco, baixo Jauaperi, Camanau, Curiuau, Culeirase alto Urubu. À margem direita do Rio Negro, os rios Içana,Uaupes, Tiquié, Curicuari, baixo Marie médio a baixoUneiuxi, Cuiuni, Unini, Jaú e Carabinani. Esta ecor<strong>região</strong>abrange as seguintes sedes: Manaus, Presidente Figueire-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica55Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 18 – Ecorregiões Aquáticas na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica56do, Novo Airão, Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e SãoGabriel <strong>da</strong> Cachoeira.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: existem diversos estudos limnológicose sobre ecologia de invertebrados (JUNK & RO-BERTSON, 1997), ictiofauna do Baixo Rio Negro (CHAO etal., 2001; BORGES et al., 2004; GOULDING & BARTHEM,2003; GOULDING et al., 1988; <strong>da</strong>dos de desembarque doProjeto PróVárzea, do INPA e UFAM), migração de Jaraquis(Ribeiro, 1985).Lacunas de conhecimento: curso superior (acima de SãoGabriel <strong>da</strong> Cachoeira) muito pouco conhecido.Espécies endêmicas: grande quanti<strong>da</strong>de de espéciesendêmicas, destacando-se entre elas Hydrolycus wallacei(peixe cachorro), Paracheirodon axelrodi (cardinal), Moenkhauziadiktyota (piaba) e Corydoras imitator (coridora).Apesar disso, essa taxa de endemismo pode ser considera<strong>da</strong>relativamente baixa, <strong>da</strong><strong>da</strong> a grande riqueza estima<strong>da</strong> paraesta Bacia, em torno de 700 espécies de peixes. Muitas espéciescompartilha<strong>da</strong>s com a Bacia do Alto Rio Orinoco,com a qual está conecta<strong>da</strong> através do canal de Casiquiare.Goulding et al. (1988) fornecem uma lista de espécies endêmicaspara a <strong>região</strong>, embora um pouco desatualiza<strong>da</strong>.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nenhuma na lista oficial do Ibama,mas há sobrepesca de peixes ornamentais.Integri<strong>da</strong>de ambiental: ameaça por sobrepesca e mineraçãode cassiterita no Jauaperi, crescimento urbano de Manaus,acima do igarapé Tarumã, conflitos pelo uso de recursospesqueiros e a introdução do molusco exótico Achatinafulica (caramujo africano).Interesse biogeográfico: alta biodiversi<strong>da</strong>de. Gouldinget al. (1988) estimaram a ocorrência de 700 espécies na <strong>região</strong>.Estudos recentes apontam a ocorrência de pelo menos520 espécies (Calbazar et al., 2005); relações biogeográficascom o alto rio Orinoco.Ecor<strong>região</strong> Aquática – Escudo <strong>da</strong>s GuianasExtensão e principais rios: abrange as porções mais baixasdo Escudo <strong>da</strong>s Guianas em território brasileiro, incluindoalgumas <strong>da</strong>s Bacias de drenagem de afluentes indiretos<strong>da</strong> margem esquer<strong>da</strong> do rio Amazonas, como: alto a médioUatumã, alto Capucapu, Jatapú, alto Nhamundá, alto a médioMapuera, Imabu, alto a médio Trombetas, Paru de Oeste;alto a médio Cuminapanema, Curuapanema, Maicuru,Paru de Leste e Jarí; Amapari e alto Araguari. Essa ecor<strong>região</strong>abrange as seguintes sedes: Pedra Branca do Amapá,Serra do Navio e Porto Grande.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: rio Mapuera, rio Trombetas(FERREIRA, 1983; GOULDING et al., 2003; REVILLAet al., 1986; GOULDING et al., 2003).Lacunas de conhecimento: rio Branco relativamentebem conhecido; rios Pa<strong>da</strong>uiri e Demeni pouco conhecidos;rio Uatumã bem conhecido, rio Trombetas bem conhecidoaté Cachoeira Porteira, e praticamente desconhecido acimadesta; rios Jari, Nhamundá e Paru do Oeste muito poucoconhecidos.Espécies endêmicas: Leporinus uatumensis, L. pitingai,Melanocharacidium spp., Bryconexodon trombetasi; Crenicichlatigrina; Mylesinus paraschomburgkii.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nenhuma conheci<strong>da</strong>.Integri<strong>da</strong>de ambiental: ameaça pela exploração decassiterita, mineração em geral, potencial hidrelétrico,Projeto Jarí.Interesse biogeográfico: “intercâmbio faunístico” entreas cabeceiras dos rios do escudo guianense com os rios doSuriname e Guiana Francesa. Contato entre o alto rio Brancoe o rio Rupununi (alto rio Essequibo – Guiana).Ecor<strong>região</strong> Aquática – Planície AmazônicaExtensão e principais rios: inclui o curso principal dorio Amazonas e tributários que fluem através dos terrenosde baixa elevação <strong>da</strong> Bacia Sedimentar do Amazonas. Estaecor<strong>região</strong> encontra-se incrusta<strong>da</strong> entre o escudo brasileiro,ao sul, o Escudo <strong>da</strong> Guiana ao norte, e o sopé dos Andes aoeste. Estende-se <strong>da</strong> confluência com o rio Tapajós a lesteaté 250 metros de elevação a oeste. Abrange algumas Baciasde drenagens do Amazonas, como: baixo Curuapanema ebaixo Trombetas, médio e baixo Nhamundá, Baixo Jatapú,Uatumã e Urubu, alto a médio Marie, alto Pucabi, Solimões,Japurá, Iça, Itui, Juruá, Tefé, Coari, Purus, médio a baixoMadeira, Abacaxis e baixo Tapajós. Essa ecor<strong>região</strong> abrigavárias ci<strong>da</strong>des e vilas, sendo Santarém a sede mais a leste eMancio Lima a sede mais a oeste.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaDisponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: informações sobre o funcionamentodos sistemas de água branca são forneci<strong>da</strong>s porJunk (1997). Ayres (1995) fornece descrição sobre o funcionamento<strong>da</strong>s matas de várzea. Os estudos de Gouldinget al. (2003), Bayley & Araújo-Lima, Petry et al. (2003),Lima e Araújo-Lima (2004) versam sobre recrutamentodos peixes de alta fecundi<strong>da</strong>de (mais importantes à pesca),Barthem e Goulding (1997) fornecem informações sobre aecologia, migração e conservação dos bagres balizadores, adoura<strong>da</strong> (Brachyplatystoma rosseauxii, antiga flavicans) epiramutaba (Brachyplatystoma vailantii), cujas populaçõestem como área de vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> essa ecor<strong>região</strong> e o estuário doAmazonas. Ferreira et al. (1998) fornecem lista <strong>da</strong>s espéciesde interesse comercial de Santarém, no Pará.Lacunas de conhecimento: área relativamente bem conheci<strong>da</strong>para os padrões amazônicos, mas vastas áreas, especialmente<strong>da</strong> Amazônia Ocidental, requerem ain<strong>da</strong> muitoestudo, e especialmente a fauna associa<strong>da</strong> aos igarapés deterra firme, de difícil acesso.Espécies endêmicas: área aparentemente baixa em endemismos,mas constitui a área “core” para as espécies de organismosaquáticos a<strong>da</strong>ptados às áreas de várzea.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: espécies ameaça<strong>da</strong>s de sobrexplotaçãona calha do Amazonas, como por exemplo, o tambaqui(Colossoma macopomum), o pirarucu (Arapaima gigas)e a piramutaba (Brachyplatystoma vailantii). Extrativismode peixes ornamentais, particularmente o acará-disco (Symphysodonspp.) .Integri<strong>da</strong>de ambiental: ameaça pelo desmatamento <strong>da</strong>svárzeas no Baixo Amazonas, pecuária de gado bubalino, esforçode pesca concentrado e extração de petróleo.Interesse biogeográfico: <strong>região</strong> sob influência <strong>da</strong>s marés,caracteriza<strong>da</strong> por vastas áreas de várzea e cursos de águameandrantes. Seu limite oriental situa-se na foz do Tapajós,coincidindo com o limite inferior <strong>da</strong> distribuição de diversasespécies de peixes (jaraquis, (Semaprochilodus insignis/taeniurus), aracu (Schizodon fasciatus), tambaqui (Colossomamacropomum), pacu-manteiga (Mylossoma spp.) e matrinchã(Brycon amazonicus)). Muitos grupos relacionadosestão nas outras grandes áreas de inun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> América doSul – o Pantanal, os Lhanos, o rio Araguaia.Ecor<strong>região</strong> Aquática – Estuário do AmazonasExtensão e principais rios: inclui a área do estuário doAmazonas com limite oriental na Bacia do Rio Piriá e limitenoroeste na drenagem do rio Mutaquere no Amapá,excluindo o Oiapoque. O limite ao longo do curso principaldo Amazonas é a confluência com o rio Tapajós. Ao sul, aárea se estende até o Tocantins, tendo como limite a UHETucuruí. Principais rios: Caciporé, baixo Araguari, baixoXingu, Capim e baixo Tocantins. Belém e Macapá são asduas capitais conti<strong>da</strong>s na ecor<strong>região</strong>.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: estuário relativamente bemconhecido (BARTHEM 1984, CAMARGO e ISAAC, 2001);drenagens independentes pouco conheci<strong>da</strong>s; rio Guamá/Capim com coletas deposita<strong>da</strong>s no MPEG, MZUSP e MCP.Lacunas de conhecimento: carência de coletas no Guamá/Capime a leste do Pará; levantamentos de Marajó eman<strong>da</strong>mento no MPEG.Espécies endêmicas: Hyphessobrycon heterorhabdus,Iguanodectes rachovii.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nessa ecor<strong>região</strong>, a piramutaba(Brachyplatystoma vailantii) é considera<strong>da</strong> espécieameaça<strong>da</strong> por sobrexplotação de pesca, tanto comercialcomo industrial.Integri<strong>da</strong>de Ambiental: conflitos de pesca e pecuária.Interesse biogeográfico: Guil<strong>da</strong>s <strong>da</strong> várzea do Amazonascontinuam até a Guiana Francesa via pluma do Amazonas,na costa do Amapá (JÉGU e KEITH, 1999), e.g., distribuição<strong>da</strong> pirambóia e Pygocentrus; área de alimentação e crescimentodos grandes bagres migradores (piramutaba – Brachyplatystomavailantii e <strong>da</strong> doura<strong>da</strong> – Brachyplatystomarosseauxii), presença de rica fauna estuarina (e.g. tralhotos,Anableps spp.; muitos Arii<strong>da</strong>e; Aspredini<strong>da</strong>e estuarinos: Aspredoaspredo, Aspredinichthys spp. Platystacus cotylephorus;cação Isogomphodon oxyrhynchus; essa fauna estendeseaté o Golfão Maranhense).Ecor<strong>região</strong> Aquática – Xingu-TapajósExtensão e principais rios: esta ecor<strong>região</strong> inclui as Baciasde drenagem do alto a médio Tapajós e Xingu até aconfluência deste com o rio Acaraí, fluindo através do declivenorte do escudo brasileiro. O limite setentrional <strong>da</strong>57


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica58drenagem do Xingu é Senador José Porfirio e, no Tapajós,Itaituba. Os principais rios desta ecor<strong>região</strong> são: Xingu, Tapajós,Iriri, Teles Pires e Juruena.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: relatórios <strong>da</strong> Eletronorte sobreo Xingu (UHE Belo Monte) e informações referentes aictiofauna de corredeiras de Altamira (ZUANON, 1999).Lacunas de conhecimento: coletas recentes feitas pelaUFMT, MZUSP, MCP e MNRJ nos trechos superiores do Juruena/TelesPires e Xingu; médio Xingu ain<strong>da</strong> muito mal conhecido.Região de Belo Monte intensamente coleta<strong>da</strong> porM. Goulding (material MZUSP/MPEG); cf. também JansenZuanon (INPA) que desenvolveu tese sobre os peixes de corredeira<strong>da</strong> <strong>região</strong>; coleções feitas pela equipe <strong>da</strong> Dra. VictoriaIsaac na UFPA, infelizmente não deposita<strong>da</strong>s em museu.Pode ser necessário subdividir esta ecor<strong>região</strong> em duas, como acúmulo de informações sobre a ictiofauna (Xingu e Tapajós).Área prioritária para levantamentos.Espécies endêmicas: Bryconexodon juruenae, Leporinussexstriatus, Moenkhausia nigromarginata, Utiaritichthys sennaebragai,Hyphessobrycon scutulatus, H. heliacus; no Xingu: Teleocichlaspp., Scombinancistrus aureatus, Hypancistrus zebra,Leporinus julii, Sartor respectus, Rhynchodoras xingui, Ossubtusxinguense. Muitas espécies novas ain<strong>da</strong> não descritas, tantono Tapajós como no Xingu.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: Hypancistrus zebra, Ossubtus xinguense.Integri<strong>da</strong>de ambiental: <strong>região</strong> bastante ameaça<strong>da</strong> porhidrelétricas, mineração, pecuária e agricultura.Interesse biogeográfico: cachoeiras do baixo e médioXingu aparentemente promovem isolamento desse trechodo rio; Rio Juruena tem contatos com o alto Paraguai(e.g., Leporinus octomaculatus é compartilhado entre asduas Bacias) e Xingu (Moenkhausia phaeonota – que tambémestá presente no Paraguai). A relação com os demaisrios do escudo (Xingu e Tocantins-Araguaia) precisa sermais bem estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.Ecor<strong>região</strong> Aquática – Margem Direita do Rio MadeiraExtensão e principais rios: inclui a Bacia de drenagem dosafluentes <strong>da</strong> margem direita do alto rio Madeira no escudobrasileiro. Essa drenagem escoa pelos terrenos dos PlanaltosResiduais e <strong>da</strong> Depressão <strong>da</strong> Amazônia Meridional. Os riosprincipais que constituem essa ecor<strong>região</strong> são o Alto Madeira,o Mamoré, o Jamari, o Aripuanã, o Roosevelt e o rio Jiparaná.Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: O rio Mamoré foi razoavelmentecoletado em território boliviano por pesquisadores doIRD (material no MNHN). Bem coletado o alto rio Aripuanã(INPA, MZUSP). Muito material coletado de forma avulsa norio Aripuanã, bem como de forma sistematiza<strong>da</strong> nos rios Jamarie Machado, por pesquisadores do Inpa, no âmbito do projetoPolonoroeste e depositado neste instituto. Coletas nos rios Madeirae Jaci-Paraná continuam sendo feitas por pesquisadores<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Rondônia.Lacunas de conhecimento: Embora relativamente bemcoleta<strong>da</strong>, a grande extensão e riqueza <strong>da</strong> ictiofauna dessaecor<strong>região</strong> fazem com que o conhecimento de sua ictiofaunaain<strong>da</strong> seja incipiente.Espécies endêmicas: Muitas no Aripuanã (Inpaichthyskerri, Moenkhausia levidorsa, Aequidens gerciliae).Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nenhuma conheci<strong>da</strong>.Integri<strong>da</strong>de Ambiental: <strong>região</strong> sob forte pressão antrópica;grande parte <strong>da</strong> cobertura florestal foi destruí<strong>da</strong> nos últimos20 anos. Hidrelétricas planeja<strong>da</strong>s, como Dar<strong>da</strong>nelos norio Aripuanã, constituem outra fonte potencial de impacto.Interesse biogeográfico: rios dessa ecor<strong>região</strong>, como oAripuanã, apresentam elevado endemismo.Ecor<strong>região</strong> Aquática GuaporéExtensão e principais rios: inclui a Bacia <strong>da</strong> drenagemdo rio Guaporé, que drena os terrenos <strong>da</strong> depressão dosAltos rios Paraguai e Guaporé e Pantanal do rio Guaporé. OGuaporé tem características ecológicas peculiares (água preta,pH elevado, grande quanti<strong>da</strong>de de macróficas aquáticasflutuantes. As sedes que estão conti<strong>da</strong>s na ecor<strong>região</strong> são:Pontes e Lacer<strong>da</strong>, Vila Bela <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de, NovaLacer<strong>da</strong>, Comodoro, Cabixi, Colorado do Oeste, Cerejeiras,Corumbiara, Pimenteiras do Oeste, São Francisco do Guaporé,Seringueiras, São Miguel do Guaporé, Alta FlorestaD’oeste, Alto Alegre dos Parecis).Disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos: existe uma coleção relativamentegrande do Guaporé espalha<strong>da</strong> em vários museus(MNRJ, INPA, MZUSP, MCP, UMMZ).


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaLacunas de conhecimento: a Bacia do Rio Guaporé é relativamentebem coleta<strong>da</strong> embora não existam publicaçõessintéticas sobre sua ictiofauna.Espécies endêmicas: Bacia do Guaporé compartilhaparte de sua fauna com o Paraguai (e.g., vários Cichli<strong>da</strong>e,como, Satanoperca pappaterra, Apistogramma inconspicua,A.trilineata, Astronotus crassipinnis, Gymnogeophagusbalzanii; Characi<strong>da</strong>e como Hyphessobrycon megalopterus,Hemigrammus ulreyi e Aphyocharax rathbuni; Callichthyi<strong>da</strong>e:Corydoras hastatus). Muitas espécies aparentementeendêmicas, como Corydoras haraldschultzi, C. sterbai,Mikrogeophagus altispinosa, algumas <strong>da</strong>s quais ain<strong>da</strong> nãodescritas.Espécies ameaça<strong>da</strong>s: nenhuma conheci<strong>da</strong>.Integri<strong>da</strong>de ambiental: ameaça pelas extensas plantações desoja e planos para implantação de hidrovia.Interesse biogeográfico: a Bacia do Rio Guaporé apresentamuitas espécies em comum com a do rio Paraguai,evidência de um contato histórico possivelmente recente.4.4 | Caracterização do Uso e Ocupação do SoloExpansão <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des antrópicas na Região HidrográficaAmazônicaAté as déca<strong>da</strong>s de 1950 e 1960, a ocupação e o uso dosolo na Região Hidrográfica Amazônica pouco avançoualém <strong>da</strong> faixa de terras ribeirinhas dos principais riosnavegáveis. Esta situação, em quase na<strong>da</strong> se alterou comos ciclos de exploração econômica, que naquele períodoforam focados em ativi<strong>da</strong>des eminentemente extrativistas(COSTA, 1997; In: ESCADA e ALVES, 2001).Na déca<strong>da</strong> de 1970, no entanto, a ocupação <strong>da</strong> Amazôniapassou por transformações que a marcam até osdias atuais. O Governo Federal passou a viabilizar e subsidiara ocupação de terras na <strong>região</strong> através de expansãopioneira. Nesse período, as políticas de ocupaçãoprocuraram combinar empreendimentos de exploraçãoeconômica com estratégias geopolíticas.As estratégias geopolíticas utiliza<strong>da</strong>s pelo governopara a ocupação <strong>da</strong> Amazônia continham três principaislinhas de ação: i) Implantação de redes de integraçãoespacial, através <strong>da</strong> construção de redes: rodoviária, detelecomunicações, hidroelétrica e urbana; ii) Desapropriaçãode terras devolutas para implantação de projetosde colonização e mineração e; iii) Subsídios ao fluxo decapital e indução de fluxos migratórios (BECKER, 1997e MACHADO, 1997).A construção de rodovias, como a Trans<strong>amazônica</strong>e a Cuiabá-Santarém, constituem marco emblemático<strong>da</strong>quele período. Também é dos anos 1970, o empreendimento<strong>da</strong> colonização oficial pelo Incra, visando oassentamento de pequenos produtores apoiados peloGoverno Federal.Após 1974, no entanto, os investimentos passaram a serconcentrados em grandes empreendimentos estatais e privados.Estes investimentos foram considerados mais atrativospor possuírem maior probabili<strong>da</strong>de de retorno em curtoprazo, privilegiando as áreas que já apresentavam algumaconcentração econômica e populacional (COSTA, 1997).Nos anos 1980, as tendências de uso e ocupação se direcionarampara a mineração, a agroindústria e a reformaagrária, sendo coloca<strong>da</strong> a mineração como o centrodo desenvolvimento regional (KITAMURA, 1994).Nos anos 1990 teve início o cultivo de soja na RegiãoHidrográfica Amazônica, prometendo mu<strong>da</strong>nças no modelode ocupação e na economia regional, com previsãode abertura de corredores multimo<strong>da</strong>is, integrandohidrovias, ferrovias e rodovias (CARVALHO, 1999). Odesenvolvimento do cultivo <strong>da</strong> soja tem reascendido na<strong>região</strong> a idéia dos corredores econômicos propostos peloEstado Brasileiro nos anos 1970, agora, porém, sob a óticado agro-negócio.O período mais recente <strong>da</strong> história do uso e ocupaçãodo solo na Região Hidrográfica Amazônica, encontra-se emdestaque na Figura 19, considerando o intervalo entre 1971e 1991, utilizando <strong>da</strong>dos espaciais do Mapa do DiagnósticoAmbiental <strong>da</strong> Amazônia Legal (IBGE, 2006).Para fins de análise, o IBGE disponibilizou as informaçõesreuni<strong>da</strong>s na Figura 19, agrupa<strong>da</strong>s por classes, em trêsperíodos distintos: i) de 1971 a 1976; ii) de 1977 a 1987e iii) de 1988 a 1991. A partir do estudo espacial <strong>da</strong>quelasáreas de ocupação nas duas déca<strong>da</strong>s ali representa<strong>da</strong>s,59


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica60observa-se que o período de maior expansão antrópica esteveentre os anos de 1977 a 1987, onde o avanço <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>deshumanas foi de 17%, contra a expansão de 1% havi<strong>da</strong>entre 1971 a 1976. Já no terceiro período a expansão foimenor, tendo recuado para 7%.Vale notar que a fase de maior registro percentual quantoàs ativi<strong>da</strong>des humanas na Região Hidrográfica Amazônica,acima reporta<strong>da</strong>, coincide com o momento de implantaçãodo Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento - IIPND, na Amazônia. Por fim, a expansão total <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desantrópicas atingiu cerca de 25% <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> Região Hidrográfica,considerando as déca<strong>da</strong>s de 1970 e 1980, bemcomo os dois primeiros anos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990.Considerando a expansão antrópica, agora sob a ótica <strong>da</strong>sSub-regiões Hidrográficas, o Quadro 8, mostra que os efeitos<strong>da</strong>s políticas coloca<strong>da</strong>s em prática àquela época (1977 a 1987),foram sentidos em to<strong>da</strong>s as Sub-regiões Hidrográficas. No entanto,eles foram maiores nas sub-regiões: Paru, com 67,8%de sua área atingi<strong>da</strong>, Xingu e Tapajós, respectivamente com34,3% e 20,1% de suas áreas sensibiliza<strong>da</strong>s, assim como os21,5% <strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica do Madeira. Para as demaissub-regiões as taxas foram sempre menores que 10%.No período mais próximo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de atual (1988 a 1991),as Sub-regiões Hidrográficas Xingu (22,2% de sua área) e Tapajós(16,3% de sua área) se mantiveram como as regiões demaior ativi<strong>da</strong>de antrópica. Assim, percebe-se do Quadro 8,que no total geral, Paru, Xingu e Tapajós foram as Sub-regiõesmais atingi<strong>da</strong>s pela expansão antrópica desde o iníciodos anos 1970 até o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>. No entanto, nofinal do período; <strong>da</strong>s três sub-regiões, apenas a área do Paru,arrefeceu de forma considerável (0,5%), sendo que as outrasduas se mantiveram com taxas eleva<strong>da</strong>s de ocupação.Estudos produzidos pelo Instituto Imazon (disponibilizadosem 2005 no endereço eletrônico: http://imazon.org.br)indicam significativas áreas de pressão humana consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>ssobre o meio ambiente Amazônico como um todo. NaRegião Hidrográfica Amazônica, merecem destaque, comozonas de pressão humana consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>:• Áreas ao longo de to<strong>da</strong> a malha viária <strong>da</strong> Região Hidrográfica;• Áreas ao norte do Mato-Grosso, nas Sub-regiões HidrográficasXingu e Tapajós; e• Áreas na porção central de Rondônia, especialmenteacompanhando as ocupações populacionais ao longo<strong>da</strong> Rodovia Cuiabá – Porto Velho (Sub-<strong>região</strong> HidrográficaMadeira).Nos demais Estados, os <strong>da</strong>dos do Imazon indicam:• No Pará, áreas no trecho <strong>da</strong> Trans<strong>amazônica</strong>, de Itaitubaa Altamira, a calha do Amazonas, especialmenteem torno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Santarém, além <strong>da</strong>s margens <strong>da</strong>rodovia Cuiabá – Santarém, mais uma vez na área <strong>da</strong>sSub-regiões Hidrográficas Xingu e Tapajós, e tambémuma pequena parcela <strong>da</strong> Região Hidrográfica Paru;• No Acre, a <strong>região</strong> em torno de Rio Branco é a mais pressiona<strong>da</strong>;• Em Roraima (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro), onde amaior pressão está em torno <strong>da</strong> capital. Destacam-seain<strong>da</strong> algumas áreas um pouco mais ao sul, seguindona BR-174 em direção a Manaus;• No Amazonas, a <strong>região</strong> em torno de Manaus é a maispressiona<strong>da</strong>, além de trechos entre as altas Bacias dosrios Juruá (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões) e Purus(Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Pururs), no sul do Estado,bem como na <strong>região</strong> de Humaitá (Sub-<strong>região</strong> HidrográficaMadeira) e em diversos trechos ao longo <strong>da</strong> calhado rio Amazonas na direção de Santarém.Portanto, pelos <strong>da</strong>dos do Instituto Imazon, as SubregiõesHidrográficas Xingu, Tapajós e Madeira ain<strong>da</strong>parecem se manter como as que mais têm sido sensibiliza<strong>da</strong>spor ações antrópicas, ao longo dos últimos 35anos. Assim, nessas Sub-regiões Hidrográficas há grandeconcentração de áreas consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s e/ou em franca fasede consoli<strong>da</strong>ção. Isso significa dizer que, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as condiçõesprecárias de planejamento regional, estão sendogera<strong>da</strong>s áreas de pressão e impactos ambientais, incluindoaí os recursos hídricos.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica61Fonte: IBGE (2003); Bases do PNRH (2005)Figura 19 – Expansão antrópica na Região Hidrográfica Amazônica no período 1971-1991


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaPrincipais ativi<strong>da</strong>des humanas quanto ao uso eocupação do solo na Região Hidrográfica AmazônicaDo ponto-de-vista <strong>da</strong>s várias práticas humanas em expansãona Região Hidrográfica Amazônica, destacam-se, segundo<strong>da</strong>dos do Mapa do Diagnóstico Ambiental <strong>da</strong> AmazôniaLegal, (IBGE, 2006, In: http://mapas.ibge.gov.br/amazonia/viewer.htm)e também de fontes locais indiferencia<strong>da</strong>s(Info. Pessoais), principalmente:a) agricultura comercial e de subsistência;b) extrativismo vegetal e animal (pesca especialmente);c) extrativismo mineral (garimpos) e a mineração empresarial,incluindo gás e petróleo;d) pecuária extensiva (principalmente) e intensiva;e) indústria de transformação (porém de pouca representativi<strong>da</strong>deespacial).AgriculturaA área dedica<strong>da</strong> à agricultura na Região HidrográficaAmazônica representa quase 10% <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica. As ativi<strong>da</strong>des se concentram principalmentenas Sub-regiões Hidrográficas Tapajós, Madeira e Paru. Asativi<strong>da</strong>des agrícolas pratica<strong>da</strong>s na <strong>região</strong> têm fun<strong>da</strong>mentalmentecaracterísticas comerciais e de subsistência em parcelaspraticamente iguais: 47% e 53% respectivamente <strong>da</strong>sáreas cultiva<strong>da</strong>s.Em geral, a ativi<strong>da</strong>de agrícola acontece associa<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>desde pecuária e localiza<strong>da</strong> em terrenos oriundos de processos decolonização e/ou assentamentos, podendo também estar vincula<strong>da</strong>a áreas de garimpo, ou ain<strong>da</strong> de extrativismo (vegetal epesca) e/ou extração de madeira.62Quadro 8 – Percentual <strong>da</strong> área <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica comprometi<strong>da</strong>s pelo processo de expansãode ativi<strong>da</strong>des antrópicas no período 1971-1991Sub RH 1Amapá LitoralFoz AmazonasMadeiraNegroParuPeríodo% <strong>da</strong> área total<strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica atingi<strong>da</strong>pela expansãoantrópica1971 a 1976 1,2%1977 a 1987 6,5%1988 a 1991 0,2%Total de 1971 a 1991 7,9%1971 a 1976 0,6%1977 a 1987 8,1%1988 a 1991 0,6%Total de 1971 a 1991 9,3%1971 a 1976 1,2%1977 a 1987 21,5%1988 a 1991 5,7%Total de 1971 a 1991 28,4%1971 a 1976 0,0%1977 a 1987 2,4%1988 a 1991 0,5%Total de 1971 a 1991 2,9%1971 a 1976 4,3%1977 a 1987 67,8%1988 a 1991 0,5%Total de 1971 a 1991 72,6%Sub RH 1PurusSolimõesTapajósTrombetasXinguPeríodo% <strong>da</strong> área total<strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica atingi<strong>da</strong>pela expansãoantrópica1971 a 1976 0,9%1977 a 1987 7,7%1988 a 1991 1,7%Total de 1971 a 1991 10,3%1971 a 1976 0,3%1977 a 1987 3,2%1988 a 1991 0,2%Total de 1971 a 1991 3,7%1971 a 1976 1,6%1977 a 1987 20,1%1988 a 1991 16,3%Total de 1971 a 1991 38,0%1971 a 1976 0,9%1977 a 1987 6,4%1988 a 1991 1,7%Total de 1971 a 1991 9,1%1971 a 1976 1,5%1977 a 1987 34,3%1988 a 1991 22,2%Total de 1971 a 1991 57,9%RH Amazônica Total geral 25%Fonte: Mapa do Diagnóstico Ambiental <strong>da</strong> Amazônia Legal, IBGE, 2006


