ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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82científico, provado microscopicamente, se necessário, e baseado em leis naturais dodesenvolvimento (LUZ, 2004a).Para demonstrarmos o caráter limitado e, em última instância, ideológicodessas interpretações é necessário, acima de tudo, que recorramos à prática de trazeressas categorias/conceitos para o lugar de onde saíram – o real, e suas mais profundasdeterminações. E o real não é somente constituído por células e órgãos. Pelo contrário,o real é constituído por elementos, leis que extrapolam, questionam e, inclusive,determinam as interpretações a seu respeito.4.1 O OBJETO DO TRABALHO EM SAÚDE: AS CONCEPÇÕES ACERCA DOCORPO; DO NORMAL E PATOLÓGICO; DA SAÚDE E DA DOENÇAOlho-o de longe sem opinião nenhuma.Que perfeito que é nele o que ele é – o seu corpo,A sua verdadeira realidade que não tem desejos nem esperanças,Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar.(PESSOA, 2006: 104-105)Um primeiro passo fundamental para a compreensão de um dado processo detrabalho é partir da compreensão de seu objeto, pois, através de suas determinações edo papel que estas exercem, este revela o objetivo da prática analisada, possibilitandoo vislumbrar do processo. Quando discutimos, sob o capitalismo, o objeto do trabalhoem saúde – o corpo – e a relação deste com as práticas em saúde, deparamo-nos comuma tese hegemônica segundo a qual a representação do corpo e o trabalho em saúdesão expressões de um desenvolvimento linear das ciências naturais. Desenvolvimentoeste que seria dotado de neutralidade em relação aos modos de organização social nosquais os homens se encontram inseridos. Alguns fatores colaboram para fortalecer essarepresentação do trabalho em saúde e de seu objeto como neutros, a-históricos. Umdeles é o fato de o trabalho em saúde não ter surgido concomitantemente ao modo deprodução capitalista. Pelo contrário, a existência de indivíduos que se detiveram naatividade de cura de enfermidades é conhecida nos registros das sociedades humanasmais antigas. Isso ajuda a reforçar a idéia de um desenvolvimento linear de práticas e

83funções que sempre existiram e que, portanto, não devem serinfluenciáveis/condicionáveis pelos diferentes modos de produção. Outro fator quecolabora para manutenção dessa imagem de neutralidade é a forma específica como seconfigurou o exercício do trabalho em saúde sob o capitalismo. O espetaculardesenvolvimento das forças produtivas também se reflete na ciência médico-biológicaincorrendo em cada vez maior incorporação de tecnologia ao processo de trabalho emsaúde, reforçando a idéia de um caráter de neutralidade e cientificidade dessas práticas(DONNANGELO, 1975). Procederemos a partir de agora a uma análise tendo porreferência não o que dizem as ciências, mas o que diz a vida real dos homens;possivelmente aí encontremos elementos que nos ajudem a entender a historicidade dotrabalho em saúde.Ao nos atermos ao objeto do trabalho em saúde como conhecemos hoje, nosdeparamos com o corpo humano; e é sobre ele que devemos nos debruçar inicialmentepara compreender a conformação do trabalho em saúde e seus diferentesdeterminantes. Ao olharmos para o corpo, guiados pela racionalidade médicahegemônica, uma primeira conotação que salta aos olhos é aquela relativa àscaracterísticas anatomofisiológicas, ou seja, o corpo como representação da unidade deseus constituintes biológicos.A partir disso, a concepção de normalidade estaria diretamente relacionada àmanutenção da integridade estrutural e funcional das características biológicas naturaisdo corpo. Porém, concordamos com CANGUILHEM (1995: 188), quando afirma que“O conceito de norma é um conceito original que não se deixa reduzir – em fisiologiamais que em qualquer outra parte – a um conceito objetivamente determinável pormétodos científicos. Portanto, rigorosamente falando, não há uma ciência biológica donormal. Há uma ciência das situações e condições biológicas chamadas ‘normais’.”As normas não podem ser estabelecidas pelo microscópio ou pela clínica, estessão apenas instrumentos para expressão e legitimação das normas. A vida socialestabelece normas a serem cumpridas utilizando-se, entre outros meios, da ciência.Portanto, cabe compreender o corpo para além dos elementos anatomofisiológicos,

83funções que sempre existiram e que, portanto, não devem serinfluenciáveis/condicionáveis pelos diferentes modos de produção. Outro fator quecolabora para manutenção dessa imagem de neutralidade é a forma específica como seconfigurou o exercício do trabalho em saúde sob o capitalismo. O espetaculardesenvolvimento das forças produtivas também se reflete na ciência médico-biológicaincorrendo em cada vez maior incorporação de tecnologia ao processo de trabalho emsaúde, reforçando a idéia de um caráter de neutralidade e cientificidade dessas práticas(<strong>DO</strong>NNANGELO, 1975). Procederemos a partir de agora a uma análise tendo porreferência não o que dizem as ciências, mas o que diz a vida real dos homens;possivelmente aí encontremos elementos que nos ajudem a entender a historicidade dotrabalho em saúde.Ao nos atermos ao objeto do trabalho em saúde como conhecemos hoje, nosdeparamos com o corpo humano; e é sobre ele que devemos nos debruçar inicialmentepara compreender a conformação do trabalho em saúde e seus diferentesdeterminantes. Ao olharmos para o corpo, guiados pela racionalidade médicahegemônica, uma primeira conotação que salta aos olhos é aquela relativa àscaracterísticas anatomofisiológicas, ou seja, o corpo como representação da unidade deseus constituintes biológicos.A partir disso, a concepção de normalidade estaria diretamente relacionada àmanutenção da integridade estrutural e funcional das características biológicas naturaisdo corpo. Porém, concordamos com CANGUILHEM (1995: 188), quando afirma que“O conceito de norma é um conceito original que não se deixa reduzir – em fisiologiamais que em qualquer outra parte – a um conceito objetivamente determinável pormétodos científicos. Portanto, rigorosamente falando, não há uma ciência biológica donormal. Há uma ciência das situações e condições biológicas chamadas ‘normais’.”As normas não podem ser estabelecidas pelo microscópio ou pela clínica, estessão apenas instrumentos para expressão e legitimação das normas. A vida socialestabelece normas a serem cumpridas utilizando-se, entre outros meios, da ciência.Portanto, cabe compreender o corpo para além dos elementos anatomofisiológicos,

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