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaAs culturas mais comuns são, em geral, de grãos (soja,milho, café, feijão e arroz), quase sempre com caráter comercial,em proprie<strong>da</strong>des de médio a grande porte. Culturascomo pimenta-do-reino, maracujá, banana, guaraná,juta, malva, cacau, dendê, seringa e cítricos, tanto ocorremem pequenas quanto em médias e grandes proprie<strong>da</strong>des. Ocaráter <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de também é misto (comercial e/ou subsistência).O uso intensivo de mecanização está presente empequena proporção e somente em grandes proprie<strong>da</strong>des,especialmente para o cultivo de grãos.As áreas <strong>da</strong> <strong>região</strong> onde a agricultura mais tem-se desenvolvidosão aquelas <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas Madeirae Tapajós, especialmente em suas porções centro-sul. EssasSub-regiões Hidrográficas, têm dedica<strong>da</strong>s à agricultura detrês a quatro vezes mais áreas que as demais Sub-regiõesHidrográficas <strong>da</strong> Amazônia. Vale notar um recente movimentomigratório de agricultores do sul do País em direçãoà porção norte <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, mais especificamentepara os campos de Roraima (Sub-<strong>região</strong> HidrográficaNegro), porém até o momento não gerando omesmo impacto que as Sub-regiões cita<strong>da</strong>s anteriormente.ExtrativismoDe modo indiferenciado o extrativismo é realizado emaproxima<strong>da</strong>mente 84% <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica, sendo mais concentrado nas Sub-regiões HidrográficasSolimões, Purus e Negro. Dentre os objetos <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de extrativista vegetal destacam-se a seringa, a castanha-do-Pará,o açaí, a sorva e diversas espécies arbóreas coleta<strong>da</strong>snas áreas de floresta, de campinaranas e de savanas.A pesca se destaca de forma associa<strong>da</strong> a outras ativi<strong>da</strong>des,em especial às agropastoris próximas às áreas de várzea.MineraçãoAs ativi<strong>da</strong>des de mineração ocorrem em cerca de 6% <strong>da</strong>área total <strong>da</strong> <strong>região</strong> e de dois modos: como garimpos, emgeral irregulares, e como ação de empresas formais de mineração.As varie<strong>da</strong>des minerais trabalha<strong>da</strong>s são muitas ediversas. No entanto, destacam-se mais fortemente o ouro,a bauxita, o estanho e a associação manganês+cromo. Recentemente,ativi<strong>da</strong>des exploratórias revelaram tambémáreas de petróleo e (principalmente) de gás na Bacia do RioUrucu (Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões).A exploração do ouro, principalmente em garimpos, éresponsável por cerca de 50% <strong>da</strong>s áreas minera<strong>da</strong>s na <strong>região</strong>.Fruto do grande número de garimpos e do tratamentopara a amalgamação do ouro é a entra<strong>da</strong> de grandes quanti<strong>da</strong>desde mercúrio no meio ambiente. O mercúrio é um dosmetais pesados mais tóxicos, bastante nocivo ao meio ambiente.Ele passa <strong>da</strong> forma metálica para a orgânica atravésdo processo de metilação. Apesar de ocorrer naturalmenteem alguns solos <strong>da</strong> Amazônia, grande parte do mercúrioencontrado no meio aquático na <strong>região</strong> procede <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>degarimpeira (ANA,2005).Para o caso <strong>da</strong> exploração de ouro, a Sub-<strong>região</strong> Hidrográficamais sensibiliza<strong>da</strong> é a do Tapajós, que em geral possuidez vezes mais áreas de exploração de ouro que as demaissub-regiões. Para o caso do manganês, explorado porempresa de grande porte e de forma associa<strong>da</strong> ao cromo, aárea é praticamente restrita à Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Amapá-Litoral,mais especificamente na Serra do Navio (AP),já em fase de exaustão, e em menor parte na Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Foz do Amazonas.A bauxita (minério de alumínio) tem na Sub-<strong>região</strong> HidrográficaTrombetas (PA), na locali<strong>da</strong>de denomina<strong>da</strong> PortoTrombetas, sua principal e praticamente única área de ocorrênciana Região Hidrográfica, sendo explora<strong>da</strong> por empresade grande porte. A cassiterita (minério de estanho) é outraocorrência mineral significativa na <strong>região</strong>. As áreas de exploraçãoestão principalmente no Estado de Rondônia (Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Madeira) e também, em menor proporção,na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Trombetas, <strong>região</strong> limítrofe coma Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro (Mina de Pitinga), além dealgumas áreas na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Xingu. O modo deexploração <strong>da</strong> cassiterita ocorre basicamente por empresasde médio e grande porte.A exploração de petróleo e principalmente de gás ain<strong>da</strong>é pequena em face de outras regiões brasileiras, mas asreservas de Urucu (AM), na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões,prometem contribuir para resolver os problemasde deman<strong>da</strong> energética <strong>da</strong> <strong>região</strong>. O uso e a ocupação dosolo desta ativi<strong>da</strong>de estão mais associados à segurança <strong>da</strong>s63


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica64infra-estruturas de transporte dos recursos, especialmenteo de um gasoduto ligando os Municípios de Coari (AM)a Manaus, em fase de construção.PecuáriaA Região Hidrográfica Amazônica tem forte tendênciaà “pecuarização” de seu espaço. Isso se explica em face<strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> terra com a implantação <strong>da</strong> pastagem,pela segurança que o gado representa em termos de investimentofamiliar e ain<strong>da</strong> em face <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de dopreço <strong>da</strong> carne no mercado (VEIGA et al., 1996 e PE-DLOWSKY e DALE, 1992).A criação de gado necessita de grandes áreas, o que aumentao processo de conversão de floresta em pastagem. Abaixa longevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de, associa<strong>da</strong> com a baixafertili<strong>da</strong>de dos solos <strong>da</strong> Amazônia, além de práticas inadequa<strong>da</strong>sde manejo, leva os produtores a deixarem suas áreasoriginais em busca de outras para a implantação de novaspastagens, sobretudo em florestas primárias. (SERRÃOet al, 1996 e DEMATTÊ, 1998).Assim, as ativi<strong>da</strong>des de pecuária são em sua maiorparte do tipo extensiva. Ocorre em terrenos variados equase sempre está associa<strong>da</strong> a outras práticas, como aagricultura e, principalmente, à extração de madeira.Sob a ótica <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas, as do Madeira,Tapajós, Xingu e Negro são as áreas onde mais se temativi<strong>da</strong>de pecuária desenvolvi<strong>da</strong> na <strong>região</strong>.No contexto geral, praticamente 100% <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>dede pecuária na Região Hidrográfica Amazônica é do tipoextensiva, sendo que menos de 1% <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>destrabalha de forma intensiva. Apenas 13% <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desde pecuária trabalham sob condições modernas. Tambémem quase 100% dos casos, a pecuária está associa<strong>da</strong>a outras práticas, principalmente extrativismo vegetal e/ou extração de madeira. Em 24% <strong>da</strong>s áreas ela está associa<strong>da</strong>também à pesca. Pelo menos 35% <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<strong>da</strong> pecuária são realiza<strong>da</strong>s em médias e grandes proprie<strong>da</strong>des.Na grande maioria <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des a criação degado é para corte. Menos de 1% <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des trabalhamcom gado leiteiro.Indústria de transformaçãoEssa ativi<strong>da</strong>de econômica ocupa muito pouco espaçona Região Hidrográfica Amazônica e está em grande parteconcentra<strong>da</strong> na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro, mais especificamenteem Manaus. Essa é a função do Pólo Industrialnaquela ci<strong>da</strong>de, instalado de forma mais concreta a partirdos anos 1970/1980. Esse tipo de ativi<strong>da</strong>de tem, portanto,caráter pontual e é de baixo impacto regional.As práticas perversas quanto ao uso e conservação do soloDesflorestamentoO desflorestamento (retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta em pé) vem sendodesenvolvido a taxas bastante eleva<strong>da</strong>s na Amazônia e sedestaca no contexto <strong>da</strong>s práticas perversas em curso na RegiãoHidrográfica. Segundo <strong>da</strong>dos oficiais, esse aumento foimotivado, principalmente pelas queima<strong>da</strong>s, muitas delasirregulares, visando a implantação de projetos agropastorise/ou a extração ilegal de madeira.De acordo com os relatórios do Inpe (PRODES, Figura20) até janeiro de 1978, a área desfloresta<strong>da</strong> acumula<strong>da</strong>nos Estados inseridos na Região Hidrográfica correspondiaa 85.100 km 2 (2,2% <strong>da</strong> área total). Em 1999, registrava-seuma área desmata<strong>da</strong> de 440.630 km 2 (11,7%<strong>da</strong> área total). Para os anos de 1999 e 2000, as taxas dedesflorestamento foram de 17.259 e 19.836 km 2. ano -1 ,respectivamente, tendo superado os 23.000 km 2. ano -1 , apartir de 2001 (ESCADA e ALVES, 2001). As estimativasmais recentes indicam que, aproxima<strong>da</strong>mente, 15% <strong>da</strong>floresta em pé, original, já foi removi<strong>da</strong>.A derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta em pé para extração de madeira,principalmente <strong>da</strong>s áreas de várzea <strong>da</strong> <strong>região</strong> Amazônica,gera conseqüências no meio aquático. Uma delas,por exemplo, é a diminuição do estoque de peixes, jáque muitas espécies procuram a floresta inun<strong>da</strong><strong>da</strong> e oslagos de várzea para se reproduzir. O desflorestamentomu<strong>da</strong> esse tipo de habitat significativamente a ponto depoder comprometer o ciclo reprodutivo de algumas espécies,como o Tambaqui, por exemplo, (LIMA e GOUL-DING, 1988).


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaA ampliação do desmatamento ao longo dos rios, bemcomo nas áreas de terra firme ao longo de estra<strong>da</strong>s recém-abertas,é conseqüência <strong>da</strong> abertura de estra<strong>da</strong>s,com trajeto paralelo ao dos rios, exemplo <strong>da</strong> rodoviaBR-319. Adicionalmente à malha viária oficial, rotasclandestinas foram abertas. Algumas para facilitar o escoamento<strong>da</strong> madeira retira<strong>da</strong> de porções ain<strong>da</strong> maisprofun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> floresta, outras para facilitar o estabelecimentode áreas de garimpo, e/ou ain<strong>da</strong> para a fixaçãode ativi<strong>da</strong>des agropastoris em áreas ilegais (grilagem deterras). Tais ações favoreceram ain<strong>da</strong> mais a modificaçãono padrão de ocupação <strong>da</strong> <strong>região</strong> (FEARNSIDE, 1995).A “pecuarização” e a questão fundiáriaDuas outras questões associa<strong>da</strong>s também fazem parte do contexto<strong>da</strong>s práticas perversas: o avanço ilegal <strong>da</strong> área de pecuária ea questão fundiária vincula<strong>da</strong> às ações de grileiros. A necessi<strong>da</strong>dede grandes extensões de terra por parte <strong>da</strong> pecuária, constituiufator marcante para que durante os últimos 30 anos, o registroirregular de terras na Amazônia fosse incentivado.Esse incentivo ocorreu em face <strong>da</strong> falta de fiscalizaçãoe <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de estrutural <strong>da</strong>s instituições locais, <strong>da</strong><strong>da</strong>principalmente à grande extensão do território, além do envolvimentode autori<strong>da</strong>des locais com a compra e ven<strong>da</strong> deterras, e pelas fraudes, que facilitaram a atuação contínuade quadrilhas de grileiros (SAYAGO e MACHADO, 2004).Os fatos listados possibilitaram a transferência de terraspúblicas para a proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, sem que para isso tenhamsido utilizados critérios vinculados a planos estratégicosvisando o desenvolvimento regional. Principalmenteplanos elaborados em conjunto com a socie<strong>da</strong>de. Os resultadosdessas práticas tornaram ain<strong>da</strong> mais desafiadora aperspectiva de implantação de políticas públicas na <strong>região</strong>.Essas práticas também motivam ações de movimentos popularesconstantemente em clima de tensão com os grandesproprietários de terra.Vale destacar neste contexto que o Programa de Combate aoDesmatamento, fortalecido na atual gestão, conseguiu reduziraproxima<strong>da</strong>mente em 50% o desmatamento ilegal <strong>da</strong> <strong>região</strong>.65Fonte: Prodes/Inpe (2005)Figura 20 – Série histórica de desflorestamento monitorado pelo programa Prodes/Inpe


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica66Algumas práticas positivas quanto ao uso e conservação do soloDentre as principais ações positivas no sentido de garantira conservação e o uso sustentável <strong>da</strong>s terras na RegiãoHidrográfica Amazônica está o estabelecimento <strong>da</strong>sUni<strong>da</strong>des de Conservação - UCs, incluindo, principalmente,as reservas extrativistas, as reservas de desenvolvimentosustentável, as reservas biológicas e as florestasnacionais. Também sob a ótica do uso adequado do solovisando sua conservação, as demarcações de terras indígenastêm contribuído bastante.Áreas de conservação para o uso sustentávelConforme citado em tópico anterior, a demarcação demais de 170 UCs na Amazônia tem sido utiliza<strong>da</strong> pelo governocomo política de conservação. Esse tipo de práticaconservacionista tem-se mantido e ampliado, não sem dificul<strong>da</strong>des,principalmente ao longo dos últimos 15 anos.Os resultados apurados com a aplicação de UCs na RegiãoHidrográfica, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des regionais e <strong>da</strong>spráticas perversas, têm ampliado e mesmo consoli<strong>da</strong>do umconjunto de áreas, hoje objeto de estudos para sua valoraçãocomo floresta em pé. Essas áreas, se corretamente geri<strong>da</strong>s,têm a possibili<strong>da</strong>de de funcionarem, como um buffer,impedindo o avanço <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des nocivas, tanto ao meioambiente terrestre, quanto ao aquático.As tentativas de valoração <strong>da</strong> floresta em pé buscam gerarperspectivas de ativi<strong>da</strong>des econômicas regionais sustentáveis,como o uso de biodiversi<strong>da</strong>de para a produçãode fármacos, o incentivo ao turismo ecológico e responsávele a geração de emprego e ren<strong>da</strong> para as populações locais(indígenas, ou caboclas/ribeirinhas) ao longo de todoo ano, com o manejo adequado <strong>da</strong>s reservas extrativistas,por exemplo. Essa prática tem aju<strong>da</strong>do a manter estoquesarbóreos e de peixes em regiões antes à mercê de ativi<strong>da</strong>despuramente exploratórias.que exemplifica esse contexto diz respeito às discussões para ademarcação, em terras contínuas, <strong>da</strong> reserva indígena Raposa-Serra do Sol em Roraima, em 2005.A demarcação de terras indígenas visando a manutenção<strong>da</strong>quelas populações em suas respectivas áreas tradicionais,também constitui prática positiva, quanto ao uso e ocupaçãodo solo na Região Hidrográfica Amazônica. A culturae os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas têmimportância em diferentes aspectos sociais, culturais e econômicospara o País. Ocupa e integra áreas importantes doBrasil e contribui para revelar outras riquezas, em especialàquelas liga<strong>da</strong>s à biodiversi<strong>da</strong>de.Dados compilados do IBGE (2006) e <strong>da</strong> Aneel (1999), emrelação à população indígena, tomados no recorte <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica (Figura 21), indicam existir na <strong>região</strong>pouco mais de 136 mil indivíduos reunidos em maisde 110 agrupamentos étnicos. Esses grupos estão reunidosem mais de 260 locali<strong>da</strong>des diferentes e, segundo Ferreira,(1988) falando mais de 150 diferentes línguas.No aspecto legal <strong>da</strong>s terras indígenas, de acordo com asfontes oficiais, 77% <strong>da</strong>s áreas estão regulariza<strong>da</strong>s, 13% declara<strong>da</strong>s,5% homologa<strong>da</strong>s, outras 5% delimita<strong>da</strong>s e 1% confirma<strong>da</strong>.A maior diversi<strong>da</strong>de de grupos encontra-se nas SubregiõesHidrográficas Madeira, Solimões e Negro e as maioresáreas indígenas, não diferencia<strong>da</strong>s por grupos, situam-se nasSub-regiões Hidrográficas Negro, Solimões e Xingu.Quanto às denominações dos grupos indígenas <strong>da</strong> <strong>região</strong>,tomando-se como parâmetros os troncos e famíliaslingüísticas, têm-se que 24 pertencem ao tronco lingüísticoMacro-Jê, 39 ao tronco Tupi, oito à família Arawá,16à família Aruák, 20 à família Karíb, dois à Katukina, seisà Maku, dois à Mura, dois à Nambikwara, 14 à Pano, umà família Tikuna, 11 à Tukano, três à Txapakura e três àYanomami, sendo que 12 línguas indígenas encontra-seatualmente em vias de extinção (FERREIRA, 1988).Demarcação de terras indígenasA mesma política utiliza<strong>da</strong> em relação às UCs (efeito buffer),tem-se mantido com relação às terras indígenas. No entanto,este modo de ação tem gerado constantes conflitos, tanto naesfera regional e estadual, quanto nacional. Fato mais recente eDebate quanto à implantação de instrumentos de gestãoambientalVista como uma nova fronteira de desenvolvimentoe com aspectos socioculturais multifacetados, a RegiãoHidrográfica Amazônica reflete essa visão no uso e na


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica67Fonte: ANEEL (1999); IBGE (2006); Bases do PNRH (2005)Figura 21 – Terras indígenas na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica68ocupação de suas terras ao longo de várias déca<strong>da</strong>s, pordiferentes atores. No entanto, essas ativi<strong>da</strong>des vêm ocorrendode maneira difusa e carecem de um planejamentomais adequado, em escala regional.Ao que parece, o conhecimento e a consciência destacarência de planejamento está emergindo e motivando,as autori<strong>da</strong>des para uma retoma<strong>da</strong> de discussão com asocie<strong>da</strong>de, visando a implantação de instrumentos degestão do meio ambiente amazônico.4.5 | Evolução SocioculturalO complexo cultural amazônico compreende um conjuntotradicional de valores, crenças, atitudes e modos de vi<strong>da</strong>que delinearam a organização social e o sistema de conhecimentos,práticas e usos dos recursos naturais extraídos <strong>da</strong>floresta, rios, lagos, várzeas e terra-firme, responsáveis pelasformas de economia de subsistência e de mercado. Dentrodesse contexto, desenvolveram-se o homem e a socie<strong>da</strong>deao longo de um secular processo histórico e institucional(BENCHIMOL, 1999).Na ver<strong>da</strong>de, a presença humana na Região HidrográficaAmazônica tem registros de existir há mais de nove milanos. Outros estudos comprovam a presença de culturasdiversas na <strong>região</strong>, desde a Amazônia central até o Amapáe a Ilha do Marajó (NEVES, 2005 e IEPA, 2005). Especificamentenesse último caso, os registros dão conta <strong>da</strong> presençade uma cultura exógena à área, ocorri<strong>da</strong> por volta de1.300 a.C. (IEPA, 2005).Ao longo de sua história mais recente (<strong>da</strong> colonizaçãoluso-espanhola aos dias atuais) a Região Amazônicatem passado por um processo de evolução socioculturalmarcado por diferentes períodos de fluxos migratórios.Estes fluxos sempre se mantiveram conectados aos diferentesciclos econômicos, que motivaram a evolução douso e ocupação <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> <strong>região</strong>.Os assentamentos humanos que, em grande parte mol<strong>da</strong>rama evolução sociocultural na Amazônia, inicialmentepor ocupações indígenas e, posteriormente, por europeuse outros imigrantes, ocorreram principalmente nas áreasde várzea. Isso decorre dos recursos oferecidos pelos riose demais corpos de água, associados à grande produtivi<strong>da</strong>deagrícola dos solos férteis naquelas áreas. Tradicionalmente,as populações que habitavam as várzeas cultivavammilho, mandioca, banana, feijão e arroz, além <strong>da</strong> caça edo extrativismo vegetal, como o látex, a castanha e o açaí,(BARTHEM et al., 2003).O sistema de monitoramento e modelagem do crescimento<strong>da</strong> população global na Universi<strong>da</strong>de de Columbia (CIE-SIN, 2000), demonstra ser possível identificar e mapear,pela distribuição populacional, traços <strong>da</strong> ocupação ao longodo curso dos grandes rios, bem como dos efeitos <strong>da</strong> expansãoagrícola ocorri<strong>da</strong>, em especial, a partir dos anos 1970.Assim, a formação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de Amazônica reflete todoum processo de povoamento e ocupação humana multi-diversode povos e nações. Esse processo, iniciado com asdiversas civilizações pré-colombinas na porção não brasileira<strong>da</strong> Região Hidrográfica, teve no Brasil seus correlatos eevoluiu ao longo dos anos, incorporando contribuições dediferentes etnias e povoadores (BENCHIMOL, 1999).O processo de formação, segundo os períodos de influênciade determinados fluxos migratórios (internos eexternos ao País), tiveram importante papel – primeiramenteos índios, os negros africanos, os portugueses eos espanhóis. Em segui<strong>da</strong>, nordestinos, judeus e síriolibaneses,acompanhados de italianos, ingleses, norteamericanose japoneses. Mais recentemente, outro fluxomigratório deu início à chega<strong>da</strong> de paranaenses, paulistas,mineiros e capixabas.A influência indígenaA contribuição e presença indígenas, no mosaico socioculturalamazônico, encontra-se hoje registra<strong>da</strong> em reservasque envolvem mais de 200 diferentes etnias (60% <strong>da</strong> populaçãoindígena do Brasil) e ocupam aproxima<strong>da</strong>mente 25%<strong>da</strong> área dessa Região Hidrográfica (BENCHIMOL, 1999).Relatos de historiadores que viajaram pela <strong>região</strong> nosprimórdios <strong>da</strong> colonização dão conta de que à medi<strong>da</strong>que os colonizadores europeus navegavam pelo Amazonas,milhares de pessoas (indígenas em sua maioria)morriam, em função dos maus tratos e <strong>da</strong>s doenças trazi<strong>da</strong>spor esses estrangeiros (PORRO, 1993).


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaLogo, as margens dos rios começaram a ser despovoa<strong>da</strong>s,muitos índios eram aprisionados e levados para o trabalhoservil, resultando no desaparecimento de muitas socie<strong>da</strong>desindígenas, sem que se pudesse conhecê-las e saber comoviviam. Hoje, os remanescentes dessa cultura buscam pormeio de organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, lutar pela manutençãode seu espaço, não só físico como também cultural.Ain<strong>da</strong> sobre as populações indígenas, as crônicas e relatosde viajantes sugerem que a orla ribeirinha, principalmentea várzea inundável, era considera<strong>da</strong> um habitat favorável àprodução de alimentos, comercialização intertribal, crescimentos<strong>da</strong>s populações e desenvolvimento de instituiçõespolíticas. “Isso explica o fato <strong>da</strong> várzea <strong>amazônica</strong> ter possuídomaior densi<strong>da</strong>de de ocupação populacional, cuja densi<strong>da</strong>deé admiti<strong>da</strong> de 14,6 hab.km -2 , que, considerando umaárea de 65.000 km², em território brasileiro, corresponderiaa quase um milhão de habitantes” (PORRO, 1993).Apesar <strong>da</strong> redução populacional dos diferentes gruposindígenas, sua influência cultural se faz presente no arcabouçosociocultural <strong>da</strong> <strong>região</strong>. Marcas de sua culturaencontram-se dispersas nas relações sociais, na capaci<strong>da</strong>dede a<strong>da</strong>ptação ao ambiente amazônico, no an<strong>da</strong>r eno falar do povo, no trato com as crianças, nos costumese crenças locais e na culinária regional, com forte presençado peixe e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de temperos <strong>da</strong> florestana dieta alimentar.A presença negraApesar de pequeno, o fluxo de negros, como escravos,para a Região Amazônica, ocorreu entre 1755 e 1816. Essesgrupos aportavam em locali<strong>da</strong>des fora <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica (Belém e São Luís). Vinham, em sua grandemaioria, <strong>da</strong> Guiné, de Angola, Costa do Marfim e Congo(VICENTE SALLES In: BENCHIMOL, 1999).Posteriormente, muito <strong>da</strong> população negra se dispersouem áreas do baixo curso do rio Amazonas (Óbidos e Santarém)e indo até a Bacia do Rio Negro (Estado do Amazonas).A maioria dessa população, composta por escravos fugidosdo Maranhão e Pernambuco, deu origem aos mocambos deGurupi, Macapá, Mocajuba, Tocantins e Trombetas. Algunsremanescentes desses mocambos estão acima de Oriximiná(Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Trombetas), no médio e alto cursodos rios Trombetas e Mapuera.O cabocloA conquista e a dominação européia foram fortementeinfluencia<strong>da</strong>s pelo regime <strong>da</strong>s águas. Assim, as populaçõesque habitavam as áreas de várzea proporcionaram a reconstituiçãode novos povoamentos, com os índios descidos dosmédios e altos cursos dos rios, e com os europeus, sobretudoos portugueses, que ocupavam a <strong>região</strong>.Atualmente, além <strong>da</strong> riqueza natural, a Amazônia, emsua porção rural, ain<strong>da</strong> abriga um conjunto importantede povos indígenas e populações tradicionais, fruto doprocesso de miscigenação, que à semelhança de outrasregiões brasileiras também se passou na <strong>região</strong> gerandovariantes étnicas.Essas populações conferem grande diversi<strong>da</strong>de culturale social à <strong>região</strong>. São seringueiros, castanheiros, babaçueiros,entre outros. Suas populações e arranjos sociais estãointrinsecamente ligados à complexi<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de doecossistema amazônico, o que envolve todos os seus elementos(água, solo, fauna, flora e clima).Em período recente <strong>da</strong> história <strong>da</strong> <strong>região</strong>, fronteira entreos séculos XIX e XX, contribuiu muito para a formaçãosociocultural do povo ribeirinho local, a chega<strong>da</strong>de migrantes nordestinos. Esses migrantes, vindos para a<strong>região</strong> fugidos do flagelo <strong>da</strong> seca, buscavam na Amazôniaum pouco <strong>da</strong>s riquezas prometi<strong>da</strong>s pelo período áureo<strong>da</strong> borracha. As dificul<strong>da</strong>des a que foram expostos forammuitas, mas sua presença e capaci<strong>da</strong>de de resistência naAmazônia, melhorou a <strong>região</strong>, tornou-a mais rica e maisbrasileira (BENCHIMOL, 1999).Assim, essa nova população, produto de uma mestiçagemde mais de dois séculos, é regionalmente denomina<strong>da</strong> deforma genérica como “cabocla”. O seu agente é o cabocloribeirinho, ou ribeirinho <strong>da</strong> Várzea, também referido como“homem anfíbio”, na medi<strong>da</strong> em que o homem amazônicoconservou as características tradicionais dos seus sistemasde produção agroflorestal, oriundos de práticas indígenas ecaboclas de produção (FRAXE, 2000).69


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaNo meio ambiente terra/água, o homem e a natureza desenvolveramas mais varia<strong>da</strong>s formas de economia, de subsistênciae de mercado, mediante um processo histórico dea<strong>da</strong>ptação, assimilação e difusão. Recorrendo à multiplici<strong>da</strong>dede recursos existentes na <strong>região</strong>, o ribeirinho buscouconsoli<strong>da</strong>r um campesinato entremeado de especifici<strong>da</strong>des,para o qual a terra e a água se complementam, buscando oequilíbrio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (FRAXE, 2000).Desta forma, o caboclo, em seu modo tradicional, condicionasua vi<strong>da</strong> aos fatores favoráveis ou não às suas ativi<strong>da</strong>dessegundo os ditames <strong>da</strong> natureza (Quadro 9).Em função <strong>da</strong> riqueza em recursos hídricos, a pesca representauma <strong>da</strong>s principais ativi<strong>da</strong>des econômicas <strong>da</strong> <strong>região</strong>.O alimento básico <strong>da</strong> dieta do caboclo-ribeirinho é,sem dúvi<strong>da</strong>, o peixe, sendo sua dieta complementa<strong>da</strong> pelafarinha, frutos e hortaliças (Quadro 10).70Sociodiversi<strong>da</strong>de cultural caboclo-ribeirinhaNo que diz respeito à relação entre os rios amazônicose a sua população caboclo-ribeirinha, recorre-se às duasgrandes regiões naturais que em muito caracterizam a RegiãoHidrográfica Amazônica: as terras-firmes e as várzeas.As terras-firmes são as porções mais eleva<strong>da</strong>s, nunca inun<strong>da</strong><strong>da</strong>spelos rios, em geral mais pobres em nutrientes doque as várzeas.Em contraposição, as terras de várzea são aquelasinun<strong>da</strong><strong>da</strong>s sazonalmente, cujos rios as alimentam e asfertilizam com águas ricas em nutrientes. Essas áreas,de grande importância no processo de evoluçãosociocultural <strong>da</strong> <strong>região</strong>, transpassam várias Sub-regiõesHidrográficas e estão concentra<strong>da</strong>s sobretudo ao longodo curso principal, e em trechos ao longo <strong>da</strong>s calhas dosprincipais rios <strong>da</strong>s Sub-regiões Hidrográficas Solimões,Madeira, Purus, Trombetas, Tapajós, Paru e Xingu.A várzea é um ambiente atrativo, complexo e heterogêneo,principalmente devido aos nutrientes contidos em suaságuas. Durante o período de chuvas, o aporte hídrico propiciauma extraordinária varie<strong>da</strong>de de condições naturaispara o desenvolvimento de plantas aquáticas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> animal.Isso resulta na sociodiversi<strong>da</strong>de que possibilita o equilíbrioentre os ribeirinhos e a natureza (FRAXE, 2000).A sociodiversi<strong>da</strong>de existente no ecossistema de várzeana Região Hidrográfica Amazônica é confirma<strong>da</strong> pelos relatosde viajantes e registros etnográficos. Além disso, aapropriação dos recursos pesqueiros consiste no principalmecanismo de subsistência existente entre os ribeirinhos<strong>da</strong> várzea Amazônica.O equilíbrio entre o ribeirinho e a várzea ocorre por umapercepção calca<strong>da</strong> na observação do regime natural do rio.A contribuição estrangeiraDe grande importância no processo de formaçãosociocultural <strong>da</strong> <strong>região</strong> desde seus primórdios, a contribuiçãoestrangeira foi bastante forte principalmentedurante o período áureo <strong>da</strong> borracha (1880 a 1920),indo até o fim dos anos 1930. O início desse períodocoincidiu com o <strong>da</strong> abolição <strong>da</strong> escravidão e, por conseguinte,para fazer face à carência <strong>da</strong> mão-de-obra escrava,houve um grande aporte de imigrantes, em especialitalianos, portugueses e espanhóis.Presentes na <strong>região</strong> como seus primeiros colonizadores,portugueses e espanhóis foram os mais significativosno processo de transplantação e difusão na Amazônia desímbolos e valores europeus. Assim, esses dois povostiveram influência marcante com suas len<strong>da</strong>s, religião,comi<strong>da</strong>s, estilo arquitetônico, hábitos culturais, entreoutros, no contexto regional.Em menor proporção, mas também influindo de maneiraimportante na formação dos hábitos e costumes locaiscom sua cultura e estilo próprio de vi<strong>da</strong>, vieram os italianos.Estes se concentraram inicialmente na <strong>região</strong> do baixocurso do rio Amazonas e posteriormente, assim como osportugueses e espanhóis, se dispersaram por to<strong>da</strong> a <strong>região</strong>à medi<strong>da</strong> que esta se desenvolvia e abria novas perspectivaspara o comércio, em especial.Ingleses e também norte-americanos tiveram papel marcanteno “período <strong>da</strong> borracha”, investindo principalmente em infra-estruturaurbana e rural. Grupos semitas, sírio-libaneses edescendentes chegaram à <strong>região</strong> no mesmo período, atraídospelas perspectivas mercantis, utilizando as rotas naturais parase embrenharem floresta adentro com seus regatões vendendosuas mercadorias aos seringueiros.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaApós os anos 1930, grupos asiáticos, japoneses em especial,com perspectiva inovadora, introduziram na <strong>região</strong> varie<strong>da</strong>desexóticas de vegetais como a juta e outros, além detécnicas agronômicas. Posteriormente tiveram, também osjaponeses uma intensa participação no processo de implantaçãoe modernização do pólo industrial <strong>da</strong> Zona Franca deManaus (BENCHIMOL, 1999).Hoje, a presença estrangeira na Amazônia é multifaceta<strong>da</strong>e multidiversa, representa<strong>da</strong> por empresários, empregadosde empresas estrangeiras, turistas, pesquisadores e curiosos,que transitam pela <strong>região</strong> em busca de potenciali<strong>da</strong>deseconômicas, conhecer belezas naturais e também segredos<strong>da</strong> grande biodiversi<strong>da</strong>de local.Fluxos migratórios internos recentesNos últimos anos, gaúchos, paranaenses, mineiros, capixabas,paulistas e também goianos e mato-grossenses, atuandocomo colonos ou empresários, têm ocupado de formaaleatória áreas de fronteira agrícola na Região HidrográficaAmazônica.Esses brasileiros, que se dirigem para a <strong>região</strong>, são emgrande parte ligados à ativi<strong>da</strong>des agropastoris e vêm motivadospelo baixo custo <strong>da</strong>s terras, em relação a seus locaisde origem. Esta ocupação tem-se <strong>da</strong>do, principalmente aolongo dos eixos rodoviários e na porção sul <strong>da</strong> <strong>região</strong>, maisespecificamente, áreas inclusas nas porções <strong>da</strong>s Sub-regiõesHidrográficas Madeira, Tapajós e Xingu.Os novos contingentes de nacionais, que têm fluído paraa Amazônia, têm favorecido o rápido desenvolvimento denovas zonas urbanas na <strong>região</strong> e consoli<strong>da</strong>do as antigas.Um novo processo de mistura etnológica, em curso, temmotivado o surgimento de uma nova fase no processo <strong>da</strong>evolução sociocultural <strong>da</strong> <strong>região</strong>, agora não mais motivadounicamente pelas riquezas <strong>da</strong>s áreas ribeirinhas.A Amazônia urbanaAlém <strong>da</strong>s questões profun<strong>da</strong>s relativas às dificul<strong>da</strong>desde a<strong>da</strong>ptação ao meio e <strong>da</strong> estruturação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de quevive <strong>da</strong> agricultura na Região Hidrográfica Amazônica,em especial nas áreas de várzea e, mais recentemente, nasparcelas agrícolas ao longo <strong>da</strong> malha viária, a urbanizaçãotem mostrado franca expansão. No entanto, esse processotem se estruturado na <strong>região</strong> de forma desarmônica e semplanejamento.71Quadro 9 – Fatores favoráveis e desfavoráveis à vi<strong>da</strong> do ribeirinho nas áreas de várzea <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica (caso do RioSolimões/Amazonas), condicionados pelo atual regime hidrológicoEstações Meses Fatores desfavoráveis Fatores favoráveisEnchenteNovembroDezembroJaneiro• Chuvas intensas• Elevados índices de doenças tropicais: malária,hepatite, e febre amarela• Facili<strong>da</strong>de de navegar, geralmente emnovembro inicia o aumento de volume de águado rio• As “terras molha<strong>da</strong>s” ain<strong>da</strong> não estãosubmersas, <strong>da</strong>ndo acesso à roçaCheiaFevereiroMarço• Chuvas intensas• Migração para terra firme• Dificul<strong>da</strong>de de locomoção entre umacomuni<strong>da</strong>de e outra• Canais e furos com passagem de barcos degrande porte• Possibili<strong>da</strong>des de recorrer a “atalhos” pelosfurosVazanteAbrilMaioJunhoJulho• Árvores e troncos arrancados• Muitas doenças, insetos e pragas• Chuvas sazonais em menor intensi<strong>da</strong>de, muitosol (julho)• Os caminhos nas comuni<strong>da</strong>des estão secos,facilitando a visita• Época do plantioSecaAgostoSetembroOutubro• Dificul<strong>da</strong>des de navegação em determina<strong>da</strong>sáreas• Navegação por canal• Muito sol, centenas de borboletas fazem partedo cenárioFonte: Fraxe (2000)


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaQuadro 10 – Resumo <strong>da</strong> dieta alimentar do ribeirinho ao longo de trechos <strong>da</strong> calha do rio Solimões/Amazonas, perpassando áreas dealgumas Sub-regiões HidrográficasSub-RegiõesMédio Solimões(Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões)Baixo Solimões (Sub-<strong>região</strong> HidrográficaPurus)Alto Amazonas(Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro)Médio a Baixo Amazonas (Sub-regiõesHidrográficas Trombetas, Tapajós, Paru eFoz do Amazonas)Dieta AlimentarPeixe, farinha, banana, cacau, ovos, leite, macaxeira, tapioca, açaí, batata doce, milho,jerimum, feijão, arroz, carne de caça, cebolinha, pimenta de cheiro, coentro, galinha, pato,manga, mamão, cana-de-açúcar, quiabo de metro, chá, melancia, limão, laranja e outrasvarie<strong>da</strong>des de frutos.Peixe, farinha, água, cebolinha, coentro, pimenta de cheiro, tapioca, milho, macaxeira, ovos,galinha, leite, carne de caça, feijão, banana e outras varie<strong>da</strong>des de frutos.Peixe, farinha, água, leite, carne bovina, galinha, ovos, pato, banana, outras varie<strong>da</strong>des defrutos, feijão e cebolinha, coentro e pimenta de cheiro.Peixe, farinha, água, ovos, galinha, leite, carne, banana, maracujá, açaí, melancia e outrasvarie<strong>da</strong>des de frutos, cebolinha, coentro, pimenta de cheiro, queijo, coalha<strong>da</strong>, carne de caça,manteiga, pato, tapioca, macaxeira.72Fonte: Fraxe, 2000Nos centros urbanos considerados importantes economicamentepara a Região Hidrográfica Amazônica, tem-se umasocie<strong>da</strong>de local, estrutura<strong>da</strong> dentro de um padrão que buscasemelhanças com as grandes ci<strong>da</strong>des brasileiras. O modelo éo <strong>da</strong> denomina<strong>da</strong> “vi<strong>da</strong> moderna”, utilizando-se de uma sistemáticacapitalista concentradora de ren<strong>da</strong> e excludente, gerandoproblemas de ordem social, reproduzindo na Amazôniauma reali<strong>da</strong>de perversa como em outras regiões do País.A expansão horizontal <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des ocorre de formavertiginosa, porém não se fazendo acompanhar <strong>da</strong> necessáriainfra-estrutura que garanta a to<strong>da</strong> a populaçãoacesso aos bens e serviços públicos, indicadores de umaboa quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.As áreas urbanas de maior expansão relativa e economicamentemais importantes, exercendo papel de pólos de atraçãode mão-de-obra na Região Hidrográfica Amazônica estãolocaliza<strong>da</strong>s nas Sub-regiões Hidrográficas: do Madeira (PortoVelho, Ji-Paraná, Vilhena, entre outras ci<strong>da</strong>des), Negro (Manause Boa Vista, principalmente), Purus (Rio Branco), Tapajós(Santarém), Foz do Amazonas (Santana e Macapá).Nessas locali<strong>da</strong>des, as condições de algumas variáveis quecompõem o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH(Figura 22), são em geral maiores em relação às demaislocali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>região</strong> e, assim, são associados pelas populaçõesa elas atraí<strong>da</strong>s, a melhores condições de vi<strong>da</strong>. No entanto,na média, o valor de IDH para a Região HidrográficaAmazônica é igual a 0,68. Portanto, a Região Hidrográficatem um IDH bem abaixo do índice considerado ótimo (0,8)e cujo valor máximo é 1.Dentre as Sub-regiões Hidrográficas, Tapajós e Xingusão as de IDH mais altos, com índices médios iguais a0,74 e 0,72, respectivamente. Já a Sub-<strong>região</strong> HidrográficaSolimões apresenta o IDH médio mais baixo (0,58),conforme indicado no Quadro 11.No entanto, apesar de existirem áreas na Amazônia,pontualmente, com IDH relativamente alto associado pormuitos com o recente desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des doagronegócio, entre outras, <strong>da</strong>dos recentes, divulgadospelo Instituto Imazon (IMAZON, 2005), mostram que aevolução sociocultural na Amazônia, tendo como base ativi<strong>da</strong>deseconômica de exploração dos recursos naturais,tem trazido, na ver<strong>da</strong>de, mais pobreza para a <strong>região</strong>.O Imazon se baseou em resultado de estudo comparativorealizado sobre a evolução do IDH, em especial nasnovas aglomerações urbanas que vêm surgindo na RegiãoHidrográfica Amazônica (Municípios de fronteira agrícolae/ou com altas taxas de desmatamento).De acordo com aqueles resultados (Quadro 12), o IDHaumenta nos primeiros momentos <strong>da</strong> fronteira de exploraçãodos recursos naturais, porém não se mantêmcom o tempo. Ou seja, os valores do IDH em Municípioscujos recursos naturais têm sido explorados à exaustão,são aumentados significativamente nos primeiros anosde exploração, mas depois de exauridos os recursos, o


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica73Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 22 – Índice de Desenvolvimento Humano - IDH <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica para o ano 2000


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicaíndice pode até mesmo cair a níveis piores do que antes<strong>da</strong> exploração.Assim, como dito pelo eminente Prof. Aziz Ab’Saber, (BO-RELLI et al., 2005), na Amazônia “O mundo urbano novo,que fez crescer e multiplicar ci<strong>da</strong>des atraiu gente de to<strong>da</strong>s asbeira<strong>da</strong>s de rio e igarapés,[mas] não teve força para ampliarou multiplicar mercados de trabalho. Daí ter surgido umanova pobreza, responsável por subnutrição, bairros carentes,favelas e dramas pessoais e familiares inenarráveis”.4.6 | Desenvolvimento Econômico Regional e osUsos <strong>da</strong> ÁguaAspectos históricos geraisA ocupação <strong>da</strong> Amazônia intensificou-se a partir do iníciodo século XVIII. Porém, os colonizadores deram poucaatenção às ativi<strong>da</strong>des econômicas locais em função <strong>da</strong> economia<strong>da</strong> época não contemplar os produtos que então seencontravam na <strong>região</strong>.A partir do século XIX, algumas transformações surgiramem função de uma modificação na economia local, inicialmentebasea<strong>da</strong> em ciclos efêmeros, para a produção de bensagrícolas mais permanentes (cacau, juta, etc.). Somente maistarde, influencia<strong>da</strong> por interesses internacionais, principalmentenorte americanos, a indústria <strong>da</strong> borracha começou ase desenvolver, favorecendo alguns investimentos privadose governamentais na área (RIBEIRO, 1990).A borracha se tornou o principal produto <strong>da</strong> Amazôniaaté o início do século XX, na época chegando aser responsável por expressivo percentual de participaçãono PIB nacional (BENCHIMOL, 1999), vindo a entrarem declínio com a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção do sudesteasiático. Produção esta gera<strong>da</strong> por um processo poucodependente do extrativismo puro e simples, até entãopraticado na Amazônia (RIBEIRO, 1990).74Quadro 11 – Valores de IDH médio, calculados para as Sub-regiões Hidrográficas <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaSub-<strong>região</strong> HidrográficaIDH-2000 médioAmapá Litoral 0,70Foz Amazonas 0,66Madeira 0,70Negro 0,67Paru 0,69Purus 0,63Solimões 0,58Tapajós 0,74Trombetas 0,68Xingu 0,72Fonte: Bases do PNRH (2005)Quadro 12 – Relação entre desmatamento em longo prazo e Índice de Desenvolvimento Humano - IDHSituação ambiental dos MunicípiosNúmero deMunicípios% dos Municípios(excluindo áreas protegi<strong>da</strong>s)IDHDevastado na quase totali<strong>da</strong>de 216 77% 0,660Desmatamento em an<strong>da</strong>mento 27 32% 0,716Ain<strong>da</strong> conservam florestas 164 14% 0,649Total 407 14% 0,659Fonte: Instituto Imazon, 2005


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaA expansão e o desenvolvimento dos centros urbanos naAmazônia iniciaram-se exatamente durante o período dociclo <strong>da</strong> borracha. Desse período são os registros de ocupaçãopopulacional ao longo <strong>da</strong>s principais vias navegáveis.Esse ciclo teve grande importância no início do século XXno contexto <strong>da</strong> economia do País, no entanto, é obscurecidoem escala nacional, historicamente falando, pelo ciclodo café e entrou em decadência no final dos anos 1920.Contudo, nos anos 1940, de acordo com a Constituiçãode 1946, merece destaque uma iniciativa relativa a um planoquanto à valorização econômica <strong>da</strong> Amazônia. Segundoaquele plano, 3% <strong>da</strong> receita tributária <strong>da</strong> União deveria seraplica<strong>da</strong> na <strong>região</strong>, benefício este também estendido posteriormenteao Nordeste (BENCHIMOL, 1999).Assim, também, ações decorrentes <strong>da</strong> assinatura do acordode Washington, de 1942, viabilizaram a reativação dealguns seringais com a finali<strong>da</strong>de de fornecerem matériaprimapara suprir as necessi<strong>da</strong>des dos aliados na II GuerraMundial, entre outras ações secundárias que se produziram(BENCHIMOL, 1999).Nos anos 1950, a ação <strong>da</strong> União se fez presente com acriação de enti<strong>da</strong>des de setores diversos, como a Superintendênciade Valorização Econômica <strong>da</strong> Amazônia - SPVA,o Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia - INPA, aCompanhia de Eletrici<strong>da</strong>de de Manaus - CEM, a Companhiade Eletrici<strong>da</strong>de do Pará - Celpa, os bancos estaduais eos então territórios federais (Amapá, Rondônia e Roraima),além do Comando Militar <strong>da</strong> Amazônia - CMA, que teveimportante papel na construção dos principais eixos de integração<strong>da</strong> <strong>região</strong> nas déca<strong>da</strong>s seguintes.A partir de 1960, com o início <strong>da</strong> construção <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>sde interligação do norte ao sul do Brasil, um novo processode migração e também de expansão econômica se iniciou.Aconteceu, com as estra<strong>da</strong>s, o adensamento de uma vastarede de ligação, originalmente feita através dos rios, implantandonovos eixos de desenvolvimento regional.De forma geral, hoje as regiões mais povoa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Amazôniaestão associa<strong>da</strong>s a áreas de influência tanto dos rios quanto <strong>da</strong>srodovias. Isso porque, mesmo com to<strong>da</strong> a influência decorrente<strong>da</strong> construção de estra<strong>da</strong>s na Região Hidrográfica Amazônica,no contexto do desenvolvimento econômico regional, os cursosde água ain<strong>da</strong> representam o mais importante indutor dodesenvolvimento regional.Assim, vale destacar, além de setores econômicos tradicionaisnas suas relações com a água, em geral associados ao usoe ocupação do solo, como a agricultura (irrigação), pecuária(dessedentação de animais), indústria (diluição de efluentes),o adensamento populacional (abastecimento humano e tratamentode esgotos), entre outros, que na <strong>região</strong> há uma forterelação de “hidrodependência”, a exemplo <strong>da</strong> navegação, pesca,piscicultura, eco-turismo e geração de energia hidrelétrica.Principais pólos de desenvolvimento econômicoregionalAlém <strong>da</strong>s capitais dos Estados, que possuem seu territórioparcial ou totalmente inserido na Região HidrográficaAmazônica, alguns Municípios merecem destaque <strong>da</strong>do seupapel nas ativi<strong>da</strong>des econômicas regionais.No Estado do Pará, Santarém é o Município polarizadormais importante, em torno do qual se aglutinam interessesde setores agropastoris (transporte de grãos, gado de corte,entre outros), extrativismo vegetal e mineral, além dotransporte aquaviário. Em Rondônia, as ci<strong>da</strong>des de PimentaBueno, Ji-Paraná e Vilhena, têm força junto ao setor agroindustrial,assim como Sinop, Alta Floresta e outras ci<strong>da</strong>dessitua<strong>da</strong>s ao norte do Estado de Mato Grosso.No Amazonas, Itacoatiara e Manacapuru também exercemum efeito polarizador, <strong>da</strong><strong>da</strong> a concentração de serrariase também de uma ain<strong>da</strong> incipiente indústria pesqueira.Lembrando, também, o caráter do transporte aquaviário,principalmente no caso de Itacoatiara, por onde é escoa<strong>da</strong> asoja que desce pela hidrovia do rio Madeira vin<strong>da</strong> do nortedo Mato Grosso, passando por Porto Velho.No Amapá, além <strong>da</strong> capital, a ci<strong>da</strong>de de Santana é um póloatrativo importante, devido à sua localização bem à foz do rioAmazonas. Os Municípios de Santana e Macapá respondempor mais de 75 % <strong>da</strong> população do Estado (IEPA, 2006).Um fator de reforço para os aspectos polarizadores,pode ser atribuído ao papel desempenhado pelo processode implantação de usinas hidrelétricas na <strong>região</strong>, iniciadona déca<strong>da</strong> de 1970, principalmente com a criação<strong>da</strong> Eletronorte.75


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica76O setor elétrico foi responsável pela implementação de infraestruturaspara a geração hidrelétrica, como a construção <strong>da</strong>susinas de Balbina, Samuel e Coaracy Nunes. Tais aproveitamentosinfluênciaram o desenvolvimento de regiões como as de Manaus,Porto Velho, Rio Branco e Macapá, respectivamente.Eixos de ligação entre os pólos de desenvolvimentoRodoviasOs principais pólos de desenvolvimento econômico naRegião Hidrográfica Amazônica estão ligados por rios, sendo,portanto, o transporte aquaviário fator importante parao desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>região</strong>. No entanto, existem tambémalgumas rodovias que, apesar de poucas, têm forte impactosocioeconômico relativo, com uma malha atualmente emexpansão e/ou em reforma (Figura 23).As obras de construção e/ou reforma de rodovias abandona<strong>da</strong>sna <strong>região</strong> têm causado intenso debate, principalmenteem vista do seu potencial de impacto na migração populacionale <strong>da</strong>s possíveis alterações no cenário ambiental eeconômico regional.Assim têm-se a estra<strong>da</strong> BR-174 que liga Manaus a BoaVista, conectando-se com o Caribe através de estra<strong>da</strong> emterritório Venezuelano, a partir <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de de BV-8/Pacaraima,no Brasil e Santa Elena naquele país vizinho. Parao sul, a BR-174 tem o seu prolongamento garantido pelaBR-319, ligando Porto Velho a Manaus, cujos trabalhos dereforma começaram em julho de 2005.Ain<strong>da</strong> quanto aos eixos de ligação, tem-se a rodovia Cuiabá-Santarém(BR-163), cujo debate sobre seu asfaltamentotem tomado proporções nacionais e mesmo internacionais,com ações de diversas ONGs no processo de discussão.Encontra-se em fase de construção a ligação do Brasilcom o Oceano Pacífico, através de uma conexão com oPeru, utilizando-se de rodovia entre as ci<strong>da</strong>des de Cruzeirodo Sul, no Brasil, e Pucallpa, no Peru, alcança<strong>da</strong>s apartir de Rio Branco pela BR-364, que representa a ligaçãoentre o sudoeste <strong>da</strong> Amazônia e Cuiabá e <strong>da</strong>í ao restantedo País. Ao longo de seu trajeto, especialmente entre Vilhenae Ariquemes, em Rondônia (na Sub-<strong>região</strong> HidrográficaMadeira), está uma <strong>da</strong>s áreas mais impacta<strong>da</strong>s noperíodo recente <strong>da</strong> ocupação <strong>da</strong> Região Hidrográfica.Há também o projeto de ligação do Estado do Amapá coma Guiana Francesa. Esse projeto pretende, a partir <strong>da</strong> construçãode uma ponte na altura <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de de Oiapoque edemais infra-estruturas complementares, seguindo por Caiena,abrir uma nova via de acesso do Brasil ao Caribe.É importante destacar ain<strong>da</strong> a rodovia Trans<strong>amazônica</strong>(BR-230) que, durante os anos de 1970 e 1980, representouforte eixo de ligação entre as Sub-regiões Hidrográficas Xingu,Tapajós, Madeira e Purus. Suas margens serviram comopólos de atração populacional em muitos trechos hoje abandonadose/ou que hoje servem ao drama do desmatamento.Atualmente, a Trans<strong>amazônica</strong> encontra-se em condiçõesdifíceis de tráfego, embora em seu percurso a ativi<strong>da</strong>de madeireiratenha se intensificado nos últimos anos, e, comoconseqüência, os conflitos fundiários. Em especial, merecemdestaque os trechos entre Altamira e Itaituba, no Pará,entre as Sub-regiões Hidrográficas Xingu e Tapajós e tambémo trecho entre Apuí e Lábrea, no Amazonas, entre asSub-regiões Hidrográficas Madeira e Purus.Vias navegáveis – os riosNa Amazônia brasileira circulam, por seus cerca de 20mil km de vias naturais navegáveis, mais de 50 mil embarcaçõesde diferentes tamanhos e calados (CAPITANIA DOSPORTOS DA AMAZÔNIA OCIDENTAL – INF. PESSOAL).Esse número de embarcações é de grande importância, jáque 13% <strong>da</strong> matriz de transporte brasileira pertencem aosegmento hidroviário e desse pequeno percentual, cerca de80% do transporte de carga interior do País é feito nos rios<strong>da</strong> Amazônia (Anuário Exame, 2005).Apesar de técnicos do setor de navegação não concor<strong>da</strong>remmuito com a aplicação do termo hidrovia a muitos riose/ou trechos de rios <strong>da</strong> Amazônia, em face <strong>da</strong> inexistênciade infra-estrutura necessária ao mo<strong>da</strong>l para justificar taldenominação, quatro grandes cursos de água são identificadosna Região Hidrográfica Amazônica, como hidrovias,pelo meio empresarial: 1) Solimões-Amazonas, 2) Trombetas– Amazonas, 3) Guaporé – Madeira, e 4) rio Branco– rio Negro. Através desses eixos fluviais podem ser acessa<strong>da</strong>s,com mais ou menos dificul<strong>da</strong>des, as mais importantesaglomerações urbanas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica77Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 23 – Principais eixos de ligação na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica78Em contraposição à atenção <strong>da</strong><strong>da</strong> às estra<strong>da</strong>s no presentetópico, um pouco mais de detalhe sobre o mo<strong>da</strong>l hidroviário,é <strong>da</strong>do mais adiante no texto, em face <strong>da</strong> importânciado setor de navegação, para a <strong>região</strong>.Ativi<strong>da</strong>des humanas e suas relações com a água – Usosnão consuntivosNa Região Hidrográfica Amazônica, os principais usosnão consuntivos dos recursos hídricos referem-se ao transportehidroviário (navegação), à pesca, ao turismo e lazer, àhidroeletrici<strong>da</strong>de, e ao transporte, diluição e assimilação deefluentes, no que concerne à visão antrópica imediata, sendo,porém, a sustentação ambiental o aspecto mais importantequanto ao uso e manejo destes recursos (FGV, 1998).NavegaçãoA navegação constitui a principal mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de transportena Região Hidrográfica Amazônica desde o início doprocesso de ocupação, fazendo uso de uma rede hidroviáriacuja extensão total excede a 20.000 km. Esse mo<strong>da</strong>l continuatendo muita importância nos dias atuais, apesar <strong>da</strong>existência de algumas rodovias na <strong>região</strong>. Essa importânciase dá tanto em vista <strong>da</strong> má conservação <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, quantopelo fato de os rios serem navegáveis em grande parte deseus cursos, possibilitando acesso a grandes distâncias naRegião Hidrográfica a um custo relativamente baixo.Assim, a economia <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, quehoje apresenta razoável grau de diversificação e para a qualquestões de logística ain<strong>da</strong> são um fator limitante continua seutilizando dos seus rios, mesmo com uma infra-estrutura portuáriadeficiente face aos volumes de carga transportados.A infra-estrutura portuária precária afeta tanto o setor detransporte propriamente dito, como também a manutençãodos níveis de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água dos rios, em vista <strong>da</strong> faltade tratamento adequado de efluentes, tanto <strong>da</strong> parte <strong>da</strong>sembarcações quanto dos portos. Essa é uma questão de importânciafun<strong>da</strong>mental para que esse mo<strong>da</strong>l se consolide deforma eficiente e eficaz, favorecendo as ativi<strong>da</strong>des econômicasdesenvolvi<strong>da</strong>s na <strong>região</strong>.Considerando as quatro grandes hidrovias <strong>da</strong> <strong>região</strong> já menciona<strong>da</strong>santeriormente, e feitas as devi<strong>da</strong>s ressalvas quantoao uso <strong>da</strong> denominação hidrovia, a do Solimões-Amazonasse destaca, principalmente em termos de sua produção detransporte (Quadro 13) e em distância longitudinal <strong>da</strong> hidrovia.Somente esta hidrovia é responsável por cerca de 65% <strong>da</strong>carga total transporta<strong>da</strong> nos rios brasileiros.Outra hidrovia de importância, em termos de produçãode transporte, é a Trombetas – Amazonas. Porém, esta hidroviatransporta basicamente Bauxita, ao passo que a doGuaporé – Madeira, terceira naquele quesito, transportaalém de grãos, cargas diversas. De menor monta é a hidroviaRio Branco – Rio Negro, que fica muito limita<strong>da</strong> em termosde distância percorri<strong>da</strong> em função <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>dede calado, sobretudo no rio Branco, mas tem importânciana ligação Norte-Sul dentro <strong>da</strong> Região Hidrográfica, assimcomo a Guaporé – Madeira.A infra-estrutura portuária de maior importância existentena Região Hidrográfica Amazônica, considerandoo fluxo anual de carga, tem em média um terço de suaadministração sob responsabili<strong>da</strong>de pública. Estes portospúblicos transportam juntos cerca de 20% do fluxo anualde cargas (Quadro 14). Ou seja, a maioria <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>deshidroviárias na Região Hidrográfica é de cunho privado,sendo que as infra-estruturas portuárias estão instala<strong>da</strong>sprincipalmente em cinco Sub-regiões Hidrográficas: Fozdo Amazonas, Madeiras, Negro, Tapajós e Trombetas.O maior problema registrado em âmbito geral na <strong>região</strong>quanto à navegação por hidrovias é a falta de um marco regulatóriopara o setor. A legislação deixa margem à possívelgeração de conflitos entre este setor e outros usuários <strong>da</strong>Região Hidrográfica Amazônica.Os investimentos públicos em hidrovias são pequenos ea operação de novas hidrovias enfrenta restrições ambientais,o que segundo o meio empresarial afasta investidoresprivados. O maior desafio deste setor está em formular umapolítica tanto desse sistema de transporte com outros mo<strong>da</strong>is,bem como do sistema hidroviário com outros setoresusuários <strong>da</strong> água na Região Hidrográfica, como o setor elétrico,por exemplo.Os portos públicos são operados pelas Companhias Docas,cuja administração é frequentemente objeto de contestação<strong>da</strong> parte do empresariado. Também aquelas empre-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficasas federais enfrentam um número alto de ações judiciais(ANUÁRIO EXAME, 2005).Assim, questões diversas de cunho institucional, principalmente,dificultam os investimentos, fazendo com que oempresariado classifique o setor como possuidor de problemasimpeditivos à prestação dos serviços de forma a atenderadequa<strong>da</strong>mente às necessi<strong>da</strong>des.PescaCaça e pesca na Região Hidrográfica Amazônica são,tradicionalmente, as duas principais fontes de obtençãode proteína animal, e ain<strong>da</strong> amplamente pratica<strong>da</strong>s. Assimse passa tanto com pequenas comuni<strong>da</strong>des ruraisque têm nesta prática a fonte de subsistência, como comos caçadores que atuam com foco no comércio de peles(por vezes ilegal).Atualmente, a caça está concentra<strong>da</strong> em animais doporte <strong>da</strong> capivara e do jacaré, e, em alguns casos, tambémsão presas fáceis a tartaruga <strong>amazônica</strong> e o peixeboi.Pela super exploração, estas espécies correm o riscode extinção (NEVES, 1995).No entanto, o desenvolvimento dos recursos de pesca,com uma ictiofauna rica e diversifica<strong>da</strong> na Região HidrográficaAmazônica (mais de 3.000 espécies), é que tem seconstituído a base alimentar <strong>da</strong>s populações.A pesca, por sua vez e em contraposição à caça, se mantémcomo importante fonte de proteína animal e tambémcomo fonte geradora de ren<strong>da</strong> para os ribeirinhos amazônicos.O peixe é visto pela comuni<strong>da</strong>de ambientalista como orecurso mais promissor para melhorar a dieta alimentar <strong>da</strong>população <strong>da</strong> <strong>região</strong>, com um mínimo de degra<strong>da</strong>ção ambiental.A ativi<strong>da</strong>de na Região Hidrográfica Amazônica coexiste,assim, em duas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des: artesanal e industrial.No entanto, face a um forte aumento na deman<strong>da</strong> dosmercados locais, motiva<strong>da</strong> pelo aumento <strong>da</strong>s populações,sobretudo em zonas urbanas, os estoques naturais têmQuadro 13 – Características <strong>da</strong>s principais hidrovias <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica HidrográficaAmazônicaPrincipais produtos Distância percorri<strong>da</strong> naHidroviatransportadoshidrovia (km)Solimões – Amazonas Diversos 1563 16,7 .10 8Trombetas – Amazonas Bauxita 1361 5 .10 8Guaporé – Madeira Grãos e carga geral 1106 0,7 .10 8Rio Branco – Rio Negro Carga Geral 750 0,2 .10 8Produção de transporte(TKU 1 por km)79Fonte: Anuário Exame (2005)1TKU – Tonela<strong>da</strong> por quilômetro útilQuadro 14 – Perfil dos principais portos e terminais portuários <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaPortoSub-<strong>região</strong>HidrográficaTipo de AdministraçãoFluxo anual de carga(tonela<strong>da</strong>s)Macapá (AP) Foz do Amazonas Pública 851.414Terminal Munguba (AP) Foz do Amazonas Priva<strong>da</strong> (Jari Celulose) 445.655Porto Velho (RO) Madeira Pública 1.699.113Terminal Itacoatiara (AM) Madeira Priva<strong>da</strong> (HERMASA) 2.586.701Terminal Petrobras – Porto Velho (RO) Madeira Priva<strong>da</strong> (Petrobras) 396.269Terminal de Porto Velho (RO) Madeira Priva<strong>da</strong> (Cia. Agro Ind. Monte Alegre) 130.554Terminal <strong>da</strong> OCRIM – Manaus (AM) Negro Priva<strong>da</strong> (OCRIM) 74.730Terminal Refinaria Isaac Sabba – Manaus (AM) Negro Priva<strong>da</strong> (Petrobras) 7.076.253Terminal Super Terminais – Manaus (AM) Negro Priva<strong>da</strong> (Super Terminais) 303.385Manaus (AM) Negro Pública 1.196.101Santarém (PA) Tapajós Pública 900.679Terminal Porto Trombetas (PA) Trombetas Priva<strong>da</strong> (Mineração R.G. Norte) 13.759.836Fonte: Anuário Exame (2005)


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica80diminuído. Alternativas de manejo têm sido propostas paraque se dê a oportuni<strong>da</strong>de de uma renovação e manutençãodos estoques naturais, assim como um incentivo à criaçãoem cativeiro (piscicultura).Mais investimentos têm sido solicitados para a pisciculturana Região Hidrográfica Amazônica, em vista <strong>da</strong>s previsões deque a produção pesqueira natural, na <strong>região</strong>, não excederá200.000 ton.ano -1 , não sendo suficiente para atender a deman<strong>da</strong>.Portanto, o aumento <strong>da</strong> produção, deverá vir de ummanejo cui<strong>da</strong>doso dos estoques naturais e principalmente dodesenvolvimento <strong>da</strong> criação de peixes, tanto em áreas de várzeacomo de terra-firme (LIMA e GOULDING,1998).No momento, a maior parte <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s de criação depeixe na Amazônia Ocidental têm sido estabeleci<strong>da</strong>s próximasa Manaus (Amazonas) e em diferentes locali<strong>da</strong>des noEstado do Acre, Sub-regiões Hidrográficas (Negro e Purus,respectivamente). O modo de criação mais comum é o detanques escavados e, em alguns casos, o uso de tanquesredes em reservatórios, fruto do barramento de pequenoscórregos, ou ain<strong>da</strong> em rios e lagos sob condições naturais.A espécie principal utiliza<strong>da</strong> nas fazen<strong>da</strong>s de piscicultura,tem sido o Tambaqui (Colossoma macropomum), além deoutras espécies também de origem local, porém em menorescala. Em termos biológicos, o tambaqui tem se mostradouma espécie bastante robusta. Apresenta alta fecundi<strong>da</strong>de,tem grande a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de aos diferentes habitats regionais,maturi<strong>da</strong>de sexual tardia, utiliza como alimentação, preferencialmenteo plâncton e frutos <strong>da</strong> vegetação inundável(LIMA e GOULDING,1998).Em termos econômicos, o tambaqui tem preço bastanteatrativo no mercado <strong>da</strong> própria <strong>região</strong>, principalmente paraindivíduos com mais de 2 kg. Em algumas praças comerciaiso preço pode atingir até R$ 20,00 por quilo (INF. PESSOAL).O principal fator limitante à piscicultura na Região HidrográficaAmazônica está na falta de assistência técnica ena organização do setor. A orientação do piscicultor localquanto ao manejo adequado é ain<strong>da</strong> pouco freqüente edeve ser feita, sob pena de comprometer o ambiente naturalcom a introdução de espécies não nativas, mas de altacapaci<strong>da</strong>de reprodutiva, podendo gerar problemas para aquali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações de peixes nativos.Outro fator importante está na busca de técnicas paracriação de peixes de modo sustentável, utilizando alternativaslocais, com frutos regionais, por exemplo, parabaratear o preço <strong>da</strong> ração e também quanto à renovaçãoe manutenção dos estoques naturais, para o que experiênciasvêm sendo realiza<strong>da</strong>s nas áreas de várzea (LIMA EGOULDING,1998).Turismo e lazerO incremento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des turísticas, principalmente doecoturismo, em um contexto de melhor valorização <strong>da</strong> riquezaambiental <strong>da</strong> Amazônia, e a partir de uma visão de desenvolvimentosustentável, é uma ativi<strong>da</strong>de que parece bastantepromissora na <strong>região</strong>. Nos últimos anos, investimentos nacionaise estrangeiros em áreas como o baixo curso do rioTapajós, em Alter do Chão, próximo a Santarém (Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Tapajós), e também em alguns Municípios doAmazonas, especialmente na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro,têm sido feitos de forma bastante recorrente.Nessa ótica, a estratégia de desenvolvimento <strong>da</strong> Amazôniatem conferido um grande destaque ao setor doturismo, como um dos segmentos econômicos que devecompor a base de uma nova estrutura produtiva maisadequa<strong>da</strong> aos ecossistemas amazônicos. No Plano de Desenvolvimento<strong>da</strong> Amazônia - PDA, o turismo configura-secom um de seus programas prioritários (AGÊNCIADE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA – ADA).Assim, o setor privado e os governos <strong>da</strong> <strong>região</strong> estãobuscando definir pólos para onde serão encaminhadosesforços no sentido de que as ativi<strong>da</strong>des de ecoturismose desenvolvam de forma harmônica, visando a promoção<strong>da</strong> Amazônia como um todo, e não de Estados emparticular (Quadro 15).Hidroeletrici<strong>da</strong>deAssociado ao recente processo de desenvolvimento regionaliniciado nos anos 1970, é crescente a deman<strong>da</strong> porenergia na Região Hidrográfica. O sistema de abastecimentode energia elétrica, inicialmente com uma matriz fixa<strong>da</strong> nopetróleo e seus derivados, migrou em parte para um modelocom uma maior participação <strong>da</strong> hidreletrici<strong>da</strong>de.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaAssim, além dos aproveitamentos hidrelétricos hojeexistentes (Quadro 16), estão previstos no Plano 2015(Eletrobrás) alguns outros empreendimentos (Quadro 17),dentre os quais se destaca o de Belo Monte (11.000 MW),no rio Xingu, com entra<strong>da</strong> em operação prevista para 2009(FGV, 1988). Também merecem destaque os aproveitamentosde Jirau e Santo Antônio, ambos no rio Madeira, emRondônia, com um potencial de mais de 7.000 MW.Além disso, há outras propostas de projetos para a construçãode linhas de transmissão para ligar sistemas isoladosde geração de energia elétrica aos sistemas já interligados,através <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> UHE de Tucuruí, na RegiãoHidrográfica Araguai/Tocantins, bem como aos sistemasde geração <strong>da</strong> Venezuela ao longo <strong>da</strong> rodovia BR-174, quejá abastece Boa Vista.No entanto, sejam propostas de interligação com a construçãode linhas de transmissão de energia, quanto propostasde construção de novas usinas, em ambos os casos osprojetos têm sofrido críticas, quanto a seus impactos ambientais,principalmente, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de ambientalista eacadêmica, gerando conflitos políticos, estando alguns dessesprojetos ain<strong>da</strong> pendentes.Os impactos do setor elétrico sobre o meio ambiente têmsido considerados bastante relevantes pela comuni<strong>da</strong>deacadêmica e vêm sendo revistos sob diferentes pontos devista. Em especial, um tema que tem se mantido em pautana agen<strong>da</strong> ambiental do setor elétrico, diz respeito às emissõesde gases de efeito estufa pelos reservatórios <strong>da</strong>s hidrelétricase sua comparação com emissões por usinas térmicasequivalentes (FEARNSIDE, 2000 e ROSA et al., 2002).Essas e outras questões ambientais têm mantido as empresasresponsáveis pelos empreendimentos em constantepreocupação com a temática ambiental, criando programasde gestão ambiental e incluindo também a avaliação dosusos múltiplos dos recursos hídricos (uso de reservatóriospara ativi<strong>da</strong>des de lazer, como uni<strong>da</strong>des de conservação,etc.) em suas agen<strong>da</strong>s específicas.Algumas dessas enti<strong>da</strong>des têm criado programas de pesquisae desenvolvimento, destinando recursos para que enti<strong>da</strong>desde pesquisa do País e <strong>da</strong> <strong>região</strong> possam trabalhar melhora questão ambiental (ELETRONORTE – INF. PESSOAL).Portanto, apesar do grande potencial hidráulico <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica, a implementação de grandesprojetos hidrelétricos, no futuro, estará condiciona<strong>da</strong> aoatendimento dos diferentes aspectos ambientais envolvidos,em vista <strong>da</strong>s extensas áreas de florestas nativas que seriaminun<strong>da</strong><strong>da</strong>s por estes empreendimentos.A variável ambiental tende a criar restrições crescentespara o aproveitamento do expressivo potencial hidrelétrico<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, além <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des81Quadro 15 – Pólos de ecoturismo divulgados pela ADA como de relevante interesse para o desenvolvimento na Região HidrográficaAmazônicaEstado Pólo de EcoturismoSub-<strong>região</strong> Hidrográfica emmaior destaqueAcre Municípios de Rio Branco, Plácido de Castro, Xapuri e Porto Acre PurusAmapáMunicípios de Santana, Macapá, Itaubal, Porto Grande, Amapari, Serra do Navio,Ferreira Gomes, Cutias, Tertarugalzinho e PracuúbaFoz do AmazonasAmazonasMunicípios de Manaus, Presidente Figueiredo, Barcelos, Novo Airão, Manacapuru,Iranduba, Careiro, Careiro <strong>da</strong> Várzea, Autazes, Itacoatiara, Silves e Rio Preto <strong>da</strong> EvaNegro e MadeiraMato GrossoMunicípios de Juína, Apiacas, Juara, Paranita, Alta Floresta, Guarantã do Norte ePeixoto de AzevedoTapajósPará Municípios de Santarém, Óbidos, Alenquer, Oriximiná, Belterra e Aveiro Tapajós, Trombetas e ParuRondôniaMunicípios de Porto Velho, Guajará Mirim, Vale do Guaporé (tendo como base oMunicípio de Costa Marques)MadeiraRoraima Municípios de Boa Vista, Amajari, Pacaraima, Uiramutã e Normandia NegroFonte: A<strong>da</strong>ptado de ADA


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicanaturais de transmissão de energia a grandes distâncias,desde as uni<strong>da</strong>des geradoras até os centros consumidores.transporte, diluição e assimilação de efluentes é preciso queas águas servi<strong>da</strong>s tenham sido capta<strong>da</strong>s para o consumo.82Transporte, diluição e assimilação de efluentes.Há grande dificul<strong>da</strong>de prática de controle do lançamentodos resíduos <strong>da</strong> mineração, principalmente domercúrio (garimpos de ouro). Ain<strong>da</strong> que, em termos gerais,a Bacia não apresente grande densi<strong>da</strong>de demográficae eleva<strong>da</strong> concentração industrial, comparativamentea outras áreas do país, a contaminação <strong>da</strong>s águas porefluentes domésticos e industriais, em pontos específicos,já configura risco evidente para a saúde pública e omeio ambiente em geral (FGV, 1998).No que se refere às possibili<strong>da</strong>des de contaminação <strong>da</strong>ságuas, vale considerar na sua utilização com a finali<strong>da</strong>de detransportar, diluir e assimilar efluentes urbano-industriais eos despejos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des mineradoras, um quadro de infra-estruturade abastecimento de água e saneamento básicoextremamente carente na Região Hidrográfica Amazônica.Esse sub-tema constitui o limiar <strong>da</strong> passagem dos usos nãoconsuntivos para os usos consuntivos, pois para que se faça oAtivi<strong>da</strong>des humanas e suas relações com a água – UsosconsuntivosAbastecimento humanoA questão problemática supracita<strong>da</strong>, <strong>da</strong> água para oabastecimento humano e <strong>da</strong> infra-estrutura de saneamentobásico, tem sofrido os efeitos do aumento recente nadensi<strong>da</strong>de populacional <strong>da</strong> Região Hidrográfica, sobretudonas zonas urbanas.A Região Hidrográfica Amazônica apresentou um crescimentopopulacional de 9,4% entre os anos de 1991 e 1996.A estas taxas correspondem mu<strong>da</strong>nças no padrão de crescimentoeconômico regional e à taxa média de crescimentonas regiões Norte e Centro-Oeste (2,44% e 2,22%, respectivamente)em relação à taxa média do País, de 1,38% porano no mesmo período (IBGE, 2003).Também a taxa de urbanização apresentou um aumentode quase dez pontos percentuais entre os anos de1991 e 1996. No entanto, associados a este crescimento,Quadro 16 – Principais aproveitamentos hidrelétricos (AHEs) na Região Hidrográfica AmazônicaNome do AHE Potencial de geração (MW) Rio Empresa responsável UFSub-<strong>região</strong>HidrográficaAripuanã 0,8 Aripuana Cemat MT MadeiraBraço Norte 5,29 Braço do Norte Cemat MT TapajósCuluene 1,79 Culuene Cemat MT XinguJuína 2,65 Aripuana Cemat MT MadeiraSamuel 216 Jamari Eletronorte RO MadeiraBalbina 250 Uatuma Manaus Energia AM TrombetasCoaracy Nunes 40 Araguari Eletronorte AP Amapá LitoralFonte: ANEEL (2005)Quadro 17 – Principais aproveitamentos hidrelétricos (AHEs) projetados para a Região Hidrográfica AmazônicaNome do AHE Potêncial de geração (MW) Rio Empresa responsável UFSub-<strong>região</strong>HidrográficaBelo Monte 11.000 Xingu Eletronorte PA XinguJirau 3.900 Madeira Furnas RO MadeiraSanto Antônio 3.580 Madeira Furnas RO MadeiraFonte: FGV (1998); Furnas Centrais Elétricas (2006)


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficaem termos de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, os indicadores de saneamentobásico, por exemplo (abastecimento de água,esgotamento sanitário e coleta de lixo) registraram umaque<strong>da</strong> substancial de investimentos (IBGE, 2003).Assim todos os Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,mostram menos de 35% <strong>da</strong> população atendidos por rede deesgoto. A grande maioria dos Estados apresenta menos de15% (exceção Roraima, com quase 26%) de esgoto tratado(Quadro 18). Nesse quesito, portanto, a grande maioria dosEstados <strong>da</strong> Região Hidrográfica apresenta percentual bemabaixo do valor de referência para o País. Figuram de formaalarmante nesse quadro os Estados do Amazonas e do Acre,que segundo os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> ANA (2002), possuem 0% de esgototratado, ficando o Pará bem próximo disso com 0,7%.Quando se observa o quesito abastecimento de água asituação apresenta sensível melhora, com destaque parao Estado de Roraima, com mais de 90% <strong>da</strong> populaçãoatendi<strong>da</strong> por rede de abastecimento. O Estado do Pará,com pouco menos de 50% <strong>da</strong> população atendi<strong>da</strong> porsistema de abastecimento de água, configura-se comoaquele com o quadro mais grave.AgriculturaA partir dos anos 1970, modificações nos processos deprodução agrícola vêm sendo introduzi<strong>da</strong>s na Região HidrográficaAmazônica, principalmente com modos diferenciadosde irrigação, além <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de uma agriculturaantes muito mais de subsistência para um modelo que começaa se destacar como agronegócio, principalmente baseadona soja.O setor agrícola na Amazônia tem se expandido muito,principalmente ao longo dos milhares de quilômetros denovas estra<strong>da</strong>s. Assim, a agroindústria, principalmentede grãos (soja e arroz) tem nos Estados de Rondôniae do Mato Grosso, seu principal ponto de apoio. Noentanto, os campos de Roraima começam a se mostraratrativos aos agricultores do sul do País, que para lá têmmigrado nos últimos anos.Em Roraima, a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do decênio passado,a soja começou a ocupar grandes áreas de savanas,sobretudo às margens <strong>da</strong> rodovia BR-174. Os grãos produzidosnessa <strong>região</strong> tendem a se dirigir a mercados internacionais,quer através do porto de Itacoatiara, quer sobretudoatravés <strong>da</strong> Venezuela: escoando pelo Mar do Caribeem direção à Europa ou ao Japão (pelo Canal do Panamá).A forragem deriva<strong>da</strong> <strong>da</strong> soja é ti<strong>da</strong> como importante para<strong>da</strong>r novo impulso à pecuária, num modelo intensivo e moderno,base para a exportação de carne e o beneficiamentoindustrial local (FGV/ISAE, 2001).Assim, associa<strong>da</strong> à ativi<strong>da</strong>de agrícola, no consumo deágua, está a pecuária, que no modo atual de ativi<strong>da</strong>des quecompõem o quadro de ocupação <strong>da</strong> <strong>região</strong> representa umafase anterior à agricultura de grande escala. A pecuária, numdos principais modos de ocupação <strong>da</strong> <strong>região</strong> iniciado coma derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta, é em geral extensiva e em muitoscasos por razões econômicas substituí<strong>da</strong> pela agricultura decaracterísticas industriais.A criação de gado na Amazônia, como de um modogeral, é grande deman<strong>da</strong>dora de água (dessedentação deanimais) e além de ocupar vastas áreas contribui para83Quadro 18 – Quadro <strong>da</strong> situação <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica com relação a saneamento básico, especialmente abastecimento deágua e esgotamento sanitárioEstado Abastecimento de água (% pop.) Sistema de esgoto (% pop.) Esgoto tratado (% do coletado)Acre 43,9 34,2 0Amazonas 79,4 20,5 0Rondônia 55,1 4,4 1,8Roraima 93,6 0,6 25,9Pará 47,7 2,4 0,7Mato Grosso 72,9 16,9 13,8Amapá 55,1 0,4 6,6Brasil 89,2 52,5 20,7Fonte: ANA (2002)


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica84degra<strong>da</strong>ção dos solos e <strong>da</strong> floresta. Em especial, essa degra<strong>da</strong>ção,inicia<strong>da</strong> com a derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta ou entãopelas queima<strong>da</strong>s, se acentua com o pisoteio e fragilizaçãodo solo pelos animais.Em contraposição ao modelo <strong>da</strong> agricultura de base capitalistaempresarial, a partir dos anos 1990, a organização de movimentospopulares tanto de cunho ambiental, quanto social,apoiados por igrejas e ONGs, começou a ganhar força. Hoje,esses movimentos são atores importantes no cenário do desenvolvimentoeconômico <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,considerando seu interesse por uma opção de desenvolvimentodiferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong>quela basea<strong>da</strong> na grande proprie<strong>da</strong>de.Assim, os movimentos populares ocupam importante espaçona deman<strong>da</strong> por políticas públicas de ordenamentoterritorial, zoneamento econômico-ecológico, entre outrostemas iminentes na <strong>região</strong>, incluindo a água.Como reflexo dos avanços conseguidos pelos movimentospopulares, a agricultura familiar tem desempenhadoum papel de destaque na ocupação <strong>da</strong> <strong>região</strong>.Para alguns autores, no entanto, esse setor <strong>da</strong> agricultura,principalmente aquele criado com os projetos de colonizaçãogovernamentais, está ou quase sempre esteveem crise (Léna e Oliveira, 1991).Como conseqüência <strong>da</strong>quela crise, merece destaque, ain<strong>da</strong>,o número de mortes em conflitos fundiários, mais do quepropriamente o impacto sobre os recursos hídricos oriundosde uma agricultura de base familiar. Isso, analisado a partirde uma relação de causa e efeito, indica a questão <strong>da</strong> legali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> posse <strong>da</strong> terra, como o desafio maior desse setor.Assim, o impacto sobre os recursos hídricos causado pelasdeman<strong>da</strong>s do setor agrícola/pecuária tem muito maispossibili<strong>da</strong>des de vir <strong>da</strong> grande proprie<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong> nacultura irriga<strong>da</strong> de grãos e/ou na pecuária extensiva, do que<strong>da</strong> pequena proprie<strong>da</strong>de familiar, calca<strong>da</strong> numa agriculturade subsistência. Uma análise mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> questãomerece ser realiza<strong>da</strong> com vistas a um planejamento maisadequado para o setor.Deve-se tentar uma análise num contexto mais amplo,buscando identificar soluções para paradoxos regionais.Um deles diz respeito ao fato <strong>da</strong>s atuais ativi<strong>da</strong>des agrícolasem curso, como, por exemplo, a produção de alimentosque, embora tenha aumentado, a <strong>região</strong> se mantémcomo importadora de alimentos, e a ren<strong>da</strong> médiaanual dos pequenos agricultores ain<strong>da</strong> se situa abaixo deUS$ 1.500 (LIMA e GOULDING, 1998).Ativi<strong>da</strong>de industrialNo que diz respeito à ativi<strong>da</strong>de industrial e seu desenvolvimentona Região Hidrográfica Amazônica, há pouco a serreportado, quanto a algo que gere realmente impacto expressivonos recursos hídricos. A questão é ain<strong>da</strong> extremamentepontual e de difícil detecção na escala de trabalho na qualestá focado o presente documento.Apenas como menção, a indústria de transformação, maisespecificamente a eletroeletrônica, tem mostrado algumapossibili<strong>da</strong>de de exercer pressão sobre os recursos hídricos,apesar de depender pouco do elemento água nas instalaçõesatuais, em especial as basea<strong>da</strong>s em Manaus, na Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica Negro.Grande parte <strong>da</strong>s empresas instala<strong>da</strong>s no Distrito Industrialde Manaus faz uso <strong>da</strong> água subterrânea. No entanto,ain<strong>da</strong> que os recursos hídricos subterrâneos <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica estejam sendo explotados em demasia,sobretudo nas áreas urbanas, a contribuição do DistritoIndustrial de Manaus aparenta baixa importância.Os tipos de poços <strong>da</strong>s empresas do pólo industrial de Manaustêm sido ca<strong>da</strong>strados e controlados com mais freqüênciapelos órgãos de fiscalização. São poços tubulares, profundos,em geral construídos segundo normas técnicas adequa<strong>da</strong>s,não gerando o mesmo impacto que os superficiais construídospor leigos sem as normas adequa<strong>da</strong>s e sem nem o devidoca<strong>da</strong>stramento no órgão de fiscalização competente.Além dos poços, na sua escala regional, o modelo de industrializaçãovigente na Zona Franca de Manaus é consideradocomo de baixo impacto ambiental. A ele tem sidoatribuído o fato de o Estado do Amazonas apresentar menorestaxas de desmatamento em relação aos demais Estados<strong>da</strong> <strong>região</strong> (RIVAS, 1998). Até o momento, essa também é aidéia no tocante aos recursos hídricos, apesar de a ci<strong>da</strong>dede Manaus possuir dentre seus igarapés, muitos deles po-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficaluídos, alguns que passam por dentro <strong>da</strong> área do distritoindustrial carecendo de um estudo mais detalhado com relaçãoàs reais fontes poluidoras.MineraçãoA mineração tem nos garimpos, bastante dispersos pela<strong>região</strong>, um atrativo que parece ter se arrefecido nos últimosanos, após sucessivas intervenções do governo federal, fechandoalguns pontos de extração, principalmente de ouroe diamante. No entanto, nas Sub-regiões Hidrográficas Tapajós,Xingu e Madeira ain<strong>da</strong> existe uma ativi<strong>da</strong>de garimpeirasignificante.Informações <strong>da</strong> Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologiae Meio Ambiente – Sectam, do Pará, a ativi<strong>da</strong>degarimpeira tem-se organizado em associações, buscandolegalizar suas práticas na <strong>região</strong>, em especial no Pará. Aativi<strong>da</strong>de tem recebido algum suporte técnico, favorecendoo uso de maquinário mais adequado e a implementaçãode medi<strong>da</strong>s de controle ambiental.O setor de óleo e gás também vem tomando grandeimpulso na <strong>região</strong> após a descoberta <strong>da</strong>s reservas<strong>da</strong> Bacia do Rio Urucu. Nesta área, a Petrobras temdesenvolvido programa de exploração utilizando práticasde gestão ambiental. O impacto nos recursoshídricos pela exploração destes recursos apresentariscos em sua operação. Esses impactos vêm sendoavaliados e monitorados por programas de pesquisa<strong>da</strong> empresa em conjunto com enti<strong>da</strong>des nacionais eregionais (PROGRAMA PIATAM, 2005).Existe, ain<strong>da</strong>, a ativi<strong>da</strong>de mineradora na Região HidrográficaAmazônica, que não aquela de óleo e gás, mas decaráter empresarial, de médio e grande porte, como porexemplo, a exploração <strong>da</strong> Bauxita na Sub-<strong>região</strong> HidrográficaTrombetas, com investimentos importantes na calha dorio homônimo, nas proximi<strong>da</strong>des de Oriximiná (PA).Vale citar, também, a exploração do estanho, próximoà locali<strong>da</strong>de de Presidente Figueiredo, na Bacia doRio Uatumã (AM), na <strong>região</strong> limítrofe entre as Sub-regiõesHidrográficas Negro e Trombetas. Os impactos destas ativi<strong>da</strong>desde mineração sobre os recursos hídricos têm sidopouco reportados localmente, porém as empresas têm informadoquanto a uma preocupação de manter e divulgarseus programas de gestão ambiental, visando estar em diacom a internalização tanto <strong>da</strong>queles aspectos quanto dosrelacionados com os recursos hídricos.Excetuando-se o garimpo, aqui apresentado como umaativi<strong>da</strong>de extrativista, a mineração realiza<strong>da</strong> de forma empresarialé vista como uma ativi<strong>da</strong>de industrial, para fins dedeman<strong>da</strong> por água.Deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica AmazônicaO quadro geral <strong>da</strong> razão deman<strong>da</strong>/oferta de água na RegiãoHidrográfica Amazônica é bastante positivo. Seguindoa classificação <strong>da</strong> Unesco (2003), no cenário atual, coma razão deman<strong>da</strong>/oferta, menor que 5%, o nível de classificação<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica é tido comoexcelente (Figura 24). Assim, tomando por base aquelaclassificação, a recomen<strong>da</strong>ção seria a de pouca necessi<strong>da</strong>dede intervenção quanto a gerenciamento de recursoshídricos na <strong>região</strong>.Cabe assinalar que foram utilizados os <strong>da</strong>dos de vazão mínimacom freqüência de 95%, para que se pudesse procedera uma análise em cenário de escassez, já que, para os valoresmédios acumulados e/ou de longo período, a relação é sempremenor que 1%, sem exceção, para to<strong>da</strong>s as Sub-regiõesHidrográficas. Por esse modo de análise, optou-se por umasubdivisão dentro do quadro geral. Essa opção foi implementa<strong>da</strong>na Figura 24, com vistas a possibilitar uma visão <strong>da</strong>s áreas<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica onde a situação tende auma piora naquela classificação supracita<strong>da</strong>.Assim, a área <strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Madeira foiidentifica<strong>da</strong> como de maior tendência a passar para confortável,isso se forem mantidos os padrões atuais de intensificação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des antrópicas. As Sub-regiões Hidrográficasmenos vulneráveis na relação deman<strong>da</strong>/oferta sãoAmapá Litoral, Negro, Purus e Solimões, estando as demaisnuma faixa intermediária.No entanto, a Região Hidrográfica Amazônica não é uma<strong>região</strong> onde as áreas de ocupação estejam consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s e ondese possa abrir mão dos instrumentos de gestão dos recursos85


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica86naturais. Aliás, muito pelo contrário, pois o avanço <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>deantrópica de forma desarmônica e não planifica<strong>da</strong> é uma reali<strong>da</strong>de,cujas conseqüências preocupam não só a comuni<strong>da</strong>denacional, como também a internacional. Esse avanço tem-se<strong>da</strong>do de forma preocupante quanto à sua veloci<strong>da</strong>de de crescimento,assim como a esse rápido crescimento tem se somadodiferentes impactos potenciais quanto aos recursos hídricos.De modo genérico, o quadro <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por água na<strong>região</strong> está bastante vinculado com o avanço do desenvolvimentoregional. Ou seja, o perfil de deman<strong>da</strong> dos recursoshídricos na <strong>região</strong> pode, e muito, ser reconhecido nas práticasde uso e ocupação do solo. Essas práticas são, em geral,utiliza<strong>da</strong>s como referência, nacional e internacional, comosendo representativas dos maiores setores consumidores deágua, como o de irrigação, indústria, dessedentação de animaise consumo humano (rural e urbano).Portanto, com base naquelas práticas, é possível construirum perfil de deman<strong>da</strong> por setor para o caso <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica (Figura 25). A deman<strong>da</strong> por água parairrigação e dessedentação de animais, soma<strong>da</strong>s (46,4%),encontra-se abaixo <strong>da</strong> média nacional que é de 70%. Osvalores para a indústria (9,8%) encontram-se dentro dosvalores médios nacionais (10%), porém, o consumo humano,urbano e rural (43,8%), encontra-se acima dos 20% <strong>da</strong>média nacional.Em função de sua grande disponibili<strong>da</strong>dehídrica superficial, a Região Hidrográfica Amazônica apresentaum perfil de baixa deman<strong>da</strong> em relação aos diversosusos <strong>da</strong> água. Cabe, no entanto, destacar a dinâmica de umdesenvolvimento econômico complexo, potencialmentecrescente, e a existência de sérios problemas socioeconômicos,com conseqüências nefastas no setor de saneamentobásico, e, mais especificamente, em relação à questão doabastecimento público e do tratamento de efluentes.Os percentuais de deman<strong>da</strong> apresentados são, muitoprovavelmente, reflexo do adensamento populacional nasprincipais ci<strong>da</strong>des com grandes vazios nas áreas rurais. Aforte deman<strong>da</strong> por água para irrigação e para dessedentaçãoanimal, reflete bem a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ocupação <strong>da</strong>s áreas desmata<strong>da</strong>sutiliza<strong>da</strong>s em sua maioria como pastagens para ogado e, como campo de cultivo de grãos em grandes áreas.Na Região Hidrográfica Amazônica, a oferta de água é, portanto,bem superior à deman<strong>da</strong>. As maiores deman<strong>da</strong>s estãonas Sub-regiões Hidrográficas Tapajós e Madeira, correspondendoa respectivamente 29% e 22% <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s totais(Quadro 19). Em segui<strong>da</strong>, têm-se as Sub-regiões HidrográficasNegro e <strong>da</strong> Foz do Amazonas, correspondendo a cerca de 18%e 10%, respectivamente, também em relação às deman<strong>da</strong>s totais<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica (Quadro19).Analisando-se as deman<strong>da</strong>s setoriais em ca<strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong>Hidrográfica (Figura 26) é possível notar que:• A Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro é a de maior deman<strong>da</strong>por água para consumo humano (urbano) e tambémindustrial;• A Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Xingu é a de maior deman<strong>da</strong>por água para a dessedentação de animais, segui<strong>da</strong>pelas Sub-regiões Hidrográficas Madeira e Purus, quaseque gerando uma fronteira contínua nesse tipo de deman<strong>da</strong>gera<strong>da</strong> pela pecuária, principalmente na porçãosul <strong>da</strong> Região Hidrográfica, somente interrompi<strong>da</strong> pelaSub-<strong>região</strong> Hidrográfica Tapajós;• A Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Tapajós, por sua vez, apresentaforte deman<strong>da</strong> por água para a irrigação, mostrando,portanto, um padrão mais voltado para a agricultura enquantoàs Sub-regiões Hidrográficas destaca<strong>da</strong>s no itemanterior estão mais direciona<strong>da</strong>s à agropecuária;• A deman<strong>da</strong> por água para consumo humano tanto emáreas urbanas quanto rurais tem maior destaque, em relaçãoàs outras deman<strong>da</strong>s, na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões.Isso é fruto ain<strong>da</strong> do modo de ocupação tradicional<strong>da</strong>s margens dos rios, onde ocorre uma agricultura desubsistência, além de ativi<strong>da</strong>des extrativistas tradicionais,gerando pouca deman<strong>da</strong> por água <strong>da</strong> parte de ativi<strong>da</strong>desagrícolas. A deman<strong>da</strong> urbana vem, principalmente, doestabelecimento de alguns centros urbanos de importânciasub-regional como Tabatinga, São Paulo de Olivença,Fonte Boa e Coari.Assim, os maiores valores de deman<strong>da</strong> são coerentes comas regiões de grande ocupação populacional e de maioresativi<strong>da</strong>des quanto ao uso e ocupação do solo. São caracterizados,principalmente, nos centros polarizadores dedesenvolvimento regional mais importantes. Entretanto, asdeman<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> estão muito abaixo <strong>da</strong> oferta. Pode-se mes-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica87Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 24 – Balanço entre oferta e deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicamo afirmar que, em média, a oferta é 700 vezes maior quea deman<strong>da</strong>. Essa relação pode chegar a ser de 4.000 para1, em algumas Sub-regiões Hidrográficas, como no caso <strong>da</strong>Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Solimões.Sendo assim, pela baixa densi<strong>da</strong>de demográfica associa<strong>da</strong>a um desenvolvimento econômico, que apesarde crescente, ain<strong>da</strong> é incipiente face à grande ofertade água, pode-se afirmar que a Região HidrográficaAmazônica não apresenta problemas de disponibili<strong>da</strong>dehídrica. No entanto, a riqueza do bioma Amazônico,sua fragili<strong>da</strong>de e interação com os ecossistemasaquáticos determinam um alto potencial de impactosobre os recursos hídricos para grande parte <strong>da</strong>s açõesantrópicas que vêm sendo desencadea<strong>da</strong>s no espaçogeográfico <strong>da</strong> <strong>região</strong>.Quadro 19 – Quantitativo do balanço entre oferta e deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica em m³.s -188Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Oferta (m³.s -1 ) % em relação ao total <strong>da</strong> oferta Deman<strong>da</strong> (m³.s -1 ) % em relação ao total <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>Amapá Litoral 414 1,2% 0,2 0,4%Foz Amazonas 1.858 5,2% 4,7 9,3%Madeira 3.005 8,5% 10,9 21,7%Negro 13.990 39,4% 9,2 18,3%Paru 562 1,6% 1,3 2,6%Purus 1.902 5,4% 2,2 4,4%Solimões 6.102 17,2% 1,5 3,0%Tapajós 5.124 14,4% 14,8 29,4%Trombetas 1.577 4,4% 2,6 5,2%Xingu 930 2,6% 2,9 5,8%Total 35.463 100% 50,3 100%Fonte: Bases do PNRH (2005)Dados de Oferta correspondem à vazão mínima com freqüência de 95% (Q 95%)Fonte: Bases do PNRH (2005)Figura 25 – Participação na deman<strong>da</strong> de água (%) por setor consumidor na Região Hidrográfica Amazônica


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográfica89Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 26 – Deman<strong>da</strong> por água na Região Hidrográfica Amazônica face aos principais usos consuntivos


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica904.7 | Histórico de Conflitos pelo Uso de ÁguaO conceito de conflito a ser aplicado na RegiãoHidrográfica AmazônicaO conflito pelo uso <strong>da</strong> água pode ser entendido comoum conflito socioambiental quando visto do ponto devista <strong>da</strong> ecologia-política. Segundo este modo de abor<strong>da</strong>gem,pode-se adotar a definição básica de conflitoproposta por Little (2003): “... o embate entre grupossociais em função de seus distintos modos de inter-relacionamentoecológico, isto é, com seus respectivos meios:social e natural”.Assim, <strong>da</strong><strong>da</strong> a existência de muitos tipos de conflitos sociaisé possível classificar um determinado conflito como“socioambiental”, quando o cerne do conflito gira em torno<strong>da</strong>s interações ecológicas. Essa definição remete à presençade múltiplos grupos sociais (atores) em interação entre sie em interação com seu meio biofísico – no caso, a RegiãoHidrográfica Amazônica.Um conflito, em si, para ser analisado precisa considerara identificação do foco central que lhe motiva, ou seja, saber“o que realmente está em jogo” (LITTLE, 2003). Esse conhecimentodo conflito precisa ser visto de acordo com suadiversi<strong>da</strong>de de escala, movimentos e complexi<strong>da</strong>des. Dessemodo, portanto, um conflito pode ser identificado sob diferentesformas de entendimento.No entanto, para que se possa buscar com mais facili<strong>da</strong>deo foco do conflito, uma visão tipológica seguindo padrõesacadêmicos, permite identificar três tipos básicos, mais umavez fazendo uso <strong>da</strong>s contribuições de Little (2003):• Conflitos em torno do controle sobre os recursos naturais,tais como disputas sobre a exploração ou não de um minério,sobre a pesca, sobre o uso dos recursos florestaisentre outros;• Conflitos em torno dos impactos (sociais ou ambientais)gerados pela ação humana, tais como a contaminaçãodos rios e do ar, o desmatamento, a construção de grandesbarragens hidrelétricas entre outros;• Conflitos em torno de valores e modo de vi<strong>da</strong>, isto é,conflitos envolvendo o uso <strong>da</strong> natureza cujo núcleocentral reside num choque de valores ou ideologias.Essa tipologia serve, em parte, para identificar o foco centraldo conflito na tentativa de melhor entendê-lo para, então,poder resolvê-lo.A identificação e análise dos atores sociais é outro elementofun<strong>da</strong>mental para o estudo de conflitos socioambientais,já que tenta explicitar os interesses específicos em jogo noconflito. Portanto, o levantamento <strong>da</strong>s interações entre ca<strong>da</strong>um desses atores sociais é outro ponto importante. Nessesentido, se faz necessário o entendimento <strong>da</strong>s intenções eposições de todos os atores sociais envolvidos, algo nemsempre de fácil percepção.Conflitos por água na Região Hidrográfica AmazônicaNa Região Hidrográfica Amazônica, historicamente a águaesteve envolvi<strong>da</strong> no contexto de diferentes conflitos locaise regionais dos três tipos acima citados. No entanto, nuncacomo o objeto do conflito em si. Portanto, a água tem feitoparte desse contexto histórico de modo secundário, principalmenteem conflitos envolvendo a construção de hidrelétricas,o abastecimento de água e o saneamento básico (rurale urbano), bem como a pesca e sua dinâmica regional.Ain<strong>da</strong> merece destaque, como potencialmente conflituosana Região Hidrográfica, apesar de ain<strong>da</strong> sem umaavaliação de maior detalhe em relação à inserção do temarecursos hídricos, a questão fundiária, onde ocorre a exploraçãomadeireira, a pecuária extensiva e a ativi<strong>da</strong>deagrícola basea<strong>da</strong> na monocultura, em grandes proprie<strong>da</strong>des,visando a produção de grãos para exportação, to<strong>da</strong>scomo questões onde há potencial de impactar a deman<strong>da</strong>por água a longo prazo.A questão <strong>da</strong> água como objeto de conflito, inseri<strong>da</strong> nocontexto acima colocado, ocorre na Região HidrográficaAmazônica de maneira indireta. Segue a reboque dos demaisconflitos, já que pela definição apresenta<strong>da</strong> anteriormentee pelos <strong>da</strong>dos de disponibili<strong>da</strong>de hídrica existente,o balanço de deman<strong>da</strong>/oferta (


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficasão objeto de conflitos na Região Hidrográfica Amazônica.Por esta lógica, os problemas se iniciam de forma pontuale de modo muito incipiente, muitas vezes até de formacamufla<strong>da</strong> no contexto de outra questão. Rapi<strong>da</strong>mentepassam a uma escala regional, se consoli<strong>da</strong>ndo como conflito,muito em conseqüência <strong>da</strong> forte e crescente pressãoantrópica em curso na <strong>região</strong>.O aumento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des humanas na Região HidrográficaAmazônica se deve principalmente às ações <strong>da</strong>queles quepara a <strong>região</strong> se encaminham buscando atender deman<strong>da</strong>seconômicas, muitas vezes externas, ao invés <strong>da</strong>quelas origináriasna própria Região Hidrográfica (SAYAGO e MACHA-DO, 2004). Assim, é gerado um processo exploratório, quemuitas vezes encobre as priori<strong>da</strong>des locais quanto à implementaçãode uma política pública eficaz para a gestão <strong>da</strong>ságuas na <strong>região</strong>, por exemplo, em favor de interesses econômicosautóctones.O caso <strong>da</strong>s hidrelétricasA construção de usinas hidrelétricas na <strong>região</strong> envolvea desapropriação de terras que, por vezes, são ocupa<strong>da</strong>spor, ou compreendem áreas, indígenas. Fatos como esse,implicam em longos debates e apelações judiciais envolvendoambientalistas, representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>desindígenas e <strong>da</strong>s empresas permissionárias dos serviçosde geração de energia.Em geral, no contexto <strong>da</strong>s discussões sobre a construçãode uma usina hidrelétrica na Região HidrográficaAmazônica se discute o enchimento do reservatório porágua a ser utiliza<strong>da</strong> na geração de energia elétrica. Nesseenchimento, a toma<strong>da</strong> de grandes áreas inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s e aindisponibili<strong>da</strong>de dessas áreas para usos tradicionais geramconflitos, exigindo o pagamento de compensaçõespor parte <strong>da</strong>s empresas de geração.Apesar <strong>da</strong> intervenção física no meio, para a construçãode uma hidrelétrica envolver a água, as conseqüências diretas,ou seja, “o que realmente está em jogo”, no caso <strong>da</strong>Região Hidrográfica Amazônica, não é tanto o acesso ou oconsumo <strong>da</strong> água em si, e sim a terra e o uso que dela é feito.No contexto <strong>da</strong> <strong>região</strong> e como exemplo de um conflitoambiental do tipo 2 – impactos (sociais ou ambientais) geradospela ação humana, merece lembrança a construção<strong>da</strong> UHE Balbina, nos anos 1980. Nesse episódio, gruposde ambientalistas e pesquisadores se manifestaram contraa obra durante os anos <strong>da</strong> construção e depois também ofizeram durante o período de enchimento do reservatório,que durou cerca de 15 meses.A preocupação maior em relação à UHE de Balbina estavafoca<strong>da</strong> na questão <strong>da</strong>s terras indígenas e no processode degra<strong>da</strong>ção ambiental que poderia ser originado emface <strong>da</strong> inun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> floresta em pé (não retira<strong>da</strong>), quandodo enchimento do lago (aproxima<strong>da</strong>mente 2.360km² <strong>da</strong>área inun<strong>da</strong><strong>da</strong>), formado pelo barramento do rio Uatumã(Região Hidrográfica Trombetas). Após um longo processode entendimento algumas soluções foram elabora<strong>da</strong>s eimplanta<strong>da</strong>s.No primeiro caso, <strong>da</strong>s terras indígenas, um programaespecífico foi elaborado em 1988, com duração de 25anos. Esta iniciativa surgiu porque 30 mil hectares <strong>da</strong>sterras dos Waimiri Atroari foram inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelas águasdo reservatório. Na época, após negociação entre a Concessionáriaresponsável pelo aproveitamento hidrelétrico,a Eletronorte, a Funai e enti<strong>da</strong>des ambientalistas, houveum reconhecimento formal <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ocupaçãodos Waimiri Atroari na área a ser inun<strong>da</strong><strong>da</strong> e um consensoquanto à necessi<strong>da</strong>de de compensação financeira pelos impactossocioambientais provocados pela hidrelétrica.Assim, a Eletronorte obrigou-se oficialmente a atenderalgumas condições acor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, visando preservar a integri<strong>da</strong>defísica, ecológica e social <strong>da</strong> área indígena, oficialmentedemarca<strong>da</strong> em 2.585.611 hectares. Visando concretizaraquelas obrigações, o Programa Waimiri Atroari foi criadocom o intuito de atender aos interesses do povo WaimiriAtroari em temas como saúde, educação, memória cultural,entre outros. O programa tem quatro objetivos principais:1) garantir o usufruto exclusivo <strong>da</strong> terra demarca<strong>da</strong>aos índios Waimiri Atroari; 2) melhorar as condições geraisde vi<strong>da</strong>, segundo as aspirações dos próprios indígenas;3) ampliar a compreensão dos Waimiri Atroari acerca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de sociopolítica brasileira; 4) equilibrar relaçõeseconômicas e culturais entre a comuni<strong>da</strong>de indígena e asocie<strong>da</strong>de envolvente.91


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica92Na questão ambiental, relaciona<strong>da</strong> ao afogamento de áreafloresta<strong>da</strong> e demais questões relevantes, as discussões ficaramarrefeci<strong>da</strong>s após os primeiros anos depois do enchimento doreservatório. No entanto, algumas questões voltam à bailasempre com destaque para a relação custo ambiental versusbenefício social.Nesse contexto e em período mais recente, tem sido coloca<strong>da</strong>em destaque a temática <strong>da</strong>s emissões de gases deefeito estufa - GEE pelos reservatórios <strong>da</strong>s usinas hidrelétricas.Nesse quesito, em especial o reservatório de Balbinaé citado por diferentes grupos de pesquisadores comoum dos grandes emissores <strong>da</strong>quele tipo de gases no Brasil(FEARNSIDE, 1995 e ROSA et al., 2003).No entanto, a problemática <strong>da</strong> emissão de gases por reservatórioshidrelétricos face ao que é gerado por usinas térmicasequivalentes é ain<strong>da</strong> um tanto controversa, mas quepode gerar polêmica quanto às suas implicações indiretasno ambiente aquático <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica.Apesar de uma discussão ain<strong>da</strong> sem conclusão definitiva, odebate em torno <strong>da</strong>s emissões de GEE, gerou como efeitopositivo o fato de o setor elétrico buscar se adequar ca<strong>da</strong> vezmais à necessi<strong>da</strong>de de que seus empreendimentos sejamconstruídos prevendo o uso múltiplo, algo que era difícilde imaginar nos anos de 1970/1980.Ain<strong>da</strong> em relação à compensação pelo impacto ambiental,decorrente <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> UHE Balbina, to<strong>da</strong> a margemesquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> calha do rio Uatumã, no lago gerado pelobarramento, incluindo a água e as ilhas, forma hoje umaárea protegi<strong>da</strong>. Esta área denomina<strong>da</strong> Reserva Biológica doUatumã, ou Rebio Uatumã, foi cria<strong>da</strong> por Decreto Federal epossui uma área de 562 mil hectares.Segundo informações <strong>da</strong> própria Eletronorte, a criação<strong>da</strong> Reserva atendeu a legislação ambiental (RESOLUÇÃOCONAMA N.º 010/1987), e as recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>descientífica e ambientalista e dos órgãos financiadoresinternacionais. Aquelas enti<strong>da</strong>des recomen<strong>da</strong>vam a implantaçãode uma uni<strong>da</strong>de de conservação como forma deproteger as áreas com relevantes características ecológicas epossibilitar a compensação pela inun<strong>da</strong>ção do ecossistemanatural, preferencialmente junto ao empreendimento.Ain<strong>da</strong> no contexto dos conflitos envolvendo hidrelétricas,a discussão mais recente envolve a construção de duas usinasna Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Madeira. Sob a responsabili<strong>da</strong>dedo consórcio Furnas Centrais Elétricas S/A e a ConstrutoraNorberto Odebrecht, os estudos para a construção<strong>da</strong>s usinas de Santo Antônio, no rio Madeira à montante <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de de Porto Velho, começaram em 2001.A construção <strong>da</strong>s duas usinas está orça<strong>da</strong> em aproxima<strong>da</strong>mente20 bilhões de reais e deverá gerar mais de 7.000 Megawatts,ou ain<strong>da</strong>, mais <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> potência <strong>da</strong> Usina deItaipu, no rio Paraná, e, segundo o Movimento dos Atingidospor Barragens - MAB, 3.500 famílias seriam afeta<strong>da</strong>s pelosprojetos (AGÊNCIA BRASIL).Levantamentos físicos e estudos ambientais têm sido realizadosentre as ci<strong>da</strong>des de Abunã (próxima à fronteiraBrasil/Bolívia) e Porto Velho. Segundo divulgado no website de Furnas, o projeto visa “aproveitamento múltiplo queamplia a navegação em todo o rio Madeira, de embarcaçõesde maior calado” entre aquelas locali<strong>da</strong>des. Ain<strong>da</strong> segundoFurnas o projeto prevê o “incremento <strong>da</strong> agroindústria, doecoturismo e a integração <strong>da</strong>s redes fluviais de Brasil, Bolíviae Peru”.No entanto, têm acontecido manifestações contrárias àconstrução <strong>da</strong>s usinas de Santo Antônio e Jirau. Debatescom participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil são organizados tantopelo setor elétrico como por movimentos populares. Asarticulações contrarias à construção <strong>da</strong>s usinas têm vindoprincipalmente do MAB, do Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra - MST e também do Movimento dos PequenosAgricultores - MPA.Os protestos desses grupos têm sido orientados parao questionamento do modo como tem se <strong>da</strong>do o uso <strong>da</strong>água e <strong>da</strong> energia na <strong>região</strong>. Segundo esses movimentos,historicamente os usos não privilegiam deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> populaçãoregional, ficando esta em segundo plano. Os privilégiosseriam <strong>da</strong>dos, segundo os movimentos, seguindodeman<strong>da</strong>s mercadológicas exógenas, ou seja, produzi<strong>da</strong>sfora <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica. Essa opinião écompartilha<strong>da</strong> por alguns acadêmicos de universi<strong>da</strong>des ecentros de pesquisa <strong>da</strong> <strong>região</strong>.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaO caso <strong>da</strong> urbanização crescente na Região HidrográficaAmazônicaAlguns eventos locais são de difícil percepção na escaladeste documento, ain<strong>da</strong> assim exemplos podem ser tomadosnuma perspectiva de que se não houver atitudes degerenciamento local, em breve as conseqüências poderãose <strong>da</strong>r em escala regional. Esse contexto envolve o uso<strong>da</strong> água para abastecimento humano, sobretudo em zonasurbanas, onde o interesse pelo tema existe, mas não é consideradoprioritário.A falta de percepção de priori<strong>da</strong>de quanto à gestão dos recursoshídricos na Região Hidrográfica Amazônica é conseqüência<strong>da</strong> idéia generaliza<strong>da</strong> de uma eterna abundância ede uma herança cultural <strong>da</strong> população local, segundo a qual“o rio limpa tudo”. No entanto, localmente, em especial naszonas urbanas, principalmente nas áreas com maiores densi<strong>da</strong>despopulacionais, essa mentali<strong>da</strong>de tem levado a gravesproblemas de abastecimento de água e de saneamentocom forte potencial de geração de conflitos.As ci<strong>da</strong>des Amazônicas têm apresentado um crescimentourbano preferencialmente na horizontal (invasões, casaspopulares, condomínios e/ou conjuntos de casas, etc.), emdetrimento do crescimento vertical (prédios de apartamentos,conjuntos de prédios, etc.). Esse modelo, por si só,obriga a que os sistemas de abastecimento de água e esgotosejam multiplicados e planejados para trabalhar de forma acompensar as distâncias entre o usuário e as infra-estruturasde tratamento, o que em geral onera o custo dos serviços(MARCOS FREITAS, GEÓGRAFO, INF. PESSOAL).Ademais, a ocupação urbana ocorrem de forma desordena<strong>da</strong>(Figura 27) e em total desacordo com o plano diretor<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, quando esta o tem. Existe, portanto, a necessi<strong>da</strong>dede constante a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> parte do poder público, queencontra dificul<strong>da</strong>des operacionais para responder à questãodos serviços de água e esgoto, na mesma veloci<strong>da</strong>decom que se dá a expansão urbana, ocupando espaços nãopropícios para ativi<strong>da</strong>des como moradia em área de planíciede inun<strong>da</strong>ção com enchentes recorrentes (freqüência menorque dez anos, por exemplo).Assim, as populações fixa<strong>da</strong>s nas locali<strong>da</strong>des invadi<strong>da</strong>snas zonas urbanas <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica ficamentregues à própria sorte. Buscam soluções por suaprópria conta e risco. Por falta de orientação, muitas vezesagravam o próprio problema, pelo uso indevido de rios ecórregos, utilizando-os como esgotos a “céu aberto”, ouain<strong>da</strong>, <strong>da</strong>nificando a rede de abastecimento de água ouesgoto, através, por exemplo, de ligações clandestinas.Isso quando não são vítimas de indivíduos inescrupulososque vendem água nas zonas periféricas de formacompletamente ilegal, sem o tratamento adequado e sema autorização <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de competente.Configura-se, aí, portanto um conflito no qual está emjogo um conjunto de serviços e infra-estruturas urbanas enão somente o <strong>da</strong> água para o abastecimento humano. Umconflito em que os recursos hídricos têm, no entanto, importantepapel na atração e fixação <strong>da</strong>s populações, além <strong>da</strong>manutenção <strong>da</strong>s condições de saúde pública. Os atores sãoem geral as comuni<strong>da</strong>des menos favoreci<strong>da</strong>s, organiza<strong>da</strong>sou não em associações civis, o estado e as companhias permissionáriasdo serviço público de abastecimento de água etratamento de esgotos.Essa temática é ain<strong>da</strong> uma incógnita quanto à execução desoluções reais e viáveis. Algumas alternativas têm sido tenta<strong>da</strong>s,mas ain<strong>da</strong> muito mais como projetos isolados sujeitos àtemporali<strong>da</strong>de de governos estaduais e/ou municipais. Existecarência de ativi<strong>da</strong>des estruturantes vistas numa perspectivade programas de Estado e não apenas de governos.O caso dos recursos pesqueirosEsse talvez seja o exemplo mais concreto de um conflitona Região Hidrográfica Amazônica em escala regional,sendo a água o meio em que se localiza o conflito e tambémo meio utilizado para a sua solução. Um conflito histórico,mas que se mantém atual, com reflexões regionaise que pode servir de exemplo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica, em especial nas áreas de várzea.Na ver<strong>da</strong>de, o caso trata de um conflito que envolve ouso do recurso hídrico de forma indireta, porém este estáinserido no contexto <strong>da</strong> várzea e constitui a base de sustentaçãopara o que realmente está em jogo: o pescado.Este caso é abor<strong>da</strong>do a seguir, tomando como base colocaçõesde Little (2003).93


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica94O contexto espacialNo caso dos conflitos de pesca na várzea <strong>amazônica</strong> opapel do recurso hídrico parece óbvio, mas ain<strong>da</strong> assim épreciso enfatizar a importância dos grandes fluxos e refluxosanuais do nível de água. Este processo contribui, criandouma planície inundável durante quatro a 11 meses nummesmo ano, sendo que o nível do rio Amazonas, por exemplo,pode variar em mais de dez metros.A área <strong>da</strong> várzea na Região Hidrográfica Amazônica éestima<strong>da</strong> entre 65 mil e 300 mil km 2 , por diferentes autores.Está sob controle do Governo Federal desde 1946e a questão <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de ou dominiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s áreasé uma temática para a qual buscam-se soluções. Umaalternativa em implantação foi a recente concessão dedireito de uso de área, concedi<strong>da</strong> aos ribeirinhos quenela habitam. No entanto, o controle <strong>da</strong> várzea ain<strong>da</strong>está à mercê <strong>da</strong>s forças econômicas e <strong>da</strong> expansão denovas frentes produtivas.Os atoresEm relação à pesca, no entanto, os conflitos envolvemmuitos atores sociais, sendo que dois deles são consideradosfun<strong>da</strong>mentais por Little (2003):• Os ribeirinhos – populações tradicionais que podemou não ser povos indígenas, que representam uma populaçãodiferencia<strong>da</strong> considerando que seu modo dea<strong>da</strong>ptação é sintonizado com os fluxos hídricos do rioAmazonas;• Os geleiros – frota de pesca comercial utiliza<strong>da</strong> paraabastecer a deman<strong>da</strong> advin<strong>da</strong> do crescimento acelerado<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des do vale do rio Amazonas, gerando forte deman<strong>da</strong>sobre os estoques pesqueiros, o que foi acompanhadopelo uso de novas tecnologias tais como as redessintéticas e os barcos com capaci<strong>da</strong>de de gelar imediatamenteos peixes coletados;Antecedentes e a caracterização do conflitoO modo de a<strong>da</strong>ptação do ribeirinho na várzea é fun<strong>da</strong>mentadona pesca, sendo que o peixe fornece a fonteprincipal para a subsistência, conforme referido anteriormente,no tópico sobre evolução sociocultural. Osribeirinhos têm uma territoriali<strong>da</strong>de historicamente estabeleci<strong>da</strong>na várzea, mesmo que ela não seja formalmentereconheci<strong>da</strong>.A partir de 1967, usando o estabelecimento <strong>da</strong> ZonaFranca de Manaus como ponto de referência, houve umaumento considerável nos incentivos governamentais paraa colonização agrária, a mineração industrial, o corte demadeira e a industrialização <strong>da</strong> Amazônia em geral, o queproduziu, entre outras coisas, o crescimento vertiginosode várias ci<strong>da</strong>des <strong>amazônica</strong>s.A urbanização acelera<strong>da</strong> trouxe conseqüências diretaspara a várzea, refletindo num aumento na deman<strong>da</strong> dopescado por parte <strong>da</strong>s populações urbanas. Paralelamente,houve uma ampliação <strong>da</strong> frota de pesca com o aparecimentodos geleiros. Assim, se configurou um conflito entre osribeirinhos e os geleiros, no qual o abastecimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>por peixe nas ci<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> parte <strong>da</strong>s frotas pesqueirasindustriais, provocou um declínio dramático nos estoquesde certas espécies de peixe.Isso ocorreu porque, para manter o nível de produção,os geleiros precisavam expandir sua área de exploração e,a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, começaram a invadir as áreasde várzea controla<strong>da</strong>s e explora<strong>da</strong>s historicamente pelosribeirinhos.A nova situação ou cenário <strong>da</strong> pesca na <strong>região</strong> conduziua confrontos diretos, às vezes violentos, e a acusaçõese reivindicações contraditórias em torno <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>pesca. Esse processo persistiu durante to<strong>da</strong> a déca<strong>da</strong> de1980 e agravou o fenômeno de esgotamento de estoquesde peixes na várzea, desta vez com conseqüências negativasà subsistência dos ribeirinhos.Registros indicam que para abastecer a deman<strong>da</strong>, principalmente<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Manaus (maior centro de comérciopesqueiro <strong>da</strong> Região Hidrográfica), os geleiros chegarama percorrer até 1.500 km rio acima (especialmente norio Solimões) na busca de novos estoques em várzeas nãosó do Solimões/Amazonas, como de importantes tributários,a exemplo dos rios Purus, Juruá e Madeira (LIMA eGOULDING, 1998).


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaA busca de soluçõesA solução tem vindo por meio de mobilizações políticaslidera<strong>da</strong>s principalmente por ribeirinhos, geleiros e ambientalistas.O estabelecimento de Reservas de DesenvolvimentoSustentável - RDS foi um passo significativo naresolução do conflito. Nesse sentido, a criação <strong>da</strong> ReservaMamirauá representou um marco, em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de1990, quando deixou de ser reserva ecológica, passando ater o status que tem hoje de RDS.Outros arranjos surgidos à mesma época vieram a contribuirpara a efetiva solução <strong>da</strong>quele conflito, como porexemplo, a criação de reservas extrativistas, com a inserçãode um modo de administração participativo, ou seja, uma“co-gestão” (LITTLE, 2003).Esse modo de gestão gerou a necessi<strong>da</strong>de de envolvervários atores – distintos grupos sociais e instituições, osgovernos federal e estadual, as organizações ambientais <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil, as universi<strong>da</strong>des e institutos de pesquisa– que compartilhassem a responsabili<strong>da</strong>de de manejo deuma área específica com os ribeirinhos.No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, houve o estabelecimentoextra-oficial de “acordos comunitários de pesca” entre osribeirinhos, evidenciando assim uma transformação importante.Eles estavam se organizando, extra-oficialmente, paraproteger seus interesses ao mesmo tempo em que estavamconservando os estoques de peixe.Nos acordos, o acesso às áreas dos ribeirinhos foi proibidoaos geleiros. Normas internas sobre a tecnologia depesca a ser usa<strong>da</strong> e as épocas permiti<strong>da</strong>s para a pescaforam estabeleci<strong>da</strong>s. Essas práticas podem ser considera<strong>da</strong>scomo tentativas de resolver os conflitos em torno<strong>da</strong> pesca. Porém, em muitos casos, o efeito foi de umapolarização ain<strong>da</strong> maior, já que os geleiros reclamavamque os ribeirinhos estavam fazendo sua própria lei eque, portanto, não havia nenhuma legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quelesacordos de pesca.Nessa mesma déca<strong>da</strong>, houve a implantação de conselhosmunicipais de pesca, o que criou, pela primeiravez, estruturas políticas locais para tratar do setor.Ademais, no caminhar para a solução do conflito, houve95Autoria: Naziano FilizolaFigura 27 – Competição pela ocupação do espaço à margem de rio em ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Amazônia entre residências (palafitas), áreas de lazer, construção naval etransporte/beneficiamento de madeira


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica96mu<strong>da</strong>nças importantes na organização dos ribeirinhos,que consoli<strong>da</strong>ram uma articulação regional entre ribeirinhos,pescadores, cientistas e organizações ambientalistasnão-governamentais interessados na noção de manejocomunitário.Em dezembro de 2002, os acordos de pesca foram incorporadosnas normas do Ibama pela Portaria n.º 29.Nesse caso, a prática do Ibama de impor regras e multasàs comuni<strong>da</strong>des locais foi inverti<strong>da</strong>, uma vez que foramessas mesmas comuni<strong>da</strong>des que se organizaram e pressionaramo órgão ambiental a reconhecer e formalizarsuas práticas como instrumentos de manejo ambiental(LITTLE, 2003). Isto parece ter <strong>da</strong>do legitimi<strong>da</strong>de aosribeirinhos frente à indústria de pesca, ao mesmo tempoem que tende a elevar seu grau de eficácia.O cenário regional dos conflitos em conexão com a águaPercebe-se, portanto, que em relação à água, o atualcenário <strong>da</strong> Amazônia reflete basicamente conflitos indiretos,nos quais os recursos hídricos estão envolvidos. Essesconflitos, em que foram destacados os exemplos maismarcantes <strong>da</strong> história recente <strong>da</strong> Região Hidrográfica,transpassam de maneira difusa a divisão <strong>da</strong>s Sub-regiõesHidrográficas, dificultando uma análise a partir <strong>da</strong>quelerecorte. Encontram-se, sim, em situações que envolvem:• Conflitos históricos e regionais, como o caso <strong>da</strong> várzea,principalmente;• Conflitos locais recentes com perspectiva de ampliaçãoem escala regional, como a falta de infra-estrutura urbanade abastecimento de água e de esgotamento deáguas servi<strong>da</strong>s;• Conflitos numa escala intermediária, fora <strong>da</strong> área urbana,envolvendo a construção de infra-estruturas, comopor exemplo, o caso supracitado <strong>da</strong>s hidrelétricas.Os três tipos de conflitos acima identificados como potenciaisou já existindo na Região Hidrográfica Amazônica,estão em consonância com a tipologia destaca<strong>da</strong> deLittle (2003), anteriormente. No entanto, na Região HidrográficaAmazônica, não se configuram como conflitosdiretos, ou seja, do tipo “a água é o que está em jogo”.4.8 | Implementação <strong>da</strong> Política de RecursosHídricos e <strong>da</strong> Política AmbientalA política ambientalA institucionalização <strong>da</strong>s questões ambientais nesta RegiãoHidrográfica ocorreu a partir dos anos 1990. Ain<strong>da</strong> assim,esse momento chegou à <strong>região</strong> praticamente dez anosapós o início do processo no restante do País. A motivaçãogeral adveio <strong>da</strong>s linhas acor<strong>da</strong><strong>da</strong>s na Conferência de Estocolmoem 1972, resultou localmente no início <strong>da</strong> criação deórgãos gestores de meio ambiente associados à formulaçãode políticas ambientais.No entanto, as questões ambientais, com relação à Amazônia,há algumas déca<strong>da</strong>s vem gerando pressões sobre ogoverno brasileiro tanto <strong>da</strong> parte de enti<strong>da</strong>des nacionaiscomo internacionais. Estas pressões aju<strong>da</strong>ram a <strong>da</strong>r impulsoà criação <strong>da</strong> Secretaria Especial de Meio Ambiente - Sema,no ano seguinte ao <strong>da</strong> Conferência de Estocolmo.A Sema veio, posteriormente, por sua fusão com outrosórgãos federais, como o Instituto Brasileiro de DesenvolvimentoFlorestal – IBDF, a Superintendência do Desenvolvimento<strong>da</strong> Pesca – Sudepe e a Superintendência <strong>da</strong> Borracha– Sudhevea <strong>da</strong>r origem ao Ibama. Apesar de dificul<strong>da</strong>desde ordem estrutural, especialmente em seu início, o Ibamafoi, nos anos 1990, o órgão responsável por conduzir açõesimportantes no sentido de implementar a gestão ambientalna Região Amazônica. Essa ação se deu especialmente emvirtude <strong>da</strong> precária estrutura administrativa, técnica e financeirados Órgãos Estaduais de Meio Ambiente - Oemas,naquele período.Desde então, todos os Estados <strong>da</strong> Região Amazônica têmprocurado, mesmo em meio a dificul<strong>da</strong>des institucionais,estruturar suas política de meio ambiente, com seus respectivosórgãos ambientais. Assim, segundo <strong>da</strong>dos oficiais, atéo ano de 2001, a estrutura para a gestão ambiental na RegiãoHidrográfica Amazônica, e o aparato institucional existenteem relação à implementação de políticas ambientaisnos Estados, eram norteados pelas leis e órgãos executores,conforme descrito no Quadro 20.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaNo entanto, apesar <strong>da</strong> existência de um arcabouço legal einstitucional, existem problemas, sobretudo no que diz respeitoà carência de recursos humanos e à consoli<strong>da</strong>ção dopapel <strong>da</strong>s instituições estaduais de meio ambiente. Assim,os sistemas estaduais de meio ambiente e seus respectivosconselhos ain<strong>da</strong> funcionam de forma precária. Grande partedos conselhos tem um papel mais de assessoria de governoe não de órgão colegiado independente.A atuação dos conselhos e dos Organismos Estaduais deMeio Ambiente, embora ain<strong>da</strong> relativamente frágil na maioriados Estados <strong>da</strong> Região Amazônica, tem levado a umaatuação conjunta com o Ministério Público (BURSZTYN etal., 2004). O entendimento desta ação conjunta para muitosatores tem sido; positivo e colaborativo. No entanto,para outros atores, trata-se de uma intervenção desnecessária<strong>da</strong> parte do Ministerio Público, dificultando a consoli<strong>da</strong>çãoinstitucional dos órgãos do setor na <strong>região</strong>. O debateencontra-se ain<strong>da</strong> em aberto.Essa reali<strong>da</strong>de tem gerado algumas discussõesinterinstitucionais, em que uma <strong>da</strong>s conseqüências pareceser o enfraquecimento do avanço <strong>da</strong> política ambientalna <strong>região</strong> Amazônica, revelando uma fragili<strong>da</strong>deinstitucional, que talvez seja o grande desafio a vencer naimplementação de políticas públicas na Amazônia, emespecial as ambientais.A falta de uma política de formação de recursos humanosassocia<strong>da</strong> a questões até de ordem natural para a implementação<strong>da</strong> política ambiental, constitui-se noutro fator quedificulta sobremaneira ações mais eficazes dos OrganismosEstaduais de Meio Ambiente.A política de recursos hídricosO cenário institucional brasileiro em relação aos recursoshídricos tem sua base legal sustenta<strong>da</strong> pela Lein.º 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Este texto legal é oque formaliza a Política Nacional de Recursos Hídricos.A política, por sua vez, se sustenta nos princípios de Dublin,em que a água é um bem de domínio público, é umrecurso limitado dotado de valor econômico, estabeleceo uso prioritário para o consumo humano, enfatizando,no entanto, o uso múltiplo dos recursos hídricos. Osprincípios de Dublin também reforçam a figura <strong>da</strong> BaciaHidrográfica como a uni<strong>da</strong>de de planejamento para umagestão de recursos hídricos que deve ser descentraliza<strong>da</strong>.A partir de 1997, iniciou-se oficialmente o processo de implantação<strong>da</strong> Política Nacional de Recursos Hídricos. Na RegiãoHidrográfica Amazônica, neste mesmo período, apenaso Estado de Mato Grosso deu início ao processo de implementaçãode uma política estadual correlata com a promulgação<strong>da</strong> Lei nº 6.945, de 5 de novembro de 1997.Fazendo uma análise comparativa entre a implementação<strong>da</strong> Política de Recursos Hídricos, em âmbito estadual na RegiãoHidrográfica Amazônica e a Política Ambiental, percebe-seum natural desequilíbrio. Esse desequilíbrio é resultado,principalmente, do fato de a política de meio ambienteter na <strong>região</strong> um histórico bem maior e mais abrangenteem relação à de recursos hídricos. Essa defasagem pode serestima<strong>da</strong> como sendo de dez anos, aproxima<strong>da</strong>mente, sefor compara<strong>da</strong> a <strong>da</strong>ta de promulgação <strong>da</strong> lei de recursoshídricos do Estado de Mato Grosso com a promulgação <strong>da</strong>lei do sistema de meio ambiente do Estado do Amazona de1987 (primeira na <strong>região</strong>).Aparentemente, todos os Estados <strong>da</strong> Região HidrográficaAmazônica vêm seguindo uma tendência de vincular dealgum modo as questões de recursos hídricos à política ambiental.Mesmo que as respectivas leis estaduais de recursoshídricos estejam sendo concebi<strong>da</strong>s de forma independente,na prática o órgão executor <strong>da</strong> política ambiental tambémtem sido determinado como o executor <strong>da</strong> Política Estadualde Recursos Hídricos.Assim, de um modo geral, os Estados parecem ter optadopelo caminho de passar ao órgão executor <strong>da</strong> PolíticaAmbiental também a execução <strong>da</strong> Política Estadual deRecursos Hídricos. Na maioria dos casos existem núcleos,subsecretarias, ou secretarias adjuntas, ou ain<strong>da</strong> gruposencarregados <strong>da</strong> temática diretamente vinculados aos dosOrganismos Estaduais de Meio Ambiente. A exceção está noEstado do Amazonas, que criou uma Secretaria Adjunta deRecursos Hídricos separa<strong>da</strong> do Órgão Ambiental - Ipaam,porém ambas as instituições estão vincula<strong>da</strong>s à SecretariaEstadual de Desenvolvimento Sustentável - SDS.97


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica98Quadro 20 – Aspecto geral <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> política ambiental nos Estados <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica AmazônicaEstados Lei <strong>da</strong> Política Estadual de Meio Ambiente Órgão do Estado Executor <strong>da</strong> Política de Meio AmbienteAcreAmapáAmazonasMato GrossoParáRondôniaRoraimaLei n.º 1.117, de 26 de janeiro de 1994 – dispõesobre a Política Estadual de Meio Ambiente,fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nos artigos 206 e 207 <strong>da</strong>Constituição Estadual.Lei Complementar n.º 005, de 18 de agosto de1994 – institui o Código de Proteção ao MeioAmbiente do Estado do Amapá. O Título VII destalei foi regulamentado pelo Decreto n.º 3.009, de17 de novembro de 1998.Lei n.º 2.407/1987 – estabelece o SistemaEstadual de Meio Ambiente e define o ConselhoEstadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia.Lei Complementar n.º 38, de 21 de novembrode 1995 – dispõe sobre o Código Ambiental doEstado do Mato Grosso.Lei n.º 5.887, de 9 de maio de 1995 – dispõesobre a Política Estadual do Meio Ambiente, criao Fundo Estadual do Meio Ambiente - Fema.Lei n.º 547, de 30 de dezembro de 1993(regulamenta<strong>da</strong> pelo Decreto n.º 7.903/1997)– dispõe sobre a criação do Sistema Estadualde Desenvolvimento Ambiental - Se<strong>da</strong>r e seusinstrumentos; estabelece medi<strong>da</strong>s de proteção emelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do meio ambiente.Lei Complementar n.º 007/1994 – institui oCódigo de Proteção ao Meio Ambiente do Estadode Roraima.Instituto do Meio Ambiente do Acre - Imac, vinculadoà Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e MeioAmbiente - SectmaSecretaria de Estado do Meio Ambiente - SemaInstituto de Proteção Ambiental do Amazonas - IpaamSecretaria Estadual de Meio Ambiente - SemaSecretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e MeioAmbiente - SectmaSecretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental - Se<strong>da</strong>mDepartamento Estadual de Meio Ambiente - Dema,<strong>da</strong> Secretaria de Planejamento, Indústria e Comércio.Atualmente sob responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Estadual deMeio Ambiente Ciência e Tecnologia - FemactFonte: MMA; PNMA II (2001)A maioria dos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônicainiciou sua articulação de forma mais contundente no que dizrespeito à determinação de Políticas Estaduais de Recursos Hídricosapenas a partir de 2001 (Quadro 21). Ou seja, essas Uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> Federação sofreram, aparentemente, forte influência<strong>da</strong> Legislação Federal, em especial <strong>da</strong> Lei n.º 9.433/1997, iniciandoe aprovando suas políticas principalmente no período2001-2003. A única exceção a respeito é o Estado de Roraima,que até o momento não possui legislação pertinente.Portanto, a implantação <strong>da</strong> Política de Recursos Hídricosna Região Hidrográfica Amazônica parece caminhar no mesmosentido que a ambiental, adicionando-se o fato de que,na maioria dos Estados, as respectivas legislações ain<strong>da</strong> nãose encontram devi<strong>da</strong>mente regulamenta<strong>da</strong>s e/ou mostramuma forte influência <strong>da</strong> legislação federal, refletindo de modopouco efetivo as questões locais.Implantação de instrumentos <strong>da</strong> política de recursoshídricos nos Estados e interação com iniciativas correlatasA Política Nacional de Recursos Hídricos prevê sua aplicaçãoefetiva por meio de instrumentos executivos. Esses instrumentossão os planos de gestão, o enquadramento dos riosem classes, a outorga de direito de uso dos recursos hídricos,o sistema de informações e a cobrança pelo uso <strong>da</strong> água.Os planos estaduais devem estar ajustados com o PlanoNacional e também com o plano de gestão dos recursoshídricos nas Bacias Hidrográficas. Os planos devembuscar uma visão de longo prazo. Devem, também,compatibilizar aspectos de quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de.O enquadramento tem por finali<strong>da</strong>de buscar compatibilizara quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água com os seus usos, minimizandoos impactos. A outorga busca assegurar o controlequantitativo e qualitativo dos usos <strong>da</strong> água. Por fim, a


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficacobrança pretende ser um incentivo ao uso racional <strong>da</strong>água e o seu reconhecimento como recurso natural dotadode valor econômico.Adicionalmente, a Lei também estabelece mecanismosde gestão descentraliza<strong>da</strong>, por meio dos comitês de Baciaapoiados por agências executivas. Segundo Tucci (2005),apesar de enfatizar a descentralização, a própria legislaçãose contradiz ao estabelecer que o Conselho Nacional deRecursos Hídricos deve ter até 51% de representantes deenti<strong>da</strong>des federais, o que o governo tem exercido nestelimite. As Uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação possuem apenas cincorepresentantes regionais.Assim, na Região Hidrográfica Amazônica, em termos deimplementação efetiva dos instrumentos de gestão, e de açõescom vistas à gestão de Bacias, não se registrava, até dezembrode 2002, a existência de comitês organizados de forma específicano tema gestão de Bacia Hidrográfica, segundo informaçõesdo Sistema de Acompanhamento e Avaliação <strong>da</strong> Implementação<strong>da</strong> Política de Recursos Hídricos, <strong>da</strong> SRH/MMA.Os órgãos estaduais executores <strong>da</strong>s políticas estaduais de recursoshídricos se ressentem <strong>da</strong> mesma problemática existentequanto à política ambiental, ou seja, carência de recursos humanoscapacitados e de uma agen<strong>da</strong> de priori<strong>da</strong>des na temática,bem defini<strong>da</strong> e cumpri<strong>da</strong> de forma participativa, continua<strong>da</strong> edesvincula<strong>da</strong> de interesses de alguns poderosos grupos locais.Ain<strong>da</strong> assim, alguns Estados <strong>da</strong> <strong>região</strong>, ca<strong>da</strong> um a seutempo, têm produzido avanços tanto na criação de leisespecíficas relaciona<strong>da</strong>s às políticas estaduais de recursoshídricos, quanto na implantação dessas políticas e em especialdos instrumentos previstos em suas legislações.No entanto, estas atitudes têm gerado pouca repercussão,em escala tanto estadual como regional e/ou nacional(Figura 28). Agrupa<strong>da</strong>s por Estados, alguns exemplos dessase de outras iniciativas correlatas são coloca<strong>da</strong>s a seguir.AcreO Estado do Acre, por meio <strong>da</strong> Lei n.º 1.500, de 15 de julhode 2003, conforme já referido no Quadro 21, instituiua Política Estadual de Recursos Hídricos, criou o SistemaEstadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, dispôssobre infrações e penali<strong>da</strong>des aplicáveis, além de outrasinstruções relaciona<strong>da</strong>s ao tema água. Essa legislação ain<strong>da</strong>não foi regulamenta<strong>da</strong>, mas prevê que o Sistema de Informaçõesde Recursos Hídricos - Sirena seja inserido no âmbitodo Sistema Estadual de Informações Ambientais - Seiame, dentre outros, também identifica como instrumentos <strong>da</strong>Política Estadual de Recursos Hídricos o Fundo Estadual deMeio Ambiente - Femac e o Zoneamento Ecológico-Econômicodo Acre.A legislação acreana prevê que o Plano Estadual de RecursosHídricos seja elaborado sob a coordenação <strong>da</strong> Secretariade Meio Ambiente e Recursos Naturais – Sema. Deve ser99Quadro 21 – Evolução <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> política de Recursos Hídricos nos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, por meio <strong>da</strong> aprovaçãoe publicação de legislação específica, bem como <strong>da</strong> atribuição de função executiva a órgão estadual competenteEstados Lei <strong>da</strong> Política Estadual de Recursos Hídricos Órgão do Estado Executor <strong>da</strong> Política de Recursos HídricosAcre Lei n.º 1.500, de 15 de julho de 2003Instituto do Meio Ambiente do Acre - Imac, vinculado àSecretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e MeioAmbiente - Sectma, apoia<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção de Tecnologia doEstado do Acre - FuntacAmapá Lei n.º 686, de 7 de junho de 2002 Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SemaAmazonas Lei n.º 2.712, de 28 de dezembro de 2001SDS/SARH (Secretaria Adjunta de Recursos Hídricos <strong>da</strong>Secretaria de Desenvolvimento Sustentável)Mato Grosso Lei n.º 6.945, de 5 de novembro de 1997 Secretaria Estadual de Meio Ambiente - SemaPará Lei n.º 6.381, de 25 de julho de 2001Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e MeioAmbiente - SectamRondôniaLei Complementar n.º 255, de 25 de janeiro de2002Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental - Se<strong>da</strong>mRoraima Não possui Não possuiFonte: ABRH (2003); ANA (2005)


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica100objeto de deliberação prévia do Conselho Estadual de MeioAmbiente, Ciência e Tecnologia – Cemact, assessorado poruma câmara técnica de recursos hídricos e submetido aoGovernador do Estado, para sua aprovação mediante decreto.O Sirena será gerido pelo Instituto de Meio Ambientedo Acre – Imac, que também é, segundo a lei, o responsávelpela cobrança pelo uso <strong>da</strong> água.O Zoneamento Ecológico-Econômico é visto como instrumentoestratégico continuado de planejamento regionale gestão territorial, destacado como elemento importantepara a implementação dos Planos de Bacia Hidrográfica edo Plano Estadual de Recursos Hídricos. Ou seja, pelo queprevê a legislação estadual do Acre, a classe de uso preponderantea ser determina<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> curso de água noEstado deverá ser compatível com a aptidão de uso do solodefini<strong>da</strong> pelo Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEEAssim também, sempre que o Zoneamento Ecológico-Econômico indicar mais de uma aptidão para ca<strong>da</strong> localizaçãoonde se situa o uso do curso de água objeto de outorga,será priorizado aquele uso que resultar em maior benefíciosocial, desde que não traga prejuízo ao abastecimento humanoe de animais domésticos, à biota e à navegabili<strong>da</strong>de.Em relação a iniciativas fora do contexto oficial/governamental,com potencial de ser aproveita<strong>da</strong> no contexto <strong>da</strong> PolíticaEstadual de Recursos Hídricos, pode-se citar o ConsórcioAmazoniar, que apesar de ser voltado para o tema <strong>da</strong>s florestas,guar<strong>da</strong>, por razões óbvias, estreita relação com o tema água.Criado em 2003, com a participação de cinco organizaçõesnão-governamentais – WWF-Brasil (líder do grupo),SOS Amazônia, Kanindé Associação de Defesa Etno-Ambiental,Centro dos Trabalhadores <strong>da</strong> Amazônia – CTA, eFSC Brasil, o projeto do Consórcio Amazoniar pretendecriar um sistema integrado de gestão ambiental e uso sustentáveldos recursos naturais no sudoeste <strong>da</strong> Amazônia.O projeto, com duração prevista de quatro anos, pretendeestabelecer uma conexão entre comuni<strong>da</strong>des e paisagensflorestais. O trabalho é desenvolvido, segundo o WWF-Brasil,em três eixos e tem como foco as áreas sob proteçãodo governo (parques nacionais, terras indígenas, reservasextrativistas e estações ecológicas) e seu entorno.No primeiro dos eixos, o consórcio procura promover a ocupaçãoordena<strong>da</strong> do sudoeste <strong>da</strong> Amazônia, criando capaci<strong>da</strong>deslocais para a gestão de áreas protegi<strong>da</strong>s e influenciando aspolíticas públicas ambientais por meio <strong>da</strong> produção de conhecimentoe <strong>da</strong> formação social.O segundo eixo consiste em influenciar especificamenteas políticas públicas florestais, gerando conhecimento técnicoe científico e viabilizando a formação em práticas de usosustentável <strong>da</strong> floresta, ao mesmo tempo em que promove ainclusão social <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des locais. Finalmente, no terceiroeixo, o objetivo é ampliar o mercado para os produtossustentáveis e agregar valor a eles ain<strong>da</strong> na floresta.AmapáNo Estado do Amapá, a Lei n.º 686, de 7 de junho de2002, é a que dispõe sobre a Política de Gerenciamentode Recursos Hídricos. A legislação, como no Acre, tambémain<strong>da</strong> não foi regulamenta<strong>da</strong>. Apesar de ser a Secretaria deEstado do Meio Ambiente o órgão executor <strong>da</strong> Política Estadual,o vínculo do tema recursos hídricos com o temaambiental não é diretamente explicitado na legislação sobrea Política Estadual de Recursos Hídricos, como no Acre.A legislação amapaense coloca os instrumentos <strong>da</strong> políticaestadual à semelhança do que trata a legislação federal. Incluio sistema estadual de informações sobre recursos hídricos etambém o fundo estadual de recursos hídricos. Para esse instrumentosão definidos em detalhe os elementos que constituemrecursos do fundo estadual de recursos hídricos.Os Planos de Bacia Hidrográfica são colocados comode responsabili<strong>da</strong>de de Agências de Bacia Hidrográfica,com atualização quadri-anual e devem ser submetidos àaprovação de comitês <strong>da</strong>s respectivas Bacias Hidrográficas.É feita a ressalva de que os Planos de Bacia Hidrográficadevem conter, entre outros, os elementos constitutivosdo Plano Estadual de Recursos Hídricos.Assim como no Acre, é ressalta<strong>da</strong> a importância do ZoneamentoEcológico-Econômico no Amapá, delineado comoorientador na definição <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des <strong>hidrográfica</strong>s, objetodo planejamento estadual para os recursos hídricos.A lei do Amapá criou o Sistema Integrado de Gerenciamentode Recursos Hídricos - SIGERH para que este atuecomo coordenador, árbitro, planejador, regulador e contro-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficalador do uso, <strong>da</strong> preservação e <strong>da</strong> recuperação dos recursoshídricos, além de promover a cobrança pelo uso <strong>da</strong> água,muito à semelhança do que se tem nos demais Estados.O SIGERH é composto por um Conselho Estadual de RecursosHídricos - CERH, órgão máximo do sistema com funçõesdeliberativas, normativas e consultivas, e pela Secretariade Estado do Meio Ambiente - Sema, órgão de planejamentoe gestão do sistema. Também fazem parte do SIGERH, osComitês de Bacia Hidrográfica, como órgãos setoriais deliberativose normativos no âmbito de ca<strong>da</strong> Bacia, as agências deágua, órgãos executivos e de apoio aos comitês e as organizaçõescivis que atuem na área de recursos hídricos.As principais dificul<strong>da</strong>des de implementação dos instrumentosde gestão de recursos hídricos no Amapá relacionam-secom a carência de recursos humanos qualificadospara cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> questão. Até 2002, não havia recursos financeirosespecífico para a gestão de recursos hídricos. Projetosrelacionados aos recursos hídricos têm sido custeados comrecursos do PPG7, em especial para a <strong>região</strong> sul do Estado.As ações do PPG7 têm sido importantes em diversos Estados<strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica e com muita relaçãocom o tema água. Vale ressaltar que, no Amapá, para implementação<strong>da</strong> infra-estrutura local relaciona<strong>da</strong> a laboratórios,sistemas de monitoramento e de informações, temsido fun<strong>da</strong>mental no Estado a interação com o Programa dePreservação <strong>da</strong>s Florestas Tropicais Brasileiras, o PPG7.Adicionalmente, um programa de gestão ambiental, ProgramaEstadual de Gestão Ambiental - Pega tem no monitoramentoseu principal componente. O Amapá apesar<strong>da</strong>s deficiências <strong>da</strong> rede de monitoramento hidrológico, éo único Estado que desenvolve sistematicamente a publicaçãodo Índice de Quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Água - IQA para a <strong>região</strong>sul do Estado, seguindo um padrão internacional a<strong>da</strong>ptadoà reali<strong>da</strong>de local.AmazonasNo Amazonas, a Lei n.º 2.712, de 28 de dezembro de2001, é a que disciplina a Política Estadual de RecursosHídricos e estabelece o Sistema Estadual de Gerenciamentode Recursos Hídricos. A lei amazonense destaca,de forma mais explícita do que a do Amapá, um vínculocom a política ambiental. Prova disso está no fatode citar como instrumentos <strong>da</strong> política estadual, além<strong>da</strong>queles previstos na lei federal a<strong>da</strong>ptados à reali<strong>da</strong>deestadual, o Zoneamento Ecológico-Econômico e o PlanoAmbiental do Estado do Amazonas.O Plano Estadual de Recursos Hídricos é apresentadocomo documento elaborado com base nos Planos de BaciaHidrográfica, encaminhados pelos Comitês de Bacia Hidrográfica,e considera ain<strong>da</strong>: a) propostas apresenta<strong>da</strong>s,individual ou coletivamente, por usuários <strong>da</strong> água; b) tratadosinternacionais; e, c) áreas indígenas.Com relação ao Zoneamento Ecológico-Econômico doEstado, a lei do Amazonas o coloca como instrumentode apoio à elaboração, revisão e alteração dos Planos deBacia Hidrográfica e do Plano Estadual de Recursos Hídricos.Ou seja, no caso do enquadramento dos cursosde água em classes de uso preponderante, por exemplo,a classe de uso preponderante a ser defini<strong>da</strong> para o cursode água deverá ser compatível com a aptidão de usodo solo defini<strong>da</strong> pelo Zoneamento Ecológico-Econômico,ou qualitativamente superior.Assim também, excetuando-se aquelas destina<strong>da</strong>s àmanutenção do abastecimento público e assegura<strong>da</strong>s ascondições de navegabili<strong>da</strong>de, serão prioriza<strong>da</strong>s as outorgaspara derivação e captação de recursos hídricos compatíveiscom a aptidão de uso do solo defini<strong>da</strong> pelo ZoneamentoEcológico-Econômico para a locali<strong>da</strong>de onde seencontra o recurso hídrico objeto de outorga.E, ain<strong>da</strong>, as áreas defini<strong>da</strong>s pelo Zoneamento Ecológico-Econômicocomo sendo destina<strong>da</strong>s à proteção integral,ecologicamente frágeis, de “transição”, críticas, instáveis oude “tensão ecológica”, corresponderão, obrigatoriamente, aáreas de proteção dos recursos hídricos. Deste modo, é ve<strong>da</strong>doo uso do recurso hídrico para quaisquer finali<strong>da</strong>des,sem a realização de EIA-Rima, independentemente do volumea ser outorgado ou <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> intervenção, quandose tratar de obra de engenharia.O plano ambiental também é entendido como um instrumentode apoio à revisão e implementação dos Planosde Bacia Hidrográfica e do Plano Estadual de RecursosHídricos. Assim, as necessi<strong>da</strong>des econômico-ambientais101


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica102descritas no Plano Ambiental do Estado deverão, sempreque possível, ser compatíveis com a fase de elaboraçãoou implementação dos Planos de Recursos Hídricos.Cabe destacar que a lei de recursos hídricos do Amazonaspossui um capítulo inteiro dedicado à questão <strong>da</strong>s águassubterrâneas. Essa é uma preocupação bastante destaca<strong>da</strong>pelas autori<strong>da</strong>des locais, em vista do uso que é feito do recursosubterrâneo em especial na capital.O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos,com atribuições muito semelhantes àquele do Estadodo Amapá é composto por um Conselho Estadual de RecursosHídricos, pelos Comitês de Bacia Hidrográfica, pelo Institutode Proteção Ambiental do Amazonas - Ipaam, comoórgão gestor e pelos órgãos dos poderes públicos federal,estadual e dos Municípios, cujas competências se relacionemcom a gestão de recursos hídricos.No corpo <strong>da</strong> Lei Amazonense de Recursos Hídricos destacasecom papel bastante importante o Ipaam. Esse OEMA, na ver<strong>da</strong>deuma Autarquia, tem suas atribuições regulamenta<strong>da</strong>s peloDecreto nº 17.033, de 11 de março de 1996, e pelo Decreto n.º19.909, de 30 de abril de 1999. O Ipaam é o órgão executivogestor e coordenador central do Sistema Estadual de Gerenciamentodos Recursos Hídricos. Além de gerenciar o processode planejamento <strong>da</strong> política estadual, o Ipaam exerce o poderoutorgante e fiscalizador em relação aos recursos hídricos, inclusivecom poder de polícia administrativa.Iniciativas em relação aos instrumentos de gerenciamentoprevistos nas legislações federal e estadual, o Estado doAmazonas tem atualmente o Conselho Estadual de RecursosHídricos, instalado e desenvolve estudos para a criação doprimeiro comitê de Bacia, em <strong>região</strong> peri-urbana, na Baciado Rio Tarumã-Açu, na Sub-<strong>região</strong> Hidrográfica Negro.ParáNo Estado do Pará, a Lei n.º 6.381, de 25 de julho de2001, dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricose institui o Sistema Estadual de Gerenciamento de RecursosHídricos. A lei paraense destaca como instrumento <strong>da</strong> PolíticaEstadual de Recursos Hídricos praticamente os mesmospontos determinados na lei federal.A Lei <strong>da</strong> Política Estadual de Recursos Hídricos buscouna ver<strong>da</strong>de, adequar o Estado à nova ordem <strong>da</strong><strong>da</strong> pela legislaçãofederal e tratá-la de forma mais sistêmica, já que, noPará, duas leis já tratavam no tema <strong>da</strong> água: a Lei n.º 5.630,de 20 de dezembro de 1990, que estabeleceu normas para apreservação de áreas dos corpos aquáticos, principalmenteas nascentes, inclusive os “olhos d’água”, e a Lei n.º 5.793,de 24 de janeiro de 1994, que definiu a política minerariae hídrica do Estado do Pará, seus objetivos, diretrizes e instrumentos.Fruto dessa lei é a criação do conselho consultivode política mineraria e hídrica.Em adição ao que em geral é comum tanto na legislaçãofederal como dos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,a lei <strong>da</strong> política de recursos hídricos do Pará destaca,também como instrumento, a capacitação, o desenvolvimentotecnológico e a educação ambiental. Este destaquepode ser entendido como uma toma<strong>da</strong> de consciência deuma deficiência, que é na ver<strong>da</strong>de regional. Ou seja, a capacitaçãoe a carência de recursos humanos.A lei paraense prevê a criação de programas de educaçãoambiental para o Estado e por Bacia Hidrográfica.Outros tópicos também destacados naquele texto legaldizem respeito à outorga e às águas subterrâneas. Comrelação à outorga, chama a atenção na legislação paraenseo bom detalhamento de seu modo de aplicação. Comrelação às águas subterrâneas, assim como na legislaçãodo Estado do Amazonas, a legislação do Pará dedica-lhesum título específico, indicando também neste Estado aimportância do tema.A lei paraense criou o Sistema Estadual de Gerenciamentode Recursos Hídricos, composto pelo Conselho Estadualde Recursos Hídricos, pelo órgão gestor dos recursos hídricos,pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, pelas Agênciasde Bacias e pelos órgãos dos Poderes Públicos estaduais emunicipais, cujas competências se relacionam com a gestãodos recursos hídricos.Definido posteriormente como órgão gestor dos recursoshídricos, por meio do Decreto n.º 5.565, de 11 de outubrode 2002, a Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia eMeio Ambiente - Sectam, é também o órgão do governoestadual encarregado de coordenar, executar e controlar asativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s ao desenvolvimento científico e tec-


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região Hidrográficanológico e à proteção e conservação do meio ambiente, noPará. Portanto, apesar de a lei sobre a política de recursoshídricos não explicitar o vínculo com a temática ambientalesse se dá através <strong>da</strong>s atribuições do próprio órgão gestor.A Sectam é responsável pelo Programa de Gestão AmbientalIntegra<strong>da</strong> - PGAI, o qual tem como principaispontos: a) defesa, fiscalização e controle ambiental; b)descentralização <strong>da</strong> gestão ambiental; c) gerenciamentode áreas costeiras; d) gerenciamento de uni<strong>da</strong>des deconservação; e) implementação de gerenciamento costeirointegrado; f) implementação do centro aplicativo detempo, clima e recursos hídricos – CATCRH/Sectam; g)implantação <strong>da</strong> Política Estadual de Recursos Hídricos;h) implementação do sistema estadual de informação ambiental;i) implantação do Sistema Estadual de Uni<strong>da</strong>desde Conservação; j) manutenção de laboratório de sensoriamentoremoto; k) implementação do Zoneamento Ecológico-Econômico– ZEE.Especificamente no tópico recursos hídricos algumasações têm sido toma<strong>da</strong>s. Uma proposta de divisão estadualem regiões <strong>hidrográfica</strong>s foi idealiza<strong>da</strong> pelo Núcleode Hidrometeorologia - NHM <strong>da</strong> Sectam. Essa propostatem por objetivo promover procedimentos que facilitemo gerenciamento dos recursos hídricos no Estado sendoa base inicial dos planos de recursos hídricos. No totalsão 20 Bacias <strong>hidrográfica</strong>s distribuí<strong>da</strong>s em sete regiões,sendo que destas, quatro encontram-se dentro <strong>da</strong> RegiãoHidrográfica Amazônica (Calha Norte, Tapajós, BaixoAmazonas e Xingu).Nesse contexto, de acordo com Barp & Barp (2003), ascaracterísticas hidrológicas e topográficas <strong>da</strong>s pequenas Baciasdo Pará são tais que as metodologias disponíveis para aimplantação de modelos de gestão de recursos hídricos nãosão totalmente adequa<strong>da</strong>s para projetos na <strong>região</strong>.Assim, ain<strong>da</strong> segundo esses autores, faz-se necessário estu<strong>da</strong>rde modo mais específico uma adequação metodológica,em especial, para o estabelecimento de modelos degerenciamento hídrico, manutenção e incremento <strong>da</strong> redede estações hidrometeorológicas e disponibilização de informações.Esta metodologia deve levar em conta a importânciados recursos hídricos para as populações locais,historicamente estabeleci<strong>da</strong>s, assim como os novos agentessociais que estão se inserindo no processo de ocupação <strong>da</strong>Amazônia.RondôniaEm Rondônia, a Política de Recursos Hídricos, o Sistemade Gerenciamento e o Fundo de Recursos Hídricos foramcriados pela Lei Complementar n.º 255, de 25 de janeirode 2002. Por ela, o Sistema Estadual de Gerenciamento deRecursos Hídricos - SEGRH, tem a finali<strong>da</strong>de de coordenara gestão integra<strong>da</strong> desses recursos e implementar a PolíticaEstadual concernente.Integram o SEGRH, o Conselho Estadual de RecursosHídricos - CRH, os Comitês de Bacias Hidrográficas e asAgências de Bacia Hidrográfica. Sendo que, no ConselhoEstadual têm assento os representantes de uma extensalista de enti<strong>da</strong>des governamentais, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil organiza<strong>da</strong>,dos conselhos profissionais e de enti<strong>da</strong>des deensino e pesquisa.O CRH é órgão consultivo e deliberativo, com dotaçãoorçamentária própria, incumbido por lei de promover esupervisionar a implementação <strong>da</strong> política estadual do setor.A lei rondoniense define ain<strong>da</strong> as atribuições do órgãogestor, apesar de não indicá-lo, deixando o assunto paralei específica.O Decreto n.º 10.114, de 20 de setembro de 2002,regulamentou a lei <strong>da</strong> Política Estadual de RecursosHídricos, do Sistema Estadual de Gerenciamento e doFundo de Recursos Hídricos do Estado de Rondônia. Aenti<strong>da</strong>de estadual encarrega<strong>da</strong> pela gestão dos recursoshídricos é a própria Secretaria de Desenvolvimento Ambientaldo Estado de Rondônia – Se<strong>da</strong>m, por intermédiode uma secretaria executiva. Posteriormente, a Portarian.º 38, de 17 de fevereiro de 2004, aprovou as normasque disciplinam o uso dos recursos hídricos superficiaise subterrâneos do Estado, destacando mais uma vez aquestão <strong>da</strong>s águas subterrâneas.Como ativi<strong>da</strong>de de relevância que merece destaque emrelação aos instrumentos de gestão, está a iniciativa de implantaçãode um programa de proteção de mananciais e degerenciamento dos recursos hídricos <strong>da</strong> Bacia do Rio Jama-103


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica104ri, por parceria entre a Eletronorte, Se<strong>da</strong>m e um consórcioformado entre os 13 Municípios que envolvem a referi<strong>da</strong>Bacia Hidrográfica.RoraimaNo Estado de Roraima não há lei específica relaciona<strong>da</strong>aos recursos hídricos. O instrumento legal existenteé a Lei Complementar n.º 007, de 26 de agosto de 1994,que instituiu o Código de Proteção ao Meio Ambientepara a administração <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de ambiental, proteção,controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequadodos recursos naturais. O órgão responsável pelaexecução <strong>da</strong>s determinações legais é a Fun<strong>da</strong>ção Estadualdo Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia - Femact.Por esta lei, a água é trata<strong>da</strong> como um dos elementos integrantesdo planejamento e zoneamento ambiental do Estado.Também são trata<strong>da</strong>s como áreas de proteção especialas ilhas fluviais e os mananciais de água, estes definidos nalei como Bacia <strong>hidrográfica</strong>, entre as nascentes e as lagoasde abastecimento e as nascentes dos rios.Um capítulo <strong>da</strong> lei ambiental roraimense trata especificamentesobre a fauna e flora aquática, outro especificamente<strong>da</strong>s águas subterrâneas e uma seção específica sobrea água e seus usos. No entanto, esta seção sobre uso estáinseri<strong>da</strong> no capítulo voltado para a questão do saneamentobásico domiciliar.Um capítulo específico <strong>da</strong> lei ambiental trata <strong>da</strong> água, colocandoaspectos sobre classificação, controle e utilização doscorpos de água, de proibições e exigências, sobre critérios epadrões de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas e quanto a critérios e padrõesde emissão de efluentes. Fica a critério do Oema, estabelecermedi<strong>da</strong>s de proteção para as áreas considera<strong>da</strong>s indispensáveisà manutenção do equilíbrio dos ecossistemas hídricos, inclusivemanter a fiscalização de despejo nos cursos de água.Mato GrossoA Lei Estadual n.º 6.945, de 5 de novembro de 1997,estabeleceu a Política Estadual de Recursos Hídricos. ODecreto n.º 3.952, de 6 de março de 2002, regulamentouo Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Estado deMato Grosso, de acordo com o disposto na Lei <strong>da</strong> PolíticaEstadual. Posteriormente, a Lei n.º 8.097, de 24 de marçode 2004, dispôs sobre a administração e a conservação <strong>da</strong>ságuas subterrâneas de domínio do Estado, ressaltando demaneira mais proeminente a importância <strong>da</strong>quele recurso.A lei mato-grossense de recursos hídricos prevê o SistemaEstadual de Recursos Hídricos composto pelo ConselhoEstadual de Recursos Hídricos - Cehidro, pelos comitês deBacias Hidrográficas e pelo Órgão Coordenador/Gestor. OCehidro é coordenado pelo Secretário do Meio Ambientedo Estado. O Órgão coordenador/gestor é a Secretaria Estadualde Meio Ambiente - Sema.A legislação do Estado foi promulga<strong>da</strong> no mesmo ano<strong>da</strong> lei federal e também concedeu à Sema grande poder deação em relação à gestão de recursos hídricos. Incluiu notexto as atribuições e a estrutura administrativa <strong>da</strong> Semadestina<strong>da</strong> àquela ativi<strong>da</strong>de.Algumas ações regionais e/ou multilaterais em cursoOTCAEm relação aos acordos multilaterais na Região HidrográficaAmazônica, vale destacar o Tratado de CooperaçãoAmazônica - TCA, assinado em julho de 1978 (entrou emvigor em agosto de 1980), entre os governos do Brasil, Bolívia,Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.O TCA visa o desenvolvimento regional, com destaquepara a utilização racional dos recursos hídricos,melhoramento <strong>da</strong>s vias navegáveis, aproveitamento racional<strong>da</strong> flora e fauna, entre outros aspectos, mediantea realização de programas conjuntos.Assim, a criação do organismo multilateral denominadoOrganização do Tratado de Cooperação Amazônica- OTCA, tem buscado viabilizar os objetivos do TCA.Em relação aos recursos hídricos, o plano estratégico<strong>da</strong> OTCA destaca a água como elemento fun<strong>da</strong>mental epossuidor de uma transversali<strong>da</strong>de, que permite o congraçamentode vários interesses regionais.Um projeto <strong>da</strong> organização, visando o financiamento deiniciativas orienta<strong>da</strong>s para a gestão <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong> Amazôniade forma compartilha<strong>da</strong>, na <strong>região</strong> transfronteiriça, iniciousejunto ao Global Environmental Found - GEF e pretendeser um passo importante na integração regional.


4 | Caracterização e Análise Retrospectiva <strong>da</strong> Região HidrográficaPrograma Calha NorteO Programa Calha Norte - PCN, criado em 1995, é umprograma nacional com características regionais. Abrangeum total de 74 Municípios, todos situados acima <strong>da</strong>s calhasdos rios Solimões e Amazonas, passando pelos Estadosdo Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. O programaestá vinculado ao Ministério <strong>da</strong> Defesa e tem desenvolvido,juntamente com diferentes enti<strong>da</strong>des nacionais, soba coordenação <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Getúlio Vargas, um Plano deDesenvolvimento Local Integrado e Sustentável para ca<strong>da</strong>um dos Municípios envolvidos.O Programa Calha Norte apresenta três dimensões básicas:infra-estrutura social, infra-estrutura econômica einfra-estrutura física básica. Envolvendo diversas parcerias,o PCN é uma ação governamental multi-institucional.Tem como objetivos principais aumentar a presençabrasileira na sua <strong>região</strong> de atuação, ampliar a relaçãoentre os países limítrofes, promover assistência e proteçãoàs populações indígenas, fortalecer as infra-estruturasinstala<strong>da</strong>s (energia, telecomunicações, transportes,entre outras), expandir a infra-estrutura viária (fluvialinclusive), fortalecer as ações dos órgãos governamentais(justiça, policia federal, entre outros) e intensificaras ativi<strong>da</strong>des para a perfeita demarcação <strong>da</strong> fronteira.Sipam/SivamO Programa Sipam/Sivam constitui-se noutra iniciativado governo federal, multi-institucional lidera<strong>da</strong> diretamentepela Presidência <strong>da</strong> República, por meio <strong>da</strong> Casa Civil.Surgiu de uma necessi<strong>da</strong>de de integração <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des degoverno na Amazônia em face à dificul<strong>da</strong>de de proteger oecossistema <strong>da</strong> <strong>região</strong>, à incipiente infra-estrutura local deapoio às ações de governo, à inexistência de sistema paracontrole, fiscalização, monitoramento e vigilância <strong>da</strong> <strong>região</strong>e demais temas associados à questões de segurança (defesade fronteiras, controle de ilícitos, entre outros).A iniciativa conta com células de vigilância em temas derelevância regional. Daquelas vincula<strong>da</strong>s mais diretamenteaos recursos hídricos têm-se a célula de vigilância meteorológicae também a de vigilância ambiental. Ambas as divisõescontam com infra-estruturas de coleta de <strong>da</strong>dos hidrológicose meteorológicos instala<strong>da</strong>s em terra e monitora<strong>da</strong>svia-satélite, permitindo um acompanhamento <strong>da</strong> ocorrênciade eventos críticos.As ativi<strong>da</strong>des do Sipam/Sivam são realiza<strong>da</strong>s de formacomplementar com a de outros órgãos federais, quetambém atuam na <strong>região</strong>, e são parceiros do sistema integrando<strong>da</strong>dos a ele. Este é o caso <strong>da</strong> Agência Nacionalde Águas - ANA que gerencia uma rede de mais de 300estações hidrométricas na <strong>região</strong>, opera<strong>da</strong>s direta e/ouindiretamente pelo Serviço Geológico do Brasil - CPRMhá mais de 20 anos.O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe desenvolve,em associação com o Instituto Nacional dePesquisas <strong>da</strong> Amazônia - Inpa, também parceiros doSipam/Sivam, diversas ativi<strong>da</strong>des de monitoramento meteorológico,pesquisa e operações de campo em recursoshídricos, em especial por meio do Projeto LBA, o experimentode grande escala sobre as interações entre a biosferae a atmosfera na Amazônia.105


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica106Fonte: IBGE (2003); ANA; Bases do PNRH (2005)Figura 28 – Resumo dos aspectos institucionais relevantes no tocante à implantação <strong>da</strong>s políticas Ambiental e de Recursos Hídricosnos Estados <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica


5 | Análise de ConjunturaDe acordo com a visão defendi<strong>da</strong> pelo Ministério do MeioAmbiente - MMA, por meio do Ibama, “O desenvolvimento<strong>da</strong> Amazônia é questão complexa e abrange um conflito devalores acerca do meio ambiente. A conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> Amazônia tem enorme valor como garantia dequali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> para as futuras gerações. No entanto, osseus recursos naturais são fonte e meio de sobrevivência paraas populações nativas e, ain<strong>da</strong>, base essencial de recursosfinanceiros para diversos segmentos produtivos.”Certamente a questão dos recursos hídricos se encaixanesta complexi<strong>da</strong>de do desenvolvimento <strong>da</strong> Amazônia. Osconflitos vividos por outros setores que li<strong>da</strong>m com recursosnaturais possuem conectivi<strong>da</strong>des com o tema água. Essesconflitos são sentidos, por um lado, pelas disputas poracesso e uso <strong>da</strong> água de forma direta ou indireta, e, poroutro, são objeto <strong>da</strong> busca de soluções por meio de projetosconservacionistas, sustentáveis e de apoio às ativi<strong>da</strong>destradicionais.Em vista de acertos e desacertos passados e, ao se contemplaros problemas presentes, há na <strong>região</strong> um conjuntode iniciativa que pode aju<strong>da</strong>r a <strong>da</strong>r subsídios à elaboração eimplementação de políticas públicas na Amazônia, relativasaos recursos hídricos. No entanto, o modelo ideal de desenvolvimentopara a <strong>região</strong> parece ain<strong>da</strong> estar longe de seralcançado, necessitando de ações concretas e acontecendoparalelamente em diferentes escalas.Os instrumentos de conservação, presentes hoje na Amazôniae mais utilizados pelo Estado brasileiro, incluindosuas Uni<strong>da</strong>des Federativas na área são: i) o manejo corretode ecossistemas, ii) a existência <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de conservação,e iii) o estudo e a preservação de espécies <strong>da</strong> fauna eflora (IBAMA, 2005).Associado a esses instrumentos, os diferentes ciclos de desenvolvimentopor que tem passado a Região Amazônica permitemconstatar, em relação à influência antrópica, a existênciade várias Amazônias.Assim, temos o que os pesquisadores do Projeto Meta,do Centro de Desenvolvimento Sustentável <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>dede Brasília, classificam como a evolução <strong>da</strong> “Amazôniados rios”, à “Amazônia <strong>da</strong>s políticas”. Passando entre estesdois extremos pela “Amazônia <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s” e pela “Amazônia<strong>da</strong>s regiões”, refletindo nesses termos a influência doaspecto mais relevante no contexto do desenvolvimento <strong>da</strong><strong>região</strong> em épocas distintas.No momento em que se inicia a implementacão do PlanoNacional de Recursos Hídricos, também estão inseri<strong>da</strong>siniciativas multilaterais de integração, que envolvem a<strong>região</strong>, como a já destaca<strong>da</strong> OTCA, e iniciativas nacionaiscomo o Sipam e o PCN.Adequação <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica àPolítica Nacional de Recursos HídricosGuar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as diferenças intra-regionais, percebe-se grandedificul<strong>da</strong>de nos Estados <strong>da</strong> Amazônia em se amol<strong>da</strong>ra uma legislação federal cuja base está na organização deComitês de Bacias. Essa dificul<strong>da</strong>de é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela lógica doespaço geográfico definido na lei e pelas dimensões <strong>da</strong>s regiões<strong>hidrográfica</strong>s considerando-se as Sub-Regiões de nível1, por exemplo.No caso <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica, fazer a gestãotomando-se por base as Sub-regiões Hidrográficas de nível1 torna praticamente impossível um avanço substancial naimplantação <strong>da</strong> política de recursos hídricos. Isso ocorre,em face <strong>da</strong> existência de vazios populacionais consideráveisno interior <strong>da</strong>quelas Sub-regiões Hidrográficas, dificultandoviabilizar a organização de comitês em face de grandes distânciasa serem venci<strong>da</strong>s entre as concentrações urbanas.Associa<strong>da</strong> às dificul<strong>da</strong>des de ordem geográfica, ain<strong>da</strong> há107


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica108uma baixa taxa de uso dos recursos hídricos em relação àoferta, com um conseqüente nível de preocupação social,também muito baixo, o que inclui a questão <strong>da</strong> água emescala regional. Este fato contribui ain<strong>da</strong> mais para o desinteresse<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em discutir ações concretas degestão em grandes áreas.As discussões e debates envolvendo a água com maiorparticipação popular e até mesmo acadêmica envolvemuni<strong>da</strong>des menores de área, em geral áreas urbanas. Assim,uma inversão de priori<strong>da</strong>de espacial, iniciando-se o processode gestão a partir do reconhecimento de detalhe empequenas áreas, que poderiam ser, por exemplo, Sub-regiõesHidrográficas de níveis mais elevados, como uma opçãomais viável para o início de programas de gestão de recursoshídricos na Região Hidrográfica Amazônica. Inclusive, citandouma preocupação geral identifica<strong>da</strong> nas reuniões <strong>da</strong>Comissão Executiva Regional <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica,há um consenso de que “o problema mais grave <strong>da</strong><strong>região</strong> é o saneamento”.Assim, a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> gestão poderia ser algo semelhanteao sugerido por Aziz Ab’Saber (BORELLI et al., 2005),para as questões ambientais de um modo geral, para quem“... parece ser ver<strong>da</strong>de que a condição prévia para entender aAmazônia em seu todo, reside em uma setorização abrangentede grande concretude e visibili<strong>da</strong>de...” ou seja, Ab’Saberrecomen<strong>da</strong> uma “...estratégia de um primeiro zoneamento,realizado em células espaciais de indiscutível proprie<strong>da</strong>de”como “... o primeiro passo para servir a um padrão de desenvolvimentocom um máximo de floresta em pé e bio-diversi<strong>da</strong>desintegra<strong>da</strong>s”. Assim, continua o eminente professor,se deveria “... partir de uma setorização em quadrantes <strong>da</strong>ordem de 80 a 150 mil km, [onde] poderão ser feitos detalhamentosminuciosos de ca<strong>da</strong> sub-<strong>região</strong> pré-identifica<strong>da</strong>,utilizando todos os recursos cartográficos [...] disponíveis”.Portanto, apesar de regionalmente a gestão de recursoshídricos ser ain<strong>da</strong> considera<strong>da</strong> certo “devaneio legal”para alguns atores sociais, na escala local, a questão dessesrecursos já alcança níveis alarmantes (áreas urbanas em especial).Isso pode vir a motivar Estados <strong>da</strong> <strong>região</strong> a priorizaruma política de gestão dos recursos hídricos volta<strong>da</strong> maispara pequenas Bacias urbanas ou peri-urbanas (já existindoalguns casos em estudo) do que para as grandes Sub-regiõesHidrográficas identifica<strong>da</strong>s no início deste Caderno.5.1 | Principais Problemas de Eventuais UsosHegemônicos <strong>da</strong> ÁguaNa Região Hidrográfica Amazônica, além do abastecimentohumano, o principal uso histórico <strong>da</strong>s águas dos riospela população de maneira sistemática é o transporte paracargas e passageiros.Até o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, destacava-se, também, ouso <strong>da</strong> água para fins de geração de energia elétrica, comos projetos e a construção de grandes aproveitamentoshidrelétricos. A partir de então ganha destaque também,mesmo que localmente, o crescimento do uso <strong>da</strong> água paraabastecimento humano, com a forte deman<strong>da</strong> resultante <strong>da</strong>migração de populações do sul do País para a Amazônia.Neste período também aparecem deman<strong>da</strong>s para as ativi<strong>da</strong>desagrícolas e <strong>da</strong> pecuária. No entanto, não se percebeem escala regional um setor que gere problemas aos demaisem função de uma eventual hegemonia quanto ao uso <strong>da</strong>água na <strong>região</strong>.Associa<strong>da</strong> à forte influência do setor elétrico na <strong>região</strong>(de caráter eminentemente governamental) houve, de certomodo, um domínio deste setor sobre vários outros <strong>da</strong>economia local até os anos 1980. Alguns setores <strong>da</strong> economiaregional se desenvolveram à sombra <strong>da</strong> construçãodos aproveitamentos hidrelétricos. Entretanto, não se temnotícias de dificul<strong>da</strong>des gera<strong>da</strong>s pelo setor elétrico quantoà minimização <strong>da</strong> oferta de água, de forma a comprometero uso para outros fins.Atualmente, em relação ao setor elétrico, existem manifestaçõesdo setor de transporte aquaviário quanto à necessi<strong>da</strong>dede implementação <strong>da</strong>s eclusas previstas para seremconstruí<strong>da</strong>s junto aos barramentos de Usinas Hidrelétricas,que, se não ocorrer, poderá haver um entendimento de usopreferencial concedido ao setor elétrico.Portanto, não há registro oficial de usos hegemônicos <strong>da</strong>água por nenhum dos setores citados, ou mesmo por outrostambém presentes na <strong>região</strong> e com menor força política naesfera federal, como a pesca ou a agricultura, por exemplo.


5 | Análise de Conjuntura5.2 | Principais Problemas e Conflitos pelo Uso <strong>da</strong> ÁguaConflitos nos quais a água é o que está em jogo, conformecomentado anteriormente em tópico específico, não existemna Região Hidrográfica Amazônica, ao menos na escalaem que o tema é abor<strong>da</strong>do no presente documento.Na ver<strong>da</strong>de, os conflitos existentes envolvem o uso e aocupação do solo <strong>da</strong> Amazônia e são caracterizados emativi<strong>da</strong>des envolvendo extrativismo vegetal (incluindo aextração <strong>da</strong> madeira) e animal (pesca em particular), pecuáriae agricultura, bem como pelo cultivo de espéciesvegetais arbustivo-arbóreas. Nesse contexto, ain<strong>da</strong> persistemos conflitos envolvendo principalmente a pesca nasvárzeas, onde as ações dos OEMAs e de diversas outrasenti<strong>da</strong>des já evoluíram bastante no processo de solução,mas ain<strong>da</strong> têm muito espaço a percorrer.Da<strong>da</strong> à boa distribuição de chuva, o ano inteiro, na RegiãoHidrográfica Amazônica a agricultura irriga<strong>da</strong> é incipiente,apesar de ser a responsável por uma boa parte <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>regional por água. No entanto, a produção de grãos recobreparcelas contínuas e expressivas, <strong>da</strong> RH, especialmente aporção sul <strong>da</strong> Sub-<strong>região</strong> do Tapajós, com forte tendênciaa ser um grande consumidor de água em escala regional epotencial gerador de conflitos a médio e longo prazo.A mineração e o garimpo (ativi<strong>da</strong>des pontuais) e a implantaçãode infra-estrutura regional (ativi<strong>da</strong>des pontuais elineares), como a urbanização e a construção de rodovias,onde ocorrem alguns conflitos, também são responsáveispela alteração dos ecossistemas naturais com geração deimpactos difusos nos recursos hídricos, porém ain<strong>da</strong> poucoavaliados em escala regional.Nos arredores de núcleos urbanos e áreas de ocupação maisantigas, uma boa parte <strong>da</strong>s terras, outrora desmata<strong>da</strong>s, encontra-serecoberta ora por capoeiras, ora por florestas nativas nosseus vários estágios de crescimento e regeneração, com relativocomprometimento de nascentes. O impacto futuro <strong>da</strong>s conseqüênciasdestas intervenções nos recursos hídricos é, portanto,potencialmente grande e tem sido colocado como prioritáriono escopo <strong>da</strong>s legislações pertinentes na Região HidrográficaAmazônica, em especial através dos ZEEs.De modo mais específico, informações <strong>da</strong> Se<strong>da</strong>m dãoconta de conflitos existentes em Rondônia, envolvendo osMunicípios de Cacoal, Pimenta Bueno, Alta Floresta, Rolimde Moura e Santa Luzia, principalmente. Os conflitosreportados têm acontecido em torno <strong>da</strong> água, em escala localenvolvendo a geração de energia elétrica com o uso dePequenas Centrais Hidrelétricas - PCHs, a deman<strong>da</strong> parairrigação e para abastecimento público, em especial de populaçõesindígenas.No Estado do Acre, merece destaque a disputa por pequenoscórregos (abastecimento público) entre moradores dos centrosurbanos e proprietários de frigoríficos, que descarregam restosde animais nestes corpos de água (GTA-AC).Na competição por espaço comercial, marginal, a ven<strong>da</strong>de água, cobrando <strong>da</strong> população valores espúrios, sem nenhumcontrole governamental, tem ocorrido em comuni<strong>da</strong>desurbanas periféricas, em geral desfavoreci<strong>da</strong>s quantoà infra-estrutura de abastecimento de água e saneamento.Grupos rivais disputam esse comércio ilegal, revelando umconflito pontual, porém com implicações em outras áreascomo a segurança pública, por exemplo.Em relação ao setor elétrico, pode-se dizer que há abundânciade água superficial. Considerando-o como um dos setoreseconômicos, grande usuário de água, apesar de fazê-lo de formanão-consuntiva, seus representantes consideram como nãoexistindo conflito quanto à utilização <strong>da</strong> água na <strong>região</strong>, parasuas finali<strong>da</strong>des (MME/Eletronorte).5.3 | Vocações Regionais e seus Reflexos sobre osRecursos HídricosA proposta do Ministério do Meio Ambiente para a <strong>região</strong>é de que “a riqueza <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Amazônia eo seu sensível equilíbrio ecológico, aliados ao grande valoreconômico de seus recursos naturais, exigem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de oestabelecimento de novos paradigmas que sigam em direçãoao desenvolvimento sustentável”. Esse parece ser o grandedesafio para a Amazônia, que vem à baila quando se buscadiscorrer sobre as vocações regionais e seus reflexos sobreos recursos hídricos.109


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica110Continua ain<strong>da</strong> o texto do MMA: “A transição entre umpadrão de desenvolvimento que se esgota – a economiade fronteira, para outro que emerge – o desenvolvimentosustentável, envolve todo o território brasileiro” (MMA,1995). Ir ao encontro desse grande desafio, pressupõeuma abor<strong>da</strong>gem sobre o direito <strong>da</strong>s populações ao desenvolvimento.No entanto, é preciso avaliar o tipo de desenvolvimentoque se deseja para a Amazônia. Isto implica, diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deatual, aliar crescimento econômico à melhoria <strong>da</strong>scondições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações locais e à melhoria <strong>da</strong>infra-estrutura urbana, mas com baixo impacto ambiental.Estas ações devem estar alinha<strong>da</strong>s com um fortalecimentoinstitucional, no qual o corpo de profissionais militando notema dos recursos hídricos esteja devi<strong>da</strong>mente capacitadopara as ações necessárias, sem o que nenhuma política degerenciamento é possível.As ações devem estar alinha<strong>da</strong>s às vocações regionais fazendouso <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des regionais, porém em moldessustentáveis. Devem estar associa<strong>da</strong>s à existência de mecanismospúblicos, que assegurem condições de gerenciamentodos recursos naturais, e, em especial, dos recursoshídricos, sempre buscando uma efetiva participação dosatores envolvidos.Assim, dentre as principais vocações regionais têm-sea implementação de inovações nos processos produtivosatuais, de forma a garantir a sustentabili<strong>da</strong>de e o melhoraproveitamento dos recursos naturais <strong>da</strong> <strong>região</strong>. Nisso estáo desenvolvimento e a difusão de tecnologias apropria<strong>da</strong>s erelaciona<strong>da</strong>s com informática, biotecnologias, novos materiais,química fina, entre outras. Também, a Região HidrográficaAmazônica tem potencial como centro difusor denovos insumos para a economia mundial (migração paramatérias-primas de base natural com forte participação dosegmento de energias renováveis, entre outras).Portanto, diante do quadro atual, percebem-se na RegiãoHidrográfica Amazônica, tendências mais destaca<strong>da</strong>s, quepoderiam ser identifica<strong>da</strong>s como “vocações”, desde que vistassob a ótica <strong>da</strong>s diferenças intra-regionais e com reflexosdiretos ou indiretos sobre os recursos hídricos <strong>da</strong> <strong>região</strong>.A realização destas vocações, especialmente as vincula<strong>da</strong>scom os recursos hídricos, pressupõem o atendimento dealgumas condicionantes para a gestão <strong>da</strong>queles recursos.Aquelas condicionantes emergem <strong>da</strong>s carências existentesna <strong>região</strong> e que constituem caminhos indicativos paraum melhor aproveitamento dos recursos hídricos em escalaregional. Assim, as principais condicionantes podem ser lista<strong>da</strong>sem função <strong>da</strong>s carências a serem supri<strong>da</strong>s em especialrelaciona<strong>da</strong>s a:• Recursos humanos capacitados e em número adequadoàs dimensões regionais;• Sistema de informações institucionais de uso difundidoe facilitado trabalhando em rede;• Planejamento <strong>da</strong> ocupação do espaço geográfico regionalincluindo os usos preponderantes <strong>da</strong> água e as vocaçõesregionais;• Apoio institucional, em especial às OEMAs, reforçandoseu papel e as aparelhando adequa<strong>da</strong>mente para o exercíciode suas funções, aliando política de meio ambientee de recursos hídricos.As principais vocações regionais com reflexos nos recursoshídricos podem ser vistas no contexto <strong>da</strong>s práticas históricasou não, existentes na <strong>região</strong>, independente de umaclassificação qualitativa de suas resultantes. Assim, aquelasvocações podem ser coloca<strong>da</strong>s no sentido de que podem vira ser melhora<strong>da</strong>s, substituí<strong>da</strong>s e/ou corrigi<strong>da</strong>s com mu<strong>da</strong>nçade atitude tanto social, quanto política.Portanto, entre as “vocações” regionais que apresentam reflexosnos recursos hídricos, identificam-se para a Região HidrográficaAmazônica as práticas indica<strong>da</strong>s na seqüência do texto,(as mais representativas em termos de ações concretas já emmarcha).1. Uso <strong>da</strong> água subterrânea no abastecimento <strong>da</strong>s zonasurbanas, como fonte alternativa de abastecimento público.Este tópico merece um estudo mais aprofun<strong>da</strong>dosobre as reais necessi<strong>da</strong>des regionais quanto a este tipode explotação, principalmente tendo em vista a conseqüentepressão sobre os aqüíferos tanto em quanti<strong>da</strong>dequanto em quali<strong>da</strong>de. Ademais, existe pouca informaçãoa respeito em face <strong>da</strong> importância que este tipo derecurso tem na Região Hidrográfica Amazônica.2. Desenvolvimento <strong>da</strong> pesca e <strong>da</strong> piscicultura, com uma


5 | Análise de Conjunturaavaliação <strong>da</strong> pressão nas áreas atualmente sob proteçãoambiental (lagos principalmente). Neste sentido,a alternativa mais sustentável parece ser a do manejoco-responsável, em reservas extrativistas, associado aoincentivo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aqüicultura, visando à diminuição<strong>da</strong> pressão sobre os estoques naturais.3. Geração de energia hidrelétrica, aproveitando o grandepotencial regional, porém numa ótica diferencia<strong>da</strong> dosprojetos desenvolvidos nas déca<strong>da</strong>s de 1970 e 1980,além do uso de fontes alternativas, como o biodiesel,e <strong>da</strong> exploração de óleo e gás existentes na <strong>região</strong> parageração a partir de usinas térmicas, diminuindo a deman<strong>da</strong>pela construção de grandes aproveitamentoshidrelétricos.4. Desenvolvimento de modelos de uso <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deregional, na linha de aproveitamento do materialgenético para desenvolvimento de medicamentos,cosméticos e demais produtos assemelhados. Umanova fonte de recursos, obti<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> floresta,que incentive sua exploração como floresta em pé,com o uso sustentável <strong>da</strong>s reservas extrativistas, porexemplo, diminuindo o estresse sobre a área floresta<strong>da</strong>e por conseguinte gerando menor pressão sobre osrecursos hídricos.5. Transporte de cargas e passageiros de hidrovias, aproveitandoos corredores naturais como via de escoamentonum sistema multimo<strong>da</strong>l (hidrovia, rodovia, entreoutros). Vale destacar a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> construção deinfra-estruturas portuárias mais adequa<strong>da</strong>s a um padrãode baixo impacto ambiental.6. Agricultura de grande porte, com a forte entra<strong>da</strong> degrãos na <strong>região</strong>, com grande consumo de água parairrigação e a possibili<strong>da</strong>de de um forte avanço noagronegócio em escala regional com o desenvolvimentode mercados acessórios fortes. Esse tópico necessitaser analisado sob a ótica de um plano regional em face<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de do desenvolvimento de alternativasde exploração <strong>da</strong> floresta em pé.7. Desenvolvimento <strong>da</strong> agricultura familiar, principalmentede frutas regionais, produtos tradicionais e na criaçãosemi-intensiva de peixes regionais, visando à melhoria deren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias.8. Desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des volta<strong>da</strong>s para oecoturismo, aproveitando aspectos únicos <strong>da</strong> paisagemAmazônica, em especial as paisagens aquáticas.9. A indústria <strong>da</strong> exploração madeireira, sob uma perspectivasustentável, segundo os planos de manejo florestaladequado e utilização de programas de certificação.10. O modelo <strong>da</strong> Zona Franca tem sido aventado comouma proposta de modelo de desenvolvimento econômicopositivo. A expansão desse modelo pode serconsidera<strong>da</strong> como uma possível vocação regional.Essa expansão é aventa<strong>da</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> às características doparque industrial do Pólo Industrial de Manaus, consideradocomo de baixo impacto tanto em relação aosrecursos hídricos quanto em relação ao meio ambientecomo um todo (RIVAS, 1998).111


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaFoto: Fernando Rezende (Autazes - AM)112


6 | ConclusõesQuanto aos estudos já realizados na <strong>região</strong> e asprincipais ações já implementa<strong>da</strong>sOs estudos realizados na Região Hidrográfica Amazônicaem relação ao tema água ou a temas com ele intersectados,vêm de longa <strong>da</strong>ta. No entanto, ganharam maior destaquea partir dos anos 1970, com a realização de inúmeros projetoscientíficos, multidisciplinares, bastante divulgados namídia em função do começo <strong>da</strong>s discussões em torno <strong>da</strong>temática ambiental.Muitos dos estudos realizados, ou ain<strong>da</strong> em curso naAmazônia, <strong>da</strong><strong>da</strong>s às suas condições de Bacia compartilha<strong>da</strong>com mais oito nações sul-americanas, têm um forte apelointernacional e até mesmo contam com financiamento externo.No entanto, no que diz respeito aos recursos hídricos,existe carência de trabalhos de síntese que busquemunificar o conhecimento com vistas a subsidiar ações depolíticas públicas.Dentre as mais recentes iniciativas merece destaque a queoriginou o trabalho de Barthem et al., em Unep (2004),relaciona<strong>da</strong>s ao projeto GIWA, que, com financiamento doGEF, possibilitou uma visão <strong>da</strong> <strong>região</strong> com base em cincoaspectos relacionados aos recursos hídricos <strong>da</strong> Amazônia:1) diminuição na quanti<strong>da</strong>de de água disponível; 2) poluição;3) modificações na paisagem e em condições de habitat;4) exploração não sustentável dos estoques de peixes;e 5)efeitos de mu<strong>da</strong>nças climáticas. O trabalho do GIWA– Amazon basin 40b, tem o grande mérito de fazer umacompilação de estudos, além de analisar relações de causa eefeito para levantar áreas prioritárias visando futuras açõesconcretas na Bacia.Em curso, mesmo que em fase inicial, o projeto do OTCAem cooperação com a OEA, sobre a gestão compartilha<strong>da</strong>dos recursos hídricos transfronteiriços na <strong>região</strong>, tem grandeimportância regional. As expectativas em torno desta iniciativavão no sentido de que o projeto possa, a exemplo doPPG7, buscar implementar os seus cinco temas prioritários,aju<strong>da</strong>r na formação de uma base institucional na <strong>região</strong>, deforma a internalizar e perenizar a temática <strong>da</strong> gestão dosrecursos hídricos.O Programa Sipam/Sivam constitui-se noutra iniciativado governo federal, multi-institucional lidera<strong>da</strong> diretamentepela Presidência <strong>da</strong> República, por meio <strong>da</strong> Casa Civil. OSipam conta hoje com uma infra-estrutura de monitoramento(ra<strong>da</strong>res, plataformas de coletas de <strong>da</strong>dos, etc.) comgrande potencial de auxiliar no monitoramento dos recursoshídricos <strong>da</strong> <strong>região</strong>, sendo produto de estudos realizadosno início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, visando atender uma necessi<strong>da</strong>dede integração <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de governo na Amazônia.Isso em face à dificul<strong>da</strong>de de proteger o ecossistema <strong>da</strong><strong>região</strong>, à incipiente infra-estrutura local de apoio às açõesde governo, à inexistência de sistema para controle, fiscalização,monitoramento e vigilância <strong>da</strong> <strong>região</strong> e demais temasassociados à questões de segurança (defesa de fronteiras,controle de ilícitos, etc.).O Programa Calha Norte - PCN, criado em 1995, é umprograma brasileiro com características regionais. Abrangeum total de 74 Municípios, todos situados acima <strong>da</strong>s calhasdos rios Solimões e Amazonas, passando pelos Estados doAmazonas, Roraima, Pará e Amapá. Vinculado ao Ministério<strong>da</strong> Defesa, tem desenvolvido juntamente com diferentesenti<strong>da</strong>des nacionais, um Plano de Desenvolvimento LocalIntegrado e Sustentável para ca<strong>da</strong> um dos Municípios envolvidos.As principais propostas estão liga<strong>da</strong>s à problemas deinfra-estrutura física básica, econômica e socioambiental.Quanto às características e dinâmicas regionaisA Região Hidrográfica Amazônica tem dimensões continentaise características contrastantes, tanto do ponto de vis-113


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica114ta de sua fisiografia e de seu meio ambiente, quanto do pontode vista sociocultural e socioeconômico. A água é elementofun<strong>da</strong>mental na paisagem <strong>da</strong> <strong>região</strong> e se integra perfeita eharmonicamente à vasta e densa cobertura vegetal que cobrea grande maioria <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> Bacia Hidrográfica.Entrecorta<strong>da</strong> por rios de diferentes dimensões, tanto emextensão, largura, quanto em volume de água, a Região HidrográficaAmazônica apresenta uma densa rede de drenagem.Seus rios apresentam regimes variados e por vezes,<strong>da</strong><strong>da</strong>s às posições geográficas de seus cursos, têm regimesopostos e fortemente marcados por características climáticas.O clima, por sua vez, está relacionado a fatores como geologia,vegetação, regime de chuvas e solos. Ademais, a <strong>região</strong>vem sofrendo com o aumento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des antrópicas, quemu<strong>da</strong>m os padrões de uso e ocupação do solo, bem como<strong>da</strong> cobertura vegetal, com repercussões sobre o clima e compotencial de alterar significativamente o regime hidrológico.Apesar <strong>da</strong> densa floresta, os solos <strong>da</strong> <strong>região</strong> são, em geral,considerados fracos e servem de suporte para um sistemade auto-regulação que mantém a floresta sobre o solo, porémnão numa relação de grande dependência dele. O sistemade auto-regulação <strong>da</strong> floresta é dependente dos muitosfatores ambientais, que compõem a diversi<strong>da</strong>de de ecossistemasdo bioma Amazônia, diverso tanto em flora quantoem fauna (terrestre, aérea e aquática).Neste frágil sistema Amazônico, as águas dos rios têm característicasmuito próprias. Estas características servem especialmenteem escala regional, como modo de diferenciação dos riosentre si, marca<strong>da</strong>s de acordo com suas fontes, tipo de materialque transportam, etc. Em relação aos padrões de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>ságuas, os grandes volumes dos rios não permitem que, ao menosregionalmente, estes venham a ser comprometidos.A regulari<strong>da</strong>de dos fluxos hídricos na Amazônia é bastantealta, no entanto, desde os anos 1970, vem sendo nota<strong>da</strong>uma tendência à ocorrência de eventos, do tipo enchentes esecas, mais intensos. Os processos em jogo no sistema quecontrola o ciclo hidrológico <strong>da</strong> <strong>região</strong> parecem estar mu<strong>da</strong>ndo.A questão é saber se esta mu<strong>da</strong>nça é mesmo regionale parte do funcionamento do sistema ou se é conseqüência<strong>da</strong>s ações antrópicas em curso na Bacia, refletindo uma respostaou a<strong>da</strong>ptação àquelas alterações.Quanto aos usos <strong>da</strong>s águas na AmazôniaOs usos <strong>da</strong> água na Amazônia estão relacionados à escalaem que se observa a questão. Na grande escala, têm-se osregimes dos grandes rios, suas tipologia e disponibili<strong>da</strong>dehídrica, afeta<strong>da</strong>s por questões como o desmatamento, a mineração,a expansão <strong>da</strong>s ações antrópicas como um todo na<strong>região</strong>, em especial <strong>da</strong> cultura de grãos, dentre outras.Na escala espacial de detalhe e/ou local, os problemas principaisenvolvem o saneamento, em especial nas áreas urbanas,além <strong>da</strong> questão fundiária e dos conflitos em relação aosusos preponderantes <strong>da</strong> água (irrigação, consumo humano,etc.) e do uso indiscriminado <strong>da</strong> água subterrânea.A pressão antrópica que a <strong>região</strong> vem sofrendo ain<strong>da</strong> nãocompromete a grande abundância de água existente na Amazônia,porém estas pressões têm acontecido numa veloci<strong>da</strong>deca<strong>da</strong> vez maior e num ecossistema sensível e vulnerável, oque implica em muitas questões a serem respondi<strong>da</strong>s sobreas tendências de uso e seus respectivos impactos.Visto de maneira independente, o abastecimento humano,constitui a maior deman<strong>da</strong> por água (especialmentesuperficial) na <strong>região</strong>, com 43% do total, seguido peladessedentação de animais (25%), irrigação (22%) e indústria(10%). Vale lembrar que para ativi<strong>da</strong>des agropastorisa deman<strong>da</strong> média do país é de 70%, enquanto que para oconsumo humano a deman<strong>da</strong> média está em torno de 20%,ficando com a indústria os restantes 10%.Em relação à questão <strong>da</strong> forte utilização <strong>da</strong> água subterrânea,em especial nas zonas urbanas, a falta de <strong>da</strong>dos maisdetalhados, tanto <strong>da</strong> oferta quanto <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>, faz desserecurso um item vulnerável, carente de maiores investimentosna sua caracterização, tanto em escala regional quantolocal na Região Hidrográfica.Quanto aos instrumentos de gestão ambiental e derecursos hídricosAlgumas ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s a recursos hídricos parecemocorrer na Amazônia de maneira independente em relaçãoao processo de estabelecimento de políticas públicas, apresentandograndes dificul<strong>da</strong>des institucionais. Na maioriados Estados existem instrumentos de gestão ambiental implantados.No entanto, as instituições sofrem por falta de


6 | Conclusõesuma estrutura mais sóli<strong>da</strong> e independente. Ao que pareceo setor de recursos hídricos caminha no mesmo sentido.Atualmente ain<strong>da</strong> há fragili<strong>da</strong>de na questão legal, já quemuitos Estados têm leis, mas que ain<strong>da</strong> não foram regulamenta<strong>da</strong>s,ou se o foram, o modo de regulamentaçãoain<strong>da</strong> não garantiu a estabili<strong>da</strong>de necessária para os sistemasde gestão.O reforço do papel <strong>da</strong>s instituições federais, estaduais emunicipais, instala<strong>da</strong>s na Região Hidrográfica Amazônica,numa perspectiva de realizarem um trabalho mais harmônico,associado à definição de políticas públicas, com ouso adequado dos instrumentos de gestão, merece forteapoio do Plano Nacional de Recursos Hídricos.A hoje frágil ação institucional na <strong>região</strong>, na área ambientale também de recursos hídricos, está basea<strong>da</strong> em agen<strong>da</strong>s quenem sempre refletem políticas de estado, se não de governostemporários, carecendo de uma visão sistêmica, onde as instituições<strong>da</strong>s diferentes esferas de poder possam trabalhar embusca <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção de um projeto regional.A cultura <strong>da</strong> gestão ain<strong>da</strong> é fraca, tendo em vista a problemáticainstitucional e os aspectos históricos. A tendênciaatual é aquela em que a ação independente dos váriossetores tende a ampliar conflitos e a comprometer o bomfuncionamento do todo, em detrimento <strong>da</strong>s partes. No entanto,o setor de recursos hídricos, utilizando a Bacia <strong>hidrográfica</strong>como uni<strong>da</strong>de integradora de ações, tem potencialpara motivar e envolver os tomadores de decisão dosdiferentes setores numa perspectiva de uso múltiplo dosrecursos naturais de um modo geral potencializando açõespositivas e harmônicas.À primeira vista, a implantação de comitês e dos demaisinstrumentos para a gestão <strong>da</strong>s águas, parece ser mais evidenteem áreas de micro-Bacias urbanas e/ou peri-urbanas.Isso, <strong>da</strong>do principalmente à existência de problemasde carência de ação institucional e de gestão do recurso,em especial vinculados ao saneamento básico e ao abastecimentopúblico.Outro fator que dificulta o uso dos instrumentos comoem outras regiões <strong>hidrográfica</strong>s do País são as grandes distânciase os espaços pouco densos existentes na <strong>região</strong>. Umacoordenação regional, de caráter consultivo, atuando comosupervisora <strong>da</strong>s ações desencadea<strong>da</strong>s, em relação à políticade recursos hídricos e por que não, também de forma integra<strong>da</strong>com a política ambiental, poderia ser útil, sugerindocorreções de percurso e analisando as reali<strong>da</strong>des, os resultados<strong>da</strong>s políticas e as tendências locais e regionais.No entanto existem iniciativas que valorizam o conhecimento<strong>da</strong> <strong>região</strong> possibilitando criar uma base de <strong>da</strong>dos e informaçõesregionais que irão nortear de maneira mais adequa<strong>da</strong> odesenvolvimento <strong>da</strong>s vocações regionais. Projetos já existentescomo Sipam/Sivam, o monitoramento hidrométrico realizadopela ANA e pela CPRM, os resultados de pesquisas com as doLBA, PPG7, entre outras, são iniciativas <strong>da</strong>s quais se necessitatirar maior proveito, quanto ao tema <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> água.Assim, a ver<strong>da</strong>deira valorização dos recursos hídricosbuscando alternativas de gestão de modo integrado naRegião Hidrográfica Amazônica, está em promover umaperspectiva regional, também com ações locais, em consonânciacom a política nacional e interesses multilaterais.Ações que, institucionaliza<strong>da</strong>s, garantam o acesso e o usodos recursos hídricos a todos. Para tanto, é urgente a valorizaçãoe implementação efetiva e comprometi<strong>da</strong> de Sistemasde Gerenciamento de Recursos Hídricos estaduais, além doaparelhamento estatal em relação a recursos humanos qualificadose valorização do papel dos órgãos gestores.Quanto às tendências, pressões e conflitos pelo uso <strong>da</strong> águaA gestão integra<strong>da</strong> tanto do meio ambiente quanto dos recursoshídricos ain<strong>da</strong> não é entendi<strong>da</strong>, na Amazônia, comoum instrumento direcionador de tendências, aliviador detensões e mitigador de conflitos pelo uso <strong>da</strong> água.A <strong>região</strong>, do ponto de vista de seus moradores, deve servista de forma diferencia<strong>da</strong> no contexto nacional. A idéia deuma Amazônia com duas perspectivas de desenvolvimentoé hoje um dilema para muitos amazônicos. A <strong>região</strong> seapresenta com duas fortes tendências, a dos que buscam umdesenvolvimento econômico seguindo a lógica do mercado,e a dos que buscam alternativas de um desenvolvimento sustentável,utilizando alternativas diferencia<strong>da</strong>s. O embate <strong>da</strong>sduas tendências tem ocorrido em várias frentes, principalmentena ambiental e, ao que aparenta a reali<strong>da</strong>de, no temarecursos hídricos a tendência é a mesma.115


Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica116Assim, ain<strong>da</strong> não se tem disponível algo como um: “Amazônia:modo de agir responsável”, tanto para a água quantopara as questões <strong>da</strong> preservação ambiental e de desenvolvimentosustentável. Esta é uma agen<strong>da</strong> em constante construção.Neste sentido, o papel <strong>da</strong> ação humana na <strong>região</strong>,tem sido paradoxal.Muitas ações humanas em prática na Região HidrográficaAmazônica são positivas e têm gerado bons resultados,como a organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil para lutar por iniciativaseconômicas sustentáveis a criação de uni<strong>da</strong>des deconservação e de reservas extrativistas, como a política decombate a uma expansão de ações nocivas ao meio ambiente,e, em especial, à preservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>região</strong>,bem como ações responsáveis de pequenos e grandesprojetos empresariais, com rebatimentos também positivosquanto aos recursos hídricos (preservação de mananciais,manutenção de estoques pesqueiros, entre outros).Em contraponto, e em meio à imensidão do espaço regional,permanecem ain<strong>da</strong> muitas ações negativas, como: odesmatamento e os garimpos ilegais, a grilagem de terras,os assassinatos por questões fundiárias e o uso indevidodos solos com ativi<strong>da</strong>des que o degra<strong>da</strong>m, podendo gerarproblemas de erosão e assoreamento nos cursos de água. Ocontrole por parte <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des responsáveis, em relaçãoa esse tipo de ação tem sido difícil.Associados a isso, os principais centros regionais de polarizaçãotêm crescido acima <strong>da</strong> média nacional, tanto em termoseconômicos, como em termos populacionais aumentandofortemente a deman<strong>da</strong> por água. Neste sentido, temsido fun<strong>da</strong>mental o papel dos grandes eixos de comunicaçãoregional, inicialmente representados pelos rios e atualmentepotencializados por algumas estra<strong>da</strong>s construí<strong>da</strong>sprincipalmente a partir dos anos 1960. Essas infra-estruturas,mesmo que de forma incipiente, <strong>da</strong>do o estado geralde conservação <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s e dos portos, têm favorecido àmigração de brasileiros de outras regiões ca<strong>da</strong> vez mais paraa Região Hidrográfica Amazônica.A disponibili<strong>da</strong>de hídrica, grande em escala regional,e também com grande regulari<strong>da</strong>de ao longo do ano,tem na questão <strong>da</strong> falta de sistemas de abastecimentode água à população, na falta de saneamento básico e naconseqüente geração de carga orgânica, um potencial deimpacto em sua quali<strong>da</strong>de, que se hoje não é visível naescala macro, já o é na escala dos centros populacionaismais expressivos.Como alternativa às atuais deficiências no abastecimentopor água superficial, uma forte pressão se faz presente sobreos recursos hídricos subterrâneos, a ca<strong>da</strong> dia mais explotados,mesmo em condições precárias. A perfuração indiscrimina<strong>da</strong>de poços para captação de água visando fazer frenteàs deman<strong>da</strong>s locais, principalmente em centros urbanos, temgerado tensões sociais em algumas regiões <strong>da</strong> Amazônia efeito surgir, em áreas marginais e suburbanas, “empresas”clandestinas de abastecimento de água, cobrando “taxas” espúriasprincipalmente para as populações mais carentes.De grande importância para a população, os recursoshídricos são também, fun<strong>da</strong>mentais para a manutençãodo sutil equilíbrio dos ecossistemas <strong>da</strong> Amazônia. Estebioma com a sua vasta diversi<strong>da</strong>de faunística e vegetaltêm áreas muito particulares em termos de ocorrênciaregional, como as Matas de Várzea, de Igapó e de TerraFirme. To<strong>da</strong>s, com uma forte dependência <strong>da</strong> água e <strong>da</strong>sazonali<strong>da</strong>de do ciclo hidrológico.Apesar <strong>da</strong> abundância de água, as pressões e os conflitos jáexistem, mesmo que a água ain<strong>da</strong> não seja vista como o querealmente está em jogo. Ou seja, a água é ain<strong>da</strong> item secundárionos conflitos socioambientais. Ain<strong>da</strong> que de forma localiza<strong>da</strong>,os conflitos, pelas próprias características do modocomo vêm ocorrendo, tendem a crescer de forma difusa etambém acompanhando as frentes pioneiras de exploração.Nos conflitos existentes, a água tem vindo sempre associa<strong>da</strong>a questões envolvendo desmatamento, agricultura,garimpo, pesca, geração de energia, navegação e a disputapela posse <strong>da</strong> terra, além <strong>da</strong> questão mais ressalta<strong>da</strong> pelaspopulações locais que envolve os sistemas de abastecimentopúblico e de saneamento básico.Quanto às vocações dos usos <strong>da</strong> águaAs principais vocações para a Região HidrográficaAmazônica, em que há alguma relação com o tema


6 | Conclusõeságua, dependem <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de regional de li<strong>da</strong>r com asquestões de mercado e de desenvolvimento sustentável,independente do cenário nacional. Os problemas relacionadosàs conseqüências <strong>da</strong>s ações antrópicas no meiotêm forte importância para que as vocações regionais sigama contento.Questões de re-direcionamento, sob uma ótica sistêmica,<strong>da</strong>s atuais ativi<strong>da</strong>des de ecoturismo, produtos regionais “hidrodependentes”(frutas, madeira, pescado, entre outros),transporte hidroviário, produção de óleo e gás e geraçãohidrelétrica são prementes. O potencial <strong>da</strong> <strong>região</strong> é grandenaqueles setores, no entanto é preciso definir planos integradosde forma a que se orientem as ações considerando ouso compartilhado do recurso água de maneira racional.Outra questão que tem reflexos na efetivação <strong>da</strong>s vocaçõesregionais associa<strong>da</strong>s ao uso <strong>da</strong> água diz respeito às condicionantespara a boa gestão, que na Região HidrográficaAmazônica envolvem principalmente quatro necessi<strong>da</strong>desbásicas, assim considera<strong>da</strong>s por diferentes atores: 1) recursoshumanos capacitados e em número adequado às dimensõesregionais; 2) sistema de informações institucionais de uso difundidoe facilitado trabalhando em rede; 3) planejamento<strong>da</strong> ocupação do espaço geográfico regional incluindo os usospreponderantes <strong>da</strong> água e as vocações regionais; e, 4) apoioinstitucional em especial às OEMAs, reforçando seu papel eaparelhando-as adequa<strong>da</strong>mente para o exercício de suas funçõesaliando política ambiental e de recursos hídricos.As políticas de integração são ain<strong>da</strong> mais importantespara a Amazônia brasileira, levando-se em conta que,numa perspectiva continental, a <strong>região</strong>, no Brasil, está àjusante <strong>da</strong>s nascentes Andinas, sensível, portanto, às resultantesdo modo como se <strong>da</strong>rá a gestão na parte nãobrasileira <strong>da</strong> Região Hidrográfica.A posição geográfica <strong>da</strong> Amazônia brasileira, em relaçãoaos demais países <strong>da</strong> <strong>região</strong> é, portanto, vulnerável em relaçãoa questões fun<strong>da</strong>mentais como quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>dedos recursos hídricos, e leva à reflexão quanto à harmonizaçãode políticas públicas para os recursos hídricos em escalaregional, especialmente na zona transfronteiriça.Em síntese, a Amazônia é um sistema complexo. Estudá-lade modo setorizado pode aju<strong>da</strong>r a entendê-la,mas limita a compreensão de sua essência. Uma visãosistêmica desta <strong>região</strong> necessita de uma abor<strong>da</strong>gem novae independente. Neste sentido, o maior desafio a ser enfrentado,no que diz respeito à água na <strong>região</strong>, é justamenteo de considerar a água parte integrante de todoo bioma Amazônia e, não, apenas, mais um setor a terpolíticas independentes defini<strong>da</strong>s.117Quanto às perspectivas de ações de gestão <strong>da</strong>s águas,inclusive na porção transfronteiriçaOutra direção, para onde se percebe horizontes importantespara a <strong>região</strong>, envolve os esforços para a integraçãoregional na escala <strong>da</strong> Pan-Amazônia. Neste sentido, algumasiniciativas têm sido realiza<strong>da</strong>s com boas perspectivasde cooperação entre os países amazônicos.Dentro desses esforços de cooperação, merece destaquea Organização do Tratado de Cooperação Amazônica- OTCA, em cujas priori<strong>da</strong>des de suas ações, a água étema estratégico e transversal.


Foto: Eduardo Junqueira Santos (Rio Tapajós - Alter do Chão - PA)Alter do Chão – Eduardo Junqueira Santos


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Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica Amazônica120• FERREIRA, L.V. Identificação de áreas prioritárias para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sUni<strong>da</strong>des de Conservação e tipos de vegetação nas ecorregiões <strong>da</strong> Amazônia Brasileira. In: Biodiversi<strong>da</strong>de na Amazônia brasileira:avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios / organizadores Capobianco, J. P. R. et al.São Paulo: Estação Liber<strong>da</strong>de, Instituto Socioambiental, 2001. p.268-286.• FILIZOLA, N. O fluxo de sedimentos em suspensão nos rios <strong>da</strong> Bacia Amazônica brasileira. Publ. ANEEL, Brasília: ANEEL, 1999. 63p.• __________. Transfert sédimentaire actuel par les fleuves amazoniens. Toulouse: 2003. 273p. (Thése, UPS, Toulouse III)• FILIZOLA, N.; GUYOT, J. 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Caderno <strong>da</strong> Região Hidrográfica AmazônicaFoto: Fernando Rezende (Rio Negro - Manaus - AM)122


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